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*

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LITERATURA DE CORDEL

! OS CAUSOS DO !
; VELHO GRIÔ NO •
• CORDEL.
.t Autor: Júnior Brasil t
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t
t CAUSO UM:
t t t
varre de novo, varre de novo...
*t
_

t
t
*t
t Era uma boa festa
que eu queria fazer,
t
t
.•
um forró bem animado
pro povo se entreter
t
.•
" a poeira levantar "
até o dia raiar
t como manda o bom viver. t
t
.•
Era festa importante
uma comemoração
t
.•
" pra agitar a cidade "
.• e o pedaço do sertão •.

t
" onde a gente morava
t
"

t t
cultivo comemorava
tendo a Deus gratidão.

t t t t t.t t t t t
*
**
t
**
Para a minha família
tarefas distribuí
t
e seu pronto cumprimento
- **
t
t
t
t
t
t
* * t t
Porisso uma tarefa
singela realizei
até porque dar exemplo
pra cobrar é minha lei,
t t t *
**t
diligente exigi
t para a casa ficar t t e minha casa limpinha

t
pronta pra se festejar
nem um pouco amoleci. t t
arrumada e cheirosinha
foi o que eu almejei. .. t
t Como era no meu terreiro t t Peguei de uma vassoura t
t que iria acontecer
arrasta pé animado t t o terreiro fui varrer
para o forró ali
**
t também cuidei de meter
minha forte mão na massa t t com poeira acontecer
e veio uma lufada

t pois senão o tempo passa


sem resultado se ver!
t t de vento, não esperada,
estragando o meu fazer. ..
*
t t
** E minha disposição
não é somente mandar
e eu nem vejo tarefa
t
t
t
t
Eu nem me desanimei
fui a faina repetir
para o terreiro limpinho
**
** que se homem realizar
perca a masculinidade
e o povo da cidade t
t
t
t
quando do forró luzir,
vento de novo soprou
de folha empesteou **
t t t *
não o vá mais respeitar. das árvores a cair ...

** t t t t,t t t * t t t t t tst
*
,

t t t t
t
t
*
Eu varri mais uma vez
já meio contrariado,
e o vento, novamente,
* * tt* * * * * CAUSO DOIS:
t t t
*
quase foi pra fogueira por cau-
t

*
fez ficar sujo o limpado,
e uma voz do céu soou
no meu ouvido chegou:
t t*
sa de banho todo sábado!
*
t
t - Volte a varrer, desgraçado!
t t t
t t tEsse causo foi estranho
t
t t t
difícil é entender
nos nossos dias de hoje
t
t t t
o que foi acontecer
num tempo muito distante t
t t tque o portuga navegante
veio se estabelecer. t
t t tEra tempo em que a fogueira t
t t tda chamada inquisição
matava gente do povo t
t t tque se dizia cristão
quem do clero discordasse t
t t tou magia praticasse
t
t t t
virava só um torrão.

t t t t t~t t t t t t t t t tst t t t *t
t t t **
* t t t
* t t t
** * **
t
**t
Nesses tempos, as cabeças

*t
É nas terras da Europa
que o fato acontecia pelo clero coroadas

t
**t
e esse povo "cristão" mandaram homens em naus
essa maldade fazia a águas não navegadas,
t pra fazer o "achamento"

*tt
e alguns, querendo ver
(farsa de descobrimento!)

*
rabo de porca torcer
pelo auto já pedia. t de terras não dominadas.

Os judeus e sarracenos t tt Marinheiros lusitanos

t
*
a Pindorama vieram
t t
que fossem surpreendidos
exercendo o seu credo de Ilha de Vera Cruz

t
t
*
estavam muito perdidos! foi o nome que aqui deram,

** Era um grande lamento

** *t
de tortura o sofrimento
até serem destruídos! *
e terra de Santa Cruz,
homenagem a Jesus
nome que depois quiseram ...

