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MICROBIOLOGIA

Elaborado por: Giulia Magno Rocha


MICROBIOLOGIA

Elaborado por: Giulia Magno Rocha


Aula 1 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

SARS-CoV-2
Síndrome gripal que pode ser causada por várias causas respiratórias.
Agente etiológico do COVID é o SARS-CoV-2.

Pandemia SARS-CoV-2 / COVID-19

A OMS declarou:
● Em 30 de janeiro de 2020, que o surto da doença causada pelo Novo Coronavírus (SARS-CoV-2) constitui uma
Emergência de Saúde Pública de importância internacional.
● Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.
● Primeiros casos X Wuhan / China.

SARS-CoV-2 que vírus é esse?

Taxonomia viral:
● Família: Coronaviridae.
● Subfamília: Orthocoronavirinae.
Nem todos tem subfamília, apenas as famílias gigantes.
● Gênero: Betacoronavirus.
Dentro desse gênero têm as 3 principais espécies zoonóticas (espécie que não circulava em humanos, e que tem origem
de animais, formou-se uma cepa que se adaptou a humanos).
● Espécies de interesse médico com potencial zoonóticos:
- SARS-CoV-2 (Betacoronavirus) - o pandêmico atualmente;
- SARS-CoV-1 (Betacoronavirus);
- MERS-CoV (Betacoronavirus)
*Espécie zoonótica: é uma espécie que não circulava em humanos, porém apareceu e a mesma tem origem de um
animal. Houveram mutações que favoreceram o surgimento de uma cepa que se adaptou aos humanos.
● Outras espécies de Coronavírus comuns que infectam humanos de forma branda, não zoonóticos:
- Alphacoronavirus: HCoV-229E e HCoV-NL63 .
Causam resfriados, sintomas respiratórios brancos. Estão na humanidade há muito tempo.
- Betacoronavirus: HCoV-OC43, HCoV-HKU1.

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Vírus zoonóticos x Pandemia

Os vírus zoonóticos vieram através de um salto interespécie, quando se tem um vírus de animal e que através de um
vetor e de outro animal passou a infectar o humano; o vírus sofreu mutações e se adaptou, passando a transmitir
humano-humano.
Quando o vírus conclui o salto interespécie é quando o humano infectado passa a infectar outros humanos.

Histórico - Coronavírus com potencial epidêmico / pandêmico

● SARS-CoV (2002/2003 - China - Epidemia)


- SARS: “Severe Acute Respiratory Syndrome”.

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-
8000 casos e cerca de 800 mortes nos países afetados (10% de letalidade).
-
Origem provável: Morcegos.
-
Gatos-de-algália (foi o hospedeiro intermediário mais provável) infectados por morcegos, comercializados
em mercados da China.
● MERS-CoV (2012/2013 - Países do Oriente Médio - Epidemia)
- MERS: “Middle East Respiratory Syndrome”.
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi notificada de 2.397 casos confirmados em laboratório, 863
mortes.
- Letalidade com mais de 30%.
- 27 países relataram casos da infecção com MERS-CoV.
- Origem provável: Morcegos.
- Camelos (animal intermediário).
● SARS-CoV-2 (2019 - China/ 2020 – Pandemia)
- Doença: COVID-19.
- Origem provável: Morcegos.
- Pangolim (animal intermediário provável, não foi confirmado).

Estrutura do SARS-CoV-2

É um vírus envelopado, na imagem em azul é a bicamada lipídica; o envelope de um vírus é composto por lipídios e
proteínas, os lipídios são da própria célula do hospedeiro (nesse caso do humano) e as proteínas podem ser específicas
do vírus. A proteína que na imagem está em amarelo é a proteína spike (S), essa é a chave de entrada do vírus na célula,
a mesma encontra a célula-alvo e entra através da proteína spike. A proteína spike é a mais externa, sendo o alvo das
principais vacinas, os anticorpos vão se ligar na proteína spike e o vírus é coberto com esses anticorpos, o mesmo perde
a chave para entrar na célula.
No envelope do vírus também tem a proteína M, E e mais internamente no vírus tem a proteína N (capsídeo), que está
cobrindo o material genético, que é RNA de fita simples.

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Inativação do SARS-CoV-2

O envelope viral é rico em lipídios, e se passar detergente ou álcool, a gordura é extraída, danificando então o envelope do
vírus, perdendo a chave para na célula e é inativada.
● Em superfícies inanimadas (desinfecção):
- Álcool 70%.
- Hipoclorito de sódio 0,1% a 0,5%.
- Peróxido de hidrogênio (água oxigenada a 0,5%).
● Em tecidos, corpo humano e de animais (antissepsia):
- Lavagem com água e sabão.
- Álcool 70%.

Replicação do SARS-CoV-2

O vírus pode se ligar através da proteína spike no ACE2, e existem trabalhos que mostram co-receptores, que se ligam no
receptor e depois no co-receptor.
A TMPRSS2 também está presente na célula do trato respiratório, então se liga e a célula endocita o vírus para dentro de
uma vesícula, assim o vírus entra na célula por endocitose. O vírus se “aproveita” do processo de endocitose e entra
nesse mecanismo; chegando dentro da célula o vírus quer liberar o RNA viral, porque é esse RNA que tem toda a
informação genômica para sintetizar as partículas virais, perdendo então o endossoma e tem a fusão membranar.
O RNA viral contém toda a informação genômica para sintetizar as proteínas S, M, E, N do capsídeo, as enzimas que o
vírus precisa.

Toda replicação para o SARS-CoV-2 acontece no citoplasma, liberando o RNA e o RNA viral é de polaridade positiva (5’
→ 3’) e tem uma enzima que faz a transcrição desse material genético, gerando uma fita molde de polaridade oposta (3’
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→ 5’), essa fita oposta vai ser o molde para toda vez que haver a transcrição gerar várias fitas positivas, que vão compor
os vírus que estão sendo produzidos dentro da célula.
Os RNAm são sintetizados e eles vão para os ribossomas e fazem a tradução, que é um mecanismo para gerar as
proteínas, o vírus se aproveita desse mecanismo, fazendo a síntese de suas próprias proteínas.
As proteínas virais sintetizadas são organizadas no retículo endoplasmático da célula para gerar as partículas virais, o
material genético é circundado pela proteína N e as proteínas M, E e a proteína spike são direcionadas para a membrana
plasmática do retículo endoplasmático e o vírus brota da membrana plasmática de organelas internas da célula, e é
transportado pelo complexo de Golgi dentro de uma vesícula. A vesícula é direcionada para o ambiente extracelular, e
esse processo é chamado de exocitose. Ou seja, o vírus entra por endocitose e sai por exocitose, que é o processo de
liberação do vírus da célula; esses são processos naturais, mas o vírus se aproveita para se replicar, já que o mesmo só
se replica dentro de células, não tendo capacidade de produzir suas próprias proteínas.

Coronavírus / COVID-19
Como ocorre a transmissão?

● Pela via aérea (pelo ar):


- Ao falar, tossir ou espirrar;
● Através do contato pessoal, como toque ou aperto de mão, seguido do contato com a boca, nariz ou olhos.
● Contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido do contato com a boca, nariz ou olhos.
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Em objetos o risco de transmissão é baixo, porém não é impossível de ocorrer.
● Carga viral X Transmissão.
Os pacientes sintomáticos têm uma carga viral alta, tendo maior chance de transmissão.
● Via respiratória e por fômites
● SARS-CoV-2 foi detectado em amostras não respiratórias:
- Fezes, sangue, secreções oculares e sêmen.
Não foram confirmados como via de transmissão, porém foi detectado e mostra potencial disseminação do vírus.
Observação: a relação entre a identificação do vírus nessas amostras e a real transmissão é improvável.
● A probabilidade de transmissão pela via parenteral parece ser muito baixa e improvável.
- A via parenteral não é uma via de transmissão para SARS-CoV-2, MERS-CoV nem outros Coronavírus até o
momento.

Períodos de incubação e transmissibilidade do SARS-CoV-2

● Período médio de incubação:


- Sugestão: 5 dias, variando de 2 até 12,5 dias.
- Intervalo exato é incerto
● Período de transmissibilidade:
É mais variável, porque algumas pessoas podem transmitir mesmo no período de incubação.
- Apesar da transmissibilidade dos pacientes infectados por SARS-CoV ser em média de 5 a 7 dias após o início
dos sintomas.
- O novo Coronavírus (COVID-19) sugere que a transmissão possa ocorrer, mesmo sem o aparecimento de sinais e
sintomas.
- Atenção: até o momento, não há informação suficiente sobre quantos dias antes do início dos sinais e sintomas
uma pessoa infectada pode transmitir o vírus.

Infecção pelo SARS-CoV-2

Sintomáticos x Assintomáticos + Oligoassintomáticos (sintoma brando, que não associa a COVID, no caso).

Principais grupos de risco

● Idosos acima de 60 anos;


● Diabéticos;
● Hipertensos;
● Cardiopatas;
● Asmáticos;
● Obesos;
É um risco por causa do processo inflamatório, porque quem é obeso é inflamado, e na COVID uma das complicações é a
resposta inflamatória exacerbada, levando a um quadro grave, com comprometimento pulmonar, vasculite, trombose, que
é decorrente não só da ação do vírus, mas da resposta inflamatória que é desencadeada para combater a infecção e que
acaba levando à lesão tecidual.
● Imunossuprimidos;
● Gestantes;
● Neonatos.

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Sintomas da COVID-19

● Febre;
● Tosse;
● Odinofagia (deglutição com dor);
● Diarreia;
● Cefaleia;
● Mialgia (dor muscular);
● Fraqueza;
● Anosmia (perda do olfato);
● Ageusia (perda do paladar);
● Dispneia, falta de ar, etc.

Sintomatologia diversificada

● Infecção localizada x Infecção sistêmica:


Infecção localizada, que pode ser semelhante a um resfriado, espirro, cefaleia ou infecção sistêmica, que leva a quadro de
febre, infecção pulmonar, pneumonia intersticial, etc.
● Sintomas relacionados à infecção respiratória;
● Quadros intestinais;
● Lesões em pele e mucosas.
Como pele e língua COVID.
● Vasculite e Trombose

GRAVIDADE

Associação com gravidade

● Comprometimento pulmonar:
- Dificuldade de respirar intensa
- Hipóxia
● Pneumonia atípica:
*Pneumonia causada por vírus.
- Opacidade difusa em vidro fosco.
- Consolidação irregular dos pulmões e bordas borradas, na tomografia computadorizada (TC).
- Bilateral ou unilateral.
● Resposta inflamatória intensa.
● Vasculite.
● Trombose.
● Sobrecarga cardíaca.
O paciente pode até mesmo infartar.

Diagnóstico Laboratorial da infecção pelo SARS-CoV-2

● Métodos moleculares (qualitativos ou quantitativos):


- RT-PCR SARS-CoV-2.
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*No início da infecção e nos primeiros dias de sintomas é que se observa as maiores cargas virais, recomendando fazer o
PCR do 3º ao 5º dia de sintoma, porque tem maior chance de ter um resultado fiel. O PCR detecta RNA.
● Testes sorológicos (qualitativos ou quantitativos):
- ELISA
- Quimioluminescência
- Imunofluorescência
● Testes rápidos ou testes imunocromatográficos:
- Detecção de antígenos nas secreções respiratórias.
O teste rápido detecta o antígeno do vírus, que são as proteínas que estão no envelope. É um teste bom, porém tem muito
falso positivo e negativo.
- Detecção de anticorpos IgM e IgG.

Diagnóstico molecular

O PCR é mais fiel, mas se for coletado no tempo certo, no início dos sintomas.

Anticorpos IgM e IgG Anti-SARSCoV-2 no soro ou plasma

● IgM:
- Marcador de fase aguda.
- Infecção recente.
- Negativo em semanas.
● IgG:
- Marcador de exposição.
- Memória Imunológica.
- Duradouro, pode durar meses; depende do vírus.

O corpo desenvolve imunidade quando tem a infecção por um vírus, desencadeia resposta imune celular com produção de
células de defesa e humoral (produção de anticorpos específicos contra o vírus).
Quando tem contato com o patógeno, o primeiro anticorpo a ser produzido é o IgM, depois é que o corpo começa
a produzir o IgG.
Detecta esses anticorpos no soro do paciente, tirando o sangue do mesmo.

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Diagnóstico laboratorial da infecção pelo SARS-CoV-2

Se a pessoa está sintomática, até 5 dias, o PCR tem um valor prioritário, porque a pessoa ainda não tem anticorpos.
No momento que o paciente está evoluindo para a cura, o RNA irá desaparecer, e nesse momento começa a detectar os
anticorpos, como o IgM como marcador inicial e o IgG fica por tempo prolongado.

*Porém, algumas pessoas já tiveram COVID e o IgG da mesma deu negativo.

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Variantes do SARS-CoV-2

Tratamento / Ação Antiviral?

Não se tem nenhum antiviral específico para inibir, bloquear a replicação viral. Tem-se drogas off label, que são
drogas que estão ainda em teste.
● Remdesivir:
- É um análogo da adenosina que é incorporado na cadeia do RNA viral e inibe sua replicação.
● Cloroquina/ Hidroxicloroquina:
- Bloqueia a infecção aumentando o pH do endossomo necessário para a fusão do vírus com a célula, o que inibe
sua entrada.
● Ivermectina:
- Annita.
- Lopinavir e Ritonavir (inibidores de protease).
- Oseltamivir (Tamiflu/ inibe neuraminidase).
- Interferon.
- Anti-soros de pessoas recuperadas da COVID-19.
- Anticorpos monoclonais.
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Prevenção

● Frequente lavagem e higienização das mãos.


● Utilizar lenço descartável para higiene nasal.
● Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir.
● Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca.
● Higienizar as mãos após tossir ou espirrar.
● Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas.
● Manter os ambientes bem ventilados.
● Evitar contato próximo a pessoas, distância de pelo menos 1,5 m.
● Usar máscaras.
● Vacinação.

Tipos de Vacinas Covid-19 Aprovadas pela ANVISA

● Vacina de Oxford (ASTRAZENECA/ Oxford/ FIOCRUZ)


- Vetor Viral não replicante (ChAdOx-1)
● Coronavac (CHINA/ BUTANTAN)
- Vírus inativado
● Vacina da Pfizer
- RNAm em nanopartícula lipídica
● Janssen-Cilag
- Vetor viral não replicante (Ad26. COV2.S)

Pesquisa de anticorpos neutralizantes Anti-SARS-CoV-2

Esse teste vai medir quanto tem no corpo de anticorpo, que é a antiproteína spike.
No teste sorológico que é feito no laboratório, usando sangue, para pesquisa de anticorpos neutralizantes, isso mede a
imunidade humoral (relacionada a produção de anticorpos); porém, o indivíduo também tem uma imunidade celular, que é
via TCD8, TCD4, via ativação dessas células de defesa, e isso não é medido no laboratório.

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Aula 2 - Microbiologia
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Citomorfologia bacteriana
&
Bactérias que infectam o trato respiratório

Célula bacteriana

● A célula bacteriana é uma célula procariótica; a célula procariótica não tem núcleo, tem região nucleoide,
porém sem o envoltório da membrana nuclear, também não tem RER, REL e mitocôndrias.
● Tem material genético a mais, que é o plasmídeo.
● A parede celular é a estrutura mais importante da bactéria, onde tem diversos fatores de virulência.
● As bactérias também têm membrana citoplasmática e muitas também têm cápsula, que é uma estrutura externa
onde pode ter fímbrias, que servem para a adesão da bactéria na célula do hospedeiro.
● Tem bactérias que têm flagelos que são utilizados para a motilidade bacteriana, tornando as bactérias móveis
para nadar nos líquidos e secreções corporais.
● Tem bactérias móveis e imóveis.
● As células bacterianas são visíveis na microscopia ótica e os vírus na microscopia eletrônica.

mobilidade
Tamanho: 0,2 a 2µm de diâmetro a 2 a 8µm de comprimento.

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Célula bacteriana x Vírus

Formas bacterianas

● Cocos: são relativamente esféricos.


● Os bacilos (bastonetes): são ligeiramente alongados, com extremidades hemisféricas, podendo dispor ou não de
flagelos.
● Espiral: possuem uma ou mais curvaturas, nunca são retas. oi
Quando tem várias curvaturas são chamadas de espiroquetas, e se tem uma curvatura parece com uma vírgula, sendo 7
÷
chamada de espiral. ô

“As bactérias espirais têm uma ou mais curvaturas; elas nunca são retas. As bactérias que se assemelham a bastões
curvos são chamadas de vibriões. Outras, chamadas de espirilos, possuem forma helicoidal, como um saca-rolha, e corpo {
E

no

bastante rígido. Já outro grupo de espirais tem forma helicoidal e flexível; são chamados de espiroquetas. Ao contrário
.

÷!
dos espirilos, que utilizam um apêndice externo para se mover, semelhante a uma hélice é chamado de flagelo, as
espiroquetas movem-se através de filamentos axiais, os quais lembram um flagelo, mas estão contidos dentro de uma
bainha externa flexível. Existem também procariotos em forma de estrela e retangulares.” (TORTORA; FUNKE, 2016)
espiroquetas

ou bastonetes

Arranjos de cocos

A partir do momento que se dividem, a bactéria se multiplica por divisão binária, forma um septo no centro da bactéria e a
mesma gera duas células-filhas. Essa bactéria pode se dividir a partir de um plano, dois planos, três planos ou acima de
três planos.
Por exemplo: quando uma bactéria se divide em um único plano ela pode ficar com duas células agrupadas, formando
diplococos ou se divide em duas células, mas ela vai formando uma cadeia que é chamada de estreptococos, e quando é

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dividida em dois planos forma o tétrade, se a bactéria sofre divisão em três planos forma a sarcina, mas se o plano de
divisão for acima de três planos e esses são de maneira irregular são chamadas de estafilococos.

As que mais importam na saúde pública são: diplococos, estreptococos e estafilococos.


● Diplococos: cocos agrupados aos pares.
- Neisseria meningitides (meningococo) → é um diplococo gram-negativo, agente causador da meningite humana.
● Tétrades: agrupamentos de quatro cocos.
É
'
- Pedicocos → não tem importância clínica.
● Sarcina: agrupamentos de oito cocos formando cubos.
;iÉ

- Sarcina.
● Estreptococos: cocos agrupados em cadeia. wayri
- Spreptococcus pyogenes → gram positivo e agente causador de diversas doenças como faringite, otite, etc.
● Estafilococos: cocos em grupos irregulares, semelhante a cachos de uva.
↳ arrombo

- Staphylococcus aureus. sublinhado


"

↳ escrever
sempre na prova
.

↳ Genera

*Quando se escreve como estafilococos quer dizer acerca da forma bacteriana, não está se referindo ao gênero
bacteriano.

"

foi "

seminário
(

"

{
não
espio
"
ofertas
causam

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Alguns exemplos de cocos

Staphylococcus tem formato de cacho de uva; Streptococcus tem formato em cadeia. As duas são bactérias
gram-positivas.

Arranjo dos bastonetes

● Estreptobacilos: bastonetes agrupados em cadeias.


- Bacillus (gênero).
● Cocobacilos: bastonetes ovais parecidos com os cocos.
- Haemophilus influenzae → gram-negativo, agente causador de meningite, pneumonia e otite.
● Diplobacilo: bastonetes agrupados aos pares.
- E.coli.
Os bacilos (bastonetes) de maneira geral são mais isolados.

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“O nome “bacilo” tem dois significados em microbiologia. Como acabamos de utilizar, a palavra bacilo se refere a uma
forma bacteriana. Quando escrito em latim, em letra maiúscula e em itálico, refere-se a um gênero específico.”
(TORTORA; FUNKE, 2016)

Alguns exemplos de bacilos

● S. dysenteriae causa disenteria bacilar, geralmente transmissão fecal-oral.


família
bacteriano
.

então
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● P. mirabilis vive normalmente trato gastrointestinal, quando invade o trato urinário pode causar infecções urinárias.
● K. pneumoniae é um bacilo gram-negativo que vive no trato gastrointestinal, mas quando invade outros sítios pode
atingir a circulação sanguínea e causar pneumonia.
● Y. pestis é uma bactéria gram-negativa que pode causar a peste bubônica.

Alguns exemplos de espirais

O vibrio sp. tem formato de vírgula.

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Estrutura externa à parede celular

● Glicocálice:
- Envoltório viscoso não obrigatório.
- Situado externamente à parede celular.
- Rico em polissacarídeos e glicoproteínas.
- Quando está firmemente aderida à parede celular, o glicocálice é chamado de cápsula.
Tem bactérias que são capsuladas e bactérias não capsuladas. Geralmente as capsuladas são mais virulentas, porque
a própria presença da cápsula se configura como um fator de virulência.
● Função da cápsula:
- Proteção contra desidratação.
- Adesão às superfícies.
Pode ter adesinas, glicoproteínas e lipoproteínas. A bactéria pode utilizar as adesinas para se ligar à célula-alvo.
- Impede a fagocitose pelo hospedeiro.
Tem células do sistema imune, principalmente o inato que são especializadas em fagocitar. A cápsula bacteriana muitas
vezes impede que o fagócito faça a fagocitose, impedindo que o mesmo a “coma”.
"Em certas espécies, as cápsulas são importantes para a contribuição da virulência bacteriana (medida do grau em que
um patógeno causa doença). As cápsulas frequentemente protegem as bactérias patogênicas contra a fagocitose pelas
células do hospedeiro.” (TORTORA; FUNKE, 2016)
- Importante no biofilme.
Biofilme é um estado de vida bacteriana onde ela vive em comunidade sempre presa a uma denominada substância ou
superfície. A superfície pode ser orgânica (por exemplo a superfície de um dente, o tártaro dentário) ou inorgânica (por
exemplo na superfície de uma rocha, vidro). É uma população bacteriana que vive em determinado local que possui
receptores para as demais bactérias e a mesma está sempre ligada a uma superfície.

Flagelos

“Algumas células procarióticas possuem flagelos, que são longos apêndices filamentosos que realizam a propulsão da
bactéria.” (TORTORA; FUNKE, 2016)
As bactérias que são imóveis não possuem flagelos; porém não significa que uma bactéria imóvel seja menos patogênica
que uma bactéria que possui flagelo.
Porém a presença de flagelos pode se configurar como fator de virulência, porque facilita a invasão da bactéria já
que a mesma se movimenta.
● Atríquio (imóvel) - sem flagelo.

● Monotríquio - 1 flagelo polar.

● Lofotríquio - 2 ou + flagelos polares.

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:-.
:*
-

o "
som
← é
● Anfitríquio - 1 flagelo em cada extremo. o ←
se

possuem
gajo
-
.

● Peritríquio - flagelos ao longo de toda a célula.

A maioria das bactérias possuem flagelos do tipo peritríquio.

A parede celular

Camada de envoltório celular localizada entre a membrana citoplasmática e a cápsula, quando a bactéria possui cápsula.
A parede celular é a estrutura mais importante da célula bacteriana, é nela que possui muitos fatores de virulência
e a depender do tipo de bactéria irá conter endotoxinas, lipídios, que funcionam como fatores de virulência.

“A parede celular da célula bacteriana é uma estrutura complexa e semirrígida responsável pela forma da célula. Quase
todos os procariotos possuem uma parede celular que circunda a frágil membrana plasmática (citoplasmática) e a protege,
bem como ao interior da célula, de alterações adversas no meio externo.
A principal função da parede celular é prevenir a ruptura das células bacterianas quando a pressão da água dentro
da célula é maior que fora dela. Ela também ajuda a manter a forma de uma bactéria e serve como ponto de
ancoragem para os flagelos. À medida que o volume de uma célula bacteriana aumenta, sua membrana plasmática e
parede celular se estendem, conforme necessário. Clinicamente, a parede celular é importante, pois contribui para a
capacidade de algumas espécies causarem doenças e também por ser o local de ação de alguns antibióticos.”
(TORTORA; FUNKE, 2016)

Função:
● Prevenção da lise celular (pressão osmótica).

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Como a parede é rígida por causa de seu conteúdo de peptidoglicano, a mesma mantém a forma e impede que a bactéria
quando tem entrada de fluido sofra lise.
● Mantém a forma característica de cada célula bacteriana.
● Servem de ponto de ancoragem para os flagelos.
● Rigidez: peptidoglicano.
-

Somente as bactérias possuem essa estrutura. A quantidade dessa estrutura difere entre as bactérias gram-positivas
(tem muitas camadas de peptidoglicano) e gram-negativas (fina camada de peptidoglicano), e isso influencia na
coloração de gram.

Composição química da parede celular


vedei ,
por
ligados

● Peptidoglicano (cadeias de dissacarídeos + peptídeos). %ff-m.deaçudes


µ
É composto de dissacarídeos, que são os NAG (N-acetilglicosamina) e NAM (N-acetilmurâmico), esses dois formam uma
-

espécie de cano e esse está ligado por pequenas pontes de peptídeos, formando uma “rede” entremeada, uma rede forte
na parede celular bacteriana que impede de entrar algumas estruturas e que mantém a forma da parede.
Essa rede de peptidoglicano é fina nas bactérias gram-negativas e mais densa nas bactérias gram-positivas.
● Polímeros de açúcares: NAG e NAM, ligados por peptídeos.
“A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromolecular, denominada peptideoglicano (também conhecida
como mureína), que está presente isoladamente ou em combinação com outras substâncias. O peptideoglicano consiste
em um dissacarídeo repetitivo ligado por polipeptídeos para formar uma rede que circunda e protege toda a célula. A
porção dissacarídica é composta por monossacarídeos, denominados N-acetilglicosamina (NAG), e ácido
N-acetilmurâmico (NAM) (de murus, significando parede), que estão relacionados à glicose.” (TORTORA; FUNKE, 2016)
o
● Rígida e resistente, mas bem permeável.
● Existe apenas em bactérias.

Gram positivas e negativas

● Gram-positiva: estrutura espessa, rígida, formada por várias camadas de peptideoglicano (90%).
Inserido no peptideoglicano tem os ácidos teicoicos e lipoteicoicos, que estão envolvidos como fator de
virulência, induzem produção de citocinas, induzem processo inflamatório em um hospedeiro infectado por
bactérias gram-positivas.
As gram-positivas possuem pouco conteúdo de lipídios e glicolipídios.
capsula das
bacteriano Giulia Magno Rocha
copsulads
.
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26
● Gram-negativa: formada por uma camada de peptideoglicano (10%) e uma membrana externa.
Tem vários fosfolipídios, glicolipídios, e tem uma membrana externa além da citoplasmática. Possuem LPS
(lipopolissacarídeo), que é uma substância que tem porção polissacarídica (açúcar) e porção lipídica que é chamada de
lipídio A ou endotoxina. O LPS é exclusivo das gram-negativas; o LPS é importante para a bactéria como fator de
virulência, porque induz processo inflamatório.
“A membrana externa da célula gram-negativa consiste em lipopolissacarídeos (LPS), lipoproteínas e fosfolipídeos. A
membrana externa tem várias funções especializadas. Sua forte carga negativa é um fator importante na evasão da
fagocitose e nas ações do complemento (causa lise de células e promove a fagocitose), dois componentes das defesas do
hospedeiro. A membrana externa também fornece uma barreira contra a ação de detergentes, metais pesados, sais
biliares, determinados corantes, antibióticos (p. ex., penicilina) e enzimas digestórias como a lisozima.” (TORTORA;
FUNKE, 2016)

“O lipopolissacarídeo (LPS) da membrana externa é uma molécula grande e complexa que contém lipídeos e
carboidratos e que consiste em três componentes: (1) lipídeo A, (2) um cerne polissacarídeo e (3) um polissacarídeo
O. O lipídeo A é a porção lipídica do LPS e está embebido na parede superior da membrana externa. Quando bactérias
gram-negativas morrem, elas liberam lipídeo A, que funciona como endotoxina. O lipídeo A é responsável pelos
sintomas associados a infecções por bactérias gram-negativas, como febre, dilatação de vasos sanguíneos,
choque e formação de coágulos sanguíneos. O cerne polissacarídico é ligado ao lipídeo A e contém açúcares
incomuns. Seu papel é estrutural - fornecer estabilidade. O polissacarídeo O se estende para fora do cerne polissacarídico
e é composto por moléculas de açúcar. O polissacarídeo O funciona como antígeno, sendo útil para diferenciar espécies
de bactérias gram-negativas.” (TORTORA; FUNKE, 2016)
Gram Negativo

á÷¥
-

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LPS
↳ Lipídio
↳ cer ne

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hipoteca.co .

Toxinas

As bactérias gram-negativas são capazes de produzir endotoxinas; o termo endo quer dizer que faz parte da célula.
Porém as gram-negativas tem tanto endotoxinas quanto exotoxinas.
A bactéria gram-positiva possui apenas exotoxinas.

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Coloração de Gram

A coloração de gram foi padronizada por um médico dinamarquês Christian Gram em 1843, para mostrar a diferença na
parede celular, visualizando a nível de microscopia para diferenciar as bactérias gram-positivas e gram-negativas.
● Primeiro utiliza o corante primário, que é o cristal violeta, as paredes celulares das bactérias gram-positivas e
negativas absorvem esse corante, porque é um corante básico.
● O segundo corante é o lugol, é uma substância que tem iodo, ele se liga com o violeta que já está inserido
dentro da bactéria, formando um cristal violeta-iodo. Esse cristal favorece que a macromolécula do corante fique
mais firmemente aderida dentro da parede celular das bactérias, está dentro do citoplasma, ficando ainda violeta
tanto as bactérias gram-positivas quanto negativas.
● Terceira etapa utiliza o álcool, vai dissolver, solubilizar a membrana externa da parede das bactérias
gram-negativas, formando pequenos poros na camada de peptidoglicano. As bactérias gram-negativas ficarão
transparentes, o que não acontece nas gram-positivas, porque o álcool não consegue penetrar.
● O último corante utilizado é a fucsina (coloração rosa), para contra corar quem descorou. Sendo chamada de
contra corante ou corante secundário, corando assim as bactérias gram-negativas. O que acontece é que as
gram-positivas estarão em roxo e as gram-negativas em rosa.

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Forma latente das bactérias 48 :O

esparrela dos
µ
-

Esporos (endósporos): células especializadas que podem sobreviver em condições desfavoráveis.


● Exclusivos de bactérias, principalmente gram-positivas.
● Em condições favoráveis ocorre germinação (volta à forma original).
Outra forma importante das bactérias é a esporulada, quando as bactérias estão em ambiente pouco favoráveis, com
poucos nutrientes, ambiente muito quente e seco. Algumas bactérias começam a formar endósporos, que é uma estrutura
rígida para proteger dos efeitos adversos, as bactérias que são capazes de fazer isso são as bactérias
gram-positivas, e elas podem ficar por muito tempo nesse tipo de estrutura; quando a mesma encontrar
novamente seu hospedeiro, nutrientes, água ela volta a sua forma normal, que é a forma vegetativa e passa a
expressar seus fatores de virulência e consegue causar a doença.
Uma forma esporulada, por exemplo, bacteriana é muito resistente aos tipos de controle de microrganismo, somente, por
exemplo, o processo de esterilização é capaz de destruir uma forma esporulada.
Por exemplo: Clostridium tetani.
“Quando os nutrientes essenciais se esgotam, determinadas bactérias gram-positivas, como aquelas dos gêneros
Clostridium e Bacillus, formam células “dormentes” especializadas, chamadas de endósporos.” (TORTORA; FUNKE, 2016)

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Epidemiologia das pneumonias

● Causa de morte de crianças com até 5 anos de idade.


● Mais de 2.000 morrem diariamente por pneumonia no mundo;
● As mais vulneráveis vivem em comunidades rurais e pobres;
● No Brasil, entre janeiro e agosto de 2018, 417.924 pacientes foram hospitalizados por causa da pneumonia,
totalizando gastos totais de mais de R$ 378 milhões com serviços hospitalares.

Etiologia das pneumonias

Pneumonias bacterianas

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Streptococcus
Família: Streptococcaceae, dentro dela tem vários gêneros.

Gênero Streptococcus

● Cocos gram-positivos.
Estão na coloração “roxa”.
● Pares ou cadeias.
● Anaeróbio facultativo.
Consegue crescer ou não na presença do oxigênio.
● Catalase negativo.
Não tem a enzima catalase e isso é importante para o diagnóstico microbiológico, porque tem bactérias que são
catalase positiva e outras negativas. Os Streptococcus são catalase negativos, por exemplo, a bactéria que faz
normalmente o diagnóstico diferencial é o Staphylococcus e esse é catalase positivo.
● Alguns apresentam cápsula.
Quando possuem quer dizer que a cápsula é um fator de virulência para essa bactéria, favorecendo a disseminação nos
hospedeiros.
● Alguns possuem fímbrias.
Para adesão da bactéria na célula do hospedeiro.

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Consegue crescer na presença ou não de oxigênio, são catalases negativas, não possuem a enzima catalase, isso é
importante para o diagnóstico microbiológico. Algumas possuem cápsulas variando assim a sua virulência, favorecendo a
sua disseminação no hospedeiro, algumas possuem fímbrias para adesão da bactéria no hospedeiro.
● Flora normal:
- Trato respiratório superior.
- Trato genital inferior.
- Trato digestivo.
Essas bactérias a depender da espécie podem causar infecções no trato respiratório e genitourinário.

● Infecções do trato respiratório.


● Infecções do trato genitourinário.

Como classificar os Streptococcus?

A nível microbiológico as bactérias crescem em meio sólido e um desses é o ágar-sangue. Os Streptococcus


possuem grau de hemólise no meio ágar-sangue destruindo a hemólise totalmente, ou não vão destruir ou destruir
parcialmente; se destruir parcialmente são chamados de alfa-hemolíticos, completamente são chamados de
beta-hemolíticos e se não destruir são chamados de gama-hemolíticos.
➢ Classificação inicial, 1903.
● Baseada na capacidade do Streptococcus de lisar eritrócitos quando cultivado em meio sólido - diferenciação em
ágar-sangue.
● Alfa-hemolíticos: destruição parcial das hemácias.
- Zona de coloração verde ao redor das colônias.
- Degradação da hemoglobina - biliverdina.
“O patógeno mais importante desse grupo é o Streptococcus pneumoniae, a causa da pneumonia pneumocócica.”
(TORTORA; FUNKE, 2016)
● Beta-hemolíticos: estreptolisinas destroem os eritrócitos (hemácias).
- Zona de transparência ao redor das colônias.
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- Maioria dos patogênicos.
● Gama-hemolíticos: não hemolíticos.

Diferenciação em ágar-sangue

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Na beta-hemólise as hemácias estão totalmente destruídas. Na gama-hemólise todas as hemácias estão íntegras.

Classificação de Lancefield, 1933

● Diferenciação dos Streptococcus de acordo com os antígenos encontrados em suas paredes celulares.
● “Substância específica do grupo”.
● Classificou os Streptococcus de acordo com os carboidratos C que estão presentes na parede celular das
bactérias.
➢ Carboidratos C: polissacarídeos de composição variada.
Tem composição variada a depender do Streptococcus, então se ele muda a composição e se tiver contato com o soro de
um camundongo ou em um outro paciente o mesmo vai induzir a produção de anticorpos diferentes. Esses anticorpos
são utilizados para identificar os grupos de carboidratos C.
➢ 21 grupos (A-W).

Classificação conjunta

Streptococcus pneumoniae: Pneumococos

● Gram-positiva.
● Anaeróbio facultativo.
● Causa de 60-70% das pneumonias bacterianas.
● α-hemolíticos.
● Mais de 90 sorotipos (1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F, 23F).
As vacinas são compostas pelos principais sorotipos circulantes.
● Além das pneumonias podem causar: otite, sinusite e meningites.

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Pacientes com doença pulmonar crônica (DPOC) possuem maior risco para a pneumonia pneumocócica.

Transmissão

● As bactérias podem se disseminar de uma pessoa para outra em uma população fechada através de
gotículas.
● A doença ocorre quando os mecanismos de defesa naturais são sobrepujados.
Quando o sistema imune não está fortalecido. O Streptococcus pneumoniae e pneumonias bacterianas em geral
acometem crianças muito jovens ou indivíduos muito velhos.
● Pode estar associada a uma infecção respiratória antecedente de etiologia viral (influenza) ou DPOC,
alcoolismo, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus, doença renal crônica.

Fatores de virulência do S. pneumoniae

“Os pares de células são circundados por uma cápsula densa, que torna o patógeno resistente à fagocitose. Essas
cápsulas também são a base da diferenciação sorológica dos pneumococos em pelo menos 90 sorotipos. A maioria das
infecções humanas é causada por apenas 23 variantes e estas são a base das vacinas atuais. Antes que a
antibioticoterapia se tornasse disponível, antissoros dirigidos contra esses antígenos capsulares foram usados para o
tratamento da doença.” (TORTORA; FUNKE, 2016)

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“Virulência determinada pela capacidade de colonizar a orofaringe (adesinas proteicas de superfície), disseminar-se por
tecidos normalmente estéreis (pneumolisina, protease IgA), estimular resposta inflamatória local (ácido teicoico,
fragmentos do peptidoglicano, pneumolisina) e evadir da morte por fagócitos (cápsula polissacarídica).” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Dentro das adesinas tem a LyTA que é uma autolisina, sendo uma enzima propriamente dita, tem uma porção de anidrase
e quando está colonizando ligada na superfície da célula epitelial degrada a parede do pneumococo para liberar um outro
fator importante de virulência, que é a pneumolisina.
A pneumolisina é uma proteína que sai de dentro da bactéria, e essa se liga ao colesterol da membrana celular das
células epiteliais e forma poros na membrana da célula, sendo tóxica para qualquer tipo de célula eucariótica e também
diminui o movimento ciliar das células, porque as destrói, isso tudo favorece a disseminação do patógeno, o crescimento
da bactéria no local. A partir do momento que uma bactéria mata uma célula formando poros, isso sinaliza ao organismo
sinal de perigo, essas células epiteliais começam a produzir citocinas, que são moléculas químicas sinalizadoras do
sistema imune, e isso “chama” os neutrófilos que são a primeira linha de defesa do organismo na resposta imune inata.
Os neutrófilos começam a chegar para tentar conter a bactéria, porque a mesma está destruindo as células epiteliais, se
nada chegar para tentar contê-la a mesma começa a se multiplicar.
Também pode produzir algumas enzimas importantes como a hialuronidase, clivando o ácido hialurônico da membrana
celular das células epiteliais, deixando a membrana das células mais “frouxa”; o ácido hialurônico é como se fosse um
“cimento” entre as células, então isso também favorece a disseminação da bactéria.
Tem outra enzima que é a neuraminidase que cliva o ácido siálico, que também está presente na membrana celular das
células epiteliais diminuindo a viscosidade do muco, porque atua na estrutura da mucina; se diminui a viscosidade do
muco o poder de varredura e de limpeza do muco fica comprometido, ficando a bactéria mais “grudada” em um
local.
Ainda tem uma enzima chamada de IgA protease que quer dizer que as pessoas vão produzir anticorpos e dentre eles um
importante anticorpo presente em secreções, que é o IgA que vai neutralizar bactérias, mas se produzir uma enzima que é
a IgA protease para clivar a IgA, a IgA não irá agir, porque foi destruída; a bactéria tem mecanismos de “atrapalhar” o
sistema imunológico, porque se produz anticorpos para destruir a bactéria e a bactéria produz uma enzima para destruir a

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imunoglobulina, e tudo isso favorece para a bactéria continuar no local induzindo o recrutamento de neutrófilos,
aumentando o processo inflamatório e aumento do exsudato.

do

parede

pneumococos
a
lisina

auto

degrada

Para liberar
pneu n a lisina

↳ Lisa célula do hospedei

Quando a bactéria morre e cliva (a lisina cliva) a parede celular libera a pneumolisina, a bactéria sofre a autólise,
morrendo, mas libera os constituintes da sua parede e isso induz muito o recrutamento de neutrófilos e macrófagos.
A presença de neutrófilos, macrófagos e produção de citocinas leva à formação da inflamação a nível do pulmão.
Através da orofaringe, faringe crescendo a população de bactérias, essa bactéria pode atingir outros sítios e causar
pneumonia ou atingir a circulação sanguínea causando uma bacteremia, meningite ou atingindo por exemplo, a tuba de
eustáquio, causando otite; então graças aos fatores de virulência presentes na parede pode se evadir do sistema imune e
atingir outros sítios, causando determinadas doenças.
Por exemplo, a proteína A do pneumococo inibe o sistema complemento; o sistema complemento é uma cadeia de
proteínas do sistema imune inato, onde essas proteínas depositam na superfície da bactéria ou de outro patógeno e
formam o MAC (complexo de ataque à membrana) formando poros para a bactéria morrer. Então, se a bactéria tem esse
fator de virulência que inibe o complemento não irá conseguir destruir a bactéria, a bactéria sempre terá mecanismos para
continuar agindo para se multiplicar.

