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Responsável pelo Conteúdo:

Professor Ms. Guilherme Antonio Ziliotto

Revisão Técnica:
Profa Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa Ms Eliane Nagamini
 O Comportamento do Produtor no Ambiente de Negócios

 Fatores que Determinam a Decisão de produzir

 Formas de Competição (e como escapar delas)

 Mercados Imperfeitos e o Mundo Real

Nesta unidade continuaremos o estudo da Microeconomia, tendo foco


especial no comportamento do produtor e nas formas de competição mais
importantes que existem ao nosso redor.

A unidade anterior foi bem extensa e, vamos admitir, um pouco complicada. Mas tenho
certeza de que você se viu diante de alguns temas importantes do mundo dos negócios, e que
alguns deles foram resolvidos de uma forma que você não havia imaginado antes. De fato, a
microeconomia tem um poder muito grande e quem consegue dominá-la pode compreender
fatos e fenômenos do mundo dos negócios que estão além do cidadão comum. Então você,
ao compreender a microeconomia, pode usar este poder a seu favor.

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Nesta unidade vamos dar seguimento aos nossos estudos microeconômicos, mas agora
dando um foco especial para a Produção e para a Competição.

Vamos investigar, de um lado, como o produtor se comporta no ambiente dos


negócios. Quais são as principais decisões que ele tem com relação a sua produção? O que faz
o produtor optar por produzir mais ou menos? Como o produtor escolhe o nível de produção
mais lucrativo para ele? São questões de vida ou morte para qualquer negócio, que
abordaremos de forma breve mas relevante.

De outro lado, vamos abordar de que forma os diversos ofertandes competem em um


mercado e como isso dá a eles maior ou menor poder de barganha. Quais são os elementos
que fazem um mercado ser mais ou menos concentrado, e quais são os elementos que
permitem aos ofertantes “fugirem” da competição pura por preços baixos? Trata-se de uma
questão fundamental que, tenho certeza, todos os alunos de marketing mal podem esperar
para desvendar.

Então, como você já sabe:

 O Aprendendo a conhecer apresenta os conceitos teóricos que trabalharemos na


unidade;
 O Aprender a viver junto lhe remeterá a discussões sobre um dos assuntos
abordados;
 O Aprender a fazer apresentará uma atividade de auto-correção, na qual você
poderá ponha em prática os conteúdos da semana; e
 O Aprender a ser que apresenta uma proposta alinhada à Atividade Interdisciplinar
do semestre.

Ah! nesta unidade, vamos abordar estas questões por vezes com ferramentas
matemáticas e, por outras vezes, de uma forma mais conceitual. Seja qual for o caso, é
importante que você faça a leitura sempre pensando nos exemplos reais e na sua própria
experiência de vida para verificar como a teoria ajuda a explicar o mundo real à sua volta.

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Iniciaremos esta unidade verificando de que forma funciona um dos principais aspectos
da economia a dos negócios: a produção.

Devemos lembrar que, como estamos tratando da produção de bens, em geral, na


economia, referimo-nos tanto à produção de produtos como a de serviços. Vamos abordar as
decisões que levam o produtor a produzir mais ou menos quantidades de seus bens e de que
forma ele calcula a melhor quantidade para produzir e vender.

Esta é parte da chamada “Teoria da Firma”, ou “Teoria do Produtor”, e é uma


composição da contribuição de diversos autores e economistas, que hoje compõe não
somente os livros de economia, mas também de contabilidade, administração, engenharia,
entre outros.

O que é produção?

Produção é o ato de produzir bens, sejam eles produtos ou serviços, para vendê-los em
determinado mercado. Contudo, tais bens não são criados a partir do nada. Da mesma forma
que na física, também no caso da produção trata-se mais de uma transformação do que da
criação de algo.

Assim, definimos produção como a transformação de fatores em bens econômicos,


sejam eles produtos ou serviços. Esses fatores são mais propriamente denominados de
fatores de produção. Há dois tipos de fatores de produção, nomeadamente, capital e
trabalho.

Trabalho é o esforço humano, seja na sua forma física ou mental, aplicado à


produção. Dessa forma, um lavrador que cultiva a terra, um professor que dá aulas, um
médico que realiza uma cirurgia, etc., todos estão realizando um trabalho. O trabalho permite
a transformação do meio e a criação de bens.

