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FACULDADE MERIDIONAL – IMED

ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO

Wilyan Arion de Anhaya

Centro de Reclusão Ressocializador


Penitenciária de Segurança Média Nível I

Passo Fundo
2017
Wilyan Arion de Anhaya

Centro de Reclusão Ressocializador


Penitenciária de Segurança Média Nível I

Relatório do Processo Metodológico de


Concepção do Projeto Arquitetônico e Urbanístico
e Estudo Preliminar de Projeto apresentado na
Escola de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade
Meridional – IMED, como requisito parcial para a
aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão
de Curso I, sob orientação do Professor(a) Meª
(Arquiteta e Urbanista) Rafaela Simonato Citron.

Passo Fundo
2017
Wilyan Arion de Anhaya

Centro de Reclusão Ressocializador


Penitenciária de Segurança Média Nível I

Banca Examinadora

Profª Meª Rafaela Simonato Citron


Orientador(a)

Profª Meª Amanda Schüler Bertoni


Membro avaliador

Profª Camila Ricci Ayres


Membro avaliador

Passo Fundo
2017
AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, por estarem sempre ao meu lado e por me ajudarem
nos momentos mais difíceis. Em especial aos meus pais Aroni e Fátima, que sempre
buscaram fazer o melhor por mim.
Agradeço também a meus irmãos, Édson, Veridiana, Angelita e Wagner, que de
algum modo sempre se propuseram a oferecer alguma forma de apoio.
Agradeço aos meus amigos que souberam compartilhar momentos de trabalho e
diversão ao meu lado, e que estiveram comigo durante esta caminhada.
Agradeço a minha empresa, Schuster & Medeiros, pelos dias de compreensão e
tolerância com meus atrasos, assim como as liberações em dias de semana para
desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. Além disso, agradeço pelo carinho, ajuda e
reconhecimento pelo meu esforço e trabalho ao longo destes anos.
Agradeço aos meus professores, que contribuíram durante todos estes anos para
minha formação acadêmica.
Agradeço também a todos aquelas pessoas que de alguma forma contribuíram para
a realização deste trabalho e me apoiaram em algum momento da minha trajetória ao longo
deste curso.
RESUMO

Com o tema Centro de Reclusão Ressocializador, inserido na área de estudo


relacionada a um projeto arquitetônico, o presente trabalho desenvolveu uma linha de
pesquisa para o anteprojeto de uma Penitenciária com práticas de ressocialização para o
Município de Carazinho, Rio Grande do Sul. Seguindo a legislação especifica para esse tipo
de projeto, respeitando todos os direitos humanos, utilizando uma abordagem estética de
impacto visual integralizado, pensando também no conforto e na segurança do local, foi
possível desenvolver um estudo funcional para um estabelecimento penal, em que os
apenados possuem ocupações variadas, como atividades relacionadas ao trabalho,
educação e religião, além de possuírem acompanhamento psicológico, de saúde e opções
de lazer e recreação, a fim de fomentar uma nova prática humanista nas prisões brasileiras.

Palavras chaves: Estabelecimento Penal, Ressocialização, Legislação.


ABSTRACT

With the theme "Re-socializer Reclusion Center", inserted in the area of study related
to an architectural project, the present work developed a line of research for the preliminary
design of a Penitentiary with resocialization practices for the Municipality of Carazinho, Rio
Grande do Sul. Following specific legislation for this type of project, respecting all human
rights, use an aesthetic approach of integrated visual impact, also thinking about the comfort
and safety of the place, it was possible to develop a functional study for a penal
establishment, in which the victims have varied occupations, such as work, education and
religion activities, besides having psychological accompaniment, health and leisure and
recreation options, in order to foment a new humanistic practice in Brazilian prisons.

Keywords: Penal Establishment, Re-socialization, Legislation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Índice de Retorno de Detentos RS


Figura 2: Presídio Estadual de Carazinho
Figura 3: Quantidade de Presos por Grau de Instrução
Figura 4: Presídio Estadual de Carazinho
Figura 5: Prisão de Bridewell
Figura 6: Interior da Penitenciária de Stateville, Estados Unidos
Figura 7: Casa de Detenção de São Paulo, Carandiru
Figura 8: Penitenciária Estadual de Canoas, sistema misto que agrega os conceitos de
“Espinha de Peixe” e “Pavilhonar”
Figura 9: Projeto de Implantação da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul
Figura 10: Núcleo Funcional da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul
Figura 11: Pavilhão de celas da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul
Figura 12: Prisão de Halden, Noruega
Figura 13: Implantação da prisão de Halden, Noruega
Figura 14: Programa de necessidades da prisão de Halden, Noruega
Figura 15: Formato geométrico primário da prisão de Halden, Noruega
Figura 16: Prisão de Enner Mark, Dinamarca
Figura 17: Implantação da Prisão de Enner Mark, Dinamarca
Figura 18: Formato dos pavilhões da Prisão de Enner Mark, Dinamarca
Figura 19: Mapa de Localização da Cidade de Carazinho
Figura 20: Praça Brasil (Hoje Praça Albino Hillebrand) e Avenida Flores da Cunha (1950).
Figura 21: Conexão Entre as Rodovias BR386 e BR285
Figura 22: Localização do Bairro São Lucas na cidade de Carazinho.
Figura 23: Bairro São Lucas
Figura 24: Área de Implantação do Projeto e vias relevantes.
Figura 25: Mapa Nolli (cheios e vazios).
Figura 26: Mapa de usos.
Figura 27: Mapa de alturas.
Figura 28: Mapa de Rede Viária e Vegetações.
Figura 29: Mapa de Infraestrutura Elétrica.
Figura 30: Mapa de Infraestrutura Hidro sanitária.
Figura 31: Mapa de Características Específicas do Terreno.
Figura 32: Vista Norte do Terreno.
Figura 33: Padrão Construtivo da Rua Fortunato A. Sandri.
Figura 34: Simbologia Celta do “Triskle”.
Figura 35: Derivações do conceito aplicado na forma.
Figura 36: Organograma
Figura 37: Fluxograma
Figura 38: Proposta de Zoneamento 01
Figura 39: Proposta de Zoneamento 02
Figura 40: Proposta de Zoneamento 03
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Programa de Necessidades Guarda Externa


Tabela 2: Programa de Necessidades para Módulo de Agentes Penitenciários
Tabela 3: Programa de Necessidades para Módulo de Recepção e Revista de Visitantes
Tabela 4: Programa de Necessidades Administrativo
Tabela 5: Programa de Necessidades para Módulo de Triagem/Inclusão
Tabela 6: Programa de Necessidades para Módulo de Tratamento Penal
Tabela 7: Programa de Necessidades para Módulo de Saúde
Tabela 8: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (cozinha)
Tabela 9: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (padaria)
Tabela 10: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (almoxarifado e lavanderia)
Tabela 11: Programa de Necessidades para Módulo Polivalente
Tabela 12: Programa de Necessidades para Módulo de Visitas íntimas
Tabela 13: Programa de Necessidades para Módulo de Ensino
Tabela 14: Programa de Necessidades para Módulo de Oficinas
Tabela 15: Programa de Necessidades para Módulo de Vivência Coletiva
Tabela 16: Programa de Necessidades para Módulo de Vivência Individual
Tabela 17: Programa de Necessidades para Módulo de Berçário e Creche
Tabela 18: Programa de Necessidades para Módulo de Tratamento para Dependentes
Químicos
Tabela 19: Programa de Necessidades para Módulo de Esportes
Tabela 20: Programa de Necessidades para Módulo Religioso
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 12
1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ........................................................................................ 12
1.2 TEMA DO PROJETO ......................................................................................................... 13
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO......................................................... 13
CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 18
2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ............................................................................................. 18
2.2 A CRIAÇÃO DA PENA E O SURGIMENTO DOS ESTABECIMENTOS PENAIS ........ 18
2.2.1 O PROCESSO PUNITIVO NO MUNDO ....................................................................... 18
2.2.2 O PROCESSO PUNITIVO NO BRASIL ........................................................................ 21
2.3 LEIS E DIRETRIZES DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ............................ 23
2.3.1 O DIREITO PENAL NO BRASIL .................................................................................... 23
2.3.2 NORMATIVAS PARA A ARQUITETURA PENAL NO BRASIL ................................ 26
2.4 O PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO NO AMBIENTE CARCERÁRIO.................... 29
2.4.1 O AMBIENTE E O USUÁRIO ......................................................................................... 29
2.4.2 INSERÇÃO À COMUNIDADE ........................................................................................ 30
2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS NO BRASIL.......................... 31
2.6 ESTUDOS DE CASO .............................................................................................................. 32
2.6.1 PENITENCIÁRIA MODELO DO RIO GRANDE DO SUL .......................................... 32
2.6.1.1 Autor e localização do projeto ..................................................................................... 32
2.6.1.2 Implantação .................................................................................................................... 32
2.6.1.3 Programa de Necessidades ........................................................................................ 33
2.6.1.4 Funcionalidade .............................................................................................................. 34
2.6.1.5 Forma .............................................................................................................................. 35
2.6.2 PRISÃO DE HALDEN ...................................................................................................... 35
2.6.2.1 Autor e localização do projeto ..................................................................................... 35
2.6.2.2 Implantação .................................................................................................................... 35
2.6.2.3 Programa de Necessidades ........................................................................................ 36
2.6.2.4 Funcionalidade .............................................................................................................. 37
2.6.2.5 Forma .............................................................................................................................. 37
2.6.3 PRISÃO DE ENNER MARK ........................................................................................... 38
2.6.3.1 Autor e localização do projeto ..................................................................................... 38
2.6.3.2 Implantação .................................................................................................................... 38
2.6.3.3 Programa de Necessidades ........................................................................................ 39
2.6.3.4 Funcionalidade .............................................................................................................. 39
2.6.3.5 Forma .............................................................................................................................. 39
CAPÍTULO 3: DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO ................................................ 40
3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ............................................................................................. 40
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL ..................................................................................... 40
3.2.1 A CIDADE DE CARAZINHO ........................................................................................... 40
3.2.2 O BAIRRO SÃO LUCAS ................................................................................................. 42
3.2.3 O TERRENO DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ...................................................... 43
3.3 MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS EDIFICAÇÕES ................................ 44
3.4 INFRAESTRUTURA URBANA .............................................................................................. 46
3.5 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO ....................................................... 48
3.6 SÍNTESE DE LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS ................................................................ 50
3.6.1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL ..................................................................................... 50
3.6.1 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) ................................................. 52
CAPÍTULO 4: CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS ........................................................ 53
4.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 53
4.2 CONCEITO DO PROJETO .................................................................................................... 53
4.3 DIRETRIZES DE ARQUITETURA ........................................................................................ 54
4.4 DIRETRIZES URBANÍSTICAS .............................................................................................. 56
CAPÍTULO 5: PARTIDO GERAL .................................................................................................... 58
5.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 58
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................................................................... 58
5.3 ORGANOGRAMA/FLUXOGRAMA ....................................................................................... 63
5.4 PROPOSTAS DE ZONEAMENTO ....................................................................................... 65
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO


O tema da monografia é centrado nas informações necessárias para o
desenvolvimento de um projeto arquitetônico para um Centro de Reclusão
Ressocializador. Logo, seu objetivo geral é oferecer aos cidadãos que, por algum
motivo infringiram leis cometendo delitos, um novo conceito de arquitetura penal que
visa não apenas o cumprimento de penas, mas também a reinserção destas
pessoas na sociedade. Enquanto seus objetivos específicos são: desenvolver um
programa que atenda as necessidades da população carcerária, criando espaços
que ajudem na ressocialização das pessoas inseridas em processos penais, para
que retornem à sociedade de forma digna e igualitária; propor a inserção de
moradores no ambiente carcerário através de ações filantrópicas e/ou locais
destinados a oficinas profissionalizantes ministradas por pessoas da própria
comunidade, a fim de preparar a inclusão dos detentos na sociedade comum;
introduzir os apenados em um sistema que auxilie psicologicamente e
pedagogicamente os mesmos, originando novas formas de pensar e criando novas
condutas.

