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(DOSSIÊ: PANDÊMIOS POLITIKÉ }

Rede Convida:
estendendo zelo e outros elos em
tempos de pandemia
Rede Convida:
extending care and other links in pandemic times

Bruna Pinto Martins Brito1


Elizabeth Medeiros Pacheco2
Luana da Silveira3

Resumo: Este artigo compartilha o desdobramento da experiência


processo de construção e gestão do compartilhada a partir das intervenções
projeto universitário de extensão, que produzimos, movides pelo desejo de
pesquisa e ensino, a Rede Convida, que cartografar planos de afetação e
articulamos enquanto docentes e produção de subjetividade e saúde
discentes. Sua proposta surge na medida implicados com as situações prementes
em que somos convocades a traçar e com que nos deparamos em nosso
inventar modos de enfrentamento e processo formativo. Nesta urdidura, o
cuidado perante a irreversibilidade das presente artigo tem como objetivo
mutações que nos tornam demonstrar como a Rede Convida se
contemporâneos de uma turbulência tão articula a outras redes de pessoas e
inédita quanto globalizante: a instituições para enfrentamento da
vulnerabilidade de nossos corpos, de COVID-19, visando também fomentar
nossas vidas. Acreditamos que o ensino e saberes e práticas transdisciplinares nos
a aprendizagem se dão como efeito e planos da escuta clínica, assim como da

1 Professora Adjunta do curso de Psicologia de Campos dos Goytcazes da Universidade Federal


Fluminense. Doutora em Psicologia (Programa de Pós-graduação em Psicologia /UFRJ/Bolsa CNPq).
Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia/UFRJ (Bolsa Capes). Possui
graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004). Membro do grupo de
pesquisa LAPSO (Laboratório de Psicanálise de Orientação Lacaniana/CNPq), Membro do GT da
ANPEPP Psicanálise em Redes, Membro da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). Co-
coordenadora da Rede Convida. Coordenadora do Projeto de Pesquisa “Invenções de dispositivos
clínicos em tempos de pandemia”, Coordenadora do projeto de extensão universitária “Atenção, cuidado
e redes de apoio a mães em sofrimento psíquico: construindo estratégias de enfrentamento frente aos
impactos da COVID-19”. E-mail: brunapmbrito@gmail.com
2 Professora Adjunta do Curso de Psicologia da UFF Campos dos Goytacazes. Co-coordenadora da

Rede Convida; Doutorado-Núcleo de Estudos da Subjetividade - PUCSP, 2012. Mestre em Subjetividade


e Clinica - UFF, 2006. Graduação em Psicologia - UFRJ, 1977. Formação em Corpo-análise com Gerry
Este é um artigo publicado em Maretzki, entre 1980-1986. Formação em Orgonoterapia com Federico Navarro no Instituto de
acesso aberto (Open Access) sob Orgonomia Ola Raknes/IOOR, entre 1989-1992. Formação no Método GDS com Ivaldo Bertazzo, entre
a licença Creative Commons 1995-1998. E-mail: elzbietah.elizabeth@gmail.com
Attribution, que permite uso, 3 É Professora Adjunta do curso de Psicologia da UFF - Campos dos Goytacazes, onde desenvolve
distribuição e reprodução em
qualquer meio, sem restrições atividades de ensino, pesquisa e extensão com foco em saúde coletiva/saúde mental, políticas públicas,
desde que sem fins comerciais e instituições e coletivos. Co-coordenadora da Universidade Aberta à Loucura- UAL; co-coordenadora da
que o trabalho original seja Rede Convida; coordenadora do grupo de pesquisa-intervenção em saúde mental e justiça - GPISMJ;
corretamente citado. supervisora de estágio na RAPS. Possui graduação em Psicologia pela UNISC (1998), especialização
sob a forma de residência em Saúde Coletiva pelo ISC/ UFBA (2002), Mestrado em Saúde Coletiva -
ISC/ UFBA (2008), Doutorado em Psicologia Social na UERJ (2013). E-mail:
luanadasilveira76@gmail.com
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formação e de agenciamentos de redes Introdução
comunitárias e de solidariedade. Por se
Neste artigo, coloca-se em análise o
tratar de um projeto em andamento,
processo de criação e gestão de e/ em
nossas considerações finais versam sobre
rede frente às emergências atuais. A
alguns impactos desta iniciativa e os
Rede Convida nasce de uma iniciativa de
caminhos possíveis a seguir.
docentes do curso de Psicologia da
Palavras-chave: pandemia; práticas de Universidade Federal Fluminense (UFF)
cuidado; rede; vulnerabilidade. Campos, profissionais da rede atenção
psicossocial e de saúde pública de
Abstract: This article shares the process Campos dos Goytacazes-RJ,
of building and management of the profissionais liberais, inclusive egresses
university project for extension, research do curso e estudantes de psicologia,
and teaching, Rede Convida, which we visando promover ações educativas,
articulate as teachers and students. Its apoio a redes comunitárias e acolhimento
proposal arises to the extent that we are on-line de profissionais de saúde e
called upon to devise and invent ways of pessoas em situações de vulnerabilidade
coping and caring in the face of the frente à situação da pandemia da
irreversibility of technological mutations doença COVID-19. Apesar de este tema
that make us contemporaries of a ter sido exaustivamente debatido em
turbulence as unique as it is globalizing: diversos artigos recentes, em uma busca
the vulnerability of our bodies, of our na base de dados Scielo com as palavras
lives. We believe that teaching and “pandemia” e “COVID-19”, encontramos
learning take place as an effect and 21 artigos publicados por autores
unfolding of the shared experience from brasileires no campo da psicologia,
the operations we produce, driven by the porém, não encontramos nenhum artigo
desire to map plans of affectation and que relate atividades de extensão
production of subjectivity and health universtária1 voltadas para a pandemia
involved with the urgent situations that we da COVID-19 no Brasil. Desse modo,
face in our faculty process. In this warp, entendemos que este artigo traz
this article aims to demonstrate how Rede contribuições da extensão universitária
Convida articulates itself with other entrelaçadas com pesquisa e ensino às
networks of people and institutions to práticas em psicologia e saúde mental.
face COVID-19, also to foster
transdisciplinary knowledge and Este projeto surge logo no início da
practices in terms of clinical listening, as pandemia, em março, aprovado
well as training and management of enquanto extensão universitária em abril
solidarity and community networks. As de 2020, e logo se torna pesquisa e
this is an ongoing project, our final extensão com ações de ensino. Somos
considerations are about some impacts of convocadas a propor tal projeto na
this initiative and the possible paths to be medida em que estamos diante da
followed. suscetibilidade universal de contrair o
vírus Sars-Cov-2, porém com distinções
Keywords: pandemic; care practices; quanto à vulnerabilidade frente ao
network; vulnerability. mesmo e possibilidades de intervenção. É
o que nos alertam Akerman e Pinheiro2,