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Entretanto, o trabalho por si só não permite a produção. É preciso que, em auxílio do
trabalho, haja também capital. Nesse sentido, capital são os insumos, matérias-primas,
ferramentas, instrumentos, terra, equipamentos, máquinas, veículos, entre muitos outros, que
permitem e auxiliam o trabalho na transformação do meio e a produção de bens. Em muitos
casos, o capital é o próprio meio sendo transformado pelo trabalho, como é o caso das
matérias primas.

Vamos imaginar um lenhador que, por ofício, corta árvores de um bosque utilizando
um machado. Neste exemplo simples, o trabalho é o esforço realizado pelo lenhador. O
capital é composto pelo machado, pelas árvores, e também pelo bosque (a terra). O produto é
a lenha. Portanto, a árvore, matéria prima que já estava presente no bosque, só se torna de
fato um produto na medida em que é trabalhado pelo lenhador e transformado em lenha.

A produção, neste exemplo, é justamente o ato de transformação de árvore em lenha.


Retire qualquer dos fatores de produção mencionados, neste exemplo (a terra, as árvores, o
machado e o trabalho do lenhador), e você verificará que a produção torna-se impossível.

Outro fator importante para a produção, que está sutilmente colocado no exemplo
anterior, é que é preciso um determinado conhecimento para que a produção seja realizada. É
preciso, por exemplo, saber manusear o machado, saber quais árvores cortar e onde cortá-las,
saber ainda onde estar (e onde não estar) quando a árvore cair. Todos esses conhecimentos, a
“fórmula” para transformar um determinado conjunto de fatores em um determinado número
de bens, chamaremos de “tecnologia”. As tecnologias podem ser novas ou antigas, melhores
ou piores, mas somente com esses conhecimentos é que a produção torna-se possível.

Outro traço marcante das tecnologias é que elas podem ser modificadas e melhoradas.
Se nos lembrarmos do exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith, poderemos verificar
que, entre a produção artesanal de alfinetes e a produção industrial, não houve mudança nos
fatores utilizados, que eram algumas ferramentas simples, o arame usado como matéria-prima
e o trabalho de algumas pessoas. O que permitiu o fantástico aumento da produtividade foi
uma mudança no processo produtivo, na forma de se combinar trabalho e capital, isto é, na
tecnologia.

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Tente imaginar, agora, o seu processo produtivo. Qual sua atuação profissional (seja da
profissão que você já tem ou pretende ter) e tente identificar quais são os itens que compõem
o capital, o trabalho e qual é o processo produtivo ou a tecnologia. Lembre-se que mesmo a
prestação de serviços exige uma boa porção de capital para que exista produção. Mesmo um
professor precisa de equipamentos, infraestrutura, como a sala de aula, cadeiras, etc., e outras
formas de capital para conseguir produzir. Nesse caso, o produto é a disseminação do
conhecimento, considerada um bem, representada na obtenção de um diploma universitário,
por exemplo.1

Produção é o ato de transformar Fatores de


Produção em Bens econômicos.
Trabalho
Capital
Para isso, é essencial a utilização de capital e
trabalho, sendo que a produção é considerada mais
Tecnologia
eficiente na medida em que utilizar uma quantidade
menor de fatores para produzir a mesma quantidade de
bens. Para que seja possível esta produção, é necessário
ainda que se conheça a tecnologia ou as técnicas de
Bens produção.

Figura 1 - Fatores, Tecnologia e Produção

A atividade essencial de qualquer empresa, sua razão econômica de existir, é produzir


bens que possam ser vendidos no mercado e que possibilitem a máxima geração de lucro.

Existem diversas decisões a serem tomadas pelo empreendedor para que isso possa ser
feito. Uma delas é como produzir.

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A própria acumulação de conhecimento dos profissionais especializados, neste caso de um professor, é muitas vezes
considerada como um capital pelos economistas. Por vezes esta categoria de capital é denominada de capital humano
ou, ainda, capital intelectual.

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Conforme mencionamos antes, a maneira mais eficiente de produzir é aquela que
utiliza uma quantidade menor de fatores. Vamos imaginar duas situações. Situação “A”: um
lenhador trabalha durante um dia com seu machado e, fazendo cortes horizontais no tronco
das árvores, consegue produzir 200 Kg de lenha. Situação “B”: o mesmo lenhador trabalha
durante um dia com o mesmo machado e, alternando cortes diagonais e horizontais nas
árvores, consegue produzir 250 Kg de lenha.

