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Viagem ao

Mundo do
Mate

Ana Paula Picolo


Índice

Introdução Processamento

História Regiões Produtoras

Cultura Regiões Consumidoras

A Planta Produtos de Erva-Mate


Introdução
Chimarrão

Amargo doce que eu sorvo

Num beijo em lábios de prata.

Tens o perfume da mata

Molhada pelo sereno.

E a cuia, seio moreno,

Que passa de mão em mão

Traduz, no meu chimarrão,

Em sua simplicidade,

A velha hospitalidade

Da gente do meu rincão.

Autoria: Glaucus Saraiva

História
A erva-mate, que tem seu nome científico Ilex paraguariensis, possui uma história diretamente ligada
com a trajetória do povo sul-americano. O primeiro povo que se tem registro de ter utilizado a
erva-mate foram os nativos guaranis, que habitavam a região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e
Uruguai.

Esses povos acabaram por difundir o uso do mate com os colonizadores espanhóis, fazendo com que,
em meados do século XVI, a extração de erva-mate fosse a atividade econômica mais importante da
Província Del Guairá, território que abrangia praticamente o Paraná, no qual se situavam cidades
espanholas e reduções jesuíticas. Mais tarde, a erva se tornaria o principal produto paranaense
durante o período entre a Emancipação Política do Paraná (1853) e a Grande Crise de 1929, chegando
a representar 85% da economia paranaense.

O produto foi levado a outros pontos do país e para países vizinhos por meio das melhorias dos meios
de transportes, que incluíram o deslocamento no lombo de animais, carroças trazidas da Europa,
barcos a vapor, os trens e, finalmente, os caminhões. Assim, a erva-mate alcançou um patamar de
consumo atual que transcende o Brasil e ganha, até mesmo, outros continentes.
O início de uma Tradição
Foi por um erro de percurso que a erva-mate ganhou o nome científico, em 1820, de Ilex
paraguariensis, dado pelo botânico francês August de Saint-Hilaire. Ele teve contato com a árvore
primeiramente no Paraguai, mas depois se retratou em um livro, hoje guardado em uma biblioteca de
Paris. O naturalista reconheceu que seria mais adequado tê-la chamado de Ilex brasiliensis. Pois
descobriu, posteriormente, que era no Brasil, em grande parte no território hoje do Paraná, que a
erva-mate era nativa em maior quantidade e melhor qualidade.

É debaixo dos galhos das araucárias que os ervais se desenvolvem melhor. A vastidão da erva-mate,
que chamou a atenção do botânico francês, já havia atraído os olhares de outros visionários. O ouvidor
Rafael Pires Pardinho, que estava em Curitiba por volta de 1721 para criar um código de posturas para a
cidade, registrou em seus diários, com um século de antecipação, o que seria a grande possibilidade
econômica da região. Foi o primeiro produto de exportação do Paraná.

Origem

Datam de mil anos antes da Era Cristã os primeiros achados de erva-mate, moída com outros objetos
em oferendas funerárias de sepulturas pré-hispânicas, no Peru, segundo relata Fredericindo Marés de
Souza em “A origem do chimarrão”. Não há dúvidas de que tribos indígenas faziam uso da erva-mate.
Sabe-se que ela era consumida, em infusão ou mascada, em diversas outras tribos além dos Guaranis,
como pelos ameríndios (Incas e Quíchuas) e também por Caingangues que estavam na região onde
hoje é o Paraná.

Foi pelo contato do homem branco com os índios que o costume de beber mate se propagou. Essa
interação também explica a origem de algumas palavras. Do guarani surgiram expressões como
congonha (de caá, depois congoin [em tupi], que significa erva-mate, mato); cuia (de caigua); carijo (de
cari, local onde se colocam os galhos da erva para secar ao calor do fogo) e tererê (do guarani jacubi,
que era mate de água fria). Do tupi surgiu a palavra barbaquá (buraco onde a erva era colocada para
secagem). Do quíchua foi herdado o nome mate (era mati, Porongo onde colocavam a erva para
beber).

Proibição

Nem sempre o consumo foi socialmente aceito. Nas Reduções Jesuítas no Paraná e no Paraguai, no
início do século 17, os padres proibiram o uso. Acreditavam que era erva do diabo, alucinógena. Mas
não tardou para que os missionários percebessem que os índios, sem o mate, aumentaram o consumo
de bebidas alcoólicas, com consequente piora do desempenho no trabalho. Logo, os padres não só
liberaram o uso da erva-mate como também passaram a consumi-la: era revigorante. Em uma cuia
com uma bombilha de taquara, a erva em infusão servia de consolo para as gélidas madrugadas
paranaenses. E foi além. Virou fonte de negócio aos jesuítas, que a vendiam, inclusive, para exportação.
Os padres missionários também elaboraram, algumas técnicas para a colheita e cultivo da planta.

