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Apostila Microbiologia

CURSO TÉCNICO DE ANÁLISES CLÍNICAS


IMPACTO ESCOLA DE SAÚDE
VERSÃO 2

Adrielli Alves Carneiro | Módulo III | 2019


Sumário
1. Introdução à microbiologia

2. Histórico da Microbiologia

3. Micro-organismos e o meio ambiente

4. Importância comercial dos micro-organismos

5. Sub-grupos dos micro-organismos

6. Bactérias:

6.1. Morfologia

6.2. Estrutura

6.3. Nutrição e crescimento microbiano

6.4. Classificação nutricional dos organismos

6.5. Microscopia e confecção de esfregaço

6.5.1. Confecção do esfregaço

6.5.2.Coloração de Gram

6.5.3. Coloração de Ziehl-Neelsen

6.5.4. Outras colorações

6.6. Reprodução dos micro-organismos

6.7. Genética bacteriana

7. Meios de cultura

7.1. Principais meios de cultura utilizados nas análisesclínicas

7.2. Técnicas de semeadura e isolamento de micro-organismos

7.2.1. Semeadura em meios sólidos

7.2.2. Semeadura em meios líquidos

7.2.3. Semeadura em meios semi-sólidos

8. Métodos físicos e químicos de controle dos micro-organismos

9. Relação bactéria-hospedeiro

10. Métodos diagnósticos

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10.1. Isolamento e identificação de bactérias

10.2. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos

11. Infecções bacterianas

11.1. Infecções do trato genito-urinário

11.2. Infecções do trato gastro-intestinal

11.3. Infecções do trato respiratório

11.3.1. Tuberculose

11.4. Pele e anexos

11.5. Líquidos cavitários

11.6. Sepse

12. Vírus

12.1. Histórico e importância

12.2. Estrutura viral

12.3. Replicação viral

13. Fungos:

13.1. Estrutura e Morfologia

13.2. Reprodução dos fungos

13.3. Pesquisa e Cultura para fungos

13.4. Principais Doenças fúngicas

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1. Introdução à microbiologia
Segundo os termos mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência) a microbiologia é
definida como o estudo dos organismos vivos microscópicos, “invisíveis a olho nu”,
relacionando-os pelo seu tamanho, com as principais doenças infecciosas do homem e
de seus animais domésticos, suas características, importância comercial, etc. Essa
definição engloba os grupos das bactérias, arqueas, fungos, protozoários e vírus.

Os micro-organismos são encontrados em todos os ambientes, incluindo solo, água,


ar e participam de todas as funções vitais. Embora não possam existir dúvidas de que
bactérias e vírus sejam os patógenos mais numerosos e importantes, o estudo da
microbiologia também está ligado à micologia e parasitologia.

A diversidade microbiana, considerando-se os parâmetros de diversidade de


espécies e diversidade genética, deve suplantar, e muito, a diversidade existente em
todos os demais grupos de seres vivos.

2. Histórico da microbiologia
Em 1665 Robert Hooke observou pela primeira vez pequenas celas na cortiça utilizando
uma versão improvisada de um microscópio rudimentar o que deu início à Teoria
Celular.

Em 1673 Antonie van Leewenhoek observou micro-organismos vivos na água da


chuva, nas suas próprias fezes e em raspado de seus dentes através de lentes de aumento
que receberam o nome de “animálculos”.

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Leewenhoek é considerado o pai da Microbiologia: “eu posso julgar por mim mesmo
(apesar de limpar a minha boca, como já disse), que todas as pessoas que vivem na
Holanda não são tantas quanto os animais vivos que eu carrego em minha própria boca
hoje”.

Após Van Leeuwenhoek descobrir o antes “invisível” mundo dos micro-organismos,


a comunidade científica da época ficou interessada na origem dessas minúsculas coisas
vivas. E durante a segunda metade do século XIX houve uma explosão de descobertas
na microbiologia. De 1857 a 1914 é considerada a Idade de Ouro da Microbiologia e é
durante esse período que Pasteur e Robert Koch estabelecem a Microbiologia como
ciência após liderarem rápidos avanços na área com a descoberta de agentes etiológicos
de muitas doenças, o papel da imunidade na prevenção e na cura das doenças, atividades
químicas de micro-organismos, as melhorias nas técnicas de microscopia, cultivo de
micro-organismos além do desenvolvimento de vacinas e técnicas cirúrgicas.

Foi nessa época que um grupo de mercadores franceses pediu a Pasteur que
descobrisse porque o vinho e a cerveja azedavam, além de solicitarem à ele um método
que impedisse a deterioração dessas bebidas. Naquele tempo, muitos cientistas
acreditavam que o ar convertia os açúcares desses fluidos em álcool, porém micro-
organismos chamados de leveduras convertiam os açúcares em álcool na ausência de ar
através do processo de fermentação e o azedamento e a deterioração eram causados por
micro-organismos diferentes que na presença de ar, transformavam o álcool da bebida
em vinagre (ácido acético).

A solução de Pasteur para o problema da deterioração foi o aquecimento da cerveja


e do vinho o suficiente para matar a maioria das bactérias que causavam o estrago. Assim
descobriu-se o processo de Pasteurização. Nesse período foi demonstrada a relação entre
a deterioração de alimentos e os micro-organismos, papel fundamental e primeiro elo
de ligação entre a atividade dos micro-organismos e as modificações químicas nos

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materiais orgânicos o que permitiu o estabelecimento da relação entre doenças e
micróbios.

Antes da época de Pasteur os tratamentos eficazes para muitas doenças foram


descobertos por tentativa e erro. Porém com a descoberta do processo de fermentação
pelas leveduras surgiu a Teoria do Germe da Doença onde os cientistas defendiam a
possibilidade de que os micro-organismos pudessem ter relações similares com plantas
e animais – especificamente, que os micro-organismos pudessem causar doenças. Porém
essa era uma teoria difícil de aceitar.

Em 1860 Joseph Lister aplicou a teoria do germe nos procedimentos médicos assim
como Ignaz Semmelweis, que em 1840, demonstrou que os médicos, naquela época, não
faziam assepsia das mãos e transmitiam infecções rotineiramente (febre em crianças
recém-nascidas de uma paciente de obstetrícia para outra).

Robert Koch, em 1876, propôs pela primeira vez uma prova de que as bactérias
realmente causavam doenças, através da descoberta da causa do Carbúnculo ou antraz
(Bacillus antracis) - doença que estava destruindo os rebanhos de gado e ovelhas na
Europa. A partir desses achados, Koch estabeleceu uma série de procedimentos para
relacionar diretamente um micróbio específico à uma doença específica.

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Exceções ao postulado de Koch:

1) Nem todos os micro-organismos crescem em meios de cultura. Por exemplo:


Treponema pallidum (sífilis), Mycobacterium leprae (lepra), Riquétsias e vírus, que
multiplicam-se somente dentro das células;

2) Um conjunto de sinais e sintomas podem ser os mesmos em várias doenças, por


exemplo nefrite (inflamação dos rins) que é causada por vários patógenos diferentes,
sendo que todos geram os mesmos sinais e sintomas.

3) Um micro-organismo pode causar várias doenças. Mycobacterium tuberculosis


(doenças dos pulmões, da pele, dos ossos e dos órgãos internos), Streptococcus pyogenes
(dores de garganta, febre escarlatina, infecções de pele – erisipelas, e osteomielite -
inflamação nos ossos).

E nos anos seguintes começou uma nova fase na história da Microbiologia, os


interesses estavam em estudar as causas das doenças e associá-las a micro-organismos,
os microscópios foram se tornando mais acessíveis e foram descobertas formas de corar
os micro-organismos com objetivo de torná-los visíveis.

No Brasil, Carlos Chagas (1878-1934) foi o grande destaque, médico sanitarista,


cientista e bacteriologista, responsável por descobrir o protozoário Trypanosoma cruzi
e descrever a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas. Carlos
Chagas descreveu completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor
(Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.

Na mesma época outro cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e


sanitarista brasileiro, Oswaldo Cruz (1872-1917), tornou-se o pioneiro no estudo de
doenças tropicais e da medicina experimental, em 1900 fundou o Instituto Soroterápico
Nacional no Rio de Janeiro (RJ) - Instituto Oswaldo Cruz, instituição que até hoje possui
grande respeito internacional. E em 1903 Oswaldo Cruz recebeu a missão de combater
as três principais epidemias que assolavam o RJ: febre amarela, peste bubônica e varíola,
sendo que em 1907 foi anunciada a erradicação da febre amarela.

No campo da virologia, em 1892, Dmitri Iwanowski, mostrou que organismo que


causava a doença do mosaico no tabaco era tão pequeno que podia passar através de
filtros finos e somente em 1935 Wendell Stanley nomeou o vírus do mosaico do tabaco
(TMV, de Tobacco mosaic virus). Outros vírus foram identificados e descobertos nesse
período: 1901: Reed e colegas – Febre amarela; 1903: Remlinger e Riffat-Bey – Raiva; 1907:
Asburn e Craig – Dengue; 1909: Flexner e Lewis – Poliomielite; 1915: Twort e 1917
d’Herelle – Bacteriófagos. Com o desenvolvimento do microscópio eletrônico (1940) foi
possível estudar a estrutura dos vírus em detalhes.

Após a confirmação que micro-organismos causavam doenças, começou-se a se


perguntar, então, como controlá-los?

