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Direitos autorais:

O novo autor e a lei 9.610/98

Bruna Longobucco
Direitos autorais:
O novo autor e a lei 9.610/98 Longobucco, Bruna. 1ª Edição
Maio - 2016
Belo Horizonte - Minas Gerais

Preparação de originais: Bruna Longobucco


Arte da capa e diagramação: Asè Editorial

Copyright 2016 © Bruna Longobucco

Todos os direitos reservados


Nenhuma parte dessa publicação poderá ser reproduzida, seja por meio eletrônico, mecânico, fotocópia ou qualquer tipo sem prévia

autorização por escrito da autora. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, lugares e acontecimentos é mera coincidência.
www.brunalongobucco.com.br

O novo autor começa no escuro. Tateia a neblina. Perdese em algum lugar entre a noite e o dia. Os sentimentos são
vastos e espalham-se nas páginas como a brisa espalha o vento brando e fresco. Então, seu talento vira a esquina e
suas obras ganham o chão... E chegam a um destino onde seu criador já não mais pode mais tocá-las com as mãos.
Direitos autorais: o novo autor e a Lei n.º 9.610/1998 é um artigo adaptado de meu TCC para obtenção do título de Bacharel em Direito em 2007,
atualizado e revisado em 2016. A ideia de publicá-lo surgiu a partir de minha experiência como autora independente, razão pela qual gostaria de
disponibilizá-lo para todos aqueles que se interessam pela proteção da autoria no que concerne às obras literárias.

Sumário
INTRODUÇÃO 9
1 ORIGENS DO DIREITO AUTORAL 15 1.1 O direito autoral no Brasil 18

2 O OBJETO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS 21


2.1 A violação do direito autoral 26
2.2 Da tutela 29

3 NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS AUTORAIS 33


4 O DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS 38 4.1 Os direitos patrimoniais e seu tempo de duração 39

5 A PROPRIEDADE INTELECTUAL 40
5.1 O ônus do autor 43
5.2 A complexidade de comprovação da paternidade da obra 44

6 O REGISTRO AUTORAL 48
7 AUTORES DE OBRAS LITERÁRIAS E A LEI DE DIREITOS AUTORAIS 52 7.1 Dados obtidos em entrevista sobre o direito autoral 53
Conclusão 60

Referências 64 Anexos 66

INTRODUÇÃO
“A matéria-prima do direito de autor é, com efeito, mais preciosa do que petróleo, o ouro ou os brilhantes: a criatividade, extraordinário e misterioso
atributo de que a natureza dotou ao homem.”

Antônio Chaves

Quando um autor inicia sua carreira literária experimenta uma sensação de busca e ao mesmo tempo descaminho.
Para alguns, a minoria dos novos artistas e, maioria dos que chegam a algum lugar, sempre existe alguém que possa
facilitar a entrada no mundo editorial; e não necessariamente se leva em conta a qualidade ou conteúdo dos textos, às
vezes é a simples menção de um nome e o que ele fala àquela realidade. Para outros, que não têm a quem recorrer, o
caminho é longo e sinuoso. Empreende-se muito e o retorno é quase invisível (e não se trata de retorno financeiro,
porque no princípio, em regra, ele não existe e o que se busca é divulgar o trabalho). Entre os inúmeros desafios,
destacam-se as dificuldades para se obter um contrato de edição e os altos custos que demanda uma publicação
independente. Escrever/publicar/ser lido é uma longa e difícil trajetória. Não termina na impressão (no caso de
obra física) ou publicação. Não é só a arte de colocar o texto no papel ou no monitor, o empenho de se debruçar
horas e horas sobre o livro para esmerar a narrativa. Existem etapas como a revisão profissional do texto, ISBN,
código de barras, ficha catalográfica, diagramação e finalmente os custos de impressão. E depois disso tudo começa
o dilema da distribuição e divulgação: como chegar ao leitor?

E embora tudo pareça inviável (e para alguns o é), o desejo de ser lido não conhece dimensões. Chega um tempo em
que as obras já não se contentam em viver silentes e falam por si mesmas.

É uma voz incessante, intensa; o som de frases filosóficas, apaixonadas, realistas ou simplesmente frases, com
histórias que nascem interiormente e buscam títulos e personalidades marcantes. Não é propriamente uma pretensão
de fama, mas de ter algo a mostrar, a ser dito. E também de rebeldia diante das portas fechadas. E é assim que os
textos ganham a esquina. Pode ser numa impressão simples ou mesmo sofisticada. Pode ser ainda na versão virtual.
E o que requer nossa reflexão é que lamentavelmente nem sempre a obra chegará ao destinatário com a identificação
do autor.

Num contexto em que o artista busca ultrapassar as barreiras existentes questiona-se a tutela dos direitos de autor. A
Internet está repleta de obras literárias de escritores desconhecidos. Pessoas buscando um espaço para apresentar sua
arte. É essa ansiedade em ser descoberto que gera a pulverização na Rede e cria um afastamento entre o autor da
obra e seu trabalho.

Diante do exposto, o presente artigo tem como tema a efetividade da lei de direitos autorais (Lei 9.610/1998), no que
concerne à publicação de obras literárias.

No sentido legal, identifica-se o autor como o criador de obra literária, artística ou científica. O direito autoral por
sua vez, estabelece um vínculo entre esse criador e o que resulta de sua produção intelectual, de forma a assegurar a
propriedade exclusiva sobre a obra, garantindo o uso e gozo dos benefícios que possam decorrer da mesma.

Ao considerar-se que a preocupação com a propriedade intelectual vem desenhando novas tendências doutrinárias e
legislativas, este trabalho possui como foco central a questão da proteção autoral em relação aos novos autores de
obras literárias, uma vez que, segundo a referida lei, a proteção aos direitos de que trata a mesma, independe de
registro, sendo este, uma faculdade e não uma obrigação. Contudo, saliente-se que o registro gera presunção relativa
de autoria.

No cenário atual, não se pode negar que, com a evolução dos meios de comunicação e a Internet, as violações ao
direito autoral se intensificam. Ao mesmo tempo, pesquisas e artigos revelam que a lei autoral é pouco difundida e
divulgada. Outro problema grave é a distância que se identifica facilmente entre esse diploma legal e a maioria dos
autores. Não é incomum alguém se apropriar do texto de outrem. Isso porque na tentativa desesperada de projeção
da própria arte, as obras ficam esparsas e fogem da visão do autor. Parece que a longitude entre obra e autor leva
certa pessoa a acreditar que o plágio não seria descoberto, como de fato, muitas vezes não é; até mesmo pela
dificuldade que pode surgir na comprovação da paternidade de uma criação autoral, quando o autor não se resguarda
e quem se apropriou sim. Casos assim existem e não são poucas as atitudes de usurpação da propriedade intelectual.

Além de ursurpar há quem obtenha vantagem sobre a criação do outro, como em sites que disponibilizam livros para
baixar grátis, sem autorização do autor.

O que é um absurdo, principalmente num país onde se lê tão pouco e o novo autor ou autor independente luta
arduamente para publicar seus livros e depois luta mais ainda para vendê-los ou receber o direito autoral, como no
caso de um contrato editorial, um direito que muitas vezes não ultrapassa 10% sobre o preço de capa.

Importante ressaltar que para um artista leigo tanto a lei de direito autoral como a questão de registro da obra, num
primeiro momento, são instrumentos inacessíveis.

Nessa medida, objetiva-se encontrar soluções que minimizem a polêmica da proteção do direito de autor em relação
à criação de obras literárias, buscando apontar estratégias de conscientização sobre o tema e, consequentemente, a
disseminação da informação legal para aquele que inicia seus trabalhos no mundo da arte literária.
1
ORIGENS DO DIREITO AUTORAL

O trabalho intelectual humano marcou a passagem do tempo, deixando seus traços desde os primórdios da
existência, mesmo quando ainda não havia a escrita. Da mesma forma, o Direito acompanhou a evolução social, pois
as regras de condutas se estabeleceram nos convívios mais primitivos.
Na concepção de alguns teóricos, os direitos autorais possuem origens remotas, fato que se comprova através de
diversas manifestações artísticas identificadas ao longo da História, embora em épocas pretéritas não existisse uma
noção precisa sobre o direito de autor ou de um direito autoral patrimonial. 1

No entanto, para outros doutrinadores o direito autoral representa um novo ramo do ordenamento jurídico. Isso
porque as disposições legais sobre o tema são mais recentes. Segundo Oswaldo Santiago, “o direito autoral, o mais
entranhado dos direitos humanos, dada sua concepção nas profundezas do Espírito, é, entretanto, um direito
moderno.” Ele ainda explicita:
1 Sobre o assunto, pesquisar artigo de CAVALHEIRO, Rodrigo da Costa. Disponível em: http://www.unimep.br. Acesso em: 4 maio 2007.