Os bandeirantes, ao invadirem as reduções em busca de índios para escravizar, expandiram o hábito


de beber o mate. Antes, ainda no século 17, o general espanhol Domingos Martínez Irala, ao entrar em
contato com os indígenas da região da atual cidade de Guaíra, difundiu a bebida para os povoados
espanhóis onde hoje é o Paraguai.
Cultura
Símbolo do RS
"Bebida símbolo do Rio Grande do Sul, o chimarrão é um legado dos índios Guaranis. Sempre presente
no dia a dia, constitui-se de uma das tradições mais representativas deste povo. É também conhecido
como mate amargo, mas não tem nada de amargo em seu significado: é sinônimo da hospitalidade e
da amizade do gaúcho."

É considerada árvore símbolo do Rio Grande do Sul conforme lei nº 7.439, de 8 de dezembro de 1980.
Também é parte integrante dos símbolos do Estado do Paraná, estando representada, com um ramo
da planta, na bandeira e no brasão estaduais (Decreto-Lei Estadual nº 2.457, de 31 de março de 1947).

A lenda da Erva-Mate
A lenda da erva-mate é uma história folclórica do sul do Brasil. Conta a história que um guerreiro
guarani estava triste porque já estava velho demais para guerrear. Seu único consolo era sua filha, Yari,
que tinha recusado muitos pedidos de casamento para poder cuidar melhor do pai.

Um dia, veio à casa do velho guarani um viajante estranho, com roupas exóticas e olhos azuis. Yari e seu
pai foram hospitaleiros, cantaram para o viajante e lhe ofereceram suas melhores comidas.

No dia seguinte, o viajante agradecido se revelou ser um mensageiro de Tupã e, para retribuí-los a
bondade, realizaria qualquer desejo que tivessem. O velho pediu que lhe fossem devolvidas as forças da
juventude, para que assim a filha ficasse livre para se casar.

O mensageiro entregou ao velho as folhagens da planta Caá e ensinou a ele como cultivá-la e como
preparar uma infusão com ela. A poção mágica que devolveu o ânimo ao velho índio era o chá de erva
mate.

O mate foi plantado e multiplicou-se. Outras tribos apreenderam e foi desta forma que seu uso chegou
até nós.

“Cerimônia da Erva-Mate” - Ritual do mate


O chimarrão, na aldeia Koenjo-Porã, ainda tem um papel muito importante dentro das tradições. Um
ritual com a planta é realizado anualmente para trazer boas energias. Os homens da tribo colhem a
erva-mate e juntamente com o cacique e o pajé eles se reúnem na Opy (casa de reza) onde fazem o
processo de sapeco, secagem e cancheamento juntamente com rezas e danças. Depois do ritual, cada
família leva para casa uma quantidade que deve ser consumida. Segundo a tradição dos índios guarani,
o ritual traz boa sorte e todas as famílias da aldeia precisam tomar da erva preparada na casa de reza.

Além de consumir como bebida, os índios usam o chimarrão junto com outros medicamentos.
Segundo eles, quando acordam indispostos, colocam ervas medicinais na água de chimarrão e tomam.
É melhora na certa.

Dentro da cultura indígena de tomar o chimarrão, o correto é ingerir de duas a três vezes por dia,
sempre antes das refeições. Quem estiver com a cuia deve tomar toda a água para depois passar para o
próximo da roda e, as crianças não consomem a bebida. A prática pode ser iniciada quando completam
12 ou 13 anos.
10 mandamentos do Chimarrão
1. NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE;

2. NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO;

3. NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS;

4. NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE;

5. NÃO TE ENVERGONHES DO "RONCO" NO FIM DO MATE;

6. NÃO MEXAS NA BOMBA;

7. NÃO ALTERES A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO;

8. NÃO "DURMAS" COM A CUIA NA MÃO;

9. NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O 1º MATE;

Primeiro mate é do dono.

A Nação Guarani era dividida em inúmeras tribos, dialetos, interesses e os costumes eram muito
flexíveis, não havia territórios e sim regiões.

Os caciques de quando em quando se reuniam para tratar dos assuntos ligados às regiões,
casamentos, caças e negociações de alimentos e paz.