Paul Ehrlich disparou o primeiro tiro na revolução da quimioterapia e especulou


sobre uma “bala mágica” que pudesse combater e destruir o patógeno sem prejudicar o
hospedeiro. Em 1910 ele começou a testar centenas de substâncias, e descobriu um

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agente quimioterápico chamado de salvarsan, um derivado de arsênico, efetivo contra a
sífilis.

No final da década de 1930 pesquisadores desenvolveram outras drogas sintéticas


que podiam destruir micro-organismos. A maioria dessas drogas eram derivadas de
corantes que rotineiramente eram testadas em relação à atividade antimicrobiana pelos
microbiologistas, que procuravam a “bala mágica”. Foi nesse período que as
sulfonamidas (drogas derivadas da sulfa) foram sintetizadas.

Importante no cenário da microbiologia Alexander Fleming quase descartou


algumas placas que tinham sido contaminadas por fungos em um experimento, porém
ele percebeu que o fungo crescido, chamado Penicillium, causava uma inibição no
crescimento microbiano, dando o nome a esse inibidor de penicilina. Entretanto, era
muito difícil a purificação em quantidades suficientes desta substância, assim o
acontecimento principal foi o isolamento da penicilina, feita por pesquisadores dos EUA
a partir dos trabalhos de Alexander Fleming.

A penicilina foi muito importante para reverter a primeira grande guerra em favor
das tropas aliadas, já que as infecções nas feridas matavam muito mais que as balas.
Assim, quem descobrisse um método de curar estas infecções ganharia a guerra. Este é
apenas um exemplo do papel dos micro-organismos em determinar os caminhos de
nossa história.

Em 1939 Domagk descobriu o prontosil, derivado da sulfanilamida que iria se


desdobrar na isoniazida, um agente eficaz contra a tuberculose. Mais tarde, Selman
Walksman examinou solos de várias partes do mundo à procura de micro-organismos
que inibissem o desenvolvimento de outros e em 1943 desenvolveu a estreptomicina
(avanço importante no tratamento da tuberculose), a neomicina, o cloranfenicol e a
clortetraciclina.

A partir do fungo Cephalosporium acremonium - Giuseppe Brotzu observou a


ausência de micro-organismos causadores de doença na água do mar que se misturava
com água de esgoto e concluiu que deveria ter algum antibiótico ali. As cefalosporinas
foi posteriormente purificada, e uma variedade de seus derivados está agora disponível
para tratamento de doenças humanas.

Atualmente nossos estudos baseiam-se em processos parecidos aos do século


passado tornando-se um grande desafio para a próxima geração visto que a organização
mundial da saúde (OMS) estima que a primeira causa de morte em 2050 será por
infecções.

3. Os micro-organismos e o meio ambiente


Os micro-organismos foram os primeiros seres vivos a colonizar a Terra. Estima-se
que os primeiros micro-organismos surgiram há mais de 3,5 milhões de anos, em um
período geológico em que a Terra passava por grandes transformações geológicas e
químicas, e quando a atmosfera ainda não tinha oxigênio. A ação metabólica dos micro-

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organismos resultou na formação atmosférica rica em oxigênio que conhecemos hoje, o
que permitiu o surgimento e evolução de novas formas de vidas aeróbias, organismos
multicelulares complexos, plantas e animais superiores.

Hoje, micro-organismos podem ser encontrados em praticamente todos os


ambientes do planeta, inclusive em locais cujas condições ambientais extrapolam os
limites de tolerância de animais e plantas, graças à relativa simplicidade morfológica e
grande diversidade genética e metabólica desses micro-organismos que permitiu essa
adaptação à condições diversas, como baixas concentrações de água e nutrientes,
extremos de temperatura, salinidade, pH e pressão, em fontes geotermais, lagos
alcalinos, ambientes abissais marinhos, subsolo, no interior de rochas subterrâneas, em
depósitos de petróleo, etc.

O papel dos micro-organismos na manutenção dos processos biológicos ainda é


pouco conhecido mas sabemos que em alguns processos ecológicos importantes eles são
fundamentais, como por exemplo na fotossíntese oxigênica, ciclagem de matéria
orgânica, ciclos biogeoquímicos, manutenção da fertilidade e estrutura dos solos, etc.

Em contrapartida a necessidade de conhecimento sobre os micro-organismos


causadores de doenças nos homens e animais fez com que a microbiologia médica se
desenvolvesse em grau mais elevado. Após a Teoria do Germe da Doença e os Postulados
de Koch o processo Infecção X Doença começou a ser estudado com maior
profundidade.

Sabe-se que os micro-organismos são ubíquos e capazes de se adaptarem a qualquer


ambiente físico-químico, inclusive nos seres vivos, tornando os animais, as plantas e os
seres humanos reservatórios de uma variedade de espécies bacterianas.

A presença do micro-organismo permanente ou não no hospedeiro sem causar


infecções ou nenhum outro dano é chamado de microbiota. No corpo humano a
microbiota distribui-se pelas partes do corpo que estão em contato com o meio externo
como por exemplo pele e mucosas, sendo que a colonização não ocorre de maneira
homogênea nos diferentes sítios anatômicos, o que confere caracteristicas próprias aos
micro-organismos presentes em cada sítio.

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Biomassa
bacteriana no
intestino
1,2kg (40 a
50% peso
fecal)

Peso médio
Nº células Peso
ser humano =
microbianas médio ser
no TGI 1017 vezes o
humano:
humano: 1014 peso de uma
70kg
bactéria

Nº células 300.000 a 1
no corpo milhão de
humano: espécies
bacterianas
1013

A microbiota pode ser dividida em dois grupos:

1. Microbiota transitória ou alóctone: compreende os micro-organismos que


permanecem por pouco tempo no organismo sem estabelecer uma colonização
significativo;
2. Microbiota residente ou autóctone: compreende os micro-organismos que
colonizam o organismo em condições de simbiose com o hospedeiro, por
período indeterminado, em situações normais.

A microbiota residente possui papel importante na manutenção da integridade do


hospedeiro quando em equilíbrio em um sítio específico, pois os micro-organismos
oferecem barreiras de colonização por patógenos, produzem substâncias utilizáveis pelo
hospedeiro (vitaminas, p.ex.), degradam produtos tóxicos, participam da modulação do
sistema imune, etc. Porém a microbiota residente possui um caráter anfibiôntico
podendo se tornar patogênica em situações específicas, como quando em contato com
áreas não colonizadas e originariamente estéreis ou em desequilíbrio, seja pela própria
composição da microbiota ou pelo sistema imune.

A microbiota transitória pode ser constituída por micro-organismos potencialmente


patogênicos ou não, encontrados em superfícies durante horas, dias ou mesmo semanas.
Esses micro-organismos possuem pouca importância quando a microbiota residente
está em equilibrio, porém em disbiose podem causar doença.

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Você sabe a diferença entre Prebióticos e Probióticos?

Probióticos são micro-organismos vivos,


administrados em quantidades adequadas, que
conferem benefícios à saúde do hospedeiro.
Prebióticos são carboidratos não-digeríveis, que
afetam beneficamente o hospedeiro, por
estimularem seletivamente a proliferação e/ou
atividade de populações de bactérias desejáveis no
intestino. Um produto referido como simbiótico é
aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão
combinados.

4. Importância comercial dos micro-organismos


Sabe-se que os micro-organismos possuem vantagens e desvantagens:

 Causam doenças;
 Deterioram alimentos;
 São a base da cadeia alimentar;
 Degradam detritos;
 Participam de ciclos ecológicos e biogeoquímicos;
 Participam de diversos processos industriais;

Na indústria, independentemente da área, os micro-organismos possuem papéis


importantíssimos nos processos fazendo com que eles sejam economicamente
essenciais.

Na indústria alimentícia diversas são as aplicações, mas todas elas baseiam-se no


fato dos micro-organismos causarem alterações benéficas ao alimento, ou seja, há micro-
organismos que modificam as características originais do alimento de forma à
transformá-lo em um novo alimento. O processo mais conhecido é o chamado de
Fermentação. Neste grupo estão todos os micro-organismos utilizados na fabricação de

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alimentos fermentados, como por exemplo queijos, bebidas lácteas fermentadas,
cervejas, vinhos, pães, picles, chucrute, azeitonas, etc. Podemos citar ainda muitos
fungos que são comestíveis e utilizados diretamente na alimentação humana, como é o
caso dos cogumelos (champignon e shitake) e os fungos que são adicionados aos queijos,
por exemplo, roquefort e camembert, com objetivo de alterar o sabor.

Na indústria química os micro-organismos são amplamente usados para a produção


de produtos químicos, como butanol, etanol e ácido cítrico, e suplementos alimentares
(aminoácidos) e enzimas, além de serem importantes agentes de biorremediação, ou
seja, usados para remover ou reduzir a poluição ambiental. Sendo utilizados em
processos de biocatálise, convertendo substâncias químicas em outras, com maior
rapidez e menor custo que processos totalmente químicos. Outra aplicação é para
produção de biocombustíveis e geração de energia.

A utilização de micro-organismos é também aplicada pela indústria farmacêutica


para obtenção de medicamentos que não são facilmente produzidos por síntese química.
Nessa última aplicação, a química microbiana tem contribuído significativamente para
a saúde da humanidade.

A biotecnologia e os métodos de manipulação genética permitiram a geração de


novos produtos microbianos, muitos dos quais não são produzidos naturalmente por
micro-organismos, como por exemplo proteínas de mamíferos, novas vacinas,
hormônios e enzimas. Um exemplo clássico é a produção da insulina recombinante
humana.