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Início da colonização pelo S. pneumoniae

Através de aerossóis, fômites o indivíduo pode iniciar o processo de colonização a nível de orofaringe.
A bactéria primeiro se multiplica na orofaringe e induz o processo inflamatório, ela pode atingir outros sítios, causando
pneumonia, meningite e otite.

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Patogênese do S. pneumoniae

*A nível de pulmão a pneumonia bacteriana é alveolar, infectando os alvéolos.

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Fatores bacterianos X Hospedeiro

A instalação da pneumonia vai depender de características do hospedeiro ou características bacterianas.

Sintomas

● Febre persistente entre 38 a 41°C. A maioria dos pacientes apresenta tosse produtiva, e dor torácica
(pleurisia).
● Crianças e idosos podem apresentar uma broncopneumonia generalizada.
● Os pacientes normalmente se recuperam rapidamente após o início da antibioticoterapia.

Diagnóstico

● Amostras biológicas: pus, exsudatos teciduais, escarro, urina e sangue.

Observação de cocos gram–positivos dispostos em pares ou cadeias.

● Cápsula espessa – principal fator de virulência.


● Diagnóstico rápido por testes de aglutinação.

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● Anticorpos monoclonais contra carboidratos C.
Anticorpos monoclonais o corpo produz; se aglutinar e formar uma espécie de “areia” o resultado deu positivo.
● PCR.

Tratamento

O ideal é isolar a cepa para saber se a mesma é resistente ou não para determinada penicilina, porém a droga inicial de
escolha seria a penicilina G.

Vacina

É composta por antígenos capsulares.

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Aula 3 - Microbiologia
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Pneumonia

Qual o agente etiológico?



Pneumonia

Bactérias atípicas ou vírus?

Bactérias atípicas x Pneumonia

Bactérias típicas são classificadas pelo método de coloração de Gram, já a atípica não tem a parede celular classificada
por Gram. A bactéria atípica pode se multiplicar dentro da célula, cultivar essas no laboratório é mais dificultoso.
Logo, serão gran negativas ou gran positivas
Principais espécies:
- Mycoplasma pneumoniae.
Mais comum. É intracelular facultativo, podendo se multiplicar dentro ou fora da célula.
- Chlamydia pneumoniae.
Intracelular obrigatória.
- Legionella pneumophila.
- Chlamydia psittaci e outras.
*Estão em ordem de prioridade.

Principais vírus x Pneumonia

Principais espécies:
- Influenzavírus A.
- Influenzavírus B.
- Coronavírus → 1º lugar (Pandemia).
- Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
Dificilmente causa pneumonia em adulto, mas é uma das principais causas de pneumonia viral em recém-nascidos.
- Metapneumovírus, Parainfluenzavírus.
- Adenovírus, Citomegalovírus.

Pneumonia x Patógenos x Evolução

Quadro típico Quadro atípico

● Etiologia: ● Etiologia:

- Bactérias típicas. - Bactérias atípicas ou vírus.


Se cora por Gram. A bactéria atípica pode se multiplicar dentro da célula,
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muitas vezes se comporta semelhante a um vírus.

- Extracelulares. - Intracelulares obrigatórios ou facultativos.


Se multiplicam fora da célula. Quando o patógeno é intracelular, a resposta imune é
principalmente linfocítica, tendo infiltrado inflamatório com
mais linfócitos.

● Evolução clínica em geral: ● Evolução clínica em geral:

- Tosse produtiva, expectoração amarelo ou - Tosse seca.


amarelo esverdeado. Tem linfócito, fluido mais transparente.
Aqui a resposta imune é mais neutrofílica.

- Febre moderada a alta. - Febre baixa ou moderada.

- Quadro mais insidioso. - Quadro mais brando.


Rapidamente o paciente piora.

- Infiltrado inflamatório predominante neutrofílico. - Infiltrado inflamatório predominante linfocítico.

Principais sintomas da pneumonia por patógenos atípicos

● Início com evolução lenta, arrastada, dias, semanas, etc.


● Febre baixa.
● Tosse seca que tende a se intensificar.
● Coriza.
Mais esbranquiçada/transparente.
● Dificuldade para respirar, dor no peito.
● Cansaço.
● Dor de garganta; mialgia (dor muscular) e artralgias (dor articular).

Mycoplasma pneumoniae
● Família: Mycoplasmataceae.
● Gênero: Mycoplasma.
● Características gerais e morfologia:
- Menores organismos capazes de autoduplicação.
Mycoplasma não é vírus, porque dentro da célula ele se autoduplica e fora da célula ele se multiplica.
O Mycoplasma tem adesão/afinidade pelas células do trato respiratório, porque na superfície tem a proteína adesina
P1 que faz a ligação com a membrana plasmática da célula do trato respiratório pelo ácido siálico (receptor de ligação da
adesina P1).
- Intracelular facultativo.
- Bactérias atípicas.
➢ Não possuem parede celular.
➢ Possuem membrana celular com esterol e adesinas P1 (superantígenos).
Obs ➢ Única bactéria que possui colesterol na membrana que envolve o conteúdo genético, o conteúdo
celular.
➢ Pleomórficos: arredondada e filamentosa.
Muda de forma.
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“A ausência da parede celular torna os micoplasmas resistentes a penicilinas, cefalosporinas, vancomicina e outros
antibióticos que interferem na síntese da parede celular.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
➢ Aeróbios estritos (M. pneumoniae).
O que favorece a chegada nos pulmões, porque tem um ambiente rico em O2 e o Mycoplasma pneumoniae gosta de O2.
A maioria das pessoas vão ter quadros brandos ou até mesmo assintomáticos, porém algumas podem ter um quadro que
comprometa o trato respiratório inferior, podendo inclusive ter pneumonia atípica.

● Síndromes clínicas:
- IVAS (infecções das vias aéreas superiores).
- Traqueobronquite.
- Pneumonia atípica primária.
- Complicações raras:
➢ Pericardite, miocardite, aterosclerose.
➢ Hepatite, eritema multifocal, encefalite, meningoencefalite, etc.
Localizadas nas vias aéreas superiores, podendo causar faringite, dor de garganta e traqueobronquite. Porém também
pode causar infecções no trato inferior, como a pneumonia atípica primária e até mesmo complicações do quadro como
pericardite e meningoencefalite.
● Vias de transmissão:
- Interpessoal por secreção respiratória.
● Epidemiologia:

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- Distribuição mundial, são ubíquas (comum no meio, tendo em todos os países).
- Maior incidência no final da primavera e inverno.
- Alta incidência em crianças e jovens (6 a 20 anos).
➢ Idade pré-escolar.
As pessoas podem se reinfectar, porque a imunidade não é duradoura.

Evolução clínica

● Período de incubação: 2 a 4 semanas.


● Sintomas mais comuns:
- Faringite, dor de garganta, mal-estar, mialgia, adinamia, febre baixa.
- Tosse seca:
➢ Sintomas mais frequentes e incomodativos.
➢ Seca no início, podendo adquirir aspecto coqueluchoide.
● Evolução comum:
- Regressão em 2 a 3 semanas.
- Persistência da tosse por semanas ou meses.
● Gravidade: dispneia e pneumonia atípica.
Tem maior gravidade no trato inferior respiratório.

Patogênese e Virulência

Patogênese é quando começa a doença de fato e como ela se desenvolve.


Primeiramente a bactéria vai colonizar as vias aéreas superiores, aumentar em número para vencer a barreira do sistema
imune inato para chegar ao pulmão.
● Colonização do TRS x Invasão para TRI.
● M. pneumoniae x Intracelular facultativo.
● Tropismo por células do trato respiratório:
- Adesão à superfície celular x Clearance mucociliar.
A ligação da bactéria com a superfície celular e também no ambiente intracelular reduz o clearance mucociliar,
comprometendo os cílios. A adesina P1 paralisa os cílios, destruindo parte dos cílios e comprometendo o movimento de
limpeza das vias aéreas, que é movimento mucociliar.
● Adesinas P1:
- Ligação ao ácido siálico.
- Esfoliação e destruição das células ciliadas do trato respiratório (TR).
- Resposta inflamatória (superantígeno).
Vai estimular uma resposta inflamatória e essa é benéfica para combater uma infecção, porém quando é exagerada faz
lesão no tecido pulmonar, lesão das células, gerando a lesão tecidual. Em pacientes com infecção pulmonar por
Mycoplasma tem uma lesão direta do pulmão pela própria bactéria se multiplicando dentro das células e uma lesão indireta
decorrente da resposta inflamatória, da resposta imune celular.
- Adesinas P1 são um dos principais fatores de virulência do Mycoplasma, porque a mesma tem afinidade
com o ácido siálico, faz a espoliação das células ciliadas e compromete o movimento mucociliar, levando
a uma ciliostase e isso favorece a passagem da bactéria do trato superior para os pulmões.
● Excreção de peróxido de hidrogênio e amônio.
O que permite a sobrevivência; o amônio vai alcalinizar um conteúdo intracelular.

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Quando uma célula é fagocitada e está dentro do macrófago esse vai fazer a formação do fagolisossomo e produz um
conteúdo acidificado para matar a bactéria; o Mycoplasma produz amônia para alcalinizar e não deixar acidificar e a
mesma continua viva, inclusive dentro dos macrófagos. Produz várias enzimas como proteases, fosfolipases que são
enzimas que vão degradar proteínas, lipídios que estão na membrana plasmática das células, lesando essas células,
também faz a ciliostase.
● Produção de proteases, fosfolipases.
● Ciliostase.
● Resposta imune celular x Citocinas IL-2, FNT, IL-6.
A resposta imune celular para debelar a infecção, a resposta inflamatória também faz lesão tecidual; na resposta imune
celular as principais citocinas que são estimuladas e produzidas são IL-2, IL-6, FNT (fator de necrose tumoral) e IFN-γ são
citocinas importantes no processo de resposta imune contra Mycoplasma.

Lesão pulmonar direita e indireta.

“M. pneumoniae é um patógeno extracelular que adere ao epitélio respiratório por uma estrutura especializada de
adesão que se forma em uma extremidade da célula. A estrutura consiste em um complexo de proteínas de adesão,
sendo adesina P1 a mais importante. As estruturas de adesão interagem especificamente com receptores
glicoproteicos sializados que existem na base dos cílios das células epiteliais (e na superfície de eritrócitos).
Depois ocorre a ciliostase seguida por destruição, primeiramente dos cílios e, em seguida, das células epiteliais
ciliadas. A perda dessas células interfere na limpeza normal das vias aéreas superiores e permite contaminação
microbiana e irritação mecânica do trato respiratório inferior. O processo é responsável pela tosse persistente
presente em pacientes com a doença sintomática. M. pneumoniae atua como um superantígeno, estimulando células
inflamatórias a migrar para o local de infecção e liberar citocinas, inicialmente fator de necrose tumoral-α (TNF-α)
e interleucina-1 (IL-1), e, mais tarde, IL-6. Esse processo contribui tanto para a eliminação das bactérias como para as
características da doença.
Várias espécies de Mycoplasma são capazes de mudar rapidamente a expressão das lipoproteínas de superfície, o que se
acredita ser importante para evadir a resposta imune do hospedeiro e estabelecer infecções crônicas persistentes.”
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Diagnóstico: M. pneumoniae

● PCR: aspirado brônquico ou escarro.


“Testes de amplificação baseados em PCR com excelente sensibilidade; especificidade não bem definida; expectativa de
ser o teste diagnóstico de escolha quando os ensaios forem mais amplamente disponíveis.” (MURRAY, 7 ed.)
“Os testes têm excelente sensibilidade, mas a especificidade não está bem definida; ou seja, os testes podem exibir
reação cruzada com espécies avirulentas que colonizam seres humanos. Além disso, ensaios comerciais de PCR não
estão disponíveis no momento, de modo que o teste está basicamente restrito à pesquisa e aos laboratórios de
referência.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
● Sorologia:
- IgM negativo ou positivo x tempo da coleta (elevação 7 dias após os sintomas).
- IgG > 40U/ml ou pareado, elevação de títulos de Ac 4x da fase aguda para a convalescência.
Como se reinfecta por essa bactéria pode ter títulos de IgG e não estar doente, tendo que ser titulado estando acima de 40
unidades ou fazer comparação do IgG da fase aguda para a fase de recuperação (convalescência). Deve-se encontrar
aumento do título de IgG em cerca de 4x para mapear como doença.
● Não se cora pelo Gram.
● Cultura bacteriana com antibiograma (fastidiosa):

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- Hemocultura.
- Lavado bronco-alveolar (23% positividade), aspirado endotraqueal, escarro.
Teste lento e insensível; não disponível na maioria dos laboratórios.
● Não utilizado na rotina:
- Difícil cultivo - exigente, incubação de 4 dias a semanas.
- Baixa sensibilidade e alta especificidade.
Não é tão fácil o diagnóstico, porque essa bactéria é de crescimento lento, de difícil cultivo, podendo então ter falso
negativo por ter baixa sensibilidade e alta especificidade. Essa bactéria cresce no meio convencional, mas cresce
lentamente, sendo fastidiosa nutricionalmente.

Chlamydophila pneumoniae
● Taxonomia:
- Família: Chlamydiaceae.
- Gênero: Chlamydia.
- Espécie: Clamydia-Chlamydophila pneumoniae.
Nos livros mais antigos está Chlamydia pneumoniae e nos mais novos está Chlamydophila pneumoniae.
● Características morfotintoriais e estruturais:
- Envoltório “semelhante a parede celular de gram-negativo” não possui camada de peptidoglicano.
Semelhante porque tem lipopolissacarídeo (LPS), mas não tem nenhum peptidoglicano na parede, não tem rigidez de
parede, tem parede mais delgada e com LPS.
- Parasitas intracelulares obrigatórios, crescimento lento.
Faz as Chlamydias serem mais próximas dos vírus do que o Mycoplasma. A Chlamydia só se multiplica dentro de célula.
O que a diferencia de um vírus é que ela produz suas proteínas, têm ribossomos, tendo então seu metabolismo próprio e o
vírus não (utiliza o ribossomo da célula para produzir sua própria proteína).
- Ciclo de vida bifásico, com duas formas:
➢ Corpo elementar: forma extracelular, infecciosa, que é fagocitada.
➢ Corpo reticular: forma intracelular, metabolicamente ativa. Produzem e secretam enzimas e toxinas.

Ciclo infeccioso da Clamídia

O corpo elementar é a Chlamydia na forma extracelular, sendo essa a forma infectante que vai se ligar a uma célula
humana; quando se liga a célula faz endocitose e após ser endocitada a mesma muda de forma, saindo da forma
elementar (que é extracelular) para uma forma reticular (está em vermelho, e essa forma é intracelular).
A forma intracelular é não infectante (forma metabolicamente ativa, se multiplica), essa inibe a apoptose da célula e
continua se proliferando, quando chega no limite a mesma começa a se transformar, tendo conversão da forma reticular
(em vermelho) em forma elementar (azul) para matar a célula; a Chlamydia sai da célula por lise celular, rompe a
célula para ser liberada na forma elementar e infectar novas células.

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Epidemiologia

● 5 a 15% das pneumonias atípicas são por C. pneumoniae.


● Bactéria ubíqua.
● Transmissão: interpessoal, contato com secreções respiratórias.
● A infecção primária ocorre mais frequentemente em crianças dos 5 aos 15 anos de idade, com maior incidência
entre 5 e 9 anos.
Porém qualquer adulto e até mesmo idosos podem ter, porque a imunidade é transitória e a reinfecção acontece ao longo
da vida.
● As reinfecções são frequentes:
- Imunidade transitória.
- Estima-se que 50% dos adultos tenham anticorpos.
- Raramente ocorre gravidade.

Patogênese

● Pneumonia atípica e infecção no TRS (trato respiratório superior).


● Sorotipo único: TWAR.
● Imunidade transitória.
● Parasita intracelular obrigatório x células epiteliais x macrófagos.
Parasita intracelular obrigatório, infecta células epiteliais e macrófagos. Pode infectar células ciliadas, células do trato
superior, os pulmões, macrófagos alveolares, os macrófagos de uma forma geral.
● Ativa a excreção de TNF-alfa, IL-8, IFN-gama e do factor–B (NFk-B) → Inflamação.
Existe a ativação da resposta imune celular, principalmente linfocítica para tentar combater as células infectadas; se
multiplica dentro das células e isso é um mecanismo de escapar da resposta imune do hospedeiro. Tem que ativar uma
resposta celular linfocítica para detectar a célula infectada e a matar.
● Lesão tecidual.

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Existe também a resposta inflamatória, mas quando a resposta imune celular e inflamatória acontecem, também tem lesão
tecidual decorrente dessa resposta inflamatória e da resposta celular, tendo a lesão do tecido provocada diretamente pela
Chlamydia que faz citólise da célula-alvo e também da resposta inflamatória e celular.
● Regulação da apoptose celular (em estudo).
A Chlamydia interfere na apoptose da célula; quando a célula está normal, infectada por um vírus ou bactéria intracelular
ou até mesmo sofreu mutação cancerígena o mecanismo que a célula tem para evitar a propagação do dano é a apoptose
(a morte celular programada). Uma célula se programa para morrer quando há algo de errado com a mesma, a Chlamydia
interfere na apoptose, evitando que a apoptose ocorra até que a replicação dela seja concluída, tendo ativação de enzimas
anti-apoptóticas, induzindo a célula a um estado anti-apoptótico.

Ciclo de Divisão da Chlamydia

Tem o corpúsculo elementar (bolinha verde pequena), a célula endocitou a Chlamydia, dentro da vesícula tem o corpo
elementar se transformando no corpo reticular (bolinha verde maior). A reticular começa a se multiplicar dentro do
endossoma e inibe a apoptose e quando a mesma está em grande quantidade começa a mudar de forma, para a forma
elementar (infectante), matando a célula por lise celular e libera Chlamydia para infectar novas células e propagar o ciclo
de replicação e disseminação.

Principais fatores de virulência

● Divisão bacteriana intracelular.


● Duas formas:
- Corpo elementar: extracelular.
- Corpo reticular: intracelular.
Expressão de diferentes tipos de proteínas em sua superfície.
● Capacidade de impedir a digestão intracelular em macrófagos.
Sobrevive dentro de uma célula fagocítica.

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● Capacidade de controle da apoptose celular.
Controla a apoptose e mata o macrófago.
● Capacidade de indução da resposta inflamatória.

Diagnóstico

● Sorologia - pesquisa de anticorpos:


- Elisa ou IFI.
- Titulação:
➢ Soro na fase aguda e na convalescência (título 4x maior).
➢ IgM ≥ 16.
➢ IgG ≥ 18.
● PCR:
- Detecção do DNA da bactéria na secreção respiratória.
Porém tem pessoas com PCR positivo que não têm a doença.
- Não distingue entre bactérias viáveis ou não.
● Cultura:
- Pouco usada, cultura de células Hep-2.
- Bactérias altamente fastidiosas.

Tratamento da Pneumonia por bactérias atípicas

● Resistentes:
- Penicilinas.
- Cefalosporinas.
- Bacitracina.
- Vancomicina.

Observação: resistentes a penicilinas e antibióticos que interferem na síntese da parede celular.

● Susceptíveis a macrolídeos:
- Eritromicinas.
- Azitromicinas, etc.

Observação: atuam inibindo a síntese proteica bacteriana.

Influenza vírus
● Família: Orthomyxoviridae.
Tem o apelido de vírus da gripe. É a virose respiratória mais frequente em pneumonia viral, além do Coronavírus
atualmente.

Principais Gêneros e Espécies

● Influenzavirus A:

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- Influenza A virus (A/duck/NZL/160/1976(H1N3)).
- Influenza A virus (A/Boston/34/2008(H1N1)).
- Influenza A virus (A/Boston/35/2009(H1N1)).
● Influenzavirus B:
- Influenza B virus (B/Brazil/658/2004).
- Influenza B virus (B/Brazil/69/97).
- Influenza B virus (B/Brazil/952/2001).
*O Influenzavirus A e B estão presentes na vacina da gripe.
● Influenzavirus C:
Causa infecção branda, assintomática na grande maioria das pessoas.
- Influenza C vírus (C/England/83).

Estrutura

São vírus RNA segmentados, são 8 pedaços (segmentos) de RNA para o A e B, para o C são 7.
A resposta está dividida, cada pedaço sintetiza uma proteína do vírus, enzima, precisando dos 8 pedaços de RNA por eles
serem complementares. Este genoma é problemático, porque está associado às mutações pandêmicas por
Influenzavirus A.
É um vírus envelopado, em laranja na imagem tem a bicamada lipídica e nessa que o envelope tem a proteína HA
(hemaglutinina) e tem também a NA (neuraminidase).
Tem a proteína M2 que forma um canal transmembrana que passa pelo envelope, a proteína M1 é a proteína da
matriz, tem também um complexo de enzimas (PB1, PB2, PA) que fazem transcrição do material genético e a
proteína NP que é a nucleoproteína que reveste o RNA viral.
Tem proteínas com função enzimática, transportadora que são as NS1 e NS2.

Propriedades antigênicas

● Tipo A: zoonose.

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Mais preocupante, porque é uma zoonose. O tipo B só circula em humanos, mas o tipo A circula em humanos e em vários
animais. Eventualmente na natureza pode haver uma mutação, salto interespécie, cepa pandêmica e gerar uma nova
pandemia.
“Os vírus do tipo A infectam seres humanos, suínos, equinos e aves, e são considerados a maior causa de
infecções pandêmicas e epidêmicas por influenza.” (ROBBINS)
● Hemaglutinina:
- H ou HA = 16 subtipos.
● Neuraminidase:
- N ou NA = 9 subtipos.
● Proteínas M1, M2 e NP
- Tipo-específicas.
● Tipos de mutações:
- Drift (desvio antigênico – mutação pontual → surtos).
“As epidemias por influenza ocorrem mediante mutações nos antígenos hemaglutinina e neuraminidase, que
permitem que os vírus escapem da maioria dos anticorpos do hospedeiro (drift antigênico).” (ROBBINS)
- Shift (variações antigênicas - rearranjo → pandemias).
“As pandemias, que apresentam maior duração e extensão em relação às epidemias, podem ocorrer quando a
hemaglutinina e a neuraminidase são substituídas através da recombinação de segmentos do RNA com vírus de
animais, tornando todos os animais suscetíveis ao novo vírus da influenza (shift antigênico).” (ROBBINS)

Drift ou Mutação Pontual

Um drift é uma mutação pontual, então se tem uma sequência nucleotídica que corresponde a um aminoácido e na hora
que faz a cópia do RNA viral a enzima do mesmo erra.
Essas mutações acontecem porque o vírus tem uma taxa de erro alta, quando está copiando o RNA dele dentro da célula
o mesmo erra, se essa mutação trouxer alguma vantagem evolutiva a mesma pode ser propagada, gerando surtos de
gripe.

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Recombinação - Shift

O shift é uma mutação mais agressiva e brusca, só acontece na Influenzavirus A, porque a B é só de humano e a célula
humana não permite a infecção por cepas de aves e porcos. As aves e os porcos, principalmente os porcos apresentam
células permissivas, isso quer dizer que uma célula do porco, por exemplo, pode receber um vírus de ave e humano e
então o shift ocorre que é uma mistura de uma das sequências, tendo dois vírus diferentes que entraram em uma célula de
porco e cada vírus desse tem 8 pedaços de RNA diferentes, tendo 2 8 possibilidades de montar um vírus errado, tendo 256
chances de criar novos vírus. Uma das chances pode gerar vírus que infecta humanos e um vírus que faça um salto
interespécie que gere a pandemia.
Para ocorrer um shift tem que ter uma infecção da célula com 2 vírus que são diferentes para fazer a
recombinação.

Adesão e penetração

O vírus na membrana plasmática da célula se liga para poder fazer a adesão. O vírus se liga pela hemaglutinina, que se
liga ao ácido siálico que está presente na membrana plasmática da célula, e a célula faz endocitose.

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O vírus entra no endossoma e agora tem a ação da M2 para fazer o desnudamento, perdendo o envelope e irá sair da
vesícula, libera o material genético (RNA) e esse RNA vai para o núcleo da célula para fazer a transcrição e gerar RNA
mensageiro e fazer a duplicação do material genético.
O RNA mensageiro vai para o citoplasma, para os ribossomos que são as organelas das células que vão fazer a tradução,
a síntese proteica e produzir a proteína do vírus e quem produz é o ribossomo da célula, gerando as proteínas do vírus
que vão se aculumando, posteriomente será distribuído.
Por exemplo, a neuraminidase e a hemaglutinina vão ser glicosiladas e transportadas para o complexo de Golgi para a
membrana plasmática da célula.
A proteína do capsídeo volta para o núcleo.
O vírus vai sair por brotamento; ele adquire o envelope brotando da membrana plasmática da célula, saindo com o
envelope completo. Quando ele brota para se desligar da célula o mesmo precisa da proteína NA e para entrar
precisa da HA.
O Tamiflu inibe a NA (neuraminidase), bloqueando o ciclo e o vírus fica preso na membrana plasmática da célula,
não conseguindo brotar; sendo muito específico por ser um antiviral.

Liberação

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O Influenzavirus tem pleomorfismo, muda de forma e não tem uma forma definida.

Epidemiologia

● Vírus influenza = Vírus da gripe.


● Responsável por surtos, epidemias e pandemias.
● Distribuição mundial.
● Todas as faixas etárias.
● Vigilância anual:
- Humanos e animais.
● Ocorrência anual de epidemias – Início abrupto e rápida disseminação.
● Pandemias: 10-30 anos.
● Vigilância epidemiológica: OMS.
● Pandemias:
- 1918: gripe Espanhola (H1N1) - 50 milhões de mortes
Brasil: 35.000 mortes.
- 1957: gripe Asiática (H2N2) - 1 milhão de mortes.
- 1968: gripe de Hong Kong (H3N2) - 750 mil mortes.
- 2009-2012: gripe A “suína” (H1N1) - 19 mil mortes.
- Próxima gripe (20??): 7,4 – 360 milhões de mortes.

Sintomatologia

● Tipos A e B:
- Gripe: tosse, coriza, dor de garganta, febre.
- Evolução: 3 a 10 dias.
● Tipo C:
- Infecção subclínica.
- Raramente: infecção clínica moderada no TRS.
● Ocorrência: sazonal.
● Complicações (Tipos A e B):
- Pneumonia atípica.
- Síndrome da angústia respiratória aguda grave.
- Miosite.
- Síndromes neurológicas.

Transmissão

● Inter-humana:
- Via respiratória.
- Secreções.
- Fômites.
● Inter-espécies:
- Fecal-oral.
- Secreções / objetos contaminados.

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“São transmitidos pessoa a pessoa por meio de aerossóis provenientes do sistema respiratório ou pelo contato com
fômites e superfícies contaminadas. Os vírus penetram no sistema respiratório superior (SRS) através da nasofaringe,
sofrendo replicação nas células do epitélio ciliado, que são destruídas com consequente necrose celular e descamação.
No mecanismo de infecção, a camada de mucina, os movimentos ciliares e os inibidores de protease podem prevenir tanto
o processo de entrada do vírus na célula como o processo de desnudamento. A infecção de macrófagos alveolares e
células dendríticas pode desempenhar papel na resposta imunológica à infecção viral.” (SANTOS; ROMANO; WIGG,
2015)

Patogenia e imunidade

● Altamente contagioso.
● Período de incubação: 2-3 dias até 7 dias.
● Infecção nas vias aéreas superiores.
O vírus se multiplica no trato superior e normalmente consegue combatê-lo com a resposta imune, e quando não
consegue o vírus vai para o trato inferior causando pneumonia.
● Infecção nas vias aéreas inferiores.
● Infecções secundárias.
Uma infecção viral por Influenza tem muita associação com infecção secundária bacteriana. É observado mais em idosos,
porque tem uma resposta imune não tão boa.
A bactéria se aproveita da virose e se desloca para os pulmões.
● Resposta imune: celular e humoral.
● Excreção viral.
● Recuperação: 3 - 5 dias até 1 mês.

Diagnóstico

● Diagnóstico Clínico.
● Amostras Clínicas:
- Secreção da nasofaringe, orofaringe.
● Diagnóstico Laboratorial:
- Detecção molecular.
Principal método de diagnóstico.
- Cultura Viral.
- Pesquisa de anticorpos.

Tratamento – Influenza A e B

● Sintomático.
● Repouso e hidratação oral.
● Ventilação mecânica.
● Infecções secundárias.
● Antivirais:
- Infecção por Influenza A – inibem M2.
➢ Amantadina.
➢ Rimantadina.
Amantadina e Rimantadina não são recomendadas nas atuais epidemias.

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- Infecção por Influenza A e B – inibem NA
➢ Oseltamivir/ Tamiflu (inibe a neuraminidase).
➢ Zanamavir.

Prevenção e controle

● Imunização.
● Vacinas com vírus inativados (tipos A e B):
- Trivalente e Tetravalente.
● Antissepsia das mãos.
● Desinfecção de objetos e materiais.
● Vigilância epidemiológica.
● Sacrificar os animais infectados.

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Aula 4 - Microbiologia
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Mycobacterium tuberculosis

Epidemiologia da tuberculose

● Estima-se que no mundo cerca de dez milhões de pessoas desenvolveram TB e 1,2 milhão morreram devido à
doença.
● Em 2020, o Brasil registrou 66.819 casos novos de TB, com um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100
mil habitantes.
● Em 2019, no Brasil foram notificados cerca de 4,5 mil óbitos pela doença, com um coeficiente de mortalidade de
2,2 óbitos por 100 mil habitantes.
*
113
acomete população
da
Boletim epidemiológico, 2021/MS.
de controle nacional contra tuberculose
Existe um programa
*

Mortalidade por tuberculose no Brasil

Existe uma vacina para a tuberculose, mas em indivíduos adultos ela não protege.

Mycobaterium spp.

● Família Mycobacteriaceae:
- Gênero com mais de 50 espécies.
A maior parte das espécies não causam doenças em seres humanos e animais.
- Bacilos curtos (0,5 - 0,7 µm de comprimento/ 0,3 µm de largura).

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- Aeróbicos estritos.
Precisam viver na presença de oxigênio, por isso a preferência deles pelos pulmões.
- Imóveis.
- Não produzem toxinas.
- Não tem cápsula.
- Não tem aporte de enzimas.

Micobactérias

● Representantes:
- Micobactérias de crescimento lento:
➢ Mycobacterium tuberculosis.
➢ Mycobacterium leprae.
- De crescimento rápido:
➢ Mycobacterium fortuitum.
➢ Mycobacterium abscessus.

Principais grupos patogênicos

● Mycobacterium leprae (registros desde 1350 a.C.).


- “Doença mais antiga do mundo” (Hanseníase). tuberculose a

que podem
causar
baleias
● Complexo Mycobacterium tuberculosis - Robert Koch, 1882.
todas
Envolve
as

Dentro desse complexo não existe somente o M. tuberculosis como agente causador da tuberculose, existindo outras
micobactérias que podem causar a tuberculose humana.
● Complexo MAIS (Mycobacterium avium, M. intracellulare, M. scrofulaceum). Tuberculosecausa

não causam

doenças
MA
, outros

São patógenos que estão relacionados a infectar pessoas imunodeprimidas, levando até mesmo a formação de abcessos.
- HIV e imunocomprometidos.
ou

Mycobacterium tuberculosis
iiEE-o.io
vs

“É um patógeno intracelular de macrófagos, que estabelece sua infecção preferencialmente no sistema pulmonar; tem
a ação regulada pelo sistema imune do hospedeiro e, na maioria das vezes, é condicionado a um estado de dormência.”
(TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)
● Bacilo de Koch.
Agente causador da tuberculose.
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● Crescimento lento:
- Tempo de geração de 24h.
O tempo para se multiplicar e formar duas outras células-filhas.
O Mycobacterium tuberculosis apresenta tempo de crescimento lento, é muito exigente nutricionalmente, porque precisa
de um meio muito suplementado com vários aminoácidos e nutrientes para que a bactéria possa crescer.
- Cultura de confirmação em torno de 6-8 semanas.
- Meio com elementos complexos.
● Aeróbio obrigatório.
- Lobo superior do pulmão.
➔ Parasita intracelular de macrófagos.
Para iniciar o processo de patogênese, precisa infectar macrófagos e também ser viável dentro destes e levar a destruição
dos mesmos.
"
mediada
eéud
"

NV
de

pernil
TU

Principais espécies causadoras de tuberculose

Complexo Mycobacterium tuberculosis:


● M.tuberculosis.
● M.bovis.
É típica de causar tuberculose em animais principalmente bovinos, caprinos, suínos e ovinos, causam tuberculose com
formação de granulomas e a transmissão dos animais para o ser humano se dá principalmente pela ingestão de alimentos
contaminados ou ter contato direto com esses animais no tratar dos mesmos. A pessoa que desenvolve TB pelo M. bovis
irá desenvolver uma tuberculose zoonótica.

íÜ
● M.africanum (1/3 casos TB oeste da África).
"
● M. canetti.
● M. microti.
(BIER, 1978; CORNER, 1994; BROSCH et al., 2002; ZINK; NERLICH, 2004).

Características importantes

● Mycobacterium tuberculosis - possuem parede celular com muitas camadas de peptidoglicano e não
↳ resistente ação detergente
apresentam membrana externa. a

● Os corantes do método de Gram não são capazes de ultrapassar a barreira lipídica do Mycobacterium.
Alguns autores relatam que as micobactérias seriam fracamente gram-positivas, porque tem maior conteúdo de
peptidoglicano, porém quando vão para a coloração de gram as mesmas não coram, então não são nem gram-negativas e
nem gram-positivas.
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Não são nem gram-positivas nem negativas porque possuem alto conteúdo de lipídios nas paredes como
glicolipídios, fosfolipídios e essa camada de gordura impede a entrada de corantes de Gram.
● Bactérias gram-negativas apresentam cerca de 5-20% de lipídios em suas paredes.
● Micobactérias apresentam até 60% de lipídios em suas paredes, principalmente na forma de ácidos
micólicos.
Tem uma coloração específica para as micobactérias, que é a coloração de Ziehl-Neelsen, onde se faz a contagem
desses bacilos (baciloscopia). O resultado desses bacilos na coloração de Ziehl-Neelsen se corarem com o corante
primário que é o carbolfucsina, vai chamar esses de
(bacilos álcool ácidos resistentes).

“As micobactérias têm uma complexa parede celular rica em lipídios. Essa parede celular é responsável por muitas das
propriedades características da bactéria (p. ex., acidorresistência; crescimento lento; resistência a detergentes, a
antibióticos antibacterianos comuns e à resposta imune do hospedeiro; antigenicidade). A estrutura básica da
parede celular é típica das bactérias Gram-positivas: uma membrana plasmática interna recoberta por uma camada
espessa de peptidoglicano e ausência de membrana externa. No entanto, a estrutura da parede celular nas micobactérias
é muito mais complexa do que em outras bactérias Gram-positivas. Ancorados à parede celular estão proteínas,
manosídios de fosfatidilinositol e lipoarabinomanana (LAM). O LAM é funcionalmente relacionado aos
lipopolissacarídeos antigênicos O, presentes em outras bactérias. Também encontram-se presentes lipídios,
glicolipídios e peptidoglicolipidios. Os componentes lipídicos compreendem 60% do peso da parede celular.
Proteínas de transporte e porinas estão intercaladas por todas as camadas da parede celular e constituem 15% do
peso da parede. As proteínas são antígenos biologicamente importantes que estimulam a resposta imune celular
do paciente à infecção. Preparações extraídas e parcialmente purificadas desses derivados proteicos (derivados de
proteína purificada ou PPD) são utilizadas como reagentes de testes de pele para medir a exposição a M. tuberculosis.
Preparações semelhantes de outras micobactérias são usadas como reagentes de testes de pele espécie-específicos.”
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Estrutura da parede celular


boetéis dentro dos
permaneçam macrófagos
.

os

● Glicolipídios, ácido micólico, arabinogalactano.


● Lipoarabinomananos (LAM).
● Peptidoglicano → N-glicolilmurâmico.
estrutura
Possui em sua

ao
uma Proteína G- que
cit - 1- ,
impede
ser pago
envolvido
OMO Seja
que
intracelular
.

lisossomo
pelo

Parede celular do M.tuberculosis.


Giulia Magno Rocha
Na coloração de Ziehl-Neelsen para que o corante primário (carbolfucsina) penetre, precisa aquecer o corante e só assim
consegue penetrar na densa camada de gordura para então corar as micobactérias. Uma vez que o corante primário
penetra nessa camada quando for usar o diferenciador, que nesse caso tem ácido e é o ácido clorídrico 3% ainda sim não
irá conseguir descorar, por isso são chamados de BAAR.

Alguns fatores de virulência

Os lipídios, fosfolipídios funcionam como fatores de virulência da bactéria e favorecem que a bactéria permaneça
viável dentro dos macrófagos e que se multiplique dentro dos macrófagos, têm uma enzima também que a bactéria possui
e favorece que a mesma permaneça, então os fatores de virulência da bactéria são principalmente para favorecer a
permanência da mesma dentro do macrófago e poder causar necrose dentro do mesmo.
O fato de estar dentro do macrófago vai induzir uma resposta do hospedeiro ao início da formação do granuloma.
● Ácidos micólicos.
Protegem a bactéria de enzimas hidrolíticas do fagossomo.

● Lipoarabinomananos (LAM) → (glicolipídeo complexo) + proteínas.


Os ácidos micólicos e o LAM favorecem a permanência da bactéria dentro dos macrófagos.

Estrutura dos glicoconjugados de micobactérias.


