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RESUMO
O abastecimento de água da cidade de Natal é realizado preponderantemente através da exploração intensiva das águas
subterrâneas do aqüífero Dunas / Barreiras, dentro do perímetro urbano. Em decorrência da grande expansão da cidade e
da pequena área de recarga do aqüífero, estudos aprimorados sobre o balanço hídrico e sobre a vulnerabilidade do aqüífero
são fundamentais para direcionar o desenvolvimento com sustentabilidade. Este estudo trata da avaliação do balanço hídri-
co, incluindo a recarga natural, a exploração dos recursos hídricos, as fugas pelas fronteiras e o retorno das águas servidas.
É aplicado um modelo de exploração sustentada em que se busca especificar a explotação ótima em função das característi-
cas do aqüífero e da recarga. A questão da contaminação por nitrato por águas servidas também é abordada. Os resultados
obtidos mostram a necessidade de se garantir os atuais níveis de recarga e a reutilização da água servida a fim de garantir a
sustentabilidade da exploração atual das águas subterrâneas. Outra alternativa técnica e ambientalmente mais adequada
seria promover de forma crescente o aporte de água para abastecimento de regiões vizinhas à cidade de Natal, reduzindo-se a
explotação a níveis que permitam dispensar o reuso das águas servidas.
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Exploração Sustentada do Aqüífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN
Essa questão de delimitação de área de re- reiras. Neste grupo, destacam-se: a formação Guara-
carga associada à crescente exploração de água do rapes, composta por sedimentos arenosos e argilo-
aqüífero, decorrente do grande desenvolvimento sos; a formação Macaíba, formada por sedimentos
urbano de Natal que, por sua vez, leva à crescente areno-argilos; e os Sedimentos Quaternários, que
impermeabilização do solo, motivou a elaboração do são os depósitos recentes, compostos por dunas, alu-
presente trabalho. viões e mangues.
Há necessidade premente de se avaliar com Na área de estudo, o Barreiras está repre-
confiabilidade a disponibilidade hídrica desse aqüí- sentado pela Formação Guararapes e por pequenas
fero, considerando os atuais níveis de exploração e a exposições da Formação Macaiba. Através dos perfis
recarga, natural e induzida pelo retorno das águas estratigráficos dos poços perfurados, verifica-se que
servidas. Este estudo trata da utilização sustentada a espessura da Formação Barreiras varia de 60m a
do aqüífero Dunas / Barreiras, enfocando as condi- 116m. Até, aproximadamente, 30m, é formada por
ções da exploração e recarga. arenitos argilosos, argilas arenosas, siltitos, argilas e
intercalações de arenitos de grãos finos e médios.
AREA DE ESTUDO Na parte inferior dos perfis, encontram-se predomi-
nantemente arenitos de granulometria fina e grossa,
A área de estudo, referente à região sul da com intercalações de argilas. Estes depósitos estão
cidade de Natal, está delimitada pelos rios Potengi, sotopostos a depósitos mais recentes de dunas, alu-
Pitimbu e pelo mar. Ocupa uma área de aproxima- viões e mangues (Melo, 1995).
damente 90 Km2, abrangendo a maior parte do setor A precipitação pluvial anual na área de Na-
urbanizado de Natal. A vegetação é rala e as ativida- tal tem valor máximo de 2462mm e mínimo de
des antrópicas são típicas de uma cidade em cresci- 640mm, com média de 1550mm (período 1910 -
mento acelerado, com repercussões significativas na 2000). As temperaturas médias mensais anuais ob-
impermeabilização do solo, aumento da explotação servadas variaram de 25ºC a 28ºC, com média anual
de águas subterrâneas e superficiais e intensificação de 26,2ºC e amplitude térmica de 2,9•C. A insola-
de contaminação causada pela percolação de esgo- ção mensal é elevada, com valor mínimo de 195 ho-
tos através de fossas e sumidouros. ras (julho) e valor máximo de 296 horas (fevereiro).
