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Minha super capa

Sei que provavelmente ninguém lerá isso, sei também que se lerem não se
importarão com este texto, já que muitos não me levam a sério, mas queria ao
menos deixar registrado como passei a ver a vida de outra forma e talvez abrir
os olhos de quem leia que pessoa com casos semelhantes ao meu estão tão
perto o tempo todo e não percebemos.

Chamo-me Henrique e no final deste mês calorento de fevereiro farei 18 anos,


mas a historia que vou contar se passa á 7 anos atrás.

Desde sempre fui sozinho, mas nunca liguei muito pra isso porque depois de
muito sofrer aprendi a lidar, já que minha família não me escuta. Porem nem
sempre fui tão só, tenho um grande amigo, o Paulo, garoto de cabelos negros e
olhos esverdeados que sempre fez me sentir confortável em um mundo onde
ninguém me dava atenção, e me aceitava de todas as formas, as mais
estranhas possíveis, como o fato de eu gostar muito de usar capas de super
heróis. Ele sempre me carregava nas suas costas para me sentir voando, livre.

Nossa amizade era o único motivo de eu ainda me aceitar como era. Mas por
uma razão inexplicável ele se matou, foi um dia trágico, parecia que o mundo
inteiro havia desabado, não parava de pensar como seria minha vida a partir
dali, “o que faria? Ele é o único que me entende, o único que aceita minhas
diferenças. O que será da minha vida sem ele?”. Desde então ficou sem
sentido usar capa de super herói, porque não consegui salvar a pessoa mais
especial da minha vida, a que mais me fazia feliz, meu melhor amigo.

Depois de alguns meses tristes, resolvi procurar ajuda na internet, já que na


vida real ninguém me entendia, tentei achar pessoas a que pudesse me
identificar na vida virtual, isso ótimo pra mim, encontrei pessoas que sofriam
tanto quanto eu.

Com essa visão de não ser o único sozinho deprimido me voltou a vontade de
usar minha capa e continuar treinando meus vôos, o Paulo iria gostar. Porém
havia me esquecido de que nem todo mundo na vida real aceita algo diferente.

O pessoal da escola começou a me ridicularizar até chegarem no ponto da


agressão, diziam que eu era esquisito e os professores que era velho demais
para usar capa e brincar de super herói. Me sentia muito mal, por isso resolvi
falar com a diretora o que me magoava e ela perguntou: “ se usar capa te faz
triste, por que continuar usando?”. Não respondi nada, só saí da escola
pensativo. Aquela pergunta se repetia varias vezes na minha cabeça, tentava
achar uma resposta inquestionável, mas não consegui. Desde lá não usei mais.

É triste pensar que tiveram que se passar 7 anos para descobrir a resposta,
que precisei ME ACOSTUMAR com a infelicidade pra ser “aceito” pela
sociedade, que tive que fingir para minha família que estava tudo bem, quando
não estava.

Hoje eu entendo que as pessoas costumam ter inveja de outra que tem
coragem de ser aquilo que queriam ser, mas não tem a mesma coragem e
acabam correspondendo isso com ódio. As pessoas têm medo do diferente, se
assustam com o novo, isso as faz más. Entendo que minha diretora estava
errada, não era a capa que fazia me sentir triste, eram as pessoas. Tinha medo
de usar capa,mas agora guardo um lema no coração: o mundo não vai mudar
quem somos, nós sim podemos mudar o mundo, seja corajoso e gentil, pra
cada vez se tornar um super herói mais forte e não pare de treinar seus vôos,
tirar o pé do chão e sair flutuando é a única forma de voar, conquiste seus
sonhos e voe mudando o mundo e quanto mais alto eu vôo mais perto fico de
Paulo e posso sentir que ele tem orgulho de mim e do que estou me tornando.

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