De Homero a Aristóteles, do ítalo Dante ao luso Camões, nenhum músico ou escritor soube da sua existência, muito embora certos teatrólogos, como
Shakespeare e Molière, recebessem compensações financeiras pelas peças que produziam. (SANTIAGO, 1946, p.11).

No entendimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - Unesco, o direito autoral
é fruto de uma longa e lenta evolução, mas há dissensões entre os historiadores, a respeito de sua origem. Se para
alguns seu surgimento se relaciona à descoberta da imprensa na Europa do Séc. XV, já que com sua invenção, a
reprodução industrializada da obra passa a atingir uma divulgação em ampla escala, outros enfatizam que a técnica
de impressão já existia há séculos, o que tornava reconhecida a noção de propriedade intelectual, antes mesmo da
invenção dos caracteres móveis por Johann Gutenberg. Os apontamentos trazem ainda o seguinte esclarecimento:
O direito moral do autor sobre a sua obra precedeu o reconhecimento do seu direito patrimonial. Na Grécia antiga, assim como em Roma, o plágio era
considerado uma ação desonrosa, e os gregos contavam já com algumas formas de reprimir a pirataria literária. O estudo da literatura romana revela que os
autores da época não se contentavam unicamente com a glória, mas retiravam algum benefício dos

seus manuscritos. Os autores romanos tinham consciência de que a publicação e utilização de uma obra implicam direitos intelectuais e morais. Assim,
alguns especialistas com autoridade na matéria têm sustentado que o direito de autor sempre existiu, embora durante longo tempo não tivesse encontrado
expressão no plano legislativo. (UNESCO, 1981, p. 13).

A primeira lei específica sobre o direito de autor no sentido moderno, que reconheceu como um direito individual a
proteção a uma obra publicada, se originou de um projeto de lei elaborado em 1709. É tida como a Lei da Rainha
Ana (Op. cit., p. 16), que entrou em vigor em 10 de abril de 1710. Por ela, criou-se o copyright ou direito de
reprodução, em favor dos autores. Além disso, a Grã-Bretanha tornou-se a precursora da legislação autoral
(CHAVES, 1987, p. 26).

A Revolução Francesa, com as leis de 1791, proclamou o princípio legal do direito de autor, trazendo para o mesmo
uma conotação de propriedade, pois as obras artísticas, literárias e científicas, passaram ao domínio de seus
criadores. Isto causou inúmeras discussões, já que gerou dúvidas quanto à natureza jurídica do direito. A partir daí,
ocorreu uma intensa produção legislativa em nível mundial (SANTIAGO, 1946, p. 14-15).

A Convenção de Berna, de 9 de setembro de 1886, veio configurar o primeiro acordo entre nações para a proteção
das obras literárias e artísticas. A partir do século XX seguiram-se outras convenções e acordos internacionais, como
a Convenção Universal sobre o Direito de Autor, assinada em Genebra, a 6 de setembro de 1952 (caracterizou-se
como um regime internacional de proteção dos direitos autorais) e a Convenção de Roma de 1961 (relativa à
proteção dos artistas, intérpretes ou executantes, aos produtores de fonogramas e aos ou executantes, aos produtores
de fonogramas e aos 531).

1.1 O direito autoral no Brasil

Em relação ao histórico do direito autoral no país, o primeiro instrumento legislativo que se identifica a tratar da
proteção dos direitos do autor, é a Lei Imperial de 1827, responsável pela criação das duas primeiras faculdades de
Direito, em São Paulo e Olinda. O artigo 7º, assim disciplinou a matéria:

Os Lentes2 farão a escolha dos compêndios da sua profissão, ou os arranjarão, não existindo já feitos, contanto que as doutrinas estejam de acordo com o
sistema jurado pela nação. Esses compêndios, depois de aprovados pela Congregação, servirão interinamente; submetendo-se, porém, à aprovação da
Assembleia Geral, o Governo fará imprimir e fornecer às escolas, competindo aos seus autores o privilégio exclusivo da obra por dez anos.

2 O termo era utilizado para designar os professores superiores.

Na sequência, o Código Criminal de 1830 tipificou a violação dos direitos de autor (COSTA NETTO, 1982, p. 9).
Ao retomar-se a lição de Antônio Chaves, a história do direito de autor pode ser dividida em três fases: de 1827 a
1916; de 1916 a 1973 e de 1973 aos dias atuais. Na primeira fase, como colônia de Portugal, submeteu-se à
legislação portuguesa. Ressalve-se que a constituição de 1891 disciplinou a questão autoral. Da mesma forma, as
Constituições subsequentes consideraram o direito do autor expressamente (CHAVES, 1987, p. 22).

O Código Civil de 1916 trouxe a matéria nos artigos 649 a 673: “Da propriedade literária, científica e artística”.
Posteriormente, a lei nº 5.988 de 1973, conferiu autonomia legislativa ao ramo e derrogou os dispositivos da lei
civil. Ela criou também o Conselho Nacional de Direito Autoral - CNDA, cuja constituição formalizou-se pela
portaria do MEC, nº 248, em 9 de abril de 1976, que estabeleceu seu regimento interno. O Conselho surgiu como
órgão administrativo de fiscalização, consulta e assistência aos direitos de autor e os a eles conexos (COSTA
NETTO, 1982, p. 73).3

Atualmente, a matéria autoral regula-se pela lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.4

No que tange aos crimes contra a propriedade intelectual, o Código Penal em vigor, pune a violação do direito de
autor, no artigo 184.5

Dispõe ainda a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso XXVII: “aos autores pertence o direito exclusivo
de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.6 Ou
seja, os autores têm a garantia fundamental de proteção de suas obras.
3 A título de esclarecimento, o CNDA existiu até 1990, quando então, foi extinto.
4 Em 22 de junho de 2015 entrou em vigor o Decreto nº 8.469, que regula a Lei nº 9.610/1998 (Lei Brasileira de Direitos Autorais) e a Lei nº 12.853/2013,
para disciplinar a atividade de gestão de direitos autorais no Brasil. O Decreto dispõe sobre novas regras ao exercício da arrecadação de diretos autorais,
visando aprimorar a gestão coletiva de direitos autorais no Brasil. A este respeito ver: Portaria n. 53, de 7 de julho de 2015.
5 Código Penal, 2005, p. 197.
6 Constituição da República Federativa do Brasil, 2006, p. 18
2
O OBJETO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS

A obra, ainda no mundo das ideias, reflete o corpus mysticum da criação; está no plano abstrato. É o que se define
como místico, ou seja, que não se traduz em matéria. Por outro lado, quando se exterioriza a obra, tem-se o corpus
mechanicum. Nesse ponto, a ideia estará concretizada. É o que acontece quando a inspiração do autor se transforma
em um livro, uma escultura. (FÜHRER, 2007, p. 85).

Na visão legal e doutrinária, entende-se que a lei autoral busca disciplinar a criatividade e originalidade que o artista
apresenta para o mundo a partir de sua criação; ou seja, o modo como a produção intelectual é expressa em
determinada obra.

A ideia, contudo, pelo próprio sentido abstrato que possui, não é passível de apropriação. Até mesmo porque, a
partir de uma ideia surgem muitas outras e de formas inusitadas. A interpretação, por ser subjetiva, assume um
contorno a cada leitura individual. O próprio estudo não teria sentido se não formasse um entendimento a cerca de
dado tema. E é inegável que boas teorias, inspiram bons teóricos que, num amanhã, falarão sobre aquele assunto, de
uma maneira inovadora, a partir de seu próprio olhar.

Sobre a propriedade intelectual e a ideia, interessante a seguinte decisão jurisprudencial:


Propriedade intelectual. Proteção do invento, obra literária ou qualquer obra intelectual. Forma de expressão da ideia pura. A ideia em si, ou uma simples
concepção de ideal, não constitui trabalho intelectual protegível. Fundamentação da sentença com base na informação ou na opinião do perito em matéria
de Direito Autoral. Prova insuficiente da violação de obra intelectual. (TJ/RJ – Rel. Des. Décio Xavier Gama – 4ª Câm. Cível – Ac n. 949/91 – unânime –
j. 11-2-92 – ADCOAS 137479/92). (PIMENTA, 1998, p. 57).

Ao se resgatar a essência de contos de fadas como Cinderela, A Bela e a Fera, A Bela Adormecida e outros,
percebe-se que já inspiraram filmes, novelas etc., todos reunindo personagens e fatos bem semelhantes aos que
cativam as pessoas, ainda na infância. Um pintor, um artesão sempre cria seu trabalho a partir de algo que o
sensibilizou, que o intrigou, da mesma forma, as obras literárias nascem de uma ideia ou sentimento que inspira seus
criadores. No entanto, mesmo que um romance nasça a partir da fascinação do autor por um determinado conto de
fadas, nem por isso vai deixar ter sua porção de originalidade. Cada criação tem seu lugar, desde que não incorra em
plágio. Ou seja, cada conto a seu tempo e com seu próprio tom.