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Inibição da formação do fagolisossomo

O Mycobacterium tuberculosis vai permanecer dentro dos macrófagos, impedindo a formação do fagolisossomo. O
macrófago é uma célula fagocítica, vai ter a endocitose, que é a entrada do corpo estranho que no caso é a bactéria onde
o macrófago vai fagocitar e ele quer destruir. Na destruição o fagossomo com a vesícula que formou e que possui estágios
de amadurecimento, e vai chegar o momento que ela vai fusionar com o lisossomo, que é uma vesícula que tem enzimas
digestivas e destruir os bacilos, mas a bactéria impede a fusão do fagossomo com o lisossomo e se não ocorrer a fusão a
bactéria continua viável dentro do macrófago e pode continuar se multiplicando, porém uma hora terão muitos bacilos
dentro do macrófago e esse vai estourar, morrer, sofrer necrose e isso é ruim, porque o ideal é que ele sofra uma apoptose
(morte celular programada) para que os resquícios do macrófago sejam digeridos por células apresentadoras de
antígenos, como as células dendríticas. Para que então as células dendríticas com pedacinhos de macrófagos junto do
bacilo para linfócitos TCD8 ou TCD4, isso tudo é o início da ativação da resposta imune celular, que a resposta necessária
que o hospedeiro precisa para impedir a progressão da doença.
Granuloma é uma coisa boa, porque são respostas do hospedeiro e tem o objetivo de conter a bactéria, é como se fosse
um agregado organizado de células de resposta imune celular com o objetivo de contenção da bactéria a nível do pulmão.
Se não tivessem esses granulomas iniciais as bactérias iriam se disseminar pelo organismo. Essa resposta celular, que é a
resposta necessária para a defesa do hospedeiro tem que ser eficaz. O que acontece dentro do granuloma vai levar a
progressão ou não da doença.

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°
Existe também uma enzima importante que a bactéria produz, que é a proteína quinase G (PknG) e essa impede
ii.
também a fusão do fagolisossomo.
O normal seria a fusão do lisossomo com o fagossomo para que ocorresse a destruição da bactéria, mas uma cepa
patogênica do M. tuberculosis produzindo a PknG vai levar que não ocorra a fusão do fagolissomo.
Se a bactéria conseguir impedir a fusão do fagossomo com o lisossomo a bactéria continua viável dentro do macrófago,
uma vez viável dentro do macrófago tem a possibilidade de continuar a multiplicação e aumentando a sua população e
matando o macrófago. Uma vez que mata o macrófago pode infectar outros sítios, como está no pulmão vai atingir outras
regiões do parênquima pulmonar. Se estourar o granuloma, os bacilos vão infectar as outras regiões do parênquima e se a
resposta não for eficaz vai formar granulomas, tendo fibrose no parênquima pulmonar, a pessoa terá cansaço, a
capacidade de expansão do pulmão será comprometida e isso leva a progressão da doença.
Se houver uma cepa da micobactéria que seja deficiente da PknG ou se os fatores de virulência da mesma sejam
atenuados, isso favorece ao hospedeiro, porque ele consegue destruir a bactéria formando o fagolisossomo e não haverá
progressão da doença.
do Granuloma :

Característica
ao
centro .

↳ necrose

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Apoptose vs. necrose de macrófagos

A formação do granuloma é resultado da resposta do hospedeiro com o objetivo de contenção da bactéria, no centro do
hospedeiro vão ter os macrófagos e tudo depende deles.

O que quer dizer se o macrófago sofrer necrose ou apoptose? Se for uma cepa atenuada, esse macrófago irá
conseguir destruir a bactéria, formando o fagolisossomo e assim destruindo a mesma, vai sofrer apoptose, então os
pedaços desse macrófago serão fagocitados pela célula dendrítica, que é uma importante célula apresentadora de
antígeno. As células vão pegar os pedacinhos de macrófagos que contém o M. tuberculosis e vão ativar duas importantes
células: o linfócito TCD8 (linfócitos citotóxicos que vão diretamente na célula para matá-las, por exemplo matar um
macrófago infectado) ou pode ativar os linfócitos TCD4 e uma vez ativados vão formar outras subpopulações importantes
que no caso são os linfócitos Th1 (essa subpopulação é importante para impedir a progressão da infecção pelo M.
tuberculosis; o Th1 leva a uma resposta imune celular, produzem IFN-γ - que é uma citocina pró-inflamatória que leva ao
recrutamento de mais macrófagos para o local).
Se ocorrer tudo como o lado esquerdo da imagem, não ocorrerá a doença.
Se for uma cepa extremamente virulenta e essa cepa onde uma vez infectando os macrófagos a carga bacilar consegue
impedir a fusão do fagossomo com o lisossomo não conseguindo destruir a bactéria, vai acontecer que a bactéria continua
se multiplicando e levará a necrose dos macrófagos. Na necrose, os bacilos vão ficar viáveis para poder infectar outros
macrófagos, então o centro do bacilo ou os macrófagos contendo os bacilos podem ser o início do granuloma.
O granuloma é uma resposta do hospedeiro que se chama de hipersensibilidade do tipo IV ou celular, onde existe uma
organização de células do sistema imune celular para a contenção de um determinado patógeno para que o patógeno não
se dissemine. O granuloma tem várias células envolvidas.
Giulia Magno Rocha
No centro do granuloma podem ter mais macrófagos apoptóticos ou macrófagos necróticos.

Se tiver mais macrófagos necrosados tem mais bacilos viáveis, e pode chegar ao momento que as bactérias vão se
multiplicando e podem estourar o granuloma, nesse momento pode infectar outros sítios.
A depender da resposta imune do hospedeiro pode virar uma tuberculose extrapulmonar, que é o que ocorre
principalmente em pacientes imunodeprimidos.

Transmissão

● Principal porta de entrada: via respiratória.


Também pode ser a via digestiva, mas não é a principal.
● 90% dos casos ocorre pela inalação de aerossóis.

Paciente com tuberculose ativa infecta 10-15 outras pessoas por ano.

Patogênese da tuberculose

O indivíduo com granuloma no momento da tosse pode haver rompimento de granuloma ou ocorrer a congruência de
granulomas, podendo infectar outras pessoas.

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O granuloma no centro vai ter macrófagos apoptóticos ou necróticos, células epitelioides (são macrófagos fusionados),
terá linfócitos contidos em uma cápsula de tecido conjuntivo.

Se no centro do granuloma tiver mais necrose, a bactéria vai continuar se multiplicando e vai romper o granuloma e
infectar outros macrófagos em outras regiões que vão formar outros granulomas.

O indivíduo infectado com granulomas infecta outra pessoa, os macrófagos alveolares iniciam a formação do
granuloma, chamando outras células que são os neutrófilos (célula do sistema imune inato), chama também células

Giulia Magno Rocha


dendríticas e parte dos macrófagos vão sofrer apoptose e parte vai sofrer necrose; no centro do granuloma sempre tem
necrose, mas depende se vai ter mais necrose ou mais células apoptóticas.
Quando no granuloma os macrófagos conseguem destruir os bacilos, o granuloma se torna calcificado, então na maioria
dos casos vai ocorrer o primeiro contato e se formar o granuloma que se torna asséptico, porque conseguiu resolver a
situação.
Em torno de 5-10% da população quando não são totalmente imunocompetentes, que não conseguiram destruir e formar o
granuloma asséptico, e também quando a bactéria não conseguiu evoluir causando uma necrose significativa dos
macrófagos existe uma coexistência entre o sistema imune do hospedeiro e a sobrevivência da bactéria; a bactéria diminui
o metabolismo e se tem o quadro de tuberculose latente, essa não transmite a doença e pode passar a vida toda sem
manifestar, porém se o indivíduo foi transplantado, infectado por HIV ou teve algum abalo do sistema imunológico pode
ativar e ter tuberculose ativa com progressão da doença.

Granuloma

Se a bactéria está solta no centro necrótico e continua a multiplicação, a mesma pode romper o granuloma e infectar
outros macrófagos e formar outros granulomas.

Formação do granuloma

● A formação do granuloma é uma tendência natural.


● A progressão da doença depende da resposta dentro do granuloma.
● Fatores individuais, genética.
O granuloma é contido, porque tem uma cápsula formada por tecido conjuntivo para impedir que a bactéria se dissemine.
No granuloma tem células do sistema imune celular.
Giulia Magno Rocha
Patologia

Desenvolvimento progressivo de lesões nodulares denominadas tubérculos, que podem localizar-se em qualquer órgão
ou tecido: tuberculose.

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Tuberculose

Fatores de risco:
● Indivíduos de baixo poder socioeconômico, com moradia precária e má nutrição.
● Uso de drogas imunossupressoras.
● Indivíduos com HIV.
Diagnóstico:
● Testes TB:
- Teste de pele tuberculina (PPD - Teste de Mantoux) (48-72 h).
Utiliza-se antígenos purificados do M. tuberculosis, onde inocula no antebraço.
“O teste de tuberculina (PPD) pode ser utilizado para detectar uma infecção de muitos anos atrás, ou mesmo de origem
recente, sendo a única maneira de diagnosticar uma infecção latente, pela reação de hipersensibilidade do tipo tardia
desenvolvida contra antígenos micobacterianos.” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)
“A vacinação com BCG (Bacilo de Calmette e Guérin) também produz reatividade ao PPD, fazendo com que a utilização e
a confiabilidade deste teste diminuam com o aumento do número de crianças vacinadas.” (TRABULSI; ALBERTHUM,
2015)
- Testes sanguíneos (Quantiferon – IFN-γ).
● Raio-X tórax.
● Teste rápido molecular (TRM-TB).
● Microbiológico:
- Esfregaço - Coloração de Ziehl Neelsen.
- Baciloscopia (pesquisa de BAAR).
Se utiliza o escarro do paciente em 3 dias consecutivos. Na baciloscopia se conta quantos bacilos tem por campo,
verificando assim a carga bacilar.
“Desde seu desenvolvimento por Koch em 1882, a técnica de baciloscopia ou esfregaço de escarro para BAAR sofreu
poucas modificações, e continua sendo um dos métodos mais rápidos de detecção de M. tuberculosis. O esfregaço de
escarro é uma maneira simples de diagnosticar tuberculose, além de ter baixo custo e ser de fácil acesso.” (TRABULSI;
ALBERTHUM, 2015)
● Cultura - inviável (até 2 meses de crescimento).

Coloração de Ziehl Neelsen

Macrófagos infectados por vários bacilos de Koch.

Giulia Magno Rocha


Em vermelho são os bacilos.

Interpretação dos resultados

Teste de Mantoux: derivado proteico purificado (PPD)

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Hipersensibilidade tardia

Se der acima de 5 milímetros é considerado positivo. Porém, tem muitos resultados falso-negativo e falso-positivo, por isso
o PPD não pode ser utilizado sozinho, tendo que ser aliado com outros.

Teste de Mantoux

● Reação falso-negativo:
- Imunossupressão (infecção viral, desnutrição, drogas imunodepressoras);
- Teste realizado antes do surgimento da reação de hipersensibilidade (apenas 4 a 10 semanas após infecção);
- Antígenos mal conservados.
● Reação falso-positivo:
- Podem resultar de infecção por micobactérias atípicas (reação cruzada).
- Vacinação.

Tuberculose

● Prevenção:
- Vacinação com BCG (M. bovis atenuada).
É uma linhagem viva, mas que não protege o indivíduo adulto, protegendo na primeira infância a não ter a forma grave.

- Boa alimentação e moradia.


- Evitar ambientes aglomerados.

● Tratamento:
- Múltiplos fármacos (isoniazida, rifampicina, etambutal e pirazinamida).
É um tratamento demorado, leva meses e é necessário um acompanhamento da equipe de saúde.
“Algumas vezes durante o tratamento pode-se observar uma resistência inicial do bacilo a isoniazida, tornando-se
necessária a adição de outras drogas de primeira linha, como estreptomicina. No caso de resistência a, pelo menos,
rifampicina e isoniazida (MDR-TB), torna-se necessária uma extensão do período de tratamento, optando-se, muitas
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vezes, pela utilização de drogas de segunda ou até terceira linha, ainda que a maior toxicidade seja um fator limitante.
Entre as drogas de primeira linha, que são geralmente bactericidas, combinando uma alta eficácia com uma relativa
toxicidade ao paciente durante o tratamento, estão: isoniazida, rifampicina, estreptomicina, etambutol, pirazinamida; e,
entre as drogas de segunda linha, que são geralmente bacteriostáticas, apresentando uma eficácia menor e sendo, na
maioria das vezes, mais tóxicas, estão: fluoroquinolonas, ácido para-amino-salicílico, cicloserina e etionamida, entre
outras.
Pacientes com tuberculose latente também podem ser tratados, geralmente a base apenas de isoniazida, uma
monoterapia; este tratamento funciona apenas em pacientes que ainda não desenvolveram a doença ativa. Trata-se de
uma administração profilática de isoniazida por seis a nove meses, inviabilizando o desenvolvimento da doença através da
eliminação dos bacilos dormentes.” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)

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Giulia Magno Rocha


Aula 5 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

Miocardite Viral

O que é miocardite?

É a inflamação do tecido muscular cardíaco, o miocárdio; às vezes o quadro pode se complicar e evoluir para uma
miopericardite.
O vírus precisa replicar no miocárdio para que a miocardite viral aconteça.
“A miocardite engloba um grupo diversificado de entidades clínicas nas quais os agentes infecciosos e/ou os processos
inflamatórios têm como alvo principalmente o miocárdio.” (ROBBINS)

Etiologias da Miocardite

● Agentes infecciosos:
- Vários vírus de interesse médico.
- Algumas bactérias.
- Alguns fungos.
- Alguns protozoários.
● Reações imunes:
- Rejeição ao transplante cardíaco.
O corpo começa a produzir anticorpos contra o órgão que não é próprio.
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● Doenças autoimunes:
- Lupus.
A doença autoimune pode gerar uma resposta contra o tecido miocárdico.
● Toxinas:
- Drogas cardiotóxicas (cocaína).
● Desordens genéticas:
- Desenvolvimento da cardiomiopatia.

A miocardite viral é a mais comum. Os enterovírus têm papel mais frequente nos quadros de miocardite viral,
principalmente na infância.

Miocardite viral
Etiologia viral:
● Enterovírus:
- Coxsackievírus e Echovirus.
➢ Coxsackievírus B.
É um sorotipo do enterovírus humano B e do humano A.
● Adenovírus.
● SARS-CoV-2.
● Influenzavírus.
● Herpes Simplex Vírus (HSV).
● EBV, CMV, Varicela Zoster Vírus (VZV).
● Vírus da Caxumba.
● HIV.
● Vírus da Rubéola.
● Vírus da Hepatite.
● Vírus da Dengue.

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Enterovírus Humano

Morfologia Básica

● Não envelopados.
● Capsídeo icosaédrico:
- VP1 (mais externo - receptor celular).
Proteína do capsídeo mais externa, é como se fosse a “chave” para o vírus entrar na célula; sendo o receptor de entrada
dos enterovírus na célula.
- VP2, VP3.
- VP4 (associado ao RNA viral).
Protege o material genético do vírus, está mais interna.
● Genoma: RNA fs+.
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Quando o vírus tem RNA de polaridade + isso facilita a replicação, quando chega no citoplasma da célula pode se acoplar
ao ribossomo e fazer uma tradução direta, tendo replicação rápida. Toda essa replicação acontece no citoplasma da
célula, não indo para o núcleo e como é positivo já acopla e faz a tradução no ribossomo da célula para produzir as
proteínas virais, utilizando a maquinaria celular.
Só ter capsídeo e material genético confere a esse vírus uma maior resistência ao ambiente, a produtos de limpeza, por
exemplo. Ele só tem proteína.

Propriedades gerais

● São resistentes a vários solventes e desinfetantes como álcool 70Gl, éter e clorofórmio.
● Resistentes ao pH ácido estomacal.
Chegando no estômago sobrevivem e vão para os enterócitos (células intestinais), podendo causar diarreia e outros
sintomas, também pode chegar no enterócito e cair na corrente circulatória fazendo a viremia e vai para o sangue, é
absorvido no intestino delgado e vai para corrente sanguínea podendo encontrar vários órgãos e sistemas.
● Inativados pela luz UV e ressecamento.
● Possuem ampla distribuição geográfica.
● Todos os enterovírus são antigenicamente heterogêneos.
Consegue ficar em um ambiente viável, facilitando a transmissão que é aérea e por ingestão de água, alimentos
contaminados por enterovírus.

Taxonomia

● Família: Picornaviridae.
● Gênero: Enterovirus.
Dentro desse gênero tem-se enterovírus pólio (controlado no Brasil) e não-pólio.

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● Taxonomia atualizada:

Uma das principais causas é o sorotipo Coxsackievírus B, que causa a miocardite viral.

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Replicação - Picornaviridae

Toma-se como modelo básico da replicação a família Picornaviridae, basicamente todos se replicam da mesma forma,
tendo apenas uma exceção.
Tem-se os vírus fazendo adesão, fazendo ligação da VP1 com o receptor de entrada da célula, isso depende do sorotipo e
da espécie, porque a célula muda e o receptor também. De uma forma geral tem adesão da VP1, que é a proteína mais
externa do capsídeo se ligando.
Os enterovírus penetram na célula-alvo pela endocitose, o vírus é endocitado e está dentro de uma vesícula; quando está
dentro da vesícula ele não é digerido, sendo um vírus resistente e existe um processo de acidificação endoplasmática, ou
seja dentro da vesícula é acidificada, a célula libera substâncias para acidificar como clatrinas e adaptinas que são
exemplos de substâncias. A acidificação libera o material genético viral do capsídeo e da vesícula, ocorrendo o processo
de desnudamento ou decapsitação, a liberação do material genético no citoplasma da célula; como só tem capsídeo vai
perder o capsídeo e se desnudar, o que sobra dentro da célula é o material genético liberado no citoplasma e as enzimas,
sendo a principal das enzimas a VPG.
A VPG é uma polimerase viral, que é RNA polimerase, sendo RNA-dependente e isso quer dizer que é uma enzima que
copia RNA a partir de RNA, ou seja, pega RNA viral e copia fazendo várias cópias desse RNA, sendo importante para
montar os outros vírus.
O RNA viral é de fita simples e de polaridade positiva, esse se comporta como se fosse um RNA mensageiro, e o RNA
mensageiro leva mensagem do ribossomo para fazer a síntese proteica (tradução), então o RNA viral vai no ribossomo da
célula (que são os ribossomos celulares) e faz a tradução imediata, então isso gera uma replicação muito rápida, isso tudo
ocorre no citoplasma da célula, desnuda e já faz tradução.
Na tradução gera uma poliproteína (proteína grande, com todas as proteínas que o vírus precisa para se multiplicar), a
poliproteína será clivada nas subunidades proteicas (VP1, VP2, VP3, VP4, VPG, outras enzimas que tem função
enzimática para a coordenação da síntese da replicação viral) para montar os capsídeos; em paralelo o material genético
completo que está dentro do vírus é positivo.

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A transcrição é feita pela VPG que vai pegar o RNA positivo e vai gerar um negativo, o molde negativo é que vai ser como
se fosse um modelo, a partir da transcrição do negativo vai gerar só positivo, acumulando então as fitas positivas; toda vez
que a enzima VPG copia o RNA negativo vai gerar um positivo. O positivo é o genoma viral, e ele vai entrar na partícula
gerando vários vírus no citoplasma da célula que vão se acumular no citoplasma, vão ser liberados por lise celular,
matando a célula que ele replica.
Os vírus que fazem a miocardite viral tem que ter tropismo pela célula muscular cardíaca, se replicando na mesma e a
mata. Observa-se uma lesão direta do vírus no tecido alvo, por ser um vírus citolítico, que para sair da célula a mata.

Replicação - Enterovírus

*CAR: Coxsackievirus e adenovírus receptor.


*DAF: fator de aceleração de decaimento do complemento.

No tecido cardíaco o enterovírus utiliza o receptor CAR, que é um receptor de adenovírus e Coxsackievirus B e entram por
esse receptor. O DAF é o co-receptor, sendo um receptor secundário; DAF vem de acelerador de decaimento de
complemento.
O vírus se liga no CAR através da VP1, entra por endocitose (na imagem não demonstra). Tem o receptor e o material
genético do vírus, o RNA, a enzima VPG acoplada ao RNA e sequências codificando para as proteínas estruturais e
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proteínas enzimáticas. Quando o vírus entra na célula faz a tradução e essa gera poliproteínas, a poliproteína é clivada em
subunidades proteicas que vão gerar as proteínas estruturais e não-estruturais.
Na transcrição tem o genoma do vírus, vai gerar um molde negativo e toda vez que o negativo é transcrito gera uma fita
positiva, que é a fita do vírus, e vai entrar nas proteínas que estão sendo produzidas nos capsídeos, gerando os novos
vírus que vão se acumulando, matando então a célula por lise celular (rompimento da membrana plasmática da célula,
liberando os vírus que vão infectar uma nova célula).
Tem o vírus provocando uma lesão direta, interferindo no metabolismo da célula, porque utiliza o maquinário da célula para
produzir suas próprias proteínas e isso compromete a função celular, e também mata a célula por lise celular.
Na miocardite, a replicação viral induz uma resposta imune específica, uma resposta imune celular, humoral e inflamatória.
O corpo humano precisa eliminar uma infecção, e essa resposta também gera cura e lesão. Quando a resposta está na
medida certa ocasiona na cura, mas quando for exagerada ou acontece algum erro no processo pode gerar miocardite
crônica, tendo prolongamento do processo inflamatório passando meses e até anos no paciente para ser diagnosticado,
por conta do quadro que se arrastou.

Epidemiologia e Transmissão
Enterovírus Não-Pólio (EVNP)

● Transmissão: fecal-oral, respiratória e fômites.


● São ubíquos e a maioria das infecções (~ 90%) são assintomáticas.
● Maior incidência em crianças < 4 anos, menor condição socioeconômica, maior aglomeração.
● Principal causa de miocardite viral na infância.
● Principal causa de meningite asséptica em crianças: ~ 80 a 90% .
Não tem drogas que sejam específicas para tratar enterovírus.

Enterovírus de Interesse Médico

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Patogênese - Picornaviridae

A entrada do vírus no corpo humano pode se dar pela via respiratória ou ingestão; se for aerossol a replicação inicial vai
acontecer na orofaringe e na ingestão acontece nas células que compõe o tecido intestinal (nos enterócitos) e pode em
algumas situações causar diarreia.
A primeira replicação dos vírus aumenta o número de vírus e gera a primeira viremia, ou seja, o vírus vai cair na corrente
sanguínea. Então, o vírus faz a primeira replicação na orofaringe ou nos enterócitos e vai gerar a primeira viremia.
*Viremia é o vírus no sangue.
O vírus no sangue vai circular por vários órgãos e sistemas, encontrando o órgão-alvo dele, onde terá o receptor principal
de entrada; quando encontrar o tecido muscular cardíaco vai se multiplicar, fazendo o ciclo de replicação no tecido
muscular cardíaco e é onde gera a segunda viremia e lesão no órgão-alvo, causando a miocardite e podendo causar
também dependendo do sorotipo a miocardite e também pleurodinia.

Tem echovirus e coxsackievirus com tropismo pela pele, quando faz a viremia se multiplica causando a síndrome
mão-pé-boca e rash cutâneo.
Echovirus, coxsackievirus e pólio com tropismo pelas meninges, causando meningite viral.
Coxsackievirus tem tropismo pelo sistema nervoso, causando encefalite e até mesmo paralisias.
Hepatite A tem tropismo pelo fígado e causa um quadro de inflamação hepática.
● Período de incubação: 3 a 7 dias.
● Período de excreção viral: aérea: 5 a 7 dias e fezes: 4 a 7 semanas.
Período de excreção viral depende da espécie e do sorotipo.
*A maioria dos casos são assintomáticos – Controle da infecção.
O próprio sistema imune controla essa infecção, tendo sintomas brandos e a maioria das pessoas não vão ter evolução
clínica grave.

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Miocardite Viral x Evolução Clínica

Tem fases da miocardite, e tudo começa com a entrada do vírus na célula muscular cardíaca. Nos primeiros minutos e
horas o vírus entra e se adapta, chegando na célula muscular cardíaca através da viremia. Chegando começa a se replicar
e de 1-7 dias tem a resposta imune inata tentando controlar, mas não consegue e vai ter então resposta imune adaptativa
ou adquirida na fase 2, e tem ativação das células de defesa.
Se o vírus for eliminado na fase 2, a fase 3 do paciente vai ser a cura, o clearance viral.
Alguns pacientes podem desencadear uma resposta imune exagerada ou resposta imune contra alguma proteína da
própria célula muscular cardíaca, gerando resposta imune mediada ou em algumas situações não há o clearance total do
vírus e com fragmentos dos vírus nas células, isso são fatores que podem gerar um quadro da miocardite crônica,
podendo levar meses, anos ou até mesmo a morte.
Se a resposta imune acontecer de maneira organizada, adequada e sem exageros tem uma resposta inflamatória, tem
resposta imune celular, ativa células B, produz anticorpos, terá resposta imune humoral que é necessária para controlar a
replicação viral dentro e fora da célula, e assim o paciente ficará curado.
Quando a resposta imune acontece, o vírus vai multiplicar e fazer lise da célula cardíaca, fazendo citólise. Às vezes pode
acontecer que uma célula apresentadora de antígeno pode pegar um antígeno que estava escondido na célula muscular
cardíaca que estava interno, mas como a célula começou a sofrer lise esse epítopo pode ter sido expresso de forma
errada e de forma errada essa célula apresenta para o linfócito TCD4 e desencadeia de uma forma errada uma resposta
imune celular e humoral contra um peptídeo (antígeno) próprio, podendo ser fator para evoluir para quadro de miocardite
viral crônica.
Às vezes existe persistência de alguns vírus no tecido cardíaco, persistindo resto de vírus e isso desencadeia uma lesão
crônica e resposta inflamatória crônica, levando anos e meses e com maior chance de lesão irreversível ou até mesmo a
morte.
Quando tem uma miocardite viral é muito importante a resposta imune, tanto para controlar a infecção tanto para evitar
lesões graves e curso de doença crônica. Por isso é importante diagnosticar e tratar o paciente precocemente para evitar
que possa desencadear um quadro mais crônico.

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Resposta Imune contra Vírus

Toda vez que um vírus chega no corpo, tem-se células apresentadoras de antígenos que estão nos órgãos-alvo e
capturam esse antígeno, fragmentam o vírus gerando os antígenos (peptídeos) e apresenta esse peptídeo ao linfócito T
auxiliar (TCD4). O linfócito TCD4 comanda a resposta imunológica; o mesmo comanda para os linfócitos B maturarem e
transformarem os plasmócitos e produzir os anticorpos específicos contra o peptídeo viral, para o TCD8 encontrar as
células infectadas e matar as mesmas. É o TCD4 que ativa o linfócito B para produzir anticorpos, também ativa através de
citocinas a resposta inflamatória, ativa macrófagos para fazerem fagocitose dos restos celulares de vírus, etc.
Os anticorpos geram células B de memória e os TCD4 também vão gerar uma memória. Porém, essa memória não dura
para sempre e é sorotipo específica, ou seja, as pessoas se reinfectam ao longo da vida e também podem se infectar por
diferentes tipos de soro vírus.
Não se tem vacina para esses enterovírus não-pólio.
A resposta imune que acontece para tentar combater a infecção pode dar resultado.

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A célula dendrítica que é uma das células apresentadoras de antígeno, vai pegar o peptídeo do vírus e apresentar para o
linfócito TCD4 (T auxiliar), este vai sinalizar através dos mediadores que são as citocinas. Com o TCD4 ativado vai ativar
linfócito B para produzir anticorpos, vai ativar o linfócito T citotóxico e é responsável pela evolução da doença, que pode
levar a cura (o clearance) e eliminar totalmente o vírus ou pode continuar no processo de miocardite crônica.
Na miocardite crônica vão ter citocinas que vão sinalizar tanto para resposta inflamatória quanto para produção de
anticorpos que muitas vezes são os responsáveis por provocar uma lesão inflamatória no tecido muscular cardíaco.

Miocardite Viral X Resposta Imune

Diagnóstico da Etiologia Viral associada a Miocardite

● Diagnóstico molecular: RT-PCR (no caso do enterovírus) ou PCR:


- Biópsia endocárdica.
● Sorologia (baixo impacto para pesquisa de Ac):
Pode ajudar, mas tem baixo impacto porque para os enterovírus existem muitas reações cruzadas, por terem muitos
sorotipos.
- Amostras pareadas (fase aguda e convalescência).

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- Elisa Captura de (IgM) e Teste de Neutralização.
● Isolamento viral por cultura celular e posterior identificação. (PESQUISA):
A cultura viral é mais utilizada para pesquisa.
- Coxsackie B e Echoviruses.
- Coxsackie A (difícil isolamento).
Observação: em muitos casos o diagnóstico é clínico (miocardite viral) e não se detecta a espécie viral.

PCR e RT-PCR – Diagnóstico Virológico

● PCR = Reação em cadeia da polimerase.


Detectar o vírus DNA, por exemplo herpes vírus que esteja causando quadro de miocardite em recém-nascidos.
- Detecção de genoma DNA.
- Vírus DNA ou com genoma DNAc.
● RT - PCR = Reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa.
- Detecção de genoma RNA.
- Vírus RNA ou RNAm viral.

Enterovírus (RNA) → RT-PCR.
*O RNA é instável (degrada facilmente), tendo que o transformar em DNA, por isso utiliza-se a enzima transcriptase
reversa.

Profilaxia das Enteroviroses

● Higiene básica, educação sanitária.


● Saneamento básico.
● Lavar as mãos.
● Higienizar objetos como brinquedos infantis.
● Evitar contato íntimo com o indivíduo infectado (beijo, abraço, etc).
● Não existe vacina para enterovírus não pólio.
● Não existe antiviral específico para tratar infecção por Enterovírus.

Tratamento e Profilaxia

● Não existe tratamento específico para as enteroviroses, devendo restringir-se a medidas visando o controle
dos sintomas e, quando necessário, cuidados especiais, por exemplo: restrição do esforço físico, dieta alimentar,
respiração assistida, digitalização.
● Não existem vacinas disponíveis para as enteroviroses, à exceção da poliomielite. Para o controle de
infecções causadas por agentes, em ambiente hospitalar, estão indicadas medidas gerais de higiene pessoal. No
entanto, diante da ocorrência de um surto de doença grave, como é o caso da miocardite causada por esses
agentes, pode ser indicada administração da imunoglobulina.

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Aula 6 - Microbiologia
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Hepatite viral

Hepatite

● Definição: é a inflamação do fígado.


● Causas:
- Ingestão abusiva de álcool.
- Infestação por protozoários.
- Medicamentos e agentes químicos tóxicos.
- Autoimune - Infecções (bactérias, fungos e vírus).
A pessoa começa a produzir autoanticorpos e destruir o tecido hepático de forma lenta e progressiva.
A etiologia viral é a principal causa de inflamação hepática.

Sintomatologia - Fase aguda

Esses sintomas não são exclusivos para hepatite viral, estão associados a comprometimento hepático, mas não tem
relação só com o vírus.
● Icterícia.
● Febre.
● Mal-estar geral.
● Fadiga.
● Artralgia e mialgia.
● Desconforto gastrointestinal.
● Hepatomegalia.
● Dor abdominal ao toque.
● Colúria.
Urina escura com cor de coca-cola.
● Acolia fecal.
Fezes esbranquiçadas.
*A maioria dos casos de hepatite A, B, C, D e E são assintomáticos, ou são sintomáticos, mas anictéricos.

O que é hepatite viral?

A hepatite é uma inflamação dos hepatócitos e quando está associada ao vírus, o vírus que vai induzir uma lesão hepática
não só decorrente da sua replicação, mas também da resposta imune que é desencadeada para tentar debelar a infecção.
Na resposta imune contra o vírus tem resposta imune celular TCD8, célula NK que vai no local da infecção identificar a
célula infectada por vírus e induzir a sua morte celular. Tem lesão celular decorrente da replicação viral, mas
principalmente da resposta imune que é desencadeada contra os vírus.

Principais Vírus - Hepatite viral

● Classificação pela OMS – Hepatotrópicos primários:


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- Vírus da hepatite A (HAV).
- Vírus da hepatite B (HBV).
- Vírus da hepatite C (HCV)
- Vírus da hepatite D (HDV)
- Vírus da hepatite E (HEV)
- Em estudo (F, G, TT e SEN) – Hepatite não A-E.
● Distribuição universal.
Hepatotrópico - trópico quer dizer tropismo, afinidade de ligação, então são vírus que tem tropismo pelo fígado. Tem
vírus que tem hepatotropismo primário pelo fígado, ou seja, é o órgão que ele quer chegar e tem outros vírus que tem
hepatotropismo, ou seja, pode infectar o hepatócito de forma secundária, não sendo o órgão alvo principal dele, mas
eventualmente pode replicar no fígado e causar um processo inflamatório.
Por exemplo, o citomegalovírus é um herpes vírus e normalmente não causa hepatite, mas em algumas populações como
transmissão congênita, o neonato pode nascer com quadro de hepatite associado ao citomegalovírus. Também o paciente
imunossuprimido transplantado de fígado pode desenvolver quadro de hepatite.

Principais espécies

Pode agrupar os vírus da HAV e HEV, porque eles apresentam as mesmas vias de transmissão (fecal-oral), são
eliminados nas fezes, e em um local sem saneamento básico que exista contaminação de alimentos e de água esse vírus
pode ser ingerido e desencadear o ciclo de transmissão fecal-oral. Esses vírus não evoluem para a forma crônica, ou seja,
quem tem HAV e HEV ou se cura da infecção e elimina o vírus ou a pessoa morre.
*O vírus da hepatite A fica viável na água do mar poluído e pode ficar retido nas ostras, porque essas fazem a filtração da
água do mar.
*No Brasil tem maior prevalência do vírus da HAV; HEV é raro no Brasil.
A HBV, HCV e HDV, podem ser transmitidos pelas vias parenteral, sexual e vertical; para a HCV a principal via é a
parenteral (sangue), já que é um vírus que está em grande quantidade no sangue, faz uma alta viremia e não é detectado
em secreções como o sêmen, secreção vaginal, então a transmissão sexual para o HCV depende de microlesões durante
o ato sexual, porque o vírus não está na secreção, e sim no sangue. Na hepatite HBV e HDV as 3 vias são eficientes,
porque também são detectados nas secreções. Esses 3 vírus podem evoluir para forma crônica, tem uma infecção que
pode ir da fase aguda evoluir para cura, pode da fase aguda causar um óbito ou pode da fase aguda evoluir para uma
forma crônica, onde a pessoa não consegue eliminar o vírus com a resposta imunológica e acaba tendo uma infecção
lenta que pode durar anos e muitas vezes a pessoa pode não saber que tem o vírus.

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Fase crônica

Quando tem um paciente crônico o que pode acontecer é que um fígado saudável infectado por vírus onde vai haver
replicação viral nos hepatócitos e uma resposta imune acontece, mas não consegue fazer o clearance viral e eliminar
todos os vírus, então vai lesando e o fígado se regenera. A lesão é lenta e progressiva porque o sistema imune causa
lesão e há reparo, porém chega um momento que esse reparo não acontece mais, tendo substituição do tecido funcional
hepático por um tecido conjuntivo cicatricial decorrente do processo inflamatório, da resposta imune acontecendo e
tentando eliminar o vírus. Nesse processo acontece a formação da fibrose e com o passar dos anos pode acontecer a
cirrose, levando a uma falência hepática, além disso o vírus da hepatite B e C que cronificam também são oncovírus,
podendo causar câncer.

Na segunda imagem há um hepatocarcinoma, tendo vários nódulos hepáticos e o vírus participa do processo de
oncogênese para formação do câncer hepático já em um quadro mais grave da doença.

Principais espécies

Para ocorrer uma transmissão fecal-oral o vírus precisa ficar resistente no ambiente para sobreviver e efetivar a
transmissão através da ingestão de água e alimentos contaminados. Os vírus entéricos que tem esse tipo de transmissão
como rotavírus, vírus da hepatite A e E não tem envelope, tendo apenas o capsídeo e fica mais resistente ao ambiente. O
vírus da hepatite A e E tem que sobreviver ao pH ácido estomacal, então tem que se manter viável no suco gástrico para
chegar a nível de enterócitos e multiplicar para cair na corrente circulatória para chegar no fígado.
*O HCV tem uma taxa de mutação alta, sendo também genotipado.
*O HDV não é um vírus, chama de vírus, mas na verdade é um virusoide, um agente viral, sendo uma partícula infectante
mais simples do que um vírus. Virusoide é uma partícula infectante que não consegue se replicar sozinho na célula,
precisando de um ajudante, de um vírus helper, sendo esse o vírus B. Quando se replica utiliza o envelope do vírus B para
se replicar. Então, se em uma célula tiver apenas o D essa infecção não se propaga. Não se tem vacina para o HDV,
porque já tem vacina para o HBV e se estiver protegido contra o HBV pela vacina a pessoa já está protegido contra a HDV.
*Não se tem vacina para o HCV, sendo isso um problema, porque a HCV tem um interesse mundial; não existe vacina por
ser um vírus com alta taxa de mutação e tem muitas pesquisas em andamento tentando desenvolver vacina para HCV.

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Vírus da Hepatite B (HBV)

Taxonomia e Características Gerais do HBV

● Família: Hepadnaviridae.
● Gênero: Orthohepadnavirus.
● Infecta apenas humanos.
● Não existem outros reservatórios.
● Elevada viremia.
● Detecção viral em diferentes secreções.
● Resistente a processos para inativação.
Fica viável na tinta da tatuagem; é resistente porque têm envelope com muita proteína, sendo um marcador para testar
esterilização.

Estrutura do HBV

● Envelopado.
Tem proteína S de superfície.
● Formato esférico.
● Capsídeo icosaédrico.
● Material genético: DNA fita dupla circular incompleto.
● Tamanho: ~ 42 nm.
● Antígeno do envelope: AgHBs ou HBsAg.
O S do envelope gera o antígeno que se pesquisa nos exames laboratoriais, achando na sorologia a pesquisa do AgHBs.
● Antígeno do Core: AgHBc ou HBcAg, AgHBe ou HBeAg.

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AgHBc é o antígeno do vírus da hepatite B do capsídeo. O antígeno E não está na estrutura do vírus, é produzida quando
o vírus se multiplica e a mesma é liberada na corrente sanguínea.
● Polimerase viral.

Em rosa está a proteína S; em verde está o capsídeo, onde tem a proteína C; em roxo (assemelha a um feijão) tem a
polimerase, sendo um complexo de enzimas que o vírus tem no interior.

Vírus da Hepatite B

Uma pessoa vacinada irá receber apenas a proteína S, então vai produzir um anticorpo que vai reconhecer a proteína,
tendo altos níveis de anticorpos anti-HBS ou anti-AgHBS. O anticorpo faz a neutralização da partícula viral, então impede
que o vírus entre na célula, mas se o vírus acabar entrando na célula a pessoa vacinada terá imunidade celular, que são
células TCD8 que vão reconhecer a célula infectada e a matar antes que o vírus se propague.