O rio Potengi que limita a área nos setores A média anual é de 2960 horas. A taxa de evapora-
norte e oeste, tem origem nos terrenos cristalinos do ção potencial mensal varia entre 100 mm (julho) e
semi-árido do Estado do Rio Grande do Norte, pe- 180 mm (fevereiro) com total anual de 1700 mm.
renizado somente na zona costeira devido à ressur- A disponibilidade de água no solo pode ser
gência das águas subterrâneas do aqüífero Dunas / estimada por balanço hídrico. O período de chuvas
Barreiras. Três pequenos afluentes captam água de inicia-se em janeiro, de forma que a água pluvial
drenagem proveniente de áreas impermeabilizadas começa a penetrar no solo por infiltração chegando
da região mais antiga da cidade. Entretanto, são i- a um excedente de 532mm no mês de agosto. De
nexpressíveis como sumidouros de água do aqüífe- agosto em diante, o solo começa a perder água até
ro. atingir déficit no final do ano de 393mm. O déficit
O rio Pitimbu, de menor porte, é perene e hídrico anual é estimado em 530mm para uma ca-
limita a área de estudo no setor sul. A vazão de base mada superficial de solo de 100 mm.
é decorrente de águas de ressurgência da Formação O sistema hídrico subterrâneo de Natal é
Barreiras. Em seu leito médio tem-se a Lagoa do formado pelos aqüíferos Dunas e Barreiras, aqui
Jiqui que contribui como manancial superficial para denominado Dunas / Barreiras. Ocupa uma área de
suprir parte da demanda de água da cidade de Na- 114 km2 (zona norte com 24 km2 e zona Sul com 90
tal. km2, em relação ao rio Potengi) e como sistema de
A coluna estratigráfica da região de Natal é recursos hídricos, contêm poços de captação, lagoas,
composta por rochas sedimentares dos períodos fontes e cursos d’água de superfície, sendo expressi-
Cretáceo, Terciário e Quaternário, depositadas so- vos como sumidouros somente os cursos d`água de
bre um embasamento cristalino do Pré-Cambriano. contorno e os poços de bombeamento. De acordo
As unidades geológicas principais são: embasamento com o relatório da CAERN ( Melo, 1995), o aqüífero
Cristalino; sedimentos cretáceos, formados por ro- tem forte conexão hidráulica com a superfície.
chas carbonáticas, constituídas por calcáreos e areni- Os estudos hidrogeológicos realizados na
tos calciféros e que ocorrem em toda área em estu- área de Natal indicam a existência de duas unidades
do; sedimentos Tércio-Quaternários, formadores da aqüíferas subterrâneas, sendo uma superior com
unidade geológica conhecida como Formação Bar- características de aqüífero livre formada por sedi-
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mentos dunares com baixo potencial hidrogeológi- fundos se ajustam a uma mesma superfície poten-
co e outra inferior, do tipo semi-confinado, formada ciométrica, com exceção de poucos setores a sudeste
por arenitos inferiores da Formação Barreiras (Me- da área, onde existem estruturas geológicas que
lo,1995). Essas unidades são separadas por uma ca- propiciam a formação de aqüíferos suspensos (Me-
mada areno-argilosa que corresponde aos sedimen- lo,1995).
tos superiores do Barreiras. Ensaios realizados em É consenso que o sistema Dunas / Barreiras
superfície indicam que a condutividade hidráulica se comporta em geral como um sistema do tipo li-
varia de 1,5 x10-4 m/s a 2,8 x 10-4 m/s com média de vre. Verifica-se que o seu nível potenciométrico flu-
2,2 x 10-4 m/s, caracterizando certa homogeneidade tua com as variações sazonais, ou seja, suas potencia-
das dunas. A porosidade efetiva foi calculada obten- lidades estão condicionadas à infiltração direta das
do-se valor médio em torno de 10 % (Melo,1995). precipitações sobre as dunas, cujo volume efetiva-
Pela analise das variações das cargas hidráu- mente infiltrado repõe os volumes líquidos (água
licas nos poços, como também as feições litológicas e bombeada menos água servida de retorno) de água
estruturais dos sedimentos, há indicação que as for- subterrânea que são retirados pela exploração dos
mações dunares e os sedimentos da Formação Bar- poços e dos fluxos de água subterrânea. Dados da
reiras formam um sistema hidráulico único, (Melo, CAERN (2000) mostram que a explotação anual de
1995). As cargas hidráulicas dos poços rasos e pro- água subterrânea (zona sul de Natal) é da ordem de
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Exploração Sustentada do Aqüífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN
56,3 x 106 m3 /ano, com aumento anual estimado de por Melo (1995). Portanto, comparando-se os valo-
1,16 x 106 m3 / ano. res de VR e DV, pode-se admitir que o aqüífero se
A Figura 1 mostra o mapa potenciométrico encontra em equilíbrio quase estacionário para uma
do sistema Dunas / Barreiras, indicando o sentido resolução temporal anual.