1 Disponível em scielo.org.br.
2 AKERMAN; PINHEIRO, Covid-19.
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a partir da diferença dos termos indígenas, efeito direto do racismo
epidemiológicos, posto que a estrutural que marca nossa sociedade.
vulnerabilidade frente à doença não é Nesse sentido, Passos4 nos aponta alguns
igual para todes devido às nossas dados que denunciam a alta
diferenças históricas de classe e gênero, mortalidade da população negra, fruto
acentuadas pelo racismo estrutural. do racismo estrutural, como anterior à
Desse modo, as medidas de isolamento e pandemia: óbitos maternos são mais
distanciamento social no Brasil altos entre mulheres negras do que em
evidenciaram situações de privilégio de não-negras, assim como de adolescentes
condições para tal. Para ilustrar, negros mortos por homicídios, entre
podemos recorrer aos dados do Índice outros. Nesse sentido, a autora afirma
de Isolamento Social, realizado pela que “essa marca étnico-racial molda a
Inloco que demonstra que o percentual sobrevivência e as condições da
chegou a 62,2% em 22 de março, população brasileira”.5
enquanto no último levantamento este
percentual é de 32,2%3. Frente à pandemia, essa situação se
agrava:
Para compreender a vulnerabilidade
No Brasil, em que pese a ausência das
distinta frente à COVID-19 (Corona Virus informações desagregadas por raça ou etnia
Disease 2019), podemos destacar alguns ou que quando coletada apresenta um
pontos. O primeiro deles se refere a preenchimento precário, sabe-se que negras
e negros irão sofrer mais severamente os
profissionais de saúde e de serviços impactos da pandemia e seus vários
essenciais enfrentando diariamente a desfechos negativos, considerando o histórico
de ausências de direitos. Aliado a isto, dados
pandemia, muitas vezes, sem condições nacionais têm apontado a maior prevalência
de segurança, como ausência de de doenças crônicas e negligenciadas entre a
equipamentos de proteção individual população negra, resultado da maior
vulnerabilidade social e econômica na qual
(EPI’s), o que também se torna vetor de ela está exposta e ao menor acesso aos
transmissão. Um segundo ponto a ser serviços de saúde. 6
explicitado diz respeito à
Diante da inexistência de equidade de
impossibilidade de todes realizarem um
condições socioeconômicas, deparamo-
isolamento e distanciamento social, como
nos com cenários muito distintos de
ocorre em favelas e comunidades
pandemia no contexto brasileiro. Nesse
periféricas em que muitas pessoas
sentido, podemos afirmar que “Não
partilham o mesmo espaço, locais
estamos no mesmo barco”, como pontuam
marcados pela ausência das mínimas
Akerman e Pinheiro7. Em referência ao
condições de higiene (devido à falta de
famoso naufrágio do Titanic, o texto nos
condições sanitárias básicas), facilitando
lembra que “o lugar que se ocupa na
o rápido contágio. Junto às questões
sociedade importa no seu risco de
distintas de classe, há ainda as questões
morrer”.8
implicadas ao racismo estrutural
considerando a população negra como a Neste contexto de pandemia com tantas
mais afetada, como também os povos desigualdades, iniquidades,

3 Dados fornecidos pela Inloco e disponibilizados em: https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/.


A última atualização visualizada pelas autoras é de 29 de outubro de 2020.
4 PASSOS, A carne mais barata do mercado é a carne negra.
5 PASSOS, A carne mais barata do mercado é a carne negra, p. 91.
6 GOES; RAMOS; FERREIRA, Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19, p. 3.
7 AKERMAN; PINHEIRO, Covid-19.
8 AKERMAN; PINHEIRO, Covid-19.

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vulnerabilizações biopsicossociais, como projeto se propõe a realizar atividades
fica a saúde mental? A Organização de pesquisa, ensino e extensão,
Mundial de Saúde (OMS) alertou considerando ainda a indissociabilidade
recentemente sobre os graves efeitos da entre formação e intervenção.
pandemia na saúde mental. Situações de Defendemos que a formação deve ser
isolamento social ou impossibilidade do considerada como
mesmo, o medo constante do contágio, a
o exercício prático de experimentação no
sobrecarga de trabalho de profissionais cotidiano dos serviços de saúde com os
de saúde e os processos múltiplos de luto, diferentes sujeitos que o compõem, como um
dentre outras situações, colocam as exercício indissociável da experimentação,
do convívio, da troca em situações reais, com
questões de saúde mental em cena. A a qualidade e intensidade desta troca que
partir disto, a OMS lançou um documento favorece processos formativos. O que requer
discutir o plano da clínica na sua
sobre a necessidade de políticas de inseparabilidade da filosofia, da arte, da
saúde mental frente a pandemia da ciência, e da política.11
COVID-19.9 Afinado a esta proposição,
o presente projeto encontra-se alinhado Desse modo, o compromisso ético da
com as recentes diretivas desta instituição psicologia nos conduz à proposição de
ao discutir e elaborar propostas de ação atividades de pesquisa-intervenção que
de promoção de saúde mental e fazer possibilitem interrogar e avançar em
clínico, considerando questões político- busca de modos inventivos de dispositivos
sociais, de classe e racializadas. clínicos neste contexto atual,
considerando o entrelaçamento de
Podemos afirmar que a Rede Convida é saberes, a pluralidade psi em um
convocada a um trabalho que considera contexto pandêmico. Para tal, é preciso
a vulnerabilidade distinta bem como a desvelar as desigualdades socio-
diversidade nos modos de existir e econômico-raciais e a insuficiência de
resistir a pandemia. Demarcamos que a políticas públicas que contemplem a
Rede Convida se estabelece como um complexidade desta crise sanitária que
projeto interseccional. A assola nosso país.
interseccionalidade nas palavras de
Akotirene, Ademais, é crucial nos atentarmos às
vulnerabilidades e vulnerabilizações
visa dar instrumentalidade teórico- psíquicas que a pandemia suscita e/ou
metodológica à inseparabilidade estrutural
do racismo, capitalismo e
acentua. Como propor isolamento e
cisheteropatriarcado – produtores de distanciamento social como segurança
avenidas identitárias em que mulheres negras sanitária àqueles com os quais vem sendo
são repetidas vezes atingidas pelo
cruzamento e sobreposição de gênero, raça e construídas políticas públicas e de
classe, modernos aparatos coloniais.10 cuidado, através de redes de apoio e
agenciamento, circulação e produção de
Lançar mão da interseccionalidade
autonomia como produção do cuidado
prevê, então, o compromisso com
de si e de outres? Partindo de princípios
práticas que enfrentem e acolham o
antimanicomialistas e antiproibicionistas,
sofrimento psíquico em tempos de
com dispositivos de acompanhamento
pandemia a partir das questões de
terapêutico e redução de danos, o novo
gênero, raça e classe. Por isso, este
imperativo de cuidado “isolamento/

9 WORLD HEALTH ORGANIZATION, Policy Brief.


10 AKOTIRENE, Interseccionalidade, p. 14.
11 BRITO; SILVEIRA, Entre nós e redes, p. 134.

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distanciamento” coloca o encontro como corpo no entre-corpos como modos de
“antiético” e ameaçador. Que efeitos no produção de saúde, colocando em cena
processo de subjetivação esse imperativo os processos de subjetivação que nos
produz? Que questões convoca à convidam a arriscar uma experiência de
Psicologia para repensar suas análise crítica das formas instituídas, o
intervenções sociais? O que pode a que nos compromete ética e
universidade pública no contexto politicamente a inventar e apostar.
pandêmico?