** A condução das pessoas

** *
de toda comunidade *
*
Naquele tempo distante
nós fomos colonizados
e dos males da Europa

*
era por esses preceitos

** *
no campo ou na cidade. sem perdão contaminados

*
e de fanatismos vis

*
Todo o que não seguisse

*
ou com padre discutisse

** * * * *6* * * * * ** * * * *7t t t * *t
ia à fatalidade.

*
de cabeças imbecis
ficamos encalacrados!

I
t
t -* ** ** **
t t t
** t t
t
* *
Para cá veio um grupo
com sede de enriquecer Aos padres de hoje peço,
t portugueses dos mais pobres
querendo um bom viver
t t aos católicos, também,
se acaso ofendi
t
t enfrentando o calor
e o imenso fedor
t t busco a graça que tem
em história verdadeira
t
t t
t
t
de seus corpos desprender!

Um cristão dos mais sensatos


passou então a tomar
em todo sábado, banho,
*tt *t* do meio até a beira,
não desrespeito ninguém.
t
t
t para se aliviar
mas um padre lazarento t t t
t sem qualquer discernimento
ele teve que enfrentar!
t t t
t Esse padre lazarento
t t t
t era da inquisição t t t
t que por causa desses banhos
lhe deu a voz de prisão, t t t
t mesmo a se justificar
desse calor de lascar t t t
t quase vira um torrão!
t t t
t t t t t8t t t t t t t t t t9t t t t t
* , t t * * * t t tt
t tt * * t * * t t t t'*
•.

CAUSO TRÊS:
origem do preconceito contra
Pelotas - RS e Campinas - SP
•.
• * Do filho do fazendeiro
precisava se cuidar
a menina negra, escrava,
•.

t
t
t
t
t
t
*t
.•. pois viesse a gostar
" de seu corpo feminino
vinha pra se lambusar.

Às vezes a mulher feita


•.
.•
t
t.••
t Ser filho de gente rica _
.•. no sonho (vil?) de fugir
" da labuta mais pesada .•
.•
.•
nos tempos do imperador
pra alguns era alegria
.•
.• .• procurava de servir
.• um "serviço" ao sinhô
t
.• pra outros causa de dor, .•
t t
.•
t
.•
.•
ora era desvario

*
ora causas de valor.

Naqueles tempos de outrora


havia a escravidão
.•
tt
.•.
.•
.•
.•
e um filho podia vir.

Essas, para o sinhozinho


ensinavam a "lição"
que os jovens aprendiam
.•
.•
t t t t
* t*
causando ao povo negro com toda a atenção
.• dor e grande apreensão .• viam como a melhor
.•
t a chibata e o tronco
e dor e lamentação...
t
.•
queriam repetição...

t
t * t t ~ot _ * * * t t t * ~It t t * t
t t
*tt
* t
* * - -t * * *
t
Os rapazes, já crescidos
eram pelos pais mandados
à Côrte ou à Europa
para voltarem formados,
t t
t
t
t t t t t t
Os pais e os homens velhos
olhavam desconfiados,
pois com todo esse "frufru"
não eram acostumados,
*t
t
na-busca de um diploma t ) t muitos deles homens brutos

t da família afastados.
t ) t grossos e desajeitados!
t
t Quando voltavam pra casa t t Com os jovens de Pelotas
estado do Rio Grande
t
era aquela estranheza,
t t t
*tt pois os jovens rapagões era o que ocorri
se colocavam à mesa
comendo com os talheres t t t
e outro lugar que brande
essa fama é Campinas;
com certa delicadeza.
t t t
e quem não gostou se mande!

t Já não andavam descalços t t t


t quando iam campear
perante qualquer donzela t t t
t não iam mais escarrar
e nem mesmo certas partes
t } t t
t estariam a coçar! t ) t t
t t t t
t t t t t.,t t t t t t t t t t.st t t t t
t ** t * * * * t t
CAUSO QUATRO:
A o velho que entendia o compu- •.
Moravam numa cidade
pobre do interior
t * t **
•. tador •
onde só o povo simples
mas honrado, com louvor,
t
t t trabalhava no roçado
e umas cabeças de gado
t
t
* Um velho bem aplicado
e muito inteligente
*t
.•
lhe davam o seu valor.