É o que se absorve na afirmação de Maximilianus Cláudio Américo Führer, segundo o qual: “para merecer a
proteção legal, a obra criada, literária, científica ou artística, deve ter um mínimo de originalidade, ou seja,

de contribuição pessoal” (FÜHRER, 2007, p. 85). Sobre o objeto de proteção do direito de autor dispõe a UNESCO:
O direito de autor protege a invenção, o talento e o trabalho dos criadores. Todavia, de um ponto de vista prático, a criatividade só pode ser protegida se se
exprimir sob uma forma determinada. O direito de autor protege, portanto, as obras originais de criação intelectual nos domínios da arte, da música, da
ciência e da literatura.

Na sequência, ainda ressalta:


São as obras em si mesmas que são protegidas – a sua forma ou seu modo de expressão –, e não as ideias do autor. Não podem constituir o objeto de um
direito de autor as ideias, os sistemas, os

princípios e os métodos. É preciso que a ideia se exprima sob uma forma material tal como um livro, uma publicação periódica, uma pintura, uma
composição musical, uma coreografia, um filme ou um registro fonográfico. A cópia não autorizada da obra equivale a um furto. (UNESCO, 1981, p. 23).

A esse respeito, resguarda a lei autoral brasileira a proteção às obras intelectuais tidas como a expressão criativa do
espírito: “São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro...”.7

O artigo 7º da Lei 9.610/98 traz um rol das obras protegidas, entre elas os textos de obras literárias, artísticas ou
científicas.
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer
forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia
e arte cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova;
XII - os programas de computador;
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição
de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual.
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica, observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis.
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que
subsistam a respeito dos dados ou materiais contidos nas obras.
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos
direitos que protegem os demais campos da propriedade imaterial.

7 Lei dos direitos autorais. Lei nº 9.610, artigo 7º, caput.

Por outro lado, o artigo 8º, determina o que não é objeto de proteção do direito autoral excluindo a ideia logo no
primeiro inciso.8
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei:
I - as ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais;
II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios;
III - os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções;
IV - os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais;
V - as informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; VI - os nomes e títulos isolados;
VII - o aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras. (grifo meu).

2.1 A violação do direito autoral

A violação está relacionada à infração ou descumprimento do que está previsto na lei. Pode resultar de ação ou
omissão, implicando em transgressão ou inobservância de um dever jurídico. (SILVA, 2005, p. 1488-1489).
8 Lei dos direitos autorais. Lei nº 9.610, artigo 7º e 8º.

Conforme Führer, constituem exemplos de violações aos direitos autorais, a transmissão, retransmissão, divulgação
e reprodução não autorizadas e o plágio (assumir indevidamente titularidade de obra intelectual alheia), sendo que
“o plágio pode dar-se por simples apropriação da forma, ou pela apropriação da essência da obra alheia, modificada
apenas na forma.” (2007, p. 91). A lei autoral, do artigo 102 ao 108, traz as formas de violação.9

Walter Moraes faz menção a quatro espécies de violação dos direitos autorais:
(a) violações do direito de paternidade: exemplificando, a omissão do nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, prevista no artigo
108 da Lei 9.610/98; (b) violações do direito à integridade: como o direito moral de autor de opor-se à modificação da obra, sem a sua autorização,
conforme estabelece o artigo 24, inciso V da Lei 9.610/98; e (c) violações do direito de publicar (espécies mais numerosas): podemos mencionar, a título de
exemplo, os artigos 103, 104 e 105, da Lei 9.610/98 que tratam da edição, venda, distribuição, transmissão e comunicação, sem autorização, de obra alheia;
e (d) contrafação e plágio: a ideia de contrafação é ligada à de reprodução ilícita, mas estende-se às múltiplas variedades de utilização da obra, razão pela
qual, na acepção genérica, consiste em qualquer utilização indevida de uma obra intelectual. O plágio não apresenta tanta dificuldade já que é uma ofensa
ao direito à paternidade da obra (por exemplo: a transcrição de um texto sem a citação da fonte é um tipo de plágio). a citação da fonte é um tipo de plágio).
187).

9 Lei dos direitos autorais, 2003, p. 1329-1330.

Ainda em relação à violação dos direitos de autor, gera preocupação a evolução dos meios de comunicação. Isso
porque se tem um acesso gratuito e imediato à obra intelectual. A esse respeito, dispõe Tânia Yasuko Hirata Takao,
em seu artigo sobre a violação dos direitos autorais na Internet:
Muito embora seja benéfico ao autor a publicação de sua produção intelectual no ciberespaço, pela ampla divulgação e pelo reconhecimento de seu
trabalho, estará sua obra desprotegida (mesmo sendo devidamente registrada nos órgãos competentes), podendo ser indevidamente utilizada por aqueles
que acessarem seu conteúdo. Seria prejudicial ao autor, posto que ocorrendo a transgressão virtual, não haveria meios

para identificar o violador virtual. Isto se justifica pela ausência de mecanismos técnicos e jurídicos que permitiriam o controle e a fiscalização da criação
intelectual na Internet e a atribuição da responsabilidade civil e a consequente reparação dos danos. Ressalte-se, somente, que a proteção da Lei dos
Direitos Autorais, nº. 9.608/1998, estendese às obras literárias disponibilizadas no mundo virtual. Contudo esta proteção legal não fornece meios para
proteção efetiva deste direito em meio virtual. (TAKAO, 2008).

Ao falar da Internet e, logo, da multimídia, pondera Guilherme C. Carboni sobre a dificuldade de se identificar a
autoria, uma vez que a mesma tende a se diluir; o que faz com que a classificação da titularidade dos direitos
autorais disposta na lei 9.610/98, não consiga abarcar essa autoria que se encontra diluída (CARBONI, 2003, p.
177).

2.2 Da tutela
Sobre as sanções na esfera criminal, como já foi dito, dispõe o artigo 184 do Código Penal. Já as sanções civis, a lei
autoral (lei nº 9.610/1998) disciplina nos artigos 102 a 110.

Expõe Guilherme C. Carboni, as principais medidas de tutela na esfera cível: “a) ação que tem por objeto obrigação
de não fazer; b) ação que tem por objeto obrigação de fazer; c) ação indenizatória; d) busca e apreensão civil; e)
ação declaratória; e f) interdito proibitório”.

Explica o autor que na ação onde o objeto é a obrigação de não fazer, o que se busca é que cesse a violação à obra
autoral. Ele exemplifica com os artigos 102 e 105 da lei 9.610/98 e, faz referência ao artigo 287, do Código de
Processo Civil (em quadro comparativo, o novo diploma legal ver artigo 254)10, afirmando que deve constar o
pedido de cominação de multa pecuniária na petição inicial, para o caso de descumprimento de sentença que venha a
ser favorável ao autor da ação.

E complementa que na ação cujo objeto é a obrigação de fazer, espera-se a reparação do ato ilícito, através de atitude
do violador. Para pleitear indenização por danos morais e patrimoniais, em ação de violação da obra autoral, a regra
geral é do artigo 186, do Código Civil de 2002 (CARBONI, 2003, p. 194).
10 A lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, instituiu nosso novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor a partir de 16 de março de 2016 e se
“caracteriza pelos avanços relativos à celeridade processual, à supressão de recursos meramente protelatórios e à uniformização jurisprudencial”.
Disponível em: <http://livraria.senado. gov.br/e_CPC_2015 >. Acesso em: 25 mar. 2016.

No que se refere à busca e apreensão em caso de usurpação da obra intelectual, cite-se o artigo 102, da lei autoral.
Dispunha o § 3º, do artigo 842, do Código de Processo Civil de 197311:
Tratando-se de direito autoral ou direito conexo do artista, intérprete ou executante, produtores de fonogramas e organismos de radiodifusão, o juiz
designará, para acompanharem os oficiais de justiça, 2 (dois) peritos, aos quais incumbirá confirmar a ocorrência da violação, antes de ser efetivada a
apreensão. (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, 2006, p. 561).

A ação de declaração, por sua vez, visa declarar a titularidade dos direitos autorais, fundamentando-se no artigo 19,
incisos I e II (da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, o Novo Código de Processo Civil. Em relação ao interdito
proibitório, disciplinado no artigo 567 da nova lei processual civil, embora Carboni o descreva como umas das ações
mais polêmicas em relação à violação do direito autoral, o entendimento jurisprudencial afirma ser o mesmo
inadmissível para a proteção do direito em questão (SÚMULA 228, STJ).12
11 Lembrar que o Novo Código de Processo Civil, o de 2015, já está em vigor desde 16 de março de 2016.