Deste modo, podemos afirmar que a Vírus mundo


Rede Convida se gesta na urdidura [...] e te mostrarei algo que não é a tua
dessas indagações, procurando abarcar sombra matinal andando atrás de ti nem tua
sombra vespertina vindo a teu encontro;
as situações prementes com que nos mostrarei teu medo num punhado de poeira.
deparamos em nosso processo formativo, T. S. Eliot, The waste land
enquanto estudantes e professores do
campo transdisciplinar da saúde mental. Apenas duas décadas atravessadas na
Para tal, temos articulado redes de virada de século XX-XXI e somos
pessoas e instituições para o arremessades para fora da medida
enfrentamento da COVID-19, como temporal de década ou século,
também temos fomentado saberes e arrebatades por uma urgência que nos
práticas transdisciplinares nos planos da remete à escala de eras.
escuta clínica, da formação e de Nada do que já pudemos circunscrever
agenciamentos de redes comunitárias e por nossas ciências como campo do
de solidariedade. conhecido, medido ou avaliado, nos
Tais intervenções corroboram com o oferece o domínio racional de tamanho
entendimento da universidade pública acontecimento; nenhuma das estratégias
como responsável pela produção de de guerra com as quais já estivemos
conhecimento em co-gestão com os submetidos a horrores e gloríolas nos
sujeitos concretos (alunes, profissionais, permitem enfrentar a pervasão de uma
usuáries) e suas diferentes demandas. O potência tão mais eficiente quanto
que implica em estarmos atentas à incapturável: Um vírus, CORONA vírus,
complexidade e à dinâmica da inumana realeza, anônima ironia.
pandemia e fazermos escolhas teórico- Impasse radical da antropocena que se
metodológicas que expressem e vê demolida de sua centralidade e
inventem um campo de interlocução entre convocada a restituir o plano de
os saberes, indissociados de um método, composição entre humano e cósmico, o
de um modo de fazer a formação12. que se apresenta como a noção de
Essas escolhas são sempre ético-estético- Mundo, muito mais complexa do que a
políticas. desterritorializada noção de Terra. Dizer
Assim, enquanto processo co-gestor de mundo implica abarcar a multiplicidade
constituir e se constituir em rede, de vidas e modos de existir e modos de
procuramos entrelaçar projetos das habitar, que vão além dos meios
docentes envolvidas, pelas bifurcações investidos por tropismos vegetais e
da clínica on-line, da atenção psicossocial instintos animais, vão até os extremos da
em novos territórios e pela potência do responsabilidade ética e política da

12 HECKERT; NEVES. Modos de formar e modos de intervir.


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invenção de mundos e modos de "O passado de outrem, que nunca foi
existência diversos. meu presente, me diz respeito, não é
para mim uma re-presentação. O
A dimensão pandêmica de contágio e passado de outrem e, de algum modo, a
letalidade que a atual ameaça configura história da humanidade, da qual jamais
se contrapõe à escala do ínfimo, do participei, à qual jamais estive presente,
invisível de seu agente - um vírus, como é meu passado".
tal, mutante, em exponencial
reprodução. Paradoxo entre - um mega Mas a essa convocação não
efeito de um micro mundo. Paradoxos respondemos todes com a mesma
nos convocam ao fora do representável, empatia. O horror com que racistas e
como desafios a percorrer em implicação fascistas continuam a oprimir toda sorte
plena. Paradoxos nos forçam a de coletivos e comunidades parece ter se
problematizar. multiplicado através das redes das
tecnologias da comunicação, com o
Essa dobra promovida pelas tecnologias agravante de ser também incentivado
da informação e sua política por violência de Estado que expõe as
comunicacional oriunda dos meados do populações de favelas e periferias a
séc. XX, veio a culminar num assédio policial.
tecnocentrismo digital e sua imagem de
mundo como aldeia global, capturada Contudo, é nesta emergência das redes
pelo capitalismo mundial integrado que somos surpreendidos pela
(CMI)13 como sociedade de comunicação ubiquidade não de nossos corpos, mas do
que exerce seu controle através de vírus que, na Pandemia, nos implica a
ampla rede linguística. Ocorre que este todes e qualquer um a estarmos lançados
ideal, onde supostamente estaríamos num mesmo mar - sendo que alguns de
todes conectáveis, se revelou por seu navio, outres de barco, outres ainda de
avesso: Estamos todes, e qualquer um, jangada e a maioria a nado. Se a
contagiáveis. O que nos remete à vulnerabilidade dos corpos nos colocaria
condição de "comum", portanto, não é o em igualdade perante o vírus, a
poder das tecnologias da comunicação, fragilidade das vidas não apresenta
mas o plano comum de nossa nenhuma similitude.
vulnerabilidade. A condição hegemônica
de sermos corpos, inextricavelmente Esta pandemia tem sido o melhor
implicados entrecorpos. analisador político de nossas diferenças
em relação às condições de viver e de
O terror cometido repetidamente por morrer, que produzem corpos mais e
racistas de toda sorte há séculos, como menos suscetíveis ao risco de contágio e
genocídio de povos ancestrais, o terror às chances de cuidado e salvamento
cometido por fascistas e nazistas e suas adequados. Aí moram as profundas
massas que levaram ao extermínio desigualdades, acentuando a
judeus, ciganos no séc. XX, convocava vulnerabilidade dos corpos cujas vidas se
nossa responsabilidade ética a incluir, encontram condenadas ao racismo de cor
como nossa, a dor e o passado de e de classe. Os epidemiologistas podem
outrem, mesmo não tendo feito parte de mostrar os resultados de pesquisas, cujas
nossa vida; nas palavras de Lévinas:14 estatísticas comprovam a repercussão do