12
1.2 TEMA DO PROJETO
A segurança pública é um problema social que atinge todas as classes sociais
e abrange várias condicionantes que precisam ser diagnosticadas. Dentre as
questões a serem debatidas está a atual situação do sistema carcerário brasileiro.
Os estabelecimentos penais não oferecem as condições necessárias para a
reinserção social dos apenados, os quais acabam voltando para as prisões,
reincidindo seus crimes.
Projetar um estabelecimento penal visa muito além do que a garantia do
cumprimento de penas, enaltece a importância de preparar os cidadãos de bem a
receber aqueles que cumprem ou já cumpriram suas punições, fazendo com que o
ciclo de reincidência criminal não aconteça.
A proposta para um Centro de Reclusão Ressocializador tem por finalidade
transformar o sistema carcerário brasileiro em um ambiente comum, onde cidadãos
e detentos tenham a oportunidade de conviver e juntos, buscarem soluções que
contemplem a melhoria das condições de vida para cada um.

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO


O sistema prisional brasileiro mostra-se em situação de total precariedade. O
cenário que se encontra nos estabelecimentos penais do país evidencia um colapso
absoluto e traz impactos negativos à sociedade. Este fator pode ser justificado
através do alto índice de reincidência de crimes cometidos pelos detentos, que no
Rio Grande do Sul chega a mais de 70% (SUSEPE, 2017).

Figura 1: Índice de Retorno de Detentos RS.

Fonte: SUSEPE.

Este alto índice de reincidência faz com que as estruturas físicas penais não
suportem tamanha quantidade de apenados, criando ambientes de superlotação
dentro dos presídios, o que acaba contribuindo para a proliferação de doenças e

13
grande consumo de entorpecentes, expondo condições insalubres e situações
desumanas (PEREIRA e PAULA, 2016).
Com tantos problemas evidenciados, constata-se que as prisões não
oferecem nenhum benefício no que tange a requalificação de seus usuários. O
poder punitivo visa de forma geral apenas o encarceramento dos detentos, e não
introduz os apenados a qualquer processo de reinserção social.
O Presídio Estadual de Carazinho foi construído no ano de 1954
(BOCORNY,2000) e oferece hoje, dentre os regimes fechado, semiaberto e aberto,
um total de 196 vagas para uma população carcerária que chega a 337 detentos
(SUSEPE, 2017), excedendo então mais de 70% da sua capacidade.

Figura 2: Presídio Estadual de Carazinho

Fonte: RBS TV.

Com mais de 60 anos, o Presídio apresenta espaços totalmente deteriorados


e vulneráveis, não oferecendo o nível de segurança que se espera de um local que
abriga cidadãos em processo de cumprimento de pena. Sua atual estrutura não
atende a demanda da população carcerária existente. As celas, que deveriam
abrigar em média seis apenados possuem em sua maioria mais de doze detentos.

A ausência de uma ala exclusiva para mulheres, de espaços para oficinas de


trabalho, para visitas íntimas, para atendimento clínico e odontológico, dentre outras
acomodações previstas nas Diretrizes Básicas para arquitetura penal (CNPCP,

14
2011), deixam claro a necessidade da implantação de um novo projeto que
contemple as carências que hoje são diagnosticadas.
Inseridos neste ambiente, o processo de requalificação dos apenados torna-
se impraticável, pois ali estão sendo negados direitos fundamentais do ser humano,
que proporcionam o surgimento de outros problemas intrínsecos.
A qualificação dos espaços penais está atrelada ao conceito de reinserção
social dos presos. Cumprir a pena à que foi julgado não reabilita um ex-detento a
exercer algum tipo de atividade na sociedade comum. Se ele não recebe uma nova
oportunidade, muito provavelmente voltará a reincidir seus crimes e retornará ao
cárcere privado.
A comunidade deve estar ligada ao processo de requalificação que envolve
os presidiários, pois é ela quem vai oportunizar àquele cidadão um novo ciclo de
vida. O processo da pena está conjugado ao que chamamos de castigo (BELFORT,
2015). Mas apenas castigar sem propor um ambiente que possibilite a amostragem
do que é certo, não resolverá as questões pertinentes a este problema social.
Com isso, justifica-se a inserção de atividades que vão além de trabalho como
forma de redução da pena. Oficinas, palestras, educação técnica, acompanhamento
psicológico, são situações que proporcionam maior eficácia no combate a
criminalidade e tornam relevante o processo de qualificação dos apenados.
A implementação da educação básica já faz parte do programa de
necessidades das novas diretrizes criadas pelo governo (CNPCP, 2011), tendo seu
protagonismo reforçado através dos dados estatísticos apresentados pela
Superintendência de Serviços Penitenciários, onde em março de 2017
apresentavam-se com ensino fundamental incompleto no presídio de Carazinho 192
detentos, sendo 188 homens e 4 mulheres.

15
Figura 3: Quantidade de Presos por Grau de Instrução.

Fonte: SUSEPE.

O Presídio Estadual de Carazinho localiza-se em um bairro residencial, com


proximidade ao centro da cidade. A inserção de um novo projeto em uma zona
predominantemente urbana possibilita que a comunidade carazinhense esteja ainda
mais presente no auxilio da requalificação dos detentos.
A implantação do Centro de Reclusão Ressocializador em região afastada da
zona urbana seria hipocrisia, pois ressocializar deriva da palavra social, do latim
“sociālis”, que é aquilo que pertence ou que é relativo à sociedade. Manter o
estabelecimento penal em região social é parte integrante dos princípios de
reinserção comunitária.

Figura 4: Presídio Estadual de Carazinho

Fonte: Jornal Zero Hora


16
O Estabelecimento Penal Carazinhense foi inserido em meio a uma
necessidade de abrigarem-se detentos em cumprimento de pena (BOCORNY,
2000), mas assim como a maioria dos presídios brasileiros, não imergiu de um
planejamento espacial que atendesse as reais necessidades de seus usuários e
proporcionasse ambientes de inclusão social (CORDEIRO, 2015), pois no caso dos
presídios, cliente e usuário não são o mesmo sujeito.
O processo de reinserção social passa pelo desejo do apenado de recuperar
sua condição de liberdade, e se introduzido em um espaço que lhe propicie tal
oportunidade, não tornará crônico o ciclo penal que hoje toma conta do sistema
prisional brasileiro, o qual a maioria dos detentos do país costuma frequentar mais
de uma vez (SUSEPE, 2017).

17
CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO


Nesta parte será apresentada a revisão de literatura que apresenta os
principais assuntos pertinentes à compreensão do tema escolhido para o projeto.
Assim, são apresentados os seguintes assuntos: A criação da pena e o surgimento
dos estabelecimentos penais no Brasil e no mundo; As leis e diretrizes do sistema
penitenciário brasileiro; O processo de ressocialização no ambiente carcerário.

2.2 A CRIAÇÃO DA PENA E O SURGIMENTO DOS ESTABECIMENTOS PENAIS

2.2.1 O PROCESSO PUNITIVO NO MUNDO


A privação de liberdade para indivíduos que cometem delitos nem sempre foi
utilizada como forma do cumprimento de pena imposta pelas autoridades judiciais.
Mesmo antes da idade média, a custódia era idealizada apenas com o intuito de
garantir a reclusão do meliante até que fosse realizado o seu julgamento e por
consequência a aplicação de sua punição, a qual era normalmente atrela aos
castigos corporais e/ou à morte. Com o passar dos anos, o corpo foi deixando de ser
o principal alvo da repressão punitiva, extinguindo-se o suplício e a tortura
propriamente dita (FOLCAULT, 1987).
As prisões começaram a ser estruturadas ainda neste período por iniciativa
da sociedade cristã (LEAL, 2001). Com objetivo de castigar monges que
descumpriam normas e/ou possuíam má conduta, a igreja criou espécies de celas
nos mosteiros que serviam para que estes passassem por um período de reclusão e
oração, onde poderiam pedir perdão a Deus e criar consciência sobre seus erros.
O aumento dos índices de pobreza e de criminalidade no século XVI, oriundos
da crise e do colapso do sistema feudal, fez imergir as primeiras prisões que
objetivavam o tratamento de caráter disciplinar, onde se deixava de aplicar punições
físicas e se dava ênfase aos processos de vigilância e de trabalho penal (LEAL,
2001). A Prisão de Bridewell, construída na Inglaterra em 1553, foi a primeira House
Of Correction do país e um das primeiras prisões do mundo que abrigou este tipo de
regime.

18
Figura 5: Prisão de Bridewell.

Fonte: Stow's Survey of London (1720).

Durante este período, também foram idealizadas casas de penitência


construídas em ambientes subterrâneos, as quais ofereciam condições totalmente
insalubres e desumanas, favorecendo a proliferação de doenças entre os apenados
e levando-os muitas vezes ao óbito.
No século XVIII, a punição física vai ganhando outros significados que se
distinguem do suplício. O enclausuramento e o trabalho obrigatório começam a ser
parte constituinte do sistema punitivo, que objetiva a privação de liberdade como
elemento de reconstituição dos indivíduos, onde o sofrimento físico é abandonado e
substituído por este tipo de processo penitenciário (FOLCAULT, 1987).
Devido a todas essas mudanças, começava a ser debatida a inserção de
estabelecimentos penais específicos para a nova realidade punitiva, que visava a
privação de liberdade.
O Sistema Panóptico, criado pelo inglês Jeremy Bentham (1748 - 1832), foi
idealizado como modelo de edificação punitiva. Concebida pela primeira vez nos
Estados Unidos em 1800, a penitenciária contava com uma edificação em forma de
anel e uma torre de observação com pequenas janelas no centro do seu pátio,
causando a sensação de vigília permanente aos apenados (LIMA, 2005).

19
Figura 6: Interior da Penitenciária de Stateville, Estados Unidos.

Fonte: FOLCAULT, Michel (1987).

Após a criação do modelo Panóptico, surgiram também o modelo Filadélfia


(1790), que se caracterizava pelo isolamento total no apenado, sem direito a visitas,
existindo apenas a possibilidade de leitura bíblica, e o modelo Auburn (1820), que
também não autorizava visitas, mas permitia a realização de refeições e trabalhos
em grupo. Neste regime, os presos eram submetidos a trabalho industrial com carga
horária pré-definida (LIMA, 2005).
Surge em 1846 o Sistema Progressivo Inglês, que era constituído pelo
modelo Filadélfia e Alburn, sendo divido em etapas: isolamento completo,
isolamento com período de trabalho, e por fim o processo de liberdade condicional
(LIMA, 2005).
Após o desdobramento desses regimes, surgiram ainda novos sistemas
considerados inovadores, como o de Montesinos na Espanha (1934) com trabalho
remunerado e caráter regenerador da pena, e o sistema suíço, com
estabelecimentos em zonas rurais com trabalho ao ar livre.
Com o passar dos anos, nota-se que o sistema punitivo mundial sofreu
diversas alterações, deixando para trás processos cruéis de punição e tortura, para
que fossem implementadas e aprimoradas práticas que viessem requalificar a vida
dos prisioneiros, oferecendo condições teoricamente mais salubres e dignas.