O que mudou entre uma situação e outra? Duas coisas: de um lado, mudou o tipo de
corte (a tecnologia, a maneira de produzir); de outro lado, mudou a quantidade produzida.
Perceba que os fatores de produção não mudaram. Podemos, portanto, entender que a
situação “B” exemplifica uma tecnologia mais eficiente que a situação “A”. Por isso, fará
mais sentido que a produção seja feita conforme exemplificado em “B”, pois se pode produzir
uma quantidade maior de bens com os mesmos custos de produção (já que a quantidade de
insumos é a mesma).

De que forma poderíamos expressar essa forma mais eficiente de se produzir? Como
você já percebeu, os economistas gostam muito de representar processos sociais na forma de
equações matemáticas e gráficos. Não será diferente agora. Vamos então traduzir a
transformação de fatores em bens na forma de uma função matemática, a qual
denominaremos “função de produção”. Trata-se, neste exemplo, de uma função simples
(porque o exemplo é simples).

Situação A:

Situação B:

Atribuímos “q” para a quantidade de bens finais produzidos, em Kg de lenha; “K” é a


quantidade de capital utilizada, em número de machados utilizados; “T” é a quantidade de
trabalho utilizada, em número de dias de trabalho.

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Para sabermos a produção, basta substituirmos as quantidades de capital e trabalho
utilizadas. No caso “A” exposto, K=1 e T=1, portanto q = 200. Na situação “B”, K=1 e
T=1, mas q = 250, porque a tecnologia utilizada é mais eficiente.

Verifique que, utilizando a tecnologia “B”, 2 machados e 2 dias de trabalho, a


produção dobraria, totalizando 500 Kg de lenha, o que faz sentido, pois dobramos os fatores
utilizados. Contudo, experimente apenas duplicar a quantidade de capital (K=2) mantendo a
quantidade de trabalho (T=1). Você deve ser capaz de verificar que a produção aumentaria,
sendo q= 354 Kg de lenha, mas isso é menos que o dobro da produção. Afinal, uma pessoa
trabalhando com 2 machados não conseguiria produzir tanto quanto duas pessoas
empunhando dois machados. Portanto, além de tentar melhorar a tecnologia, o produtor
poderia tentar escolher qual seria a melhor combinação possível de insumos. Para isso, além
da função de produção, ele levaria em conta também o preço dos insumos, tentando atingir o
máximo de produção com o menor custo possível2.

Perceba que a função de produção não responde completamente à questão de como


os bens são produzidos, mas dá uma relação de quantidades produzidas com base nos fatores
de produção utilizados. Para saber exatamente como produzir, seria necessário fazer uma
descrição completa do processo produtivo, seus procedimentos, técnicas, etc., algo que não é
possível somente com uma equação matemática.

Custos de produção
Todas as pessoas que têm algum contato com o mundo dos negócios já ouviram falar,
em algum momento, dos custos de produção. É um conceito bastante intuitivo, dizendo
respeito aos custos, despesas e gastos que se tem ao produzir determinados bens. Também é
bastante óbvia a noção de que o empresário sempre quer produzir o máximo (em
quantidades de bens) para um dado custo da produção ou, visto de outra forma, quer
produzir com o menor custo possível, dado um nível de produção. Isso significa, basicamente,
que o produtor quer ter a máxima produtividade possível. Conforme vimos no tópico anterior,

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Não é ambição desta disciplina cobrir a resolução deste problema, mas é importante que o aluno compreenda que
há técnicas matemáticas que nos permitem atingir uma solução para ele.

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isso significa produzir com a tecnologia mais eficiente, e utilizando o menor volume de
insumos por quantidade de bens produzidos.

Mas não é só isso. Ao tentar atingir o menor custo da produção possível, o produtor,
além das quantidades de bens produzidos e da quantidade de fatores utilizados, também deve
levar em conta o custo dos fatores de produção.

Isso porque o custo de produção é o valor monetário (isto é, em dinheiro) do


somatório do produto dos insumos (ou fatores) pelo respectivo preço dos insumos. Tomando
o exemplo do corte de lenha, e supondo a situação “B”, notamos que o produtor utilizou 1
dia de trabalho e 1 machado para produzir 250 Kg de lenha. Suponha que 1 dia de trabalho
custe R$100 e 1 machado custe R$50. Significa que, esta produção irá custar:

Portanto, o Custo Total desta produção de 250 Kg de lenha é de R$150. Mas quanto
custou cada Kg de lenha? Neste caso, queremos averiguar o Custo Médio desta produção.
Para isso, basta dividirmos o Custo Total (CT=R$150) pela quantidade produzida (q=
250Kg). Com este cálculo simples, obtemos que o Custo Médio é de R$0,60 por Kg de lenha.