13 GUATTARI, As Três Ecologias.


14 LÉVINAS, Entre nós, p. 157.
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comando sanitário unânime da OMS medida, que estamos convocades,
"fique em casa" e a cruel situação de enquanto professores e professoras,
moradia urbana em países como o Brasil, estudantes e profissionais da saúde, a
onde pelo local e pelas condições de indagar e, simultaneamente, construir os
moradia já sabemos a quais direitos as caminhos e as condições da educação
pessoas terão ou não terão acesso. para este momento intempestivo em seus
Grande parte da população habita em diversos domínios.
condições de extrema insalubridade e
concentração humana de modo a não ser O corpo não mente, e contraímos
possível manterem-se juntes todas as memórias dos afetos que perpassam
pessoas que habitam a mesma casa e nossos encontros alegres ou
garantir alguma resistência psíquica. O constrangedores, mantendo as marcas de
comando razoável para evitamento do toda situação vivida. Dizer saúde mental
contágio pelo vírus se torna inviável para não exprime a velha dissociação entre
manter os afetos no limite do mente e corpo mas, longe de alienar o
compartilhável. Além disso, "fique em corpo dos processos de subjetivação,
casa" é passível de ser respeitado para acolhe como diversos e inseparáveis
quem tem, minimamente, a garantia de ambos regimes de expressão: o psíquico
alguma condição financeira para e o corporal enquanto inscrições do
sobreviver sem sair de casa para socius.
trabalhar. Não é o caso da maioria da A abertura do ano letivo após as férias
população brasileira. O que afeta de verão deste 2020, paradoxalmente
sobretudo as mulheres, que estão em coincidiu com a suspensão de qualquer
diversas linhas de frente, com aumento atividade presencial quando, em 16 de
da sobrecarga em casa, com funções do março, foi decretada a quarentena pela
cuidado considerado como feminino, com evidência de uma pandemia. A partir de
o desemprego gerado pelo acúmulo de então, num primeiro momento
funções e com a perda de rede de apoio, atordoades pela urgência e incerteza de
tais como creches e escolas, fechadas na como proceder em tal situação extrema,
maioria dos municípios durante a nos organizamos por volta de estudar e
pandemia. Estima-se o retrocesso de uma pesquisar como e o que fazer para nos
década em relação ao mercado de cuidarmos e podermos também oferecer
trabalho, inserções e conquistas. cuidados. Constituímos a rede neste
Diante deste quadro alarmante de percurso de buscar o como e o que fazer
incapacidade política de responder às de modo a agenciar as diversas
exigências sanitárias desta pandemia, maneiras de pertencer e participar como
será preciso cuidar de não agravar a discentes, docentes, formandos, e outros
pressão cotidiana a que estamos espaços de pesquisa.
constritos. Este momento não supõe um Nessa perspectiva, as atividades da
depois, já que nos falta qualquer pesquisa O corpo sem alibi, se
parâmetro para sua superação e isto nos desdobram em uma articulação com a
remete à condição mais animal de rede convida, e com a rede
presentificação da vida. A vida no cabrucannabis a partir do momento de
regime do agora cotidiano. A vida no formação da rede convida, como uma
ritmo do sol a sol. Assim, não cabe às das modalidades de atendimento, em
instituições impor metas de futuro modo grupal, aberto, visando a
próximo ou a médio prazo. E é, nesta experimentação de práticas de si que
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possam acolher tensões, torpores, modalidade, semanal, aberta para
angústias pelo viés da memória dos estudantes da UFF participantes ou não
afetos inscrita nos corpos e repercutindo da Rede Convida, profissionais voltades
nos gestos, pedindo passagem para as questões da saúde e da vida no
expressiva. cotidiano anômalo impresso pela
pandemia. Ambas as modalidades se
Daí surgiu a proposta para nós, grupo de passam, com 2hs de duração, 80 minutos
pesquisa "sem álibi", (apelido do projeto de práticas e 40 minutos de espaço para
que se iniciou em set. 2014, junto aos compartilhamento das experiências entre
alunos de Psicologia da UFF Campos) participantes. A cada encontro, a
tomarmos a tarefa de inventar um tentativa está em nos abrirmos às
possível para nossas oficinas na práticas corporais, numa tentativa de
modalidade on-line, através desse grão desnaturalizar as marcas dessa
de convivência semanal compartilhada prontidão à ação e demandas que se
no regime remoto, explorando a inscrevem em nossos corpos convocados
invenção heterotópica do encontro, fora por relações, hábitos e contratos já
do regime da comunicabilidade social incorporados como sofrimentos
compulsória. Buscamos valorizar a inevitáveis ao modo de vida
potência dos afetos de estranhamento, contemporâneo. Não visamos nem
pois estranhar é não poder permanecer desempenho, nem treinamento por
o mesmo. Tal proposta está implicada ao exercícios físicos, mas ativações da
momento disruptivo provocado por esta escuta corporal que se voltam à pulsação
pandemia e procura manter o caráter de política e biofísica de nossos corpos,
dispositivo de acolhimento e de cuidado tornando unânime a vontade de
de si oferecidos através da Rede compartilhar as experiências, numa roda
Convida, em sua ampla abrangência. de conversa ao final: Tempo de
Desde 11 de junho de 2020, quando nos pensamento vivo - afinal afetos pensam
sentimos já mais situadas em relação ao e fazem pensar.
que já experimentávamos entre nós, O encontro é intenso, embora virtual, por
participantes da pesquisa "sem álibi", celular, ou por computador, mas todes
passamos a oferecer as oficinas e assim em tela, com inimaginável vontade de
pretendemos prosseguir, enquanto compartilhar as experiências vividas
vigorar a prescrição de recolhimento durante as práticas, sendo formada uma
durante a pandemia. Buscamos roda de conversa após o encontro. E é
favorecer a produção de afetos potentes fácil notar a leveza e energização após
contra o niilismo que nos assombra nestes cada encontro. Essa troca de
tempos de incerteza e privação das experiências corporais permite evocar os
formas de vida, considerando o afeto de conceitos produzindo, também,
confiança, um potente analisador, um conhecimento teórico; contudo, o
afeto valioso na dimensão ética de diferencial está em afetar alunes na
cuidado, para que se favoreça a produção de conhecimento a partir de
experiência efetiva de constituição de suas vidas em estado de reconstrução, na
novos territórios existenciais. maneira de se reterritorializarem na
Essas oficinas acontecem, em duas situação de emergência e suspensão
modalidades: quinzenal para atividades promovida pela pandemia, uma
lúdicas com mães de crianças atendidas operação de construir mundo com outres
pelo coletivo Cabruncannabis e outra em um cotidiano inusitado. Dessa forma
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temos podido partilhar relatos e criação do comum, de novos contratos
narrativas de quem frequenta as terapêuticos, em que as fronteiras entre
oficinas, como um valor e suas vidas e a vida pública e privada estão borradas
não apenas pertinente à vida e invadidas por sons, ruídos, olhares,
acadêmica. ambientes distintos das referências
tradicionais ou mesmo do atendimento
on-line pré-pandemia. Novos contratos
On-line enreda e enredos
forjam contatos possíveis, o que torna
A aposta na integralidade – princípio e diferente, nem menor nem igual ao que
diretriz do SUS –, e na formação- tínhamos como referência de trabalho e
intervenção implica a construção de de encontro.
redes que potencializem movimentos de
mudança por meio da problematização Cartografar processos em que estamos
dos modos instituídos de cuidar e gerir, e imerses, enredades pelas tramas das
na materialização da integração ensino- mudanças e convites a outras, deslocam
serviço-comunidade. Propicia modos de referenciais, derrubam fronteiras e criam
fazer a formação que se construam via a outras, alterando profundamente as
indissociabilidade entre cuidar, gerir e experiências com o espaço-casa,
formar em perspectiva transdisciplinar, espaço-rua, espaço-trabalho. A
pois como afirma Benevides:15 “é no experiência com o tempo também é
entre os saberes que a invenção alterada, ao se fundir tempo de trabalho
acontece, é no limite de seus poderes que e tempo livre, em que cessa a alternância
os saberes têm o que contribuir para um dos vários tempos sociais e surge a
outro mundo possível, para uma outra percepção do dia, onde praticamente
saúde possível”. falta a suspensão, especialmente para
aqueles que foram jogados para
A cartografia, enquanto método universo do homeoffice numa espécie de
escolhido em nossa pesquisa-intervenção, disponibilidade on-line full time.
se coloca como possibilidade de
acompanhar processos que exigem Como pesquisadores, as técnicas nos
invenção do cotidiano, produção de um afetam, nos transformam, em uma dupla
corpo individual e coletivo que possa conexão de vetores e forças, por um
lidar com as exigências de isolamento e processo de constituição recíproca.
distanciamento social, com o Depende de uma disponibilidade,
deslocamento do medo paralisante para engajamento, agenciamento e
a consciência sanitária do risco individual mobilização dos afetos, o que requer a
e coletivo. O que afeta a todes, de dissolução dos pontos de vista, em uma
modos distintos, mas é impossível passar relação intensiva de estar com e não
imune e impune a esse processo sobre, onde ninguém é o fundamento.
turbulento. o que nos convoca a efetuar a passagem do
lugar de um, enquanto sujeito único, ao lugar
Diante do caráter irreversível que a de um enquanto um modo: ao invés de uma
pandemia nos impõe, a virtualização dos dor, um modo de doer, de um desvario, um
modo de desvairar, de uma trajetória, um
modos de ensino e atendimento, modo de traçar - onde, então, podemos
expressa o paradoxo do limite da começar a vislumbrar a partilha de modos
que configuram a emergência de uma
segurança sanitária e possibilidade de subjetividade reverberando para além de