do movimento das águas subterrâneas. Observa-se Realizando-se o balanço hídrico dos volu-
que existem três frentes principais de escoamento, a mes anuais de aporte e de retirada de água do aqüí-
saber: Frente Costeira com gradiente de 0,66 %; fero, tem-se:
Frente Potengi com gradiente de 1,20 %; Frente
Pitimbu com gradiente de 0,66 %. Esses gradientes h I .VP + VR = VE + VFS (1)
se referem às inclinações da superfície potenciomé-
trica em regiões próximas aos contornos.
sendo hI..VP = VI , o volume médio anual infiltrado
BALANÇO HÍDRICO efetivo ou a recarga natural decorrente da precipita-
ção de chuva; VR , o volume de água servida que per-
O volume anual (ano 2000) explotado atra- cola no subsolo; VE , o volume anual explotado; VFS ,
vés de poços pela CAERN é estimado em 56x106 m3. o volume anual correspondente à descarga dos flu-
Neste estudo, incluiu-se o volume explotado por xos subterrâneos que se dirigem aos cursos d’água e
poços de particulares, avaliado em 6x106 m3. Assim, ao mar. Substituindo as variáveis por seus valores
o volume anual explotado é estimado em VE = estimados, obtém-se:
62x106 m3.
O volume anual médio precipitado sobre a 140x106xhI + 47x106 = 62x106 +VFS (2)
área é calculado por: VP = A.P = 90x106x1550x10-3 = ou
140x106 m3, sendo a área de recarga igual a A = 140.106.hI – VFS = 15x106 m3 (3)
90x106 m2 e a precipitação média anual igual a P =
1550 mm. Estudos realizados por Melo (1995) e Ri-
O volume de água servida que retorna ao ghetto (2002) sugerem um valor estimativo médio
aqüífero, VR, foi estimado com base no volume ex- para hI em torno de 0,40. Assim, o volume infiltrado
plotado do aqüífero pela CAERN e no volume reti- de recarga, VI, e o volume correspondente aos flu-
rado de manancial superficial, estimado em 30 % xos subterrâneos, VFS, são estimados, respectivamen-
(rio Pitimbu) do volume explotado através de poços te, em:
pela CAERN na zona sul de Natal. Além disso, como
parte da região tem esgotamento sanitário, estimada VI = 0,40x140x106 = 56x106 m3
em 40%, admitiu-se que 60% do volume total anual VFS = 41x106 m3
da água servida é percolada ao aqüífero Dunas /
Barreiras. Assim, chamando de VR o volume anual Admitiu-se que o volume atual de água ar-
de água servida que retorna ao aqüífero, tem-se a mazenado no aqüífero pode ser estimado pela re-
seguinte estimativa: partição da área superficial de infiltração em três
regiões: a de contribuição ao fluxo subterrâneo para
VR =(1,3x56x106 +6x106)x0,60 = 47x106 m3. a linha costeira, Aco = 54x106 m2; a de contribuição
ao rio Potengi, Apo=13,5x106 m2; e a de contribuição
Através de informações colhidas junto a ao rio Pitimbu, Api = 22,5x106 m2, avaliadas pelo ma-
CAERN e dos estudos da ACQUAPLAN (1988) e de pa potenciométrico, Figura 1. Com esses valores e
Melo (1995), o presente estudo considerou uma com as espessuras médias das camadas saturadas
flutuação anual do nível potenciométrico do aqüífe- dessas três zonas do aqüífero Dunas / Barreiras, ava-
ro, Dh, em torno de 5,0 m e valor da porosidade efe- liadas por Melo (1995), respectivamente, em Hco =
tiva do aqüífero nef ao redor de 0,10. Assim, estima- 50 m; Hpo = 36 m; Hpi = 39 m, calcula-se o valor do
se que o deplecionamento médio do volume arma- armazenamento atual pela expressão seguinte:
zenado pelo aqüífero dentro de cada ano, DV, atra-
vés do seguinte cálculo: X ( t 1 ) = ( Aco .H co + A po .H po + A pi .H pi ).hef (4)