Nessa cidade a luz t


t da noite tinha chegado

.•
•.
inda um tanto mais honrado
e também muito decente
de computador sabia

.•

por trabalho do governo
num projeto executado
de torres de transmissão
*t
•. mexer nele entendia .• rasgarem esse sertão
t
*
•.

•.
quanto a isso era "quente".

Ele tinha um sobrinho


mole e desentendido
*t
• sendo o povo abençoado.

Chegando a energia
até a propriedade
t
•.
•.

*
r-
•. e na escola muito pouco
tinha o jovem aprendido t do povo simples do campo
bem distante da cidade
•.
•.

*
•.
•.
mas sabia campear
e do roçado cuidar
d . 't d id
o Jel o que era eVI o.

* *
.• mudança aconteceu
e o povo percebeu
t
a nova realidade.
•.
•.

*t*t ~~t **tt * t t t ~5t t t t t


-
1

t t t t t t t t t
I'

* * *Já a carne do capado


que esse povo salgava * * ** * *
t
t
Para o sobrinho o velho
indicava sem parar * * t*
** e assim uma semana
bem tranquilo aguentava,
t *
que ligeiro aprendesse
como era de lidar
*t
t*
agora na geladeira com o tal computador
ou no freezer, 'té a beira, pois para ter seu valor
t
**t t* *
a carne se conservava. tinha que saber usar.

t Já não era mais à pilha t


O sobrinho, que ao velho

I t o rádio em que o peão


escutava as notícias t
gostava de atender
reconhecendo ser sábio

t ouvindo com atenção


a fala do locutor t t t
e cheio de bem querer
a cidade procurou

t que mostrava seu valor


para toda a audição.
t t t
e um lugar encontrou
para a lição aprender.
t Assim o computador
t t t
A moça que ensinava
t também acabou chegando t t t
bem cheia de preconceito

t para o povo do campo


por todo canto se usando t t t
e muito desrespeitosa
como criada no eito

t bem como a televisão


mostrando para o sertão t t t
a lição não ensinou
com o moço esculachou

t atores representando.
t t t
quase o fez bater no peito!

t t t t t.6t t t t t t t t t t.7t t t t t
I
r

t t *t * t *t t * tt t t t t **ttt
•.

t

t
O moço, muito zangado
na casa do tio entrou
e o fato ocorrido
para o velho narrou
e o velho, indignado
t
t
t-
•.
"
E depois o velho sábio
para a moça falou:
*
Tudo o que é ultrapassado
no passado se mostrou
de última geração
.•.

•.

•. olhando pra todo lado •. •. e por toda a nação •.
• dar o troco planejou. • " serviços desempenhou. •

t Foi até a escolinha t t-


•.
E aprenda essa lição
para nunca esquecer:
t.
.•.
•. pedindo pra aprender, .•.
• a menina, com seu jeito • " não despreze quem não sabe •
.•. nojentinho de atender .•. .•. ou demora a entender •.

tt
.• ficou só observando
e quase se assustando
com o velho em seu fazer!

t
t
"
t
t
você não nasceu sabendo
de um tudo entendendo
também teve que aprender!
"
t
t
.•.
.•
.•.
Pois o velho demonstrou
todo o conhecimento
que tinha para mexer
.•.

.•.
t t
.• como um entretenimento .• t t
.•.

t
.•
uma página criou
na internet jogou .•t
.•.

t t
t
que se espalhou como vento!
t
t t t t tst t t t t t t t t t9t t t t t
t
t
t
* * * * * ** * * * - * - * t
t
CAUSO CINCO:
o pescador de otários
t t
t
t
O homem observou
t t

t
t
* * t
*
se pôs a admirar
aquel figura ali
que parecia pescar t
t* *
algo dentro de um balde
não queria acreditar. t
t
t *
Ele vinha caminhando
pela rua displicente t
t Ora, veja, era estranho,

* t
quando viu um pescador o rio era distante,
tranquilo e sorridente nem um córrego ali

**
segurando uma vara
do anzol tão saliente.
** *t* t** tinha o fluir incessante
e o moço entretido
de um jeito angustiante...