Quanto à prescrição da ação civil, esta se dará em 10 anos, contados da data da violação, nos termos do artigo 205,
do Código Civil de 2002 (FÜHRER, 2007, p. 91).
12 CARBONI, Guilherme C., op. cit., 2003, p. 195-196. Na perspectiva de José de Oliveira Ascensão, a impossibilidade de recurso aos meios possessórios,
consiste no fato de a obra não ser suscetível de posse, logo, não permitir o exercício dos poderes de fato. Direito Autoral, 1980, p. 292. Sobre o assunto, ver
artigo 1196 do Código Civil de 2002. (Para comparar o artigo 932 da antiga lei processual com o texto do Novo Código de Processo Civil verificar artigo
567 em: da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
3
NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS AUTORAIS

Nos termos da lei federal brasileira que regula o direito autoral, autor é aquele que, identificandose13, tiver, em
conformidade com o uso, indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilização, salvo prova em contrário.
Por direitos autorais, podemos entender os direitos de autor propriamente ditos – ramo da ordem jurídica que
disciplina a atribuição de direitos relativos às obras literárias e artísticas (ASCENÇÃO, 1980, p. 6) – e os direitos
que lhe são conexos – incorporam-se aqui os direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores
fonográficos e das empresas de radiodifusão (LEI DE DIREITOS AUTORAIS, 2003, art. 89, p. 1326).

O direito de autor subdivide-se em direito autoral moral e direito autoral patrimonial. Moral ou pessoal (SILVA,
2005, p. 463), porque consolida a personalidade do autor sobre a criação da obra, criando um vínculo inalienável e
irrenunciável; patrimonial, porque a lei o qualifica como um bem econômico, passível de alienação, com direitos
pecuniários derivados da comercialização da obra.
13 Essa identificação seria nas modalidades previstas no artigo 12, da lei nº 9610/98.

Direito autoral é um conjunto de prerrogativas conferidas por lei à pessoa física ou jurídica criadora da obra intelectual, para que ela possa gozar dos
benefícios morais e patrimoniais resultantes da exploração de suas criações. O direito autoral está regulamentado pela Lei de Direitos Autorais (Lei
9.610/98) e protege as relações entre o criador e quem utiliza suas criações artísticas, literárias ou científicas, tais como textos, livros, pinturas, esculturas,
músicas, fotografias etc. Os direitos autorais são divididos, para efeitos legais, em direitos morais e patrimoniais. (ECAD, 2016).14

Diante do caráter moral e patrimonial que se atribui ao direito do autor, existem controvérsias quanto à sua natureza
jurídica. Alguns autores, realçando a espiritualidade da criação, defendem-no como sendo um dos direitos da
personalidade, assim como a vida, a honra, o nome, entre outros que se consideram próprios à natureza do homem.
É o que constatou Tobias Barreto:
14 O Ecad, Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que se instituiu pela Lei n. 5.988, de 14 de
dezembro de 1973 (Lei dos direitos autorais, que vigorou de 1974 até junho de 1998) e foi mantido pela Lei Federal n. 9.610/98 e 12.853/13. Objetiva
centralizar a arrecadação e distribuição dos direitos autorais de execução pública musical.

Chega-se, enfim, a conceber o direito autoral como uma derivação da pessoa, como um direito classificado entre os direitos pessoais. A obra é uma
expressão do espírito pessoal do autor, um pedaço de sua personalidade. (BARRETO apud CHAVES, 1987. p. 12).

Outros, o situam na esfera dos direitos reais. Sílvio de Salvo Venosa afirma ser inafastável a inclusão desses direitos
no campo patrimonial e na esfera dos direitos reais: “Cuida-se, sem dúvida, de modalidade de propriedade, ao
menos no que tange aos direitos patrimoniais.” (VENOSA, 2005, p. 631).

Há ainda quem atribua aos direitos autorais, um caráter misto, tanto de personalidade, quanto real (SILVA, 2005, p.
463)..

O enfoque é o seguinte: se o objeto de atenção é a obra em essência, a expressão da criatividade em si, esta, sem
dúvida, estará inserida nos direitos da personalidade. Entretanto, o caráter será de direito real, se é clara a
compreensão de que a natureza jurídica dos direitos autorais está intimamente ligada ao aspecto comercial da obra
que, no colocar da lei, atribui ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou
científica, invocando o aspecto romano da propriedade (ius utendi, fruendi et abutendi) (VENOSA, 2005, p. 174).

Clóvis Beviláqua aborda três posições em relação à sua natureza: seria uma forma particular de se manifestar a
personalidade; não existe propriamente um direito, mas sim um privilégio no campo das artes, ciências e letras e, por
último, caracterizaria uma modalidade especial da propriedade (BEVILÁQUA apud CHAVES, 1987. p. 9).

No entender de José de Oliveira Ascensão, “o direito autoral regula, pois, um setor diferenciado da vida dos
particulares, tendo por isso assegurada sua autonomia no ramo do Direito Civil”. No entanto, este mesmo autor,
acredita que a obra não pode pertencer em propriedade a uma só pessoa, pois ao nascer para o mundo, passa a ser de
todos que dela possam usufruir; pertencente a uma coletividade. O que tem-se então, é uma exclusividade
temporária na exploração da mesma (ASCENÇÃO, 1980, p. 30).

Nesse caso, independentemente do aspecto pessoal ou patrimonial, se o que importa é o caráter coletivo da obra, o
direito autoral destaca-se por possuir uma natureza jurídica que se define como sendo original, única.

É o que esclarece Guilherme C. Carboni:


Hoje, predomina na doutrina o entendimento de que o direito de autor é um direito sui generis, uma vez que sua natureza é moral – classificado como
direito da personalidade – podendo, no entanto, produzir efeitos patrimoniais – que se

aproximam do direito real – distintos entre si.


Ao trazer a leitura do direito autoral como um direito sui generis, o autor remete à teoria dualista, desenvolvida na
Alemanha do século XIX e, segundo a qual, os direitos morais e patrimoniais evoluem individualmente, sendo que
não raro, o aspecto moral pode se opor ao patrimonial, resguardando-se assim os interesses espirituais do autor. Ele
faz menção ainda, à teoria unitária que, por sua vez, nega o aspecto patrimonial no direito de uso exclusivo da obra,
pois esse direito que gera lucros, não se incorpora ao patrimônio, sendo inseparável da personalidade do autor. Essas
concepções das referidas teorias, seriam do francês Henri Desbois, de sua notável obra Le Droit d’Auteur, publicada
em 1950. (CARBONI, 2003, p. 28-29).

Vale ainda expressar a ideia de que o direito autoral é um direito civil especial (FÜHRER, 2007. p. 84).

O DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS

Nos termos da lei autoral em análise, esclarece o artigo 22: “pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais
sobre a obra que criou.”

Viu-se que os direitos morais não se desvinculam da pessoa do autor, fato que permite a reivindicação da autoria da
obra, a qualquer tempo (lei 9610/98, artigo 24, inciso I). No entanto, os direitos patrimoniais são negociáveis. É o
que representa o artigo 49, do mesmo diploma legal:
Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiro, por ele ou seus sucessores, a titulo universal ou singular, pessoalmente ou por
meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão, ou por outros meios admitidos em Direito, [...].

Cite-se ainda, o artigo 53:


Mediante contrato de edição, o editor, obrigando-se a reproduzir e a divulgar a obra literária, artística ou cientifica, fica autorizado,

em caráter de exclusividade, a publicá-la e a explorá-la pelo prazo e nas condições pactuadas com o autor.

Assim, embora a autoria seja perpétua, num primeiro momento, o autor é o titular dos direitos autorais de sua obra,
mas, no que se refere ao aspecto patrimonial, nem sempre o criador intelectual mantém a titularidade desses direitos,
pois são limitados no tempo, podendo ser objeto de transações. É o que acontece quando se assina um contrato de
edição em relação à determinada obra.

4.1 Os direitos patrimoniais e seu tempo de duração

O autor pode explorar os direitos patrimoniais por toda sua vida. Após sua morte, seus herdeiros, por mais setenta
anos, conforme ordem de sucessão disposta na lei civil. Passado esse prazo, a obra será de domínio público, ou seja,
seu uso será de livre utilização.15

Caso o autor não possua herdeiros, a obra cai desde logo em domínio público. É o que também ocorre em caso de
obra de autor desconhecido (LEI DE DIREITOS AUTORAIS, 2003, artigo 45, p. 1320).
15 Sobre a temporariedade dos direitos de autor, vide artigos 41 e 45, da lei 9.610/98.

A PROPRIEDADE INTELECTUAL

A propriedade, do latim proprietas (SILVA, 2005, p. 1115), derivado de proprius que por sua vez define o que é
particular, peculiar, próprio, num sentido geral, qualifica um caráter permanente de se pertencer a algo ou alguma
coisa.