20
2.2.2 O PROCESSO PUNITIVO NO BRASIL
No Brasil, a carta régia de 1769 registra o estado do Rio de Janeiro como
detentor da primeira casa de correção brasileira, sendo esta construída também no
ano de 1769 (LIMA, 2005). Em sequência, o estado de São Paulo abrigou as Casas
de Câmera e Cadeia (1784), onde eram aprisionados detentos que aguardavam a
execução de suas punições.
As prisões com celas individuais começam a ser construídas a partir do
século XIX, onde os presos passam a ser divididos conforme o tipo de crime,
previstos no Código Criminal de 1830. Porém, com o crescimento da população
carcerária e com a iminente limitação dos espaços físicos penais, começa a ser
impraticável o uso do sistema de cárcere individual.
Com a inevitável necessidade de serem concebidos novos modelos de
prisões que abrigassem oficinas de trabalho, pátios e celas privativas, foram
desenvolvidos no Rio de Janeiro e São Paulo (1850), estabelecimentos penais que
contemplavam espaços apropriados para a aplicação do sistema, baseados do
modelo Alburn de punição.
Em 1890, o Código Penal brasileiro passou a estabelecer novas modalidades
penais, dentre elas a limitação do cárcere privado em no máximo 30 anos, além de
prever o trabalho obrigatório em todos os estabelecimentos penitenciários do país. O
Brasil aderiu então ao sistema progressivo de pena, com base no sistema punitivo
inglês de 1846, o qual está em vigência até os dias de hoje.
No ano de 1920, foi inaugurada a Casa de Detenção de São Paulo. Projetada
pelo arquiteto Ramos de Azevedo, a prisão, que ficou mais conhecida pelo nome de
seu bairro de localização, o Carandiru, prometia ser um estabelecimento modelo de
requalificação de detentos, contando com um programa que contemplava escolas,
enfermarias e oficinas de trabalho.

21
Figura 7: Casa de Detenção de São Paulo, Carandiru.

Fonte: Sistema de Administração Penitenciária de São Paulo (2017).

Ainda em processo de evolução, o sistema penitenciário brasileiro


desenvolveu vários estilos de estabelecimentos penais (LIMA, 2005), como a
“Espinha de Peixe” e o “Poste Telégrafo”, estes com um corredor central que
possibilitava acesso a todas as celas e até mesmo a parte restrita administrativa.
Também surgiu o sistema “Pavilhonar” que contemplava a divisão de presos por
blocos isolados limitando o número de detentos por módulo. Outros conceitos foram
surgindo, mas todos com aspecto similar, priorizando sempre as sensações de
opressão e clausura.

22
Figura 8: Penitenciária Estadual de Canoas, sistema misto que agrega os conceitos de
“Espinha de Peixe” e “Pavilhonar”.

Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul (2017).

2.3 LEIS E DIRETRIZES DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

2.3.1 O DIREITO PENAL NO BRASIL


Com base na Constituição da República Federativa do Brasil e na Lei 7.210,
11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal, os cidadãos que cometerem crimes
que confrontem a sociedade terão, já a partir do momento de acusação, direitos
reservados a eles, que perdurarão durante o processo penal e posterior a este,
quando os mesmos já estiverem reinseridos ao convívio comum.
A Constituição Brasileira ressalta que “todos são iguais perante a lei sem
distinção de qualquer natureza” (2017, p.15), e garante a brasileiros e estrangeiros
que residem no país inviolabilidade do direito de viver, de ter liberdade, igualdade,
segurança e também propriedade. Em seu artigo 5°, a constituição trata dos direitos
e deveres individuais e coletivos, onde descreve que “é assegurado aos presos o
respeito à integridade física e moral” (2017, p.19). Tendo em vista estes argumentos,
ficam evidenciadas condições dignamente humanas aos apenados, não lhes
faltando nenhuma chance de retomar um caminho próspero e ressocializador.

23
A Segunda Seção da Lei de Execução Penal prevê aos presos condenados e
provisórios uma série de direitos que lhes são oferecidos quando inseridos no
ambiente carcerário. Conforme consta em seu artigo 41°, os presidiários possuem
inúmeras predeterminações que lhes garantem a integridade física e moral,
reforçando assim os termos previstos na Constituição.
Os primeiros direitos assegurados são a alimentação e o vestuário, que além
de estarem estabelecidos na Lei 7.210, também são citados pelo Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) nas “Regras mínimas das Nações Unidas para tratamento de
presos”, ou simplesmente “REGRAS DE MANDELA”, que consistem numa série de
tratados internacionais de direitos humanos usados como guia de estruturação para
sistemas penais. Neste, garante-se que cada indivíduo receba “em horários
regulares, alimentos com valor nutricional adequado à sua saúde e resistência, de
qualidade, bem preparados e bem servidos” (2016, p.23).
A Atribuição do trabalho e remuneração também são itens previstos pela Lei
de Execução Penal. O trabalho não poderá causar nenhum tipo de sofrimento e
pudor, visto que estes sentimentos não contribuem para o processo de
ressocialização dos detentos. A previdência social e a constituição de pecúlio 1
também são estabelecidas como direito dos apenados. A proporcionalidade na
distribuição de tempo para trabalho, descanso e recreação, bem como o exercício
de atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas são reconhecidas
pela ONU como fundamentais para a saúde mental dos presos. As “REGRAS DE
MANDELA” salientam que “todo preso que não trabalhar a céu aberto deve ter pelo
menos uma hora diária de exercícios ao ar livre” (2016, p.23). Com isso, deve-se
garantir a adequação de espaços que possibilitem tanto o trabalho prisional, quanto
o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, além de áreas para a prática de
esportes e recreação.
A assistência à saúde é outro direito garantido por lei aos detentos. É o
estado quem deve assegurar que todos os prisioneiros tenham acesso a médicos e
garantir de forma sinônima a prestação dos serviços ambulatoriais básicos,
abrangendo também tratamentos a doenças infecciosas e a dependência química
(CNJ, 2016). Os estabelecimentos prisionais devem ser contemplados por unidades
básicas de saúde, com o intuito de que estes realizem, dentre outras atividades,
1
Soma economizada e/ou reservada em dinheiro para uma eventualidade futura; qualquer soma ou reserva
em dinheiro.
24
acompanhamentos psicológicos, diagnósticos de enfermidades e atendimentos
odontológicos, possibilitando assim uma melhora na qualidade de vida dos
apenados.
No que tange a educação prisional, a Lei 13.163 de 09 de Setembro de 2015
modifica a Lei de Execução Penal de 1984, incluindo ao âmbito carcerário o ensino
médio regular ou supletivo, tornando obrigatória a projeção de espaços destinados a
estas atividades, que incluem também ensino fundamental e ensino
profissionalizante. Tendo em vista todo o processo educacional, vê-se claramente
indispensável a inserção de salas de estudo, bibliotecas e espaços multiculturais nos
complexos penitenciários brasileiros, para que deste modo possa ser oferecido aos
indivíduos que passam pelo processo de ressocialização, estrutura e apoio
pedagógico de qualidade.
A assistência social também está fundamentada como direito dos presidiários
a fim de amparar e preparar psicologicamente os mesmos para seu retorno à
liberdade. Segundo o artigo 23° da Lei de Execução Penal, estão incumbidos ao
serviço de assistência social o trabalho de conhecer resultados e diagnósticos de
exames, acompanhar permissões de saída dos apenados, promover pelos métodos
disponíveis a recreação, gerir as documentações de previdência dos detentos e
oferecer orientação às respectivas famílias quando necessário.
Os estabelecimentos penais devem ser dotados de espaços para cultos
religiosos, uma vez que se vê previsto em Lei o direito a instrução religiosa bem
como a posse de livros do mesmo teor. A religião como um todo, sempre foi vista
como aliada no processo de reabilitação pessoal, pois acaba agregando novos
valores morais e cívicos às pessoas que buscam uma nova forma de vida.
Em virtude do inciso IX do artigo 41° da Lei de Execução Penal de 1984, que
trata do direito a entrevista pessoal e reservada com advogado, deve-se planejar no
complexo prisional um ambiente que seja capaz de satisfazer tal necessidade. As
visitas de cônjuges, companheiros, parentes e amigos em dias pré-determinados,
também condicionam à criação de um espaço reservado para estes fins, o que
inclui, além de visitas sociais, as chamadas visitas íntimas, que constituem o ato de
proporcionar aos detentos o direito de manterem relações sexuais durante o período
em que cumprem seu processo de reclusão. Estes benefícios tendem a qualificar o

25
desenvolvimento da ressocialização dos apenados, uma vez que proporcionam o
contato direto com pessoas de seu convívio e aliviam a carga emocional da prisão.
Além dos direitos dos detentos, a Lei 7.210 – Lei de Execução Penal, 1984 –
trata das obrigações impostas aos condenados, as quais são aplicadas pelo sistema
penitenciário como forma de alienar os mesmos a exercerem papeis de cidadãos
dentro da unidade de reclusão, assegurando desta forma a contemplação de seus
benefícios. São deveres dos apenados no ambiente prisional o comportamento
disciplinado e o cumprimento fiel de sua pena, a obediência aos servidores
penitenciários e o respeito às pessoas com quem relacionarem-se, a urbanidade2 e
respeito com outros detentos, a execução de trabalhos e tarefas recebidas,
submissão às sanções disciplinares que venham a ser aplicadas, a manutenção de
sua higiene pessoal e de seu próprio alojamento ou cela, além da conservação dos
objetos de uso pessoal.
Tendo em vista os trâmites analisados, observa-se uma notória preocupação
com o bem estar dos reclusos, uma vez que a oferta de condições dignas no cárcere
pelo período da detenção obstrui qualquer desejo de rompimento das obrigações do
preso. Entretanto, a teórica união de leis e direitos torna-se antônima à realidade
brasileira, onde a maioria dos presídios apresenta condições insalubres,
apresentando espaços depredados e deteriorados, não proporcionando condições
dignas de vivência.

2.3.2 NORMATIVAS PARA A ARQUITETURA PENAL NO BRASIL


Os projetos de âmbito prisional possuem um conjunto de diretrizes mínimas
que são exigidas para que seja concebido o direito de execução das respectivas
obras. A Lei de Execução Penal – Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984 – evidencia
as classe dos estabelecimentos penais, os quais são divididos como penitenciárias,
colônias agrícolas, industriais ou similares, casas do albergado, centros de
observação, hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico e cadeias públicas. Cada
um destes estabelecimentos recebe atribuições diferentes, a fim de que seja
segregada a população carcerária pelos diferentes tipos de crimes e também pelos

2
Conjunto de formalidades e procedimentos que demonstram boas maneiras e respeito entre os cidadãos;
afabilidade, civilidade, cortesia.
26
distintos períodos de progressão das penas, o que abrange os sistemas de regime
fechado, semiaberto e aberto.
Além das contribuições da Lei n° 7.210 – Lei de Execução Penal –, também é
observado por este estudo o conjunto de diretrizes desenvolvidas pelo Ministério da
Justiça que elegem inúmeras normativas e sentenças projetuais. Atualizadas em
2011 pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), as
“Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal” formam uma espécie de manual
arquitetônico destinado à construção, ampliação e reforma de presídios concebidos
em solo brasileiro. O Conselho propõe, em sua versão mais recente, assuntos não
tratados nas resoluções anteriores (de 1994 e 2005). Conceitos de acessibilidade,
permeabilidade do solo, conforto bioclimático e impactos ambientais, além de
recomendações que tangem à saúde e educação, ganharam ênfase e caráter
especial frente aos problemas diagnosticados em presídios já existentes.
A resolução 9/2011 das Diretrizes Básicas Para Arquitetura Penal apresenta
em sua bibliografia um conjunto de normas regulamentadoras, provenientes da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que tem como premissa básica
a aplicabilidade projetual. As normas relacionadas pelo CNPCP são:

1.NBR 15220/2003: Zonas Bioclimáticas do Brasil.