O Chimarrão servido em uma cuia, a bomba de bambu era o primeiro gesto de cordialidade, a
primeira bebida a ser oferecida, comparado ao cachimbo da paz.

O Mate era importante, pois as conversas se desenvolviam dentro da oca, ao pé da fogueira e o


chimarrão ao fazer a roda era passado de mão em mão, o braço estendido com a cuia obrigava os
índios a olhar uns nos olhos do outros para passar a bebida adiante.

Era uma cerimônia obrigatória, um ato de educação e diplomacia, o anfitrião fazia o mate na
frente das visitas e bebia ou cuspia o primeiro para provar que não tinha nada ou não estava
envenenado. Por este motivo, ao fazer o mate e cevar na frente de seus amigos, mais do que um
ato saudável e de prazer estamos fazendo um ato de entrega, de compromisso em nos
dedicarmos ao diálogo e a paz.

10. NÃO DIGAS QUE CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA.

Temperatura da água
Para preparar o mate da maneira certa é preciso seguir a receita à risca: a água não pode passar dos
70ºC. Para saber isso, pode-se utilizar o termômetro de cozinha ou o método das bolhas na chaleira:

> 70° C: você vai observar a formação de bolhas bem pequenas no fundo da caneca/panela, em todo o
fundo do recipiente; as primeiras bolhinhas sobem pelo canto até chegar à superfície da água, na parte
lateral – você vai notar que a quantidade de bolhinhas vai aumentando, mas é mais ou menos este o
aspecto da água até por volta de 78° C (os chineses chamam esses estágios de “olhos de camarão” e de
“olhos de caranguejo”, referindo-se ao tamanho das bolhas)
> 80° C: as bolhas no fundo da caneca/panela ficam maiores e mais arredondadas e sobem pela lateral
formando riscos mais visíveis e largos; o número de bolhas na superfície da água é maior do que na
etapa anterior e a fervura é mais barulhenta (é a etapa chamada de “olhos de peixe” pelos chineses).

> 90° C: o número de bolhas na superfície aumenta e elas são um pouco maiores (por isso recebem o
nome de “colar de pérolas” no método tradicional chinês).

100° C: você já vai ouvir a água borbulhando sem muito esforço, há bolhas grandes se movimentando
na superfície da água (o nome poético chinês é “furiosa torrente”!).

A planta
A erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil) é uma planta de porte arbóreo da família Aquifoleaceae, perene
e nativa das áreas subtropicais da América do Sul. Manifesta-se principalmente nas áreas florestais do
norte da Argentina, Paraguai e Uruguai e o sul da Bolívia e do Brasil, em altitudes variáveis entre 400 e
800 metros. Ocorre também em pontos isolados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais e está catalogada entre as plantas da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. A altura da
erva-mate é variável, sendo influenciada pelas condições de ocorrência, pelo manejo e pela idade da
planta, podendo atingir até 15 metros de altura e 70 cm de diâmetro. O tronco possui uma casca
externa persistente de cor cinza-clara.

A exploração da erva-mate está baseada na colheita dos ramos da planta para obtenção das folhas, que
colhidas e processadas dão origem aos principais produtos da erva-mate. As flores são hermafroditas,
pequenas, pedunculadas e dispostas na axila das folhas superiores. O fruto é uma baga dupla globular
muito pequena, medindo somente 6 a 8 mm. É de cor verde quando novo, passando a
vermelho-arroxeado em sua maturidade.

CLIMA: chuvas regulares e bem distribuídas durante o ano; temperatura média de 15° a 21°C; geadas.

SOLO: boa profundidade (mais de 1 metro); boa permeabilidade; boa fertilidade natural.

Ainda podemos diferenciar a erva-mate de acordo com o tipo de erval. O erval nativo é aquele que foi
formado pela ação da natureza. Nestes ervais pode ocorrer a ação do homem nas fases iniciais de
formação dos cultivos, com eliminação da vegetação rasteira e poda das erveiras; ou por adensamento,
que consiste no plantio de mudas de erva-mate nos lugares onde já existem ervais nativos em
exploração. O outro tipo é o erval plantado, que se caracteriza pelo plantio de mudas e um sistema de
manejo convencional.