A propriedade intelectual por sua vez, está relacionada à produção da inteligência humana. É conhecida pela
denominação de direitos autorais (SILVA, op. cit., p. 1117) e entra na espécie da propriedade incorpórea ou
imaterial. Diferentemente da propriedade industrial, que tem como objeto as marcas e patentes (aqui se resguarda a
relação jurídica entre invenção e inventor) e pertence ao Direito Comercial (Empresarial) (CARBONI, 2003, p.
26)16, a propriedade literária, artística ou científica é, como já foi dito, um ramo do Direito Civil.

O sentido de propriedade da obra gera polêmica, pela definição de algo que, num primeiro momento, trata-se de um
bem imaterial, incorpóreo, logo, insuscetível de apropriação.
16 Para maiores informações sobre a propriedade Industrial consultar o Instituto da Propriedade Industrial – INPI (www.inpi.gov.br) e a lei nº 9.279/96.

Plínio Cabral, ao abordar as dúvidas e controvérsias sobre o direito autoral, afirma que: “O que torna o problema
autoral único é que a arte é, por sua vez, única e peculiar, sendo, inclusive, difícil defini-la.”

E ainda, complementa:
O autor é proprietário daquilo que ele produz, independentemente de sua qualidade, mas desde que seja uma ‘obra do espírito’, definição um tanto vaga,
mas que, à falta de outra melhor, ajusta-se a seus propósitos. (CABRAL, 200, p. 42).

Ao falar sobre a liberdade das ideias, logo, dos aspectos que norteiam o nascimento de uma criação intelectual,
demonstra o autor José de Oliveira Ascensão, que: “A obra é uma criação do espírito e tem, portanto,
necessariamente, uma atividade humana na sua origem. Porém, deve ser exteriorizada e, uma vez exteriorizada, já é
um elemento estranho ao seu autor” (ASCENÇÃO, 1980, p. 14).

Tal afirmação possibilita o entendimento de que, apesar de ser necessariamente o resultado de uma criação humana,
a obra intelectual adquire vida própria no instante em que nasce para o mundo exterior ao seu autor. Daí a
dificuldade de se resguardar a propriedade intelectual.

Sílvio de Salvo Venosa, ao discorrer sobre o objeto do direito autoral, expõe:


Três são os requisitos fundamentais para que a criação intelectual seja albergada: criatividade, originalidade e exteriorização. Não há obra intelectual sem
criação. Reside na criatividade o aspecto mais profundo do direito de autor. O segundo atributo é o da originalidade, ou seja, obra de espírito diversa de
qualquer outra manifestação anterior. Finalmente, a exteriorização da obra é essencial. Obra desconhecida ou inédita não existe para a esfera jurídica ou
para a defesa de direitos morais ou patrimoniais. (VENOSA, 2005, p. 636).

O fato é que a paternidade da propriedade intelectual gera complexidade, até mesmo pela dificuldade de
conceituação que se constata nas normas legislativas. É certo que ninguém pode se apropriar da inteligência de outra
pessoa, da mesma forma, não adquirimos propriedade sobre a criatividade alheia. Mas a verdade é que o resultado
de uma produção artística, literária ou científica, pode ou não ganhar abrangência.

Nesse momento, a partir da noção de que proprietário é aquele que tem a titularidade sobre um determinado bem,
seja ele móvel ou imóvel e, realçando que nos termos da Lei 9610/98, para efeitos legais, consideram-se os direitos
autorais como bens móveis17 , recomenda-se ao autor que pretende garantir seu direito dominial sobre a criação
autoral, tomar providências concretas no sentido de proteger sua autoria.

5.1 O ônus do autor

Francisco Amaral faz uma distinção entre dever jurídico e ônus. No primeiro, temos uma situação passiva em que
alguém deve observar um determinado comportamento (positivo ou negativo), compatível com o interesse do titular
de um direito subjetivo, podendo agir licitamente ou não; em caso de conduta ilícita, arcará com as sanções
correspondentes. É o caso do dever de respeito ao direito de propriedade. No ônus, o comportamento também é
alternativo, embora seja necessário para a realização do próprio interesse. (AMARAL, 1991, p. 199-201).

Desta forma, para o autor que se preocupa com a questão da proteção autoral, os cuidados que pode tomar para
resguardar sua produção intelectual, representam um ônus. Não se trata de um dever jurídico, de uma imposição
legal, onde é necessário respeitar o direito de outrem, para não sofrer sanções, mas sim, de um comportamento no
sentido de se comprovar a autoria, caso a mesma seja contestada (um exemplo é o registro da obra)18.
17 Lei 9610/98, artigo 3º.
5.2 A complexidade de comprovação da paternidade da obra

Com o auxílio da Internet é clara a compreensão de que a obra intelectual percorre um mundo que vai muito além do
alcance do autor. Por outro lado, a discussão sobre os meios de se resguardar a propriedade intelectual aumenta.

Conforme o autor Maximilianus Cláudio Américo Führer:


Os direitos autorais pertencem desde logo ao criador da obra, independentemente de registro. O registro, portanto, não é necessário, sendo, apenas,
facultativo. Mas o registro existe para maior segurança desses direitos, presumindo-se que autor é aquele em cujo nome foi registrada a obra, salvo prova
em contrário.

18 Sobre o ônus da prova, dispõe o artigo 373, do Novo Código de Processo Civil.
(FÜHRER, 2007, p. 87).

Para Sílvio de Salvo Venosa, o registro existe para dar segurança ao autor e não para resguardar a obra e sua
ausência não impede a defesa dos direitos autorais. Assim, a controvérsia gira em torno da paternidade da criação
literária e seu meio de prova (VENOSA, 2005, p. 643)

Para ilustrar a dúvida da proteção autoral, atentese para a hipótese de um novo autor, leigo em questões jurídicas;
trata-se de alguém que jamais tenha tido contato com a lei de direitos autorais e não tenha noção dos procedimentos
que deve seguir para registrar seus trabalhos literários. Acontece que, de um momento ao outro, sua obra ganhou
publicidade sob a autoria de outra pessoa. Perplexo diante do fato, buscou um esclarecimento legal sobre seu
problema. Então, verificase que ele não tem como comprovar a paternidade da obra, uma vez que não dispõe de
qualquer meio de prova em relação a sua suposta autoria, ao passo que o autor que ora assina a obra em seu lugar, já
a havia registrado. Se, como dito, salvo prova em contrário, o registro gera presunção relativa de autoria (questão da
anterioridade) e, pela lei, registrar é apenas uma faculdade do autor, como fica a questão da proteção autoral nesse
exemplo?

Um caso verídico demonstra bem a preocupação que inspira o exemplo acima. Mary Schmich, colunista do Chigaco
Tribune escreveu um texto intitulado Filtro Solar, o qual seria um hipotético discurso caso fosse chamada para ser
oradora em uma formatura. O trabalho da jornalista foi publicado em 1º de junho de 1997. Ela estimulou os leitores
a escrever seus discursos, para ver como resumiriam suas lições de vida, da forma como ela havia feito. Porém,
meses mais tarde, a autora descobriu que sua obra obteve uma divulgação em nível mundial pela Internet, sob a falsa
autoria de um tal de Kurt Vonnegut. O fato gerou grande polêmica, mas como a obra havia sido publicada
anteriormente num jornal de renome, foi possível comprovar a paternidade da obra e tudo se esclareceu
publicamente (SCHMICH, 2004, p. 5-9).

A leitura objetiva da lei não oferece uma resposta pronta para o exemplo em questão. Mesmo na Convenção de
Berna (Art. 5º, 2) já se afirmava que o gozo e exercício dos direitos autorais independem de qualquer formalidade,
inclusive da existência de proteção no país de origem das obras. (PIMENTA, 1998, P. 486). No entanto, ao se
analisar a realidade prática tem-se aí um olhar romântico sobre a autoria. Os princípios legais inspiram um
comportamento social longe de ser alcançado.

É certo que o relacionamento entre o artista e sua criação deve transcender a própria vida, mas para que o vínculo
seja indissolúvel, cabe a cada um tomar medidas efetivas – e aqui se retoma a questão de ônus do autor
–, para comprovar a paternidade intelectual da obra e evitar os dissabores que uma violação possa causar.

6
O REGISTRO AUTORAL
No Latim regestra, plural neutro de regestus que, por sua vez, significa o que é copiado ou traslado, registro é o
assento ou cópia em livro próprio, de um determinado ato ou documento; juridicamente, traduzse nas formalidades
legais necessárias para que certos atos jurídicos se tornem públicos e autênticos podendo valer contra terceiros.
Entre seus efeitos, está a garantia de existência legal.