15 BENEVIDES, A psicologia e o sistema único de saúde, p. 4.


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uma pessoa, que se apresenta então como um solidariedade e responsabilidade
modo de sentir, pensar, agir e viver.16
coletiva.
Não sabemos o quanto podemos afetar
A Rede Convida, inicialmente constituída
e ser afetades. Criar dispositivos para
pelos Grupos de pesquisa-intervenção
acolhimento e atendimento on-line gera a
em Saúde Mental e Justiça, pela
abertura ao desconhecido, outras
pesquisa Corpo Sem Álibi, pela pesquisa
naturezas de encontro. Envolvides por um
“Invenções de Dispositivos clínicos em
jogo de afetações, somos convocades a
tempos de pandemia” e a extensão
refletir sobre o quanto a pesquisa é uma
universitária “Atenção, cuidado e redes
questão de fé e de confiança, portanto,
de apoio a mães em sofrimento psíquico:
exige que analisemos as expectativas, o
construindo estratégias de enfrentamento
papel da autoridade do pesquisador, o
frente aos impactos da COVID-19”, tem
papel dos eventos, que autorizam e
se articulado com: 1. UFF Campos: 1.1
fazem coisas virem a ser. Grupos de
Centro Acadêmico de Psicologia e 1.2.
whatsapp, lives, rodas de conversa on-line
Diretório Central de Estudantes- ação
ganham novos lugares de conhecimento
das cestas básicas e acolhimento
vivo, possibilidade de contato, contrato,
psicológico e 1.3. Pretas psi- acolhimento
encontros, enquanto um processo de
grupal; 2. Setor de psicologia do IFF
transformação recíproca, de
Campos e Cabo Frio: apoio à
pesquisadores e de pesquisades, de
comunidade quilombola e saúde mental
professore e de alune, da universidade e
institucional; 3. ADUENF- UENF; 4.
da comunidade, de terapeuta e usuárie,
Profissionais da rede de atenção
em um processo de afetação mútua.
psicossocial de Campos- apoio
Existir é variar em nossa potência de
institucional e matricial; 5. Nação
agir, entre subidas, descidas, elevações
Basquete de Rua- NBR- ações de redes e
e quedas.17
solidariedade e formação; 6. Coletivo
Perante a vulnerabilização suscitada Cabrucannabis: formação, orientação e
pela pandemia, que acentua encaminhamento para tratamento com
desigualdades, e os retrocessos das cannabis medicinal; 7. Coletivo de
políticas públicas, constituem-se redes mulheres Nós Por Nós- atendimento
comunitárias e de solidariedade como psicológico e apoio jurídico; 8.
saídas possíveis às crises, rompendo com Profissionais liberais/voluntáries de
o assistencialismo histórico e produzindo Campos, Macaé, Rio, Baixada, Salvador:
agenciamentos com pessoas, instituições atendimento psicológico, médico,
formais e informais. Diante do aumento psiquiátrico, terapia ocupacional e yoga.
da pobreza nos últimos anos, agravada
O processo de criação e gestão de
com a pandemia, ações de arrecadação
processos de ensino, pesquisa e extensão
e distribuição de cestas básicas, vakinhas
em rede, para nós enquanto autoras e
on-line, etc. se tornam emergenciais para
articuladoras de grupos e ações, tem
viabilizar a sobrevivência mínima e
colocado questões importantes tais como:
cuidado necessário de prevenção ao
o que é território de intervenção? Como
coronavírus. Tais ações deslocam a lógica
produzir encontros, oferecer presença e
da caridade, que mantém a piedade e
cuidado, incitar redes sem aumentar
racismo de classe, para a ética da
riscos? Acompanhar as discussões no