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5. Sub-grupos dos micro-organismos
Os seres vivos foram divididos em dois grupos por Linnaeus (séc. XVIII): reinos
Animal e Vegetal, sendo quem em 1866 Haeckel introduziu o reino Protista e somente
em 1969 Whittaker dividiu os seres vivos, segundo suas características morfológicas e
fisiológicas em 5 reinos:

 Monera: Procariotos
 Protista: Eucariotos unicelulares - Protozoários (sem parede celular) e Algas
(com parede celular)
 Fungi: Eucariotos aclorofilados
 Plantae: Vegetais
 Animalia: Animais

No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a dispor de um


sistema de classificação baseado principalmente em aspectos evolutivos (filogenética), a
partir da comparação das sequências de rRNA de diferentes organismos. Com esta nova
proposta de classificação, os organismos são agora subdividos em 3 domínios (contendo
os 5 reinos), empregando-se dados associados ao caráter evolutivo:

 Archaea: Procariotos
 Bacteria: Procariotos
 Eukarya: Eucariotos

Acreditava-se que estes 3 domínios divergiram a partir de um ancestral comum.


Provavelmente os micro-organismos eucarióticos atuaram como ancestrais dos

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organismos multicelulares, enquanto as bactérias e archaeas correspondem a ramos que
não evoluíram além do estágio microbiano.

Os organismos do domínio Archaea são procariotos que, frequentemente são


encontrados em ambientes cujas condições são bastante extremas (semelhantes às
condições ambientais primordiais na Terra), sendo por isso, muitas vezes considerados
como sendo “ancestrais” das bactérias. No entanto, hoje em dia considera-se as archaeas
como um grupo “intermediário” entre procariotos e eucariotos. Muitos destes
organismos são anaeróbios, vivendo em locais "inabitáveis" para os padrões humanos -
fontes termais (com temperaturas acima de 100°C), águas com elevadíssimos teores de
sal (até 5M de NaCl - limite de dissolução do NaCl), em solos e águas extremamente
ácidos ou alcalinos (espécies que vivem em pH 0, outras em pH 10) e muitas são
metanogênicas. Genericamente, podemos dizer que as Archaeas definem os limites da
tolerância biológica às condições ambientais.

Os organismos do domínio Bacteria ou Eubacteria correspondem a um enorme


grupo de procariotos, anteriormente classificados como eubactérias, representadas
pelos organismos patogênicos ao homem, e bactérias encontradas nas águas, solos,
ambientes em geral. Dentre estas, temos as bactérias fotossintetizantes (cianobactérias)
e outras quimiossintetizantes (E. coli), enquanto outras utilizam apenas substratos
inorgânicos para seu desenvolvimento.

Já o grupo Eukarya, no âmbito microbiológico, compreende as algas, protozoários e


fungos (além das plantas e animais). As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila
(além de outros pigmentos), sendo encontradas basicamente nos solos e águas. Os
protozoários correspondem a células eucarióticas, apigmentados, geralmente móveis e
sem parede celular, nutrindo-se por ingestão e podendo ser saprófitas ou parasitas. Os

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fungos são também células sem clorofila, apresentando parede celular, realizando
metabolismo heterotrófico, nutrindo-se por absorção.

Como mencionado anteriormente, os vírus são também assunto abordado em


microbiologia, embora, formalmente, não exibam as características celulares, no sentido
de não apresentarem metabolismo próprio, de conterem apenas um tipo de ácido
nucléico, etc.

Atualmente é conhecido o fato de que as bactérias estão atuando como seres


multicelulares, ou seja, embora estas exibam a capacidade de sobreviver como uma
célula única, realizando os processos metabólicos necessários à sua perpetuação, quando
as bactérias encontram-se associadas, formando colônias, ou biofilmes (estruturas
rígidas, adesivas, de natureza geralmente polissacarídica, que encontram-se fortemente
ancoradas às superfícies, criando um ambiente protegido que possibilita o crescimento
microbiano), estas passam a se comportar de forma social, exibindo divisão de tarefas e
alterando seu perfil fisiológico de forma a apresentar uma cooperação que reflete-se em
diferentes níveis metabólicos. Sabe-se que muitos genes de virulência são expressos
somente quando a densidade populacional atinge um determinado ponto. Da mesma
forma, a capacidade de captar DNA do meio externo, a bioluminescência, etc, envolvem
a percepção da densidade populacional por parte das bactérias. Este tipo de mecanismo
de comunicação é denominado “sensor de quorum” (quorum sensing) e vem sendo
amplamente estudado nas mais diferentes áreas da Microbiologia, uma vez que foi
descrito tanto para bactérias como para fungos.

6. Bactérias:
6.1 Morfologia:
As bactérias são células procariontes, constituindo os menores seres vivos e os mais
simples estruturalmente, embora complexos e diversificados do ponto de vista
metabólico e bioquímico, conferindo capacidade de adaptação.
As células bacterianas são caracterizadas morfologicamente pelo seu tamanho, forma e
arranjo.
Podem variar em tamanho de 0,3/0,8 micrometros até 10/25 micrometros, sendo
atualmente descoberta uma bactéria que pode ser vista a olho nu (0,8mm).
Quanto a forma e arranjo dividem-se em:
 Cocos: Formas esféricas que formam grupos homogêneos de células menores.
o Diplococos: agrupados aos pares
o Tétrades: agrupamentos de quatro cocos
o Sarcinas: agrupamentos de oito cocos em forma cúbica
o Estreptococos: agrupados em cadeia
o Estafilococos: agrupados em grupos irregulares lembrando cachos de
uvas
 Bacilos ou bastonetes: Formas cilíndricas ou de bastão, podendo ser longos ou
delgados, pequenos e grossos, extremidade reta, afilada, convexa e
arredondada.

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o Diplobacilos: agrupados aos pares
o Estreptobacilos: agrupados em cadeia
o Paliçada: agrupados lado a lado como palitos de fósforo
 Helicoidais ou espiralados: Forma de espiral
o Espirilos: possuem corpo rígido e se movem às custas de flagelos
externos, dando uma ou mais voltas em torno do próprio eixo;
o Espiroquetas: são flexíveis e locomovem-se provavelmente às
custas de contrações do citoplasma, podendo dar várias voltas
completas em torno do próprio eixo.
 Formas de transição:
o Bacilos muito curtos ou Cocobacilos
o Espirilos muito curtos ou Vibriões, assumindo formas de vírgula

6.2 Estrutura
A célula bacteriana apresenta várias estruturas, sendo algumas delas presentes em
determinadas espécies enquanto outras são essenciais e encontradas em todas as
bactérias. Abaixo segue esquematizada uma célula bacteriana típica.

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FLAGELOS

São estruturas especiais de locomoção, constituídas pela proteína flagelina, que


formam longos filamentos que partem do corpo da bactéria e se estendem externamente
à parede celular.

O flagelo propulsiona a bactéria por movimento rotatório (o método exato do


movimento é desconhecido) e consome energia celular. Geralmente o comprimento do
flagelo é superior ao da célula, porém o diâmetro é uma pequena fração do diâmetro
celular.

Essa é uma estrutura que pode não estar presente na bactéria. A maioria dos bacilos
de importância médica apresentam flagelos.

De acordo com o número e distribuição dos flagelos, as bactérias podem ser


classificadas como:

 atríquias (sem flagelos);


 monotríquias (um único flagelo);
 anfitríquias (um flagelo em cada extremidade);
 lofotríquias (um tufo de flagelos em uma, ou ambas
as extremidades)
 peritríquias (apresentando flagelos ao longo de
todo o corpo bacteriano);

FÍMBRIAS

As fímbrias são estruturas filamentosas mais curtas e delicadas que os flagelos,


semelhante a pelos, que se originam da membrana plasmática e são usados para fixação,
e não para motilidade.

São constituídas por uma proteína denominada pilina e estão relacionadas com a
aderência às superfícies mucosas e com a troca de material genético durante a
conjugação bacteriana, sendo essa última conhecida como pili ou fímbria sexual.

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CÁPSULA

Camada que circunda a célula bacteriana externamente à parede celular, de


consistência viscosa e de natureza polissacarídica ou polipeptídica, podendo ser
evidenciada por métodos especiais de coloração como a tinta nanquim.

Possui como função proteção da célula bacteriana contra desidratação, fixação da


bactéria em várias superfícies, e fuga de bacteriófagos por evitar a adsorção desses à
célula bacteriana.

Está diretamente relacionada à virulência da bactéria, pois confere resistência à


fagocitose pelas células de defesa do corpo – em uma mesma espécie, amostras
encapsuladas são mais virulentas que as não encapsuladas – aumentando a chance de
infecção.

Assim como a cápsula algumas bactérias podem apresentar outras substâncias


poliméricas extracelulares com as mesmas funções, porém sem estrutura definida e de
forma amorfa e dispersa.

PAREDE CELULAR

É uma estrutura rígida que recobre a membrana citoplasmática e dá forma às células,


além de proteção, mantendo a pressão osmótica intrabacteriana e prevenindo expansão
e eventual rompimento da célula. Funciona também como suporte de antígenos
bacterianos.

Sua composição é de peptideoglicanos – mucopeptídeo e mureína, porém


estruturado de forma bem diferente em dois grandes grupos de bactérias: GRAM
POSITIVAS e GRAM NEGATIVAS.

