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VIROSES DERMOTRÓPICAS

Diocreciano Bero
• As viroses dermotrópicas podem ser dividias em 2 tipos:

1) Aquelas em o vírus permanecem no local da infecção, restritos a


superfície corpórea; ex: Herpes simples 1 e 2, papiloma vírus
humano.

2) Aquelas em o vírus se alojam no tecido epitelial apos se


disseminarem sistemicamente pelo corpo; herpesvírus humano 6 e
7, sarampo, rubéola.
As lesões epiteliais causadas pelo vírus dermotrópicos que são
disseminados pelo sangue podem ser divididas:

Em lesões transmissoras directas desses patógenos e que são


contagiosas (ex: varicela).

Lesões derividas das reacções imunológicas do hospedeiro e não


contagiosas (ex: exantemas causadas pelos herpesvírus humanos 6
e 7 e vírus sarampo).
Herpesvírus de origem humana
• Ordem: Herpesvirales
• Família: Herpesviridae
• Subfamilias: Aphaherpesvirinae
Gênero: Simplexvirus (HSV-1 e HSV-2).
• Subfamilias: Betaherpesvirinae
Gênero: Cytomegalovirus (HCMV)
Roseolovirus (HHV-6 e HHV-7)
• Subfamilias: Gammaherpesvirinae.
Gênero: Lymphocryptovirus (Epstein-Barr)
Rhadinovirus (HHV-8)
Classificação dos herpesvírus que infectam os seres humanos (HHV)
Tipo Sinônimo Subfamília Patologia
Vírus herpes simplex 1 Aphaherpesvirinae Herpes orofacial e ou genital, infecção ocular, encefalite
HHV-1
(HSV-1)
Vírus herpes simplex 2 Aphaherpesvirinae Herpes orofacial e ou genital
HHV-2
(HSV-2)
Vírus da varicela-zoster Aphaherpesvirinae Varicela ou Zoster
HHV-3
(VZV)
Vírus Epstein-Barr (EBV) Gammaherpesvirinae Linfoma de Burkitt, mononucleose infeciosa, carcinoma de
HHV-4
ou linfocriptovírus nasofaringe
HHV-5 Citomegalovírus (HCMV) Betaherpesvirinae Infecções congénitas, retinite, pneumonia
HHV-6A Roseolovírus Betaherpesvirinae Ainda não associado a qualquer doença
HHV-6B Roseolovírus Betaherpesvirinae Exantema súbito (sexta doença ou roseola infantum)
HHV-7 Roseolovírus Betaherpesvirinae Exantema súbito
Herpesvírus associado ao Gammaherpesvirinae Sarcoma de Kapossi, linfoma de efusão primário, doença de
HHV-8
sarcoma de Kaposi Castleman
Todos os membros da família Herpesviridae compartilham quatro
propriedades biológicas:
1. Codificam varias enzimas envolvidas no metabolismo do ácido
nucleico viral;
2. A síntese do DNA viral ocorre no núcleo;
3. A produção de partículas infeciosas leva a destruição das células;
4. Apresentam a capacidade de causar infecção persistente com
alguns vírus permanecendo em estado de latência, onde somente
alguns genes são expressos.
A infecção persistente latente se difere da infecção persistente
crônica porque a produção de vírus infeciosos não esta presente em
todo o curso da infecção, alem de possuir a capacidade de
reactivação.

Na infecção latente, um vírus pode não realizar o ciclo replicativo


completo em algumas células, como é o caso do VZV, e em menor
extensão para os HSV, em outras, o vírus causa o ciclo lítico em
algumas células e pode estar activamente proliferando em outras.
Vírus herpes simplex 1 e 2
Foram os primeiros herpesvírus humanos a serem descritos.