Para obter lucro, o produtor sabe que deveria vender a um preço acima de R$0,60 por
Kg de lenha (descontados todos os eventuais impostos).

Maximização dos Lucros


A partir dos cálculos simples da seção anterior, conseguimos saber a partir de qual
valor o produtor passa a ter lucro. Entretanto, um produtor racional não deseja ter qualquer
lucro, mas sim o máximo lucro possível, dada sua tecnologia, os custos dos fatores de
produção que ele utiliza e as condições do mercado. As condições do mercado, por sua vez,
são determinadas, de um lado, pela oferta e os demais concorrentes no setor e, de outro lado,
pela demanda e pelas características e preferências dos compradores deste bem.
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São, de fato, muitos fatores a serem considerados e, em consequência disso, o
tratamento algébrico dessa questão pode aumentar muito em complexidade, exigindo
ferramentas matemáticas mais avançadas.

Uma forma mais simplificada de tentar resolver essa questão seria através da criação de
um gráfico, representando a Receita obtida pela empresa em função de diversas quantidades
hipotéticas de bens vendidos e o Custo de Produção, representando, de forma análoga, os
custos totais de produção de diversas quantidades hipotéticas de bens produzidos.

O gráfico sugerido tem dois eixos, sendo o eixo vertical a representação dos valores
monetários, em R$, de Receita e Custo. Enquanto o eixo horizontal denota as quantidades
produzidas e vendidas. Este gráfico seria feito com duas funções: uma função de Receita e
outra de Custo Total. A função de receita é bem simples, R = q.p, sendo R a receita Total, q a
quantidade produzida e vendida e p o preço final dos bens. Trata-se, portanto, de uma função
linear em que R cresce à medida que q aumenta. Consideramos que p é constante durante
este exercício (supõe-se dado o preço de mercado). Dessa forma, ao representarmos as
diversas combinações possíveis de R e q, obteríamos uma reta, conforme a linha azul traçada
no gráfico a seguir.

Valor (R$)
Custo
C
Receita

120

B
100

q* q
27

Figura 2 - Escolhendo a quantidade que maximiza o lucro

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O custo, por sua vez, seria obtido através da substituição dos insumos (fatores)
utilizados, na sua combinação mais eficiente, na função de produção e, após isso, seria
realizado o cálculo do Custo Total a partir dos custos de cada insumo utilizado.

Em um exemplo simplificado, e uma situação normal de produção, os custos teriam a


forma da curva vermelha representada no gráfico. Perceba que os custos sobem rapidamente
à medida que cresce q, depois a partir de certo ponto desaceleram-se, e posteriormente
voltam a se acelerar.

O lucro desta produção é representado pela diferença entre as curvas R e CT em cada


ponto de produção. Isto é, dado um q, o lucro é obtido através da diferença entre R e CT
relativos àquela quantidade produtiva. Fica fácil observarmos, dessa maneira, que há três
situações diferentes no gráfico demonstrado. Na situação representada pela letra “A”, a curva
de CT está acima da curva de R, o que significa que, para aquele intervalo de quantidades, o
custo é maior que a receita. Portanto, trata-se de uma situação de prejuízos. Já na situação
“B”, a curva R passa a ficar acima da curva CT, ou seja, uma situação de lucros. Enquanto
que a situação “C” identifica novamente uma situação de prejuízos.

Logo, a primeira conclusão é que o produtor deve produzir uma quantidade que está
entre os limites da situação “B”. Mas qual? O lucro máximo obtido seria aquele em que a
distância entre R e CT é a maior possível. Este ponto é identificado pela linha verde. Este
ponto corresponde à quantidade produzida de 27 unidades de produto. A esta quantidade
produzida, o produtor teria uma Receita de R$120 e um Custo total de R$100, portanto um
lucro de R$20.

Esta abordagem simplificada é, de certa forma, imprecisa, mas nosso objetivo é


demonstrar principalmente que a Receita e os Custos Totais do produtor variam de forma
distinta. Isso, na maioria das vezes irá permitir que, analisando o mercado e os aspectos
relativos a sua produção, o produtor consiga vislumbrar um ponto ótimo de produção, em
que ele irá obter o maior lucro possível3.