*t*A linha do pescador


se encontrava mergulhada
em um balde tendo água

t t
parecia presepada
que alguém tinha preparado
*
t*
t t
O homem foi até ele
pra poder lhe perguntar:
- Me diga, meu bom rapaz,
acaso estás a pescar? -
Ele respondeu: - Estou,
t t
** t t t t tt tt t t ~It t t t t*
ou então uma mancada ... como podes reparar.

I
*** '0* * *
,

* t * * t * * t t ** *
** -- ** t*
t - Sobre o autor
o que procuras aí? -
Otários estou pescando. - Carioca, filho de pais mineiros, o escritor
•. - E quantos tu já pegaste? - .•.. Júnior Brasil nasceu em OJ de novembro de 1973,
"
•. t
- Com quem tá me perguntando,
já são oito neste dia! -

•.
e além da cidade natal, já residiu em Ladário _
MS.

" E terminou gargalhando! •


t
**
Trabalhador, seu desempenho profissional é

t t como servidor municipal em Palmas, capital do


Tocantins, onde reside desde 1995, e onde conhe-
ceu o cordel em 2001. Desde então, o talento, culti-

t t vado e mantido em formulação desde a mais tenra

t
t
** t
t
infância, encontrou a forma de expressar ao mundo
as histórias repletas de lirismo do autor, tratando do
sagrado e do profano, divertindo e discorrendo
sobre assuntos sérios.

t t .•.

A produção literária do autor em cordel
pode ser dividida em quatro períodos distintos: o

t t .•. primeiro período, compreende a descoberta do cor-

**
• dei, sem entretanto obter a assimilação dos princí-
pios que regem essa arte, estabelecidos pela tradi-
.•. ção (200 I a 2005). O segundo período (2005 a
t •
.•.
2007) corrcsponde à desc bcrta dos princípios do
cordel c à bus I ti adaptar- C à regra do cor-

t
* t

t
dei e tab I idas p 'Ia tradi o e pelo fazer

* * * t ,,* t * * *
t contínuo d s p tas I, "c! I. Foi dctcrminan,

t t t t ~st t t t t
,
(

te para esse aprendizado o contato que o autor teve


com os vates nordestinos mestre Gonçalo e Arie-
valdo Vianna, ambos membros da Academia Brasi-
leira de Literatura de Cordel, bem como com o
poeta e cantor Beto Britto (o contato ocorreu em
evento literário promovido pela unidade Palmas do
SESC). Esse contato permitiu ao poeta entender e
assimilar como se faz um cordel.

o terceiro período da produção literária


deste poeta iniciou-se em finais de 2007 para início
de 2008, e traz consigo a obtenção do título de
mestre de saber popular obtido pelo autor mediante
o volume de sua produção literária. Esse período
ainda traz o autor utilizando-se do processo de có-
pias digitais (semelhante à Xerox, mas de melhor
qualidade e durabilidade), em pequenas quantida-
des. Contribui para essa opção o fato de o autor, à
época, dispor de poucos recursos financeiros.

o quarto período da produção literária do


autor inicia-se em janeiro de 2011, quando passa a
produzir seu trabalho literário em gráficas.
* *
t t t t t t, t t t
OS CAUSOS DO VELHO t
t GRIÔ NO CORDEL t
*
•.
•.
t
Obra composta de cinco histórias no
formato de Literatura de Cordel, tra-
tando de histórias engraçadas, contos

•.
.• populares e piadas vertidas para o .~
•. Cordel pelo autor deste folheto. •.

t
• Imagem da capa: Mestre Zé Duda, do
t

" maracatu rural Estrela de Ouro. Ori- "
• gem da imagem: internet (disponível •

tt
•.
blogs/memoriadosbrasileiros/
index.php?i=67)
tt
em http://www.museudapessoa.net/

,
••

t t
t Palmas - TO, dezembro de 2010 t
t 1 edição - 100 exemplares
a

t t t t t t ·t t t t
*'

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