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CEDIME Informa Fevereiro 2021, N.

º 195

Novas variantes SARS-CoV-2


Nas últimas semanas de 2020, registou-se, no Reino Unido, um aumento exponencial do número
de casos de COVID-19, facto que motivou novos estudos a nível microbiológico e epidemiológico.
Estes estudos incluíram a análise genómica de vírus detetados em pessoas com diagnóstico de
COVID-19, e levaram à identificação de um número considerável de casos pertencentes a uma
nova variante de SARS-CoV-2, com mutações ao nível da Proteína Spike (S), entre outras regiões
do vírus. Esta nova variante motivou, na comunidade científica, uma atenção acrescida – Variant
of Concern (VOC) –, sendo, à data, genericamente referida na literatura como VOC 202012/01
(Variant of Concern, detetada no ano de 2020, no 12º mês; 1ª variante com estas características).

Ainda em 2020, em dezembro, foi identificada, na África do Sul, outra variante de SARS-CoV-2 –
501Y.V2 – e, já em 2021, em janeiro, uma terceira variante no Brasil – P.1. Taxonomicamente,
estas três variantes podem ser agrupadas do seguinte modo:

Variante VOC 202012/01

• 20I/501Y.V1 (Linhagem B.1.1.7)


• Inicialmente identificada no Reino Unido

Variante 501Y.V2

• 20H/501Y.V2 (Linhagem B.1.351)


•Inicialmente identificada na África do Sul

Variante P.1

• 20J/501Y.V3 (Linhagem P.1)


• Inicialmente identificada no Brasil

Em Portugal, a diversidade genética do SARS-CoV-2 é acompanhada de perto desde abril de 2020,


tendo como um dos principais objetivos a monitorização da introdução de novas variantes no
país. Na sequência deste acompanhamento, à data da publicação deste documento, foram já
identificados casos associados às variantes VOC 202012/01 e 501Y.V2, mas não à variante P.1.

O QUE MOTIVA O APARECIMENTO DE NOVAS VARIANTES?

Todos os vírus, e, em particular, os vírus de mRNA – como os coronavírus – mudam com o tempo,
através de mutações (isto é, alterações na sequência genómica), pelo que o aparecimento de
novas variantes (isto é, de vírus idênticos, com uma ou mais mutações na sua estrutura) é natural
e expectável.

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Nem todas as mutações têm impacto significativo na evolução dos vírus, mas algumas
proporcionam-lhes vantagem seletiva, tornando, por exemplo, a sua transmissão mais fácil. Na
base do aparecimento e propagação de novas variantes podem estar mecanismos como:

✓ Seleção natural/pressão seletiva: as variantes mais aptas para contornar a resposta do


sistema imunitário tendem a tornar-se mais frequentes;
✓ “Founder Effect”: quando as variantes, independentemente das suas características,
encontram um meio favorável à sua propagação (por exemplo: eventos com uma grande
concentração de pessoas ou com uma forte prevalência de elementos pertencentes a
grupos de risco);
✓ Alternância de hospedeiros: quando o vírus invade e se estabelece noutra espécie – a
adaptação a um novo hospedeiro pode motivar novas mutações;
✓ Infeções persistentes (crónicas) em hospedeiros com compromisso do sistema
imunitário: motivam um aumento da diversidade genética do vírus, menos frequente em
infeções agudas;
✓ Mutações ao nível da função “proofreading” (responsável pela eliminação de erros
durante os processos de replicação e transcrição): estas mutações propiciam um número
crescente de novas mutações, em menos tempo.

O QUE SE SABE SOBRE ESTAS NOVAS VARIANTES?

Embora a ciência seja dinâmica, e sendo este vírus e o conhecimento que temos dele tão recente
e em permanente atualização, é possível adiantar que:
Pensa-se que são mais transmissíveis – incluindo, no caso da VOC 202012/01, em
Transmissibilidade
faixas etárias mais baixas (abaixo dos 20 anos de idade)
Gravidade da doença À data, não é possível associar estas variantes a quadros mais severos de COVID-19
A deteção destas variantes por reação em cadeia pela polimerase (Porolymerase
Chain Reaction – PCR) pode, em alguns casos, estar comprometida – são necessários
Diagnóstico
mais estudos para concluir se/de que forma estas novas variantes condicionam a
forma como o vírus é detetado e, consequentemente, a doença é diagnosticada
São necessários mais estudos sobre a forma como estas novas variantes respondem
Tratamento
à terapêutica atualmente utilizada para a COVID-19
São necessários mais estudos sobre a resposta à vacina, mas, à data, acredita-se que
Vacinas
as novas variantes não têm impacto na eficácia das vacinas já aprovadas para
prevenção da COVID-19

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CEDIME Informa Fevereiro 2021, N.º 195

Por serem, à partida, mais transmissíveis, é expectável que estas variantes levem a um
aumento no número de casos, com consequente aumento da pressão sobre os sistemas de
saúde dos vários países (com um maior número de internamentos e, eventualmente, de
mortes), podendo exigir medidas adicionais como, por exemplo, novos confinamentos.
No entanto, por agora, verifica-se que o modo de transmissão do vírus não sofreu alterações.
Assim, as medidas de prevenção até aqui adotadas mantêm-se válidas, devendo, por este
motivo, continuar a ser asseguradas.