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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 10 n.2 Abr/Jun 2005, 27-38
Vco + Vpo + Vpi = VFS,atual = 41x 106 m3/ano (6) Adotando-se uma relação linear entre as de-
clividades potenciométricas e as alturas d’água do
sendo Vco, Vpo e Vpi, respectivamente, os volumes aqüífero, isto é:
anuais que percolam para o mar, para o rio Potengi
e para o rio Pitimbu. Utilizando a equação de Darcy,
tem-se que as descargas subterrâneas em m3/s nas I ref
direções da frente costeira, Qco; do rio Potengi, Qpo; I= H (13)
H ref
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Exploração Sustentada do Aqüífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN
ou e, derivando:
dX dH (23)
0, 000255H 2 + 0, 000175( H - 14)2 + = 9, 0 x106
(15) dt dt
+0, 000287( H - 11)2 = Q FS
Com esse resultado, exprime-se a equação
3
com H em m e QFS em m /s. Com a descarga em (19) por:
m3/ano, denotada por VFS , a expressão torna-se:
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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 10 n.2 Abr/Jun 2005, 27-38
gerida por Loaiciga e Leipnik (2001). Tomando-se Essa situação poderia levar ao colapso do sis-
X=X(t)=X([H(t)] em m3/m2 da área de recarga (A tema de bombeamento caso fosse mantida a taxa
= 90x106 m2), com os valores de t versus X apresen- atual de explotação. Nesse caso, haveria obrigatori-
tados na Tabela 2 e utilizando-se o SOLVER do EX- amente a necessidade de se buscar água para abaste-
CEL foram determinados os parâmetros: a = 5,239; cimento fora da área da cidade, ou seja, com o apor-
b = 0,1597; l = 0,2592 com excelente ajuste, ou seja, te de água para a cidade, o aqüífero poderia ser ex-
as curvas obtidas com os pares de valores da Tabela plorado a taxas bem menores que as atuais, de for-
2 e os obtidos pela equação (27) são praticamente ma a manter o volume de armazenamento próximo
coincidentes, com o somatório dos desvios ao qua- ao valor atual. Pelo balanço hídrico realizado, a re-
drado igual a 2,6x10-5. A equação (27) será utilizada carga natural é de 56x106 m3/ano e, em função do
na análise de exploração sustentada, utilizando o volume de água armazenado de equilíbrio do aqüí-
modelo proposto por Lóaiciga e Leipnik (2001). fero, se determinaria a profundidade H e o volume
Desse balanço, verifica-se que a taxa de ex- total dos fluxos subterrâneos. Na seqüência, seria
ploração atual E(X)=62x106m3 se iguala à recarga determinado o volume anual de explotação susten-
efetiva, VG, sem risco de o aqüífero ser deplecionado tada que seria possível retirar do aqüífero dentro da
a níveis indesejáveis, em longo prazo. Essa situação área urbana. De qualquer maneira, o volume explo-
se manterá desde que a explotação não aumente a tado, VE, somado ao volume percolado para os rios e
níveis que possam resultar em E(X)>VG. Ressalta-se mar, VFS, deve se igualar à recarga natural, avaliada
que VG é decorrente tanto da recarga natural quanto em 56x106 m3/ano.
do retorno da água servida. Caso seja implantado o A Figura 3 mostra os volumes anuais do flu-
esgotamento sanitário com descarte da água servida xo subterrâneo, VFS, e de explotação, E=G, em fun-
para o mar, o aqüífero deixaria de receber as taxas ção da altura de água do aqüífero, H (m), sem o
elevadas de nitrato, mas também deixaria de receber retorno de água servida.
um volume significativo de água para a sua recarga.