Esses vírus apresentam características biológicas particulares, tais como:


 A capacidade de causar diferentes tipos de patologias,
 Estabelecer Infecções persistentes latentes por toda a vida nos hospedeiros,
 Serem reactivos causando lesões que podem se localizar no sitio da infecção
primaria inicial ou próximo a ele.
Histórico (1)
 Nas tábuas de Sumerianas (3000 a.C)--» já se encontravam menção de lesões
genitais herpéticas.
 Hipócrates (médico da Grécia antiga, 460 a 377 a.C) --» documentou lesões
causadas por esses vírus denominando-as de herpes (do grego herpein= rastejar,
réptil).
 Heródoto (historiador grego, 484 a 425 a.C) --» descreveu a doença como capaz de
causar febre e pequenas vesiculas na boca e ulcerações nos lábios, denominando de
herpes febrilis.
 Galeno (farmacêutico e medico grego, 129 a 199 a.C.) --» lesões eram uma maneira
de o corpo libertar os humores malignos em forma de bolhas, denominando as de
excretinas herpéticas.
 Vidal (1873) --» comprovação da infecciosidade e poder de transmissão pessoa a
pessoa.
Histórico (2)
 Gruter (1913) --» ensaios em coelhos, isolando e transmitindo o vírus, trabalhos
publicados em 1924.

 Lowenstein (1919) --» aprimorou os experimentos de Gruter, em humanos e


coelhos, conhecido como o responsável pelo primeiro isolamento do HSV.

 Adrewes e Carmilchael (1930) --» descreveram reactivação da doença em pacientes.

 Burnet e Williams (1939) descrição detalhada da infecção pelo HSV.

 Entre 1920 a 1960 estudos sobres manifestações biológicas da doença.

 Nahmias e Dowdle (1968) demostraram a existência de dois tipos (actualmente


espécies, HSV-1 e HSV-2).
Os HSV-1 e HSV-2 apresentam características morfológicas e ciclo
replicativo semelhantes aos de outros membros da família Herpesviridae.

Causam infecção persistente nas células do hospedeiro, podendo


produzir infecções líticas, com ciclo replicativo curto, e estabelecer
infecção persistente latente em células neuronais sensoriais.

O HSV-1 e HSv-2 são vírus DNA de fita dupla linear de 152 kpb,
constituídos de um virion esférico de 186 nm de diâmetro e apresenta
espiculas no envelope.
Infecção produtiva
Transmissão célula a célula

• A principal rota de transmissão pela qual a infecção pelos HSV se dissemina em seres
humanos é a transmissão célula a célula.
• A progénie viral passa directamente de uma célula infectada para outa não infectada
adjacente.
• Isto ocorre desde a primeira infecção, desde o sítio primário de infecção nas células
do tecido mucocutâneo para a terminação do axónio dos neurónios sensoriais
(transporte retrogrado).
• Esse fenómeno também ocorre na reactivação durante a fase de latência , quando os
vírus recém replicados saem dos neurónios para o tecido mucocutâneo (transporte
anti-retrógrado).
Transmissão do HSV (1)

o A transmissão é dependente de um contacto intimo e pessoal de um


hospedeiro susceptível com alguém que esteja excretando activamente
os HSV-1 ou HSV-2.

o Os vírus penetram no organismo pelo contacto directo com a pele com


lesão, ou mucosas da boca ou genital.

o Os vírus podem ser transmitidos quando presentes em fluidos corporais


como saliva, sémen e secreções cervicais ou no liquido das vesículas.
Transmissão do HSV (2)

o O risco de infecção é maior quando ocorre o contacto directo


com liquido das vesiculas durante os episódios de herpes.

o Durante o período de latência, o vírus não é transmissível. No


entanto, algumas vezes, as partículas virais começam a replicar e
provocam a transmissão sem a presença de sintomas (1/3 das
infecções é transmitida neste estagio da infecção.
Herpes orofacial
• Os HSV tem sido detectados em saliva e sangue de pacientes com infecções
orofaciais activas (sendo manifestação mais prevalente da doença).

• A primoinfecção acontece antes dos 2 anos de idade e apresenta-se


clinicamente como gengivoestomatite herpética.