16 PACHECO, Dos poros ao sopro, p. 89.


17 DESPRET, The body we carefor.
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grupo de pesquisa “Invenções de tem como principal meio de atuação o
dispositivos clínicos em tempos de território, junto com usuáries, familiares e
pandemia” e as invenções do grupo de pessoas outres, em busca do processo de
saúde mental e justiça que se articulam desinstitucionalização como produção de
com a Rede Convida, nos fornecem pistas autonomia e saúde, convivência
importantes para tais questões. comunitária e ocupação da cidade.
Tendo que lidar com a suspensão e
Sobre o grupo de pesquisa “Invenções de limitação impostas pela pandemia, fora
Dispositivos clínicos em tempos de preciso a criação de outros modos de se
pandemia”, nossas discussões, em fazer presente e atuante. Atuando como
encontros semanais virtuais, são intercessor e articulador de redes de
pautadas nos desafios de práticas psi, a saúde, sociais e afetivas, na perspectiva
partir de estudos interseccionais. É uma da pesquisa-intervenção, o projeto
aposta em uma ferramenta cartografa e contribui para a formação
metodológica para compreensão do ética-política e de estudantes de
cenário pandêmico, entendendo este psicologia, para a indissociabilidade
como indissociado das questões de raça, entre clínica e política, para o
gênero e classe. Este espaço de estudo e compromisso social da universidade com
compartilhamento de práticas e afetos, as demandas das pessoas
tem se transformado em um potente vulnerabilizadas pelos marcadores de
espaço de formação de estudantes e sofrimento psíquico, gênero, raça e
profissionais, pautados em uma classe.
psicologia comprometida com as lutas
antirracista, antimanicomial e O decreto de uma pandemia é o evento
antiproibicionista. trágico que nos possibilita refletir sobre
o cuidado em liberdade para promoção de
Outra iniciativa, vinculada à Rede autonomia e expansão de redes como um
Convida, se refere a atualização e dos fundamentos de trabalho e cuidado
invenção de saberes e práticas do grupo e saúde mental. As ruas nunca foram um
de pesquisa-intervenção saúde mental e espaço seguro para usuáries de drogas
justiça da UFF Campos18 que acompanha e dos serviços de saúde mental,
pessoas em situação de sofrimento especificamente quando se trata de
psíquico grave que sofrem medidas usuáries pobres e negres. Na atual
judiciais, tais como a curatela e histórico conjuntura, a repressão policial se
de internação compulsória, intensifica sobre esses corpos. O que
encaminhadas pelo Ministério Público e representa usuárie negre de máscara
pela RAPS. Com a pandemia pela andando na rua? Pensar as ruas como
COVID-19, novos desafios surgiram para território (im)possível, estando em um
o acompanhamento terapêutico-AT, que contexto pandêmico, em que estas se

18 Este grupo existe desde 2015 como desdobramento do grupo de estudo criado em 2014 e do projeto
de extensão em desinstitucionalização, temos produzido novas tecnologias e dispositivos de cuidado
através do acompanhamento terapêutico (AT). Conforme Brito e Silveira (Entre nós e redes: experiências
de formação-intervenção para a saúde mental e atenção psicossocial) trata-se do acompanhamento de
usuáries de saúde mental através da atenção domiciliar e da articulação com os pontos de atenção da
rede, por meio da construção de um projeto terapêutico singular (PTS) com usuáries, familiares e
profissionais desde as resoluções cotidianas à circulação na cidade, fortalecendo os laços ao
conhecermos o território e seus itinerários terapêuticos (PALOMBINI, Acompanhamento terapêutico). Este
grupo tem problematizado os atravessamentos sobre a produção do “louca perigosa”, considerando o
controle e a dominação exercidos sobre estas, a partir do saber/poder psiquiátrico e jurídico na
execução de sanções como: medida de segurança, internação compulsória e interdição/ curatela judicial.
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tornam ainda mais perigosas pela precária e pequena para quantidade de
grande possibilidade de contágio do residentes caso alguém adoeça?
vírus, é pensar na saúde da população
mais vulnerabilizada. Como garantir que Entre acompanhades, a vulnerabilização
as andanças, circulação e encontros se social é um fator constante. Para a
deem de modo seguro? Como não cair na COVID-19, conforme apontam Karol e
armadilha do “Fique em casa” para Silva19, esse é mais um fator de risco. E
justificar o isolamento histórico a que assim, as vulnerabilizações e violências já
estas pessoas são submetidas em nome presentes no cotidiano das pessoas
do cuidado e em defesa da sociedade acompanhadas tomam novas formas, e
que os têm como essencialmente as medidas de controle do vírus
perigoses? Como reverter o sentido da disfarçam a necropolítica, a política de
experiência de isolamento como produção de morte e controle dos corpos
confinamento para afetiva e efetivamente considerados descartáveis20, como a
cuidado e proteção? Como orientar para população negra, comunidade Lésbicas,
que fiquem em casa, quando as relações Gays, Bissexuais, Transexuais/Travestis,
territoriais eram (e são) as apostas de Queer, Intersexo, Assexuais e mais
cuidado? Era urgente criar novas (LGBTQIA+), mulheres, idoses, pessoas
possibilidades justamente pela situação com sofrimento psíquico e usuáries de
emergencial e evitar riscos de contágio, drogas. Assim, fora preciso reafirmar
adoecimento, desassistência, entre garantias mínimas de proteção e acesso
outros. Portanto, pensamos em como a serviços para que essas pessoas não
ofertar presença à distância pela dupla fossem esquecidas devido ao
ou grupo de acompanhantes terapêutices sufocamento de tais serviços, diante da
(AT) e redutoras de danos, e mediada sobrecarga de novas e antigas
através de tecnologias, para contato demandas.
direto ou indireto via rede de apoio. Assim, desde março tem havido a
Nesse processo, esbarramos com intensificação na relação estabelecida
problemáticas anteriores, tais como não com os serviços de referência de cada
acesso a direitos básicos, bens e serviços. usuárie, que se tornou primordial para
Com a pandemia, a desigualdade social que a oferta de atenção pudesse se
escancara-se ainda mais, trazendo manter ativa, promovendo análises
questões urgentes, posto que pessoas já extremamente necessárias acerca da
em situação de vulnerabilidade social sobrecarga e precarização dos serviços
ficaram mais expostas aos riscos de e das práticas em saúde mental da
contaminação, visto o não acesso a cidade e ativar redes no território, já que
materiais e serviços necessários para a em sua grande maioria, são pessoas com
proteção. O que fazer quando a RAPS frágeis vínculos familiares e em intenso
não dá conta de cobrir todo seu sofrimento.
território? Como conversar sobre higiene
pessoal e prevenção ao vírus, quando Com o distanciamento e a presença nos
uma família inteira compartilha a mesma serviços substitutivos se tornando menos
toalha, única na casa? Como pensar frequente e mais pontual, sem a
isolamento social quando a moradia é convivência grupal, antigas e
importantes demandas puderam ser