Além disso, os registros podem ser obrigatórios ou facultativos. Se obrigatórios, a eficácia do ato está atrelada ao
cumprimento da forma estabelecida em lei. Porém, sendo facultativo, cabe o dever de registro àquele que tem
interesse em dada autenticação (SILVA, op. cit., p. 1184).
No que tange ao registro da obra autoral, constitui providência que pode ser tomada pelo autor, como medida
preventiva de tutela da propriedade intelectual. Temos aqui modalidade facultativa19de registro que se faz através de
requerimento ao Escritório de Direitos Autorais – EDA, serviço realizado pela Fundação Biblioteca Nacional.
19 De 1898 a 1917, o registro na Biblioteca Nacional era formalidade indispensável para se entrar no gozo dos direitos de autor. Era essa a redação da lei nº
496, de 1º de agosto de 1898, que instituiu o caráter obrigatório do registro; Com o Código Civil de 1917, que dispôs sobre a matéria autoral nos artigos
649 a 673, afastou-se essa obrigatoriedade. Disponível em: <www.ufrn.br>. Acesso em: 24 abr. 2007.

No site da Biblioteca Nacional consta que o EDA está em atividade desde 1898 e presta serviço no sentido de
registro das obras intelectuais, buscando oferecer segurança ao autor quanto ao direito sobre sua obra, nos termos da
Lei 9610/98:
O registro permite o reconhecimento da autoria, especifica direitos morais e patrimoniais e estabelece prazos de proteção tanto para o titular quanto para
seus sucessores. Além de imperar nas questões referentes à cessão dos direitos, contribui para a preservação da memória nacional, uma das missões da
Fundação Biblioteca Nacional, através da Lei do Depósito Legal.20

Além de assegurar o direito de propriedade, o registro representa, legitimamente, a possibilidade de impedir a


reprodução fraudulenta da obra (SILVA, 2005, p. 1184).

De acordo com as normas do EDA21(Art. 5º e seguintes) consiste em envio de formulário preenchido e assinado
pelo interessado (que se responsabiliza tanto pelas informações prestadas, quanto pela originalidade e autoria),
juntamente com cópia da Carteira de Identidade; CIC; comprovante de residência; original com todas as páginas
numeradas e rubricadas (um exemplar para obra não publicada acondicionado em pasta de cartolina ou semelhante e
dois exemplares em caso de obra publicada, sendo que um se destina ao depósito legal22) e, ainda, comprovante de
pagamento da respectiva taxa ao órgão competente (o Banco do Brasil é o órgão credenciado para a arrecadação).
20 Disponível em: <www.bn.br/site/default.htm>. Acesso em: 26 fev. 2007.
21 Norma para realizar o registro e/ou averbação de obras intelectuais – inéditas ou publicadas – e solicitar serviços correlatos. Disponível em:
<http://www.bn.gov.br/ sites/default/files/documentos/diversos/2014/1219-documentosdoeda/documentoseda-702_0_0_0.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2016.

A forma de pagamento é por GRU-simples (Guia de Recolhimento da União)23, de acordo com valor fixado em
tabela. Para pessoa física a taxa é de R$ 20,00 (vinte reais), no caso de pessoa jurídica o custo é de R$ 40,00
(quarenta reais). O valor da taxa aqui presente corresponde à data de acesso24.

Após envio dos documentos necessários, o EDA expede uma certidão do registro, que protege a literalidade do
trabalho apresentado, mas não as ideias ali contidas. A certidão será enviada ao endereço postal fornecido pelo
requerente, num prazo de até 90 dias úteis a contar da data do protocolo. Nos termos do artigo 2º das normas25em
questão, o registro estabelece uma presunção de anterioridade; é declaratório e não constitutivo de direitos.
22 O depósito legal determina que um exemplar de cada livro seja enviado à Biblioteca Nacional de forma a integrar o patrimônio cultural do país.
23 Vide tabela com os valores para registro e/ou averbação de obra intelectual e serviços de registro em anexo.
24 Disponível em: www.bn.br/site/default.htm. Acesso em: 20 fev. 2007.
25 Normas do EDA para registro de obras intelectuais.

7
AUTORES DE OBRAS LITERÁRIAS
E A LEI DE DIREITOS AUTORAIS

Autor é, no contexto deste trabalho, aquele que produziu a obra literária. Sendo esta última tida geralmente como um
romance, conto ou poesia e, na ampla acepção, compreendendo tudo o que se faz a respeito da Literatura (SILVA,
2005, p. 176).

Embora o direito autoral proteja os autores, a verdadeira proteção se destina às obras. (UNESCO, 1981, p. 43).
Ao verificar o ensino de direito de autor no Brasil, o próprio Ministério da Cultura (MINC), reconheceu que o tema
é pouco conhecido daqueles que deveriam ter o domínio da matéria. Tal fato gerou propostas de políticas públicas
de divulgação do direito autoral, tais como, seminários regulares nas principais capitais do país em parceria com
instituições universitárias26.

A posição do Ministério da Cultura é a mesma dos profissionais do meio literário; seja editoras, livreiros,
distribuidoras de livros, professores de Literatura, escritores, etc., muitos reconhecem que a lei autoral brasileira é
pouco difundida, daí questionar-se sua efetividade.
26 Disponível em: <www.minc.gov.br/diraut/prologo.htm>. Acesso em: 26 maio 2006.

Mas a questão não é só de afastamento quanto aos aspectos legais. Entre outros fatores, o Brasil possui um pequeno
público leitor; as atividades que fomentam as artes, dentre elas a Literatura, são insignificantes considerando-se o
vasto número de artistas sem recursos e, a parcela imensa da população que é excluída desse universo. A
transformação necessária seria a de uma nova concepção de cultura para o povo, contudo, esse é um problema que
remete à Educação e, resultados nesse sentido, só em longo prazo.

7.1 Dados obtidos em entrevista sobre o direito autoral

Para se averiguar o grau de conhecimento da lei autoral brasileira (Lei nº 9.610/98), realizouse entrevista no período
de janeiro a março de 2007, com 52 (cinquenta e dois) autores de obras literárias, pertencentes a várias regiões do
país.

1. Relação com o Direito Autoral


2.
Você conhece a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98)?
3. Sabe dizer em que consiste o registro da obra e qual a sua importância?
4. Já registrou algum dos seus trabalhos?
5. Você acredita que as informações presentes no site da Biblioteca Nacional são suficientes para se registrar uma obra?
6. Em sua opinião, os novos artitas conhecem os Direitos Autorais, ou seja, acredita que a lei é difundida e existe uma conscientização no meio literário?
As entrevistas realizadas demonstram que a maioria dos autores de obras literárias não tem contato com a Lei
9610/98. Embora alguns tenham noção da existência desse diploma legal, não compreendem o que ele resguarda ou
em que consiste a proteção autoral. Trata-se de um contato parcial ou superficial com a lei27.

Percebe-se ainda, que muitos autores não registram seus trabalhos. E não são apenas os iniciantes, mesmo os que já
conquistaram contratos editoriais, deixam a incumbência legal a cargo das editoras e não sabem diferenciar entre
registro, ISBN (International Standart Book Number)28 ou código de barras (representação numérica do ISBN). Ou
seja, não existe um controle sobre a obra publicada e o desconhecimento da lei, gera abusos por parte do mercado
editorial. Sílvio de Salvo Venosa faz a seguinte colocação:
Normalmente, o autor não possui aparato e estrutura para divulgar sua obra. Vale-se das empresas do setor. Os direitos patrimoniais são, portanto, passíveis
de cessão (art. 49), por via contratual. Far-se-á por escrito e presume-se onerosa (art.50). É usual, no tocante à vendagem de livros, que se estipule
porcentagem sobre o preço de capa devido ao autor ou pagamento global por edição. Sempre é difícil e problemático o controle de exemplares vendidos.
Mais complexa ainda é a arrecadação e pagamento de direitos autorais musicais. Para eficácia com relação a terceiros, a cessão deve ser averbada à
margem do registro, se houver, ou em Cartório de Títulos e Documentos. No instrumento de cessão devem constar o objeto e as condições de exercício
quanto a tempo, lugar e preço. (VENOSA, 2005, p. 641).