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O gene C, que é uma região genômica do vírus que codifica para a proteína do capsídeo, gera a proteína C que vai para o
capsídeo e gera também a proteína E (não estrutural) e essa vai para a corrente sanguínea da pessoa.
Os médicos também podem avaliar se o paciente está com o vírus replicando ou não, porque o AgHBe (marcador
sorológico) está associado a replicação viral, só é detectado no sangue do paciente quando o gene C está sendo transcrito
e traduzindo, quando há transcrição e tradução do genoma viral significa que o vírus está replicando → a presença do
AgHBe é indicador de replicação viral.
O gene S que codifica para proteína de superfície que está no envelope do vírus, é o gene selecionado para fazer a vacina
da hepatite B. Essa região S é inoculada em um fungo que é um fungo não patogênico e que se consome nos alimentos,
faz fermentação de pães, sendo uma vacina segura, porque o fungo não patogênico produz a proteína do vírus, que é a
proteína S e essa é purificada para fazer a vacina; a vacina é feita com a tecnologia do DNA recombinante. É DNA
recombinante, porque tem o vírus DNA, uma sequência de DNA do vírus que codifica para a proteína S recortada e
inserida em um fungo. Esse tipo de vacina é excelente, porque se tem segurança.
Se a pessoa está vacinada e só tem a proteína S, o anticorpo que detecta nessa pessoa é apenas o anti HBS ou anti
AgHBs, que é um anticorpo contra a proteína S.

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É um vírus hepatotrópico, então a célula demonstrada é um hepatócito.
Em um primeiro momento é feita a adesão, a ligação do vírus com a célula e essa ligação é mediada pela proteína S (o
antígeno S de superfície do vírus). A célula irá endocitar e colocar o vírus dentro de um endossomo, dentro da vesícula o
mesmo já está no citoplasma da célula-alvo e entra na etapa de desnudamento (decapsitação) e assim quer liberar o
material genético no interior da célula infectada, para isso vai tirando as capas.
Primeiramente perde o envelope fazendo um processo de fusão da membrana do envelope com a membrana do
endossomo e libera o núcleo capsídeo mais material genético e as enzimas na região perinuclear, a região perinuclear tem
poros e no processo de passagem sofre decapsitação, ou seja, perde a proteína do capsídeo e o que vai entrar no núcleo
é o material genético e a enzima viral; o material genético do vírus é um DNA de dupla fita circular incompleto, então a fita
positiva falta um pedaço e no primeiro momento tem ação da enzima da célula que vai fazer reparo do DNA, completando
a fita e gerando uma fita de DNA de dupla fita circular completa.
Vem agora a transcrição e nessa vai ter RNA polimerase, DNA dependente, então pega o DNA do vírus e gerar uma cópia
de RNA pré-genômico e esse contém toda informação genômica do vírus transformada em uma fita simples de RNA, essa
fita simples de RNA vai ser utilizada para montagem da partícula viral e em paralelo a fita de RNA completa tem também a
transcrição do DNA gerando os RNA mensageiros (codifica para a proteína S, codifica para a proteína C, para proteína E).
Os RNA mensageiros vão se acoplar com o ribossomo da célula e fazer tradução e gerar uma proteína, fazendo assim a
síntese proteica, gerando assim a proteína S, proteína C, proteína E; após a tradução a proteína S é depositada e
transportada para a membrana plasmática do retículo endoplasmático (faz um envelope), a proteína C quando é produzida
vai sendo organizada para a montagem do capsídeo que é triângulo icosaédrico, a proteína E é solúvel e vai para a
corrente sanguínea (não é utilizada na estrutura do vírus), as enzimas polimerases vão se agrupando e vai haver a
montagem da partícula viral.

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Na montagem inicial terá a enzima com o capsídeo + RNA pré-genômico e vai formar o núcleo capsídeo; agora o vírus
precisa adquirir o envelope e para isso vai para a região do retículo endoplasmático e brota da membrana plasmática do
retículo endoplasmático, onde lá estão depositadas as proteínas S, então quando brotar irá adquirir uma parte da
membrana do retículo endoplasmático e as proteínas integradas a proteína S e aí ganha o envelope viral, tendo então a
partícula completa do vírus.
No momento que ocorre a exocitose, que é uma vesícula do complexo de Golgi, e vai sofrendo ativação da transcriptase
reversa, tem uma enzima que também faz transcrição reversa. A transcrição reversa é o RNA se transformar em DNA, em
célula animal não existe esse tipo de enzima. Então na transcrição reversa o RNA pré-genômico vai virar DNA e depois a
fita de DNA negativa é produzida a partir do RNA que é positivo, então o RNA pré-genômico gera a fita negativa completa
do vírus e depois a enzima DNA polimerase DNA-dependente que também é carreada pelo vírus vai fazer a segunda cópia
do DNA, gerando assim a cópia complementar. No momento que é exocitado, ele sai e a enzima para de funcionar,
gerando um DNA de dupla fita circular e incompleta, que é o que caracteriza o vírion (que é a partícula viral completa e
infectante), sendo chamada de partícula de dani.
O vírus gera um monte de envelopes ocos e quem os usa para sair da célula, se tornar infectante e se tornar um vírus é o
vírus delta (HDV), esse é um virusoide e precisa do vírus B replicando para utilizar as partículas ocas para sair da célula e
se tornar um “vírus”. Então, se tem uma vacina que age contra a replicação do vírus B automaticamente não terá vírus
delta, porque esse precisa do envelope do B para gerar uma partícula infectante.

Partículas virais do HBV

Está representada a partícula de Dane e as partículas defectivas ou defeituosas (partículas tubulares e partículas
esféricas) → o vírus delta utiliza essa última para colocar seu genoma e sair da célula para infectar uma nova célula.

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Na replicação gera grande quantidade de antígeno S (AgHBs), que é um marcador que pode detectar na fase aguda. O
AgHBs está na partícula de Dane e nos envelopes ocos que são liberados. Podendo isso ser uma hipótese para justificar
que a explosão de replicação e AgHBs desencadeia resposta imune na pessoa infectada pelo vírus da hepatite B e que
gera na grande maioria a cura sem tratamento.
Cerca de 80-90% de pessoas que têm o vírus B da fase aguda não cronifica, tendo geralmente a cura. Cerca de 10% vai
para a fase crônica. A cura depende da resposta imunológica da pessoa.

Vias de transmissão

● Sexual.
● Parenteral.
● Vertical/ perinatal.
● Grupos de risco:
- Prostitutas, indivíduos promíscuos/ DST, presidiários, UDI (usuários de drogas injetáveis).
- Hemofílicos.
Pela questão das múltiplas transfusões sanguíneas.
- Profissionais da área de saúde.
Às vezes se acidenta com perfurocortantes; pode não ter a vacina ou tem a vacina, porém não ficou protegido (cerca de
5% das pessoas não desenvolve imunidade, não desenvolve o anti-HBs).

Epidemiologia

● Problema de Saúde Pública Mundial.


● 2 bilhões de indivíduos já infectados no mundo.
● 350 milhões com infecção crônica no mundo.
● 2.000 portadores crônicos – Brasil.
● Distribuição etária principal: 15 – 29 anos.
● Elevado número de portadores assintomáticos.

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Evolução Clínica - HBV

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No esquema, observa-se um paciente com hepatite B aguda e tem 90% de chance de cura, cerca de 1% para hepatite
fulminante e 9% de chance de evoluir para uma forma crônica da doença.
A persistência do antígeno S por mais de 6 meses indica presença do vírus no sangue, isso é um fator associado à
cronicidade da infecção.
*A mãe com hepatite B crônica pode transmitir para o bebê, o recém-nascido infectado tem 90% de chance de cronificar e
evoluir para forma crônica; pode ter com 20-30 anos ter um quadro grave de comprometimento hepático.

Quadro Clínico

● Infecção aguda:
Na fase aguda é difícil fazer o diagnóstico, porque a maioria é subclínica ou anictérica.
- Subclínica.
- Sintomática anictérica.
- Sintomática ictérica.
● Infecção crônica:
Cerca de 10% da pessoas vão para a fase crônica; no hepatócito e com a replicação viral e com a resposta imune
acontecendo pode gerar:
- Fibrose e cirrose hepática.
- Hepatocarcinoma.
É o câncer hepático.
● Hepatite fulminante.
Vai haver lesão hepática em semanas, podendo gerar falência hepática, quadro inflamatório intenso e lesão hepática
intensa e grave, que às vezes precisa de transplante.
● Período de incubação: 30-180 dias.
O paciente deve apresentar cura em 6 meses.

Ascite intensa

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Imunopatogênese da Infecção pelo HBV

Tem-se o vírus B encontrando o fígado e após isso inicia a replicação na fase aguda da doença e terá resposta imune
sendo ativada. A resposta imune celular e humoral é fundamental para estabelecer a cura, o clearance viral (eliminação
dos vírus da corrente sanguínea e dos hepatócitos eliminando os vírus e estabelecendo a homeostase e cura do paciente,
isso é mediado pela resposta imune celular - T e humoral - linfócito B produzindo anticorpos). A resposta pode não ser
suficiente para controlar a replicação e nesses casos tem evolução para forma crônica, onde nessa tem a resposta imune
acontecendo, tem o vírus replicando e a lesão hepática lenta e progressiva.
O fígado se regenera, então a lesão hepática acontece e ele se regenera assim sucessivamente, até que em certo ponto
não se regenera mais e o tecido funcional hepático (hepatócitos) são substituídos por tecido conjuntivo sem função,
comprometendo a função hepática, levando a fibrose, cirrose e também pode gerar o hepatocarcinoma (câncer hepático).
O vírus da hepatite B é um DNA de dupla fita, pode integrar o genoma dele com o genoma da célula-alvo que é o
hepatócito, e contribui para o processo de oncogênese.

Resposta Imune x HBV

Na imagem tem o vírus se replicando nos hepatócitos. As pessoas têm no corpo as células apresentadoras de antígenos,
macrófagos, células dendríticas, tendo essas inclusive no fígado.
O que essas células vão fazer? O primeiro contato será esse, onde a célula vai encontrar o patógeno como estranho e
apresentar os peptídeos, os antígenos para o linfócito T helper (LTh) também chamado de linfócito T auxiliar ou TCD4. O
linfócito TCD4 que é o “general” da resposta imune vai mediar através da liberação de citocinas como IL-4, IL-5, IL-10
levando o TCD4 para um Th2, fazendo com que o linfócito B se diferencie em plasmócito e produza anticorpos específicos
e pode ter citocinas que vão estimular a proliferação do linfócito T via Th1, que vai ativar os linfócitos TCD8 (linfócitos T
citotóxicos - se chama assim também por causa uma citotoxicidade celular para a célula infectada por vírus) e esse vai

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tentar eliminar os hepatócitos que estejam replicando e com infecção viral ativa, mas de forma específica e ativado pelo
TCD4.
As células NK (natural killers) e o IFN-y estão na imunidade inata e continuam agindo também; tem lise de hepatócito por
TCD8 e NK também, o IFN-y é uma citocina muito importante na resposta imune contra vírus, porque leva as células não
infectadas a um estado antiviral, para que elas reconheçam e evitem a endocitose do vírus, o IFN-y é uma das drogas
usadas para tratar hepatite B e C.
*O IFN-y tem o natural que a pessoa produz, mas também tem o comercial, o medicamento.

Evolução Clínica X HBV

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O paciente que fica crônico quanto mais tempo ficar com o vírus mais lesão vai ter, e mais risco de desenvolver o
hepatocarcinoma (câncer hepático). Sendo o ideal fazer o diagnóstico precoce do paciente e evitar que chegue a nível de
cirrose, fibrose e comprometimento hepático e até mesmo de hepatocarcinoma, sendo importante tratar o paciente logo
nos primeiros anos após a infecção.

Diagnóstico

Diagnóstico clínico X Relevância.


➔ Diagnóstico laboratorial:
● Sorológico:
- Detecção de antígenos (Ags) e anticorpos (Acs) específicos.
Isso faz com que se possa interpretar várias coisas na evolução clínica do paciente.
- Utilidade clínica.
● Bioquímico:
- Enzimas hepáticas (AST e ALT).
Se o hepatócito está saudável e íntegro, tem-se baixos níveis de TGO e TGP (ou AST e ALT) no sangue, mas se tiver
infecção inflamatória ou infecção viral crônica vai ter muito hepatócito rompido, então tem essas enzimas elevadas na
corrente sanguínea.
- Atividade de protrombina.
- Albumina sérica.
A albumina é produzida no fígado. O fígado com fibrose e cirrose, com comprometimento da função e síntese vai ter uma
baixa albumina sérica. Quando tem albumina sérica baixa pode ser um sinal de comprometimento já da função do fígado.
- Bilirrubina.
● Molecular:
- PCR – Carga viral (resposta à terapia).
O perfil de antígeno e de anticorpo já diz muita coisa, mas a carga viral é importante para monitorar o tratamento.

Marcadores Virais

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Hepatite B aguda - cura

No gráfico tem um paciente que foi infectado e da fase aguda ele fez o clearance viral, eliminando todos os vírus e ficou
apenas com os anticorpos, ou seja, o mesmo está curado.
No início, essa pessoa pegou o vírus e não estava vacinado, então o vírus vai se replicar intensamente, a carga viral no
início é bem alta e quanto mais vírus mais replicação tem, tendo então o antígeno E (HBeAg) como um dos principais
marcadores no início da infecção junto com o HBsAg → são os dois marcadores da fase aguda principais.
A resposta imune vai começar a se estabelecer ao longo das semanas após a infecção. Ao longo das semanas começa a
detectar o primeiro anticorpo, que é o Anti-HBc e esse é um anticorpo contra a proteína do capsídeo, não sendo
neutralizante e se liga ao core (centro do vírus), tendo então o Anti-HBc-IgM e tem também o Anti-HBc total. O Anti-HBc
total é muito utilizado para triagem, porque o mesmo pega o IgM e depois o IgG, que é marcador de exposição e fica por
toda a vida do indivíduo.
*O anti-HBc sendo o mesmo IgM está na fase aguda, tendo replicação. O anti-HBc total geralmente é utilizado na triagem.
O vírus está na corrente sanguínea replicando e assim tem muito antígeno S (HBsAg), depois esse HBsAg começa a cair,
porque a resposta imune acontece e o anti-HBs já está neutralizando o vírus. Uma hora no gráfico aparece uma espécie
de janela, não detectando nem HBsAg e nem o anti-HBs (anticorpo neutralizante), porque o anti-HBs se liga no vírus e isso
é chamado de neutralização da partícula viral mediada por anticorpos, acontecendo então a neutralização. Então, no
exame laboratorial tem que ter o anticorpo ou antígeno livre para poder detectar; quando o paciente está evoluindo para a
cura no momento que a neutralização entra em equilíbrio, que seria a quantidade de vírus e a quantidade de anticorpos
ligados é a mesma, então está tudo ligado e não conseguirá detectar no laboratório, sendo natural da doença.
Depois o vírus para de replicar e o anti-HBe (antígeno E) não é mais detectado e o anticorpo começa a sobrar e começa a
detectar o anti-HBs que é o marcador de imunidade, sendo um anticorpo neutralizante e desejável e o paciente curado tem
o anti-HBs em altos títulos, e é o mais importante marcador de cura.

Hepatite B Crônica

No gráfico o paciente está crônico.


O HBsAg (marcador de infecção) foi detectado por mais de 6 meses, sendo marcador de cronicidade. O HBsAg detecta o
vírus no sangue, a presença de viremia.
O anti-HBs é detectado no paciente curado, mas não no crônico. O crônico tem uma persistência do antígeno S (HBsAg) e
ausência de detecção do anti-HBs.
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O anti-HBc é marcador de exposição ao vírus.

*O exame para saber se a vacina funcionou é o anti-HBs, que deve dar reagente.

Triagem Laboratorial para Hepatites Virais

● HAV:
- IgM Anti-HAV (fase aguda).
- IgG Anti-HAV (infecção passada e sem cronificação).
● HBV:
- (Explicação anterior)
● HCV:
- Anti-HCV.
O anticorpo contra o vírus da hepatite C; anti-HCV significa total, ou seja, IgM e IGg. O anti-HCV detecta anticorpos IgM e
IgG contra o vírus da hepatite C. Pede normalmente esse, porque na triagem a maioria dos pacientes não sabem na fase
aguda que tem hepatite C, porque é silenciosa. 80-90% fica crônico. Esse anticorpo não é neutralizante, então se o
anti-HCV der positivo não se pode dizer que a pessoa está com o vírus, porque a pessoa pode estar curada e com o
anticorpo ou crônico e com o anticorpo.
- HCV-RNA
Esse irá definir se a pessoa está infectada ou não; o RT-PCR para HCV também diz se a pessoa está infectada.
HCV-RNA positivo a pessoa está crônico ou na fase aguda (raro).
● HDV:
- Anti-HDV.
É a pesquisa de anticorpos IgM e IGg para delta vírus; se der positivo pode cronificar.
- AgHDV.
Se tem antígeno, tem partícula viral.
- HDV RNA.
Se tem RNA, tem partícula viral.
● HEV:
- IgM Anti-HEV (fase aguda).
- IgG Anti-HEV (infecção passada e sem cronificação).
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A hepatite A e E são parecidas.

Prevenção e Controle - HBV

● Vacinação dos recém-nascidos.


● Vacinação de crianças e adolescentes.
● Vacinação dos adultos em grupos de risco.
● Usar preservativo.
● Evitar uso de drogas injetáveis.
● Normas de biossegurança.
● Testar as bolsas de sangue.

Vacinação - HBV

● Vacina DNA recombinante (leveduras).


● Esquema terapêutico:
- 3 doses:
➢ Recém-nascidos (0, 1 mês, 6-12 meses) – Brasil (2001).
➢ Crianças (inicial, 1 mês, 6-12 meses).
➢ Adolescentes (inicial, 1 mês, 4-6 meses) – Brasil (2002).
➢ Adultos (inicial, 1 mês, 4-6 meses).
É importante que todos os alunos e profissionais da área de saúde sejam vacinados contra o Vírus da Hepatite B.

Tratamento

O IFN também é medicamento. Também tem-se antivirais que vão inibir o ciclo de replicação.
Tem drogas como o Adefovir que são utilizadas para tratar HIV e que foi utilizada para tratar hepatite B, tendo
demonstrado bons resultados.

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Aula 7 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

Staphylococcus

Staphylococcus – Microbiota da pele

Microbiota são microrganismos, bactérias, fungos e vírus que vivem geralmente em harmonia em determinada área do
corpo. A microbiota fortalece as defesas naturais do corpo, é composta principalmente por bactérias benéficas que
produzem peptídeos antimicrobianos controlando uma população patogênica.
Tem-se vários tipos de Staphylococcus; quando o microrganismo está fora do seu sítio normal, da microbiota residente o
mesmo pode causar infecções. Às vezes uma bactéria que é comum em determinada área se estiver em outra região pode
causar uma patologia.
Os Staphylococcus são muito prevalentes, principalmente na pele e mucosas e eventualmente podem causar
infecções, porque são patógenos oportunistas. Causam infecções que quando a bactéria está se multiplicando por
induzir um grande processo inflamatório causam infecções piogênicas, que resultam na morte de polimorfonucleares e que
vai resultar na formação de secreção purulenta; são bactérias importantes a nível de infecções hospitalares.

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*O S. aureus, tem diversos fatores de virulência, mas não quer dizer que todos esses fatores de virulência estarão
expressos ou secretados, irá depender da linhagem do S. aureus se for mais ou menos virulento. O S. aureus é uma
bactéria anaeróbia facultativa, ou seja, pode se multiplicar na presença ou ausência de oxigênio; para alguns produtos que
a bactéria produz a mesma precisa da presença de oxigênio. Causa diversas doenças, desde doenças na pele, até otite,
faringite, pneumonia, endocardite, osteomielite, etc. O resultado da patologia vai ser a ação de um determinado fator de
virulência ou um conjunto desses fatores de virulência e até mesmo a presença propriamente do microrganismo se
multiplicando em um local que está causando infecção, ou resultado da produção de toxinas que as bactérias fazem,
levando a diversos tipos de doenças.

Staphylococcus

Importância:
● Microbiota normal do homem e animais.
“Essas bactérias estão presentes na pele e nas membranas mucosas dos seres humanos.” (MURRAY)
● Alta frequência em infecções hospitalares.
● Multirresistência a antimicrobianos.
● Crescem a 10% de NaCl - halotolerantes (toleram a concentração salina).
● Possui cápsula.
“A camada mais externa da parede celular de muitos estafilococos é recoberta por uma cápsula polissacarídica.”
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
Quando a bactéria tem cápsula é uma bactéria mais virulenta, é utilizada como fator de virulência. A cápsula inibe a
fagocitose, então atrasa a ação dos fagócitos, sendo isso tudo importante para a bactéria continuar o processo de
colonização.

“Os estafilococos são patógenos importantes para os seres humanos, sendo responsáveis por um amplo espectro de
doenças sistêmicas, de gravidade considerável, incluindo infecções da pele, tecidos moles, ossos e trato urinário; e
infecções oportunistas.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
Giulia Magno Rocha
● Cocos Gram-positivos:

Tem formato de “cacho de uva”, porque os planos de divisão são acima de 3 planos e irregulares.
● Catalase positivos.
● São imóveis.
● Anaeróbios facultativos.
● Crescem em uma temperatura que varia entre 18 - 40ºC.
São chamadas de bactérias mesofílicas, é uma bactéria que cresce geralmente em temperatura nem tão alta e nem tão
baixa. A bactéria resiste a uma temperatura ambiente, de início, de processo de cozimento, temperatura de resfriamento
natural dos alimentos, isso favorece bastante a permanência e a viabilidade da bactéria.

Exemplos de espécies associadas a doenças em humanos:


● Staphylococcus aureus → coagulase positiva.
A coagulase se configura como um fator de virulência, a bactéria que tem coagulase é considerada mais virulenta.
● Staphylococcus epidermidis → coagulase negativa.
● Staphylococcus haemolyticus → coagulase negativa.
● S. hominis → coagulase negativa.
Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus haemolyticus e S. hominis são bactérias extremamente oportunistas, estão
na microbiota normal.
● Staphylococcus saprophyticus → coagulase negativa.
É encontrada no trato intestinal e pode eventualmente causar infecção urinária quando fora de seu sítio normal.
*Os coagulase positivos são mais patogênicos do que os coagulase negativos.

Staphylococcus aureus
● O nome “aureus” significa “dourado” em latim, qualidade atribuída ao pigmento amarelo característico produzido
pela bactéria.
● Colônias redondas, lisas, elevadas e cremosas.

OH Giulia Magno Rocha


Fatores de virulência

É uma bactéria diversificada no sentido de fatores de virulência, não quer dizer que todos esses fatores estarão expressos
simultaneamente, isso vai depender da cepa que está envolvida no processo infeccioso.
● Cápsula.
Tem ação antifagocítica.
● Proteína A.
● Exotoxinas:
- Toxinas esfoliativas (ETA e ETB) - SSSS.
Destroem as pontes intracelulares do estrato granuloso da epiderme, levando a descamação da pele e vai resultar na
síndrome da pele escaldada.
- Enterotoxinas (A-R) -Toxina 1 de síndrome de choque tóxico (TSST-1).
A bactéria produz enterotoxinas no alimento, causando intoxicação alimentar. A toxina do choque tóxico é considerada um
superantígeno (são antígenos que são produzidos por bactérias que estimulam de maneira exacerbada a produção de
citocinas, principalmente as citocinas pró-inflamatórias; o fato de estimular de forma exacerbada a produção dessas
citocinas leva a liberação desses mediadores químicos na circulação sanguínea e que afetam vários alvos, então tem um
nível de processo inflamatório sistêmico devido a alta carga de citocinas e por isso é um choque - síndrome do choque
tóxico).
- Hemolisinas.
São proteases que vão degradar eritrócitos, neutrófilos e algumas outras células do sistema imune.
*Bactérias Gram-positivas não possuem endotoxina, possuem exotoxinas.
● Enzimas:
- Catalase.
- Hialuronidase.
- Fibronolisina.
- Coagulase.
- Nuclease.

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Tem a adesina que vai ser ligadora de elastase, ligadora de colágeno, e ligadora de fibronectina. As adesinas são
importantes principalmente no início do processo de colonização, porque a bactéria precisa se ligar a um receptor e nas
células a bactéria precisa saber onde vai se ligar, então tem as adesinas para iniciar o processo de adesão.

Fatores de virulência do S. aureus

Componentes da superfície celular:


● Cápsula – proteção contra a fagocitose.
● Proteína A (SpA) – ligação à porção Fc da IgG.
A proteína A está na superfície e se liga à porção Fc do anticorpo. A porção Fc é uma porção que o anticorpo vai se ligar
ao fagócito para facilitar o processo de opsonização, que é o processo de facilitar a fagocitose para o fagócito. A partir do
momento que a porção Fc está ocupada, a mesma atrapalha a opsonização e a fagocitose do fagócito, então isso facilita
que a bactéria permaneça mais tempo aumentando a colonização na determinada área que está infectando.
O anticorpo tem a porção Fc e a porção Fab; a porção Fab é onde o anticorpo vai se ligar ao microrganismo, bactéria ou
antígeno e porção Fc vai se ligar ao fagócito.
A bactéria ocupa a porção Fc, atrapalhando então a função do anticorpo e a ação do fagócito.

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● Proteínas ligantes (adesinas):
- Se ligam a fibronectina, colágeno e elastina.
As adesinas são o início de tudo para que a bactéria reconheça, se ligue e comece o processo de multiplicação bacteriana
e liberação de enzimas, toxinas, o que seja que a bactéria esteja liberando para levar ainda mais o processo inflamatório
no local.

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Enzimas Efeitos biológicos

Coagulase ● Converte o fibrinogênio em fibrina insolúvel.


● Consequente aglutinação dos estafilococos.
● Marcador de virulência para Staphylococcus
aureus.
● Camada de fibrina/proteção contra fagocitose.

Catalase ● Catalisa a conversão do H2O2 (tóxico) em H2O e


O2.
● Diferencia estafilocos de estreptococos.

Hialuronidase ● Hidrolisa ácidos hialurônicos.


● Facilita a disseminação do S. aureus nos tecidos.

Fibrinolisina ● Pode dissolver coágulos de fibrina


(estafiloquinase).

Lipases ● Hidrolisam lipídios.


● Sobrevivência dos estafilococos em regiões
sebáceas.
● Infecções cutâneas superficiais (furúnculo,
carbúnculo).

Nucleases ● Invasividade (disseminação).


● Marcador de S. aureus.

A bactéria pode produzir e liberar algumas enzimas, que são 6.


● A coagulase além de servir como marcador de diagnóstico do S. aureus também transforma o fibrinogênio que
está presente no plasma, sangue para reparo de dano tecidual, de dano no endotélio. A bactéria utiliza o
fibrinogênio e transforma em fibrina para o próprio benefício, para formar um coágulo para proteção, ficando
protegida, por exemplo, da ação da fagocitose, sendo um mecanismo a mais de proteção da ação da fagocitose. A
bactéria pode depositar outra enzima, que seria a fibrinolisina, para degradar o coágulo e se disseminar para
outras áreas.
● A catalase é uma enzima que não tem ainda uma ação conhecida a nível de fator de virulência, mas sabe-se que
é utilizada para diagnóstico microbiológico, para diferenciar Staphylococcus de Streptococcus.
● A hialuronidase é uma enzima que cliva o ácido hialurônico, que fica presente entre as células e se cliva facilita o
poder de disseminação da bactéria entre os tecidos, entre as células, e isso faz a bactéria ainda mais invasiva.
● A fibrinolisina ou estafiloquinase destrói os coágulos de fibrina, podendo utilizar para destruir o coágulo de
fibrina que ela mesma criou ou em um processo de reparo do organismo. Ou algum reparo ou impedimento de
formação de derramamento vascular, a bactéria produz a enzima que é extremamente negativa ao tecido, porque
atrapalha o reparo tecidual, reparo vascular e isso aumenta o derramamento vascular que pode resultar em
necrose no tecido graças a presença da estafiloquinase, que é uma enzima agressiva.
● As lipases são importantes principalmente de áreas sebáceas, da pele, áreas que tem muita produção de
gorduras e lipídios, em áreas onde se propicia a formação de furúnculos, então para que a bactéria permaneça
“tranquila”, a mesma quebra os lipídios em áreas principalmente ricas em gordura.
● As nucleases são enzimas que a bactéria produz para destruição de DNA, principalmente o DNA de neutrófilos. A
destruição de neutrófilos facilita a permanência e invasão a nível dos tecidos.

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Toxinas:
● Hemolisinas (α, β, γ, δ) – lise de eritrócitos, leucócitos, e plaquetas.
Destrói também neutrófilos e macrófagos.
● Toxinas esfoliativas – ETA e ETB: proteases que clivam as pontes intercelulares no estrato granuloso da
epiderme: descamação.
A pele fica “frouxa”, fica descamando e por isso o nome é Síndrome da pele escaldada, que é muito comum em crianças
que têm contato com alguma cepa do S. aureus e que produzem essas toxinas; quando essa doença é mais localizada é
chamada de impetigo bolhoso e formam bolhas por conta do desprendimento da camada do estrato granuloso.
● Enterotoxinas – indução de desordens gastrointestinais (termoestáveis).
Pode produzir principalmente a nível de alimentos, como carne, queijos, presuntos, alimentos principalmente manipulados
por indivíduos que estejam colonizados por S. aureus e que não houve antissepsia correta antes da manipulação. No
alimento a bactéria pode produzir essas toxinas e a pessoa ingerir o alimento e causar transtornos gastrointestinais.
“As enterotoxinas são estruturalmente perfeitas para causar doenças veiculadas por alimentos - são termoestáveis a 100
°C por 30 minutos e são resistentes à hidrólise pelas enzimas gástricas e do jejuno. Assim, uma vez que um produto
alimentar tenha sido contaminado com estafilococo produtor de enterotoxina e as toxinas tenham sido produzidas, nem um
reaquecimento brando do alimento nem a exposição aos ácidos gástricos serão protetores. Essas toxinas são
superantígenos, capazes de induzir ativação de células T e intensa liberação de citocinas. As alterações histológicas
características no estômago e no jejuno incluem a infiltração de neutrófilos no epitélio e na lâmina própria subjacente, com
perda das bordas ciliadas das células epiteliais no jejuno.” (MURRAY)
● Toxina da síndrome do choque tóxico (TSST):
- Superantígeno.
Estimula de maneira exacerbada os linfócitos T a produzirem diversas citocinas pró-inflamatórias que vão causar edema
generalizado, hipotensão, choque em diversos órgãos.
- Indução de febre, choque e danos multissistêmicos.
- Uso de tampões internos em mulheres.
A toxina para ser produzida pelo S. aureus precisa da presença de oxigênio; o Staphylococcus está na flora vaginal
normalmente e é um ambiente que tem baixa densidade de oxigênio. Antigamente os tampões vinham entre as suas fibras
com bolsões de oxigênio dentro do emaranhado de fibras, então quando a mulher os introduzia e ficava com ele um certo
tempo, a bactéria com contato com o tampão achava um ambiente propício para produzir essa toxina (precisa da presença
de oxigênio). A toxina produzida em determinada quantidade é levada a atingir a circulação sanguínea, e essa era
apresentada via células apresentadoras de antígeno por linfócitos T que produziam de maneira demasiada as diversas
citocinas pró-inflamatórias, como IL-2, IFN-γ, IL-1, TNF-α, TNF-β, e essas citocinas eram produzidas em alta escala,
porque essa toxina é um superantígeno e estimula de maneira alta a produção dessas citocinas, por isso que a nível de
circulação sanguínea atinge vários órgãos, levando ao edema generalizado (principalmente nas extremidades), aumento
da permeabilidade vascular, hipotensão, processo inflamatório sistêmico que levava ao choque.

Giulia Magno Rocha


Manifestações Clínicas

Infecções estafilocócicas:
● Piodermites:
- Impetigo.
- Foliculite.
- Hordéolo (terçol).
- Furúnculos.
- Infecções estafilocócicas de feridas.
● Otites.
● Osteomielites e artrite séptica.
● Bacteremia e endocardite.
● Pneumonia e empiema.
● Síndrome da pele escaldada (doença de Ritter).
● Síndrome do choque tóxico.
● Intoxicação alimentar.
● Doenças mediadas pela proliferação dos microrganismos.
A presença do microrganismo se multiplicando devido principalmente a presença da cápsula junto com o peptidoglicano,
que também leva a ativação do processo inflamatório, recrutamento de células do sistema imune inato, leva a formação do
processo inflamatório com formação de pus.
● Infecções cutâneas.

Giulia Magno Rocha


O impetigo pustular está muito ligado a um desequilíbrio da microbiota da pele por algum motivo, seja a falta de práticas
de assepsia.
O furúnculo está muito vinculado com pelo encravado e geralmente pode desenvolver porta de entrada para a bactéria.
O carbúnculo é a união de diversos furúnculos.
Infecções de feridas quando não foi feito o curativo corretamente e nem a assepsia do local corretamente, sendo também
porta de entrada que pode levar a infecções. Se não detectada precocemente a pessoa pode até mesmo perder o membro
devido a multiplicação da bactéria.

“Infecções estafilocócicas piogênicas localizadas incluem impetigo, foliculite, furúnculos e carbúnculos.


● Impetigo, uma infecção superficial que afeta principalmente crianças pequenas, atinge principalmente a face e os
membros. Após o rompimento da vesícula, aparece uma crosta. São comuns múltiplas vesículas em diferentes
estágios de desenvolvimento, devido ao espalhamento secundário da infecção para sítios adjacentes da pele.
● Foliculite é uma infecção piogênica dos folículos pilosos. A base do folículo fica elevada e avermelhada,
apresentando uma coleção de pus sob a superfície epidérmica. Se este quadro ocorrer na base da pálpebra, é
chamado de terçol. Furúnculos, uma extensão da foliculite, são nódulos elevados, grandes e dolorosos, que
possuem uma coleção subjacente de tecido morto e necrótico. Podem drenar espontaneamente ou após incisão
cirúrgica.
● Carbúnculos ocorrem quando os furúnculos coalescem e se estendem para o tecido subcutâneo mais profundo.
Normalmente, múltiplas fístulas estão presentes. Ao contrário dos pacientes com foliculite e furúnculos, os
pacientes com carbúnculo têm calafrios e febre, indicando a disseminação sistêmica de estafilococos para outros
tecidos através de bacteremia.
● Infecções de feridas por estafilococos também podem ocorrer em pacientes após um procedimento cirúrgico ou
trauma, com os microrganismos que colonizam a pele sendo introduzidos na ferida. Geralmente, estafilococos não
são capazes de estabelecer infecção em um indivíduo imunocompetente, a menos que um corpo estranho (p. ex.,
pontos de sutura, estilhaços, sujeira) esteja presente na ferida. As infecções são caracterizadas por edema,
eritema, dor e um acúmulo de material purulento. A infecção pode ser facilmente controlada se a ferida for
reaberta, o corpo estranho, removido, e o pus, drenado. Se forem observados sinais como febre e mal-estar, ou se
a ferida não melhorar em resposta às ações locais de controle, é indicada antibioticoterapia específica para S.
aureus.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Giulia Magno Rocha


Patogênese: abscesso de pele por S.aureus

Necessita de uma porta de entrada para o microrganismo, por exemplo uma agulha em que não houve uma antissepsia
correta da pele, então a introdução e inoculação da agulha foi uma porta de entrada para a presença de microrganismos
da pele. Entra o S. aureus na região e inicialmente as células residentes, como na figura seriam as células epiteliais e
também células de Langerhans (células apresentadoras de antígenos própria da pele) vão identificar que algo está errado,
e assim vão produzir mediadores como citocinas para recrutar os “soldados”, podendo produzir IL-8 para recrutar os
neutrófilos e esses começarem a fagocitar. A bactéria vai tentar se evadir, porém muitos vão morrer e vão formar o
abcesso. O recrutamento dos neutrófilos, células epiteliais e de células de Langerhans vão formar um abscesso.
*A constituição celular de um abscesso é uma resposta basicamente do sistema imune inato e é totalmente diferente da
composição do granuloma.
O abscesso maduro terá várias células mortas, por isso tem secreção purulenta e tem bactérias viáveis. A formação do
abscesso maduro dura de 6 - 14 dias.

Patogênese

● Invasão tecidual.
● Reação inflamatória aguda - liberação de fatores de virulência.
● Cápsula.
● Combate entre neutrófilos e bactérias.
Basicamente é a resposta imune inata.
● Cura ou evolução das lesões.
Pode regredir naturalmente a depender da quantidade de bactérias, e a depender do sistema imune do hospedeiro, porém
pode evoluir e terá que haver intervenção com drenagem, tratamento, uso de antibióticos.

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O furúnculo muitas das vezes vai ter que ser drenado o pus para haver uma maior resolutividade; o furúnculo é vermelho e
está dolorido por ter compressão das terminações nervosas, quente por ter recrutamento das células do sistema imune em
alta, tendo todas as características do processo inflamatório.

Manifestações clínicas

● Doenças mediada pela proliferação dos microrganismos:


- Bacteremia e Endocardite: ocorre geralmente a partir de uma infecção localizada em outro sítio. Também podem
ocorrer por acesso direto da bactéria na corrente sanguínea através de cateteres ou outros dispositivos.
“Mais de 50% dos casos de bacteremia por S. aureus são adquiridos no hospital, após um procedimento cirúrgico, ou
resultam do uso continuado de um cateter intravascular contaminado. As bacteremias por S. aureus, particularmente os
episódios prolongados, estão associadas à disseminação para outros sítios do corpo, incluindo o coração.” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
- Osteomielite: infecção óssea que pode ocorrer a partir de uma infecção local ou por via hematogênica.
A bactéria pode atingir tecidos ósseos, causando osteomiolite.
“Osteomielite causada por S. aureus pode resultar da disseminação hematogênica para os ossos, ou pode ser uma
infecção secundária decorrente de trauma ou da extensão de uma infecção em uma área adjacente. A disseminação
hermatogênica em crianças geralmente resulta de uma infecção estafilocócica cutânea e, usualmente, acomete a metáfise
de ossos longos, uma área altamente vascularizada de crescimento ósseo. Esta infecção é caracterizada pelo
aparecimento repentino de uma dor localizada no osso acometido e por febre alta.
A osteomielite adquirida por via hematogênica que acomete os adultos normalmente ocorre na forma vertebral, e
raramente como uma infecção nos ossos longos. Dor intensa nas costas com febre é o sintoma inicial. Não são
identificadas evidências radiográficas de osteomielite em crianças e adultos até duas a três semanas após o início do
aparecimento dos sintomas.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

- Pneumonia: por aspiração de secreções orais (secundária à intubação e ventilação mecânica de origem
hospitalar.
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Normalmente essa pneumonia é multibacteriana ou multimicrobiológica, não tendo ação somente uma bactéria.
“O exame radiográfico revela a presença de infiltrados irregulares com área de consolidação ou abscesso, sendo o último
condizente com a capacidade do microrganismo de secretar enzimas e toxinas citotóxicas e formar abscessos
localizados.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

● Doenças mediada através da produção de toxinas:


- Doença de Ritter (Síndrome da Pele Escaldada):
➔ Causada por toxinas esfoliativas (ETA e ETB): proteases que clivam as pontes intercelulares no estrato
granuloso da epiderme. Leva a um processo de descamação da pele, isso acontece muito em recém-nascidos e
crianças em ambientes hospitalares.
Quando essa infecção é mais localizada em determinada área do corpo é chamada de impetigo bolhoso, porém pode ser
disseminada em todo o corpo, podendo desprender a pele.
“Impetigo bolhoso é uma forma localizada da SSSS. Nessa síndrome, cepas específicas de S. aureus produtoras de toxina
(p. ex., fagotipo 71) estão associadas à formação de bolhas superficiais na pele. O eritema não se estende para além das
bordas das bolhas A doença ocorre primariamente em bebês e crianças pequenas e é altamente contagiosa.” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

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Síndrome da pele escaldada estafilocócica - toxina ETA e ETB.