3
Neste caso estamos tratando do lucro de curto prazo, em que os preços dos produtos, os custos dos fatores, a
tecnologia e os aspectos da concorrência são estáveis. No longo prazo, contudo, estas variáveis podem também
oscilar.

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Mercado e competição
Neste tópico, examinaremos algumas das formas mais relevantes de competição no
mercado. Vamos investigar de que forma os produtos, ofertantes e demandantes de uma
mercadoria podem fazer com que o jogo da concorrência tome formas diferentes.

Vamos começar com a seguinte pergunta: será que o mercado de automóveis funciona
da mesma forma que o mercado de tomates, por exemplo? De um lado há um setor que tem
poucos produtores, com tecnologia altamente especializada, grande necessidade de capital
para se produzir e vender, e um alto grau de diferenciação entre os produtos. De outro lado,
há um mercado em que os produtos são bastante similares, há baixo custo em se montar uma
unidade produtora (sementes, terra e mão-de-obra simples) e, em consequência, muitos
produtores.

É claro que estas situações não são iguais. Os mercados tomam formas distintas de
acordo com o número de ofertantes e demandantes que atuam nele; o tipo de bem, sobretudo
se os bens são muito parecidos (como soja, petróleo, tomate, minério de ferro, etc.) 4 ou se são
diferenciados (como automóveis, telefones celulares, restaurantes etc.); se há barreiras ou
dificuldades para se entrar neste mercado ou se é fácil iniciar a produção, e mesmo deixar de
produzir.

Vamos segmentar essas características em diversas situações de mercado, às quais


chamamos de “formas de competição”, descritas a seguir.

Concorrência Perfeita
Um ambiente de concorrência perfeita é aquele em que há, conforme sugerido,
extrema competição. Tal ambiente só pode existir quando há um número muito grande de
demandantes e também de ofertantes no mercado, de forma que nenhum competidor ou
comprador, isoladamente, pode influenciar este mercado, seja tentando manipular preços ou
quantidades totais transacionadas. Imagine o caso do mercado de tomates. Há um sem

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Produtos com estas características são chamados de commodities.

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número de produtores e, igualmente, uma infinidade de consumidores. Portanto, se um
ofertante ou demandande, de forma isolada, tenta manipular os preços, ele não conseguirá
fazê-lo de forma que afete as quantidades e preços gerais de mercado. Na verdade, um
ofertante que tentasse vender seus tomates a um preço acima do preço de mercado,
provavelmente não teria sucesso em vender qualquer quantidade. Cada demandante ou
ofertante, individualmente, é insignificante neste mercado.

Na situação de concorrência perfeita, os produtos são homogêneos. Isso quer dizer que
não há uma diferenciação entre um produto e outro. Significa que um produtor de tomates
não conseguirá cobrar um preço maior pelos tomates que produz porque são diferentes; na
verdade todos os tomates de uma determinada espécie são extremamente similares. O mesmo
não poderia ser dito de carros de fabricantes diferentes, pois cada fabricante consegue
diferenciar seus produtos em design, equipamentos, acabamento, opcionais, etc., de forma
que eles não são exatamente comparáveis. Mas tomates são tomates. Da mesma forma, soja,
demais gêneros agrícolas, petróleo, minério de ferro, metais em geral, entre outros, são
produtos bastante homogêneos.

Outro aspecto importante para que se observe a concorrência perfeita é que não
existam barreiras muito importantes à entrada nestes mercados, ou mesmo à saída deles. Isso
significa que qualquer pessoa que se sinta estimulada poderia produzir tais bens e competir
nestes mercados. Novamente vem à tona os mercados agrícolas, em que, havendo
disponibilidade de terra, qualquer indivíduo pode iniciar uma produção comprando sementes
e vendendo os bens. O mesmo não poderia ser dito da produção de automóveis, por
exemplo. É necessário um enorme volume de capital, tecnologias bastante sofisticadas, acesso
a mercados, mão-de-obra especializada, etc., para que se possa fabricar um carro sequer. O
mesmo vale para muitas outras indústrias.

Resumidamente, um mercado em concorrência perfeita é um mercado com barreiras à


entrada irrelevantes, cujo produto é homogêneo e onde há um infinito número de
demandantes e ofertantes.

Nesse mercado, a competição dá-se essencialmente por preços e normalmente aquele


produtor que tiver a tecnologia mais eficiente e for mais produtivo, com os menores custos
médios, é que conseguirá sobreviver.

