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Dimensão pessoal e social da ética.

A moralidade é um fenómeno social, por boa parte dos nossos problemas envolverem a
relação com outros, e um fenómeno pessoal, por nos interrogarmos sobre a razão de ser de
dadas normas morais. Porque há de alguém preocupar-se com a moralidade, se isso não nos
beneficia? Então porque não havemos nós de a esquecer?

1. A moralidade como contrato social.


Na perspetiva de Hobbes, deve haver um acordo, de que cada cidadão faz parte, o contrato
social. Aqui, a moralidade é entendida como o conjunto de regras que facilitam viver em
sociedade e que, ao agir, tenhamos em conta os interesses dos outros e que estes tenham em
consideração os nossos.

2. O apelo às sanções divinas.


Este apelo às sanções divinas, a um deus que tudo vê, e que recompensa de acordo com o
mérito moral dos indivíduos , baseia-se na ideia de que Deus é o criador das leis morais que
devem governar-nos, dadas a partir dos seus mandamentos. Se esta teoria estiver correta,
embora a longo prazo, a moralidade compensa.

3. Moralidade como condição necessária da felicidade.


Esta teoria defende que a imoralidade não pode conviver com a moralidade. Somos mais
felizes quando não há conflito entre os nossos desejos e a nossa razão.

4. Egoísmo normativo ou ético.


Esta teoria defende de que todos nós em todas as nossas ações devemos fazer o que serve os
nossos interesses, dando-lhes prioridade em relação aos dos outros. Ajudar os outros não é
um dever moral pois só devemos realizar ações que tenham boas consequências para nós. Eis
duas objeções importantes:

 O egoísmo ético parece incapaz de resolver conflitos de interesses – se a defesa dos


meus interesses implica que prejudique os outros, não tenho também eu de admitir
que os outros me prejudiquem a mim?
 O egoísmo ético é incompatível com o ponto de vista moral – o ponto de vista moral
exige que superemos o nosso ponto de vista pessoal transformando-nos em
observadores ideais.

O problema da justificação do estado


Toda a nossa vida estamos sujeitos a regras de que não somos autores; quem as criou definiu
também punições para o caso de não as cumprirmos, por ter autoridade para tal. Regras essas
que têm o nome de leis e definem o que é ou não permitido fazer. São também o meio através
do qual o estado nos governa a todos nós. Mas porque razão devemos obedecer à sua
autoridade?

1.1. Aristóteles e a justificação naturalista do estado.


Para Aristóteles, o estado é uma forma natural de os indivíduos organizarem a sua vida em
sociedade. Para ele, a comunidade humana é resultado da Inter-relação entre comunidades
mais básicas, a família; com o passar do tempo várias famílias unem-se formando aldeias, que
por sua vez, formam cidades. A comunidade política – o Estado – é uma evolução natural dos
agrupamentos humanos mais simples, como a família.
Aristóteles argumenta que os seres humanos são, por natureza, animais sociais, logo, o ser
humano só se realiza vivendo em comunidade. A politica é a expressão superior da
sociabilidade humana e a Pólis, o lugar em que se pode desenvolver ao mais alto nivel, as
faculdades racionais dos humanos que por ser naturalmente sociável, é também por natureza
um animal politico.

Para Aristóteles, o Estado é uma instituição natural, justifica-se por si. Só nele se cumpre a
natureza humana e fora dele só há vida para quem não é humano.

1.2. As teorias de Hobbes e Locke.


Estas duas teorias dizem-se contratualistas uma vez que, para estes filósofos, o estado não é
uma instituição natural, mas sim o resultado de um contrato. Pois apesar de se podes
reconhecer nos seres humanos a aptidão para viverem em sociedade, o Estado é uma
construção humana, algo que impomos à nossa natureza.

A teoria contratualista de Hobbes


O estado autoritário protege os seres humanos uns dos outros.