- Síndrome do choque tóxico:


➔ Fator de virulência:
- Toxina TSST-1 (superantígeno).
- Uso de tampões internos em mulheres.
- Sintomas: edema de extremidades, diminuição da pressão sanguínea, febre alta (devido principalmente a
produção de IL-1, que ativa muito as prostaglandinas a nível de hipotálamo e isso leva a indução de
febre).

- Intoxicação alimentar estafilocócica (enterotoxinas A-C e D):


➔ Contaminação dos alimentos por manipuladores colonizados nas fossas nasais ou com infecções na pele.
➔ Resulta da ingestão de alimento contaminado com cepas produtoras de enterotoxinas.
➔ São termoestáveis a 100 °C por 30 minutos e são resistentes à hidrólise pelas enzimas gástricas.
➔ Alimentos mais comumente contaminados são: carnes processadas, bolos recheados com creme, produtos de
padaria, salada de batata e sorvete.
Essas toxinas são muito resistentes ao cozimento, altas temperaturas.

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Doenças causadas por Staphylococcus

*A síndrome do choque tóxico é uma doença sistêmica.

Diagnóstico laboratorial

Microscopia:
● Os estafilococos apresentam-se em espécimes clínicos como células isoladas ou em grupos - Cocos
Gram-positivos.

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Cultura:
● Os estafilococos crescem bem em meios sólidos e não-seletivos incubados aeróbica ou anaerobicamente e em 24
horas há aparecimento de colônias grandes, lisas, cremosas, pigmentadas, com bordas arredondadas e convexas.
● Quase todas as amostras de estafilococos produzem hemólise no ágar-sangue (hemolisinas).
● Os estafilococos podem ser isolados seletivamente em meios sólidos, suplementados com 7,5% de NaCl e 1% de
manitol.
Irá observar o formato das colônias (redondas, amarelas, cremosas).
Pode cultivar em meio seletivo, como o ágar-manitol que vai deixar crescer apenas os Staphylococcus, e ainda sim
consegue separar os Staphylococcus dos S. aureus, porque somente o aureus consegue fermentar o manitol.

Ágar manitol salgado

Seletivo para os Staphylococcus.


Apenas o S. aureus que consegue fermentar o manitol e vai mudar a coloração do meio por produzir ácidos, ficando
amarelo.

S. aureus

No ágar-sangue como possui hemolisinas pode apresentar determinado grau de hemólise, então vão ter colônias com
áreas de hemólise ao redor, assim como no Streptococcus.

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Enzimas extracelulares

A enzima extracelular mais importante é a coagulase. A produção de coagulase é exclusiva ao Staphylococcus aureus,
sendo inclusive, um critério para a identificação de uma amostra como pertencente à espécie.
A coagulase vai transformar o fibrinogênio em fibrina.

● Prova da coagulase: a bactéria é inoculada num tubo com plasma de coelho. Se o plasma coagular, a espécie é
S. aureus.
Inocula em tubos, coloca os tubos na estufa a 37ºC e se ficar com aspecto de gelatina é um resultado positivo (coagulase
positiva), mas se continuar líquido é um resultado negativo.

Isolamento e identificação

A prova da catalase é importante para diferenciar o Staphylococcus do Streptococcus, porque os Streptococcus são
catalase negativo.

(liberação de oxigênio)

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Coloca-se gotas de água oxigenada diretamente na placa e se tiver liberação de oxigênio terá bolhas, dando um resultado
positivo.

Testes de aglutinação rápida para proteína A

● Teste de aglutinação do látex azul para detecção de proteína A associado à Staphylococcus aureus.
● Resultado em 60 segundos.
● Sensibilidade / especificidade: 99/92%.
● Inclui partícula de látex, cartão para teste, haste e controles positivo e negativo.
Aqui as hemácias são sensibilizadas com fibrinogênio e hemolisina e se ligam à proteína A, levando a um aglutinado
visível a olho nu. Se ficar aglutinado é o Staphylococcus.

Tratamento, Prevenção e Controle

● A penicilina era a principal opção terapêutica para infecções estafilocócicas até os anos 60.

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Porém a bactéria foi adquirindo resistência, produzindo enzimas que são chamadas de β–lactamases, que são enzimas ou
penicilinases que degradam o anel β-lactâmico das penicilinas. dos
As penicilinas possuem um anel que é chamado de anel β-lactâmico, então as β-lactamases degradam o anel e então a
penicilina perde sua função.
A penicilina age nas ligações peptídicas no peptidoglicano, então as penicilinas degradam as ligações peptídicas deixando
o emaranhado do peptidoglicano frouxo e assim desestabiliza a parede celular. A parede celular se rompe, permitindo a
entrada de fluidos. As β-lactamases clivam e quebram a penicilina inicial.
● Atualmente apenas 10% das cepas são sensíveis à penicilina.
● Para contornar o problema de resistência às penicilinas foram criadas penicilinas semi-sintéticas
resistentes à hidrólise pelas β–lactamases (meticilina, oxacilina, etc).
A bactéria também evoluiu e ficou resistente à meticilina e a oxacilina que são penicilinas sintéticas.
● Atualmente, muitas cepas de S. aureus são resistentes a estas penicilinas semi-sintéticas, sendo

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conhecidas como “MRSA”.
● A resistência é devida à aquisição do gene mecA que codifica uma proteína ligadora de penicilina alterada
• (PBP-2), com baixa afinidade pelos beta-lactâmicos. Esta resistência é mediada pela produção de
penicilinases.
Para a penicilina chegar e entrar na parede celular da bactéria, ela precisa se ligar a uma fechadura dentro da parede
celular. É como se a penicilina fosse a chave e a proteína ligadora de penicilina fosse a fechadura, então precisa
primeiramente encaixar na fechadura para ter a ação no peptidoglicano. A bactéria diante disso mudou a “fechadura”,
então a penicilina mesmo sendo sintética não reconhece a fechadura e não consegue ligar e entrar e ter a sua ação no
peptidoglicano.

Giulia Magno Rocha


● Beta lactâmicos:
A penicilina entra no anel β-lactâmico e para agir primeiro precisa reconhecer as proteínas, que são chamadas de
proteínas ligadoras de penicilina. As cepas mais resistentes do S. aureus modificaram a fechadura, então a penicilina
mesmo sendo sintética e resistente às β-lactamases não conseguem agir dentro do peptidoglicano.

Levi ● Até pouco tempo atrás, cepas de MRSA estavam restritas no ambiente hospitalar, mas surtos na
comunidade (CA-MRSA) têm sido relatados e estão associados ao desenvolvimento de doenças graves.
● Como opção de tratamento para cepas MRSA: glicopeptídeos (vancomicina, teicoplanina).
Para tratar as cepas mais resistentes precisa utilizar outros tipos de antibióticos, que não possuem o anel β-lactâmico,
como por exemplo os glicopeptídeos (vancomicina, teicoplanina) que são antibióticos que agem em outras funções, como
em enzimas da bactéria, em síntese de proteína e não no peptidoglicano propriamente dito, mas em outras funções da
bactéria para causar lesão e morte bacteriana.

Giulia Magno Rocha


Aula 8 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

Streptococcus pyogenes
“S. pyogenes causa uma variedade de doenças supurativas e não supurativas. Embora este microrganismo seja a causa
mais comum de faringite bacteriana, a notoriedade de S. pyogenes, popularmente chamado de “bactéria carnívora”, é
resultado de sua associação como a causa de mionecroses fatais.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Streptococcus pyogenes (GAS)

● Grupo A na classificação de Lancefield.


“O carboidrato grupo-específico, que constitui aproximadamente 10% do peso seco da célula (antígeno de grupo A de
Lancefield), é um dímero de N-acetilglicosamina e ramnose. Este antígeno é usado para classificar os estreptococos do
grupo A, distinguindo-os de outros grupos de estreptococos.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
● β-hemolíticos.
Causam hemólise total no meio de ágar-sangue.
● Patógeno mais sério.
Tem um poder invasor e disseminador considerável; no gênero Streptococcus é a mais virulenta que a das outras
espécies.
● Possui cápsula.

Epidemiologia

● Humanos são o único reservatório.


● Portadores assintomáticos.
● Transmissão – contato direto, aerossóis, alimentos, fômites (tudo aquilo que é inanimado).
● Porta de entrada geralmente é a pele ou faringe.
A porta de entrada geralmente é através da orofaringe ou da pele; a pele do indivíduo que pode estar colonizando o S.
pyogenes transitoriamente ou colonizando S. pyogenes devido a um desequilíbrio da microbiota, a uma superpopulação
desta bactéria na microbiota e vai vir a desenvolver uma piodermatite e a partir dessa piodermatite como essa bactéria tem
um poder invasor considerável pode atingir outros sítios, principalmente atingir a circulação sanguínea e causar algumas
enfermidades.
● Crianças são predominantemente afetadas - infecções de pele e garganta.

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Crianças são geralmente afetadas por conta de aglomerações, contato com outras crianças, falta de higiene, etc.
● Faringite e infecções de tecidos moles tipicamente causadas por cepas com proteínas M diferentes.
A proteína M é o principal fator de virulência da bactéria, essa bactéria possui sorotipos diferentes de proteína M,
tendo cerca de 80 tipos. Tem cepas de S. pyogenes que são nefrogênicas, que vão levar a sequela imunológica que é a
glomerulonefrite pós-estreptocócica e terão outras cepas que vão induzir a febre reumática, que é outra sequela
autoimune. A depender da proteína M em questão, a cepa vai induzir a uma outra patologia.
● Infecções progressivas sistêmicas e sequelas podem ocorrer.
Além de ter cursos clínicos localizados como por exemplo, uma faringite, otite, piodermatite, essa bactéria também pode
levar a um curso de manifestações sistêmicas, como a síndrome do choque tóxico, fasciíte necrosante, glomerulonefrite e
a febre reumática. Ou seja, ela é muito agressiva porque possui muitas toxinas e enzimas que potencializam o seu poder
invasor e também atrapalham muito o sistema imune, o que favorece a colonização e permanência em determinados sítios
ou tecidos.

Fatores de virulência do S. pyogenes


● Proteína M (mais de 80 tipos): sorotipos
- Contribui para a resistência à fagocitose (adere a porção Fc; ou se liga a proteína C3b).
.

A proteína M é o principal fator de virulência, tem função inicial de colonização, reconhecimento da célula. É uma
adesina e está na parede celular, se projeta da parede celular da cápsula e possui a função de reconhecimento celular
para poder iniciar a colonização, também contribui com resistência para a fagocite, porque a mesma se liga na porção Fc
do anticorpo para parar a opsonização e reconhecimento do anticorpo ao fagócito e isso atrasa o sistema imune inato de
agir.
Essa também cliva e inibe a ação do C3b, que é uma proteína importante no sistema complemento; o sistema
complemento são proteínas ligadas que se depositam na parede ou na membrana de um determinado patógeno para
causar dano nessa parede e destruição do patógeno, então a cascata das proteínas do sistema complemento tem a via
alternativa que se inicia pela C3 e quando tem algum patógeno que tem algum fator de virulência que atrapalha essas
proteínas de agirem vai atrapalhar também a ativação desse sistema complemento, então atrapalha a ativação do sistema
imune inato.
● Fímbrias – aderência.
● Proteína F.
É uma adesina importante, essa é necessária para o início do processo de colonização.
● Cápsula de ácido hialurônico – não provoca resposta imune.
Tem cepas do S. pyogenes capsulado e cepas não capsuladas. As cepas capsuladas possuem uma cápsula de ácido
hialurônico, que é um ácido hialurônico idêntico ao que é encontrado na membrana das células do hospedeiro. Por
exemplo, o neutrófilo tem dificuldade de reconhecer a bactéria como estranha por causa da constituição da cápsula, então
isso é um mecanismo de evasão do sistema imune, porque atrapalha o reconhecimento.
“Algumas cepas de S. pyogenes apresentam uma cápsula externa de ácido hialurônico que é antigenicamente
indistinguível do ácido hialurônico do tecido conjuntivo dos mamíferos. As cepas encapsuladas têm maior probabilidade de
causar infecções sistêmicas graves, pois a cápsula protege a bactéria da eliminação por fagocitose.” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
● Protease C5a – contenção do recrutamento dos leucócitos.
A C5 convertase é uma enzima que participa do sistema complemento e parte dessa enzima se tem a C5a, que é
quimiotática principalmente para os neutrófilos. Se tem uma enzima que degrada a C5a, atrapalha o recrutamento dos
neutrófilos no local que ocorre a colonização, então favorece a permanência da bactéria.
● Enzimas extracelulares:
São importantes principalmente para o poder invasor da bactéria.

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- Estreptoquinase – digestão dos coágulos de fibrina.
Faz a transformação do plasminogênio em plasmina; a plasmina degrada os coágulos de fibrina, principalmente no quadro
de fasciíte necrosante, de injúria e dano no tecido e isso favorece o poder invasor da bactéria, o derramamento vascular
por conta da digestão dos coágulos de fibrina.
- Hialuronidase – degradação dos tecidos conectivos.
Destrói os tecidos conectivos, favorecendo a disseminação da bactéria.
- DNase – hidrólise do DNA.
Degrada DNA principalmente externo, como DNA de neutrófilos, favorece também a disseminação bacteriana.

A proteína M sai da parede celular e se projeta externamente, tendo a função de atrapalhar a ação do anticorpo a se ligar,
se liga ao C3b e também funciona como adesina, como está externamente se liga também a algum receptor na célula
epitelial.
Carboidrato-C é utilizado para verificação de Lancefield.

Exotoxinas:
A bactéria vai segmentar várias exotoxinas. Oi
* As bactérias Gram-positivas não possuem endotoxinas, somente exotoxinas. N
● Toxina eritrogênica (pirogênica): SpeA, SpeB, SpeC, SpeD.
“As exotoxinas pirogênicas estreptocócicas (Spe), originalmente chamadas de toxinas eritrogênicas, são produzidas por
cepas lisogênicas de estreptococos. Quatro toxinas termolábeis imunologicamente distintas (SpeA, SpeB, SpeC, e SpeD)
têm sido descritas em S. pyogenes e em raras cepas de estreptococos dos grupos C e G. As toxinas agem como
superantígenos, interagindo tanto com macrófagos como com células T auxiliares, aumentando a liberação de citocinas
pró-inflamatórias. Acredita-se que esta família de exotoxinas seja responsável por muitas das manifestações clínicas das
doenças estreptocócicas graves, incluindo a fascite necrosante e a síndrome do choque tóxico estreptocócico, bem como
a erupção cutânea observada em pacientes com escarlatina. Ainda não está claro se a erupção cutânea resulta de um
efeito direto da toxina no leito capilar ou, mais provável, se é secundária a uma reação de hipersensibilidade.” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
- Produzidas por cepas lisogênicas.
Giulia Magno Rocha
São as cepas que possuem um profago. O profago é quando um vírus infecta uma bactéria e o genoma desse vírus
inserido no genoma da bactéria, o genoma do vírus passa a ser parte da bactéria e essa pode adquirir uma característica a
mais ou secretar uma proteína graças a presença desse profago. Por exemplo, Clostridium botulinum que é o agente
causador do botulismo, a toxina que causa flacidez muscular é uma toxina que só está presente graças que o Clostridium
botulinum possui um fago inserido no seu genoma e que leva a produção da toxina botulínica.
As bactérias que possuem esse quadro de inserção de genoma viral é porque participaram do ciclo lisogênico. As
toxinas pirogênicas (SpeA, SpeB, SpeC e SpeD) só estão presentes em cepas lisogênicas e que vão levar a
quadros de vermelhidão na pele, febre e além disso elas também são chamadas de superantígenos.
- Placas vermelhas na pele e febre.
O processo inflamatório leva a placas vermelhas e também induzem a produção de citocinas, células do sistema imune e
levam a ativação do sistema termorregulador e leva a quadro de febre.
- São superantígenos: forte estimulação de monócitos e linfócitos; aumento na secreção de TNF-α.
Superantígeno é quando a bactéria estimula de maneira exacerbada os linfócitos, tendo produção de citocinas em
quantidade exacerbada, como TNF-α, IL-1.

Superantígenos

A célula apresentadora de antígeno (APC) fagocita o patógeno estranho, o destrói, empacota e o entrega para os linfócitos
T, no caso o linfócito TCD4 porque vai apresentar via MHC classe II, tendo um receptor para isso que é o MHC e entrega o
“pacote” para o linfócito T e se conecta com o receptor do linfócito T, que é o TCR, tendo então o processamento e
apresentação do antígeno. Isso vai induzir que a célula T se torne uma célula produtora de citocinas em um nível normal,
mas quando acontece essa conexão através de apresentação de um superantígeno esse superantígeno não se conecta
de forma correta aos receptores, o mesmo possui baixa afinidade de conexão com esses receptores e isso causa uma
“confusão” na ativação do linfócito T, e ao invés do linfócito T produzir uma quantidade normal de citocinas ele apresenta
produção exacerbada dessas citocinas pró-inflamatórias, que a nível sistêmico de circulação pode levar a processo
inflamatório em vários alvos, aumento da permeabilidade vascular ou acontecer uma hipotensão, febre devido a alta
produção de citocinas pró-inflamatórias que se vê em um quadro de síndrome de choque tóxico.

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Ação da estreptolisina S

Exotoxinas (são enzimas que são secretadas):


● Estreptolisina – hemólise.
● Estreptolisina O (SLO) – inativadas pelo oxigênio.
“Estreptolisina O é uma hemolisina lábil ao oxigênio e capaz de lisar eritrócitos, leucócitos, plaquetas e células em cultura.
Anticorpos são prontamente formados contra a estreptolisina O (anticorpos antiestreptolisina O [ASO]), uma característica
que a diferencia da estreptolisina S e é útil para documentar uma infecção recente por estreptococos do grupo A (teste
anti-ASO). No entanto, pelo fato de a estreptolisina O ser irreversivelmente inibida pelo colesterol dos lipídios da pele,
pacientes com infecções cutâneas não desenvolvem anticorpos antiASO.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
● Estreptolisina S (SLS) – estáveis.
“Estreptolisina S é uma hemolisina ligada à célula, estável ao oxigênio e não imunogênica, que pode lisar eritrócitos,
leucócitos e plaquetas. Também pode estimular a liberação do conteúdo lisossômico após fagocitose pela célula, com
subsequente morte do fagócito. A estreptolisina S é produzida na presença de soro e é responsável pela β-hemólise
característica observada no meio de ágar-sangue.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Tanto a estreptolisina O quanto a S são toxinas que lisam principalmente as hemácias.


A estreptolisina S é responsável pelo grau de hemólise em meio ágar-sangue em sinergismo com o O, mas principalmente
devido a secreção de estreptolisina S.
Essas exotoxinas são muito importantes para o poder invasor e disseminador da bactéria, ela leva a destruição de
macrófagos, neutrófilos e hemácias.
A estreptolisina O é assim chamada porque a mesma é inativada na presença de oxigênio e a S é estável na presença do
oxigênio.
A S é a mais importante por ter diversas funções, além de lisar hemácias e destruir macrófagos, neutrófilos, ela causa
injúria aos tecidos também como a estreptolisina O. Aliada a ação da estreptoquinase essa bactéria pode facilitar ainda
mais o poder disseminador da bactéria, porque pode se ligar a algumas enzimas e as utilizar para invadir os tecidos, por
exemplo pode utilizar a calpaína que é uma proteína encontrada no soro e se liga a essa proteína e isso ajuda a bactéria a
se disseminar pelas células epiteliais, também funciona como molécula auto-indutora no quorum sensing.
* O quorum sensing é um mecanismo de complementação que as bactérias possuem, então a bactéria vive na sua
colonização e precisam ter uma maneira de se comunicarem, se comunicarem para a ação de um estresse externo,
estresse por presença de antibiótico, presença de células do sistema imune, então elas começam a produzir moléculas e
essas moléculas são utilizadas para a bactéria se comunicar com o objetivo de aumentar ou diminuir expressão de genes,
principalmente relacionados a fatores de virulência para tornar cepas mais resistentes, por exemplo.
* A estreptolisina S é uma molécula auto-indutora no quorum sensing, sendo uma molécula auto-indutora de
comunicação na população de S. pyogenes para que ocorra aumento ou baixa expressão de genes que vai favorecer a
sobrevivência da bactéria em determinado meio.

Giulia Magno Rocha


Mecanismos de evasão do sistema imune: proteinase (IdeS)

IdeS cliva a dobradiça do anticorpo.


A proteína M se liga na porção Fc e o IdeS na região da dobradiça, então vai retirar a porção Fab e isso vai atrapalhar
a ação do anticorpo, porque não terá como se ligar no antígeno e na bactéria.
Não irá conseguir neutralizar, não vai favorecer a opsonização, sendo então um mecanismo a mais de evasão do sistema
imune, sendo mais um mecanismo que a bactéria vai possuir para favorecer a sua colonização no hospedeiro.

Giulia Magno Rocha


Fatores de virulência em ação

Na imagem demonstra o resumo de todos os fatores de virulência desde o início do processo de colonização.
No caso demonstra a pele e o S. pyogenes pode colonizar naturalmente a pele, podendo penetrá-la assim como nos
Staphylococcus, devido a uma superpopulação da bactéria na pele, como no caso de crianças que ficam em creches ou
escola e até mesmo devido a falta de higiene, picada de inseto, etc.
O S. pyogenes vai penetrar e para iniciar o processo de colonização precisa de fatores de invasão e aderência, como a
proteína M, fímbrias, proteína F, a cápsula de ácido hialurônico não sendo reconhecida pelos neutrófilos, a proteína M se
ligando a porção e atrasando a ação do sistema complemento e funcionando como adesina nesse momento é importante
para o início do processo de colonização, então a bactéria vai penetrar através desses fatores de virulência iniciais.
Em seguida para atrapalhar a ação inicial de neutrófilos, que é o protagonista a nível de resposta imune inata, ela vai
atrapalhar a opsonização por se ligar na porção Fc, se ligando na região da dobradiça do anticorpo e impedindo a
opsonização, a cápsula do ácido hialurônico não sendo reconhecida pelos neutrófilos e então isso tudo favorece a
permanência da bactéria.
A protease ou peptidase vai impedir a ação da C5a para recrutar os neutrófilos; o fator de virulência que é o SIC é o
inibidor do sistema complemento, que além de inibir o sistema complemento vai inibir a produção de peptídeos
antimicrobianos pelas células epiteliais que agem diretamente nas células bacterianas. A bactéria terá a DNase que age
diretamente nos neutrófilos, degradando o DNA dos neutrófilos; as toxinas pirogênicas ou eritrogênicas, que além de levar
a indução de processo inflamatório podem ter ação direta em algumas interleucinas importantes que são necessárias para
o recrutamento de neutrófilos, como a IL-8 e impede a ação dessa IL-8, se a IL-8 não está ativa impede o recrutamento
dos neutrófilos no local.
São vários mecanismos para atrasar a ação dos neutrófilos, além disso tem a estreptolisina S e O para levar a destruição
de neutrófilos e macrófagos, então essa bactéria tem diversos mecanismos que atrapalham a ação do sistema imune. Isso

Giulia Magno Rocha


favorece a disseminação nos tecidos mais profundos; no exemplo tem a derme, porém tem a epiderme, tecido subcutâneo
e até mesmo a camada de músculo e isso favorece que a bactéria vá para as camadas mais profundas da pele ou que
atinja a circulação sanguínea, podendo causar uma bacteremia, ir a nível de sistema nervoso central causando uma
meningite, otite e pode atingir outras áreas causando tudo isso.

Início e progressão das infecções

● Modelo proposto.
● Regulação de genes de virulência.

A bactéria iniciando o processo de colonização na pele pode até ser reconhecida por um neutrófilo, mas como a mesma
tem o poder de regulação gênica, dos fatores de virulência principalmente pela ação da estreptolisina S, que faz a
comunicação entre esses bactérias, ela pode levar a cepas mais resistentes. A bactéria por modulação gênica dos fatores
de virulência pode passar a expressar uma cepa que tem uma cápsula mais robusta, uma cápsula que não vai ser
reconhecida pelo neutrófilo, por exemplo, e isso favorece a disseminação pelo sistema e pode atingir outros órgãos.

Giulia Magno Rocha


Patogênese do S. pyogenes

No início a bactéria está com o poder de invasão do sistema imune inato, mas o objetivo da bactéria é atingir a circulação
sanguínea, para causar um efeito mais sistêmico se tiver as toxinas pirogênicas causando a produção de citocinas por
linfócitos T, levando assim a síndrome do choque tóxico ou a nível de pele atingindo as camadas mais profundas,
principalmente por ter um alto poder invasor e pode causar, por exemplo uma osteomielite, fasciíte necrosante ou necrose
no tecido muscular, celulite no tecido subcutâneo, erisipela no tecido a partir da derme.
O S. pyogenes tem uma característica muito invasora e por isso leva a vários quadros com enfermidades diferentes no
hospedeiro, também causa sequelas imunológicas que seria a glomerulonefrite ou febre reumática.

Doenças estreptocócicas do Grupo A

● Infecções de pele:
- Impetigo (piodermite) – lesões superficiais com formação de crostas.

Giulia Magno Rocha


No caso da imagem a pessoa está com desequilíbrio muito grande da microbiota, tem superpopulação de S. pyogenes e
pode ser aliado a falta de higiene, sistema imune comprometido, sendo nesse caso a presença da bactéria que causa a
doença e o processo inflamatório com morte de células polimorfonucleadas, que vai levar a secreção mucopurulenta.
“Piodermia (impetigo) é uma infecção de pele (“derme”) confinada, purulenta (“pio”) que afeta principalmente áreas
expostas (p. ex., face, braços, pernas). A infecção se inicia quando a pele é colonizada com S. pyogenes, após o contato
direto com pessoas infectadas ou fômites contaminados. O microrganismo é introduzido no tecido subcutâneo através de
uma descontinuidade da pele (p. ex., arranhão, picada de inseto). As vesículas se desenvolvem, progridem para pústulas
(vesículas cheias de pus) e então se rompem e formam uma crosta na superfície. Os linfonodos regionais podem estar
aumentados, porém não são comuns sinais sistêmicos de infecção (p. ex., febre, sepse e envolvimento de outros órgãos).
A disseminação secundária dérmica da infecção causada por arranhadura é comum.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER,
2017)
- Erisipelas – derme e tecidos subcutâneos.
É uma doença a nível tecidual mais profundo, geralmente está relacionado a pessoas obesas, com quadro de
imunossupressão, diabéticos; a pessoa que sofreu um ferimento na perna, picada de inseto e ficou apenas na epiderme a
bactéria acabou atingindo um tecido mais profundo a nível de derme e causou a erisipela.

“Erisipela é uma infecção aguda da pele. Os pacientes apresentam dor localizada, inflamação (eritema, calor), aumento
dos linfonodos e sinais sistêmicos (calafrios, febre, leucocitose). A área da pele envolvida fica tipicamente elevada,
diferenciando-se das regiões não afetadas. A erisipela ocorre mais comumente em crianças pequenas e idosos,
historicamente na face, mas atualmente é mais frequente nas pernas, e usualmente é precedida por infecções do trato
respiratório ou da pele com S. pyogenes.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)
- Fasciíte necrosante:
É uma doença mais séria e atinge tecidos mais profundos, principalmente quando é a nível de músculo.
● Infecções de garganta:
- Faringite estreptocócica

Tem-se amigdalite com focos de pus, na coleta de orofaringe irá encontrar o S. pyogenes e é um quadro semelhante
encontrado no S. aureus, sendo importante fazer o diagnóstico diferencial para o Staphylococcus aureus.

Giulia Magno Rocha


Fasciíte necrosante

A fasciíte necrosante é quando a bactéria já tem o sinergismo de enzimas como estreptolisina S, estreptolisina O,
estreptoquinase principalmente, porque tem ação de derramamento vascular já que impede a ação da fibrina (o poder de
reparo) e leva a um processo de necrose do tecido da epiderme, leva a necrose a nível de músculo devido a invasão e
proliferação da bactéria.
É uma doença que precisa intervir rapidamente, porque ela se multiplica e evolui rápido. Sempre tem que ter uma
intervenção cirúrgica, onde se deve fazer o desbridamento, a retirada do tecido que já foi necrosado e uma
antibioticoterapia para que ocorra a parada do crescimento da bactéria.
Geralmente ocorre em indivíduos mais velhos, não sendo comum em pacientes pediátricos. Sendo mais comum em
pacientes HIV positivo, imunossuprimidos.

“Fascite necrosante é uma infecção que ocorre no tecido subcutâneo profundo, dissemina-se ao longo dos planos fasciais
e é caracterizada por uma destruição extensiva do músculo e do tecido adiposo. O microrganismo (referido pelos meios de
comunicação como “bactéria carnívora”) é introduzido no tecido através de uma descontinuidade na pele (p. ex., cortes
pequenos ou trauma, infecção viral vesicular, queimadura, cirurgia). Inicialmente há uma evidência de celulite, que em
seguida forma uma bolha, gangrena (necrose tecidual associada à obstrução do fluxo sanguíneo) e desenvolvimento dos
sintomas sistêmicos. As características dessa doença são toxicidade, falência de múltiplos órgãos e morte; assim, é
necessária a pronta intervenção médica para salvar o paciente. Diferentemente da celulite, que pode ser tratada com
terapia antimicrobiana, na fascite é necessário conjugar um tratamento agressivo, que inclui desbridamento cirúrgico do
tecido infectado.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Giulia Magno Rocha


Doenças estreptocócicas do Grupo A

Infecções sistêmicas:
● Febre escarlatina – profago codificante de toxinas eritrogênicas (SpeA e SpeC).
Causada pelas toxinas pirogênicas que tem o profago, geralmente após uma faringite porque a bactéria é invasora e pode
atingir a circulação sanguínea e ficar a nível de pele, ter pequenos processos inflamatórios, resultando no exantema
principalmente a nível de pescoço e dorso.
São cepas lisogênicas.

● Síndrome do choque tóxico estreptocócico:


Ocorre a superprodução de citocinas, evoluindo a um quadro de hipotensão, processo inflamatório sistêmico e febre.
“Os pacientes com esta síndrome apresentam inicialmente uma inflamação de tecido mole no sítio da infecção, dor e
sintomas inespecíficos como febre, calafrios, mal-estar, náuseas, vômitos e diarreia. A dor se intensifica à medida que a
doença progride para o choque e a falência de órgãos (p. ex., rins, pulmões, fígado, coração) – características
semelhantes àquelas da síndrome do choque tóxico estafilocócico. Entretanto, de maneira diferente da doença
estafilocócica, a maioria dos pacientes com a doença estreptocócica apresenta bacteremia e muitos têm fascite
necrosante.” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Complicações de longo prazo:


Terá os quadros de sequelas, não sendo a bactéria propriamente dita que causa a doença, mas é a ação do sistema
imune de forma exacerbada que vai levar a manifestação clínica.
● Febre reumática:
- Hipersensibilidade a antígenos da parede que reagem cruzadamente com tecido cardíaco.
● Glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica:
- Deposição de complexos antígeno-anticorpo na membrana basal glomerular.
Normalmente a glomerulonefrite acontece de 3-4-6 semanas após a infecção de pele, onde o paciente tem um
comprometimento renal com diminuição da taxa de filtração glomerular, hipertensão, edema periorbital, hematúria (daí vem
a urina com cor de coca-cola) e proteinúria.

Síndrome do choque tóxico

Devido a alta produção de citocinas estimuladas principalmente pelas toxinas pirogênicas.


Tem a estreptolisina O, mas é principalmente pelas toxinas pirogênicas que levam a produção alta de toxinas
pró-inflamatórias pelos linfócitos TCD4, levando a quadro de febre, permeabilidade vascular, processo inflamatório
sistêmico, levando então ao choque.

Giulia Magno Rocha


Patogênese da febre reumática

“Febre reumática é uma complicação não supurativa da faringite por S. pyogenes. É caracterizada por alterações
inflamatórias envolvendo coração, articulações, vasos sanguíneos e tecidos subcutâneos. O envolvimento do
coração se manifesta como uma pancardite (endocardite, pericardite, miocardite) e está frequentemente associado a
nódulos subcutâneos. Pode ocorrer um dano crônico e progressivo das válvulas cardíacas. As manifestações em
articulações podem variar de artralgias a artrite clara, com envolvimento de múltiplas articulações em um padrão migratório
(i.e., o comprometimento muda de uma articulação para outra).” (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Giulia Magno Rocha


A febre reumática é considerada uma doença autoimune. Uma doença autoimune é quando o sistema imune começa a
produzir anticorpos contra substâncias próprias do organismo, ao invés do anticorpo ir contra ao que é estranho e externo,
ele começa a agredir o que é próprio.
O sistema imune vai começar a produzir anticorpos contra antígenos da bactéria, no exemplo mais especificamente na
febre reumática, então o plasmócito vai produzir anticorpos contra antígenos bacterianos, só que esses anticorpos ao
invés de reconhecerem somente os antígenos bacterianos, no caso do S. pyogenes, passam também reconhecer
antígenos, por exemplo do sarcômero das fibras musculares, então o anticorpo tem uma reação cruzada e pode, por
exemplo achar parecido com a proteína M e passa a reconhecer de forma errônea os antígenos como se não fossem
próprios. O indivíduo começa a ter manifestações clínicas, como endocardite, miocardite, por exemplo.

Por exemplo: a pessoa teve uma faringite, após 1 ou 2 semanas pode apresentar um quadro de febre reumática, porque
esses anticorpos que foram produzidos contra o S. pyogenes, só que passa também a reconhecer antígenos a nível do
coração e causar uma endocardite, pode reconhecer também antígenos nas articulações, geralmente substâncias que são
muito semelhantes a proteína M e ao colágeno, assim a pessoa vai ter artrite na febre reumática.

Giulia Magno Rocha


É chamada de doença autoimune, porque não é o microrganismo que causa a doença e sim, a ação dos anticorpos que
deveriam reconhecer somente os antígenos do S. pyogenes e que passam a reconhecer receptores localizados nas
articulações ou no coração (na febre reumática).
Pessoas que têm predisposição para desenvolver febre reumática após infecção por S. pyogenes algumas vezes já no
quadro inicial de faringite já tem que entrar de maneira potente com uso de antibióticos para não induzir a produção de
febre reumática, ou então até mesmo em uma cirurgia dentária ou extração de dente o S. pyogenes pode estar na mucosa
oral e atingir a circulação sanguínea e terá que utilizar antibiótico previamente para que não tenha quadro de febre
reumática.
*A febre reumática só ocorre após a faringite.
*
Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE)

*Na glomerulonefrite pode ter a glomerulonefrite tanto após a faringite, como após o impetigo.
Não é a presença da bactéria a nível de glomérulo que vai causar a inflamação no glomérulo, mas sim a deposição de
imunocomplexos. O imunocomplexo é o antígeno e anticorpo.
Existem dois antígenos documentados da bactéria que podem estar envolvidos na glomerulonefrite, que é o receptor de
E- plasmina associado à nefrite e a toxina pirogênica B, que possui uma certa afinidade pelo tecido glomerular, ainda não
se sabe muito bem o porquê, acredita-se que é muito atraída pela carga eletronegativa da membrana basal dos
glomérulos e existe uma tendência que as cepas nefrogênicas sejam atraídas por se depositar a nível da luz dos
glomérulos e elas tem afinidade por se ligar a plasmina, essa ligação com a plasmina leva a uma cascata de sinalização
de células do sistema imune, ativação do sistema complemento, presença de neutrófilos, macrófagos, presença de

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plasmina, fibrinogênio e tudo isso leva ao acúmulo de células, a uma multicelularidade a nível da luz do glomérulo e isso
dificulta a taxa de filtração glomerular.
A dificuldade na filtração glomerular leva a redução, por exemplo de sódio, da liberação do sódio e isso leva a “prender”
mais água, por isso tem edema. A diminuição da taxa de filtração glomerular também leva a liberação de algumas
substâncias que não eram para passar, como hemácias, proteínas e isso leva a hematúria e proteinúria e isso tudo é
encontrado na glomerulonefrite pós-estreptocócica.

Epidemiologia da GNPE

● É a causa mais comum de nefrite aguda em crianças em todo o mundo;


● É rara em menores de dois anos, sendo mais frequente ao redor dos sete anos;
● A incidência no sexo masculino em relação ao feminino é de 2:1.
● Cepas nefritogênicas podem causar a GNPE;
Pode causar após um impetigo ou cepas nefrogênicas que levam a infecção após a faringite.
● Os sorotipos mais comuns após um quadro de impetigo são M 2, 49, 55, 57 e 60. Já os sorotipos mais
frequentes após faringites incluem M 1, 3, 4, 12, 18, 25 e 492.

Glomerulonefrite pós-estreptocócica-NAPlr

Tem no rim a menor unidade funcional dele que é o néfron, esse tem diversas regiões e uma delas são os glomérulos, que
é a parte de filtração do rim.
Os glomérulos são um emaranhado de capilares, onde tem a passagem do sangue e filtração das substâncias que depois
irão virar urina.
Na luz do glomérulo é onde terá a afinidade e deposição de antígenos, que é o receptor de plasmina associado à nefrite,
mas também a toxina pirogênica, eles vão se localizar na luz (parte azul na imagem da direita) e vão se ligar a plasmina, o
fato de se ligar leva ao recrutamento de linfócitos T, macrófagos, neutrófilos, ativação do sistema complemento, se houver
dano do tecido terá presença de fibrinogênio, então todo esse emaranhado de células vai se formar; na parede da
Giulia Magno Rocha
membrana se formam protuberâncias de células e essa membrana era pra ser o filtro, a filtragem fica comprometida
devido ao aumento de células.

Glomerulonefrite pós-estreptocócica

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Toda a reunião de anticorpos se ligando ao receptor de plasmina associado à nefrite, se ligando a toxina pirogênica e
então formando complexos, a presença de neutrófilos, presença de monócitos, de macrófagos, linfócitos T → todo esse
“emaranhado” de células está dentro da luz do glomérulo, isso atrapalha a filtração no rim a nível de glomérulo.

Se reduzir a taxa de filtração glomerular vai ter maior concentração de sódio, precisando então de maior quantidade de
água, então a pessoa terá edema, diminuindo também a quantidade de urina (oligúria) e devido a reter a água poderá ter
hipertensão; como a filtração está atrapalhada poderá ter presença de sangue (hematúria - urina com cor de coca-cola) e
proteína (proteinúria).
A glomerulonefrite pós-estreptocócica ocorre de 1-2 semanas após uma infecção de garganta, que seria a faringite; de 3-6
semanas após infecção de pele, que seria o impetigo ou piodermite.
É uma doença autolimitada e se resolve rapidamente, a intervenção médica é mais a tratamento de suporte, como o uso
de diuréticos, diminuição da ingestão hídrica, pode ser feita a antibioticoterapia, porém como é uma doença mais
imunológica só se faz a antibioticoterapia se em algum teste ainda for isolado a bactéria; o tratamento pode ter uso de
anti-hipertensivos, etc.