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Monopólio, Oligopólio e Concorrência Monopolista
O extremo oposto da situação de concorrência perfeita é a situação de Monopólio.
Nesse ambiente, apenas um ofertante domina o mercado, provendo bens para os
demandantes. Isso pode ocorrer por diversos motivos. Pode ser, por exemplo, um monopólio
definido por lei, como era o caso do setor de exploração de petróleo, no Brasil, antes da
abertura ao mercado na década de 1990. A lei determinava que somente a Petrobras poderia
explorar e produzir petróleo no Brasil, o que impedia a entrada de novos concorrentes.
Também pode haver monopólio nos casos de patentes, normalmente beneficiando fórmulas
de produtos farmacêuticos ou projetos de engenharia ou tecnologia. Estas, porém, são
patentes temporárias. Além disso, há monopólios nos casos de extrema diferenciação de
produtos ou no caso de grandes barreiras à entrada. Por exemplo, a produção de foguetes
espaciais, é algo tão sofisticado, caro, arriscado e específico, que somente uma empresa
contratada pelo Estado poderia realizar tal empreitada.

Como é fácil imaginar, na situação de monopólio os ofertantes é que ditam as regras.


Na prática, eles têm a capacidade de escolher a quantidade que irão produzir para o mercado;
outra forma de ver a questão é que o monopolista escolha o preço que irá cobrar e a
quantidade demandada será resultado da capacidade de pagamento e desejo dos
consumidores em obterem tais bens.

Há uma situação análoga ao monopólio, mas que ocorre quando há apenas um


demandante (ou comprador) em um mercado de muitos produtores e ofertantes. Neste caso a
situação denomina-se “monopsônio”. Nesse caso, o total poder de barganha está nas mãos
do único comprador.

Finalmente, existe a situação em que apenas um grupo pequeno de ofertantes domina


o mercado. Trata-se do “oligopólio”. Nessa situação, em geral os competidores concorrem
mais por diferenciação de produtos, qualidade, design, prazo de entrega, inovações etc. Em
razão do processo de consolidação e fusão de empresas em nível global, muitos mercados
encontram-se hoje em uma situação de oligopólio, como é o caso da indústria automobilística,
indústria de bens de consumo duráveis (como aparelhos eletrodomésticos de maior porte),
setor imobiliário, tecnologia da informação (softwares), entre outros.

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Entre as situações extremas de concorrência perfeita e monopólio há uma infinidade de
situações intermediárias. Simplificadamente, elas são denominadas de mercados imperfeitos,
ou concorrência imperfeita.

Nessas situações ou mesmo nas situações de oligopólio, é possível que a sociedade


consiga criar mecanismos de monitoramento dos mercados que estimulem a competição entre
os poucos competidores. Há, por exemplo, a criação de órgãos de defesa da concorrência, de
legislação que o proteja5, entre outros. Isso tem como objetivo tentar impedir que os
concorrentes manipulem preços, estimulando a competição entre eles, a maior eficiência e
produtividade, maiores níveis de qualidade, inovações, entre outros fatores que somente
podem existir quando os ofertantes competem entre si pela demanda.

Alguns meios legítimos que permitem aos competidores venderem bens a preços
maiores e, portanto, auferirem lucros maiores, estão a inovação, a diferenciação de produtos,
o aumento da qualidade, a redução de custos, entre outros.

Por exemplo, um produtor que desenvolva uma tecnologia de produção mais eficiente
e consiga com isso reduzir seu custo médio, vendendo ao mesmo preço que os demais
ofertantes do mercado, conseguirá observar maiores lucros. De forma similar, um ofertante
que consiga criar um produto mais atraente aos compradores, poderá conseguir preços
melhores, ainda que o mercado inicialmente fosse de commodities. Este seria o caso, por
exemplo, de um produtor de tomates orgânicos. Por ter maior preferência entre os
consumidores mais exigentes, este tipo de produto seria vendido a preços maiores. Trata-se de
uma diferenciação de produto.

O profissional de marketing deve entender o mercado em que atua e, com base neste
entendimento, pensar em formas de fugir da condição de concorrência perfeita, conseguindo
com isso aumentar a lucratividade de suas empresas.

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No Brasil, o órgão mais importante de defesa da concorrência é o CADE. Há ainda um código específico que rege as
leis da concorrência e estimula a competição, o Código de Defesa do Consumidor.

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MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Prentice Hall, 2007

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Campus,


1994.

VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de Economia. 2. ed.


São Paulo: Saraiva, 2005.

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