19 KAROL; SILVA, Da geografia da população à necropolítica.


20 MBEMBE, Necropolítica.
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retomadas, como a de ter uma casa largos no Brasil e na cidade que
minimamente equipada, caso de uma das exercemos nosso trabalho.
pessoas acompanhadas. Por isso,
acredita-se que a pandemia é, Em meio à angústia e à insegurança
paradoxalmente, um momento de estar frente à imprevisibilidade do momento, e
ainda mais próximo, pois intervém o medo que atravessa a todes,
naquilo que gera a insegurança, solidão, possibilitar acesso a meios de
vulnerabilidade e outras. Questões comunicação como celulares e, entrar em
antigas se atualizam como a lógica da contato através dos mesmos àquelas que
periculosidade/ incapacidade que já o tinham, fora uma das estratégias
atravessa tais sujeites e o medo social, já possíveis para fazer-se presente, ofertar
que somos todes contagiáveis, o inimigo- escuta, orientações e mediar o acesso a
vírus se converte naquele considerade serviços e a políticas de assistência, como
incapaz de se cuidar e que oferece risco o auxílio emergencial, benefício instituído
de contágio social: inimigue-hospedeire. pelo Estado em tempos de calamidade,
para possibilitar garantias mínimas de
Dentre as dificuldades mais pungentes, vida diante do contexto.
conseguir contato com pessoas que
acompanhamos, posto que estas não Além disso, em algumas situações, devido
estavam indo ao serviço de referência e à demanda e possibilidade das AT´s, em
não possuíam telefone ou outro meio que diversos momentos fora preciso fazer o
viabilizasse o nosso contato, representou encontro presencial, com todos os
um dos nossos maiores obstáculos. Não cuidados necessários de distanciamento
tínhamos notícias de como estavam, se social e equipamento de proteção
tinham acesso à informação sobre as individual. Em meio aos protocolos a
medidas de prevenção ao COVID-19, se serem seguidos, sentimentos ambíguos
estavam conseguindo se cuidar e, se são despertados, o medo de ser vetor de
conseguiriam ter o mínimo de acesso a transmissão, medo de contaminar-se, em
itens básicos de higiene extremamente contraponto à saudade e à potência dos
necessários para proteção. A ausência encontros e dos abraços, que nesse
de contato por mais 20 dias com uma das momento, em prol do cuidado coletivo,
pessoas acompanhadas pelo grupo, fora de si e do outro, não é possível vivenciar.
uma das muitas situações angustiantes e A cada encontro, físico ou mediado pelo
marcantes que experimentamos. celular, sempre intensos, fora preciso
Impossibilitada de ir até o serviço de lidar com a ausência do toque e
referência e cuidado, sem condições de reinventar maneiras de tocarmos e
se alimentar, devido ao não acesso a cuidarmos distantes fisicamente. Modos
nenhum tipo de renda e sem possíveis de ser AT articulando, portanto,
possibilidade de moradia que ofertasse com a estratégia da Redução de Danos
recursos concretos para o cuidado e (RD).
higiene pessoal. Tal situação Em um conceito ampliado, a Redução de
representara algo quase intransponível Danos pode ser entendida como
para nós, principalmente, na medida em estratégia para atenuar os danos à
que a pandemia avançava a passos saúde em decorrência a comportamentos
de risco21. Em contexto pandêmico, a
atuação pautada na Redução de Danos

21 POLLO-ARAUJO; MOREIRA, Aspectos históricos da redução de danos.


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é fundamental, tanto para prevenir a inviabilizava os encontros físicos. Neste
COVID-19 como outros agravos e momento inaugural, nossa proposta se
problemas, e em caso de contágio, direcionava ao acolhimento de pessoas:
favorecer o tratamento no local de com suspeita, que estavam ou estiveram
moradia e tratamento na rede de saúde. com COVID-19; Idoses; Mães solo;
Nesse processo, entendemos que as Mulheres em situação de violência;
estratégias de Redução de Danos são profissionais de saúde e educação;
excelentes produtoras de oportunidade Adolescentes em conflito com a lei;
para a diminuição desse contágio, com Moradores de periferia.
práticas educativas, preventivas e de
cuidado, focando sobre a transmissão do É importante marcar que o acesso à
vírus, formas de diminuir a propagação internet não corresponde à realidade da
do contágio e, consequentemente, se população brasileira em geral, como
proteger, e deste modo, contribuindo demonstram os dados da Pesquisa
para a produção de autonomia e saúde, Nacional por Amostra de Domicílios
cruciais no processo Contínua – PNAD Contínua (2018), última
desinstitucionalizante. Processo que nos pesquisa divulgada pelo IBGE neste
inclui e constitui enquanto universidade ano.23 Apesar de não serem dados
formadora, alterando modos de relação referentes à pandemia, estes apontam
com a comunidade, entre professoras e que 74,7% da população tem acesso à
alunes, apostando que a assimetria não internet, sendo 98,1% de acesso via
se transforme na dureza da hierarquia, e aparelhos celulares, e 79,4% das
que estejamos construindo e aprendendo pessoas que tem acesso à internet se
juntas. encontram em zonas urbanas. Na divisão
regional do país, o Centro-Oeste
Outras iniciativas se somam a estas na (81,5%) e o Sudeste (81,1%) se
tentativa de buscar de práticas de encontram com maiores índices de acesso
cuidados e estratégias de apoio para e a região Nordeste (64%) com o menor
enfrentamento da pandemia. índice. No item “Rendimento real médio
per capita dos domicílios em que havia
utilização da Internet”, a renda de
Acolhimento on-line e redes de
apoio e solidariedade pessoas que acessam via telefone celular
é R$ 1.765,00.24 No que se refere ao
Neste cenário pandêmico, em que “O gênero, as mulheres (75.7%) possuem
tempo se encontra suspenso, ou pelo mais acesso do que os homens (73.6%).
menos está diferente. Ele parece se Vale lembrar que não encontramos
alongar, mas também se acelera”.22, dados referentes à raça nesta pesquisa.
como é possível realizar práticas de Podemos inferir que esses dados
cuidado e acolhimento? Quais soluções apontam, assim como nossa experiência
podemos inventar? No início da Rede na Rede Convida, que ainda há uma
Convida, o ponto de partida foi parcela da população sem acesso à
encontrar parcerias para composição de internet, provocando obstáculos às
uma rede de acolhimento gratuito e on- práticas de acolhimento no cenário da
line em virtude da pandemia que pandemia. Ainda assim, este projeto tem

22 CHIRIACO, Une fenêtre ouverte.


23 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, Acesso à internet e à televisão e posse de
telefone móvel celular para uso pessoal 2018.
24 Importante marcar que em 2018, o salário mínimo era de R$ 954,00.