Volume anual V FS ou G (m3)
60000000 VFS
Tabela 2 – Valores associados de H (m) e t (ano) obtidos
através da equação (26) e de X, equação (22). 50000000
40000000
t X t H X
H (m) 30000000
(ano) m3/m2 (ano) (m) m3/m2
20000000
0,0 50,0 4,51 6,0 55,5 5,08
G
1,0 51,5 4,67 7,0 55,9 5,11 10000000
2,0 52,7 4,79 8,0 56,2 5,13 0
3,0 53,7 4,88 9,0 56,4 5,16 50 51 52 53 54 55 56 57
4,0 54,4 4,96 10,0 56,6 5,18 Altura de água H (m)
5,0 55,0 5,02 20,0 57,2 5,23
56
EXPLORAÇÃO SUSTENTADA
54
Lóaiciga & Leipnik (2001) apresentaram
52 um modelo de exploração sustentada que considera
que o comportamento do armazenamento ao longo
50
do tempo de um aqüífero com características hidro-
0 5 10 15 20 geológicas homogêneas pode ser descrito por uma
Tempo t (ano) função logística de recarga. Os autores aplicaram-na
a um aqüífero confinado. No presente estudo, o do
Figura 2 – Curva de enchimento do aqüífero em condi- Dunas / Barreiras, tem-se aqüífero tipo livre, po-
ções naturais de recarga e sem explotação. rém, com delimitação do domínio, o que levou a um
excelente ajuste da função logística às previsões de
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Exploração Sustentada do Aqüífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN
armazenamento de água do aqüífero, apresentadas veis explicações incluem as seguintes: com o aumen-
anteriormente. to de X é de se supor que os fluxos subterrâneos
Considere um aqüífero armazenando o vo- crescerão, resultando em menor recarga efetiva; no
lume de água X(t) num tempo t, submetido a uma entanto, com a diminuição de X, a redução da re-
taxa de exploração E[X(t)] e com uma taxa natu- carga é de natureza mais complexa; a zona de
ral de recarga G[X(t)]. transmissão da camada não saturada do solo estaria
Pela equação da continuidade tem-se: sujeita a menores valores dos teores de umidade, o
que poderia resultar numa maior retenção de água
dX ( t )
= G[ X ( t )] - E( X ( t )] (28) de sub-superfície e, conseqüentemente, num maior
dt tempo de exposição à evapotranspiração. Outra ex-
plicação seria que, devido à influência da compo-
Se a taxa anual de exploração da água sub- nente horizontal da percolação da água na zona não
terrânea é igual à taxa natural de recarga, isto é, saturada, poderiam ocorrer maiores perdas por ca-
E[X(t)] = G[X(t)], então o aqüífero está em equilí- pilaridade e evaporação, o que reduziria a recarga
brio dinâmico, isto é, na escala anual, há equilíbrio efetiva. Vale ressaltar que os gradientes topográficos
entre as variáveis da recarga e da exploração. são bastante acentuados em muitas regiões da cida-
A taxa de exploração da água subterrânea é de devido à formação dunar.
a variável de decisão. Busca-se o valor de E[X(t)] Evidentemente, são conjecturas para tentar
para alcançar metas objetivas. Já a taxa de recarga justificar a função parabólica para a recarga natural
natural do aqüífero depende do regime climático e obtida a partir da função logística atribuída a X(t),
das características do aqüífero (hidroestratigrafia, sem qualquer consideração quantitativa de proces-
condutividade hidráulica, coeficiente de armazena- sos físicos intervenientes. O uso da função logística
mento e distribuição potenciométrica). fora da faixa dos valores de X em que a função foi
A função logística é uma possível função pa- ajustada pode levar a resultados incompatíveis com a
ra modelar o mecanismo de recarga de água subter- realidade física.
rânea. Para o aqüífero de Dunas / Barreiras em Na- Considerando E(X) constante e substituin-
tal, foi mostrado anteriormente que a função logísti- do G(X) por sua expressão dada pelaa equação
ca exprime adequadamente o armazenamento de (28) tem-se:
água do aqüífero em função do tempo para uma
taxa de recarga constante. dX ( t ) l
= - ( X - A )( X - B ) (30)
Na ausência de extração de água subterrâ- dt a
nea, o armazenamento é alterado pela taxa de re-
carga. Assim, admitindo que a equação (27) descre- tomando-se como condição inicial, X(t1=0) = X1 e as
va a evolução no tempo do armazenamento sob au- seguintes expressões para A e B:
sência de explotação, então, com a condição de que
dX(t)/dt = G[X(t)] obtém-se a seguinte relação en- aé 4 ù
tre G(X) e X: A= ê 1- 1- Eú (31)
2ë al û
l 2
G( X ) = l .X - X (29) aé 4 ù
a B= ê 1+ 1- Eú (32)
2ë al û
sendo que X £ a. O ajuste de X(t) a uma função
logística foi verificado para o aqüífero Dunas / Bar- Essas equações têm como restrição E<al/4.