 Estado de natureza: é aquele em que todos se julgam com direito a tudo, ninguém
respeita o direito de nenhum. A vida humana é nesta situação um constante conflito e
está permanentemente ameaçada pela luta de todos contra todos.
 Razões para sair do estado de natureza: ninguém pode aceitar viver numa situação em
que não há garantia alguma de continuar a viver. Para garantir uma certa segurança,
ordem e estabilidade, os indivíduos renunciam a todos os seus direitos.
 O estado de sociedade ou paz cívica: a paz cívica e a ordem assegurada pelo estado,
valem a perda dos direitos que se possuíam antes do surgimento da sociedade politica.

Ao acentuar a necessidade de paz cívica - de ordem e de segurança - Hobbes defende que


não deve haver conflito entre governante e governados. Um só governante com poder
absoluto é única forma de controlar eficazmente o funcionamento do governo e desse
modo garantir a paz, segurança e proteção da vida dos cidadãos. Para ele, nada de mal que
possa acontecer aos seres humanos no “estado de sociedade” é comparável brutalidade,
ao medo e o risco permanente de morte violenta que caracteriza o estado natureza.

Teoria contratualista de Locke


O estado é criado para proteger a vida, a liberdade e a propriedade.

 Estado de natureza – Ao contrário de Hobbes, o estado de natureza não era um estado


lastimável e negativo, para Locke, corresponde à vida sem governantes, onde cada ser
se tinha de autogovernar.
 Porque razão vai ser necessária um Estado? – É a vontade e consentimento dos
cidadãos que cria o estado, estes, definem os termos do contrato implicitamente dado
por aqueles que irão nascer no interior da sociedade politica assim formada. Se
aceitamos algumas das vantagens de sermos governados (ver-nos protegidos, ter
acesso a cuidados de saúde, circular seguramente em vias publicas), então estamos a
dar o nosso consentimento tácito ao estado.
 Os limites da autoridade do estado – a autoridade do estado é limitada pelos direitos
naturais dos indivíduos. Os direitos que temos no estado de natureza continuam a
existir no estado de sociedade, o estado de sociedade não deve tirar-nos a vida, a
liberdade ou a propriedade. Se alguma lei ou decreto viola os direitos fundamentais,
então justifica-se a desobediência ou a resistência dos cidadãos. Estamos perante uma
conceção que defende um Estado mínimo, muito mais protetor do que interventor.

2. O problema da relação de liberdade e justiça social.


Este problema tem o nome de justiça distributiva, uma vez que a justiça é a vontade de dar a
cada um o que lhe é devido e distributiva, uma vez que, procura entender como deve ser feita
uma distribuição apropriada de bens e encargos de diferentes pessoas. Será o critério dessa
distribuição o mérito, o estatuto social, a necessidade de indivíduos ou de uma forma
igualitária? John Rawls e Robert Nozick elaboraram as suas teses em que procuravam obter a
resposta a este problema.

A teoria de John Rawls – Liberalismo Social.


Rawls, um filosofo norte americano surgiu com a uma nova interpretação do contrato social, o
liberalismo social; que não admite nem o sacrifício dos menos favorecidos em nome da
economia, nem o sacrifício dos mais favorecidos em nome do igualitarismo. Há igualdade de
direitos no que respeita às liberdades fundamentais, que significam um maior bem-estar para
todos. Porém, não o podemos afirmar como igualitarista, uma vez que afirma que há
desigualdades justas, isto é, desigualdades que controladas revertam a favor de todos e, em
especial, dos que vivem pior. Rawls divide a sua conceção geral em três princípios:

 Principio da liberdade igual – Não há sociedade justa se não respeitarmos todas as