Resumindo a GNPE

Teve a infecção pelo GAS (Streptococcus do grupo A, que é β-hemolítico); 1-2 semanas ocorre após a faringite e até 6
semanas após o impetigo, tem deposição de imunocomplexos, de C3, de fibrinogênio, pode ter ativação da cascata de
coagulação e isso tudo a nível de glomérulo, atrapalhando a filtração glomerular, podendo resultar em oligúria, proteinúria,
hematúria e edema.
Tem resolução em 2 a 3 semanas e faz tratamento de suporte do paciente.

Giulia Magno Rocha


Diagnóstico: cultura da secreção orofaringe

Pode ser feita a coleta da secreção do impetigo (as crostas) e isolar o S. pyogenes; na faringite faz a coleta da orofaringe e
coloca no meio ágar-sangue para crescer e visualizar os β-hemolíticos, porque vai causar a hemólise completa ao redor da
colônia. Será feito o Gram para observar a bactéria Gram-positiva em cadeias.

Identificação de Staphylococcus / Streptococcus

● Teste da catalase:
O teste que tem que ser feito para diagnóstico diferencial é do Staphylococcus, porque várias das doenças do
Staphylococcus também pode causar a glomerulonefrite (pode ser causada pelo S. aureus), porém em menor grau; na

Giulia Magno Rocha


epidemiologia a incidência é maior pelo S. pyogenes, então deve ser feito o diagnóstico diferencial através do teste da
catalase.
Todos os Staphylococcus são catalase positivo (formam bolhas na placa) e os Streptococcus são catalase negativo.

Diagnóstico

● ASLO : antiestreptolisina O.
É a detecção da estreptolisina O e essa é imunogênica, ou seja, induz a produção de anticorpos.
Tem-se kits de imunoaglutinação e aqui se utiliza o soro do paciente porque quer saber se o paciente tem anticorpo contra
a estreptolisina O. No kit tem a estreptolisina O, então pinga em cima do soro do paciente e se essa se ligar ao anticorpo,
vai aglutinar, tendo resultado positivo.
*A estreptolisina S é muito invasora, mas não é imunogênica.

Giulia Magno Rocha


● Baixos níveis de C3.
Pode ser medido também o C3; na glomerulonefrite utiliza-se muito a ativação do sistema complemento para conter a
bactéria, então se der baixos níveis de C3 é um indicativo também da presença do S. pyogenes.

Tratamento

● Penicilina G: a bactéria é muito sensível à penicilina.


● Para pacientes alérgicos à penicilina administrar eritromicina.
A eritromicina tem ação diferente dos β-lactâmicos, a eritromicina age na síntese de proteína bacteriana.

Giulia Magno Rocha


Resumindo

Giulia Magno Rocha


Por exemplo, a presença de toxinas que são superantígenos que estimulam de maneira exacerbada os linfócitos T a
produzir muitas citocinas pró-inflamatórias - causa síndrome de choque tóxico.
A liberação de enzimas que são extremamente invasivas levam a disseminação do patógeno.
A bacteremia, o poder invasor da bactéria e sua presença nos tecidos se disseminando pode causar meningite, artrite e
osteomielite.
A presença de antígenos, como por exemplo a proteína M levando a produção de anticorpos pelo linfócito B vai levar a
quadro de febre reumática e esse anticorpo reage de forma cruzada em alguns tecidos, como o cardíaco e nas
articulações.
Outros antígenos que tem afinidade com regiões do rim, como os glomérulos leva a formação de imunocomplexos e
ativação de outras células do sistema imune, levando a um quadro de glomerulonefrite pós-estreptocócica.

Giulia Magno Rocha


Aula 9 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

Infecções urinárias

ITUs - Infecções do trato urinário

● São infecções do trato urinário, causadas predominantemente por bactérias.


Quando se fala de infecção urinária, se refere a microrganismos que causam infecções do trato urinário, essas infecções
são causadas principalmente por bactérias, porém podem ser causadas por fungos como a cândida, vírus, mas a
predominância é por bactérias.
● Os principais agentes envolvidos são E. coli uropatogênica (UPEC) - 80%, Proteus mirabilis, Klebsiella
pneumoniae e S. saprophyticus, etc.
A E. coli uropatogênica, Proteus mirabilis, Klebsiella pneumoniae pertencem à mesma família, que é a Enterobacteriaceae,
e são bacilos gram-negativos.
O S. saprophyticus pertence ao gênero Staphylococcus, que é um coco gram-positivo.
A bactéria mais importante é a UPEC envolvendo com surtos ITU.
● As ITUs estão relacionadas principalmente com a susceptibilidade individual do gênero, como também
idade, diabetes, uso de cateter, etc.
Para ter um quadro de infecção urinária existem alguns fatores que predispõem o hospedeiro humano a esse tipo de
infecção, como característica de susceptibilidade individual, genética, o gênero.
- Naturalmente as mulheres são mais predispostas a infecções urinárias do que os homens por motivos
anatômicos (uretra mais curta).
- As bactérias que infectam o trato urinário são bactérias provenientes do trato gastrointestinal e estão
naturalmente na microbiota do intestino.
- Os homens são menos predispostos à infecção urinária, há predisposição em indivíduos mais velhos que estão
acima dos 50 - 60 anos.
- O número de relações sexuais também predispõem as mulheres a infecção urinária.
- Indivíduos muito jovens e mais velhos são mais predispostos por conta da resposta imunológica não
muito eficaz.
- Indivíduos diabéticos também têm maior propensão, porque esse indivíduo pode ter um grau de glicosúria, ou
seja, a eliminação de glicose na urina. A glicose é fermentada por essas bactérias, é fonte de nutrição e cria um
meio de cultura propício para o crescimento das bactérias.
- O uso de cateter, uso da sonda para esvaziamento da bexiga, paciente acamado, internado, em coma. O
uso do cateterismo predispõe, o ato de introduzir e retirar o cateter pode contaminar.

Fatores predisponentes para ocorrência de ITUs

A bactéria tem fatores de virulência para causar a infecção, são bactérias extremamente móveis e tem flagelos
peritríquios.
No início do processo de colonização a nível de uretra, os flagelos são chamados de perítricos, são bactérias que são
muito móveis e elas podem vencer o fluxo da urina, precisam nadar nesse fluxo urinário.
O fato de terem flagelos peritríquios aliado com as fímbrias para aderir na bexiga é extremamente importante no início do
processo de colonização.

Giulia Magno Rocha


Tem outros processos de virulência, como as hemolisinas, antígenos capsulares, a própria cápsula tem efeito
antifagocítico, algumas das bactérias produzem enzimas como a urease, que leva a formação de cálculos urinários.
Os atributos bacterianos são fatores de virulência que a bactéria possui para iniciar o processo de lesão, de patogênese da
infecção urinária.

A mulher gestante é naturalmente mais predisposta, por mudanças anatômicas, níveis hormonais, alguns metabólitos,
os hormônios na gravidez deixam a urina mais alcalina e isso favorece o crescimento dos bacilos gram-negativos.
A presença de cálculos urinários, uretral, câncer de próstata que impede a passagem da urina e leva a uma retenção
urinária, tudo isso leva a predisposição das infecções urinárias.

O cateterismo é um importante fator predisponente para as ITUs

Em relação a sonda, a própria introdução da sonda pode levar a uma lesão do canal uretral, pode favorecer lesão na
mucosa da bexiga e a microlesão, o processo inflamatório pode levar a uma predisposição para colonização bacteriana.
O circuito das sondas, da bolsa coletora de urina se não estiverem bem esterilizados em um ambiente hospitalar será fonte
de entrada de microrganismos.
Tudo deverá ser avaliado de maneira contínua com a coleta de urina para analisar e verificar se não está com infecção
urinária, fazer a troca regular para um material estéril para impedir casos de infecção urinária dentro do ambiente
hospitalar ou fora também.

Giulia Magno Rocha


Microrganismo prevalentes nas infecções urinárias

A E. coli uropatogênica neste gráfico está envolvida em torno de 75% dos casos de infecções urinárias, tanto nas
infecções urinárias não complicadas, como nas infecções urinárias complicadas e 65% dos casos complicados.
- A infecção urinária não complicada é aquela que o paciente não tem nenhum comprometimento anatômico, não
tem nenhuma patologia prévia e também não está utilizando sonda, são simplesmente características que
predispõem por ser um indivíduo muito idoso ou muito jovem e até mesmo características de gênero.
- Paciente com cálculo, câncer, uso de sonda ou que está gestante, usuário de imunossupressores, se diz que o
paciente tem, desenvolveu uma infecção urinária complicada.

Tem-se microrganismos mais relevantes, como a E. coli uropatogênica (UPEC), K. pneumoniae, Staphylococcus
saprophyticus, GBS, etc.
As bactérias mais importantes são a E. coli uropatogênica UPEC e P. mirabilis. Existem muitos estudos relacionados
à infecção urinária, principalmente em pacientes com ITU complicadas, levando a formação de cálculos urinários. Essas

Giulia Magno Rocha


duas bactérias pertencem à mesma família: Enterobacteriaceae, que é uma grande família de bacilos gram-negativos. A
maioria dos bacilos gram-negativos de importância na saúde pública, saúde humana ou veterinária estão dentro dessa
família.

Família Enterobacteriaceae

Grupo maior e mais heterogêneo de bacilos Gram-negativos com importância humana e veterinária.
● Gênero Escherichia
● Gênero Salmonella
● Gênero Shigella
● Gênero Klebsiella
● Gênero Citrobacter
● Gênero Enterobacter
● Gênero Morganella
● Gênero Proteus
● Gênero Serratia
● Gênero Yersinia
Muitas das bactérias desse gênero possuem espécies que não causam doenças e outras poucas espécies causam muitas
infecções, como por exemplo a própria E. coli, que está dentro do gênero Escherichia, e está naturalmente no trato
gastrointestinal de humanos e animais.
● Gêneros são classificados segundo:
- Propriedades bioquímicas.
Através da análise do metabolismo dessas bactérias, se fermentam ou não determinado açúcar, se utiliza determinada
substância como fonte de carbono, avaliar alguma atividade dela, se produz determinada enzima, como a enzima urease.
São as características metabólicas das bactérias.
- Estrutura antigênica (sorotipagem).
As bactérias possuem antígenos na parede, que é o antígeno K, H e O, que são muito bem documentados, reconhecidos
por anticorpos através da sorotipagem. Possuem vários tipos de antígenos O, vários antígenos H e vários K, e a depender
do gênero e da espécie existem vários tipos de anticorpos que reconhecem os antígenos e dizem qual é a cepa que está
envolvida no surto, a partir de uma amostra de urina, fezes, alimentos em um surto de diarreia pode caracterizar a cepa
que está envolvida no surto.
- Sequenciamento de seu material genético.
Pode-se dizer qual o microrganismo através do sequenciamento genético, através de amostra de urina, fezes, alimentos e
assim, amplifica o genoma da bactéria e analisa qual bactéria que está na infecção.
● Apesar da complexidade da família, menos de 20 espécies são responsáveis por mais de 95% das
infecções.

Características gerais:

gbqÃgom
stãfto +
● Bacilos Gram-negativos. →
● Anaeróbios facultativos.
* ● Fermentadores de glicose.
● Alguns fermentam lactose.
A prova da lactose é muito utilizada para diferenciar os gêneros que são ou não fermentadores de lactose.
-2
A Salmonella não fermenta lactose e nem Proteus, porém a E. coli fermenta a lactose.
● Maioria são móveis.
-

A maioria das bactérias dessa família são extremamente móveis, tendo flagelos peritríquios.

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● Crescem em meios comuns.
● Não esporulam.
● Reduzem nitrato a nitrito.
A presença de nitrito no sumário de urina é indicativo de infecção urinária, porque não é para ter nitrito.
As únicas bactérias que fermentam nitrito pertencem à família Enterobacteriaceae, sendo indicativo de infecção urinária.
● Oxidase-negativas.
Não tem a enzima citocromo-oxidase, que é de captação e transporte de elétrons durante o metabolismo microbiano.
Então, como são fermentadoras, as mesmas vão obter energia na ausência de oxigênio e não tem essa enzima, sendo
oxidase-negativas.
● Habitat:
- Muitos fazem parte da flora normal do trato intestinal de humanos e animais.
- Plantas e solo.

- São encontradas em vários lugares, principalmente no intestino dos bovinos, suínos, caprinos e ovinos.
- A contaminação do solo, lençóis freáticos, água de abastecimento é muito fácil de acontecer.
- As formas de transmissão para os seres humanos são muito recorrentes. Podem causar surtos através da água
de irrigação, solo que estava contaminado com fezes de bovinos com alguma cepa de E. coli enterohemorrágica.
- Pode ter contaminação da água utilizada para irrigar as frutas e verduras, então o ser humano pode ingerir e
desenvolver a infecção do trato gastrointestinal.
- A esfola e abertura da cavidade abdominal do animal se não for feita corretamente, a carcaça do animal pode ser
contaminada com o conteúdo gastrointestinal desse animal e durante o processamento dessa carne contaminada
com conteúdo intestinal pode ingerir essa carne com E. coli enterohemorrágica e ter colite hemorrágica
proveniente de uma esfola errada, por exemplo.
- Ao ingerir leite cru contaminado por fezes.
- Água de abastecimento de piscinas, água de suprimento de casas de repouso, de hospitais. Tudo isso pode
vincular com bactérias que pertencem a esta família para o ser humano.

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- Isso não está falando ainda das infecções urinárias, porque essa ocorre basicamente dessas bactérias que estão
naturalmente no trato gastrointestinal, e por uma translocação invade a uretra por falta de higiene, entre outros e a
transferência dessas bactérias para a região da uretra pode ter colonização e a pessoa ter infecção urinária.

Flagelos peritríquios

Tem flagelos que são inseridos em toda a parede celular da bactéria, deixa a bactéria muito móvel e isso para infecção
urinária é muito importante, principalmente para o início de colonização.
A bactéria tem que ser móvel, a mesma precisa vencer o fluxo urinário, que é unidirecional, ela precisa nadar na urina. Os
flagelos aliados às fímbrias são muito importantes, ela irá conseguir ascender até a região da bexiga, começando sua
população na mesma.

● Responsável pela motilidade bacteriana.


*Shigella e Klebsiella não apresentam flagelo - imóveis.

Estrutura antigênica

● Antígeno K - cápsula.
● Antígeno H - flagelo.
● Antígeno O (somático) - LPS.
São os antígenos que são reconhecidos pelos anticorpos, estão na superfície da parede celular das bactérias
gram-negativas.

**O LPS tem somente nas Gram-negativas.


Giulia Magno Rocha
O LPS tem a porção lipídica e a polissacarídica, tem o antígeno O e esse é reconhecido pelos anticorpos. Tem vários
antígenos O. É feita a caracterização dos antígenos e assim se consegue dizer qual é a cepa envolvida, por exemplo em
um surto de uma doença transmitida por alimento, se encontrar a cepa O157:H17 é a E. coli enterohemorrágica, que


causa a colite hemorrágica. Essa combinação é feita por caracterização antigênica, pelo reconhecimento de anticorpos
monoclonais. Os antígenos ficam na parede celular da cápsula.

LPS

Tem porção lipídica e polissacarídica.


O antígeno O está na porção mais externa, sendo ele que é reconhecido pelos anticorpos que vão caracterizar qual a cepa
que está envolvida no surto.

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Fatores de virulência

● Lipopolissacarídeo (LPS): responsável pela produção de febre (resposta pirogênica), por alterações vasculares e
ação direta sobre os mecanismos das reações de hipersensibilidade não específica.

O LPS geralmente tem ação de toxina, porque geralmente o macrófago quando fagocita o LPS é degradado, começa a
ter função tóxica no organismo, porque induz a produção de citocinas e o processo inflamatório, tendo a indução de febre,
tem produção de citocinas, principalmente a TNF-alfa e IL -1 (que são citocinas pró-inflamatórias) e atingem a circulação
sanguínea, estimulam as prostaglandinas a nível de hipotálamo no termostato.

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Escherichia coli
● É o anaeróbio facultativo mais abundante no cólon e nas fezes.
● Theodor Escherich - Alemanha, 1885.
- Escherichia coli.
● Microbiota (flora normal) do intestino.
- Animais e humanos.
O problema é quando essa cepa está em local indevido, pode ser uma infecção, no caso a infecção urinária.
● Uma minoria de cepas são patogênicas por diferentes mecanismos.
Muitas cepas dentro dessa espécie são saprófitas, ou seja, não causam dano nenhum, vivem normalmente no trato
gastrointestinal, porém dentro da E. coli existem linhagens que causam infecções em seres humanos e em animais.
Causam infecções extra-intestinais, como as infecções urinárias e infecções intestinais que causam diarreia e vômito.
Tem várias cepas inofensivas e um percentual menor de cepas que causam infecções em animais e em humanos.
Normalmente essas bactérias estão no trato gastrointestinal, o problema é que quando a cepa está em local indevido, no
caso a UPEC, podem haver infecções, como por exemplo a infecção urinária.
*Microbiota são aqueles microrganismos que se encontram de maneira pacífica em determinada área, vivem em harmonia
e equilíbrio, porém quando esses microrganismos estão fora de seu sítio podem ter infecções. Uma bactéria que está no
trato gastrointestinal pode se encontrar em outra determinada área e causar infecção, no caso as infecções urinárias.

Sítios de colonização de E. coli

● Extra-intestinais.
● Intestinais.
Tem várias linhagens de E. coli, linhagens que causam diarreia, meningite, infecções extra-intestinais como a infecção
urinária.
Aqui irá dar foco a uropatogênica, essa possui receptores tanto para células da bexiga, causando uma cistite.
A cistite muitas vezes é ignorada ou não curada, ou mal tratada e pode se tornar uma pielonefrite, porque essa também
possui receptores para se ligar a células renais e produz toxinas, levando danos às células renais, irá causar uma infecção
mais séria, que é a pielonefrite. Pode causar tanto infecções nos rins quanto na bexiga.
Outras bactérias causam infecções intestinais que são E. coli também, tem-se a E. coli que causa meningite neonatal
principalmente, em recém-nascidos, causa septicemia se encontrada na circulação sanguínea, assim como a UPEC.
- Tem-se linhagens que causam infecções no intestino grosso, que é a EHEC e é a E. coli
enterohemorrágica, EIEC que é a E. coli enteroinvasora e a EAEC que é a E. coli enteroagregativa.
- Tem-se as cepas que causam as infecções no intestino delgado: ETEC que é a E. coli enterotoxigênica, a
DAEC é a E. coli difusamente aderida e a EAEC que também causa infecções no intestino delgado.

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E. coli (UPEC)

● Bacilo Gram-negativo.
● Anaeróbio facultativo.
● Móvel.
● Fermenta lactose.
● Reduz nitrato a nitrito.
● Capaz de invadir e se replicar dentro das células uroteliais da bexiga, formando as comunidades

± bacterianas intracelulares.
Isso é muito ruim, porque a bactéria fica “escondida” do sistema imune, invade as células e forma um biofilme
-

intracelular, o neutrófilo para reconhecer a bactéria que está inserida é muito difícil. São mecanismos que a bactéria
possui de evasão do sistema imune e favorece, por exemplo, as recorrências das infecções urinárias por conta dessas
comunidades bacterianas intracelulares.

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Fatores de virulência da UPEC

- A bactéria tem flagelos peritríquios ao longo de toda a parede celular bacteriana, os flagelos são importantes
principalmente no início do processo de colonização, aliados também com as fímbrias que tem as adesinas.
- Tem duas fímbrias importantes, que é a fímbria tipo 1 e a tipo P.
*- Tem hemolisinas que são toxinas, são tóxicas principalmente para as células renais, matam as células renais e
macrófagos. As toxinas são importantes principalmente quando a bactéria está a nível de rins, causando a
pielonefrite, tem a HlyA e CNF1 (fator necrosante citotóxico).
- Tem os siderófilos, as hemolisinas e elas se configuram como fatores de mecanismo de evasão, esse fator de
virulência é mais típico de bacilo. Siderófilo é uma proteína que a bactéria vai secretar para pegar o ferro do
hospedeiro para sua nutrição, então produz substâncias que são quelantes de ferro, se ligam ao ferro do
hospedeiro, quando causa dano a uma célula do hospedeiro e libera o ferro da célula do hospedeiro, pega esse
ferro para sua nutrição.
- Outros antígenos são os antígenos flagelares que a bactéria possui; a presença do flagelo é muito importante
para a bactéria.

Fímbrias da UPEC

● Fímbrias tipo 1: se ligam aos receptores de uroplaquina dispostos na superfície das células uroteliais,
promovendo a aderência da bactéria.
A fímbria tipo 1 é importante para se ligar às células da bexiga do hospedeiro, se liga ao receptor que é chamado de
uroplaquina nas células da bexiga para iniciar o processo de adesão e processo inflamatório na bexiga, resultando na
cistite. Na pontinha da fímbria tipo 1 tem uma adesina, que é chamada de FimH, a uroplaquina se liga a FimH para
iniciar o processo de reconhecimento e colonização, e quando consegue fazer as comunidades bacterianas
intracelulares, que é quando forma o biofilme dentro da célula da bexiga, ficando escondida das células do sistema imune.
● Fímbrias P: se ligam a um glicolipídeo em células renais, o que contribui para a pielonefrite.
A fímbria do tipo P se liga a glicolipídios das células renais. A fímbria do tipo P contribui para a formação da pielonefrite
(infecção no rim). Existem cepas de UPEC que não expressam essas fímbrias do tipo P, então se não expressa essa
fímbria não favorece a pielonefrite, ficando mais a nível de cistite.
Existem receptores que são importantes para se ligar à bexiga e existem aqueles que são importantes para se ligar às
células renais, tem aquelas que se ligam tanto à bexiga como também as células renais, que são a FimF e a Fim17.

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Fatores de virulência da UPEC

● Comunidade bacteriana intracelular (IBCs):


- Resulta da invasão bacteriana em células epiteliais da bexiga.
-

- Estão protegidos dos componentes do sistema imune.


- Podem contribuir para a recorrência das UTIs.
Os flagelos e as fímbrias são importantes no primeiro reconhecimento, no processo de colonização. Assim como
todas as bactérias, quando a mesma reconhece vai querer adentrar, formando as comunidades bacterianas intracelulares
que nada mais é do que um biofilme interno, uma comunidade bacteriana interna que a bactéria vai formar. Isso protege
a bactéria do sistema imune, que é bom para a bactéria, porque a mesma fica “escondida”.

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Comunidade bacteriana intracelular (IBCs)

A célula da bexiga começa a invadir e reconhecer e irá formar a comunidade bacteriana intracelular.
Chega um momento que rompe a célula e ocorre a esfoliação da célula, a mesma pode invadir outra célula e isso favorece
as recorrências das infecções urinárias, porque a partir do momento que está dentro da célula da bexiga não é
reconhecida pelo neutrófilo e isso faz perdurar mais ainda a infecção urinária, porque a bactéria está escondida.
Quando a bactéria estiver dentro da célula ela não é reconhecida e vai se multiplicando, aumentando a população.
Tem células maiores, compridas e essas são chamadas de bactérias filamentosas, ao invés do bacilo formar por fissão
binária duas células-filhas, ela não se separa e expande seu corpo celular, tornando-se uma célula maior, com uma área
de parede celular, de corpo celular bem maior e isso favorece a patogênese da bactéria, porque tem uma área de
aderência bem maior do que quando está menor, isso favorece como fator de virulência formar as células filamentosas.
Quando rompe a célula pode ser fagocitada pelo neutrófilo, mas também favorece que vá infectar outras células, formando
um ciclo. Quando está escondida a mesma fica protegida do sistema imune, então favorece a perdurar a infecção urinária
ou existir recorrência das infecções urinárias.

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Ocorre a esfoliação tendo o rompimento da célula.
Quando se pede um sumário de urina e identifica aumento de células esfoliativas, é o dano das células epiteliais a nível
de bexiga, as células foram esfoliadas e irão para a urina. Então terá além da urocultura a presença das bactérias que vão
ser contadas as colônias bacterianas, porém a nível de sumário de urina vai ter como positivo para infecção urinária as
células esfoliativas e presença de nitrito.

Patogênese da UPEC

A infecção, a transmissão ocorre por falta de processo de higienização correta após a ida ao banheiro, vai levar a
presença do microrganismo, que está naturalmente no trato gastrointestinal, para a região da uretra.
Essas bactérias querem ascender inicialmente através dos flagelos e fímbrias, a adesina FimH está na ponta da fímbria
do tipo 1, que é importante para o reconhecimento das células da bexiga que vão reconhecer o receptor que é a
uroplaquina,
iniciando o processo de comunidade bacteriana intracelular, e quando a bactéria está nesse local a mesma não é
reconhecida pelos neutrófilos.
Quando rompe, formam células esfoliativas e pode ser reconhecida, as próprias células epiteliais vão dar um sinal de
alerta para o sistema imune informado que está ocorrendo algo de errado, começa a produzir mediadores químicos, como
IL-8 para recrutar mais neutrófilos para o local e então inicia-se o processo de fagocitose dos neutrófilos.
M A resposta imune inata nas infecções urinárias é muito importante ser rápida para contenção da doença e induzir um

processo inflamatório, o próprio recrutamento de neutrófilos é um processo inflamatório, mas sem causar danos à bexiga,
sem causar dano ao tecido do hospedeiro e resolver a situação, porque se for muito rápida e deixar escapar a comunidade
bacteriana irá favorecer as infecções urinárias recorrentes.

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As etapas da patogênese: por exemplo, uma infecção urinária não complicada é quando o paciente não tem nenhum
comprometimento anatômico, não está internado, não usa sonda, etc. Em uma infecção urinária complicada, como por
exemplo, o uso de sonda, a diferença é basicamente mostrada no artigo que é no início da infecção.
Iniciou através do processo de transferência dessas bactérias da região trato gastrointestinal para a uretra. As bactérias
vão começar a ascender a nível de uretra, chegando na bexiga formam as comunidades bacterianas intracelulares, as
fímbrias do tipo 1 reconhecem o receptor uroplaquina para formar as comunidades intracelulares, neste momento não são
reconhecidas por neutrófilos, mas quando se rompem infectam outras células da bexiga e pode nesse momento ser
reconhecida pelos neutrófilos.
Todo o processo inflamatório será induzido na bexiga, levando a cistite; nesse momento o sistema imunológico do
hospedeiro vai resolver e sanar a cistite ou entrar com uso de antibiótico e resolver a situação, ou até mesmo um terceiro
caminho que seria quando a bactéria vence, porque se está na forma de biofilme conseguirá vencer os neutrófilos, já que o
biofilme é um mecanismo de evasão e irá assim conseguir a ascendência até os rins e nisso vai produzir outros fatores de
virulência, como as hemolisinas, o fator necrosante citotóxico e esses são muito importantes a nível de rim já que são
muito tóxicos às células renais, para os macrófagos.
A fímbria tipo P é importante para o reconhecimento das células renais e a bactéria reconhece, e irá causar o processo
inflamatório a nível de rim, causando pielonefrite e se essa não for tratada a bactéria vai continuar se multiplicando,
podendo romper a barreira urinária e assim, a bactéria poderá causar bacteremia e atingir a circulação, causando sepse.
Quando está a nível de trato urinário alto é mais grave.
O fato de introduzir a sonda pode levar a lesão no epitélio do paciente, e se há lesão o organismo precisa fazer a
reparação e o fibrinogênio começa a agir, tudo que é de reparo começa a agir. A bactéria tem ligantes para o fibrinogênio
e o utiliza para potencializar o biofilme, então a formação do biofilme ajudado pela presença do fibrinogênio esconde ainda
mais a bactéria da ação dos neutrófilos, favorecendo a permanência da bactéria na bexiga que está com sonda.

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Proteus mirabilis
● Gram-negativa.
● Anaeróbica facultativa, bastonete.
● Móvel.
● Produz grandes quantidades de urease.
A urease induz a formação de cálculos urinários no processo de infecção urinária.
● Não fermenta a lactose. →
E falei ( UPEC ) → Fermento
'

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Patogênese do P. mirabilis

Tem-se as células da bexiga, a parte em azul mais claro é como se fosse a urina e a estrutura em azul mais escuro
representa a sonda.
O P. mirabilis produz uma enzima chamada urease, pega a ureia presente na urina e vai transformar em amônia e
CO2, degradando a ureia em amônia e CO2.
A amônia é básica e vai elevar o pH da urina. Os íons que estavam solúveis na urina ácida vão se precipitar na urina agora
básica, os íons de cálcio, fosfato, bicarbonato irão precipitar e formar cálculos urinários. A bactéria utiliza o cálculo
urinário para se proteger, como se fosse uma camuflagem e também irá proteger da ação do sistema imune inato
representado aqui pelos neutrófilos.
O cálculo urinário pode ser na superfície da bexiga, na superfície de uma sonda e dentro da sonda, causando refluxo
urinário.
Além da bactéria ter cápsula, de ter os siderófilos para utilizar o ferro das células e levar a esfoliação, tem também o fator
de virulência a mais que é a urease, levando a formação dos cálculos urinários, sendo o P. mirabilis que realiza isso.
O P. mirabilis não tem capacidade de formar comunidades bacterianas intracelulares.

Urease

● Uma das principais características das UTIs causada por P. mirabilis é a litíase urinária (produção de
pedras no trato urinário). A formação destas pedras é o resultado da atividade da enzima urease que
hidrolisa a ureia em amônia e CO2.
● A produção de amônia aumenta significativamente o pH, resultando na precipitação de íons que são
normalmente solúveis na urina resultando na formação de cálculos urinários.

Giulia Magno Rocha


● Estas pedras, tais como o fosfato de amônio magnesiano, podem bloquear o fluxo de urina através de
cateteres ou resultar em cicatrizes renais devido a formação do cálculo dentro da pelve renal.
● As bactérias podem ser encontradas dentro destes cálculos urinários, onde estarão protegidas das
defesas do hospedeiro e do tratamento com antibióticos.

Efeito da urease do P. mirabilis

● Hidrólise.
● Elevação do pH.
● Precipitação de íons solúveis em urina normal.

A ureia sofre a ação pela urease, que degrada a ureia em amônia e CO2. A amônia eleva o pH da urina, levando a
precipitação de íons que estavam solúveis - de cálcio, fosfato e leva a formação da pedra.
A formação dos cálculos urinários é bom para a bactéria, porque a mesma se esconde e fica protegida do sistema
imune, dificultando a ação do sistema imune e a ação dos antibióticos, favorecendo infecções recorrentes pelo P.
mirabilis.

Giulia Magno Rocha


Mecanismo da resposta imune inata contra ITUs

O mecanismo de proteção do hospedeiro, a resposta imune inata é muito importante para a contenção e não
evolução da doença causada pelas bactérias que infectam o trato urinário.
Um mecanismo rápido que pode fazer frente a presença dessas bactérias é a produção de peptídeos antimicrobianos,
que são substâncias que se ligam às bactérias e impedem que a bactéria fique aderida à célula urotelial. Sendo importante
a produção dos peptídeos antimicrobianos e esses são produzidos por diversas células que não são necessariamente
células do sistema imune.
Tem-se o trato urinário como um todo (na imagem da direita) e tem-se peptídeos antimicrobianos sendo produzidos pelos
rins, ureteres e bexiga, então podem impedir a ligação das bactérias nas células epiteliais e aliado com a presença dos
neutrófilos chegando até o local para levar a fagocitose das bactérias. A rápida resposta é importante para a contenção
sem causar danos e tem que ser resolutiva, no sentido de que ocorra a resposta rápida, mas que a mesma resolva de fato
sem causar resquícios da bactéria. Os resquícios da bactéria podem levar a infecções urinárias recorrentes.

Giulia Magno Rocha


A uromodulina é um dos peptídeos antimicrobianos produzidos pelas células da bexiga, impede que a uropatogênica do
P. mirabilis se ligue às células da bexiga.
A presença de anticorpos neutralizantes, IgA sendo produzido e assim já tem o movimento de uma resposta imune
adaptativa, sendo também importante para o mecanismo de controle da infecção, não sendo apenas a resposta imune
inata, porém a mesma é muito importante nas infecções urinárias, mas terá envolvimento também de outras células, como
células dendríticas, linfócito TCD4, células NK, que são da resposta imune inata.

Resposta imune protetora contra as ITUs

Giulia Magno Rocha


Sintetizando a resposta imune, deve-se necessariamente existir um equilíbrio entre a rápida resposta, mas sem causar
dano ao tecido do hospedeiro e sem deixar resquícios da bactéria, porque esses resquícios levam a recorrência do
processo de reinfecções do trato urinário.
Precisa proteger o organismo, reparar, fagocitar rapidamente e resolver toda a situação, o equilíbrio da resposta da defesa
do hospedeiro, porém sem danificar o tecido e sem deixar as bactérias viáveis na forma de bactéria intracelular.

Mecanismo de evasão do sistema imune

Se desenvolve um mecanismo de proteção e a bactéria evolui, tendo a mesma um mecanismo de “burlar”.


Se produz um anticorpo contra uma determinada fímbria do tipo 1 da UPEC e a bactéria deixa de expressar essa fímbria
do tipo 1 para que o anticorpo não reconheça mais a bactéria, deixa de expressar a fímbria para não ser mais reconhecida,
tem um determinado siderófilo e pode deixar de expressar esse tipo e passa a expressar outro para não serem
reconhecidas pelo neutrófilo. São exemplos da uropatogênica, o P. mirabilis faz a mesma coisa, tem um antígeno
* flagelar, que é o FlaA flagelado e para de expressar esse flagelo e já começa a produzir anticorpos, e passa a
expressar o flagelo FlaAB. Tem o receptor MR/P e passa a não expressar mais esse tipo de RP, e ainda produz uma
osprotease que degrada e uma globulina. A bactéria sempre terá formas de atrasar os mecanismos imunológicos
para se evadir da resposta imune.

Resumindo - Fatores de virulência em comum da UPEC e o P. mirabilis

A UPEC e P. mirabilis vão possuir a maioria dos fatores de virulência em comum.


● Evasão imune.
Giulia Magno Rocha
Atrapalha a ação dos neutrófilos, macrófagos. Principalmente os neutrófilos.
● Toxinas.
Produzem toxinas que são tóxicas principalmente a nível de células renais.
● Sideróforos.
Irão produzir siderófilos para captar o ferro do hospedeiro.
● Aderência.
Terão adesinas em forma de fímbrias.
● Motilidade.
São móveis através dos flagelos peritríquios.
- A diferença de uma para outra é que a UPEC tem comunidade bacteriana intracelular e essa não tem no P.
* :
mirabilis. O P. mirabilis tem a urease.

fds

Sintomas das ITUs

Diante de um processo de inflamação, de cistite principalmente, terá a sintomatologia:


● Urina turva ou escura.
● Sangue na urina. -
● Dor na área da pélvis.
:
● Sensação de queimação ao urinar (disúria). ✓

● A urina tem um odor forte.


● Maior urgência para urinar.

Giulia Magno Rocha


Diagnóstico laboratorial

● Urocultura:
Contagem das unidades formadoras de colônia.
< 10.000 Negativo

10.000 - 100.000 Associar com a clínica

> 100.000 Positivo


Orienta como é feita a coleta da urina, que deve ser através do jato médio, assepsia para que se colete uma amostra
significativa.
A região da uretra naturalmente tem bactérias.
● Punção suprapúbica:
Outro tipo de obtenção de urina será pela punção suprapúbica, que é feita em crianças e bebês quando a coleta é muito
difícil, também pode ser feita por bolsas coletoras.
Antes da punção é feita a anestesia no local, antissepsia da pele, introdução de agulha até a bexiga para a retirada da
urina.
Quando for feita a cultura, qualquer tipo de amostra bacteriana é considerada positiva para infecção urinária, porque a
bexiga é estéril. Tem áreas que são normalmente colonizadas por microrganismos, como a região da uretra, canal vaginal,
etc.
A bexiga é estéril, então qualquer microrganismos nessa coleta configura-se como infecção urinária.

Tratamento

● Nitrofurantoína mono-hidratada: mínima indução de resistência e poucos efeitos colaterais.


● Fosfomicida trometamol.
● Fluoroquinolonas, ofloxacina, ciprofloxacina e levofloxacina

Como prevenir as ITUs

● Limpar os órgãos genitais antes e depois do sexo.


O ato sexual e o número de relações sexuais pode carrear, principalmente para mulheres e para homossexuais as
bactérias da região intestinal para a uretra e favorecer as infecções urinárias.
● Urinar imediatamente após o sexo.

Giulia Magno Rocha


O ato de urinar, de forçar a micção, é importante porque lava o canal uretral, diminuindo a população bacteriana que pode
estar presente.
● Lavar o reto diariamente.
Banho após evacuar diminui a chance de ter presença de bactérias na região da uretra.
Usar o papel higiênico sempre de frente para trás, porém o banho é mais indicado.
● Beber muita água.
Se a pessoa beber mais água irá mais vezes ao banheiro e estará limpando o canal uretral, diminuindo a ascendência das
bactérias. O fluxo unidirecional da urina é como se fosse uma barreira mecânica de não ascendência das bactérias.
● Não segurar urina.
Não prender a urina, ir ao banheiro assim que sentir vontade. A presença da urina retida se estiver aliada com algumas
bactérias irá predispor a colonização das bactérias

Giulia Magno Rocha


Aula 10 - Microbiologia
Giulia Magno Rocha

Retrovírus

Família Retroviridae

● Subfamília: Orthoretrovirinae.
● Gênero: Lentivirus.
● Espécies:
- HIV-1 e HIV-2.
São as duas espécies que infectam humanos.
“O HIV-1 é o tipo mais virulento e mais disseminado pelo mundo, enquanto o HIV-2 parece ser menos patogênico.”
(SANTOS; ROMANO; WIGG, 2015)
- BIV.
- FIV.
● Gênero: Deltaretrovirus.
Nesse gênero, a espécie principal de interesse médico é o HTLV-1.
● Espécies:
- HTLV-1, HTLV-2, HTLV-3.
O HTLV-1 faz mais expansão clonal, vírus que a grande maioria dos infectados não manifesta a doença, apenas 5%
desenvolve alguma doença. As duas doenças principais do HTLV-1 são a paraparesia espástica (causa paralisia) e a
leucemia/linfoma de células T do adulto (doença neoplásica).
- HTLV-4/5.
- Vírus da Leucose Bovina (BLV).

Retrovírus em veterinária

Giulia Magno Rocha


Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV

Histórico

● Os primeiros casos de AIDS.


Aconteceram primeiramente nos EUA e Europa, atingiram principalmente homens homossexuais na época.
● Década de 80.
● 1981: AIDS reconhecida como doença.
● Casos de pneumonia rara “PCP” em jovens homossexuais masculinos.
- Pneumocystis carinii - Pneumocystis jiroveci.
● Casos de Sarcoma de Kaposi em homossexuais masculinos.
● 1980-82: primeiro caso de AIDS no Brasil.
● 1983: Isolamento do HIV:
- Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França.
- Robert Gallo, do National Cancer Institute (NCI), nos EUA.
● 1985: Primeiro teste sorológico.
● 1986: Nome HIV.
● 1987: AZT
Surgiu a primeira droga antirretroviral, que é o AZT e esse é inibidor da transcriptase reversa.

Estrutura do HIV

Tamanho: 80-100 nm.