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promovido acolhimentos, a partir de identificadas como negras são acolhidas
pedidos de ajuda via o perfil do projeto pelo coletivo PretasPsi, e mães pelo
no Instagram, via pessoas que conhecem grupo de extensão “Atenção, cuidado e
o projeto e participantes que nos redes de apoio a mães em sofrimento
contatam para encaminhamentos ou psíquico: construindo estratégias de
ainda via redes de solidariedade (de enfrentamento frente aos impactos da
que falaremos adiante). COVID-19” citado anteriormente. Este
último nos ensina sobre os modos de
Mas, retomando o percurso histórico do inventar o acesso às mães em situação de
projeto, rapidamente as demandas de vulnerabilidade social e intenso
pessoas em situações de sofrimento sofrimento psíquico. A partir de um
psíquico se diversificam, conduzindo a levantamento das mães incluídas no
uma abertura para o acolhimento dentro projeto de doações de cestas básicas,
da disponibilidade das participantes da nasceu a proposta de realização de
rede, em constante ampliação, assim rodas de conversa on-line quinzenais com
como a parceria com serviços, coletivos mães, majoritariamente universitárias, em
como PretasPsi e, mais recentemente, o situações de vulnerabilidade social e
projeto de extensão “Atenção, cuidado e psíquica. Essa rede de mães que se
redes de apoio a mães em sofrimento iniciou no segundo semestre de 2020 tem
psíquico: construindo estratégias de contribuído no acolhimento ao sofrimento
enfrentamento frente aos impactos da a partir da potência do grupo em
COVID-19”. Este, por sua vez, está compartilhar experiências e criar
diretamente ligado a uma das frentes da estratégias coletivas para questões
Rede Convida: o apoio às redes de maternas como a sobrecarga mental, a
solidariedade. Frente que considera o dificuldade do autocuidado e, ainda, os
cuidado e apoio como imbricados e que obstáculos ao ensino remoto impostos às
se fazem em várias direções, por estudantes mães.
sabermos que a vulnerabilidade social se
agrava com a pandemia, como Há outras atividades na Rede Convida
recentemente noticiado sobre o retorno que merecem nosso destaque. Na
do Brasil ao “Mapa da Fome”. Neste coordenação deste projeto, organizamos
cenário, é fundamental que a Rede reuniões periódicas com participantes da
Convida também se conecte a Redes de rede para discussão sobre a dinâmica da
solidariedade comunitárias, como a ação rede e os encaminhamentos das
de cestas básicas, iniciativa do projeto demandas. A partir destas discussões,
de extensão universitária “A UFF Campos surge a proposta de realização de
faz”. Destinada a pessoas da encontros para discussão dos casos em
comunidade acadêmica com atendimento num processo não-
vulnerabilidade econômica, essa ação hierárquico de super-visão, num encontro
articula cuidados preventivos da COVID- de contribuição, de inter-visão que
19, com distribuição de máscaras e colabora para o compartilhamento dos
álcool gel, como também encaminha desafios e impasses dos acolhimentos
pessoas que demandam acolhimento realizados.
psicológico a serem acompanhadas por
estudantes e profissionais da Rede O acolhimento on-line e a articulação de
Convida. Há ainda a possibilidade de redes se atravessam e partem da
acolhimento on-line em grupo, com compreensão da atenção psicossocial
marcadores de raça e gênero. Pessoas como indissociável da dimensão clínica-

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política de um fazer ético e inventivo, de destacar: oficinas semanais em
com produção de novos territórios e parceria com a pesquisa O Corpo Sem
dispositivos de intervenção e conexão. Alibi; acompanhamento terapêutico em
São ofertas que atendem a pessoas que parceria com o Grupo de Pesquisa
não se enquadram no perfil strictu sensu Saúde Mental e Justiça; encontro
de serviços oferecidos pelo SUS e SUAS, semanais com o grupo de pesquisa
e diante da suspensão de clínica-escolas, “Invenções de dispositivos clínicos em
como os serviços de psicologia aplicada tempos de pandemia”; acolhimento,
das universidades, não têm serviços acompanhamento e/ou encaminhamento
sociais e ou públicos para serem dos casos demandados em articulação
atendidas. Como também a oferta on- com as redes do território; realização de
line tem demonstrado a relevância de espaços de troca com os encontros de
possibilitar acesso a quem não buscaria inter-visão; coordenação de atividades
acompanhamento presencial por de formação como divulgação de
dificuldades de acesso, de informação ou informações sobre a pandemia através
mesmo como parte do sintoma. das redes sociais e realização de
Entendemos que mesmo com a minicurso na semana de psicologia da
reabertura e ampliação de serviços, a UFF-Campos.
modalidade on-line permanecerá por
apresentar possibilidades terapêuticas Por se tratar de um projeto em curso,
distintas, inclusive do modo como se dava algumas iniciativas ainda estão por vir,
antes da pandemia, como tem sido com como oferta de estágios, inclusão de
a reformulação dos estágios. práticas integrativas, e elaboração de
um documento digital com diretrizes e
estratégias para cuidados em saúde
Considerações finais mental em tempos de pandemia para
Muito são os desafios que se desvelam ampla divulgação.
nesta pandemia, mas há muita potência
em forma de rede. É nossa aposta neste
projeto que extrapola os muros, Referências
reforçando o compromisso social da AKERMAN, M.; PINHEIRO, W. R. Covid-
universidade pública. A partir desta 19: Não estamos no mesmo barco. Le
aposta, temos nos esforçado para Monde Diplomatique, 14 abr. 2020.
compor uma rede que convida a Acervo Online Brasil. Disponível em:
composição de elos e zelos em um https://diplomatique.org.br/covid-19-
momento tão delicado como este em que nao-estamos-no-mesmo-barco/. Acesso
nos encontramos. em: 26 jul. 2020.
Neste artigo, buscamos demonstrar como AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São
este projeto nasce da urgência Paulo: Sueli Carneiro. Pólen, 2019.
pandêmica e se entrelaça com projetos BENEVIDES, R. A psicologia e o sistema
de pesquisa-intervenção, ensino e único de saúde: quais interfaces?
extensão já existentes das autoras, bem Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v.
como a proposição de novas ações com 17, n. 2, pp. 21-25, ago. 2005.
a organização da Rede Convida e com
a participação de profissionais de saúde BRITO, B. P. M.; SILVEIRA, L. Entre nós e
e vinculação com instituições. Dentre as redes: experiências de formação-
atividades em andamento, gostaríamos intervenção para a saúde mental e

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Recebido em: 31.10.2020


Aprovado em: 03.12.2020

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