• A transmissão mais frequente se da por contacto íntimo pela saliva, deve-se


evitar compartilhar utensílios pessoais do infectado.
Herpes Genital
• Frequentemente transmitido por meio da actividade sexual e pessoa com
múltiplos parceiros tem maior de contrair a infecção.

• Somente 10 a 35% das pessoas apresentam sintomas.

• Uma pessoa que apresenta os 2 tipos de vírus tem uma chance maior de
transmitir os vírus do que o individuo que tenha somente o HSV-2, enquanto
um individuo infectado somente com o HSV-1 tem menor chance de
contrair o HSV-2.
Infecção primária e reactivação
• A infecção primária costuma ser mais invasiva que a recorrente, devido a falta de imunidade
celular e humoral do hospedeiro, podendo ocorrer pneumonia, hepatites ou
comprometimento do SNC.

• A infecção primária dura de 2 a 3 semanas, mas a dor pode persistir ainda por até 6 semanas.

• Os surtos recorrentes podem acontecer em intervalos de dias, semanas ou anos. O paciente


sente dor, queimação, coceira ou formigueiro, com duração de 6hrs antes do período de
erupção das vesiculas.

• Em alguns casos não muito frequentes, pode haver a infecção das mãos, coxas e nádegas
pela transmissão por autoinoculação.
Outras manifestações clínicas
 Ceratoconjuntivite herpética (compromete a retina)
 Nódulo herpético (dedo polegar ou indicador, ex: crianças, dentistas)
 Infecção congênita ou neonatal (in útero, durante o parto e pós-parto)
 Lesões de pele
 Infecção em pacientes imunocomprometidos
 Infecção do sistema nervoso central
Relação entre a infecção pelos HSV e HIV

• A infecção lítica pelo HSV na mucosa genital gera a ruptura da barreira epitelial,
levando a um processo inflamatório que recruta células linfocitarias efectoras,
susceptíveis a infecção pelo HIV.

• Facilita a entrada desse vírus no hospedeiro e aumenta o risco de transmissão para


hospedeiro susceptível.

• A infecção lítica ou persistente latente pelo HSV-1/2 estimula a replicação do HIV,


aumentando a transcrição e tradução de proteínas desse vírus (aumenta a libertação de
partículas virais favorecendo o aparecimento do SIDA).
Efeitos emocionais e sociais do herpes genital
• O impacto na vida dos pacientes com infecção herpética genital é grande, sendo em
alguns casos acompanhamento psicoterapêutico.

• Pesquisas ilustraram que dos participantes com a herpes genital:


 78% sentiam-se deprimidos,
 75% preocupados com a rejeição,
 25% apresentavam pensamentos suicidas
 80% profundo efeito na vida sexual
Diagnóstico laboratorial
Os médicos identificam facilmente a forma recorrente da infecção, porem nas
infecções primárias, manifestações clinicas atípicas e recorrentes assintomáticas
é necessário que se faca o diagnóstico laboratorial.

• Isolamento do vírus em culturas de células


• Testes sorológicos
• Testesmoleculares
Epidemiologia
• No mundo, a prevalência do HSV-1 ee de aproximadamente 90%. As
infecções por HSV-2 são menos frequentes (estimando-se em 10 a 20% na
Europa e EUA).
Prevenção
• Medidas de prevenção de ITS e de higiene,
• Uso de preservativos durante a relação sexual,
• Suspeita de infecção primaria na gestação a cesariana é recomendável,
• Estão sendo desenvolvidas vacinas, mas até então sem sucesso.
Tratamento
• Não cura até ao momento, no entanto existem drogas anti-herpes que
reduzem os sintomas e diminuem o tempo da manifestação clínica.