Processamento
Colheita e Sapeco
A erva-mate apresenta influência na tradição e na cultura gaúcha, como também é a matéria-prima
empregada na elaboração do chimarrão, bebida oficial do Rio Grande do Sul. O seu processamento
industrial tradicional é constituído por três principais etapas, originadas de práticas indígenas:

1. sapeco: é um processo empírico, no qual ocorre uma exposição das folhas e talos a altas
temperaturas (chamas de fornalha) para que haja inativação enzimática e remoção de parte da
umidade;
2. secagem: é realizada em secadores de esteiras ou rotativos e apresenta o objetivo de reduzir a
umidade das folhas até teor inferior a 5%;
3. cancheamento: a erva-mate é semi-triturada (ESMELINDRO et al, 2002). A erva-mate, assim
denominada cancheada, mantém a coloração verde adequada à comercialização no mercado
brasileiro.
A presença das enzimas polifenoloxidase e peroxidase ativas nas folhas estressadas resulta em
importantes alterações da cor, aroma e sabor comprometendo a comercialização do produto, o qual
é apreciado pela maioria dos consumidores brasileiros, na cor verde. Em outros países, a preferência
é pela erva-mate estacionada de cor verde-oliva a amarelo-dourado.

O termo ‘sapeco’ (do guarani “sapeca”) significa “abrir os olhos”, pois à ação do fogo direto sobre as
folhas, abrem seus estômatos e facilita a desidratação. O teor de umidade das folhas varia de 60 para
16% ao final desta operação. Essa operação ainda mantém os mesmos princípios empregados pelos
primeiros exploradores do produto e consiste na rápida exposição dos ramos de erva-mate às
chamas geradas pela queima da madeira a temperaturas entre 400 e 620°C.

O sapeco, uma das mais importantes etapas do processamento, tem por objetivo principal a
inativação das enzimas polifenoloxidase e peroxidase, responsáveis pelo escurecimento enzimático,
impedindo assim que ocorram alterações indesejáveis na cor, sabor e aroma da erva-mate.

Secagem
A secagem, a qual é usualmente realizada em um cilindro rotativo com direta exposição ao calor e à
fumaça da queima de lenha, e uma subsequente trituração. O produto resultante dessas etapas
denomina-se erva-mate cancheada.

Poucas modificações foram implementadas na estrutura e no processo produtivo ervateiro, onde a


exposição direta às chamas da fogueira realizada pelos índios é ainda empregada, porém de maneira
mecânica, mantendo o mesmo princípio. Essa operação apresenta problemas no controle de
qualidade devido às altas temperaturas empregadas e implica na incorporação de compostos
potencialmente mutagênicos e carcinogênicos na erva-mate processada.

A operação de secagem de erva-mate é efetuada em secadores mecânicos. Existem dois tipos de


secagem: por convecção (secador rotativo) e processo com correntes de ar paralelas (secador de
esteira). No secador de esteira, o tempo médio de secagem corresponde a 3 horas e a temperatura
varia entre 90 e 110 ºC. No secador rotativo, o produto permanece em contato direto por
aproximadamente 30 minutos. No entanto, na entrada do secador a temperatura média é de 350 ºC
e na saída de 110 ºC. O material entra no secador com uma umidade média de 16% a 25% e sai com
aproximadamente 5% de umidade.

Outros processos - moagem, maturação, misturas,


torra
MOAGEM: O cancheamento consiste na trituração parcial da erva e ocorre antes ou após o processo
de secagem. Quando é utilizado o processo de secagem com secador rotativo, a trituração ocorre
após a etapa do sapeco e antes da etapa de secagem. No caso da secagem em secador de esteiras,
as folhas são trituradas após a secagem. Em seguida, a erva é peneirada e o material coletado passa
a denominar-se erva cancheada.

MATURAÇÃO: O processamento industrial da erva-mate envolve diferentes etapas que podem


modificar sua composição química e alterar o sabor do produto final. O armazenamento ou
estacionamento é uma etapa da industrialização que visa levar à formação de componentes
aromáticos e à transformação da cor verde da erva-mate para amarela, não apreciada pelo
consumidor brasileiro, mas uma exigência do principal mercado importador do Brasil, o Uruguai.
Esse pode ser realizado de forma natural onde a erva-mate cancheada é armazenada em depósitos
por períodos que variam entre 6 meses a 2 anos, sob condições ambientais, ou acelerada na qual a
erva-mate é mantida em câmaras com temperatura e umidade relativa controladas, por um período
de 30 a 60 dias.
TOSTADO: A erva-mate padronizada para ser tostada passa por um sistema de forno com fogo
indireto semelhante ao que se usa para torrefação de café, para então dar origem ao chá mate
tostado.Após tostado o mate passa por um processo de extração, por água quente e vapor sob
pressão, em colunas extratoras, onde são retirados os sólidos solúveis.O líquido extraído (extrato)
é adoçado transformando-se em xarope. O extrato é desidratado em contato com ar quente
transformando-se em mate solúvel.A depender do processamento o rendimento industrial pode
variar. Normalmente, após todas as operações de pós-colheita a erva-mate sofre uma redução
em seu peso, da ordem de 50 a 60% conforme o estado de maturação das folhas e as condições
do processo de beneficiamento.