27 Vide páginas 33 a 35 para conferir os dados sintetizados da entrevista. Em anexo, consta o questionário aplicado.
28 Falamos aqui de um número padrão internacional de livro, ou seja, um identificador único para livros e publicações não periódicas, que se relaciona
àquela obra, não se repetindo em nenhuma outra. A título de esclarecimento, para as publicações periódicas o sistema é o ISSN - International Standart
Serial Number).
Em relação às maiores dificuldades encontradas no mercado editorial, os entrevistados citam o desinteresse pela
Literatura; o elevado custo das publicações; a baixa percentagem que o autor recebe por seus direitos autorais
patrimoniais; o inacesso às grandes editoras; ausência de espaço nas livrarias para os autores independentes e
pequenas editoras; os altos investimentos que a divulgação de uma obra exige; a demora na análise de originais por
parte das editoras que custeiam a edição; os formulários complexos e burocratizados29 para obtenção de patrocínios
culturais, através da lei de incentivo à cultura e o amadorismo que se percebe em muitos dos trabalhos de autores
iniciantes.
29 Sobre o incentivo à cultura, dispõe a lei 8.313/91 - Lei Rouanet, que pode ser usada por pessoas físicas e jurídicas com a finalidade de financiar projetos
culturais. Embora seja uma grande oportunidade também para os autores de obras literárias, uma vez que abarca outros segmentos da arte como, por
exemplo, o cinema, os formulários exigem todo um detalhamento das atividades editoriais, incluindo orçamento, cronograma etc., o que os torna
complexos. As editoras e profissionais do ramo chegam a cobrar até cinco mil reais ou mais para elaboração de um Projeto Cultural, que o autor nem sabe
se será aprovado (dados obtidos através de experiência pessoal da autora).

Para alguns, tais limitações trazem revolta, o que os faz publicar as obras aleatoriamente. Outros repudiam qualquer
forma de comercialização da arte, alegando que o verdadeiro artista não deve se preocupar com formalidades legais
como o registro ou voltar sua atenção para o lucro. Mas há os que acreditam na profissão de escritor. Resguardam
seus direitos da melhor forma possível e só publicam após análise meticulosa do original e registro da obra,
empreendendo em seus sonhos, esforço e dedicação.

Embora a arte deva ser a intenção maior de um escritor, o aspecto comercial da obra precisa ser fiscalizado e requer-
se uma maior atenção, quando há cessão dos direitos autorais patrimoniais para editoras. Tem-se aí um
comportamento que varia segundo o autor, mas um cuidado maior com o que se escreve e se contrata, pode evitar
surpresas desagradáveis e processos desnecessários, além de se impedir o locupletamento à custa de outrem.

CONCLUSÃO
Os estudos realizados propiciaram a compreensão de que inexiste uma conscientização em relação ao direito autoral,
no que toca à grande parte dos autores de obras literárias.

Apesar de existirem dispositivos legais sobre o tema, nem sempre a lei cumpre os fins a que se destina. Isso porque
o sistema não alcança as situações práticas vivenciadas pelas pessoas no dia a dia. Não é que a internet seja terra de
ninguém, mas vamos combinar que no ciberespaço as publicações se espalham rapidamente e em larga escala.
Fiscalizar isso não é nada fácil.
O distanciamento entre autor e lei leva a uma espécie de alienação quanto aos aspectos que permeiam a obra
intelectual, sua proteção e os efeitos do registro.

Com as inovações da multimídia e a limitações que cercam o mercado editorial recorrer à rede é comum, pois a
impossibilidade de se obter recursos e a complexidade de se alcançar um patrocínio cultural deixa o novo autor no
escuro e, muitas vezes, condena-o a permanecer no anonimato.

Longe da percepção que cerca alguém que possui conhecimentos jurídicos, há ainda quem utilize um editor de
textos, imprima seu novo trabalho e o distribua pelo simples prazer de mostrar o que escreve, sem citar o próprio
nome ou constituir prova anterior de autoria.

É certo que hoje em dia, quase todos os sites literários trazem recomendações de registro da obra pelo Escritório de
Direitos Autorais – EDA, setor da Fundação Biblioteca Nacional. Contudo, mesmo para os autores virtuais, o
registro da obra pode parecer complexo, já que as instruções muitas vezes consistem em download da própria lei ou
em regras mais específicas, que um leigo pode apresentar dificuldades em entender.

Não há maiores incentivos à publicação de obras literárias e as oportunidades que surgem demandam altos
investimentos. A falta de opção turva as potencialidades. Mais cruel ainda é saber que alguém explora seu trabalho
(como na pirataria) e impossibilita a percepção dos direitos de autor ou descobrir que sua obra está fazendo sucesso
nas mãos de outro artista, já de renome no cenário nacional. E quando algo assim acontece, a luta fica desigual e
injusta.

Por isso, mesmo que a lei não obrigue ao registro, é importante que o novo autor conheça seus direitos e
possibilidades; saiba o ônus que lhe cabe quando se exige a prova de sua autoria. Isso pode não mudar a
preocupação social com a cultura ou mesmo incentivar propostas governamentais que estimulem a Literatura
contemporânea, mas a informação sobre a área em que se atua é imprescindível. Não como acontece na maioria das
vezes, porque o que é formal assusta a pessoa que se sente despreparada, causando uma sensação de desamparo.

A resposta para os problemas identificados está, sem dúvida, na disseminação da informação. Solução que surge
tanto para os novos autores de obras literárias, a quem, não raro, pode-se atribuir a qualidade de incautos, quanto
para os de renome, visto que acompanhar a vida da obra após sua edição, torna-se tarefa impossível.

Porém, não basta apenas punir os crimes de violação autoral ou apresentar as sanções na esfera civil. Para todos
aqueles que se relacionam à área autoral, o caminho viável é trabalhar para uma maior difusão dos direitos autorais,
como a inserção da disciplina nas grades curriculares dos cursos jurídicos, de Letras e relacionados à Comunicação.
Além de palestras e seminários que já vêm sendo realizados, outra opção é a elaboração de uma espécie de livreto
informativo a ser divulgado e distribuído na Internet, bibliotecas públicas do país e setores diversos da Literatura.
Algo que ofereça uma orientação legal em linguagem clara e acessível; um guia dos primeiros passos a se seguir
para se proteger e respeitar a produção intelectual.

A própria lei de direitos autorais se refere à obra como uma criação do espírito, o que nos leva a um sentido poético
e sensível de se referir ao legado da inspiração. Esse caráter humano presente na lei permite a concepção de que a
proteção autoral existe para que todos tenham a oportunidade de levar seu trabalho adiante, resguardando assim a
paternidade da obra e a proposta individual e única que alimenta o nascimento de cada original.

REFERÊNCIAS
AMARAL, Francisco. Direito civil brasileiro: introdução. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade mecum acadêmico forense. 2. ed. São Paulo: Edições Vértice,
2006.

BRASIL. Código de Processo Civil. Vade mecum acadêmico forense. 2. ed. São Paulo: Vértice, 2006.
BRASIL. Código Penal. Organizado por ABREU Filho, Nylson Paim de. 6. ed. Porto Alegre:Verbo jurídico, 2005.

BRASIL. Lei dos direitos autorais. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras
providências. Organização por Yussef Said Cahali. 5. ed. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2003.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 26 mar. 2016.

CABRAL, Plínio. Direito autoral: dúvidas e controvérsias. 2. ed. São Paulo: Harbra, 2000.
CARBONI, Guilherme C. O direito de autor na multimídia. São Paulo: Quartier Latin, 2003.
CHAVES, Antônio. Direitos de autor: princípios fundamentais. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
COSTA NETTO, José Carlos. Reorganização do conselho nacional de direito autoral. Brasília, 1982.

ECAD. O que é direito autoral. Disponível em: <http://www. ecad.org.br/pt/direito-autoral/o-que-e-direito-autoral/Paginas/default. aspx>. Acesso em: 26
mar. 2016.

FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de direito civil. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

Normas para registro de obras intelectuais inéditas e publicadas no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional. Fundação
Biblioteca Nacional – Serviço de Direitos Autorais. Disponível em www.bn.br/site/default.htm. Acesso em 24 mar. 2016.

Pesquisa sobre o ensino de direito de autor no Brasil. Coordenação de Direito Autoral. Secretaria Executiva - Ministério da Cultura. Disponível em
<www.minc.gov.br/diraut/prologo.htm>. Acesso em: 26 maio 2006.

PIMENTA, Eduardo S. Código de direitos autorais e acordos internacionais. 1998.


SANTIAGO, Oswaldo. Aquarela do direito autoral: História - Legislação - Comentários. Rio de Janeiro: Gráfico Mangione, 1946.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
SCHMICH, Mary. Filtro Solar. 2004, p. 5-9.
TAKAO, Tânia Yasuko Hirata. A violação dos direitos autorais na Internet: a regulamentação do meio eletrônico diante das inovações tecnológicas.
Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 55, 31 jul. 2008. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2870>. Acesso em: 25 mar. 2016.

UNESCO. ABC do direito de autor. Lisboa: Editorial Presença, 1981.


VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. (Coleção direito civil; v. 5).

ANEXOS

Entrevista sobre os Direitos Autorais utilizada na pesquisa


Tema: “A efetividade da lei de direitos autorais (Lei 9610/98), no que concerne à publicação de obras literárias”.