reiras quanto à recuperação de armazenamento a Importante observar que, a partir da equação (30),
partir da situação atual. As propriedades mais inte- se os valores de X(t) estiverem fora do intervalo
ressantes dessa função na exploração sustentada [A,B], a taxa de armazenamento será negativa, o
desenvolvida por Lóaiciga e Leipnik (2001) se apli- que implica em contínuo esvaziamento do aqüífero
cam a níveis mais baixos do armazenamento, resul- até o seu exaurimento, ou seja, até a superfície po-
tando numa função parabólica para a recarga efetiva tenciométrica atingir a elevação do nível do mar.
e explotação sustentada, correspondente ao arma- Verifica-se que, caso o valor de X(t) esteja
zenamento igual a a/2 e explotação máxima igual a fora do intervalo [A,B], a taxa de armazenamento
a.l./4. O resultado matemático de que a recarga será decrescente. Por outro lado, se X(t) estiver den-
efetiva tem um valor máximo quando X=a/2 precisa tro do intervalo [A,B], então, dX(t)/dt é positiva,
de uma justificativa física para a sua aceitação. Possí- de sorte que o armazenamento será crescente. A
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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 10 n.2 Abr/Jun 2005, 27-38
condição de que E<(α.λ)/4 é condição matemática No entanto, caso a taxa de explotação E[X]
para manter as variáveis A e B reais. Contudo, essa supere a recarga média anual G[X] então o armaze-
condição pode ser interpretada como sendo a de namento da água subterrânea irá diminuir . De ou-
máxima recarga, igual a (α.λ)/4, que ocorre quando tro lado, se a taxa de recarga é maior do que a taxa
o armazenamento X = α/2. de explotação, então, o armazenamento de água
Do ponto de vista operacional, a condição E subterrânea irá aumentar. Isso equivale a um ajuste
<(α λ)/4 impede que a taxa de exploração exceda à de armazenamento de água do aqüífero através de
máxima taxa de recarga natural. uma maior ou menor taxa de recarga. No primeiro
A solução analítica da equação (30) é obtida caso, devido à maior explotação, X diminui o que
por integração entre o tempo inicial t1=0 até um promove maior recarga efetiva do aqüífero segundo
tempo genérico t (em anos), resultando na seguinte a lei logística ou equação (27). No segundo caso,
expressão para o armazenamento do aqüífero X(t): quando a recarga é superior a explotação, X aumen-
ta, induzindo a redução da taxa efetiva de recarga.
X (t ) - B é l ù Nesse mecanismo, é possível garantir a sustentabili-
= exp ê - ( B - A ).( t - t 1 )ú (33) dade de explotação desde que os níveis de ajuste
X (t ) - A ë a û
estejam dentro de limites a serem discutidos, a se-
guir.
sendo t ³ t1 e A < X(t) £ a restrições de validade das Inicialmente, deve ser lembrado que o limi-
equações (27) e (28). Ressalta-se que essa solução é te máximo possível de explotação do aqüífero cor-
equivalente à equação (26), obtida através de um responde à G = Gmax = al/4.
equacionamento físico simplificado. Define-se exploração sustentada quando o
Pela equação (33), verifica-se, para t® ¥, armazenamento do aqüífero permanece num nível
que X(t) ® B independentemente do valor inicial médio anual constante (aceitável) para uma dada
de X, isto é, de X1 ser maior, igual ou menor do que taxa de exploração do aqüífero. Essa situação não
B. deve ser confundida com a taxa ótima de explotação
Através da equação (33) obtém-se a seguinte do aqüífero, E*, a qual pode envolver critério de
expressão para X(t): eficiência econômica ou restrições do meio ambien-
te.