Regiões Produtoras
Distribuição geográfica da Erva-Mate
A erva-mate está distribuída em uma área de aproximadamente 540.000 km2 e sua ocorrência
natural compreende as regiões tropicais e subtropicais do Brasil, Argentina e Paraguai. No Brasil,
ocorre principalmente nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul; na Argentina na
Província de Missiones, parte da Província de Corrientes e pequena parte da Província de Tucumã
e, no Paraguai na área entre os rios Paraná e Paraguai. Sua superfície de abrangência geográfica
estende-se desde as latitudes de 21° e 30° sul e longitudes de 48° 30’ e 56° 10’ oeste; com
altitudes variáveis entre 500 e 1500 metros sobre o nível do mar, podendo ocorrer, em pontos
isolados, fora destes limites.

A maior área de ocorrência da erva-mate pertence ao Brasil, cerca de 80%, sendo que a área
estimada de distribuição corresponde a 450.000 km2. representando cerca de 5 % do território
nacional, compreendendo em torno de 450 municípios. Na América do Sul corresponde a 3 % da
área.

Sendo a erva mate uma espécie nativa do Brasil é encontrada principalmente sob meia sombra
dos pinheiros, imbuias e outras árvores de grande porte. A área de dispersão no país inclui a
região Centro-Norte do Rio Grande do Sul, quase todo o Estado de Santa Catarina, Centro-Sul e
Sudoeste do Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul. A espécie pode ocorrer ainda em pontos
isolados, fora destes limites, como em regiões subtropicais e temperadas da América do Sul,
correspondendo a pequenas manchas de matas com ocorrência do pinheiro-do-paraná
(Araucaria angustifolia). Apresenta ocorrência ainda na região de Campos do Jordão (São Paulo),
na região Sudeste de Minas Gerais e Sul do Rio Grande do Sul.
Brasil
Para os índios, o ato de tomar chimarrão vai além de ser um mero costume, relaciona-se
especialmente com a vida espiritual da tribo. No interior do Paraná a erva-mate também está
servindo como geração de renda para duas aldeias que estão exportando a planta para os
Estados Unidos.

A erva-mate foi muito importante para a formação de quatro estados brasileiros (Rio Grande do
Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso), tendo sido desde o XIX um dos oito principais
produtos exportados pelo país e no século XX teve uma participação significativa no total das
mesmas, chegando a representar 3,7% do valor das exportações nacionais em 1983. Ela era
comercializada nos formatos cancheada e beneficiada – neste último já tendo passado por um
processo de industrialização, era vendida, sobretudo, no formato de chimarrão, mas surgiram
posteriormente novos formatos como, por exemplo, o chá (quente ou gelado). À parte a
produção jesuítica missioneira, a erva-mate é no Brasil essencialmente um produto extrativo.

A maior parte do que se produzia destinava ao mercado externo, que desde meados do século
XIX se resumia, sobretudo, à Argentina, ao Uruguai e ao Chile. Esses três países formavam os
chamados mercados tradicionais da erva-mate brasileira e foram eles os responsáveis pelos anos
dourados da economia ervateira, com o fortalecimento dos parques moageiros do Paraná e de
Santa Catarina, pelo menos até as primeiras décadas do século XX. O Rio Grande do Sul teve o
auge de suas exportações (em volume e valores) no século XIX, especialmente entre as décadas
de 1850 e 1860, com influência direta da Guerra do Paraguai, situação que foi se alterando até a
década de 1930 quando passou a não exportar mais regularmente, se concentrando, sobretudo,
em seu mercado estadual, passando a absorver o que produzia e em diversos momentos
comprando de outros estados. O maior impacto no comércio da erva-mate dava-se com as
vendas para os mercados externos, comparado com o reduzido mercado nacional. Constam
registros oficiais de exportação desde 1831, quando foram enviadas 1.347 toneladas. Seguindo sua
evolução, em 1886-1887, as exportações passariam pela primeira vez da casa das 20 mil toneladas,
mais exatamente 20.941 toneladas, continuando a crescer em quantidade, com algumas
exceções, nas décadas seguintes. Nesse cenário a Argentina tornou-se o nosso principal
comprador, especialmente a partir da década de 1870, quando os efeitos da Guerra do Paraguai
se fizeram sentir, “isolando” o Paraguai (concorrente do mate brasileiro) do mercado argentino.
Entre altos e baixos, a boa fase, sobretudo para os beneficiadores, duraria até a década de 1930, a
partir de quando a erva-mate passou a viver uma situação de crise, para qual contribuiu
sobremaneira a situação do intercâmbio com a Argentina.