2.NBR 9050/2015: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos.
3.NBR 6492/1994: Representação de projetos de arquitetura.
4.NBR13532/1995: Elaboração de projetos de edificações.
5.NBR 5626/1998: Instalações prediais de água fria.
6.NBR 5648/1999: Sistemas prediais de água fria – tubos, conexões de PVC
6,3, PN 750 kPa, com junta soldável – Requisitos.
7.NBR 8160/1999: Instalações prediais de esgoto sanitário.
8.NBR 5410/2004: Instalações elétricas de baixa tensão.
9.NBR 5413/1992: Iluminância de interiores.
10.NBR 5473/1986: Instalações elétricas prediais.
11.NBR 7198/1993: Projeto e execução de instalações de água quente.
12.NBR 13.932/1997: Instalações internas de gás liquefeito de petróleo –
projeto e execução.

27
13.NBR 13.933/1997: Instalações internas de gás natural – projeto e
execução.
14.NBR 9575/2010: Impermeabilização – seleção e projeto.
15.NBR 6023/2000: Informação e documentação: referência – elaboração.

A análise dos impactos ambientais que poderão ser causados pela


implementação do projeto de um estabelecimento penal constituem o anexo IV das
Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal do CNPCP. O Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) é quem fornece suporte para elaboração dos estudos de
impactos ambientais (EIA) causados pela construção civil.

“Considera-se Impacto Ambiental qualquer alteração das


propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar
da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos
recursos ambientais.”
(CONAMA, 1986, p. 1).

A resolução 001/86 cita que “dependerá de elaboração de estudo de impacto


ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA – (...) o licenciamento
de atividades modificadoras do meio ambiente” (CONAMA, 1986, p.1).
Já os estudos dos impactos de vizinhança (EIV) tem como parâmetro o
Estatuto da Cidade – Lei Federal n° 10.257, de 10 de Julho de 2001 – o qual
estabelece em seu artigo 37 da seção XII que o estudo “será executado de forma a
contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto
à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades”. O estudo
deverá considerar o adensamento populacional, os equipamentos urbanos e
comunitários, o uso e a ocupação do solo, a valorização imobiliária, a geração de
tráfego e demanda por transporte público, a ventilação e iluminação, além da
paisagem urbana e do património natural e cultural. O estatuto ainda saliente que a
elaboração do EIV não substituirá a elaboração e aprovação do EIA, este previsto
nos termos da legislação ambiental.

28
Com base nos aspectos legislativos analisados, identificam-se os elementos
mínimos necessários para o desenvolvimento do projeto, que além de respeitar as
leis e diretrizes de âmbito federal, incumbir-se-ão ao plano diretor municipal e ao
código de obras do município.

2.4 O PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO NO AMBIENTE CARCERÁRIO

2.4.1 O AMBIENTE E O USUÁRIO


O processo punitivo brasileiro está centralizado no conceito de isolamento,
onde pessoas infratoras são legitimamente depositadas em ambientes horrendos e
hostis, ficando imersos à criminalidade. Em sua maioria, os estabelecimentos penais
acabam proporcionando um movimento intelectual retrógrado aos seus usuários,
uma vez que não oferecem suporte psicossocial adequado e muitas vezes não
garantem, mesmo que previsto em lei, a oferta de atividades com caráter
profissionalizante ou regenerador.
O desenvolvimento de ações estratégicas que contemplem atividades
voltadas à educação, esportes e profissionalização poderá contribuir para que a
realidade do sistema carcerário brasileiro inverta seus papéis, tornando o ambiente
prisional um lugar amplamente modelador. O ócio impregnado ao cárcere contribui
para o surgimento de índices criminológicos ainda mais elevados, pois desta forma,
o detento acaba não recebendo a oportunidade que lhe proporcionaria em algum
momento a reconstrução de sua dignidade, ficando inerte à criminalidade.
É de suma importância que, além da disposição de infraestrutura e de
agentes que realizem o trabalho de regeneração social, exista por parte do apenado
o desejo de uma vida melhor. Para isso, o ambiente deverá ter o poder de alienar o
detendo a tal situação, fornecendo condições mais salubres e humanas,
possibilitando desta maneira a reconstituição da autoestima do presidiário.
Para que o processo de ressocialização seja efetivo, a vida no ambiente
carcerário deverá ser conduzida de forma que se assimile ao âmbito comunal.
Exemplos de prisões humanizadas pelo mundo mostram que quando o detento
desenvolve atividades que se assemelham a situações do dia a dia, como trabalhar,
cozinhar, estudar e praticar atividades físicas em horários pré-estabelecidos,
contribuem para o reengajamento à vida social.

29
O ambiente está intimamente ligado à efetividade do cumprimento da pena.
Entende-se que a punibilidade inerente à justiça prevê no ambiente carcerário a
requalificação do detento, e não somente a simples passagem do infrator pelas
celas do presídio, sem que o mesmo tenha recuperado sua índole diante da
iminência de seu retorno à sociedade.
Deste modo, o Centro de Reclusão Ressocializador buscará privilegiar
espaços que amparem a reconstrução da vida de seus usuários, para que estes
sejam aceitos de forma idônea ao convívio familiar e social, contribuindo para o
decréscimo da criminalidade e sua proporcional reincidência.

2.4.2 INSERÇÃO À COMUNIDADE


A contextualização da humanabilidade prisional envolve o universo comunal
perimétrico, consistindo no emprego de técnicas que aproximem a sociedade de
modo geral ao ambiente carcerário, criando elos cognitivos e constituindo formas de
convívio paralelo, projetando assim a sistemática da ressocialização penal.
A educação, o trabalho, a recreação e a religiosidade são as principais
vertentes deste processo de reinserção social. A criação de espaços qualificados
que possibilitem a união dessas faces, viabilizando de forma projetual usos
parcialmente compartilhados, servirá de alento ao período de transição que o
apenado presenciará. Inserir espaços na esfera prisional que tenham o intuito de
usualidade comum materializa a ideologia de humanização, principal alicerce deste
ciclo reclusivo.
O entendimento da vida no cárcere por parte da comunidade vem ao encontro
da necessidade em obter-se o amadurecimento relativo à progressão da pena do
indivíduo para a liberdade. Isto possibilita a compreensão do processo punitivo e o
real significado da pena como metodologia corretiva e reestruturadora. O convívio
social emerge possibilidades de interatividade entre preso e comuna, sendo a
maneira mais evidente de conseguirem-se resultados satisfatórios no que tange ao
rejuvenescimento da índole dos cidadãos que se encontram reclusos.
Com isso, o espectro da criminalidade que aflora no ambiente carcerário
tomaria novos rumos, eliminando resquícios da qualificação criminal interna, cenário
que encontra-se evidente nos presídios brasileiros. Os crônicos problemas
decorrentes da falta de aproximação das facetas sociais seriam conduzidos a um

30
novo modelo de gestão carcerária que buscará priorizar o ser humano, a dignidade,
e sobre tudo, a vida.

2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS NO BRASIL


O Ministério da Justiça aponta em sua legislação diversos modelos de
instituições prisionais, discriminadas de acordo com o padrão de pena estabelecido,
bem como as características dos apenados e suas respectivas infrações. A Lei de
Execução Penal e as Diretrizes Básicas para arquitetura penal conceituam os
estabelecimentos penais como “todos aqueles utilizados pela Justiça com a
finalidade de alojar ou atender pessoas presas, quer provisórias, quer condenadas,
ou ainda aquelas que estejam submetidas à medida de segurança”, classificando-os
em:

- Estabelecimentos para Idosos: estabelecimentos penais próprios, ou sanções, ou


módulos autônomos, incorporados ou anexos a estabelecimentos adultos,
destinados a abrigar pessoas presas que tenham no mínimo 60 anos de idade ao
ingressarem ou as que completem essa idade durante o tempo de privação de
liberdade;
- Cadeias públicas ou estabelecimentos congêneres: estabelecimentos penais
destinados ao recolhimento de pessoas presas em caráter provisório;
- Penitenciárias: estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de pessoas
presas com condenação à pena privativa de liberdade em regime fechado, dotadas
de celas individuais e coletivas;
- Colônias agrícolas, industriais ou similares: estabelecimentos penais destinados a
abrigar pessoas presas que cumprem pena em regime semiaberto;
- Casas do albergado: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas
que cumprem pena privativa de liberdade em regime aberto, ou pena de limitação de
fins de semana;
- Centros de observação criminológica: estabelecimentos penais de regime fechado
e de segurança máxima onde devem ser realizados os exames cujos resultados
serão encaminhados às Comissões Técnicas de Classificação, as quais indicarão o
tipo de estabelecimento e o tratamento adequado para cada pessoa presa;

31
- Hospitais de custódia e tratamento, denominados serviço de atenção ao paciente
judiciário: estabelecimentos penais destinados a atender pessoas submetidas à
medida de segurança;
- Complexos ou conjuntos penais: conjunto arquitetônico de unidades penais que
formem um sistema de atendimentos com algumas funções centralizadas e
compartilhadas pelas unidades que o constituem;
- Central de penas e medidas alternativas: estabelecimentos destinados a atender
pessoas que cumprem penas e medidas alternativas.

2.6 ESTUDOS DE CASO

2.6.1 PENITENCIÁRIA MODELO DO RIO GRANDE DO SUL

2.6.1.1 Autor e localização do projeto


O projeto para a penitenciária modelo do Rio Grande do Sul foi desenvolvido
pela arquiteta Lisiane Manassi com o intuito de implantá-lo em oito cidades gaúchas,
atendendo às necessidades climáticas da região sul que antes não vinham sendo
supridas pelo antigo modelo utilizado.

2.6.1.2 Implantação
A penitenciária contempla uma área aproximada de 60.000 m², sendo 10.800
m² de área construída. A distribuição das quase 600 vagas se dá de forma simétrica
sobre o plano de implantação, organizado em seis pavilhões que se conectam
através dos espaços de uso coletivo.
Figura 9: Projeto de Implantação da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul

Fonte: http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/24/artigo277873-1.aspx

32
2.6.1.3 Programa de Necessidades
O complexo compreende um programa que conta com celas de encontros
íntimos, pátio de visitas, local para oficinas de trabalho, sala de dança, sala de
produção, sala de ensaio, biblioteca, sala de inclusão digital, sala de aula, área de
visitas, camarim, palco, cantina, sala de identificação e pavilhão de trabalho. Estes
espaços constituem o núcleo prisional (Figura10) que recebe a conexão dos
pavilhões carcerários (Figura 11). Estes por sua vez, possuem as celas tipo,
chuveiros e refeitórios, segregados de acordo com a demanda oferecida.