Giulia Magno Rocha
É um vírus envelopado e nesse tem glicoproteínas de superfície do HIV, são os receptores de entrada na célula.
Tem a gp120 (receptor de adesão - se liga ao CD4 da célula-alvo para permitir a ligação do vírus com a célula) e a gp41
(proteína transmembranar - atravessa o envelope do vírus; permite a entrada, a fusão membranar).
Tem a P17, que é a proteína da matriz e p24 é a proteína do capsídeo viral. O capsídeo tem formato cônico, dentro do
mesmo encontram-se duas fitas de RNA idênticas entre si e três enzimas, que são a integrase, transcriptase reversa e
protease (bolinha rosa, laranja e vermelha na imagem).

Genoma do HIV-1

No genoma, no RNA viral encontram-se regiões gênicas que mapeiam o vírus.


● 3 genes principais (estruturais):
As três regiões gênicas estruturais que codificam para as proteínas que estão na estrutura do vírus.
As regiões estruturais são: Env (codifica para as proteínas do envelope, que são a gp120 e gp41), Pol (codifica para as
enzimas, para as polimerases, que são a transcriptase reversa, integrase e protease) e Gag (codifica para as outras
estruturas virais como P17 da matriz, p24 do capsídeo, P7 e P9).
● 6 genes não estruturais:
Codificam proteínas não estruturais, as quais têm função enzimática regulatória e acessória.
- 2 regulatórios.
São o rev e tat, e esses são genes que codificam para enzimas que irão transativar regiões genômicas da célula do vírus,
fazendo com que a célula faça menor transcrição de seu genoma, inibindo a transcrição do genoma celular e aumentando
a transcrição do genoma viral para otimizar a replicação viral.
- 4 acessórios.
São o nef, vif, vpu e vpr.

● 4 acessórios:
São genes que ainda estão em pesquisa e têm tido associações importantes.
- Nef: alteração dos sinais de ativação celular, aumenta progressão para AIDS.
- Vif: infectividade viral.
Algumas mutações na estrutura do gene que o HIV codifica estão relacionadas com maior poder de infectividade viral,
tendo então progressão para a AIDS. Tem pacientes que progridem mais rápido para a AIDS, por exemplo tem o HIV e um
ano depois está com o CD4 diminuído e carga viral aumentada e com AIDS.
- Vpu: aumenta a liberação viral, diminui CD4 na superfície celular.
- Vpr: transporte do DNAc para o núcleo, interrompendo o crescimento celular, interfere na apoptose.

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Diversidade genética do HIV

O HIV é um retrovírus, porque o mesmo tem RNA e apresenta alta taxa de mutações, essas mutações geram a
diversidade.
● Espécies:
- HIV-1.
É a espécie prioritária, é o pandêmico. Mais letal, tem maior gravidade e maior mutação.
- HIV-2.
Raro no Brasil, mais frequente na África e em algumas regiões da Ásia.
● Grupos do HIV-1:
- M (major).
Grupo principal, o pandêmico.
- O (outlier).
Mais raro.
- N (new/ não-M e não O).
- P (mais novo grupo/ Plantier et al, 2009).
Mais restrito na região de Camarões (mulher).
● Grupo M – responsável pela pandemia.
- Dividido em subtipos (A, B, C, D, E F, G, H, I, J e K).
- Formas recombinantes (A/G, A/E, B/F, B/G, C/D, D/F, A/B, B/C etc).

Um paciente com HIV em tratamento antirretroviral vai evoluir para resistência, tendo que posteriormente modificar o
tratamento do mesmo, já que é natural do HIV acumular mutações. Isso acontece principalmente pela transcriptase
reversa, que é uma enzima que o vírus carreia, quando fizer a transcrição do RNA para transformar em DNA existe um
erro e esse vai se acumulando.
Além das mutações naturais da espécie, tem as mutações individuais que acontecem no indivíduo ao longo do tratamento
e da infecção, sendo um dos principais problemas que interfere no desenvolvimento da vacina, porque seria necessário
que a mesma englobasse a diversidade do HIV.

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Enzimas virais

● “Transcriptase reversa:
A TR é uma DNA polimerase que apresenta 3 atividades bioquímicas distintas e sequenciais: síntese da fita de DNA
complementar (DNAc) a partir do RNA viral; degradação do molde de RNA quando associado ao DNA (atividade de
RNAse H); e síntese da fita positiva de DNA utilizando o DNAc como molde.
● Integrase:
Ela promove a integração do DNA viral em um processo de 2 etapas. A IN contém 3 domínios: o domínio aminoterminal
(aa 1-50), onde se encontram 2 resíduos de histidina e 2 de cisteína que promovem a ligação com zinco.
● Protease:
A PR viral é uma proteína composta por 99 aa que é traduzida como parte da poliproteína precursora Gag-Pol. O
mecanismo que ativa a PR viral não é ainda inteiramente compreendido, mas sabe-se que a PR é responsável pelo seu
autoprocessamento, ou seja, pela sua própria liberação da poliproteína precursora.” (SANTOS; ROMANO; WIGG, 2015)

Distribuição geográfica dos subtipos do HIV

● Subtipos no Brasil: B (prioritário), C, F, D e A.

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O tipo que prevalece no mundo é o subtipo B, sendo também o que prevalece no Brasil.

Receptores específicos

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Como o HIV entra na célula? O HIV entra na célula pegando o gp120 (molécula do envelope) e se liga ao CD4, então
tem células do sistema imunológico que expressam CD4, que é o linfócito TCD4, macrófagos, célula dendrítica (esses
expressam CD4). Além do CD4, o vírus também precisa de um co-receptor, que é o CXCR4 ou o CCR5 e esses são os
dois principais co-receptores de entrada. As pessoas que demoram para ter AIDS, por exemplo pessoas que pegam o HIV
e ficam 10-20 anos sem ter alteração imunológica, os pesquisadores descobriram que essas pessoas têm mutações
nos co-receptores, é como se o HIV chegasse no local e não conseguisse entrar tão facilmente na célula dessas
pessoas por conta da mutação; foi mapeada a mutação e conseguiram fazer o primeiro experimento de cura de AIDS
do mundo.

Primeiro caso de cura para a AIDS

● A única cura total da AIDS oficialmente reconhecida:


- Americano – Timothy Ray Brown (2007).
- Conhecido como o Paciente de Berlim.
● Declarado livre do HIV após realizar um transplante de medula óssea:
- Doador: mutação genética no correceptores de entrada CCR-5.
● Transplante necessário x HIV.
● + Leucemia mieloide.
Timothy desenvolveu esse tipo de leucemia.
● Atualmente não faz uso de antirretrovirais e possui ausência de viremia, mais de 5 anos.

Os pesquisadores estavam mapeando as mutações em bancos de medula óssea, pegaram doadores de medula óssea
que tinham a mutação de resistência ao HIV, ou seja, pessoas que já tinham naturalmente essa mutação. Fizeram o
transplante em Timothy com paciente doador de medula mutada, que já tinha naturalmente os correceptores mutantes que
favorecem maior resistência ao HIV. No transplante de medula óssea, a medula do paciente é “morta” e coloca uma nova
medula com a mutação, então o vírus terá dificuldade de entrar em novas células que foram geradas, e com a terapia de
ataque antirretroviral esse paciente curou para o HIV. O mesmo foi monitorado por mais de 5 anos com carga viral 0 e sem
AIDS.

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Entrada do HIV na célula-alvo

or
A classe de drogas mais novas que se tem para tratar o HIV são bloqueadoras da entrada do vírus na célula.
Na imagem tem o receptor CD4 e o correceptor do exemplo é o CCR-5. Aqui a gp120 se liga ao CD4, sofre mudança
conformacional, se liga no correceptor CCR-5 e faz a ligação, a qual é chamada de adesão do vírus ao receptor celular
e depois que adesão acontece, a expressão de domínios da gp41 inicia o processo de fusão.
A gp41 faz a fusão do envelope viral com a membrana da célula, o que vai penetrar no citoplasma é o núcleo capsídeo
viral e vai passar para o citoplasma da célula.

Penetração viral

Tem a gp120 e gp41, ligação do CD4, expressão de domínio e a fusão da membrana para que o vírus possa entrar para o
interior da célula-alvo.

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Quando o vírus entra na célula, o mesmo perde o capsídeo e libera o material genético, tem ação das enzimas
(transcriptase reversa, integrase, protease) e as enzimas que são auxiliares, como a Vpr que vai transportar o DNA
para o núcleo. É DNA porque a primeira etapa é de transcrição reversa, se terá RNA que vai ser transcrito pela
transcriptase reversa viral e essa enzima vai pegar o RNA viral e irá gerar DNA de dupla fita; o Vpr vai pegar o DNA junto
com a integrase e irá transportar através dos microtúbulos, e o DNA copiado do HIV passa para o núcleo da célula. Vem a
enzima integrase e corta o DNA da célula e adiciona o DNA do vírus, gerando o provírus, então a célula passa a ter no seu
genoma o genoma do HIV copiado para DNA, nessa célula não tem mais como eliminar o genoma de dentro da mesma e
a célula vai trabalhar para gerar vírus.

Ciclo de replicação

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Depois que há a integração, haverá transcrição para gerar os RNA mensageiros que vão para o citoplasma no ribossomo
fazer a tradução, na tradução geram as proteínas P19, P17, as proteínas que vão compor a estrutura do vírus, as
enzimas virais e isso tudo vai ser armazenado no citoplasma.
As proteínas gp41 e gp120 vão para a membrana plasmática da célula, porque o vírus brota daí para adquirir o envelope e
o capsídeo vai se organizando e o vírus brota para ser liberado. São milhares de vírus que vão brotar ao longo da
infecção, no processo de organização e brotamento entra em ação a terceira enzima viral, que é a protease. A protease
cliva as poliproteínas para formar a estrutura do vírus, para formar a p17, p24, gp120, gp41 e com isso consegue
“enxergar” na replicação os alvos de ação das drogas antiretrovirais.
Tem-se inibidor de transcriptase reversa e algumas drogas que vão agir nesse local, vão bloquear o ciclo nessa etapa, por
exemplo a AZT (a primeira droga) inibe transcriptase reversa; outras drogas vão agir inibindo a enzima integrase, que é a
integração do genoma viral no genoma da célula hospedeira; tem drogas que inibem a maturação viral, inibindo a protease
→ esses são os 3 principais alvos de drogas antirretrovirais. Mais recentemente se tem inibidores de entrada.
As drogas antirretrovirais são específicas para inibir enzimas ou processos do ciclo de replicação do HIV.

Brotamento

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● Primeira imagem: vírus se organizando para brotar.
● Segunda imagem: brotamento.
● Terceira imagem: vírus já maduro com o capsídeo cônico → a protease age nesse processo de maturação.

Funções da célula TCD4

Um fato importante dentro da patogênese é o papel do linfócito TCD4. Na resposta imune, seja contra vírus, bactérias,
fungos, parasitas, precisa do linfócito TCD4, é como se o mesmo fosse o “general”, porque dá o comando. Como o TCD4
é o principal alvo do HIV, sem essa célula o sistema imune fica sem comando e aí vem a AIDS.
Sem o TCD4 não há o comando através da produção de citocinas, IFN-y, não haverá a sinalização, por exemplo para o
linfócito B se transformar em plasmócito e produzir os anticorpos, não haverá sinalização para o macrófago ser ativado e
gerar subpopulações para fazer a fagocitose (quando ocorrer infecção bacteriana). Então, o paciente com HIV morre
devido a doenças oportunistas, porque a célula TCD4 infectada não exerce mais sua função e ao longo do tempo a
mesma declina; o paciente com HIV ao longo do tempo terá perda do TCD4, não só em relação a função, mas
também de número e a baixa desses linfócitos TCD4 vão gerar as doenças oportunistas.

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Pauperização e Interiorização

Tem sido evidenciado que o maior número de casos tem tido incidência ampliada em indivíduos mais pobres, havendo
pauperização do HIV no Brasil, atingindo classes sociais mais baixas.
Era normalmente uma doença da capital, porém agora é uma doença do interior, tendo aumento do número de casos no
interior do Brasil.

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Heterossexualização e Feminização

Era uma doença basicamente de homossexuais, também era menos frequente em mulheres. Hoje há um número de casos
altos entre heterossexuais, quase na mesma proporção de homossexuais.
Tem-se atualmente uma feminização do HIV no Brasil e no mundo.

Formas de transmissão

● Sexual:
Transmite-se HIV nos fluidos sexuais (sêmen, secreção vaginal).
- Intercurso retal (0,1- 3,0%).
- Intercurso vaginal (0,1 - 0,2%).
- Intercurso oral (0,06-0,1%).
- Oral-vaginal e oral-anal.
● Parenteral (sangue):
- Materiais perfurocortantes.
- Transfusão sanguínea.
“Apesar de esta ser a forma de transmissão menos frequente, é a que possui maior probabilidade de estabelecimento da
infecção após o contato.” (SANTOS, ROMANOS, WIGG)
● Vertical (20-30%):
Se a mãe não fizer nada, tem chance de 20-30% de transmitir para o bebê, mas se fizer o protocolo e seguir todas as
orientações, a chance de transmitir para o bebê é menos que 1%.
- Intra-útero.
Pode afetar o feto em desenvolvimento por transpor a barreira transplacentária.
- Durante o trabalho de parto.
Principalmente durante parto natural.
- Amamentação.
O vírus é eliminado no leite materno.

Disseminação do HIV

Tem a entrada do HIV na célula e isso acontece no momento das vias de transmissão, por exemplo em uma relação
sexual, o HIV nas membranas tem uma resposta imune inata, como as células dendríticas. O problema é que o HIV
também afeta as células dendríticas e essa na porta de entrada apresenta o patógeno no linfonodo para o linfócito
TCD4, chegando lá o vírus vai se disseminar, infectando inclusive as células de memória e se espalha por todo o corpo,
tendo HIV no cérebro e em todo organismo, uma pessoa com HIV não pode nem mesmo fazer a doação de córnea, de
nenhum órgão e tecido por ter risco de transmissão.
O vírus se dissemina via linfática e corrente circulatória para todo o organismo.

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O HIV infecta o linfócito TCD4, macrófagos, células dendríticas, todas as células do sistema imune que possam expressar
CD4, mas a que o HIV mais tem tropismo são os linfócitos TCD4.
Tem-se linfócitos TCD4 ativados que geram partícula viral e tem os TCD4 de memória, que quando o vírus infecta o
genoma, fazem o provírus e coloca o DNA copiado no genoma da célula, e vai dominar o linfócito TCD4.
No tratamento consegue bloquear a replicação, mas no tratamento não identifica provírus, então sempre haverá
reservatório; o tratamento para AIDS tem como objetivo diminuir a carga viral, mas não elimina totalmente o vírus
e nem as células reservatórias.

Resposta imune ao HIV

Na história natural da doença quando tem um paciente que foi infectado no tempo zero, no começo a carga viral fica muito
alta (em vermelho), porque o sistema imune ainda não tem resposta para esse vírus, já que o mesmo é novo, então
explode a replicação e começa a ativar a resposta imune adquirida, produzindo anticorpos, ativando linfócitos TCD8, TCD4
e começa a se ver os anticorpos. A carga viral reduz quando se tem uma resposta específica.
Quando tem o início da infecção, tem um vírus que é apresentado e esse é o período de janela imunológica (janela de
soroconversão), por exemplo se uma pessoa suspeitar que pode ter se infectado e for recente (por exemplo 7 dias) a
possível infecção, serão feitos exames, porém o mesmo terá que repetir, porque pode estar na janela imunológica que fica
entre 4-8 semanas, ou seja, tem até 8 semanas para positivar no exame. O exame pesquisa principalmente anticorpos
e antígenos. Nesse período de janela imunológica pode dar falso negativo, então precisa orientar e monitorar o
paciente mesmo que dê negativo nesse período, dependendo da situação pode até ser orientado um PEP, uma
profilaxia pós-exposição.
No momento de soroconversão terão anticorpos e uma fase de latência clínica, clinicamente a pessoa que tem HIV pode
não saber, sendo a fase aguda oligossintomática, pode por exemplo estar com a garganta doendo e dor de cabeça e ser o
HIV. A fase aguda não tem como identificar.
Passada a fase aguda entra em latência clínica, que é em média de 2-12 anos; na latência clínica o paciente estará bem,
mas o corpo do mesmo está “lutando” contra o vírus e nesse período a carga viral aumenta e diminui, enquanto o sistema
imune estiver bem atuante a viremia ficará baixa. Na fase de latência clínica o paciente transmite o vírus? Transmite.
Se a pessoa não for diagnosticada na fase de latência, chegará o momento que terá AIDS, que será a falência da resposta
imune do mesmo, tendo depleção dos linfócitos TCD4, dos níveis de anticorpos e um aumento da carga viral do mesmo,
vindo então as doenças oportunistas. Se a pessoa for diagnosticada vai tratar e entrar na fase de latência clínica
novamente; o paciente em latência clínica tratando ou não pode transmitir o vírus, não existe latência viral em HIV, a

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pessoa tem picos de replicação mesmo com a carga viral indetectada, pode ter viremia com liberação de vírus em
secreções e transmitir.
*Quando o paciente está em latência clínica sem tratamento a chance de transmitir é maior do que quando está em
latência clínica em tratamento.

Monitoramento do paciente HIV+

● Determinação da carga viral.


● Contagem de células TCD4+.
● Risco de infecções x Contagem de células TCD4.

Quando dosa linfócito TCD4 na falência do sistema imune o mesmo vai para menos de 500, com essa baixa começa a se
observar no paciente as doenças oportunistas. Como herpes recorrente, candidíase esofágica, tuberculose, câncer, etc
que podem aparecer na fase que caracteriza a AIDS.

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Às vezes o paciente é diagnosticado pela alteração na língua, que é a leucoplasia pilosa e é uma alteração do epitélio da
língua que acontece na replicação do Epstein-Barr vírus quando o paciente tem HIV, sendo um achado clínico que se pede
sorologia para HIV.
Paciente adulto com candidíase oral recorrente se pede a sorologia para HIV, assim como pneumocistose e sarcoma de
Kaposi.

Caquexia

Hoje em dia não se vê tanto a caquexia, consegue-se com a terapia antirretroviral ter uma vida normal com HIV. Sendo o
HIV conhecido hoje como uma doença crônica, porque tem tratamento.

Diagnóstico laboratorial

● Cultura viral.
Nesse caso não é para acompanhamento médico, mas sim para pesquisa.
● Detecção de antígenos virais.
Tem associação de anticorpos mais antígenos que aumentam a sensibilidade do método.
● Detecção de anticorpos.
Para acompanhamento médico se faz principalmente anticorpos.
● Detecção do genoma viral.
Para monitorar a carga viral, detecção do genoma e determina as cópias virais no sangue do paciente.

Cultura Viral

A cultura viral é muito cara e tem pouco uso, sendo mais voltada para pesquisa e desenvolvimento de vacinas.
● Cultura de células mononucleares do sangue periférico:
- Atividade da transcriptase reversa.
- Produção de antígeno p24 nos sobrenadantes.
● Custo elevado:
- Laboratório com elevado nível de segurança.

Diagnóstico sorológico

● Primeira etapa (triagem):


- Ensaios imunoenzimáticos (Elisa).
- Testes rápidos e simples.
● Testes confirmatórios:
- Teste de Imunofluorescência Indireta (IFI).
- Western-Blot (“Padrão ouro”).
É o principal confirmatório.

Testes de triagem

● Ensaios imunoenzimáticos (Elisa):


- Elevada sensibilidade e especificidade.
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- Baixo custo e fácil execução.
- Detecta anticorpos anti-HIV-1 e anti-HIV-2.
➢ Testes de 4ª Geração (Ac + Ag).
O de 4ª geração é o melhor, porque detecta anticorpo e antígeno e consegue detectar precocemente o paciente que está
no início da infecção.
● Testes rápidos e simples:
Tem menor sensibilidade que o Elisa de 4ª geração, mas é bom para triagem em locais que não têm automação e precisa
de resultado rápido.
- Não necessita de automação.
- Indicado em casos especiais.

Testes confirmatórios

● Western-Blot (“Padrão ouro”).


● Imunofluorescência indireta (IFI).
● Teste molecular (RT-PCR).

Testes moleculares

● PCR/Nested-PCR.
● PCR em tempo real.
● Genotipagem.
● Controle do tratamento:
- Carga viral.
Tem grande importância quando se detecta a carga viral do paciente, para monitorar o tratamento, por exemplo.
- Resistência a drogas.

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Os testes de 4ª geração apresentam menor janela imunológica, porque são mais sensíveis e detectam anticorpos e
antígenos.
Western Blot tem janela imunológica de cerca de 2 meses.
O teste molecular tem a menor janela, sendo a mais precoce, porque vai detectar o RNA viral.

São os testes que podem ser utilizados para detectar o vírus.


Qual o teste que pode detectar o vírus mais precocemente no corpo de um indivíduo infectado? O RNA, em 1-2
semanas, consegue detectar o RNA do HIV.
O ELISA de 4ª geração pega antígeno, IgM e IgG.

Controle

● Bancos de sangue.
É importante a triagem no banco de sangue, questionário epidemiológico.
● Doação de órgãos e tecidos.
● Pré-natal.
● Antirretrovirais.
● Campanhas publicitárias.
● Crescente utilização de preservativos.

PEP = Profilaxia pós-exposição


PREP = Profilaxia pré-exposição

Para prevenção também tem no Brasil a disposição pelo SUS do PEP e PREP.
● O PEP é uma profilaxia pós-exposição; por exemplo um médico faz uma cirurgia e se fura com agulha e o
paciente é HIV positivo, essa pessoa que se furou irá receber um coquetel chamado de PEP, que tem como
objetivo fazer a prevenção para que o vírus não entre no sistema imune e se elimine qualquer vírus que esteja

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circulando porque houve exposição. Para fazer o PEP tem que ter uma notificação da exposição, e o SUS libera o
monitoramento com exames, coquetel para que a pessoa seja acompanhada.
● A PREP é a profilaxia pré-exposição; por exemplo, se tem um casal e um deles tem HIV, o que se pode orientar
é fazer um PREP e reduzir o risco de transmissão se fizer a profilaxia pré-exposição. São utilizadas drogas
antirretrovirais, no Brasil é utilizada a Truvada (Emtricitabina + Tenofovir) e essa tem efeito tóxico menor que um
coquetel, mas o paciente terá que utilizar a vida toda enquanto se relacionar com a pessoa que tem o HIV.

Alvos para terapia antiviral

Tem-se os alvos das drogas antirretrovirais.


● Tem-se a transcriptase reversa, podendo ter drogas que inibem a transcrição reversa e assim o DNA não será
gerado.
● Tem drogas que agem inibindo a integração do genoma viral com o genoma da célula, inibindo a enzima
integrase.
● Tem também o alvo das drogas inibidoras da maturação viral da protease, inibindo a protease.

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Sendo esses os três alvos principais.
● Recentemente, tem-se as drogas inibidoras da entrada do vírus na célula; antagonista de CCR-5 e de gp41.
Sendo esse o quarto alvo e tem as drogas mais caras, é de uso restrito, sendo utilizado quando não tem mais
condição de tratar o paciente com as anteriores.

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Aula 11 - Microbiologia
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Enterobactérias

*DTA (doença transmitida por um alimento).

As DTAs são vinculadas ou pela ingestão de algum alimento (carne, frango, peixe, alimentos processados, alimentos à
base de ovo) ou água, por água contaminada.
Tem vômitos e diarreias, onde tem perda de líquidos, desidratação do corpo, perda do funcionamento normal de toda a
resposta e desenvolvimento normal das funções celulares que ficam comprometidas com o quadro repentino de diarreias,
que principalmente o público mais jovem sofre, daí tem mortalidade infantil, principalmente em países subdesenvolvidos
como o Brasil (alta taxa de mortalidade infantil), porque ainda existem muitas áreas sem saneamento básico e nesses
locais as pessoas têm acesso a esgoto aberto, a vários patógenos, falta de encanamento de água potável, tendo
contaminações de alimentos e água, e isso tudo leva ao surgimento da transmissão desses agentes.
Os principais agentes causadores, são bactérias, vírus, por exemplo tem o rotavírus (comum em crianças, causa
gastroenterite), hepatite A (fecal-oral), protozoários, etc. Quando se refere a DTA, se pensa logo em bactérias, não só
da família Enterobacteriaceae, mas de outras bactérias também.
Sintomatologia: depende muito da susceptibilidade e do organismo do hospedeiro de manifestar ou não. Por
exemplo, os indivíduos imunocompetentes apresentam quadros leves de alguns dias e outros não, se deve fazer sempre
reidratação. Em indivíduos muito idosos e muito jovens são os mais preocupantes, porque a desidratação, recorrência de
vômitos e diarreias causa preocupação e pode levar a óbitos. A depender do microrganismo envolvido, pode levar a casos
de diarreias com sangue, colite hemorrágica (inflamação do cólon) e até algumas insuficiências renais, como no caso da
infecção pela E. coli enterohemorrágica pode causar a síndrome hemolítica urêmica.

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É um assunto que ainda deve se discutir bastante e desenvolver políticas públicas mais firmes, mais vinculadas
principalmente a nível dos países em desenvolvimento, infraestrutura mais generalizada para toda população a nível de
saneamento básico.

Causas dos surtos de DTA

Por que surgem as DTAs? Não é só a falta de saneamento, vinculando a parte hídrica que possibilita fácil contato com os
patógenos; mas também tem a ver com a conservação do alimento, temperatura de cozimento, armazenamento correto,
prazo de validade, seleção de bons alimentos, o não reaproveitamento de um alimento que possa estar estragado,
contaminação cruzada (utilizar um tipo de alimento e ao mesmo tempo e no mesmo local utilizar outro alimento),
manipulação errada sem as práticas antissépticas, o manipulador também é um grande veiculador de patógenos.

Giulia Magno Rocha


DTA

Para o surgimento da DTA vai ser preciso o microrganismo patogênico (responsável por causar a gastroenterite), é preciso
que o microrganismo tenha a capacidade de se multiplicar, colonizar e se tornar viável no alimento e essas condições de
sobrevivência a uma temperatura que não foi empregada corretamente, a quantidade de água presente no alimento, o pH
do alimento, encontrando no alimento condições favoráveis para a multiplicação e ainda precisa de um hospedeiro
suscetível relacionada com a resposta imune.
*Tudo está relacionado à resposta imune do hospedeiro, às vezes um indivíduo está mais convalescido
imunologicamente e consegue resolver a situação do processo inflamatório a nível de enterócitos. Não necessariamente
porque, por exemplo, uma pessoa ingere um ovo cru com Salmonella que vai desenvolver, necessitando então que o
indivíduo também esteja suscetível para que tenha como resultado as DTAs.

Perfil epidemiológico

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Em primeiro lugar tem os alimentos mistos (mistura de várias origens), em segunda posição vinculado através da água
contaminada e de fonte não confiável, seguido de múltiplos alimentos, leite e derivados, tem ovos e produtos à base de
ovos.

A principal é a E. coli e em segundo lugar a Salmonella, seguida por Staphylococcus aureus (muito relacionado a
alimentos manipulados).
Família Enterobacteriaceae

● Enteropatógenos clássicos (diarreias):


- E.coli (EPEC,ETEC,EHEC,EAEC, EIEC).
A E. coli tem várias linhagens, divididas em linhagens que causam doenças extraintestinais e as doenças intestinais
(intestino delgado ou intestino grosso) e a depender da linhagem envolvida, tem fator de virulência, um mecanismo de
patogênese que resulta em uma diarreia diferente (com muco, com muco e sangue, aquosa, ou com predileção por afetar
o intestino delgado e outras pelo intestino grosso). Dessas linhagens, umas serão mais sérias e em outras o quadro clínico
será mais brando.
- Salmonella.
- Shigella.
A Shigella dysenteriae causa disenteria bacilar.
- Yersinia enterocolitica.
Causa disenteria principalmente por conta da ingestão de carne de frango e de porco, porque ela vive normalmente nas
fossas nasais dos suínos.

Fatores de virulência em comum as enterobactérias


/
enche o exotoyivres
“As enterobacteriáceas são bacilos Gram-negativos cujas células apresentam membrana citoplasmática, espaço
periplásmico, peptideoglicano ou mureína e membrana externa. A maioria apresenta filamento flagelar que nasce
no citoplasma e muitas possuem cápsulas ou estruturas tipo capsular conhecidas como antígenos K. A membrana
externa contém o LPS, porinas e diferentes tipos de fímbrias. Diferentes tipos de plasmídios são transportados por
muitas amostras. O cromossomo é único e circular.” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)
● LPS (endotoxina - lipídio A).
● Cápsula.
● Sideróforos.
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Agentes quelantes do ferro, que captam o ferro das células do hospedeiro.
● Variação de fase antigênica.
Capacidade de o microrganismo expressar ou não alguns fatores de virulência, como mecanismo de burlar a resposta
imune. É uma regulação gênica.
● Sistema secretório tipo III.

Fatores de virulência

● Sistema de secreção tipo III:


É um canal feito de proteínas.
Todas as enterobactérias projetam as proteínas que vão funcionar como um canal de conexão entre a membrana externa
da bactéria com a membrana do hospedeiro. Vai transportar os fatores de virulência para dentro da célula do hospedeiro,
esses fatores de virulência podem apresentar várias funções, como por exemplo, o rearranjo do citoesqueleto celular. As
enterobactérias fazem muito isso, porque a forma da célula é feita através de filamentos de actina e as pode utilizar
causando rearranjo dos filamentos e mudando a forma da célula, isso pode favorecer um englobamento da bactéria para
dentro da célula, dentro do enterócito (a nível de intestino). Então, o sistema secretório funciona como se fosse uma
seringa/canal para a injetar os fatores de virulência da bactéria dentro das células do hospedeiro.
- Injeta proteínas efetoras no citosol da célula hospedeira.
- Rearranjo do citoesqueleto celular.

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Classificação da Escherichia coli

● De acordo com a patogenia:


- Diarreiogênicas:
➢ EPEC: enteropatogênica.
➢ EHEC: enterohemorrágica.
➢ ETEC: enterotoxigênica.
➢ EAEC: enteroagregativa.
➢ EIEC: enteroinvasiva.
Cada linhagem de E. coli apresenta diferentes fatores de virulência, fazendo com que a patogênese de cada linhagem seja
diferente também. Macroscopicamente isso vai levar a um tipo diferente de diarreia também.

Patogênese

Enteropatogênica - EPEC:
● A bactéria se adere ao epitélio do intestino, forma microcolônias e destrói as microvilosidades.
Os enterócitos tem microvilosidades que captam os nutrientes, absorvem água para as células intestinais.
A bactéria começa o processo de colonização na superfície do enterócito, através de fímbrias e no caso da EPEC vai
projetar o seu sistema secretório tipo III para injetar suas proteínas.
“Depois de ultrapassar a barreira gástrica, as EPEC aderem às mucosas dos intestinos delgado e grosso, inicialmente de
um modo mais superficial e, posteriormente, de modo mais íntimo, sendo o fenômeno de aderência multifatorial.”
(TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)
“Há relatos de que infecções severas por EPEC levam a uma total destruição do epitélio absortivo intestinal, com marcante
atrofia vilositária e afinamento da camada mucosa. Sabe-se, no entanto, que além da lesão AE, muitos outros fatores
agem em conjunto para levar aos sintomas da diarreia, como alterações no transporte de íons e água, a abertura das

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junções oclusivas entre os enterócitos, desarranjo do sistema de enzimas digestivas/absortivas (com redução de atividade
enzimática) bem como a própria inflamação (edema e infiltrado de neutrófilos) na mucosa intestinal.” (TRABULSI;
ALBERTHUM, 2015)

● Intimina - modificações do citoesqueleto de actina - destruição das microvilosidades.


O sistema secretório tipo III da EPEC, projeta duas importantes proteínas, que é a Intimina e Tir, que são receptores, um
é o receptor do outro (um se liga ao outro), causando uma junção entre a bactéria e a membrana celular do enterócito.
A intimina tem ação de destruir as microvilosidades do enterócito, faz rearranjo do citoesqueleto, reorganiza os
filamentos de actina, perdendo as microvilosidades. O local onde a bactéria se conecta no enterócito vai destruir as
microvilosidades e isso dificulta a captação da água, reabsorção dos nutrientes e eles vão passar, tendo então pela EPEC
uma diarreia aquosa.

Quando causa a destruição das microvilosidades, a estrutura é chamada de formação de pedestal, não é algo realizado
apenas pela EPEC.

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● A diarreia é aquosa e ocorre geralmente em crianças pela diminuição da absorção de eletrólitos.
● Diarreia em todas as espécies de animais e seres humanos.
● Não produzem toxinas.
A EPEC não produz toxinas, é mais por ação de proteínas que se conectam na parede da membrana celular do enterócito
que leva a lesão típica, que é o esfacelamento.
● Lesão intestinal típica – esfacelamento.
Tem predileção pelas células do intestino delgado.

Enteroagregativa - EAEC:
● Formação de uma biopelícula (biofilme) sobre os enterócitos.
Forma inicialmente o biofilme; não tem característica de fazer o rearranjo do citoesqueleto, a mesma se conecta e injeta
várias toxinas.
● Produz várias enterotoxinas.
As citotoxinas causam dano à célula, a qual começa a produzir citocinas para causar recrutamento de neutrófilos,
ocorrendo processo inflamatório a nível de superfície do enterócito mais significativo do que na EPEC. Tem hipersecreção
de muco, por exemplo, para tentar liberar a bactéria.
● A diarreia com presença de muco ocorre geralmente em crianças e são persistentes.
Diarreia com presença de muco, porque vai apresentar processo inflamatório mais considerável.
“Adultos e crianças são suscetíveis a infecções intestinais causadas por EAEC, e a doença típica é manifestada
por diarreia secretora, mucoide e aquosa, com período de incubação curto, pouca febre e, eventualmente, vômito.”
(TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)

Enteroinvasiva - EIEC:
● A bactéria se adere, invade e destrói as células epiteliais.
Causa um dano mais sério, porque destrói as células epiteliais dos enterócitos.
● Causa diarreias com muco e sangue (disenteria) e aquosas.
● Enterotoxina codificada em um plasmídio.
A enterotoxina produz uma enterotoxina que é codificada no DNA plasmidial.
● Doença invasiva:
- Aderência às células do cólon.
- Captação para o interior da célula.
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Tem predileção pelas células do intestino grosso.

Causa rearranjo do citoesqueleto, tendo a formação do pedestal, a mesma também forma um vacúolo e pega os
filamentos de actina e tem receptores para esses filamentos e os utiliza para acelerar o processo de invasão, processo de
invasão lateral, causando a morte para os enterócitos e causam danos às células endoteliais, terá processo inflamatório
considerável, por isso a presença de muco e como causa lesão nos capilares, também vai ter sangue, causando
disenteria.

Enterohemorrágica - EHEC:
● Baixa dose infectante (<100 bactérias).
É a mais infectante, mais virulenta, apresenta baixa dose de infecção, e é muito agressiva.
Não tem predileção somente por enterócitos, possui receptores para o endotélio, para as células dos capilares, como
também para as células a nível renal.
Causa a síndrome hemolítica urêmica por insuficiência renal.
● Produção de verotoxinas – Toxina Shiga.
No processo inicial de colonização, pode levar a formação dos pedestais devido ao rearranjo do citoesqueleto, porém ela
produz uma importante toxina que é chamada de verotoxina ou toxina Shiga (semelhante à toxina da Shigella), essa
toxina é bastante danosa não só para os enterócitos, mas também causam mortes nas células dos capilares, endoteliais e
renais. É bem tóxica tanto para os enterócitos quanto para células endoteliais e renais.
● Causa desde diarreias leves até colite hemorrágica.
Na infecção pela EHEC, no início desenvolve diarreia leve, mas pode levar a casos de colite hemorrágica (inflamação do
cólon).

Escherichia coli O157:H7


É a mais conhecida da EHEC, é vinculada principalmente pela ingestão de alimentos mal cozidos (principalmente
carnes).
● Origem alimentar.
● Só afeta humanos.
● Identificada em 1982 durante surto de diarreia sanguinolenta.
Pela ingestão de hambúrgueres, ficou conhecida como doença do hambúrguer.
● Ingestão de carne mal cozida.
A EHEC está dentro do trato gastrointestinal dos bovinos.
● Água contaminada.
● Produtos vegetais contaminados.
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Em 2011, na Alemanha, mais de 3.000 pessoas desenvolveram gastroenterite por EHEC, mas foi transmitida por broto de
feijão.
Não se limita apenas aos enterócitos, atinge também a circulação sanguínea e causa lesões, também vai a nível de
rim causando a síndrome hemolítica urêmica.

Enterotoxigênica – ETEC:
● Diarreia infantil em países subdesenvolvidos.
● Diarreia do viajante.
É uma gastroenterite que causa uma diarreia conhecida como diarreia dos viajantes, é muito ligada a países
subdesenvolvidos, causando uma diarreia aquosa.
● Transmissão oral-fecal
● Patogênese:
- Colonização do intestino delgado (CFAs).
- Enterotoxina LT e enterotoxina ST (codificadas por plasmídeos).

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A ETEC produz duas importantes toxinas, a enterotoxina ST (termoestável) e a LT (termolábil), as duas levam a uma
alteração do metabolismo celular, hipersecreção de eletrólitos, dando origem a uma diarreia aquosa.
Essas duas enterotoxinas são produzidas por DNA plasmidial.
- Perda de água e eletrólitos.
- Diarreia aquosa.

Patogênese da ETEC

“O mecanismo de patogenicidade das ETEC compreende basicamente a colonização da mucosa intestinal e a produção
de enterotoxinas. A colonização está relacionada à capacidade desta bactéria em aderir a receptores específicos
presentes na superfície do epitélio intestinal através de estruturas que foram denominadas genericamente de fatores de
colonização (CFs).” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)

Causa desequilíbrio no metabolismo, tem aceleração na quebra dos agentes e hiperprodução de AMPcíclico e de
monofosfato de guanosina, tem hipersecreção de alguns sais, levando a diarreia aquosa pela ETEC.
● LT (termolábil):
- Ativa a adenilciclase.
- Resulta em aumento de AMPcíclico (AC).
● ST (termoestável):
- Ativa guanilato ciclase (GC).
- Resulta em acúmulo de monofosfato de guanosina cíclico (GMP cíclico).
“As enterotoxinas LT e ST produzidas por ETEC compreendem duas grandes famílias de toxinas de natureza proteica que
diferem quanto a sua tolerância à temperatura, estrutura, imunogenicidade e mecanismos de ação. A termolabilidade está
relacionada à perda da atividade tóxica após aquecimento a 100º C durante 30 minutos, enquanto a termoestabilidade
significa a manutenção da atividade da toxina nestas condições. Algumas amostras de ETEC são capazes de produzir as
duas toxinas, enquanto outras produzem apenas uma delas.” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)

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Resumindo: Tipos de cepas de E. coli de acordo
com seus mecanismos de patogenicidade

● Enterotoxigênicas – ETEC:
- Produzem enterotoxinas que causam a perda de cloro e água do intestino delgado resultando em diarreia
aquosa.
● Enteropatogênicas – EPEC:
- Destroem as microvilosidades normais das células epiteliais do intestino delgado resultando em má absorção e
diarreia também aquosa.
● Enteroagregativa – EAEC:
- Forma uma biopelícula (biofilme) sobre as células do epitélio intestinal e secreta diversas enterotoxinas. Diarreia
com muco.
● Enteroinvasoras – EIEC:
- Invadem e destroem células epiteliais do intestino grosso causando uma síndrome do tipo disenteria com muco e
sangue.
● Enterohemorrágicas – EHEC:
- Tais como E.coli 0157:H7, produzem toxinas que destroem células epiteliais do intestino grosso causando colite
hemorrágica, uma diarreia sanguinolenta.