Paraguai
Segundo CARABIA (1945), os principais ervais paraguaios se encontram na região montanhosa
oriental e, também, a sudeste desta região. Samaniego, citado por MARTINS (1949), menciona
que as vegetação em ambos os lados da Serra do Amambay e Mbaracayú, e nos bosques e
campos de Concepcion, Bela Vista, Belén, Loreto, Horqueta, Pedro Juan Caballero, Capitán Bado,
San Pedra, Rosário, San Estanislao, Union, Lima, Tacuati, Yqatinr, Curuquatv. Itacumb (dei Rosário,
Encarnacion, Jesus e Trinidad.

O Paraguai festeja o Dia Nacional do Tereré, uma bebida à base de chá frio de erva-mate e
plantas medicinais que os paraguaios reconhecem como símbolo de sua identidade,
contestando as versões que definem a origem da bebida no sul do Brasil ou no norte da
Argentina.

O Tereré é fundamental para paraguaios. É um símbolo de união, de troca de conhecimentos.


Yerba e a guampa são, junto com a bomba, por onde o chá é sorvido, os elementos
imprescindíveis para tomar a bebida tradicional do Paraguai.

É tão forte o vínculo com o chá no país sul-americano que os vendedores de ervas do Mercado
querem "patentear o tereré e registrá-lo como uma invenção paraguaia", e assim rebater quem
diz que a bebida nasceu no Brasil ou na Argentina.
A principal diferença entre o consumo de erva-mate em países como Argentina ou Uruguai e o
tereré paraguaio é a temperatura de água. No Paraguai o chá é tomado com água fria e a garrafa
térmica tem barras de gelo para servir como refresco contra as altas temperaturas do país.

O costume de tomar mate com água fria vem da guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia entre
1932 e 1935. Os soldados não podiam fazer fogo para aquecer água, porque se acendessem uma
fogueira seriam descobertos. Assim começaram a tomar a erva com água fria, e graças ao tereré
ganharam a guerra, porque era o que os mantinha acordados.

Outras versões apontam que a erva-mate já era consumida pelos indígenas guaranis do
Paraguai e algumas regiões do Brasil, adicionando yuyos, como se conhece no país às ervas
medicinais que se misturam com o mate para tomar o chá. Além de dar sabor ao clássico
retrogosto amargo do mate, as plantas e raízes que compõem o tereré têm diferentes poderes
curativos.

Argentina
Este é um dos tipos de erva-mate disponíveis no mercado. Assim como a erva-mate brasileira, a
produzida na Argentina é bastante consumida atualmente. Contudo, existem algumas
características bastante específicas da erva-mate argentina. Isso acontece porque a erva-mate
preparada no país dos hermanos é processada de forma diferente. No Brasil, o processo de
desidratação e trituração final da erva-mate acontece em um período de 48 a 72 horas. Já na
Argentina (e também no Uruguai), esse processo pode levar de 8 a 12 meses para ser finalizado
em média. Assim, a erva-mate final é muito diferente.

Afinal, durante meses a erva-mate fica repousando até chegar no ponto ideal para que seja
finalizada e enviada para os consumidores. Durante todo este tempo de repouso, a erva-mate
acaba perdendo sua colocação verde, e ganhando um tom amarelado. Assim, pode até ser
considerada envelhecida. Contudo, o sabor não se perde, e a erva-mate repousada é mais
amarga e marcante do que outras ervas produzidas no Brasil, por exemplo.

Nesse sentido, a erva-mate argentina tem como principal característica ser amarela e se tratar de
uma erva-mate repousada. Além disso, possui maior quantidade de palitos em sua composição.

Como bons Argentinos, eles consomem basicamente a erva-mate produzida internamente no


país. E ainda que as plantações de erva-mate argentina tenham se iniciado nos pampas com o
povo Guarani, hoje a bebida é apreciada em todo o território do país.