Figura 10: Núcleo Funcional da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul

Fonte: http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/24/artigo277873-1.aspx

33
Figura 11: Pavilhão de celas da Penitenciária Modelo do Rio Grande do Sul

Fonte: http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/24/artigo277873-1.aspx

2.6.1.4 Funcionalidade
A organização do programa visa atender a população carcerária de forma
homogênea, tornando o projeto amplamente funcional. O acesso de visitas e
funcionários acontece pelo pórtico principal onde estão localizadas as áreas de
revista e inspeção. Oposto a isso, existe um portão de acesso secundário que fica
localizado no pavilhão de trabalho, permitindo o fluxo de mercadorias que vierem a
ser produzidas no estabelecimento.
A disposição de refeitórios entre as celas do módulo prisional objetiva o
oferecimento de espaços mais salubres e dignos para o momento de refeição dos
presidiários, pois atualmente, na grande maioria dos presídios brasileiros, este ato é
realizado no interior das próprias celas em condições totalmente desumanas.
Outro aspecto importante é a divisão pavilhonar, que proporciona o uso
alternado da estrutura do núcleo da penitenciária, possibilitando um controle mais
abrangente sobre a população carcerária. Os pavilhões possuem um pavimento
centralizado exclusivo para monitoramento dos detentos, evitando o contato direto
entre carcereiro e apenado, aumentando também o raio de visão dos agentes.
As celas possuem capacidade para seis pessoas, que usufruem de uma
mesma unidade sanitária situada no interior das mesmas. Portanto, cada ala
apresenta dois blocos de oito celas que tem capacidade de abrigar 96 detentos. O
restante dos ambientes possui acesso direcionado a um corredor principal que gere
o fluxo de pessoas na unidade prisional.

34
2.6.1.5 Forma
A forma da unidade penitenciária está evidenciada no sistema “Pavilhonar”, o
qual, conforme os estudos anteriormente demonstrados, consiste na divisão dos
presos em blocos isolados, o que limita o número de detentos por módulo prisional.

2.6.2 PRISÃO DE HALDEN

2.6.2.1 Autor e localização do projeto


A unidade prisional de Halden está localizada na cidade de Halden, condado
de Østfold, Noruega. Desenvolvida pelos estúdios HLM e Erik Møller, foi inaugurada
em 2010 para abrigar 250 prisioneiros, sendo considera a prisão mais humanista do
mundo.
Figura 12: Prisão de Halden, Noruega.

Fonte: Archdaily (2011)

2.6.2.2 Implantação
O projeto foi implantado a nove quilômetros da zona urbana da cidade de
Halden e apresenta em sua organização um conceito inovador de segregação
espacial. A prisão busca explorar aspectos naturais, como a manutenção de
pinheiros nativos da região em seus domínios, aproximando a vida do cárcere à
natureza.

35
Figura 13: Implantação da prisão de Halden, Noruega.

Fonte: Archdaily (2011)

2.6.2.3 Programa de Necessidades


O complexo prisional de Halden contempla ambiências com quartos técnicos
(agentes), cozinha, cantina, centro de visitantes, administração, ala de segurança
máxima, oficina de trabalho, educação, biblioteca, instalações esportivas e salas
religiosas, pavilhões de celas com bloqueio de celular, garagem, armazenamento e
prisão aberta, para detentos que vão ao presídio somente para dormir.

Figura 14: Programa de necessidades da prisão de Halden, Noruega.

Fonte: Archdaily (2011)


36
2.6.2.4 Funcionalidade
Os espaços estão segregados de acordo com suas funções, oferecendo
tipologias heterogêneas de conexão entre seus ambientes. Estas ligações variam de
fechadas e restritas, como no caso das áreas de visitas, administração e segurança
máxima, para abertas e compartilhadas, representadas nos módulos de educação e
esportes. Estas variações são decorrentes do conceito de humanização imposto na
unidade prisional que, oferecendo áreas de livre convivência, simula a vida exterior
no dia a dia dos apenados, sendo possível desta forma avaliar como seria a conduta
dos detentos em um local de uso comum.

2.6.2.5 Forma
O presídio apresenta formatos geométricos primários em todos os seus
módulos carcerários, dispondo apenas de algumas variações angulares na
implantação dos volumes no terreno, organizados de acordo com seus usos e
funções. As edificações do projeto estão submetidas a um novo padrão
organizacional a fim de atender o conceito humanista do projeto, o que acaba
refletido em sua forma.

Figura 15: Formato geométrico primário da prisão de Halden, Noruega.

Fonte: Archdaily (2011)

37
2.6.3 PRISÃO DE ENNER MARK

2.6.3.1 Autor e localização do projeto


A penitenciária de Enner Mark está localizada na cidade de East Jutland,
Dinamarca. Desenhada pelo estúdio Friis & Moltke no ano de 2001, foi executada
oito anos para atender uma população carcerária de 230 prisioneiros, tornando-se a
prisão mais segura do país.
Figura 16: Prisão de Enner Mark, Dinamarca.

Fonte: Google Imagens.

2.6.3.2 Implantação
Situado em uma área de aproximadamente 65 hectares, o presídio de Enner
Mark distribui-se de forma mista em seu perímetro projetual, manipulando os
espaços de acordo com suas necessidades funcionais e topográficas. O
estabelecimento prisional, que apresenta uma área construída de 28.500m², dispõe
de locais para lazer, educação, recreação e trabalho, segregados de modo a atender
sua população carcerária.
Figura 17: Implantação da Prisão de Enner Mark, Dinamarca.

Fonte: Google Imagens.


38
2.6.3.3 Programa de Necessidades
O presídio de Enner Mark possui oito pavilhões interligados por uma rede de
vias internas. Quatro destes pavilhões são destinados à vivência dos apenados,
sendo que neles também estão presentes módulos de trabalho e de ensino. Dentre
as opções de lazer oferecidas no complexo estão áreas esportivas, biblioteca e uma
loja de produtos feitos pelos detentos. O programa ainda contempla um lago que,
em conjunto com a área de vegetação rasteira, simula a visualidade de uma
fazenda, contexto em que o complexo encontra-se inserido.

2.6.3.4 Funcionalidade
O funcionamento da prisão de Enner Mark está alienado a segregação de
seus espaços. A conexão entre seus pavilhões, estabelecida através de vias
perimetrais internas, transformam o estabelecimento penal em um complexo de uso
compartilhado, confiando ao projeto um caráter comunal, o que prepara os
apenados para uma futura reinserção social.

2.6.3.5 Forma
O formato do presídio compreende o conceito pavilhonar, com volumes
retangulares dispostos perpendicularmente uns aos outros. Este sistema contribui
para o processo organizacional carcerário, pois possibilita a divisão das funções
entre as edificações.
Figura 18: Formato dos pavilhões da Prisão de Enner Mark, Dinamarca.

Fonte: Google Imagens.

39
CAPÍTULO 3: DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO

3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO


Nesta parte será apresentado o diagnóstico da área de implantação.

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL

3.2.1 A CIDADE DE CARAZINHO


O projeto em questão será implantado no município de Carazinho, situado na região
noroeste do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, a duzentos e oitenta e quatro
quilômetros da capital Porto Alegre. Emancipada em 24 de janeiro de 1931, a cidade
desenvolveu-se com base na agricultura, através do plantio de soja, milho, trigo e aveia,
estabelecendo o segmento como um importante pilar econômico. O clima temperado é
predominante na região, com temperaturas médias que vão de 18°C a 30°C nos meses
mais quentes e -5°C a 15°C em épocas mais frias.

Figura 19: Mapa de Localização da Cidade de Carazinho.

Fonte: Acervo Pessoal.

Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,


realizado no ano de 2010, a população carazinhense é de 59.317 habitantes, sendo 98%
citadina e apenas 2% rural, segregada em 45 bairros que constituem o território urbano
municipal. Ao longo de seus 86 anos, Carazinho expandiu suas zonas comerciais e
residenciais através das regiões periféricas ao centro, mantendo como principal eixo de sua

40
malha urbana a Avenida Flores da Cunha. Considera a principal via da cidade, concentra ao
longo de seus 5,8 quilômetros diversos usos e estabelece a interligação da parte sul com a
parte norte da cidade.

Figura 20: Praça Brasil (Hoje Praça Albino Hillebrand) e Avenida Flores da Cunha (1950).

Fonte: Postal Colombo.

Carazinho encontra-se em uma localização geográfica privilegiada. Circundada pelas


rodovias BR285 e BR386, possui às suas margens um dos maiores entroncamentos
rodoviários do sul do país, o qual permite a conexão entre vários dos principais países da
América Latina, atraindo o interesse de indústrias e tornando a cidade um importante polo
logístico.

Figura 21: Conexão Entre as Rodovias BR386 e BR285.

Fonte: Google Imagens.

41
3.2.2 O BAIRRO SÃO LUCAS
O Bairro São Lucas está localizado às margens da rodovia Governador Leonel de
Moura Brizola (BR386), extremidade norte da cidade de Carazinho. Inserido em uma região
periférica, apresenta uma população predominantemente de classe baixa, com residências
de padrão construtivo simplificado. A implantação do bairro se deu através do projeto de um
novo loteamento, mas indo além dos moradores que adquiriram legalmente seus terrenos,
muitas ocupações irregulares surgiram na localidade.

Figura 22: Localização do Bairro São Lucas na cidade de Carazinho.

Fonte: Prefeitura Municipal (editada pelo autor).

Por estar situado em uma zona distante do centro da cidade, o bairro desenvolveu
unidades de comércio local para que as necessidades de sua comunidade fossem
solucionadas. Além disso, existem empresas de variados segmentos nas proximidades, as
quais acabam oferecendo oportunidades de emprego e potencializando o desenvolvimento
da região. Existem atualmente na localidade aproximadamente 150 residências que

42
representam 0,88% das habitações do município, tornando o bairro São Lucas um dos
menores de Carazinho.

Figura 23: Bairro São Lucas.

Fonte: Google Earth.

3.2.3 O TERRENO DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO


O local de implantação do empreendimento está inserido em uma região de baixa
densidade populacional. A área de inserção do projeto oferece conexão com a rodovia
BR386 e também com a Avenida Flores da Cunha, através da Rua General Cassal Martins
Brum. O Terreno possui topografia levemente em declive a oeste, onde se encontra uma
área de preservação permanente.

Figura 24: Área de Implantação do Projeto e vias relevantes.

Fonte: Google Earth (editada pelo autor).

43
3.3 MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS EDIFICAÇÕES
O estudo das características que envolvem as imediações da área de implantação do
projeto foi desenvolvido em um raio com 800 metros de abrangência, tendo como ponto de
partida o centro do lote. A pesquisa busca mensurar a proporção de lotes cheios e vazios,
seus usos e as alturas das edificações dispostas sobre eles. Com análise sobre o mapa de
cheios e vazios (Mapa Nolli), pode-se constatar uma baixa densidade demográfica na região
que fica ao norte do lote, onde encontra-se o bairro mais afastado da cidade (São Lucas),
que atende uma população de renda mais baixa e que dispões de muitas ocupações
irregulares.

Figura 25: Mapa Nolli (cheios e vazios).

Fonte: Do autor.