Dividimos as bactérias em ambos os grupos devido ao comportamento de ambas


perante a coloração de Gram, o que pode ser explicado pela diferença estrutural das
paredes celulares de Gram positivas e Gram negativas, sendo o primeiro grupo mais
simples do que o segundo.

A parede celular das bactérias Gram positivas é formada em sua maior parte por
peptideoglicano (45 a 50% da massa seca), o que torna a parede dessas bactérias mais
espessa e rígida.

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Possuem ácidos teicoicos em sua estrutura como fator de virulência e regulador
iônico, sendo exclusivos de Gram positivas.

A parede celular das bactérias Gram negativas é mais complexa apesar de apresentar
uma camada de peptideoglicano menor do que a das Gram positivas, pois ela apresenta
uma membrana externa envolvendo a camada de peptideoglicano que se situa no espaço
periplasmático.

A membrana externa serve como barreira seletiva controlando a passagem de


algumas substâncias e causando efeitos tóxicos em animais infectados. Sua estrutura é
formada por uma bicamada de fosfolipídios, semelhante à membrana plasmática, sendo
a parte interna ancorada ao peptideoglicano e a parte externa impermeável de
lipopolissacarídeo (LPS).

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O LPS possui três segmentos
ligados covalentemente: lipídio A,
cerne de polissacarídio e antígeno O. A
porção lipídica do LPS também pode
ser chamada de endotoxina. Sua função
é protetora para bactérias entéricas
porém podem atuar como veneno,
causando febre, diarreia, destruição de
hemácias e um choque potencialmente
fatal.

A estrutura da parede celular implicará diretamente na coloração de Gram, que se


baseia nas propriedades lipídicas da camada externa.

É importante ressaltar que algumas bactérias possuem a composição química da


parede celular diferente do descrito, outras nem apresentam parede celular.

MEMBRANA CITOPLASMÁTICA

É a estrutura responsável por separar o meio interno (citoplasma) do meio externo


da célula. Sua composição é de cerca de 60% de proteínas imersas em uma bicamada de
lipídeos (40%), sendo os fosfolipídeos os mais importantes.

Funções da membrana plasmática:

 Transporte de solutos
 Produção de energia por transporte de elétrons e fosforilação oxidativa
 Biossíntese
 Duplicação do DNA
 Secreção

Sua maior importância para a célula é a permeabilidade seletiva já que a membrana


funciona como barreira osmótica impedindo a saída de água do interior da célula.
Difere da membrana citoplasmática dos eucariotos por não apresentar esteroides em
sua composição, ser sede de inúmeras enzimas do metabolismo respiratório, controlar
a divisão celular através do mesossomo.

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MESOSSOMOS

São invaginações da membrana citoplasmática, podendo estar ligados próximos à


membrana ou aprofundar-se no citoplasma. Possuem importante papel na respiração
celular e na divisão celular.

Os mesossomos profundos e centrais parecem estar ligados ao material nuclear da


célula estando envolvidos na replicação de DNA e na divisão celular e os mesossomos
laterais concentram as enzimas envolvidas no transporte de elétrons, conferindo maior
atividade respiratória e fotossintética às células que os possuem.

CITOPLASMA:

O citoplasma é constituído por 80% de água, ácidos nucléicos, proteínas,


carboidratos, compostos de baixo peso molecular, lipídios e íons inorgânicos, sendo o
sítio das reações químicas.

Podemos encontrar no citoplasma ribossomos que são responsáveis pela síntese


protéica. São menores do que os ribossomos humanos (70S) e estão presentes em grande
quantidade.

Algumas bactérias podem apresentar grânulos de reserva, que são inclusões de


acúmulo de substâncias constituídas de polímeros insolúveis (glicogênio, amido,
lipídios, enxofre, polifosfato e óxido de ferro) que podem ser utilizados posteriormente
pela bactéria. Outras bactérias, principalmente as que vivem flutuando em lagos, rios ou
mares, apresentam vacúolos gasosos com membrana rígida formada por proteínas.

NUCLEÓIDE:

O DNA bacteriano, ou nucleóide procarioto, é constituído por uma única molécula


dupla de fita circular de DNA. O cromossomo bacteriano não é envolto por membrana
celular e não apresenta histonas, porém ele contém as informações necessárias à
sobrevivência da célula e a replicação.

PLASMÍDEOS:

São elementos extracromossomais, moléculas menores de DNA que não codificam


características essenciais mas podem conferir vantagens seletivas para as bactérias que
os possuem, como por exemplo: genes de resistência à antibióticos, metais tóxicos,
produção de toxinas, etc.

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Os plasmídeos podem se autoduplicar independentemente da replicação
cromossômica.

ESPOROS BACTERIANOS

Os esporos bacterianos ou endósporos são estruturas formadas por algumas espécies


de bactérias Gram positivas quando o meio se torna carente de água ou nutrientes
essenciais. Assim, a formação do esporo em procariotos é um tipo de diferenciação
celular que ocorre como resposta a uma situação desfavorável do meio ambiente, e não
uma forma de reprodução.

Possuem pouca água no citoplasma, possuem parede celular muito espessa, são
altamente refráteis e altamente resistentes a agentes físicos e químicos devido a sua capa
impermeável composta por ácido dipicolínico. Sua função é a de proteger a célula
vegetativa das adversidades do meio ambiente e sua formação leva em torno de 6 horas.

Algumas espécies produtoras de esporos, frequentemente encontradas no solo e


patogênicas, são: Clostridium botulinum, Clostridium perfringes, Clostridium tetani e
Bacillus anthracis.

O processo de formação do esporo é denominada esporogênese e pode ser verificada


no esquema a seguir:

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6.3 Nutrição e crescimento microbiano
Nutrição em Gram positivos: sintetizam exo-enzimas, as quais são liberadas no meio
clivando os nutrientes que são captados por proteínas transportadoras;

Nutrição em Gram negativos: devido à presença da membrana externa de caráter


hidrofóbico (LPS) apresentam um grande número de porinas que permitem a passagem
de moléculas hidrofílicas de baixa massa molecular. Essas células apresentam no
periplasma três tipos de proteínas: que atuam na degradação inicial dos nutrientes –
hidrolases, que iniciam o transporte - proteínas de ligação e envolvidas nos processos de
quimiotaxia – quimiorreceptores.

Crescimento microbiano refere-


se ao número de micro-organismos e
não ao tamanho das células, logo, os
micro-organismos em crescimento
estão, na verdade, aumentando o seu
número e se acumulando em
colônias, que é um aglomerado de
células que pode ser visualizado a
olho nu.

Quando uma bactéria é semeada em um meio apropriado, nas condições apropriadas,


seu crescimento segue uma curva definida e característica, como a descrita abaixo.

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As condições necessárias para o crescimento microbiano podem ser diferentes para
cada espécie, porém, de modo geral, os fatores que influenciam no crescimento são
divididos em químicos: água, fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo, minerais,
etc; e ambientais: temperatura, pH, pressão osmótica, oxigênio, etc.

Os micro-organismos necessitam de um ambiente propício com todos os


constituintes físicos e químicos necessários para o seu crescimento pois as substâncias
ou elementos retirados do ambiente são utilizadas no anabolismo e catabolismo celular.

Os fatores químicos podem ser macronutrientes e micronutrientes:

 Água: é o solvente universal, essencial a qualquer micro-organismo, embora


as necessidades sejam variadas;
 Carbono: corresponde à base de todas as moléculas orgânicas. A maioria dos
procariotos requer algum tipo de composto orgânico como fonte de carbono,
o qual pode ser de diferente variedade (proteína, carboidrato, lipídeo ou gás
carbônico);
 Nitrogênio: corresponde ao segundo elemento mais abundante nas células,
compondo proteínas, ácidos nucléicos e peptideoglicano. Pode ocorrer sob a
forma de compostos orgânicos ou inorgânicos. A sua utilização ocorre a
partir da degradação de proteínas, ácidos nucléicos, bem como a partir de
amônia e nitrato presentes na natureza;
 Fósforo: encontrado em compostos orgânicos (ácidos nucléicos) ou
inorgânicos (fosfatos) sendo importante na composição do material genético
e na formação da membrana plasmática (fosfolipídeos);
 Enxofre: compõem os aminoácidos cisteína e metionina, além de estar
presente em vitaminas como a tiamina e biotina;
 Minerais: ferro, manganês, magnésio, cálcio, zinco, sódio, potássio, cobre,
cloro, cobalto, molibdênio e selênio são cofatores de enzimas e componentes
estruturais de algumas proteínas, por exemplo;
 Fatores orgânicos de crescimento: são compostos que os micro-organismos
não são capazes de sintetizar, como vitaminas, aminoácidos essenciais, etc.

Os fatores ambientais que influenciam o crescimento microbiano são:

 pH: a maioria das bactérias crescem dentro


de pequenas variações de pH próximos a
neutralidade (6,5 a 7,5). pH significa
"potencial Hidrogeniônico", uma escala
logarítmica que mede o grau de acidez,
neutralidade ou alcalinidade de uma
determinada solução.

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 Temperatura: cada bactéria apresenta uma temperatura ótima de crescimento,
pois acima do limite ocorre desnaturação proteica e consequente morte celular,
e temperaturas inferiores levam a desaceleração das atividades metabólicas;

 Pressão osmótica: a água presente dentro da célula bacteriana pode ser


removida por elevações na pressão osmótica e caso ocorra a separação da
membrana plasmática da parede celular o crescimento é inibido;

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 Oxigênio: pode ser inócuo, indispensável ou letal para a bactéria
podendo classifica-las da seguinte forma:

6.4 Classificação nutricional dos organismos


Todos os organismos podem ser classificados metabolicamente de acordo com o
padrão nutricional, ou seja, sua fonte de energia e de carbono.