E até hoje, as maiores produtoras de erva-mate são as regiões de Corrientes e Misiones. Sua
localização geográfica próxima do Sul do Brasil ajuda a entender o motivo pelo qual a cultura do
mate é tão predominante no sul do Brasil e no Uruguai também.
Países Consumidores
Uruguai
A erva sem palito deve-se à tradição portuguesa, segundo a que a cada vegetal e cultivo de folha
tira-se o palito e o caule pela acidez que geram. Outros sustentam que é a folha a que possui
maior nutrição e que o palito não aporta valor nenhum. E tem quem afirma que assim o mate
“lava-se” menos. O certo é que em Uruguai o mate se bebe sem palito. A água tem que ferver
para chegar à garrafa térmica.

Os mates uruguaios são geralmente grandes e a sua capacidade é notavelmente maior que a
dos mates argentinos. Recebem o nome de “porongos” e estão feitos na sua maioria de
abóboras.

O consumo do mate é personalizado; isso significa que é comum ver a uruguaios reunidos
“mateando”, mas em lugar de ser todos no mesmo mate, cada um dos presentes possui o seu
próprio equipamento. Muitos pensam que se trata de uma questão de higiene, outros sustentam
que na realidade é para não ter que ficar quieto num mesmo lugar esperando o seu turno
chegar.

Erva-mate uruguaia conhecida por ser repousada, é um dos tipos de erva-mate que você pode
encontrar, porém não é tão comum em supermercados. Diferente da erva-mate argentina que é
bastante palitosa, a erva-mate uruguaia é produzida com mais folhas e por isso sua
granulometria é menor. Contudo, o preparo da erva é bastante similar com aquele da erva-mate
argentina. Esta é desidratada e triturada apenas depois de vários meses. Em média, a erva-mate
uruguaia demora de 8 a 12 meses para ser finalizada, ela é envelhecida. Neste caso, o termo se
assemelha à forma como as pessoas se referem a bebidas alcoólicas como vinhos e whiskys que
passam por este processo também.

Chile, Síria e outros países


O hábito de consumo de erva-mate está se difundindo cada vez mais, foi introduzido em países
árabes, como a Síria e o Líbano, que se tornaram importadores. Além disso, surgem
consumidores interessados na erva-mate como matéria-prima industrial, com destaque para
Alemanha e Espanha, mercados em franca expansão. O mercado interno brasileiro também
reaqueceu, com uma demanda de bebida com erva de sabor mais suave, obtida no cultivo à
sombra. A ampliação do consumo vem permitindo que a erva-mate, atualmente, consiga ser
comercializada de várias maneiras: cancheada, beneficiada, solúvel e em forma de
extrato/essência/concentrado (PERALTA E BOURGELAT, 2012). E tal fato justifica a necessidade de
melhorias na etapa do sapeco, para obtenção de um produto seguro, de qualidade, permitindo
tanto o consumo tradicional quanto a geração de produtos com maior valor agregado.
Verifica-se que no sapeco tradicional, não há padrão adequado das condições desta etapa,
relacionadas a temperatura e uniformidade da matéria-prima.
Produtos à base de Erva-Mate
Apesar de a erva-mate ser consumida durante séculos pelos povos sul-americanos e ser utilizada
para diversas finalidades, o setor ervateiro ainda depende quase que exclusivamente da
comercialização da erva-mate na forma de produtos tradicionais, como o chimarrão e tereré, que
apresentam mercado limitado às regiões de produção. Nos últimos anos, as indústrias ervateiras
têm buscado ampliar o mercado da erva mate através do lançamento de novos produtos, como
o composto de erva-mate e o chá-mate aromatizado. De forma similar e mais recentemente,
iniciou-se a procura da matéria-prima pelas indústrias química e farmacêutica, com interesse na
geração de produtos de higiene e beleza que utilizam a essência da erva-mate para a produção
de sabonete líquido, xampus e cremes para pele (MOSELE, 2002). A erva-mate pode ser
explorada tanto pela indústria de alimentos (tererê, chimarrão, chá mate solúvel, chá mate verde,
chá mate tostado, refrigerante, bebidas energéticas, balas, ingredientes para produtos
alimentícios), como pelas indústrias química e farmacêutica (tintas e resinas, medicamentos,
desinfetantes, adstringentes, cosméticos e perfumaria) (DA CROCE, 2000; MEDRADO; MOSELE,
2004; BARBOSA, 2006). Devido às suas propriedades naturais, a erva-mate vem ganhando
espaço em outros mercados. Hoje, a Ilex é utilizada em linhas culinárias e de bebidas nas mais
diversas regiões e culturas.

Vejamos alguns produtos feitos a partir da erva-mate, os quais você provavelmente ainda não
conhecia…

• Erva-mate ultra refinado para uso culinário, é similar ao “Matcha Japonês”. Ele é
extremamente nutritivo e versátil, podendo ser incorporado nas mais diversas receitas.