Entrevistado(a): ____________________________________________________ Profissão:


_________________________________________________________ Contato/e-mail: ____________________________________________________

1. Qual a sua relação com o direito autoral?

a) Autor independente de obras publicadas


b) Autor de obra não publicada
c) Trabalha no meio literário (jornalista, editor, agente literário, etc.) d) Tem algum vínculo com a Literatura (professor, estudante, ator, etc.) e) Autor de
obra publicada por editora

2. Você conhece a Lei de Direitos Autorais (Lei 9610/98)?


_____________________________________________________________________
3. Sabe dizer em que consiste o registro da obra e qual sua importância?
_____________________________________________________________________

4. Já registrou algum de seus trabalhos?


a) Não, nem sei como devo proceder.
b) Sim, mas encontrei dificuldades.
c) Sim, mas não tive dificuldades.

4.1 - Caso sua resposta tenha sido não, alguma vez distribuiu seus trabalhos (poemas, contos, crônicas, etc.) para amigos, conhecidos, alunos, parentes ou
divulgou em murais, folhetins, jornais ou Internet?

____________________________________________________________________
5. Se encontrou alguma dificuldade para realizar o registro, qual foi? _____________________________________________________________________

6. Você acredita que as informações presentes no site da Biblioteca Nacional são suficientes para se registrar uma obra?
_____________________________________________________________________

7. Em sua opinião, os novos artistas conhecem os Direitos Autorais, ou seja, acredita que a lei é difundida e existe uma conscientização no meio literário?
_____________________________________________________________________

8. Qual seria sua sugestão em relação à proteção do trabalho de um autor?


_____________________________________________________________________
9. Aponte a maior dificuldade que você identifica no mercado editorial.
_____________________________________________________________________
10. O que a sociedade poderia fazer para incentivar a cultura? _____________________________________________________________________
Autoriza a publicação de sua entrevista por quaisquer meios, sejam eles impressos ou virtuais?
________________________________________________. O símbolo dos direitos autorais
©
Sobre o símbolo dos direitos autorais, dispôs o artigo III, da Convenção Universal Sobre o Direito de Autor:

Qualquer dos estados contratantes que, nos termos de sua legislação interna, exija, a título de condição para
conceder a proteção ao direito de autor, o cumprimento de formalidades tais como o depósito, registro, menção,
certificados notariais, pagamento de taxas e fabricação ou publicação no território nacional, deve considerar tais
exigências como satisfeitas em relação a qualquer outra obra protegida nos termos da presente Convenção e
publicada pela primeira vez fora do território do referido Estado por um autor não nacional, se, desde a primeira
publicação dessa obra, todos os exemplares da obra publicada, com a autorização do autor ou de qualquer outro
titular do direito de autor, contiverem o símbolo ©, acompanhado do nome do titular do direito de autor e da
indicação do ano da sua primeira publicação; o símbolo, o nome e o ano devem ser apostos em lugar e de maneira
que indiquem claramente haver sido reservado o direito de autor. (Fonte: PIMENTA, Eduardo Salles. Código de
Direitos Autorais, 1998, p. 532).

Embora a nossa lei autoral não faça referencias ao símbolo, o mesmo é costumeiramente utilizado nas publicações,
por autores e editoras.

Jurisprudência sobre o direito autoral

Direito Autoral (lei 5988/73). O Autor de Obra Intelectual titular de direitos morais e patrimoniais (art. 21).
Depende de autorização qualquer forma de utilização de sua obra (art. 30). Ocorrendo ofensa a ambos os direitos,
cumulam-se as indenizações. Caso em que reconheceu, também, a lesão de direitos patrimoniais. Recurso especial,
por isso, conhecido e provido, em parte.” (STJ – Min. Nilson Naves - 3 T – RE 0013575/91 – SP – j. 30.06.92 –
unânime – p. 31.08.92). (Fonte: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais. 2005, p. 640).
Ação Cautelar – Direito Autoral.

Programa de televisão denominado “Você Decide” que se pretende seja plágio de outro, registrado na Biblioteca
Nacional, sob o título de “O Povo é o Juiz”. O direito autoral não protege ideias simples, comuns, mas, sim, a sua
exteriorização concreta original, artística e perceptível aos sentidos do homem.

Ausência dos requisitos que legitimam a concessão de liminar, ela foi indeferida. Sentença monocrática antecipada
de improcedência do pedido. Apelação da Autora, com preliminar de cerceio de defesa. Rejeição da preliminar.

Desprovimento do recurso.
Partes: Marizete Kuhm e TV Globo Ltda.
(Apelação Cível 5731/95 04/06/96 - 6ª Câmara Cível TJRJ unânime Des. Rel. Itamar Barballo julgamento 17/04/96)

Direito Autoral. Edição não autorizada - Critério indenizatório “Não comportando se adotar para a edição
desautorizada o mesmo critério remuneratório antes negociado pelas partes para a edição legítima, é de rigor mandar
para arbitramento o levantamento da indenização devida ao lesado, observada a diretriz de não permitir ao infrator
qualquer margem de lucro com a edição pirata”. (Apelação Cível nº 3083/90 do TJRJ). (Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/direitoautoral/ index_juris.htm>. Acesso em: 8 abr. 2007)

Direito Autoral . Dano Moral. Faz jus a indenização por dano moral a autora de programa de televisão que teve seu
nome não divulgado quando da reprise da série. Não beneficia a empresa a circunstância de haver se tornado
cessionária do direito, fato que não a desobriga de identificar a autoria da obra. (2ª Câmara Cível, TJRJ, Des. Thiago
Ribas Filho).

Direito de Autor . Texto Literário. Reprodução. Modificação. Há ofensa ao direito do autor na reprodução não
autorizada – ainda que em obra didática, com a indicação da origem e do nome do autor – quando feita com cortes,
nova disposição e montagens do original, prejudicando a criação literária. (Rec. Esp. nº 103297-MG, STJ, Min. Ruy
Rosado).

No que tange ao valor da indenização pelo dano moral, vamos encontrar também aqui a mesma problemática
existente para o dano moral em geral. Terá que ser arbitrada pelo juiz, com prudência e bom senso, atento aos
princípios da razoabilidade, da proporcionalidade, da exemplaridade etc.

O ressarcimento devido ao autor haverá de superar o que seria normalmente cobrado pela publicação consentida. A
ser de modo diverso, sua aquiescência seria, na prática, dispensável. Cumpre, ao contrário, desestimular o
comportamento reprovável de quem se apropria indevidamente da obra alheia (RSTJ 111/203). (Disponível em:
<http://www.estacio. br/graduacao/direito/revista/revista4/artigo5.htm>. Acesso em: 8 abr. 2007).

Compilação . Viola direitos autorais, se não autorizada (RF 261/211).


Condensação de livro. Viola direitos autorais, se não autorizada (RJTJESP 43/59).

Plágio. Constitui plágio a cópia de trechos de obra literária, sem indicação do autor (RJTJESP 70/62). (FÜHRER,
Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de direito civil, 2007. p.91-92.)
registroouaverbacao/eda_documentos_tabela-de-valores_0_0_0_0.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2016.

Legislações referentes aos Direitos Autorais30


1. Lei de Direitos Autorais Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.
2. Lei Nº 12.853, de 14 de agosto de 2013
Altera os arts. 5º, 68, 97, 98, 99 e 100, acrescenta arts. 98-A, 98-B, 98-C, 99-A, 99-B, 100-A,
100-B e 109-A, e revoga o art. 94 da Lei nº 9.640, de 19 de fevereiro de 1998, para dispor

sobre a gestão coletiva de direitos autorais, e dá outras providências. 3. Decreto Nº 8.469, de 22 de junho de 2015

Regulamenta a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e a Lei nº 12.853, de 14 de agosto de


2013, para dispor sobre a gestão coletiva de direitos autorais. 4. Instrução Normativa Nº 3, de 7 de julho de 2015

Estabelece os procedimentos de habilitação, organização do cadastro, supervisão e aplicação de sanções para a atividade de cobrança de direitos autorais
por associações de gestão

coletiva e pelo ente arrecadador de que trata a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
5. Instrução Normativa Nº 4, de 7 de julho de 2015

Aprova o Regulamento de Mediação e Arbitragem no Âmbito do Ministério da Cultura, nos termos da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e do
Decreto nº 8.469, de 22 de junho de 2015.

30 Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_ publisher/OiKX3xlR9iTn/content/legislacoes-referentes-aos-direitos-


autorais/10883>. Acesso em: 25 mar. 2016.

6. Portaria Nº 53, de 7 de julho de 2015

Constitui a Comissão Permanente para o Aperfeiçoamento da Gestão Coletiva – CPAGC, com a finalidade de promover o aprimoramento da gestão
coletiva de direitos autorais no Brasil.

“Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração,
confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua
madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta
grave com um forte e simples “Preciso”, então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e
irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso.” (RAINER MARIA RILKE, Cartas a um jovem poeta, p. 25)

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