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Formas de obtenção de energia:

 Fermentação: metabolismo no qual os compostos orgânicos são


parcialmente degradados, é a menos eficiente;
o Lática: ácido lático;
o Alcoólica: etanol;
o Aceto-butírica: ácido butírico e acetona;
o Acética: ácido acético (vinagre);
o Propiônica: ácido propiônico.
 Respiração: compostos orgânicos são totalmente degradados;
o Aeróbica: o aceptor final de elétrons é o oxigênio, é a mais eficiente;
o Anaeróbica: o aceptor final de elétrons não é o oxigênio (SO4, CO3,
NO3, etc), é a mais vantajosa;

6.5 Microscopia e confecção de esfregaço


As bactérias podem ser observadas de duas maneiras, com e sem coloração. Em uma
observação sem coloração (a fresco, através de observação de suspensão bacteriana entre
lâmina e lamínula, ou pela gota pendente), os micro-organismos são observados vivos.
Geralmente, a observação a fresco é utilizada para visualização da motilidade e
morfologia de bactérias espiraladas (que podem ficar distorcidas se fixadas), ou mesmo
em outras bactérias, para observar alterações na divisão celular e formação de esporos.
Neste caso, utiliza-se geralmente um microscópio de campo escuro, pois as bactérias ao
microscópio de campo claro tendem a aparecer transparentes, sendo necessária, muitas
vezes, a utilização de filtros de densidade neutra para diminuir a intensidade luminosa
e facilitar a visualização.

Por outro lado, em uma preparação com a utilização de corantes, os micro-


organismos são corados, após serem mortos pelas interações químicas que muitas vezes
podem ocorrer com auxílio de calor. Assim, quando utilizamos material fixado e corado,
temos várias vantagens, pois além das células ficarem mais visíveis após a coloração,
podemos transportar estas lâminas sem risco (pois o material está fixado), bem como
diferenciar células de afinidades distintas aos corantes e de morfologia variada.

Apesar de quimicamente distintas do meio que as rodeiam, as bactérias são quase


incolores, não apresentando contraste suficiente, o que dificulta sua visualização. A
diferença química entre as bactérias e o meio é que nos permite distingui-las por técnicas
de coloração. Muitas vezes o corante não reage com o meio externo, tornando-as quando
coradas, mais visíveis ao microscópio. Desta maneira poderemos observar suas formas
fundamentais, dimensões e arranjos.

A coloração apresenta ainda outras vantagens, pois com a utilização da objetiva de


imersão na microscopia óptica teremos uma maior amplificação da imagem, além de nos
permitir o estudo de estruturas da célula bacteriana como: parede celular, endósporos,
flagelos e cápsula.

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Em geral, as bactérias coram-se com os derivados de anilina (azul de metileno,
fucsina, cristal violeta, etc.) que são corantes básicos (íon colorido = cátion) e que
possuem afinidade pelo citoplasma destas células. Esta afinidade se deve ao fato do
citoplasma bacteriano apresentar carga elétrica negativa, derivada, principalmente, dos
radicais fosfatos dos ácidos nucléicos que aí se encontram.

6.5.1 Confecção do esfregaço


Pode-se fazer o esfregaço diretamente do material biológico ou da colônia
bacteriana. Um esfregaço consiste numa preparação seca de células microbianas numa
lâmina de vidro. Primeiro é importante que as lâminas estejam limpas. Depois os micro-
organismos devem ser espalhados na lâmina em determinada concentração de modo
que fiquem adequadamente separados uns dos outros. É absolutamente essencial evitar
esfregaços espessos, considera-se um bom esfregaço aquele que, quando seco, aparece
como uma fina camada esbranquiçada, logo, deve ser pouco espesso e homogêneo. Deve
ser feito em área de segurança biológica, a partir de um caldo preferencialmente, ou do
material diluído em salina, espalhado com alça bacteriológica em lâmina de vidro limpa,
desengordurada e seca.

Esfregaços feitos a partir de meios de cultura líquidos ou sólidos implicam técnicas


diferentes:

 meios de cultura líquidos: mergulha-se a alça na suspensão microbiana e coloca-


se diretamente no centro da lâmina; depois espalha-se, com o mesmo
instrumento, de modo a ocupar uma área de 1cm2.

 meios de cultura sólidos: coloca-se uma gota de água destilada ou salina estéril
no centro da lâmina; retira-se com a alça uma pequena quantidade do inóculo,
suspendendo-o e homogeneizando-o na gota; depois espalha-se a suspensão de
uma forma idêntica à anteriormente descrita.

Posteriormente, a lâmina deverá ser seca ao ar. A secagem é executada deixando a


lâmina ao ar ou colocando-a na estufa. Pode colocar-se a lâmina sobre dois dedos da
nossa mão que é mantida acima da chama do bico de Bunsen à distância que
conseguirmos suportar a intensidade do calor. A secagem deve ser feita com calor
moderado (37º C) para que a água seja evaporada lentamente e deste modo não ocorra
destruição ou distorção morfológica das células microbianas da preparação. É
importante uma boa secagem antes de se proceder à fixação.

Na secagem de um esfregaço, não devemos assoprar sobre o esfregaço ou balançar a


lâmina ao ar, pois outros micro-organismos podem contaminar sua amostra a ser
avaliada.

Após a secagem, a lâmina deverá ser fixada, antes de iniciarmos o processo de


coloração.

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A fixação evita que as células dos micro-organismos sejam lavadas e perdidas
durante o processo de coloração. Além disto, a fixação permite a aderência das células à
lâmina, matando os micro-organismos através da coagulação de seus protoplasmas,
preservando suas estruturas na forma e posição originais. O calor é o método de fixação
frequentemente utilizado. Para fixarmos, passamos a lâmina com o esfregaço voltado
para cima, por três vezes através da chama. Evitar o superaquecimento testando a cada
passada na chama a temperatura da lâmina no dorso da mão.

Esta etapa é essencial pois se o esfregaço não está fixado ao vidro da lâmina ele vai
ser removido durante a fase de coloração. A fixação pelo calor permite preservar a forma
do micro-organismo, mas alguns componentes celulares podem ser danificados. Na
fixação química (ex. etanol, formaldeído, glutaraldeído, etc.), geralmente, não há
destruição da estrutura das células que ficam fixadas à lâmina.

Durante o processo de fixação pelo calor (este deve ser mais forte do que na secagem)
são inativadas as enzimas que podiam alterar a morfologia celular, endurecidas as
estruturas celulares para que não se alterem durante a coloração e observação, dado que
as proteínas microbianas coagulam e fixam-se à superfície da lâmina.

Para que as células fiquem aderentes ao vidro segura-se a lâmina de um lado e fazem-
se 2 a 3 passagens pela chama do bico de Bunsen. Agora o esfregaço está pronto para
sofrer o processo de coloração.

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É importante lembrar que o esfregaço deve estar concentrado na porção central da
célula, pois caso contrário não será possível visualizá-lo no microscópio.

Caso o material biológico venha coletado em swab a confecção do esfregaço deve ser
feita de forma diferente. O swab deve ser rolado para frente e para trás na lâmina e não
esfregado sobre a lâmina de forma a evitar a destruição das estruturas e formar uma fina
camada do material sobre a lâmina.

Na preparação de esfregaços de materiais espessos ou semi-sólidos, como por


exemplo fezes, pode-se utilizar um swab, para auxiliar a espalhar o material de maneira
homogênea sobre a lâmina.

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A partir da lâmina pronta procede-se a coloração. São dois os processos que nos
permitem corar as bactérias:

COLORAÇÕES SIMPLES: nestas colorações utilizamos apenas um corante e ela


baseia-se na diferença química existente entre as bactérias e o meio. Uma vez coradas,
apresentam contraste, podendo ser visualizadas com mais clareza. Corantes mais
frequentemente utilizados em colorações simples bacterianas :

Tipo de Corante (Básico) Incubação

Azul de metileno 1-2 minutos

Cristal violeta 20-60 segundos

Carbolfucsina 15-30 segundos

COLORAÇÕES DIFERENCIAIS: nestes tipos de coloração utilizamos geralmente


mais de um corante além de mordentes e do diferenciador. Baseia-se na diferença
química existente nas diferentes estruturas celulares, consequentemente na reação
diferencial de variadas bactérias e suas estruturas frente a um determinado corante. No
geral, as colorações diferencias tem valor taxonômico e diagnóstico, são utilizadas para
distinguir diferentes tipos de bactérias e suas estruturas. Dentre os métodos diferenciais
existentes, aqueles que apresentam maior importância dentro de um Laboratório de
Microbiologia são o método de Gram, o método de Ziehl-Neelsen e o método de Albert-
Laybourn. Além disso, destaca-se ainda o método de Fontana-Tribondeau, que apesar
de não ser diferencial, ainda é utilizado em alguns laboratórios, com certa frequência.
Existem ainda os métodos de coloração pouco usados na rotina laboratorial, mas que
podem ser úteis quando há necessidade de evidenciação de alguma estrutura específica,
como a coloração de flagelos, esporos e cápsula.