• Cosméticos

• Bebidas Energéticas

• Kombucha de erva-mate

• Chá mate tostado tradicional seco e líquido

• Chá mate tostado em pó para filtro de café

• Produtos Farmacêuticos e Extratos

Benefícios da Erva-Mate
As bebidas à base de erva-mate (chimarrão e chá mate tostado) apresentam propriedades
antioxidante, hepatoprotetora, vasodilatadora, digestiva, já comprovadas in vivo e in vitro (FILIP et
al., 2000; GORZALCZANY et al., 2001; GUGLIUCCI E MENINI, 2002; RIL et al., 2011).

É comprovado cientificamente que a erva-mate apresenta alguns benefícios à saúde. Ela é:

• estimulante, atua beneficamente sobre o tecido nervoso e muscular;

• diurética, útil nas moléstias da bexiga;

• estomática, facilitando a digestão;

• sudorífica, auxiliando na cura de constipações;

• um auxílio para amenizar a fadiga cerebral e depressões, pois contém

cafeína;
Propriedades do Chimarrão
Rico em vitaminas B1, B2 e C, bem como em sais de cálcio, ferro, sódio e magnésio, é considerado
por estudiosos como um estimulante geral, tanto motor quanto vegetativo, além de diminuir a
fome, auxiliar na digestão, combater a fraqueza e curar ressaca. E não para por aí: em “História do
Chimarrão”, o folclorista Luiz Carlos Barbosa Lessa afirma ainda que o chimarrão desperta
funções de inteligência, diminui a sensação de sede e a fadiga, tonifica o coração, diminui a
produção de ureia, ajuda na função renal e ainda combate o cansaço intelectual.

Bibliografia
BARBOZA, L. M. V. Desenvolvimento de bebida à base de erva-mate (Ilex paraguariensis Saint
Hilaire) adicionada de fibra alimentar. Curitiba, 2006. 236 f. Tese (Doutorado em Tecnologia de
Alimentos), Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

Da CROCE, D. M. Características físico-químicas de extratos de erva-mate (Ilex paraguariensis St.


Hil.) no estado de Santa Catarina. Ciência Florestal, v. 2, n. 2, p. 107-113, 2002.

Disponível em:
<http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=62>.
Acesso em 29 de abril de 2020.

Disponível em: <http://ibramate.com.br/origem/>. Acesso em 29 de abril de 2020.

Disponível em: <https://especiais.gazetadopovo.com.br/erva-mate/origens/>. Acesso em 29 de


abril de 2020.

Disponível em: <http://www.escoladochimarrao.com.br/preparo.php>. Acesso em 29 de abril de


2020.

FILIP, R.; LOTITO, S. B.; FERRARO, G.; FRAGA, C. G.; Antioxidant activity of Ilex paraguariensis and
related species. Nutrition Research, v. 20, p. 1437-1446, 2000.

GORZALCZANY, S.; FILIP, R.; ALONSO, M. R.; MINÕ, J.; FERRARO, G. E.; ACEVEDO, C. Choleretic
effect and intestinal propulsion of ‘mate’ (Ilex paraguariensis) and its substitutes or adulterants.
Journal of Ethnopharmacology, v. 75, p. 291 – 294, 2001.

GUGLIUCCI, A.; MENINI, T. Three different pathways for human LDL oxidation are inhibited in vitro
by water extracts of the medicinal herb Achyrocline satureoides. Life Science, n. 71, p. 693–705,
2002.

MEDRADO, M. J. S.; MOSELE, S. H. O futuro da investigação científica em erva-mate. Colombo,


Paraná: Embrapa Florestas, 2004 (Série Documentos).

MOSELE, S.H. A governança na cadeia agroindustrial da erva-mate na região do Alto Uruguai Rio
Grandense. 2002. 211p. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) - Centro de Estudos e Pesquisas
em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

RIL, F.T., LOCH, C.R., VALDUGA, A.T., MACEDO, S.M.D. and CICHOSKI, A.J., 2011. Biochemical profile
of rats fed yogurt containing extract of yerba-mate (Ilex paraguariensis St. Hil). Brazilian Journal of
Food Technology, vol. 14, no. 4, pp. 332-337. http://dx.doi.org/10.4260/BJFT2011140400039.

VALDUGA, A.T.; FINZER, J.R.D.; MOSELE, S.H. Processamento da erva-mate. Erechim: Edifapes.
2003a. 182p.
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