Família Enterobacteriaceae

● Gênero Salmonella não fermenta lactose.


*A E. coli fermenta lactose.
Acredita-se que só existem duas espécies Salmonella enterica (tem seis subespécies) e a Salmonella bongori (não
infecta humanos e nem animais, não tem importância clínica). É uma bactéria muito importante, causadora de DTAs, de
gastroenterites.

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“O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e consiste de bacilos Gram-negativos, não formadores de
esporos. Esses micro-organismos são anaeróbios facultativos, geralmente móveis por flagelos peritríquios." (TRABULSI;
ALBERTHUM, 2015)
- Febre tifoide (S. Typhi).
Doença sistêmica.
A S. Typhi tem transmissão mais fecal-oral.
- Enterites (S. Typhimurium).
Transmissão principalmente de origem alimentar.
● “Salmonella” - Dr. Daniel Elmer Salmon, médico veterinário americano, que isolou a cepa Choleraesuis do intestino
de um suíno em 1885.

Estrutura antigênica básica

● Somático (Antígeno O) - LPS.


- 67 variações antigênicas.
“O LPS pode ser considerado um fator de virulência, pois parece proteger a bactéria da ação letal de defensinas e também
do complemento. As longas cadeias laterais do antígeno.” (TRABULSI; ALBERTHUM, 2015)
● Capsular – antígeno Vi.
É uma cápsula mais potente, a mesma permite a bactéria invadir de maneira mais eficaz os neutrófilos, impedir o
recrutamento dos neutrófilos e impedir a ação do sistema complemento.
“Consiste no principal antígeno de superfície de S. Typhi, protegendo a bactéria dos mecanismos da imunidade inata do
hospedeiro. Ele impede a opsonização mediada por anticorpo e aumenta a resistência da salmonela à ação do sistema
complemento. O antígeno Vi é codificado por uma ilha de patogenicidade denominada de SPI-7.” (TRABULSI;
ALBERTHUM, 2015)
- Salmonella Typhi.
É de infecção humana.
Para essa Salmonella é muito importante ter o antígeno Vi na cápsula, porque causa a febre tifoide, que é uma doença a
nível sistêmico.
- S. Paratyphi.
É de infecção humana.
- S. Dublin.
Típico de aves.
● Flagelar – antígenos H.
Serve como mecanismo de evasão do sistema imune.
- Fase 1.
- Fase 2 (genes H1 e H2 responsáveis por esta variação).
- A Salmonella expressa antígeno de fase diferente para escapar do sistema imune.
A Salmonella pode expressar variação de fase 1 ou de fase 2, pode também expressar as duas ao mesmo tempo e isso
tudo leva a um mecanismo de escape para driblar a resposta imune do hospedeiro.

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A diferença entre as duas é basicamente a cápsula.
A S. Typhi apresenta uma cápsula mais robusta, a qual vai favorecer a permanência da bactéria sem ser reconhecida a
nível de intestino, a nível de GALT (parte de resposta imune intestinal) para que a bactéria possa atingir a circulação
sanguínea, que possa atingir os linfonodos mesentéricos, porque a bactéria quer ir para outros sítios, como para o fígado,
baço, causando uma patologia que é a febre tifoide, que é uma doença mais sistêmica.
A S. Typhimurium causa enterite, inflamação a nível do intestino.

Ilhas de patogenicidade

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Uma característica importante da Salmonella a nível da composição genética, a expressão dos genes relacionados à
patogênese é que existe uma concentração desses genes relacionados a fatores de virulência em determinadas áreas do
cromossomo, essas concentrações de fatores de virulência são chamadas de ilhas de patogenicidade (tem vários tipos
de ilhas) e vão expressar genes relacionados aos fatores de virulência. Na literatura estão mais documentadas as ilhas de
patogenicidade de 1 a 5, mas hoje já se documentaram mais outros tipos.
As ilhas são regiões genômicas do cromossomo que estão concentradas os fatores de virulência das
Salmonellas.

Proteínas secretadas

Na imagem o “T” representa o sistema secretório que foi expresso pela ilha de patogenicidade tipo 1.
A bactéria expressa várias proteínas, Sip ou Sop.
Essas proteínas têm ação de maneira generalizada no rearranjo do citoesqueleto, no recrutamento de neutrófilos, no
processo inflamatório dentro de um macrófago, mas principalmente a ação delas é no rearranjo do citoesqueleto.

A Salmonella não produz toxinas, ela libera proteínas que levam a alterações dentro do enterócito, como um
rearranjo do citoesqueleto, ativação de fatores de transcrição que induz a produção de citocinas, mas isso não é
tóxico para a célula.

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Patogênese

A Salmonella expressa o sistema secretório tipo 3 para liberar as proteínas, causando rearranjo do citoesqueleto, leva
ao enrugamento da membrana citoplasmática do enterócito, que é chamado de Rufus, levando a um englobamento da
bactéria, ela é endocitada e fica dentro de um vacúolo, chamado de vacúolo que contém a Salmonella.
Começa a ter suas ações, sendo fagocitada por macrófagos, apresentada através da célula M, que é uma célula
importante a nível de intestino, como célula apresentadora de antígeno; fagocitada pelo macrófago e esse sinaliza que tem
algo errado e produz citocinas, então começa um recrutamento de células do sistema imune e o surgimento de um
processo inflamatório. Isso no caso de Salmonellas não-tifoides (exemplo: Salmonella typhimurium).

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● Salmonella spp. – Exposição pela via oral.
Há a ingestão das Salmonellas, as quais expressam o sistema secretório tipo 3, liberando suas proteínas, ativando o
sistema imune a nível de enterócito, no caso as cepas não-tifoides.
As características das cepas não-tifoides, é induzir processo inflamatório significativo, que resulta em diarreia, essas cepas
se evadem graças a cápsula Vi, porque vão migrar para outros tecidos, favorecendo sua disseminação.
- Período de incubação: 12 a 72h.
Período de incubação desde a ingestão até a manifestação clínica: de 12h a 72h (S. Typhimurium).
1. Resistência ao baixo pH gástrico.
2. Invasão das células M.
3. Salmonellas não-tifoides induzem inflamação local e diarreia.
4. Salmonellas tifoides migram para outros tecidos.

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Patogênese da S. Typhimurium

A bactéria fica viável no enterócito, no GALT estimulando o recrutamento de neutrófilos, macrófagos e isso gera
inflamação - diarreia.

Patogênese da S. Typhi

● Salmonella Typhi (tem a cápsula Vi) -


- Causa infecção sistêmica - Febre tifoide.
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1. Ausência ou pouca inflamação.
Porque não recruta muitos neutrófilos e nem macrófagos, conseguindo permanecer às vezes, por exemplo, viável dentro
do macrófago.
A mesma se for fagocitada por macrófagos e ficando “quieta” no local, se evade, por exemplo, para os linfonodos e atinge
a circulação sanguínea, podendo atingir outros sítios como o baço, fígado, causando hepatomegalia e esplenomegalia,
uma doença mais sistêmica, diferentemente da S. Typhimurium.
2. Fagocitose.
3. Linfonodos mesentéricos.
4. Vasos sanguíneos.
5. Fígado.
6. Baço.

Infecções por Salmonella

● Enterocolite (S. Typhimurium):


- Invasão do epitélio do intestino delgado e grosso, inflamação e diarreia.
- Febre, dores abdominais e vômitos.
● Febre tifoide (S.Typhi):
- Infecção inicia-se no intestino delgado com poucos sinais gastrointestinais.
- Ocorre multiplicação bacteriana nos fagócitos das placas de Peyer - bacteremia - febre.
- Mal-estar, prostração, aumento do fígado e baço.
Causa uma doença mais sistêmica.

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Epidemiologia das salmoneloses

● A entrada sistemática de animais portadores e excretores de Salmonella nos frigoríficos é a maior causa
de contaminação dos produtos cárneos.
Na hora da abertura da carcaça, da cavidade abdominal pode ocorrer a contaminação da carcaça com conteúdo
gastrointestinal.
● As mais frequentes fontes animais são frangos e ovos.
- Ovos podem ser infectados no ovário da galinha.
A bactéria tem predileção principalmente pela gema do ovo.
O aparelho genitourinário e gastrointestinal das aves tem uma única abertura, que é a cloaca, sai tanto o ovo quanto as
fezes. Se a ave estiver infectada, como o aparelho ovopositor e intestinal está junto, é muito fácil ocorrer a transmissão, a
qual pode ser tanto a nível de casca quanto na hora da maturação e formação desse ovo, podendo ocorrer a transmissão
direta para a gema.
A Salmonella é muito sensível, ela morre facilmente, basta fritar o ovo ou cozinhá-lo. Não é resistente a altas
temperaturas.

Diagnóstico

1. Suspeita - Fezes.
● Cultivo e isolamento (Fermenta Lactose).

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● Teste de aglutinação em lâmina com anti-soro.
2. Anticorpos marcados com fluoresceína.
● Mais confiável.
● Esfregaço + anti-soro marcado.
3. Enterotoxinas ST e LT:
● ELISA: detecta a presença de toxinas.
Diagnóstico imunológico.
● PCR: detecta os genes da bactéria.
Diagnóstico molecular.

Diz quem é lactose positivo ou negativo.


A Samonella é lactose negativa.

Tratamento

● Tratamento de suporte para as gastroenterites (reposição de fluidos e sais).


● Cefalosporinas de terceira geração e as fluoroquinolonas.
Raramente se utilizam antibióticos, só em casos mais severos, como internação ou em casos que atingem a corrente
sanguínea, bacteremia.
Quando precisa utilizar antibióticos, normalmente utiliza cefalosporinas e fluoroquinolonas, mas principalmente no caso da
febre tifoide.

Prevenção

● Lavar bem as mãos.


● Manipular corretamente os alimentos.
● Tempo de cozimento correto.
● Temperatura correta.
● Armazenamento correto.
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Conceitos importantes

● Intoxicação do sistema digestivo:


- Doença causada pela ingestão de uma toxina já produzida no alimento.
- Aparecimento rápido de sintomas (poucas horas).
- Ausência de febre.
Tem intoxicação quando ingere toxina pré-formada no alimento; o alimento produz a toxina e é essa que vai causar a
gastroenterite, por isso que os sintomas são rápidos.
● Infecção do sistema digestivo:
- Crescimento microbiano ocorre dentro do sistema digestivo.
- Maior demora no aparecimento de sintomas (muitas horas até dias).
- Presença de febre.
Na infecção alimentar vai ingerir a bactéria, a mesma vai chegar no tubo digestivo e causar o transtorno, produzindo
proteínas e enzimas, causando a sintomatologia, por isso demora mais.
Na Salmonella tem a infecção alimentar.

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Aula 12 - Microbiologia
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Papilomavírus Humano (HPV)


É um oncovírus, está associado a transformação celular e desenvolvimento de câncer em humanos, sendo de alta
importância médica.

Taxonomia e Aspectos Gerais

● Família: Papillomaviridae.
Abrigam várias espécies que circulam em diversos animais.
● Gênero: Papillomavirus.
● Espécie: Human Papilloma Virus (HPV).
● Tipos: > 100.
Mais de 100 genótipos que circundam os humanos.
- 60% dos genótipos do HPV têm tropismo por pele.
Tem tropismo por pele queratinizada e está associada a verrugas comuns que não causam câncer.
Qualquer verruga comum é causada por HPV, são neoplasias, porém são benignas.
- 40% dos genótipos de HPV tem tropismo por mucosa.
Como a mucosa genital, anal, bucal, ocular, ou seja, qualquer mucosa do corpo o HPV pode infectar e causar lesões.
Os HPVs de transmissão sexual, que é o alvo mais discutido no meio médico, podem infectar qualquer mucosa.
● Espécies-específicos.
Os papilomas vírus humanos só causam lesões em humanos, não infectam outros hospedeiros.
● Ubíquos.
Estão distribuídos na natureza, ao longo da vida a pessoa tem contato com HPV, não só o de transmissão sexual, mas os
de verrugas comuns também.
● Epiteliotrópicos.
Tropismo pelo tecido epitelial.
● Verrugas benignas e câncer.
As verrugas são benignas, tanto as genitais quanto as localizadas em dedos, os joelhos e são neoplasias, porque existem
alterações celulares, crescimento anormal do epitélio, gerando a verruga, mas são benignas.
A neoplásica maligna é o câncer.
- 10% dos cânceres humanos são causados pelo HPV.
Está associado a vários tipos de cânceres humanos, não só de colo uterino, tendo associação com câncer de pênis, de
vulva, vagina, orofaringe, bucal (é um vírus de transmissão também do sexo oral).

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Tem-se vários tipos de HPV circulando no mundo, contudo existem os genótipos principais.

Propriedades gerais

● Tamanho: 55 nm.
● DNA df (dupla fita) circular.
Por ter DNA de dupla fita o mesmo pode replicar no ciclo de replicação dentro do núcleo da célula hospedeira e integrar o
DNA viral no DNA da célula-alvo, quando isso ocorre tem o processo de oncogênese, de transformação celular e
participação do vírus no processo de evolução para o câncer. Alguns genótipos fazem isso com mais eficiência, por
exemplo o genótipo do HPV 18, que é um dos que mais integram o DNA da célula-alvo, a transformando e é um dos
genótipos que mais se encontra no câncer de colo uterino.
● Não envelopado.
Tem apenas uma capa proteica, é um capsídeo que protege o material genético, o qual é DNA de dupla fita circular.
● Capsídeo (72 capsômeros).
Tem formato icosaédrico.
● Simetria icosaédrica.
● Proteínas de superfície:
Tem duas proteínas principais no capsídeo viral.
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- L1 (maior).
É a mais externa e é o alvo das vacinas que tem para HPV. A L1 gera anticorpos neutralizantes, por isso é o alvo da
vacina. Os anticorpos neutralizam a partícula viral.
- L2 (menor).
● Genoma: 8 kpb.

Genoma

● 3 regiões:
- Região inicial (E-eraly).
São regiões genômicas que codificam para enzimas que atuam no ciclo de replicação e também regulam o ciclo celular da
célula hospedeira.
A E6 e E7 codificam para a oncoproteínas, proteínas que interferem no ciclo celular e desencadeiam o câncer associado
ao HPV.
- Região tardia (L-late).
O gene L1 e L2 codificam para a síntese das proteínas estruturais, que são as proteínas do capsídeo. Estão na capa
proteica protegendo o material genético viral.
- Região regulatória (URR/LCR-long control region).
A região URR é a região regulatória, sendo também de inserção do genoma viral no genoma da célula-alvo.

E3 e E8 – função desconhecida.

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Genoma do HPV

- A região E2 codifica para enzimas e tem papel importante no processo de liberação viral e também de regular
a expressão de E6 e E7, nessas duas regiões gênicas quanto mais o vírus expressar a região, mais irá produzir
as oncoproteínas E6 e E7. Os HPVs de alto risco expressam mais região E6 e E7, por isso têm maior risco
de evolução para o câncer.
- L1 e L2 codificam para as proteínas estruturais.
- Alguns estudos mostram que algumas mutações no gene E5 tem correlação com pior prognóstico, com maior
risco de evolução para o câncer.
- A região E2 regula a E6 e E7.
- Na região E1 e E2 tem papel no processo de duplicação do material genético viral.

Genes de Supressão Tumoral ou Antioncogenes

Nas células tem-se genes supressores tumorais, genes nas células humanas que são responsáveis por proteger de
qualquer tipo de alteração celular que possa induzir a câncer.

● Gene P53 →
É ativado quando a célula tem algum processo anormal, pode ser célula infectada por vírus e essa para de exercer sua
atividade. Existe ativação intrínseca da célula para o gene P53 produzir a proteína P53 que tem papel de interromper o
ciclo celular, porque a célula está anormal e precisa se programar para morrer.

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● Gene Rb →
É um gene supressor tumoral, quando a célula está anormal por radiação, presença de vírus ou outro fator, a célula tenta
se programar para morrer, tenta transcrever o gene Rb para gerar a proteína Rb que vai interromper o ciclo celular.

Os dois são considerados anti-oncogenes que as células naturalmente possuem.

Anti-oncogene p53 X HPV

Tem-se a célula e o mecanismo que a mesma possui, que é natural de defesa contra qualquer alteração, que é se
programar para morrer e ativar o P53 e gerar a proteína P53 que interrompe o ciclo celular, a divisão da célula que está
anormal, essa célula não pode mais se multiplicar e se programa para morrer.

Célula com HPV, o que o vírus irá fazer?


O vírus gera uma proteína, que é chamada de proteína E6, através da transcrição do gene E6 gera a proteína E6, a qual
está representada na imagem pela “capa” verde e essa se liga na proteína P53 e a fragmenta/cliva. O que acontece com o
ciclo celular é que a célula continua se dividindo de forma anormal; o câncer é composto por células que perdem a
capacidade de se programar para morrer, são células que vão se dividindo e não tem tempo de vida, o câncer gera uma
linhagem celular “imortal”, não consegue mais se programar para morrer, propagando a anomalia e gerando os
tumores. O vírus contribui para a geração do tumor, quando o mesmo gera a proteína E6 que fragmenta o P53 e a célula
tumoral continua a se dividir.

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Anti-oncogenes

Outro anti-oncogene que se tem naturalmente é o pRb (proteína Rb), que é gerado a partir do gene Rb e esse está nas
células humanas. Toda vez que a célula está normal esse gene ativado gera a proteína pRb, sendo também conhecida
como P105kD e essa tem como papel interromper o ciclo celular.
Se a célula está normal, a mesma deve bloquear a divisão da célula, não tendo assim o câncer, é um mecanismo de
proteção.
A célula infectada por vírus gera uma proteína, que é a E7 que se liga ao Rb e bloqueia o sítio de ação dessa proteína,
não conseguindo mais interromper a divisão celular, então a célula continua se dividindo, gerando neoplasia.

● Imagem da esquerda:
Quando tem uma célula normal e sem vírus, a mesma sofre mecanismo de dano, o P53 e o pRb vão interromper a divisão
celular e a mesma irá parar de se dividir em um mecanismo natural de defesa contra o câncer.
● Imagem da direita:
Uma célula com vírus, a proteína E6 e E7 bloqueiam a ação das proteínas antitumorais (P53 e pRb) e a célula continua se
dividindo sem conseguir se programar para morrer.
Giulia Magno Rocha
Transformação e Imortalização Celular

Outro papel importante do E6 é a síntese e estímulo a enzima telomerase, isso faz com que a célula imortal
transformada possa continuar se dividindo, porque não há o encurtamento do telômero; em uma célula natural quando se
divide, o telômero vai encurtando e tem limite de vida, as células do corpo não são eternas e por isso as pessoas
envelhecem.
Uma célula cancerígena fica imortal, porque estimula a síntese do telômero, as pesquisas demonstraram que o E6
além de degradar o P53 (proteína antitumoral) também estimula a síntese da telomerase, juntamente com a E7 que
bloqueia a ação do pRb, tem-se os principais mecanismos documentados do HPV na formação do câncer humano.

Genoma Epissomal X Integração

Nem todos os HPVs são capazes de induzir câncer, para que isso aconteça é necessário que o vírus faça a
integração do genoma dele com o genoma da célula hospedeira.
O HPV é um vírus de DNA de dupla fita circular e o mesmo se multiplica dessa forma, independente do genoma da
célula-alvo. Porém, alguns genótipos são classificados como genótipos de alto risco para o câncer e fazem integração
celular, então a célula cancerígena não gera o vírus, mas sim células normais e participa da transformação celular e nesse
caso existe a integração do genoma viral no genoma da célula-alvo, quando integra perde regiões, como por exemplo, a
região E2 que é importante no processo de regulação da transcrição dos genes E6 e E7. Sem o E2, como está na célula
integrada, mas tem E6 e E7 e esses são super expressos, ou seja, a célula com genoma integrado gera muita expressão
do gene E6 e E7, então muita proteína será produzida (proteína E6 e E7 e essas exercem papel chave na oncogênese
viral).
Quando o genótipo é de alto risco, é capaz de fazer a integração do genoma do vírus no genoma da célula-alvo para
aumentar a expressão que resulta no aumento de expressão de E6 e E7.

Giulia Magno Rocha


Na imagem direita seria a forma epissomal e na esquerda a forma integrada.

Correlação entre o tipo de HPV, integração e citologia

● A forma epissomal é a forma do DNA viral circular do vírus entrando na célula.


● A forma integrada é o genoma integrado no genoma da célula-alvo.
Tem-se vários genótipos de HPV circulando e de transmissão sexual e esses são classificados como de baixo risco e de
alto risco.
O HPV 6/11 são classificados como genótipos de baixo risco para o câncer, porque só ficam na forma epissomal e
esses não integram o genoma deles no genoma da célula hospedeira.
O 16 e o 18 são genótipos de alto risco, sendo que os dois principais são associados com o câncer humano. Eles
integram o genoma deles com o da célula hospedeira.

Qual o genótipo que tem o maior risco para o câncer e que mais consegue fazer integração do genoma no genoma
da célula hospedeira? O 18; esse junto com o 16 são os principais genótipos com risco para o câncer.

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Replicação - HPV

O HPV precisa do epitélio se diferenciando para poder se multiplicar; o epitélio sempre se renova, então o vírus precisa do
epitélio renovando e não consegue fazer isso in vitro. O que possibilitou o cultivo do HPV foi a cultura de tecidos, que hoje
se consegue cultivar pele in vitro, e essa tecnologia permitiu que se conheça um pouco acerca da replicação da replicação
do HPV.

Na etapa 1 o vírus entra na célula por endocitose, formando uma vesícula. Entra por endocitose através da ligação da
proteína L1 com receptores celulares que são vários, porque depende do tecido. Depois que é endocitado, sofre a
decapsitação e é direcionado para o núcleo da célula, o DNA de dupla fita circular entra no núcleo da célula-alvo, no
núcleo da célula há transcrição, que é chamada de círculo rolante e copia o genoma circular do HPV, quando não integra
não gera vírus, então a forma ativa e replicativa não integra, fica circular independente do genoma da célula sendo
transcrito. Os genes são transcritos, as enzimas são sintetizadas e vão auxiliar no processo de replicação, fazendo
a tradução das proteínas acontecerem no citoplasma, utilizando o ribossoma da célula.
A transcrição ocorre no núcleo e a tradução no citoplasma quando utiliza os ribossomos para fazer a síntese de
proteínas e enzimas.
Quando as proteínas estruturais são geradas, as mesmas são direcionadas para voltarem para o núcleo, a proteína L1 e
L2 voltam para o núcleo, o vírus é montado no núcleo e depois é transportado e exocitado para o meio extracelular onde
irá infectar uma nova célula.

A infecção pelo HPV é totalmente localizada, não cai na corrente sanguínea, não faz viremia, etc. O HPV fica no
local em que o mesmo foi inoculado, a lesão ocorre no sítio da inoculação e a inoculação do vírus para que o ciclo
replicativo aconteça deve ser na camada basal da célula, por isso para uma pessoa ter lesão por HPV é necessário
contato. A própria relação sexual gera atrito, contato e isso favorece a inoculação do vírus nas camadas mais basais e
utiliza o epitélio se diferenciando para gerar as partículas.

A verruga é o crescimento anormal das células, é uma neoplasia, porém não é um câncer, sendo uma neoplasia benigna e
localizada. O vírus participa do processo do crescimento anormal, na superfície da verruga contém partículas virais e a
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mesma deve ser removida, porque essa é a fonte de transmissão das partículas virais. Se não remover, a verruga por si só
irá sumir, mas no processo que a mesma tende a sumir a pessoa pode fazer autoinoculação.
Por exemplo, uma verruga que está no dedo não vai transmitir para a boca, porque a boca é mucosa e são genótipos
diferentes.

Câncer X HPV

Câncer Frequência de HPV

Cérvico-uterino ≥ 95%

Vaginal 50%

Vulvar > 50%

Peniano 50%

Anal > 70%

Orofaríngeo 20%

Patogênese e História Natural

No processo de história natural e de patogênese do HPV o que tem são genótipos que causam infecções localizadas,
verrugas comuns não oncogênicas (exemplo genótipo 1 e 3); tem genótipos que causam câncer, como o tipo 16, 18, 33 e
são de alto risco.

Todos passam por processo de transmissão e essa se dá pela inoculação e tem a ver com o tropismo, tem genótipos com
tropismo por pele queratinizada e outros com tropismo pela mucosa. O vírus tem que ser inoculado na camada basal e se
multiplica, causando lesão localizada que pode ser a verruga (mais fácil de tratar, dificilmente tem latência, consegue-se
remover completamente o vírus e curar o paciente), mas também pode ser o câncer (o qual não se vê a lesão, porque a

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lesão é na célula); tem os HPVs que podem integrar o genoma da célula hospedeira, induzindo a processo de
transformação celular, gera neoplasias intraepiteliais e vários tipos de câncer no hospedeiro.
Tem pessoas que tem genótipo 16 e 18, mas não tem câncer, porque o câncer é uma doença multifatorial; o vírus e o
genótipo de alto risco são cofatores para o câncer, mas para ter o câncer existem também questões genéticas envolvidas,
relacionadas à resposta imune do indivíduo que favorecem a progressão para o câncer.

Pode ter de 1 mês até 2 anos para ocorrer a manifestação clínica e diagnóstico da doença.
*Se for lesão genital é importante também tratar o parceiro.

Infecção transitória (HPV) e Infecção persistente

Nas imagens observa-se progressão para o câncer uterino, isso leva anos. O vírus não causa lesão imediata, mas
existem alterações que são chamadas de neoplasias intraepitelial cervical grau 1, 2, 3 até chegar no câncer, existindo
evolução que pode ser diagnosticada precocemente se a mulher fizer o exame preventivo.
Toda mulher sexualmente ativa deve fazer o exame preventivo, que inclui o Papanicolau e esse é uma coloração de lâmina
de amostra biológica da cérvice.
A cérvice pode estar normal sem alterações celulares importantes, pode estar com alterações celulares importantes (NIC
1, 2, 3), pode ter alterações celulares mostrando invasão, binucleação, ter alterações compatíveis com o câncer. Essas
alterações não são visíveis a olho nu, só são visíveis se o médico solicitar e o paciente for ao ginecologista e fizer o exame
preventivo ou a biópsia.
Não se pode determinar a olho nu quem tem HPV, porque a lesão pode ser celular, só será possível ver se possuir a lesão
visível, mas há lesões que não se vê que o vírus provoca e essa é a pior, porque é lesão cancerígena e que só é
diagnosticada através das técnicas de biópsia, análise de lâmina, histopatologia e exame preventivo quando é no colo
uterino (Papanicolau).

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Formas de infecção - Diagnóstico

● Infecção clínica:
- Lesões características.
Dependendo do genótipo pode causar verrugas e essas quando acontecem são facilmente diagnosticadas pelo próprio
médico no exame clínico, sendo bem características.
● Infecção subclínica:
- Lesões inaparentes.
A olho nu não se vê, mas quando se avalia um exame de lâmina a histopatologia revela alterações celulares que são
compatíveis com infecção por HPV. O principal achado celular é a coilocitose.
Avalia as subclínicas através das biópsias e histopatologia.
● Infecção latente:
- Não há lesões.
Latente é quando o vírus está presente no núcleo da célula, causando o menor dano celular possível, sem interferir na
alteração celular, mas o genoma está presente. Ao longo de 5-10 anos depois a doença pode começar a aparecer;
algumas pessoas podem ficar com esse genótipo de alto risco latente e silencioso, sendo esse o mais difícil de ser
diagnosticado, a única forma de diagnosticar seria por biologia molecular, com o PCR da amostra cérvico-uterina, por
exemplo, e se pesquisa o DNA do HPV nessa amostra. Pode achar ou não, porque o vírus pode estar em vários locais,
não demonstra nem alteração celular e nem clínica, isso facilita a propagação do vírus.

Condiloma acuminado - Sexo feminino

● 90% - Tipos 6 e 11.

Além de transmitir para o parceiro, irá ter autoinoculação do vírus em outras partes do epitélio mucoso vaginal ou anal.
O vírus fica no ponto no qual foi inoculado, o HPV não sai de um tecido para o outro sem que seja inoculado.
*O nome científico da verruga genital é condiloma acuminado.
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Os principais genótipos são o 6 e 11, por causa disso a vacina tetravalente inclui o 6 e 11 por serem os dois principais
genótipos associados às verrugas genitais, 90% são causadas por ele.
Quanto mais precoce o diagnóstico e a remoção da verruga, maior a chance de cura total do paciente.

*Uma pessoa dificilmente só tem um genótipo do HPV, as pesquisas mostram que a transmissão pode ser dada por vários
genótipos de vez e pode ter o que causa apenas as verrugas, mas junto pode ter também os que causam o câncer, porque
é a mesma via de transmissão, que é a sexual.

Condiloma acuminado - Sexo masculino

● 90% - Tipos 6 e 11.

Além do pênis, se a pessoa praticar sexo anal podem ter lesões na região do ânus, tendo tropismo por mucosa.
*Quem pratica sexo oral pode ter lesão oral.

“As verrugas genitais (condilomas acuminados) ocorrem quase exclusivamente sobre o epitélio escamoso dos órgãos
genitais externos e regiões perianais. Cerca de 90% são causados por HPV-6 e HPV-11. As lesões anogenitais infectadas
com esses tipos de HPV podem ser problemáticas, mas raramente se tornam malignas em pessoas saudáveis.”
(MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

Risco x Tipo do HPV

● HPV – baixo risco: 6 e 11:


- Associados ao condiloma acuminado.
Classificados como de baixo risco para o câncer, podem também contribuir com alterações celulares, sendo uma neoplasia
benigna.
Pode ter genótipo maligno junto, essa associação potencializa as alterações celulares.
● HPV – alto risco: 16, 18, 31, 33, 35 e 45.
- 70-90% câncer de cérvice: tipos 16 e 18.
- 50-70% câncer de pênis: tipos 16 e 18.
Nos estudos tem prevalência expressiva no genótipo 16 e 18, sendo os que mais fazem integração celular - integração do
genoma viral no genoma da célula hospedeira, que é um marco importante na oncogênese associada ao HPV.
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Já tem desenho de vacinas ampliando os genótipos, incluindo o 45 e 33 também, porque estão crescendo em termos
epidemiológicos no mundo.
HPV 16 e 18 não faz verruga, faz transformação da célula e essa se divide de forma alterada no ciclo celular, que é
um marco importante para o câncer.
● Verrugas comuns: 1, 2, 4, 26, 27, 29, 41, 57, 65, 77.
O vírus do HPV que causam verrugas comuns estão no ambiente.
A verruga que está, por exemplo, no dedo não gera verruga genital, porque são genótipos distintos.

“Verruga é uma proliferação benigna e autolimitada da pele que regride com o tempo. A maioria das pessoas
com infecção pelo HPV tem os tipos mais comuns do vírus (de HPV-1 a HPV-4), que infectam as superfícies
queratinizadas, geralmente as mãos e os pés. A infecção inicial ocorre na infância ou no início da
adolescência. O período de incubação antes de uma verruga se desenvolver pode ser tão longo como 3 a 4
meses. A aparência da verruga (abaulada, plana ou plantar) depende do tipo de HPV e do sítio infectado.” (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2017)

HPV - cavidade oral

● Tipos 6, 11 e 16.

Pode causar verrugas na cavidade oral e câncer bucal.


No bucal o genótipo 16 é um dos mais frequentes.
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Papiloma respiratório

● 1/3 das crianças nascidas de mães com condiloma possuem swab de nasofaringe positivo para HPV.
O papiloma respiratório é raro, sendo mais comum em crianças nascidas de mães que tem condiloma acuminado em
atividade na região genital; no parto natural o bebê broncoaspira e pode adquirir HPV que gera lesão que interfira na
respiração e a criança pode morrer por asfixia.

Infecção por HPV Normal

Papiloma conjuntival

É uma lesão rara. Aqui é um HPV de transmissão por mucosa ocular.


● Tipos: HPV 6, 11..

Tipos de câncer e relação com HPV

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Epidemiologia

● Distribuição mundial.
● 50% dos indivíduos com vida sexual ativa (HPV).
Muitas pessoas são infectadas pelo HPV e não tem lesão aparente, nem lesão celular - o próprio sistema imune combate o
vírus.
● Ambos os sexos e todas as faixas etárias (18-35 anos).
● HPV é detectado > 91% das mulheres com câncer de colo de útero e 50-70% dos casos de câncer de pênis.
● Tipos mais frequentemente encontrados em casos de neoplasia cervical, vulvar e de pênis: 16 e 18.
● Tipos mais frequentes: 6 e 11.
● Câncer de colo do útero- 2ª causa de câncer em mulheres.

Tipos de HPV X Câncer cervical

*Muitas vezes a vacina acaba suprimindo o 16 e 18, e favorece a disseminação de outros genótipos. Tem pesquisas para
incluir na vacina outros genótipos também.
Diagnóstico

● Se a lesão for aparente o diagnóstico é clínico.


● Colposcopia.
Consegue visualizar lesões através do microscópio que tem associação com HPV, fazendo o teste de Schiller.
● Citopatologia (Papanicolaou).
Colhe material e é feita uma lâmina e essa é enviada para a citopatologia que analisa as alterações celulares; a principal
alteração celular no Papanicolau é a coilocitose (na lâmina visualiza a célula e ao redor dessa tem um halo branco, isso é
o coilócito, que é uma alteração celular característica do HPV - tem-se achado citológico de associação com HPV e trata a
mulher como se tivesse HPV, irá então cauterizar o colo uterino para tentar remover as células do epitélio superficial do
colo uterino, para curar a mulher. Se ficar uma célula infectada após isso, a mesma volta e por isso a mulher tem que fazer
o acompanhamento médico de 6 em 6 meses nos primeiros anos).

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● Histopatologia.
Quando a lesão já tem achados compatíveis no Papanicolau com câncer, o médico pode fazer biópsia e colher material
mais profundo e fazer análise histopatológica da lesão. O médico irá receber o grau de alteração celular analisada na
amostra de biópsia, o tipo de neoplasia, alterações celulares e irá avaliar qual será o tratamento e a extensão da
neoplasia, pode ser uma histerectomia parcial ou total (tirar só o colo uterino ou o útero inteiro a depender da idade da
mulher)
● Imunocitoquímica.
Faz estudo histológico da lesão utilizando coloração citoquímica que detecta lesões neoplásicas.
● Detecção do ácido nucleico viral.
● PCR-RFLP.
O PCR detecta o vírus e o RFLP detecta o vírus e o genótipo.
● Testes sorológicos?
Não tem como fazer sorologia para pesquisar HPV, porque tem muitas reações cruzadas.

Vias de transmissão e aspectos importantes sobre o HPV

● Contato sexual:
- Vaginal, oral, anal, pênis e mãos (DST).
- Maior prevalência em indivíduos promíscuos, baixo poder econômico, baixa escolaridade.
- A infecção genital pelo HPV em virgens é rara (contato sexual sem penetração).
- O uso de preservativo não protege totalmente.
● Rotas não-sexuais:
- Transmissão vertical (canal do parto).
- Fômites.
Compartilhar objetos sexuais, por exemplo.
● Lesões subclínicas.
Quando não se tem uma lesão dita aparente, porém tem lesão celular.
● Portadores assintomáticos.
A pessoa não tem “nada”, porém transmite e na grande maioria das vezes o portador assintomático é o homem.

Tratamento X Curiosidades

● Verrugas cutâneas:
- Fitoterápico “Thuya occidentalis”.
- Ácido tricloroacético.
- Remoção cirúrgica, cauterização, laser , crioterapia (nitrogênio líquido).
● Verrugas genitais:
- Ácido tricloroacético, podofilina.
- Remoção cirúrgica, cauterização, laser, crioterapia (nitrogênio líquido).
● Carcinoma cervical:
- Remoção cirúrgica / Quimioterapia ou Radioterapia.

Medidas de prevenção e controle

● Abstinência sexual.
● Monogamia mútua/parceiro fixo.
Giulia Magno Rocha
● Usar preservativo (não é 100% eficaz).
● Em caso de infecção (HPV) avaliar o parceiro.
● Evitar fatores de risco: uso prolongado de pílulas anticoncepcionais, múltiplos parceiros sexuais,
tabagismo, etc.
● Visitar regularmente o ginecologista (exames preventivos).
● Hábitos de higiene diários.
● Tratar infecções genitais.

Vacinas: profilaxia da infecção por HPV

É feita com a tecnologia do DNA recombinante; recorta o gene L1 que codifica para a proteína maior, imunogênica do HPV
e esse gene é inserido em uma levedura e essa passa a produzir a proteína viral. A proteína é purificada e é colocada no
ensaio da vacina; recebe a proteína e o adjuvante que ajuda o sistema imune a reconhecer a proteína como um alvo e
assim produz os anticorpos específicos.
Tem dois tipos de vacinas: a bivalente (Cervarix) e tetravalente (Gardasil).
- A bivalente protege contra 2 genótipos principais que causam câncer, protege contra o genótipo 16 e o 18.
- A tetravalente além de produzir imunidade contra o genótipo 16 e 18 (causam câncer), também protege contra o
6 e 11 (causam condiloma acuminado).
São utilizadas 3 doses com intervalo de 0-6-12 ou 0-2-6 meses; alguns trabalhos demonstram que 2 doses são eficazes
para imunizar crianças e adolescentes que não iniciaram atividade sexual.
É uma vacina muito segura.

Giulia Magno Rocha


É uma vacina do tipo DNA recombinante, onde utiliza VLP (virus like particle) e essa é uma partícula semelhante a vírus,
contendo apenas a proteína L1 do capsídeo viral como alvo para desencadear a produção de anticorpos específicos.
*Não se tem HPV por causa da vacina, porque a mesma não tem o vírus, mas sim uma proteína viral (L1).

Giulia Magno Rocha


Produção de anticorpos específicos

Estimula a produção de anticorpos específicos (na imagem em vermelho); o anticorpo se liga em L1 (proteína de entrada
do vírus na célula), encontra o vírus e tem resposta imune celular e humoral; na resposta humoral os anticorpos se ligam
na L1 e faz a neutralização da partícula viral. Quando o anticorpo anti-L1 se liga na proteína L1, o vírus não consegue mais
entrar na célula-alvo e é neutralizado fora da célula, que é o papel dos anticorpos específicos.

Referências:
● Anotações de Giulia Magno Rocha durante a aula ministrada.
● TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, CL. Microbiologia. 12. ed., Porto Alegre: Artmed, 2016.
● TRABULSI, L. R.; ALBERTHUM, F. Microbiologia. 6a ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
● MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A.. Microbiologia Médica. 8 ed. Rio De Janeiro:
Editora Elsevier Ltda, 2017.
● SANTOS, NORMA SUELY DE OLIVEIRA; ROMANOS, MARIA TERESA VILLELA; WIGG, MARCIA DUTRA.
Virologia Humana - 3ª Ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

Giulia Magno Rocha

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