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6.5.2 Coloração de Gram
Desenvolvida pelo médico dinamarquês Hans Christian Joachim Gram, em 1884.
Tem como fundamento o fato de que as bactérias, quando coradas por derivados
próximos da rosanilina (violeta genciana, cristal-violeta, metilvioleta, etc.) e depois
tratadas pelo iodo (solução iodo-iodetada, conhecida como lugol), formam um
composto de coloração escura roxa ou azul escuro. Este composto, nas bactérias Gram-
positivas, é fortemente retido e não pode ser facilmente removível pelo tratamento
posterior com o álcool, ao passo que nas Gram-negativas este composto é facilmente
descorado pelo álcool.

Muitas explicações já foram sugeridas na tentativa de elucidar o mecanismo da


reação de Gram. As mais plausíveis dizem respeito à diferença na estrutura química da
parede celular. Num primeiro momento, todas as bactérias (G+ e G-) absorvem
igualmente o cristal violeta (corante básico que possui afinidade pelos seus citoplasmas,
devido à carga elétrica negativa oriunda principalmente dos radicais fosfatos dos ácidos
nucléicos). A seguir, o lugol reage com o cristal violeta formando o complexo iodo-cristal
violeta (CV-I), que se fixa e cora a célula mais intensamente.

Posteriormente, quando tratamos o esfregaço com álcool, as bactérias se comportam


de maneira diferente:

As bactérias Gram-positivas não se descoram facilmente pelo tratamento com o


álcool. Isto se explica pelo fato dessas bactérias possuírem uma espessa parede celular
(várias camadas de peptidioglicano), além de outros possíveis componentes, como:
ácidos teicóicos, proteínas, polissacárides e etc. Estas substâncias não são solúveis em
álcool, que parece atuar reduzindo a permeabilidade da parede, dificultando a extração
(saída) do complexo CV-I (no citoplasma). A bactéria Gram-positiva permanece então
com a coloração (coram-se em roxo) até o final.

As bactérias Gram-negativas são descoradas pelo tratamento com o álcool. Estas


bactérias possuem uma delgada camada de peptideoglicano (que não é suficiente para
impedir a passagem do solvente) além de uma membrana externa rica em lipídios
(lipoproteina, fosfolípides e lipídio “A” que participa do LPS). O álcool solubiliza
(dissolve) estes lipídeos (muitas vezes dissolvendo membrana externa), o que contribui
para um aumento da permeabilidade da parede, permitindo a remoção CV-I, descorando
a célula. Finalmente, as bactérias descoradas pelo álcool, por não apresentarem
contraste que permita sua visualização, são contra coradas pelo corante secundário, que
é a fucsina (coram-se em rosa).

É importante sempre utilizar culturas jovens para não haver falsos negativos => Gram-
labilidade

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Limitações da coloração de Gram:

É inestimável o auxílio efetivo da coloração de Gram no diagnóstico microbiológico,


entretanto em algumas situações é contra indicada a sua utilização, como por exemplo,
na pesquisa de estruturas bacterianas como cápsulas e esporos, ou na pesquisa de
micobactérias e fungos filamentosos. Alguns micro-organismos Gram positivos em
cultivos superiores a vinte e quatro horas podem se apresentar Gram negativos. Micro-
organismos que sofreram ação de determinados antimicrobianos podem apresentar-se
falsamente Gram negativos; a recíproca não é verdadeira. Convém lembrar que a maioria
das interpretações equívocas de esfregaços corados pelo Gram devem-se a falhas na
preparação da lâmina, como um esfregaço demasiado espesso, excessiva fixação pelo
calor, ou descoloração insuficiente ou prolongada. O achado de micro-organismos
vermelhos próximos a elementos celulares corados fortemente como Gram positivos em
uma parte mais espessa do esfregaço, confirma que se tratam de organismos Gram
negativos e que não são bactérias Gram positivas descoradas em excesso.

Cuidados importantes: Inspecionar diariamente os corantes, os quais devem ser


estocados a temperatura ambiente em local sem variações bruscas de temperatura, a fim
de se evitar precipitação, e ao abrigo da luz; Comparar os resultados finais da morfologia

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pelo Gram com a cultura, caso resultados diferentes do esperado forem obtidos, revisar
tanto a coloração quanto a cultura.

OBS: Nem todos os micro-organismos corados pelo Gram podem ser cultiváveis.
Lâminas de referência são úteis para comparação e treinamento.

6.5.3 Coloração de Ziehl-Neelsen


Desenvolvida pelo bacteriologista Franz Ziehl e pelo patologista alemão Friedrich
Carl Adolf Neelsen, em 1882, baseia-se na propriedade de poucos gêneros bacterianos de
resistirem ao descoramento com uma solução de álcool-ácido, após tratamento pela
fucsina fenicada aquecida, permanecendo coradas de vermelho, diferentemente das
outras bactérias, que, por não possuírem esta propriedade, tomam a cor do corante de
fundo, normalmente feita com azul de metileno ou ácido pícrico saturado. A álcool-
ácido-resistência está relacionada à existência na parede celular destas bactérias de
lipídeos fortemente ligados como o ácido micólico, que provocam hidrofobicidade,
dificultando a penetração de corantes aquosos, a ação dos mordentes e dos
diferenciadores.

O estudo das micobactérias apresenta grande importância em medicina humana e


animal. No gênero Mycobacterium incluem-se os agentes da tuberculose humana (M.
tuberculosis) e bovina (M. bovis) e da lepra (M. leprae), além de outras espécies, algumas
saprófitas e outras oportunistas. São bactérias com forma de bastonetes, não esporuladas
e aeróbias estritas, o que explica a predileção delas em causar doenças no pulmão, que
não são coradas com facilidade, não são Gram positivas nem Gram negativas. Estas
bactérias apresentam grande resistência à ação dos agentes químicos (detergentes,
ácidos e álcalis), o que permite o seu isolamento em material contaminado com outros

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micro-organismos. As micobactérias possuem crescimento lento, mesmo em condições
ótimas (18 horas), e exigem meios de cultura complexos para seu crescimento, que
ocorre a partir de 12 a 15 dias para visualização de poucas colônias (as culturas devem ser
mantidas em observação de 6 a 8 semanas para diagnóstico definitivo). Antes da
semeadura do material, se contaminado, deve-se proceder à descontaminação, para a
qual existem vários métodos.

Um dos métodos mais utilizados para diagnóstico de tuberculose é a bacterioscopia


do escarro pela coloração de Ziehl-Neelsen, que é um método simples, denominado
pesquisa de BAAR (Bacilo álcool-ácido resistente). Assim, o resultado do BAAR positivo
num escarro implica na ideia de que se trata do M. tuberculosis, e, associado aos sinais
e sintomas do paciente, este resultado tem grande margem de segurança, mas não deve
ser encarado como valor absoluto, visto que outras bactérias do mesmo gênero coram-
se pelo BAAR da mesma forma.

Além do escarro, outros materiais biológicos podem ser usados para o diagnóstico
da tuberculose pulmonar (lavado brônquico, lavado gástrico, “swab” de laringe) e de
outros órgãos (urina, líquor, peças de biópsia, etc).

Os BAAR apresentam-se como bastonetes finos, corados em vermelho, sobre fundo


corado em azul. O resultado do exame de escarro corado pelo Ziehl-Neelsen pode ser
dado conforme a seguinte tabela do Serviço Nacional de Tuberculose.

RESULTADO INTERPRETAÇÃO
Negativo Ausência de BAAR em 100 campos microscópicos
Exame a ser repetido 1 a 2 BAAR em 100 campos microscópicos
Positivo (+) Menos de 10 BAAR em 100 campos microscópicos
Positivo (++) 1 a 10 BAAR em 10 campos microscópicos
Positivo (+++) 11 a 100 BAAR em 10 campos microscópicos
Positivo (++++) Mais de 100 BAAR em 10 campos microscópicos
A partir de esfregaços em lâminas, homogêneo, delgado e fixado, deve-se cobrir o
esfregaço com solução de fucsina de Ziehl, deixar agir por 5 a 10 minutos, aquecendo
com chama branda (evitar a fervura), até desprendimento de vapores (essa etapa pode
ser realizada em banho-maria, todavia, o tempo de aquecimento dobra para até 20
minutos). Lavar em água corrente e descorar com solução de álcool-ácido clorídrico a
1%. Cobrir o esfregaço com azul de metileno, por aproximadamente 30 segundos, lavar,
deixar secar e examinar a lâmina ao microscópio com a objetiva de imersão.

6.5.4 Outras colorações


a. Coloração de Fontana Tribondeau:
Método desenvolvido em 1920 mas não é um método de coloração verdadeiro. Na
realidade, trata-se de uma técnica de impregnação pela prata usada para auxiliar a
visualização de bactérias espiraladas, as quais, geralmente, são muito finas e se coram
de forma insuficiente pelo Gram (ex.: Leptospira interrogans e treponemas). A partir
desta técnica, as espiroquetas aparecem em cor marrom-escura ou negra, sobre um

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fundo amarelo-castanho ou marrom claro. Atualmente, os laboratórios têm utilizado
mais a microscopia de campo escuro a fresco para visualizá-las, ou os métodos de
imunoflorescência.

A partir de esfregaços em lâminas homogêneo, delgado e fixado, cobrir o esfregaço


com a solução fixadora (renová-la 3x, por 30 segundos), cobrir com solução mordente,
aquecendo a lâmina até emitir vapores. Aguardar 30 segundos e lavar em água corrente.
Tratar pela solução impregnadora de prata (nitrato de prata amoniacal), aquecendo
ligeiramente a lâmina até a emissão de vapores, deixando agir por 30 segundos (a
preparação toma a cor marrom). Secar ao ar e examinar a lâmina ao microscópio com a
objetiva de imersão.