A baixa densificação da região oeste ao terreno justifica-se pela presença de uma


zona de mata ciliar, que contêm aquíferos e nascentes próximos da malha urbana. Com
isso, classificou-se o perímetro como área de preservação permanente (APP). Em um raio
de 200 metros ao sul, também identifica-se um vasto vazio urbano, oriundo do mesmo
motivo. Porém, ao passar esta zona de preservação, inicia-se a malha urbana dos bairros
Camaquã e São Pedro, vizinhos ao bairro São Lucas. Ao leste, o lote faz divisa à rodovia
BR386, onde localizam-se edificações de empresas da região.
44
O mapa de usos demonstra a predominância da esfera residencial, com pequenos
comércios locais, que abrigam por vezes o uso misto (moradia e comércio), algumas igrejas,
escolas, oficinas e empresas, principalmente do ramo logístico. A região apresenta apenas
uma praça pública, situada em frente à escola do bairro São Lucas.

Figura 26: Mapa de usos.

Fonte: Do autor.

O mapa de alturas identifica o número de pavimentos de cada edificação. Com a


maioria do solo ocupado por residências unifamiliares, existe o predomínio de unidades com
apenas um pavimento. Em regiões de maior declive, nota-se a utilização de dois pavimentos
onde o inferior é basicamente pavimento garagem.
Existem poucas unidades multifamiliares nas proximidades, sendo que as
edificações mensuradas não ultrapassam quatro pavimentos. Os pavilhões das empresas
que cercam a localidade acabam sendo o ponto de maior notoriedade da região, pois são
robustos e possuem pé-direito elevado. No mais, o perímetro não apresenta edificações que
sejam consideradas com alturas exageradas em comparação umas com as outras.
A prevalência do uso residencial torna a região mais homogênea em relação a suas
alturas. Com isso, as edificações tornam o as ruas mais agradáveis e seguras, por não
ocasionarem sombreamentos, bem como penumbras, sobre as vias de circulação peatonal
e veicular.

45
Figura 27: Mapa de alturas.

Fonte: Do autor.

3.4 INFRAESTRUTURA URBANA


A pesquisa de infraestrutura urbana levantou dados da região do projeto em um raio
de 800 metros, elucidando aspectos físicos do perímetro e compartilhando informações
relevantes ao desenvolvimento projetual. O primeiro mapeamento ilustra a malha viária dos
bairros vizinhos ao lote (bem como a intensidade de seus fluxos), a vegetação existente no
local e sua relação com as edificações, além dos pontos de transporte coletivo urbano.
As vias de fluxo moderado possuem, em sua maioria, um padrão de uso residencial,
com pavimentação em calçamento (paralelepípedos) e/ou asfalto, apresentando
características que cumprem seus objetivos, que são basicamente o tráfego de veículos
leves de passeio e a interligação à via coletora. Estão em destaque no mapa duas das rotas
mais usuais, que são a Rodovia BR386 e a Rua General Cassal Martins Brum, as quais
tangenciam o terreno e possuem um fluxo mais intenso comparado às outras. A conexão da
Rua General Cassal Martins Brum à Rodovia BR386 e à Avenida Flores da Cunha tornou-a
um importante eixo viário na região, alienando o trecho ao desenvolvimento de diversos
usos do solo.
A representação da infraestrutura elétrica (Figura 18) aponta a totalidade de postes
de energia e iluminação situados na região, além de demarcar a localização de
transformadores e a passagem da rede de alta tensão, a qual está adjacente ao terreno.

46
Figura 28: Mapa de Rede Viária e Vegetações.

Fonte: Do autor.

Figura 29: Mapa de Infraestrutura Elétrica.

Fonte: Do autor.

47
O mapa hidro sanitário apresenta os pontos de abastecimento, de coleta pluvial e a
demarcação do córrego que cruza pela zona urbana. O perímetro não possui rede de
tratamento para esgoto cloacal, considerando-se então o uso de fossas sépticas para
filtragem de dejetos fecais domiciliares.

Figura 30: Mapa de Infraestrutura Hidro sanitária.

Fonte: Do autor.

3.5 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO


Com aproximadamente cinco pontos percentuais de inclinação, o terreno de
implantação do projeto possui área total de 96.987,80m² e contempla um total de sete faces.
Ao noroeste apresenta conexão com a Rua Fortunato A. Sandri; ao norte, liga-se à Rodovia
Leonel de Moura Brizola (BR386); a leste, com a Rua General Cassal Martins Brum; a
sudeste encontra-se à rua residencial (sem nome); e a sul e sudoeste, tangencia área de
preservação permanente.
O lote possui vegetação de baixa densidade, não sendo constatada a presença de
árvores nativas que impeçam o uso do solo. Esta relação admite também a análise dos
sombreamentos, que neste caso são praticamente inexistentes. A proximidade com a zona
de conservação credencia o afastamento mínimo de 30 metros em relação às margens do
córrego em questão para o desenvolvimento de edificações. Os ventos dominantes são
oriundos da região noroeste, perpendicular ao trajeto solar.
48
Figura 31: Mapa de Características Específicas do Terreno.

Fonte: Do autor.

As dimensões do lote são estabelecidas através das vias adjacentes a ele. Ao


noroeste apresenta sua maior face, com 551,80 metros; ao norte conta com 27,17 metros; a
leste possui 96,79 metros; a sudeste suas duas faces medem 112,72 e 94,82 metros
respectivamente; a sudeste 326,26 metros; e a sudoeste 259,14 metros.
O entorno do terreno abrange área de baixa densidade populacional, apresentando
padrão homogeneizado de edificações, com predominância do uso residencial de pequeno
porte. A tipologia arquitetônica mais usual é a alvenaria, com aberturas em ferro ou
alumínio, coberturas com telha de fibrocimento e calçadas pouco pavimentadas, limitadas
aos acessos peatonais e veiculares.
Com isso, a região oferece grande permeabilidade visual, possibilitando a
implementação de técnicas projetuais que explorem tais circunstâncias, pois, além disso, o
terreno localiza-se no ponto mais elevado da região, tornando tal característica uma
potencialidade de projeto.
49
Figura 32: Vista Norte do Terreno.

Fonte: Do autor.

Figura 33: Padrão Construtivo da Rua Fortunato A. Sandri.

Fonte: Do autor.

3.6 SÍNTESE DE LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS

3.6.1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL


A lei complementar n.º 178, de 30 de dezembro de 2013 – contempla as disposições
gerais e os princípios básicos para o plano diretor do município de Carazinho, bem como

50
seus usos e índices urbanísticos, ordenamento territorial e demais condições para ocupação
do solo, definições de patrimônio natural e construído, além dos processos de planejamento
e gestão democrática.
O terreno em questão encontra-se inserido na Zona Residencial Um (ZR1), a qual
apresenta as seguintes diretrizes de ocupação:

I - predominância das atividades residenciais unifamiliares e do comércio


e serviços a elas vinculados;
II - ocupação rarefeita, com predominância de edificações de dois
pavimentos e ocupação de até 50% da área do lote;
III – trânsito local;
IV- atividades de fiscalização ambiental e das edificações com ênfase ao
controle:
a) da permeabilidade do solo;
b) da preservação dos recursos hídricos;
c) das condições de saneamento.

São evidenciados também os índices urbanísticos máximos pelos quais as


edificações terão que submeter-se. São eles:

I – Coeficiente de Aproveitamento (CA) = 1;


II – Taxa de Ocupação (TO) =0.5;
III – Cota Ideal por Dormitório (CID) =50m²;
IV – Lote Mínimo (LM) = 300 m²;
V – Taxa de Permeabilidade (TP) = 0,25.

O projeto do Centro de Reclusão Ressocializador enquadra-se no artigo 8° do Plano


Diretor de Carazinho, o qual cita que os usos de serviços concentram as atividades de
serviços à população e de apoio às atividades institucionais, comerciais e industriais, dentre
eles estão:

Uso 30 - serviços de segurança pública - estabelecimentos destinados a serviços de


segurança pública;

De acordo com o anexo V do Plano Diretor de Carazinho, que trata especificamente


da classificação dos usos do solo, os serviços de segurança pública – estabelecimentos

51
destinados a serviços de segurança pública – são classificados na Zona Residencial Um
(ZR1) como uso “conforme”.
O capítulo III do plano diretor trata dos recuos frontais, laterais e de fundos, os quais
são obrigatórios na macrozona urbana. Em lotes de esquina os recuos frontais serão de 4m
(quatro metros), na rua de acesso ao prédio e de 2m (dois metros) na rua lateral. A
dimensão dos recuos laterais e de fundos será calculado segundo a fórmula (R = N x 0,10 +
1,50), onde R = recuo lateral e de fundo e N = número de pavimentos da edificação
contados a partir do piso do pavimento de acesso principal. Na área contida sobre o recuo
frontal poderão ser aprovadas e licenciadas guaritas, obras de paisagismo, escadas e
rampas de acesso.

3.6.1 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)


A Lei Federal N° 12.651, de 25 de maio de 2012 – Código Florestal – estabelece
normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as
áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o
controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais,
e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.
O capítulo II trata das Áreas de Preservação Permanente, salientado na Seção I as
delimitações impostas pela lei. O artigo 4o considera como Área de Preservação
Permanente, em zonas rurais ou urbanas as faixas marginais de qualquer curso d’água
natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito
regular, em largura mínima de 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10
(dez) metros de largura.

52
CAPÍTULO 4: CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS

4.1 INTRODUÇÃO
Nesta parte será apresentado o conceito de projeto e suas principais diretrizes ...

4.2 CONCEITO DO PROJETO


Com base nos estudos realizados para o desenvolvimento de um Centro de
Reclusão Ressocializador, viu-se a necessidade de compreender a mente do ser humano e
de oferecer, através da arquitetura, ambientes que proporcionem a reabilitação de seus
usuários, conduzindo-os ao entendimento do que é a vida no conjunto social e a verdadeira
função de cada indivíduo na sociedade.
As simbologias representam crenças, ideais, opiniões, e para muitos, vão além da
abstração. Os símbolos possuem o poder de transmitir informações e alienar a mente do ser
humano a ações e reações. O “Triskle”, símbolo de origem Celta, significa o princípio e o
fim, a eterna evolução, o crescimento e a aprendizagem perpétua. Manifesta o equilíbrio do
corpo, da mente e do espírito, simbolizando também a trindade “Passado, Presente e
Futuro”.
Figura 34: Simbologia Celta do “Triskle”.

Fonte: Google Imagens.

53
A reclusão deve proporcionar o princípio de uma nova fase na vida dos apenados,
baseado principalmente no crescimento, no aprendizado e no fim da imprudência social. O
ambiente deve conduzir a evolução do usuário, abrigando oportunidades e soluções para a
busca do equilíbrio do corpo, da mente e da alma, fazendo com que o passado não seja o
futuro, e que o presente ensine o caminho desta mudança.
O conceito baseado na simbologia do “Triskle” será representado de diversas formas
na concepção do projeto. O zoneamento será segregado em ambientes que elucidem, por
exemplo, corpo, mente e espírito (atividades físicas, ensino profissionalizante e culto
religioso) além de detalhes construtivos, como muxarabiês, pisos e móveis, que tragam a
figura; mas sobre tudo, o “Triskle” estará na forma, baseada na geometria do símbolo, e nos
espaços, que partirão da premissa que busca o equilíbrio dos indivíduos.

Figura 35: Derivações do conceito aplicado na forma.

Fonte: Do Autor.