A intervenção profissional da equipa da farmácia

Quando abordada pelo utente para o esclarecimento de questões no âmbito das novas variantes de SARS-CoV-2,
a equipa da farmácia deve procurar transmitir uma mensagem tranquilizadora, tendo por base uma análise das
expectativas do utente e tentando, sempre que possível, desmistificar quaisquer mitos ou ideias erradas. É
importante reforçar que:
• É normal os vírus sofrerem alterações (mutações) com o tempo. No caso particular do SARS-CoV-2, estas
alterações têm sido vigiadas de perto, pela comunidade científica, a nível internacional e nacional: tem sido
amplamente analisado o impacto que estas alterações têm na transmissibilidade do vírus, na gravidade da
doença e se/de que forma podem comprometer as medidas preventivas adotadas até aqui;
• Apesar do acompanhamento destas alterações, este é um assunto sobre o qual se desconhece, ainda, muito
estando, portanto, em constante atualização;
• As medidas de prevenção mantêm-se válidas e continua a ser essencial assegurá-las:
- Lavar as mãos frequente e corretamente;
- Manter o distanciamento social e utilizar máscara sempre que não seja possível e em espaços públicos;
- Não descurar as regras de etiqueta respiratória: ao espirrar e/ou tossir, cobrir o nariz e/ou a boca com
um lenço de papel (que deverá ser, imediatamente, colocado no lixo) ou, em alternativa, com o
antebraço.
É especialmente importante reforçar esta mensagem perante utentes com uma baixa perceção de risco, de modo
a desencorajar comportamentos que possam comprometer a saúde individual e pública (exemplo: eventos com
uma grande concentração de pessoas), e aos utentes pertencentes a grupos de risco.

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CEDIME Informa Dezembro 2020, N.º 194

Fontes Bibliográficas:
1. CDC, Centers for Disease Control and Prevention. New Variants of the Virus that Causes COVID-
19. 2021 [acesso em fevereiro de 2021]. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-
ncov/transmission/variant.html
2. DGS, Direção-Geral da Saúde. DGS e INSA acompanham de perto evolução da nova estirpe. 2020
[acesso em dezembro de 2020]. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/dgs-e-insa-
acompanham-de-perto-evolucao-da-nova-estirpe/
3. ECDC, European Centre for Disease Prevention and Control. Threat Assessment Brief: Rapid
increase of a SARS-CoV-2 variant with multiple spike protein mutations observed in the United
Kingdom. 2020 [acesso em dezembro de 2020]. Disponível em:
https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/threat-assessment-brief-rapid-increase-sars-
cov-2-variant-united-kingdom
4. ECDC. Risk Assessment: Risk related to the spread of new SARS-CoV-2 variants of concern in the
EU/EEA – first update. 2021 [acesso em janeiro de 2021]. Disponível em:
https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/covid-19-risk-assessment-spread-new-
variants-concern-eueea-first-update
5. ECDC. Infographic: Mutation of SARS-CoV2 - current variants of concern. 2021 [acesso em
fevereiro de 2021]. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/covid-19-
infographic-mutations-current-variants-concern
6. INSA, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Relatório de situação sobre diversidade
genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal – 05-02-2021. 2021 [acesso em fevereiro
de 2021]. Disponível em: http://www.insa.min-saude.pt/relatorio-de-situacao-sobre-diversidade-
genetica-do-novo-coronavirus-sars-cov-2-em-portugal-05-02-2021/
7. Robson et al. Coronavirus RNA Proofreading: Molecular Basis and Therapeutic Targeting. Cell
Press – Molecular Cell. 2020 [acesso em fevereiro de 2021]. Disponível em:
https://www.cell.com/molecular-cell/fulltext/S1097-2765(20)30518-
9?_returnURL=https%3A%2F%2Flinkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii%2FS109727652030
5189%3Fshowall%3Dtrue
8. SNS, Serviço Nacional de Saúde. COVID-19 | Variante do Reino Unido. 2021 [acesso em janeiro de
2021]. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/noticias/2021/01/18/identificar-variante-do-
reino-unido/
9. WHO, World Health Organization. SARS-CoV-2 Variants. 2020 [acesso em janeiro de 2021].
Disponível em: https://www.who.int/csr/don/31-december-2020-sars-cov2-variants/en/

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