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b. Coloração de Albert-Laybourn:
Foi sugerida inicialmente por Henry Albert, em 1920, e modificada por Ross
Laybourn, em 1924. Baseia-se no fato de algumas bactérias apresentarem corpúsculos
citoplasmáticos localizados nas regiões polares (corpúsculos metacromáticos, ou
corpúsculos de Babes Ernst, ou também chamadas de granulações de volutina), que se
coram pelo Lugol forte (de cor marrom), se evidenciando, em contraste com o corpo
bacilar, que se cora em verde-azulado pela solução de Laybourn. Tais características são
observadas nas corinebactérias e sua presença é associada aos sintomas clínicos
característicos da difteria, o que possibilita um diagnóstico presuntivo da doença, pela
microscopia ótica. O método é auxiliar no diagnóstico da difteria, já que geralmente é
clínico, mas a pesquisa de bacilos metacromáticos cuidadosamente coletados a partir da
face anterior da pseudomembrana pode ser um importante auxiliar diagnóstico. O
cultivo de corinebactérias é possível, mas seu uso clínico é bastante reduzido. O exame
direto de esfregaço de naso e orofaringe é padrão ouro para triagem de infecção pelo
Corynebacterium diphtheriae. Sugere positividade a presença de bacilos Gram-positivos
pleomorfos, em grande número
(predominância), com morfologia
e distribuição características. À
coloração de Albert Laybourn,
presença de grânulos
metacromáticos no citoplasma de
bacilos, além da morfologia e
distribuição característica (em
paliçada, letras chinesas). Tais
achados sugerem bacilo diftérico
e devem ser comunicados
imediatamente ao médico.

A difteria, que também pode ser chamada de crupe, é uma doença infecciosa
transmitida de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias ou através de contato
físico. As bactérias formam placas amareladas que se alojam nas amígdalas, laringe,
faringe, nariz e até mesmo na conjuntiva e na pele. Em casos severos da difteria, inchaços
no pescoço aumentando os gânglios linfáticos podem ocorrer causando dificuldade para
respirar ou bloquear totalmente a respiração, levando o paciente à morte. A doença pode
ser prevenida com a vacinação. A difteria afeta mais crianças do que adultos. Apesar de
ser mais comum nos mais jovens, a mortalidade da doença afeta de 5 a 10% das crianças
e 20% adultos com mais de 40 anos de idade. A transmissão é feita através de gotículas
de secreção respiratória, com espirros, tosse ou até mesmo durante conversas, e também
pode ocorrer através do consumo de leite cru. Com período de incubação médio de 3 a
5 dias, a pessoa infectada pode transmitir a doença por até 15 dias após o primeiro
contato. Após o tratamento, a bactéria pode ficar inativa no corpo por 6 meses ou mais.
As pessoas mais suscetíveis à doença são aquelas que estão com a imunidade baixa,
vivem em condições de superlotação ou insalubres, vão à cidades em que a difteria é
endêmica, e que não receberam a vacina.

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A partir de esfregaços em lâminas homogêneo, delgado e fixado, cobrir o esfregaço
por 3 a 5 minutos, com a solução de Albert-Layborn. Escorrer (sem lavar) e cobrir com
solução Lugol forte, por aproximadamente 2 minutos. Examinar a lâmina ao
microscópio com a objetiva de imersão.

c. Coloração para esporos com verde malaquita (Wirtz-


Conklin)
A descoberta dos endósporos bacterianos data de 1838, tendo sido descritos por
Ehrenberg como sendo corpos refratários à coloração, formados no interior de células
bacterianas. Estudos, feitos de modo independente por Cohn e Koch em 1876,
demonstraram a resistência destas estruturas a temperaturas elevadas (100°C) e a sua
germinação sob condições diferentes das que tinham permitido a sua formação. Koch,
em 1888, descreveu os principais acontecimentos envolvidos na esporulação e
germinação de Bacillus anthracis. Define-se como espessamento da membrana celular,
com uma forma rígida, que pode ser esférica ou alongada no interior do qual a célula é
capaz de resistir ao processo de perda de água (desidratação) e altas temperaturas ou a
congelamentos, ficando no estado de dormência por tempo indeterminado. Durante o
tempo de dormência esse organismo se divide uma ou mais vezes. Quando o ambiente
torna-se novamente favorável o esporo se rompe liberando novos indivíduos. Assim,
considera-se o esporo ou endósporo bacteriano uma célula de parede espessa formada
no interior de algumas bactérias. É muito resistente ao calor, à dessecação e outros
agentes químicos e físicos, sendo capaz de permanecer em estado latente por longos
períodos e, em seguida, germinar, dando origem a uma nova célula vegetativa. Os
esporos são difíceis de serem corados, pois os corantes geralmente não atravessam a
parede do esporo a não ser que seja utilizado o calor.

A parede do esporo é relativamente impermeável, porém os corantes podem


atravessá-la mediante o aquecimento da preparação. A seguir, a mesma
impermeabilidade serve para evitar a descoloração do esporo pelo tratamento com
álcool, suficiente para descorar as células
vegetativas, que podem ser finalmente
contracoradas. Comumente, os esporos são
corados com verde de malaquita ou
carbolfucsina. A exposição prolongada ao
corante verde malaquita, associado ao
aquecimento, permite a penetração do corante e
a coloração do esporo por um verde intenso.
Como contraste (contracorante), utiliza-se a
safranina, que cora outras estruturas em
vermelho, facilitando a diferenciação dos
esporos.

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6.6. Reprodução dos micro-organismos:
As bactérias se multiplicam por: Cissiparidade, Fissão ou Divisão Binária, um
processo devido à formação de septos na região do mesossomo, que se dirigem da
superfície para o interior da célula, dividindo a bactéria em duas células filhas.

A fissão é precedida pela replicação do DNA, que se processa de modo semi-


conservativo, e cada célula filha recebe uma cópia do cromossomo da célula mãe.

O período de divisão celular depende do tempo de geração de cada bactéria, que é o


tempo necessário para uma célula se dividir em duas, por exemplo a E.coli possui um
tempo de geração de 20 minutos, enquanto o M.tuberculosis 24 horas e o M.leprae 11
dias.

É considerado um processo natural de clonificação, onde não há amplificação da


variabilidade genética. É considerada reprodução assexuada.

6.7 . Genética bacteriana:


Os elementos celulares envolvidos na genética bacteriana são o nucleóide ou
cromossomo bacteriano, o DNA extracromossomal, pili ou fímbria sexual, mesossomo e
ribossomos.

 Cromossomo ou Nucleóide: constituído por uma única molécula de DNA fita


dupla, circular e não delimitado por membrana nuclear. Contém todas as
informações necessárias à sobrevivência da célula e é capaz de auto-
duplicação. Não contém íntrons e seus genes podem ser transferidos
associados a plasmídeos, transposons e bacteriófagos.
 DNA extracromossomal:

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o Plasmídeos: segmentos de DNA fita dupla circulares; ocorrem
principalmente em Gram negativos; codificam genes não essenciais e
muitas vezes podem mediar resistência múltipla a drogas; Possuem
alta taxa de transferência de uma célula para outra e podem transferir
genes próprios, cromossômicos e transposons.
o Transposons: segmentos de DNA fita dupla, com extremidades
repetidas e invertidas que codificam caracteres não essenciais; não
auto-duplicam e são altamente móveis dentro do genoma.
Tranferem-se ligados a plamídios e cromossomo.
o Integrons: menores que os transposons; segmentos de DNA fita
dupla; não auto-duplicam; capturam genes de resistência a drogas do
citoplasma.

 Pili ou Fímbria sexual: aparato envolvido na conjugação bacteriana;


 Mesossomo: ligado ao material nuclear e está envolvido na replicação do
DNA e na divisão celular;
 Ribossomos: cerca de 15.000 por célula, sendo cerca de 80% na forma de
polirribossomos (ligados ao RNA mensageiro)

Flux0 da informação genética:

Genoma: sequência completa de DNA, sendo algumas não convertidas em produtos


funcionais, enquanto outras sequências de nucleotídeos, denominadas Gene, são
expressas em um produto funcional, ou seja, molécula de RNA e proteína.

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Variabilidade genética:

As bactérias podem apresentar variações que conduzem à formação de clones com


propriedades distintas do clone “selvagem” original. A variação se dá através de mutação
ou recombinação.

Na mutação há alteração das bases nitrogenadas do DNA o que pode modificar o


produto (proteína). Sendo que essas alterações podem ser neutras, desvantajosas ou
benéficas. Ocorre naturalmente na divisão celular durante a replicação do cromossomo
bacteriano. É um processo aleatório e vertical, já que é passada para as células filhas.

A recombinação envolve a transferência genética entre duas células onde há ganho


de material genético exógeno, sendo horizontal. Ocorre durante os processos de
conjugação, transformação ou transdução.

 Transformação: há captação de fragmentos de DNA do meio ambiente após


morte celular e pode ocorrer inter-espécies e entre espécies diferentes.

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 Conjugação: há transferência de DNA de uma bactéria para outra que
envolve o contato entre as duas células. A célula portadora dos plasmídeos é
denominada F+, doadora, enquanto a célula desprovida de tais plamídeos é
denominada F-, receptoras. O tubo de conjugação é denominado pili sexual,
e é por ele que ocorre o contato entre as células. A transferência é unilateral
e após a conjugação ambas as células passam a ser F+.