4.3 DIRETRIZES DE ARQUITETURA


O projeto do Centro de Reclusão Ressocializador obedecerá as Diretrizes Básicas
para Arquitetura Penal do Ministério da Justiça (2011). O estabelecimento será enquadrado
na categoria de Penitenciária de Segurança Média, com capacidade para abrigar 406
presos, entre homens e mulheres, nos regimes fechado, semiaberto e aberto. Com base
nos parâmetros analisados até aqui, definiram-se os modelos construtivos e volumétricos
que serão utilizados para cada tipologia.
Com o objetivo de manter o padrão altimétrico que o perímetro do terreno oferece, as
edificações apresentarão em sua maioria pavimento único, visando às normativas de
acessibilidade universal (NBR 9050), exigidas para edifícios que contemplem atividades de
uso público. Além disso, o controle das alturas e suas relações conferem ao projeto um grau
de permeabilidade visual mais abrangente, contribuindo aos índices de segurança
necessários para estabelecimentos penais e possibilitando a infiltração de raios solares nas

54
dependências carcerárias, tornando os ambientes mais salubres, desprovendo-os de
doenças.
As unidades de vivência coletiva e individual foram desenvolvidas com intuito de
proporcionar condições legitimamente dignas aos detentos que encontram-se em situação
de reclusão social. Nos módulos coletivos, a capacidade das celas será de quatro
indivíduos, e cada acomodação será dotada de banheiro individual, visando-se inibir a
proliferação de doenças por uso compartilhado dos espaços de higienização.
As celas estarão dispostas em pavilhões, que agregam ainda sala de controle para
agentes, sala de apoio, refeitório e solário coletivo. Cada unidade pavilhonar de vivência
coletiva abrigará 56 presos em 14 celas dispostas sobre dois pavimentos. Esta segregação
tem por objetivo diminuir a densificação do terreno, tornando sua permeabilidade maior.
Além disso, em horários destinados às refeições, bem como banhos de sol, a unidade de
circulação superior poderá ser utilizada como posto de observação pelos agentes
penitenciários. As celas e o solário coletivo foram dimensionados de acordo com as
especificações técnicas contidas nas Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal do Ministério
da Justiça (2011), que mensuram uma área mínima de 8,40m² para cela com quatro
detentos e 1,50m² de área por detento para concepção do pátio de sol da unidade.
Os pavilhões terão suas celas direcionadas para a face norte do terreno, conferindo
maior incidência solar aos ambientes. Este fator contribui para que sejam exploradas
técnicas de iluminação natural nas unidades de reclusão. Outro detalhe que evidencia-se à
orientação norte é a possibilidade de serem implantadas esquadrias que proporcionem a
ventilação natural das celas, absorvendo os ventos provenientes da região noroeste. Tanto
a incidência solar, quanto o aproveitamento dos índices de predominância dos ventos
poderão ser controlados, por brises-soleis e pelas próprias esquadrias.
Outra importante consideração é relativa à largura das circulações internas aos
edifícios, dimensionadas sempre a partir de 2,50 metros. Esta medida pré-estabelecida tem
como premissas o aumento do grau de visibilidade no interior dos edifícios, melhor
disposição de fluxos e também a possibilidade de inserção de aberturas que contribuam no
processo lumínico das unidades, pois entende-se que ambientes de caráter mais confinado
criam ofuscamentos e obrigam a utilização de iluminação artificial até mesmo durante o dia.
Estas e outras estratégias visam atender as Diretrizes Básicas para Arquitetura
Penal do Ministério da Justiça (2011), que estabelece a obrigatoriedade em projetar-se os
estabelecimentos penais de modo que atendam os quesitos necessários para obtenção da
Etiqueta Nacional de Conservação de Energia “A”, certificada pelo Ministério de Minas e
Energia através do Programa Nacional de Eficiência Energética, o PROCEL EDIFICA. O
programa avalia condicionantes de envoltória, iluminação e condicionamento de ar, itens

55
descritos no RTQ-C - Requisitos Técnicos de Qualidade Para o Nível de Eficiência
Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos – Portaria 372-2010.
A conceituação projetual que estabelece relação com o “Triskle” é evidenciada a
partir do módulo de uso compartilhado, onde situam-se o setor educacional, de esportes e
de uso religioso, contemplando a três faces do símbolo celta: mente, corpo e espírito. O
edifício também é caracterizado pela sua forma que apresenta geometria similar ao formato
da simbologia. Esta unidade terá adjacente ao seu perímetro, uma praça de uso comunal,
onde será estabelecida a relação entre comunidade e apenados. O módulo de uso
compartilhado será oferecido ao uso da população em horários alternados ao uso dos
detentos. Para que isso ocorra de forma passiva e segura, a unidade contemplará um
acesso subterrâneo que ligará o extremo oeste do terreno às alas de vivência, serviço,
saúde e administração, fazendo com que os detentos não tenham acesso direto ao leito
carroçado.
Em contra partida, as unidades de trabalho, situada ao sul das áreas de vivência,
servirão para oportunizar ao detento o contato com o exterior. O módulo de oficinas foi
estabelecido desta maneira para proporcionar aos detentos a sensação de “ida ao trabalho”,
desvinculando-se do setor carcerário. Esta conexão por sua vez, não será por meio
subterrâneo, e sim pelas vias circunferentes ao projeto, pois este setor visa atender em sua
maioria, apenados do regime semiaberto, os quais estão aptos a deixar a zona de reclusão
prisional previamente autorizados.

4.4 DIRETRIZES URBANÍSTICAS


A relação do projeto com o contexto urbano existente será estabelecida através da
implementação de técnicas paisagísticas em espaços de lazer externos, voltados para o uso
da comunidade residente na zona periférica ao terreno de implantação do projeto, que foi
parcelado em três espaços de usos distintos para que pudessem ser criadas vias de
circulação comum junto ao estabelecimento. Esta medida visa integrar a estrutura prisional à
malha urbana já caracterizada na região.
A fim de conferir permeabilidade visual ao projeto e criar uma relação ainda mais
intensa entre as edificações e seu entorno, será admitida para o projeto do Centro de
Reclusão Ressocializador a instalação de alambrados ao invés de muros. Com esta medida,
as ruas que tangenciam os edifícios estarão mais protegidas, mais bem iluminadas e com
raio de visão superior em comparação à barreira de concreto. Em relação às áreas de
vivência coletiva e individual, ou seja, à parte edificada do projeto, será estabelecido o
afastamento mínimo de 15 metros em relação à barreira, contra 10 metros estipulados para
o caso de implantação de muros.

56
Outra relação que se estabelece e credencia-se a ser um importante vetor projetual é
a ligação com as áreas verdes da zona de preservação permanente que costeia a margem
oeste do terreno. Esta conexão garante ao projeto uma evidente integração com a natureza,
tornando a vegetação pré-existente parte da paisagem arquitetônica.

57
CAPÍTULO 5: PARTIDO GERAL

5.1 INTRODUÇÃO
Nesta parte será apresentado o partido geral do projeto.

5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES


Tabela 1: Programa de Necessidades Guarda Externa
Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de Comando 9,00 Mesa e Cadeira
Guarita 4,00 Instalação sanitária
Sala de armas 6,00 Armários
Instalação sanitária 2,25 cada Instalação sanitária
masculina/feminina
Copa 6,00 Pia, geladeira, fogareiro e bancada
Dormitório da guarda 30,00 Camas e Armários
masculino/feminino
DML – Depósito de material de 2,00 Armário e tanque
limpeza
Vestiário 12,00 Armários e bancos
Fonte: do autor (2017).

Tabela 2: Programa de Necessidades para Módulo de Agentes Penitenciários


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Dormitório dos agentes/monitores 3,60/beliche Beliches
Vestiário masculino/feminino 30,00 Armários e Bancos
DML – Depósito de material de 2,00 Armário e tanque
limpeza
Fonte: do autor (2017).

Tabela 3: Programa de Necessidades para Módulo de Recepção e Revista de Visitantes


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de espera externa à portaria 40,00 Bancos
Sala de Administração e Controle 9,00 Mesa e Cadeira
Sala de revista 1,60/box Cadeira
Sanitário de Visitantes masculino e 1,80 + PNE Instalação sanitária
feminino
Sala de Pertences (visitantes) 12,00 Armários
DML – Depósito de material de 2,00 Armário e tanque
limpeza
Portaria de acesso e recepção 9,00 Armários e bancos
Vestiário para presos com 12,00 Armários e bancos
armários(trabalho externo)
Sala de atendimento familiar 9,00 Mesa e Cadeiras
Fonte: do autor (2017).

Tabela 4: Programa de Necessidades Administrativo


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Central de Monitoramento e apoio 12,00 Mesas, cadeiras e armários
Sala Diretor 24,00 Mesa e cadeira, mesa de reuniões
Instalação Sanitária Diretor 2,25 Instalação sanitária
Sala secretaria/ recepção 12,00 Mesa, cadeiras e armários
Sala Vice-Diretor 12,00 Mesa, cadeiras e armários
Sala para prontuário 12,00 Mesa e cadeiras
Sala para apoio administrativo 16,00 Mesas e cadeiras
Sala administrativa para equipe 20,00 Mesas e cadeiras
técnica
58
Sala de Reuniões 20,00 Mesa e Cadeiras
Almoxarifado Central 12,00 Armários
Oficina de reparos e manutenção 18,00 Armários e Bancadas
Instalações Sanitárias 2,25 cada Instalação Sanitária
masculinas/femininas
Copa 6,00 Pia, geladeira, fogareiro e bancada
Fonte: do autor (2017).

Tabela 5: Programa de Necessidades para Módulo de Triagem/Inclusão


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Eclusa para desembarque de
veículos
Sala para agentes 9,00 Mesas, cadeiras e armários
Sala de Chefia dos agentes 9,00 Mesa, cadeira e armário
Instalação sanitária para agentes 2,25 Instalação sanitária
Chuveiro/higienização 2,25 Box
Sala de Identificação/biometria 6,00 Mesa e cadeira
Revista de pessoas presas 1,60/box Cadeira

Instalação Sanitária para 2,25 cada Instalação Sanitária


funcionário
Celas Individuais e coletivas com 6,00 cada Instalação Sanitária
instalação sanitária
Solário Coletivo 19,00
Sala de Pertences (pessoas 15,00 Armários
presas)
Sala/cela para recebimento de 10,00 Cadeira
pessoa presa
Cela PNE 9,00
Fonte: do autor (2017).

Tabela 6: Programa de Necessidades para Módulo de Tratamento Penal


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de atendimento (serviço 6,00 cada Mesa, cadeiras e armário
social e psicologia)
Sala de atendimento jurídico 3,00 Mesa, cadeiras

Sala de Defensoria Pública 10,00 Mesa, cadeiras, armário


Sala de Atendimento em grupo (20 30,00 Cadeiras
pessoas)
Instalações Sanitárias 2,25 cada Instalações Sanitárias
masculina/feminina
Espera para atendimento de 6,00 Cadeiras
pessoas presas
Sala de Reconhecimento/ 12,00 Cadeiras
acareação
Sala para interrogatório/audiência 30,00 Mesas e cadeiras
Fonte: do autor (2017).

Tabela 7: Programa de Necessidades para Módulo de Saúde


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de recepção e espera 12,00 Mesa, cadeiras e armário
Sala de acolhimento 12,00 Mesa, cadeiras e armário
multiprofissional
Sala de atendimento clínico 7,50 Mesa, cadeiras, armário, maca
multiprofissional
Consultório de atendimento 7,50 + 2,25 Mesa, cadeiras, armário, maca,
ginecológico + sanitário instalações sanitárias
Estoque 7,50 Armários
Dispensa de Medicamentos e 1,50 Armários
estoque
59
Cela enfermaria 12,00/leito
Consultório de atendimento 9,00 Equipamentos Odontológicos
odontológico
Sala multiuso 9,00 Mesas e cadeiras
Sala de Procedimentos 3,60 Cadeiras e Armários
Fonte: do autor (2017).