liberdades. O estado deve garantir a todos liberdades básicas de forma igual (direito
de voto, direito à liberdade de expressão, …). Mais precisamente, este principio
significa que nenhum indivíduo deve ter mais liberdade do que os outros para conduzir
a sua vida e concretizar-se. Este principio tem precedência sobre todos os outros, isto
é, a liberdade não pode ser sacrificada em nome do bem-estar da maioria.
 Principio da igualdade de oportunidades – Consiste em garantir a todos os indivíduos
as mesmas oportunidades de acesso aos vários lugares na sociedade,
independentemente da raça, do género ou da condição socioeconómica. Desde que os
indivíduos possuam as mesmas competências, têm as mesmas possibilidades de
acesso a um emprego. Os impostos são a forma de distribuir os bens e de promover a
igualdade de oportunidades.
 Principio da diferença – Haverá sempre membros que serão impedidos de alcançar os
seus objetivos por fatores pelos quais não são responsáveis, como a má condição
económica. Para tentarmos corrigir este erro, os que tiveram sorte na lotaria natural
devem contribuir para o beneficio dos menos favorecidos a partir dos impostos. A
sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, exceto se desigualdades
gerarem o maior benefício para os menos favorecidos, dando-lhes a oportunidade de
melhorarem a sua situação.

A desigualdade justifica-se:

a) Se beneficiar todos os membros da sociedade, em especial os menos favorecidos;


b) Se for uma condição necessária e suficiente para incentivar uma maior produtividade.

A posição original e a escolha sob o véu de ignorância.


A posição original corresponde ao modo como indivíduos escolheriam as regras de
funcionamento de uma sociedade o mais justa possível, não fazendo ideia do meio social em
que nasceram, da sua situação económica, que tipo de educação receberão, etc. Dizemos
assim que estes indivíduos vão escolher os princípios de justiça cobertos por um véu de
ignorância – desconhecimento por parte de cada indivíduo da sua condição social e económica
no momento do contrato social.

Qual a vantagem do véu da ignorância?


Este estado garante a imparcialidade das opções de cada um. Vai possibilitar que, devido ao
desconhecimento da sua situação social e económica, os indivíduos organizem a sociedade de
um modo que seja mais vantajosa para todo.

A teoria de Robert Nozick – Libertarianismo politico.


Teoria que defende injusta a posição de Rawls e afirma que uma sociedade justa é aquela que
não impõe qualquer limite legal aos níveis de desigualdade económica nela presentes. Mesmo
que numa sociedade haja assinaláveis desigualdades económicas, esse facto não torna legitima
a redistribuição da riqueza, isto é, que se tire aos mais favorecidos para dar aos mais
favorecidos. Segundo Nozick, pode e deve-se apelar à generosidade dos mais favorecidos, mas
não é justo obriga-los a socorrer os mais necessitados. É imoral que me forcem a partilhar com
os outros os bens que legitmamente adquiri, visto que o que é meu, é meu. Para Nozick, é
desejável que alguém ajude um individuo numa posição pior, seja uma instituição ou um
individuo, mas isso tem de partir da vontade de cada um.

A Dimensão estética da ação humana.


1. A Natureza da experiencia estética
Para Kant os objetos capazes de suscitar experiencias estéticas – objetos estéticos – são de 2
tipos:

 Objetos artísticos – são criações humanas, que produzidos por um artista, são capazes
de despertar emoções e sentimentos que os avaliem em belos, horríveis ou sublimes.
São exemplo uma pintura, uma peça teatral, um edifício.
 Objetos naturais – são produções da natureza, encontramo-los e são capazes de
despertar emoções e sentimentos que os avaliem como belos, horríveis ou sublimes.

A atitude estética
Na experiencia estética dá-se a relação entre um sujeito que observa e contempla e um objeto
estético. Porém, a experiencia estética só é possível se nessa relação adotarmos uma atitude
desinteressada, ou seja, consiste numa relação que não se interessa pela utilidade do objeto,
não o transforma em meio para atingir um fim. Nesta atitude, apreciamos o objeto por si
mesmo, afastando quaisquer considerações relativas ao proveito que teríamos em possui-lo,
aos valores morais que o promove ou não e pondo de fora a vontade de ampliar
conhecimentos.

2. O problema da justificação dos juízos estéticos.


Juízo estético – um ato mediante o qual formulamos uma proposição que atribui determinada
qualidade estética a um objeto.

