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8.245/91
Tem-se, desse modo, que a Lei 8.245/91, em seu art. 51, atribui ao locatário o direito
material à renovação do contrato locatício e, no art. 71 ao art. 75, estabeleceu o
procedimento através do qual tal direito é deduzido em juízo.
Cabe destacar ainda que não basta a constituição do fundo de comércio para a
proteção do locatário e dar-lhe o direito a renovação compulsória. É indispensável o
atendimento de certos requisitos impostos pela lei, como a existência de contrato
escrito por prazo determinado e com duração mínima de cinco anos (admitindo-se o
somatório de prazos de contratos com vigências sucessivas ajustados por tempo
inferior) e a exploração do mesmo ramo de atividade nos últimos três anos, pelo
menos.
A outra hipótese que isenta o locador de aceitar a renovação é o caso de uso próprio
ou para a transferência de fundo de comércio existente há mais de um ano e do qual
seja detentor de mais da metade do capital social o locador, seu cônjuge, ascendente
ou descendente (art. 52, II), salvo se tratar de locação de espaço de shopping center,
caso em que não se verifica a possibilidade de retomada para a transferência de fundo
de comércio.
Na retomada para uso próprio, o ramo de atividade a ser explorada não poderá ser o
mesmo do locatário, salvo se a locação envolvia também o fundo de comércio e as
instalações a este inerentes.
Esse último diploma legal sofreu algumas alterações desde se sua entrega em vigor,
embora sem significativas modificações em termos de ação renovatória. Mas, é
conveniente lembrar que a Lei 11.276/2006 acrescentou o primeiro parágrafo ao art.
518 do CPC que introduziu a súmula impeditiva de recurso.
Vamos listá-los:
Enunciado 29:"O aluguel provisório a ser arbitrado na ação renovatória deve ser
contemporâneo ao início do contrato renovando, facultado ao locador, nessa ocasião,
oferecer elementos hábeis à aferição do justo valor."Ref: art. 72, quarto parágrafo do
art. 8.245/91. Aprovado por unanimidade.
Eventual cessão ou sublocação deverá ser expressamente autorizado pelo locador para
gerar o efeito previsto neste dispositivo legal, procedendo-se, se o caso, à notificação
prevista no art. 13, segundo parágrafo da Lei 8.245/91.
Se o imóvel locado for alienado, há que se atentar para o momento da alienação para
se definir o pólo passivo da demanda. Se a alienação do imóvel durante a vigência do
contrato locatício e antes da propositura da ação renovatória, o adquirente é que terá
legitimidade para responder ao pedido renovatório.
Como se sabe, além dessa hipótese, caso haja proposta de locação por terceira
pessoa em condições melhores e superiores as oferecidas pelo locatário, o locador
poderá alegar tal fato em contestação, chamando terceiro ao processo (vide art. 77,
inciso III do CPC) dado ao vínculo de solidariedade existente entre locador e terceiro
proponente em relação ao pagamento de indenização ao locatário (pelos prejuízos e
lucros cessantes em razão da perda do fundo de comércio).
A petição inicial além dos clássicos requisitos exigidos pelos arts. 319 do CPC, deve
conter de forma clara e precisa as condições da renovação locatícia (art. 71, VI),
especialmente no que tange ao novo valor do aluguel que deve retratar fielmente o
valor praticado no mercado imobiliário.
Por isso, é curial constar da exordial uma proposta de contratação tão completa
quanto possível a fim de permitir, pela sua leitura, a elaboração de uma minuta que
contenha todas as cláusulas necessárias à adequada disciplina da relação locatícia.
Nesse sentido, em caso de duração superior a dez anos, por determinação do art. 3º
da Lei das Locações deve ocorrer a necessária vênia conjugal, por significar um
verdadeiro ônus real (trazendo semelhança com o usufruto, por exemplo) consignando
assim uma norma nitidamente protetiva da família.
Contudo, caso haja estipulação de certa garantia, a petição inicial deverá ser explícita
quanto à essa em seu pedido de renovação, especialmente quando se dirigir a fiança.
De fato, é importante frisar que a fiança não é mera cláusula contratual, e sim um
contrato acessório e envolvendo partes diferentes, a saber: o locador, o locatário e o
fiador.
Lembrando-se que pela natureza da fiança que é contrato benéfico devemos aplicar-
lhe interpretação restrita, devendo haver expresso consentimento deste (e de seu
cônjuge se for o caso) seja para continuar como fiador, ou quanto as condições
estabelecidas para fiança.
Caso o fiador não for o mesmo da relação original, é importante que o autor indique
sua qualificação completa na petição inicial bem como indique provas substanciais de
sua idoneidade financeira.
Observe-se também que o art. 71 da Lei de Locações imputa ciosa lista de documentos
que deverão acompanhar a exordial, a título de prova.
Inovou a Lei de Locações pois admitiu outros meios de citação e intimação tais como
telex e o fac-símile, além do postal mediante AR (aviso de recebimento), e ainda, por
oficial de justiça.
Relevante também ressaltar o caráter dúplice da ação renovatória que significa que a
condição dos litigantes é a mesma, não se cogitando propriamente de autor e réu,
pois ambos assumem concomitantemente as duas posições em razão da pretensão
deduzida em juízo.
Ainda quanto a natureza dúplice da ação renovatória é importante observar que pode-
se afirmar que o réu não exerce direito a ação nas hipóteses de ação dúplice, sua
pretensão em verdade resta inserida no objeto do processo, desde a propositura da
demando pelo autor, devido a própria natureza do direito material discutido.
Não sendo renovada a locação, o juiz fixará o prazo de até seis meses após o trânsito
em julgado da sentença para a desocupação do imóvel.
Observando ainda que, a alteração de situação jurídica, a que o sujeito pode ter direito
consistirá em criar uma relação jurídica nova onde esta não existe em reconstituir uma
que existiu e deixou de existir, em modificar a relação jurídica existente ou em
extingui-la.
Lembrando que se requerido pelo réu em sua defesa, poderá ainda a sentença
decretará a extinção da locação, fixando prazo de até seis meses, para entrega do
imóvel .
Poderá também a referida sentença conter capítulos condenatórios referentes à
diferença entre os alugueres definitivos e provisórios e, ainda à indenização do
locatário em face da perda do fundo de comércio.
A sentença que vier a ser proferida fará coisa julgada entre as partes e disciplinará a
nova relação locatícia no tempo determinada, e o cumprimento da sentença segue
cristalizando em nosso ordenamento jurídico o processo sincrético com a efetivação da
sentença, sem a necessidade de instauração de um processo autônomo de execução.
Caso a renovação tenha sido obstada pela realização de obras ou retomada para uso
próprio e o locador, após três meses da retomada do imóvel, não tenha dado início
às obras determinadas pelo Poder Público, ou que se prontificou a fazer, ou não lhe
tenha dado o destinado pelo qual postulou a retomada (uso próprio) o locatário
poderá buscar a indenização assegurada pelo art. 52, terceiro parágrafo da Lei de
Locações, devendo fazê-lo através da ação própria.
(Giseli Leite)
Bons estudos!!