• Os principais anti-virais utilizados actualmente são: Aciclovir, Valaciclovir e o


Fanciclovir.
Vírus da varicela-zoster
Histórico (1)
• O alfaherpesvirus HHV-3 causa varicela ou catapora, como infecção primária.
• Heberden (1867)--» demostrou diferenças entre varicela e varíola.
• Bokay (1892)--» observou que crianças adquiriam a varicela apos contacto com
parentes apresentando a doença.
• Goodpasture e nderson (1944) --» primeiro isolamento em ovos embrionados.
• Weller e Sttodard (1953) --» primeiro isolamento em cultura de células.
Histórico (2)
• A propagação do vírus in vitro permitiu a ligação entre o achado clinico e o
serológico, traçando uma identidade única para o agente etiológico da
varicela e zoster.

• Actualmente, é o único vírus da família Herpesviridae que possui uma vacina


protetora.
Características
• Como os demais membros da subfamília Alphaherpevirinae, caracteriza-se
pelas infecções líticas, pelo ciclo replicativo curto e por estabelecer infecção
persistente latente em células neuronais.
• O acido nucleico é composto de DNA de fita dupla linear. O VZV é o
menor entre os herpesvírus que infectam seres humanos.
Mecanismo de latência
• Estabelece infecção persistente latente no tecido neural. A natureza da
infecção persistente ainda não é bem conhecida, mas sabe-se que ocorre apos
a primo infecção.

• O vírus pode atingir o tecido nervoso por via hematogênica ou por


transporte no axónio, a partir das lesões mucocutâneas.
Patogênese
• A infecção primaria pelo VZV é denominada varicela ou catapora.

• A doença tem seu inicio pela infecção das membranas mucosas do sistema
respiratório superior do hospedeiro susceptível com secreções respiratórias ou pelo
contacto directo com o liquido das vesiculas do individuo infectado.

• O período de incubação é de 10 a 21 dias. No período prodrómico, que precede o


aparecimento das lesões na epiderme, ocorrem febres, mal-estar, cefaleia e dor
abdominal (precedem 24 a 48hrs das erupções cutâneas).
Resposta imunologica
• A infecção primaria pelo VZV induz a produção de IgM, IgG e IgA
especificas.

• Em indivíduos imunocompetentes, os anticorpos começam a ser detectados


no começo da erupção cutânea.
Manifestações clínicas
• Período de incubação de 10 a 21 dias, os sintomas iniciam geralmente entre 14 e o 16 dia, apos o contacto
com o individuo infectado.

• Após o aparecimento da primeira lesão, o sintoma predominante é a febre de 38,6%; irritabilidade, apatia e
anorexia, com duração em torno de 24ª 72 hrs.

• As lesões cutâneas podem ser vistas em diferentes estágios devido a viremia que ocorre durante a
infecção.
• As lesões geralmente iniciam no couro cabeludo e face, espalhando-se para o tronco de maneira
centrípeta.
• O VZV pode levar a uma infecção disseminada com envolvimento de outros órgãos.
Diagnóstico laboratorial
Os metódos virológicos incluem:
1. deteccao de proteinas virais in situ,
2. isolamento do vírus em culturas de células,
3. testes moleculares,
4. testes sorológicos.
Epidemiologia
• A varicela é doença comum na infância e tem distribuição cosmopolita. É doença
benigna e altamente contagiosa.

• A maioria dos casos ocorre em menores de 15 anos de idade. Maior numero de


casos ocorre na mudança de estações de inverno e primavera.

• O Herpes-zoster é uma doença rara em crianças abaixo dos 10 anos e comum em


indivíduos acima dos 75 anos.
Prevenção e controle
• Controle epidemiológico em indivíduos infectados.
• Em hospitais pacientes com quadro de varicela ou herpes-zoster devem ser
isolados em quartos com filtros esterilizantes no ar-condicionado, para
bloquear a transmissão pelo sistema do ar.
• O desenvolvimento da vacina permite a prevenção d varicela.
Tratamento
• Varicela --» Fanciclovir, valaciclovir e aciclovir, em casos de resistência são
utlizados interferon e foscarnet.

• O prurido pode ser atenuado com banhos e compressas frias, soluções


contendo canfora, mentol ou oxido de zinco.

• Herpes-zoster --» Valaciclovir (Fanciclovir, e aciclovir)

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