X1 - B é l ù É interessante analisar o mecanismo de ajus-
B - e . A. .exp ê - ( B - A ).( t - t 1 )ú
X1 - A ë a û (34) te da recarga para situação temporalmente não sus-
X (t ) =
X -B é l ù tentável. Assumindo que o aqüífero está num nível
1- e. 1 .exp ê - ( B - A ).( t - t 1 )ú
X1 - A ë a û de armazenamento XA (Figura 4), será analisada
primeiramente a situação em que a razão de explo-
em que t ³ t1 e A <X(t) £ a. Nessa equação, e= 1 ração do aqüífero é igual à EA (= GB) excedendo a
quando X(t) assume valores fora do intervalo [A,B] taxa sustentável dada pela recarga, expressa por GA.
e e=-1 quando dentro deste intervalo. A equação Dinamicamente, o armazenamento do aqüífero irá
(34) revela que X(t) depende dos parâmetros do decair até chegar a um valor XB que resultará em
aqüífero l e a , do tempo t-t1e da taxa de explotação um novo valor para a recarga, GB=EA e que corres-
E através dos parâmetros A e B. ponde a uma nova condição de sustentabilidade do
Para t® ¥ a equação (34) revela que X(t)® aqüífero.
a/2 que é o valor mínimo admissível de armazena- Um caso particular de interesse refere-se à
mento com exploração sustentada. Contudo, a im- situação de máxima explotação, ou seja, quando
portância da equação (34) está na avaliação tempo- E = a .l / 4. Neste caso, A=B=a/2 resultando na se-
ral de X(t) de forma a se definir estratégias de ex- guinte expressão para X(t):
plotação compatíveis com a capacidade do aqüífero.
Pela equação da continuidade e na condi-
ção de exploração sustentada, para um determinado a 1
X (t ) = + (35)
armazenamento de água do aqüífero X(t), obrigato- 2 l
(1/ X 1 - a / 2 + (t - t1 )
riamente a explotação E[X] deve se igualar à recar- a
ga efetiva do aqüífero G[X], tomando-se como uni-
dade temporal, o ano. Essa é a situação de sustenta- Uma outra situação é para o caso em que,
bilidade de exploração do aqüífero para uma de- partindo de um armazenamento XC, uma taxa de
terminada reserva hídrica subterrânea. exploração EA é solicitada abaixo da taxa de recarga
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Exploração Sustentada do Aqüífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN
sustentável GC. Nesse caso, a água armazenada no E < (5,239x 0,2592)/4 = 0,339 m3/m2
aqüífero irá aumentar até chegar ao nível XB, no
ponto em que a taxa de exploração se iguala exata- ou seja, a explotação máxima sustentada é igual a
mente à taxa de recarga GB. Assim, a taxa de explo- 0,339 m3/m2 ou 30,6x106 m3. Valor de explotação
ração do aqüífero é garantida no valor de EA com acima desse valor máximo levaria ao exaurimento
sustentabilidade alcançada no valor de armazena- do aqüífero. Entretanto, caso se queira elevar a ex-
mento igual à XB. plotação em 50%, ou seja, E= 0,250m3/m2, pelas
Um terceiro caso a mencionar, é a da situa- equações (31) e (32), obtêm-se que A = 1,274 e B =
ção em que, partindo-se de um armazenamento XH 3,965. E com a equação (34) calculam-se os valores
e solicitada uma taxa de explotação igual à EH supe- de X(t) em função do tempo, em que se verifica que
rior à taxa máxima de explotação do aqüífero. Essa X(t) tende assintóticamente ao valor de B.
situação levará a um deplecionamento de armaze- Entretanto, convém novamente enfatizar
namento do aqüífero, resultando em decaimento da que a igualdade entre a explotação intensiva em
explotação e ajuste a um valor bastante abaixo do Natal e a recarga natural efetiva somente se manterá
solicitado. A condição de sustentabilidade é alcan- enquanto água servida estiver retornando ao aqüífe-
çada quando o armazenamento atinge o valor X0 e, ro. No caso de se proceder ao esgotamento sanitário
neste caso, E[X0] = G[X0] = G0. completo, a recarga passaria a ser igual ao da infil-
Para o aqüífero Dunas / Barreiras, o valor tração efetiva de água de chuva somente, avaliada
atual da exploração E[X(t)] = G[X(t)] = 0,1667 0,622 m3/m2. Nessa condição, a explotação susten-
m3/m2 de área de recarga; respeitando a condição tada, com a igualdade E[X]=G[X], seria obtida atra-
de E < (α λ) / 4 , tem-se que: vés da equação (29), sendo o armazenamento
X=X(H) obtido pela equação (22). A Tabela 3 for-
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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 10 n.2 Abr/Jun 2005, 27-38
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