Tabela 8: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (cozinha)


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala para nutricionista 6,00 Mesa, cadeiras e armário
Vestiário/sanitários funcionários 12,00 Armários, bancos, instalações
sanitárias

Recebimento e Pesagem Balança, bancada, tanque


Higienização de carros de 6,00 Tanque
transporte
Despensas mensal e diária 12,00 Armários
Câmara Frigorífica 6,00 Prateleiras
Higienização de vasilhames 3,00 Tanque
Preparo e Cocção 30,00 Fogão industrial, pias, bancadas,
Panelas Industriais
Higienização de Recipientes de 6,00
lixo
Pátio de serviço coberto 12,00 Tanques
Refeitório para agentes e 40,00 Mesas e cadeiras
funcionários
Instalação Sanitária (refeitório) 2,25 cada Instalações Sanitárias
masc/fem
Fonte: do autor (2017).

Tabela 9: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (padaria)


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Área de Preparo 12,00 Forno, bancadas, pias, maquinas
panificadoras
Despensa 6,00 Armários

Sanitário 2,25 Instalação Sanitária


Fonte: do autor (2017).

Tabela 10: Programa de Necessidades para Módulo de Serviço (almoxarifado e lavanderia)


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Almoxarifado Central 90,00 Armários, mesa e cadeira
Lavanderia coleta 16,00
Separação ou triagem 12,00
Pesagem 12,00
Lavagem 25,00
Centrifugagem 35,00
Secagem -
Calandragem -
Passagem de roupa -
Costura 27,00
Estocagem -
Distribuição -
Fonte: do autor (2017).

Tabela 11: Programa de Necessidades para Módulo Polivalente


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Área Coberta 200,00

60
Área descoberta com espaço para 120,00
recreação
Instalações Sanitárias femininas 12,00 Instalação Sanitária
Instalação Sanitária masculina 12,00 Instalação Sanitária
Sala de Barbearia 8,00 Bancada, Cadeiras
Sala de cabelereiro 20,00 Bancada, Cadeiras
Fonte: do autor (2017).

Tabela 12: Programa de Necessidades para Módulo de Visitas íntimas


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Apartamento/suíte(2 unid. /100 6,00 cada Cama
pessoas presas) + 1 PNE
Rouparia 3,00 Armário
Espaço para entrega de roupa 3,00 Armário
suja
Depósito Material de Limpeza 3,00 Armário
Fonte: do autor (2017).

Tabela 13: Programa de Necessidades para Módulo de Ensino


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Biblioteca 30,00 Mesas, cadeiras, prateleiras
Sala de aula 15,00 Mesas e cadeiras
Instalação Sanitária (pessoa 3,00 Instalação Sanitária
presa)
Sala de Professores 25,00 Mesa, cadeiras e armário
Sala de Informática 36,00 Mesas e cadeiras
Sala de Encontros com a 30,00 Mesas e cadeiras
Sociedade
Fonte: do autor (2017).

Tabela 14: Programa de Necessidades para Módulo de Oficinas


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de controle 12,00 Mesa e Cadeira
Instalação Sanitária feminina 2,25 Instalação Sanitária
Instalação Sanitária Masculina 2,25 Instalação Sanitária
Estoque 30,00 Armários
Área de Trabalho 80,00 Mesas, cadeiras e bancadas
Carga/Descarga -
Fonte: do autor (2017).

Tabela 15: Programa de Necessidades para Módulo de Vivência Coletiva


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de controle 6,00 Mesa e Cadeira
Instalação Sanitária funcionário 2,25 Instalação Sanitária
Ala de celas 125,00
Celas Individuais 6,00
Instalação Sanitária externa - Instalação Sanitária
Área coberta (refeitório, lazer) 47,00 mesas, cadeiras, bancos
Pátio de Sol 98,00
Distribuição de Refeições 15,00
Fonte: do autor (2017).

Tabela 16: Programa de Necessidades para Módulo de Vivência Individual


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Sala de controle 6,00 Mesa e Cadeira
Instalação Sanitária funcionário 2,25 Instalação Sanitária
Ala de celas 125,00
Solário Individual 6,00

61
Instalação Sanitária externa à cela - Instalação Sanitária
Área coberta (refeitório, lazer) 47,00 mesas, cadeiras, bancos
Pátio de Sol Coletivo 98,00
Fonte: do autor (2017).

Tabela 17: Programa de Necessidades para Módulo de Berçário e Creche


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Controle para agentes 6,00 Mesa e Cadeira
Copa/Cozinha 12,00 Bancada, pia, geladeira, fogão
Estar 24,00 Sofás e cadeiras
Dormitório Coletivo mãe/bebê 5,20 por bebê Cama, Armário, Berço
(máximo 4 pessoas) + banheiro e
fraldário
Lactário 9,00 Mesa apoio
Rouparia 3,00 Armários
DML 3,00 Armários
Despensa 3,00 Armários
Área descoberta para banho de 2,00 por criança Playground
sol com playground
Lavanderia/quarador
Refeitório
Dormitório Gestante 2,50 por gestante Cama, mesa apoio
Refeitório Gestantes/mães 0,50 por pessoa Mesas e cadeiras
Sala terapia ocupacional e 15,00 Mesas e cadeiras
fisioterapia pediátrica
Sala Multiprofissional da saúde 9,00 Mesa, cadeiras, maca
Sala apoio 12,00 Mesa e cadeiras
administrativo/pedagógico
Sala dos professores Mesas, cadeiras e armários
Sala de aula (crianças) 1,50 por criança Mesas e cadeiras
Área coberta para atividades 24,00
recreativas e educativas
Entrada de serviços
Refeitório Infantil Mesas e cadeiras
Cozinha creche Bancada, pia, geladeira, fogão
Unidades Sanitárias Infantis 2,25 cada Instalação Sanitária
Dormitório para criança 60,00
Dormitório para cuidadora com 9,00 Cama, armário, instalação
instalação sanitária sanitária
Fonte: do autor (2017).

Tabela 18: Programa de Necessidades para Módulo de Tratamento para Dependentes Químicos
Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Cela Individual com sanitário 9,00
Cela Coletiva com sanitário 17,00
Fonte: do autor (2017).

Tabela 19: Programa de Necessidades para Módulo de Esportes


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Quadra Poliesportiva 432,00
Academia 146,00
Fonte: do autor (2017).

Tabela 20: Programa de Necessidades para Módulo Religioso


Área Dimensões (em m²) Mobiliário essencial
Cultos Religiosos 354,00 Bancos
Capela 29,00 Bancos
Fonte: do autor (2017).

62
5.3 ORGANOGRAMA/FLUXOGRAMA
A organização modular do programa de necessidades acontece de forma
hierárquica, havendo a segregação dos espaços através de suas respectivas funções,
unindo-as quando determinado para melhor fracionamento das áreas disponíveis. Os
módulos foram divididos em blocos com o intuito de oferecer conexões aproximadas entre
os mesmos. Estas conexões agilizam os processos internos e orientam os deslocamentos e
sentidos de fluxos internos e externos.

Figura 36: Organograma.

Fonte: Do Autor.

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Os fluxos são divididos entre as vias internas e externas que circundam o projeto do
Centro de Reclusão Ressocializador. Pelo perímetro externo, além de condicionarem os
acessos, as ruas são de suma importância para a conexão com as unidades de trabalho,
esportes, educação e religião. As vias internas circundam o terreno com o objetivo de
oferecer a distribuição de cada um dos fluxos da melhor forma possível, ligando setores
administrativos às unidades de serviços, saúde e vivência.

Figura 37: Fluxograma.

Fonte: Do Autor.

64
5.4 PROPOSTAS DE ZONEAMENTO
A primeira proposta para zoneamento do projeto sugere a segregação das atividades
de trabalho, esporte e educação, das demais atividades, deixando-as em primeiro plano. As
unidades de vivência ficariam localizadas adjacentes à área de preservação permanente,
onde também seriam inseridos os setores administrativos, de serviços e saúde.

Figura 38: Proposta de Zoneamento 01.


Fonte: Do Autor.

A segunda proposta oferta uma divisão diferente do lote, com a praça de convivência
em primeiro plano, e a subsequente inserção dos setores administrativos, de serviços,
saúde e de vivência. As unidades de trabalho, educação e esportes seriam implantadas
próximas à APP, estabelecendo relações visuais entre as áreas verdes e as respectivas
edificações.

Figura 39: Proposta de Zoneamento 02.


Fonte: Do Autor.
65
A terceira proposta, que será a escolhida, apresenta um grau hierárquico distinto dos
demais zoneamentos, distribuindo os setores administrativos, de serviços e saúde próximos
às alas de vivência. A implantação do setor administrativo em primeiro plano possibilita um
controle mais abrangente sobre o fluxo de visitantes e pessoas que circulam pela estrutura
do estabelecimento penal e por suas regiões periféricas. A segregação do espaço das
oficinas profissionalizantes tem por objetivo oferecer a sensação de “ida ao trabalho”, como
salientado no capítulo anterior. Por fim, a integração dos espaços de educação e esporte
com a praça de convivência visa proporcionar o uso compartilhado dos ambientes, além de
criar elos visuais relativos à área de preservação permanente.

Figura 40: Proposta de Zoneamento 03.


Fonte: Do Autor.

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REFERÊNCIAS

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Disponível em
<https://drive.google.com/file/d/0B7dHBcSJVgdNM3RRXzMtaUU1cDA/view>.
Acesso em: 05 de Setembro de 2017.

BRASIL. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: diretrizes


básicas para arquitetura prisional. Brasília, 2011.

BRASIL. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. 2. ed. Brasília: Senado


Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002.

BRASIL. Lei de Execução Penal. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação


de Publicações, 2008.

BRASIL. Resoluções do Conama: resoluções vigentes entre setembro de 1984 e


janeiro de 2012. Brasília: MMA, 2012.

BRASIL. Regras de Mandela: Regras Mínimas das Nações Unidas para o


Tratamento de Presos /Conselho Nacional de Justiça, Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de
Medidas Socioeducativas, Conselho Nacional de Justiça – 1. Ed. Brasília: Conselho
Nacional de Justiça, 2016.

BRASIL, Presidência da República. LEI Nº 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001.


Brasília, 2001.

BRASIL, Presidência da República. LEI Nº 12.403, DE 4 DE MAIO DE 2011.


Brasília,2011.

BRASIL, Presidência da República. LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.


Rio de Janeiro, 1940.

67
BRASIL, Presidência da República. LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.
Brasília, 1984.

BRASIL, Presidência da República. LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.


Brasília, 1997.

CORDEIRO, Suzann. O espaço penal e o indivíduo-preso: dinâmicas do espaço


habitado. 8 ed. São Paulo: Revista Brasileira de Segurança Pública, 2011.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 2 ed. Petrópolis: Editora


Vozes, 1987.

LIMA, Suzann Flávia Cordeiro de. Arquitetura penitenciária: a evolução do espaço


inimigo. 2005. Disponível em
<file:///C:/Users/Solutec/Downloads/A%20Evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20Espa
%C3%A7o%20Inimigo.pdf>. Acesso em: 27 de Agosto de 2017.

PEREIRA, Ruvier Rodrigues. PAULA, Heber Martins de. Otimização do espaço


arquitetônico prisional: mapeamento sistêmico e projeto. São Paulo: Blusher,
2016.

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ANEXOS

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