O problema é que muitas pessoas julgam determinadas coisas belas, enquanto outras
discordam. Quando julgamos um objeto belo ou feio estamos somente a declarar o que
sentimos ao contemplá-lo ou estamos a referir-nos às propriedades do próprio objeto, que são
independentes ao que sentimos?
2.1. O subjetivismo estético
Segundo o subjetivismo estético ao dizer que a catedral de milão é bela estou a dizer que
gosto de ver a dita catedral, ou seja, o juízo estético é uma questão de gosto pessoal. Esta
posição baseia-se no desacordo das pessoas acerca do que é belo, pois se houvessem juízos
estéticos objetivamente verdadeiros, haveria acordo acerca do que é belo ou não.

2.2. O objetivismo estético


Os defensores do objetivismo estético afirmam convictamente que há coisas belas por si e
obras de arte objetivamente melhores que outras. O desacordo estético não significa para eles
que não haja verdades objetivas, mas sim que há pessoas que estão enganadas ou são
incapazes de descobrir as qualidades que certos objetos têm.

A arte como imitação da realidade.


Para quem concebe a arte como imitação da realidade, constituindo-se como uma cópia do
real, a obra será tanto mais valiosa quanto mais iludir e enganar, isto é, quando o artista
consegue refletir o mais fielmente possível a realidade provocando ilusão a quem contempla a
obra.

Objeção:
A realidade não se reduz aos objetos da nossa perceção imediata. Não vendo as coisas como
são, não vendo os átomos de que é feito um tal objeto, podemos apenas pintar num quadro a
dimensão impercetível das coisas. Sendo assim, a arte não pode imitar a realidade, mas
unicamente simulá-la, ultrapassando a visão impercetível que temos das coisas.

A arte como expressão de emoções (Tolstoi).


Para Tolstoi a arte é a comunicação intencional de sentimentos, na obra de arte o artista cria
algo que exprime o sentimento que experimentou. A criação de tal obra de arte envolve 3
momentos:

1. O artista tem uma experiencia emocional, que tanto pode ser de medo, alegria,
esperança…
2. Decide partilhar esse sentimento com os outros, dando-lhes o mesmo sentimento, de
modo a que o sintam também.
3. Para comunicar esse sentimento com os seus semelhantes cria uma obra de arte que
lhe dará de novo o sentimento que originalmente o motivou.

O mais importante é que irá reproduzir nos outros seres humanos o mesmo tipo de
sentimento. O artista não se limita a descrever o seu sentimento, o artista partilha os seus
sentimentos com os seus semelhantes criando uma obra de arte que os faz sentirem-se de
igual forma.

Pseudoarte:
Para Tolstoi, a arte exige a adequada expressão de um sentimento genuíno, assim sendo,
rejeita a pseudoarte, isto é, arte que tem origem na falta de sinceridade do artista ou à
tentativa de criar uma obra de arte que não tem a sua origem num sentimento ou numa
experiencia real.

Constitui uma conexão entre a arte e vida:


A característica distintiva da teoria de Tolstoi é a de que o sentimento real do artista é
comunicado pela obra que cria. Não nos limitamos a reconhecer que o autor de um poema foi
afetado por um autentico sentimento de dor. Se o poema for uma genuína obra de arte,
sofremos. Assim, a teoria de Tolstoi estabelece uma intima conexão entre arte e vida.

Clive Bell: só é arte o que tem forma significante.


Costumamos nos nossos juízos estéticos, dizer que uma obra está bem organizada, que é
harmoniosa na conjugação dos seus elementos. Ao falarmos destes aspetos, estamos a referir-
nos à forma das obras artísticas, às suas propriedades formais.

Clive Bell defendeu que a forma é o objeto da nossa apreciação estética. Não importa qualquer
utilidade da obra, a intenção do artista ao produzir a obra nem o meio cultural em que foi
realizada. As qualidades formais de uma obra são tudo o que importa para decidir se tem valor
artístico, ou não.

Forma significante:
Bell teve o cuidado de denominar a tais qualidades “forma significante”, esta é aquela que
produz no espectador a emoção estética. Trata-se da relação entre as partes que compõem
uma obra. Distingue-se por ela resultar do facto do artista manipular, explorar e organizar
certas qualidades formais unicamente tendo em vista a contemplação da obra.

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