 Transdução: há transferência de DNA mediada por vírus – bacteriófago.

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7. Meios de cultura:
Para cultivar micro-organismos em sistemas artificiais deve-se obedecer a requisitos
básicos, como a utilização de um meio com aporte nutricional adequado para aquele
micro-organismo, além de condições físico-químicas adequadas para o seu
desenvolvimento. Para isso utiliza-se meios de cultura que são misturas de compostos
nutrientes necessários ao crescimento microbiano.

O meio de cultura deve atender as exigências nutricionais específicas do grupo, do


gênero, ou da espécie que se deseja cultivar. Algumas bactérias crescem em qualquer
meio de cultura, outras necessitam de meios especiais e existem bactérias que não são
capazes de crescer em nenhum meio de cultura já desenvolvido.

Um meio de cultura deve conter:

 Água em quantidade necessária ao micro-organismo em estudo;


 Substâncias nutritivas em quantidade adequada: fontes de energia, carbono,
enxofre, nitrogênio, fósforo, sais, íons e fatores de crescimento;
 Condições físico-químicas adequadas: temperatura, pH, pressão osmótica e
atmosfera de incubação.

Todos os meios de cultura utilizados em microbiologia devem estar livres de


contaminação, ou seja, devem ser esterilizados.

Quanto ao estado físico, os meios de cultura podem ser líquidos, sólidos (1,5% de
ágar p/v) e semi-sólidos (0,5 a 0,75% de ágar p/v), sendo o ágar um polissacarídeo obtido
a partir de algas que funciona como agente solidificante. Não tem função nutritiva e seu
ponto de fusão é de 95°C.

Os meios de cultura podem ser divididos em:

 Meios de triagem: meios utilizados para separar bactérias da mesma família.

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 Meios de enriquecimento: aumentam a possibilidade de crescimento da
espécie desejada, quando a mesma se encontra em pequeno número, pois
substâncias de enriquecimento (soro, ovo, extrato de levedura) são
adicionados ao meio.
 Meios complexos: possuem componentes essenciais ao crescimento da
maioria dos micro-organismos quimioheterotróficos. A composição não é
exatamente conhecida pois possuem substâncias como extrato de levedura
(ricos em compostos vitamínicos do tipo B), peptonas, etc.
 Meios seletivos: inibem o desenvolvimento de determinados micro-
organismos devido à ação de substâncias inibitórias (antibióticos, corantes,
etc) favorecendo o crescimento dos micro-organismos de interesse.
 Meios seletivo-indicadores: são utilizados par o isolamento e identificação
presuntiva de micro-organismos.
 Meios redutores: são utilizados para o crescimento de bactérias anaeróbias
obrigatórias pois possuem substâncias capazes de reduzir o meio eliminando
o oxigênio.
 Meios quimicamente definidos ou sintéticos: meio no qual a composição
química é exatamente conhecida, geralmente utilizado para o cultivo de
bactérias quimioheterotróficas mais exigentes.

7.1. Principais meios de cultura utilizados nas análises


clínicas
 Ágar chocolate: é amplamente utilizado para o cultivo de micro-organismos
exigentes, embora cresçam neste meio quase todos os tipos de micro-
organismos. À base do meio, é adicionado sangue de cavalo, carneiro ou coelho
em temperatura alta, o que faz com que as hemácias lisem, liberando hemina e
hematina, compostos fundamentais para o crescimento dos micro-organismos
fastidiosos. Por ser um meio rico, o crescimento a partir de materiais biológicos
em geral costuma ser abundante. Utilizado para semeadura de Líquor e repiques
de hemocultura.
 Ágar Thayer-martin chocolate: é um meio rico e superior a outros meios de
cultivo destinados para o isolamento de Neisseria gonorrhoeae e Neisseria

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meningitidis , pois contém em sua fórmula antibióticos que inibem o
crescimento de Neisserias saprófitas e outras bactérias, quando em amostras
colhidas de sítios contaminados.
 Ágar SS – Salmonella e Shigella: possui componentes (sais de bile, verde
brilhante e citrato de sódio) que inibem micro-organismos Gram positivos. A
incorporação de lactose ao meio permite diferenciar se o micro-organismo é
lactose positiva (colônias de cor rosa), e bactérias que não fermentam a lactose
formam colônias transparentes. Permitem ainda a detecção de H²S evidenciado
por formação de colônias de cor negra no centro. Utilizado para coproculturas.
 Caldo selenito: tem propriedades que inibem coliformes e outras espécies da
flora intestinal como estreptococos. Utilizado para o enriquecimento e
isolamento de Salmonella spp. e Shigella spp. em amostras de fezes.
 Caldo tioglicolato: dá suporte para o crescimento de vários micro-organismos. O
potencial de oxidação e redução baixo do meio neutraliza efeitos antibacterianos
de algumas espécies. A resazurina e o azul de metileno são indicadores da
posição de oxidação de aeróbios. Usado para o cultivo de micro-organismos
aeróbios, microaerófilos e anaeróbios de diversos materiais.
 Ágar Mac Conkey: Possui cristal violeta que inibe o crescimento de micro-
organismos Gram positivos especialmente enterococos e estafilococos. Utilizado
para isolar bacilos Gram negativos (enterobactérias e não fermentadores) e
verificar a fermentação ou não da lactose.
 Ágar sangue: usando uma base rica, oferece ótimas condições de crescimento a
maioria dos micro-organismos. A conservação dos eritrócitos íntegros favorecem
a formação de halos de hemólise nítidos, úteis para a diferenciação de
Streptococcus spp. e Staphylococcus spp. Por ser um meio rico, o crescimento a
partir de materiais biológicos em geral costuma ser abundante.
 Ágar cled ou brolacim: Usado para isolamento e quantificação de micro-
organismos presentes em amostras urina. A deficiência de eletrólitos inibe o véu
de cepas de Proteus. Organismos que fermentam lactose baixam o pH e mudam
a cor do meio de verde para amarelo, podendo assim verificar se o micro-
organismo é lactose negativa ou positiva;
 Caldo BHI (Brain and heart infusion): é um meio derivado de nutrientes de
cérebro e coração, peptona e dextrose. Meio para cultivo de estreptococcos,
pneumococos, meningococos, enterobactérias, não fermentadores, leveduras e
fungos. Pode ser utilizado na preparação do inóculo para teste de
susceptibilidade aos antimicrobianos, para realização de teste de coagulase em
tubo, para teste de crescimento bacteriano a 42 e 44°C e para teste de motilidade
em lâmina.
 Caldo Todd: é usado para o cultivo de Streptococcus agalactiae ( beta -
hemolíticos do grupo B ). Possui em sua composição peptonas para um bom
crescimento, dextrose para estimulação da produção de hemolisina e tampões, e
antibióticos gentamicina e ácido nalidixico para favorecer o isolamento de
amostras com microbiota mista.
 Ágar Sal Manitol ou 7,5: é um meio de cultura muito usado para o isolamento
de Staphylococcus aureus de amostras biológicas como urina, secreções, feridas
e exsudatos. A degradação do manitol com a produção de ácido muda a cor do

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meio de rosado a amarelo. Devido ao seu alto conteúdo de cloreto de sódio,
pode-se fazer uma inoculação maciça da amostra em estudo.
 Lowestein-Jensen: a base do meio é constituída por ovos integrais, o que permite
amplo crescimento das micobactérias e o crescimento é satisfatório para o teste
de niacina (que é positivo para Mycobacterium tuberculosis). Para materiais
biológicos de sítios contaminados, fazer descontaminação prévia.
 Ágar Mycosel: a Cicloheximida, um dos componentes do meio, serve para
selecionar dermatófitos, e o cloranfenicol inibe o crescimento de bactérias e
alguns fungos filamentosos. Utilizado para o isolamento de fungos patogênicos,
principalmente dermatófitos, a partir de material de investigação contaminado.
 Ágar Sabourand: meio com nutrientes que favorece o crescimento de diversos
fungos leveduriformes e filamentosos, particularmente associados a infecções
superficiais.
 Ágar Mueller-Hinton: Ágar padronizado por Kirby e Bauer e pelo NCCLS que
oferece condições de crescimento das principais bactérias. Utililizado para a
realização do teste de avaliação da resistência aos antimicrobianos pelos
métodos de difusão em disco e E-test para enterobactérias, não fermentadores,
Staphylococcus, Enterococcus sp.

7.2 Técnicas de semeadura e isolamentos de micro-


organismos:
Uma cultura pura corresponde a uma cultura contendo um único tipo de organismo
isolado, o que é importante e o objetivo durante a análise, visto que permite o estudo
dos micro-organismos isoladamente, separando-os de outros. Porém, quando amostras
de fezes, escarro, pus, solo, água ou alimentos são semeadas em meios de cultivo, uma
grande variedade de bactérias irá se desenvolver, originando vários tipos de colônias,
que normalmente apresentam características morfológicas diferentes, permitindo
distinguir os micro-organismos.

Para isolarmos um micro-organismo deve-se separá-lo dos outros que se encontram


no mesmo material e para isso utilizamos de técnicas de semeadura, que é o plantio de
um micro-organismo em um meio de cultura a partir de um material qualquer, e
repique, que é a transferência de um micro-organismo de um meio de cultura crescido
para outro.

A finalidade do isolamento é a identificação do micro-organismo, pois a simples


observação de caracteres morfológicos não é suficiente para a identificação e
classificação dos micro-organismos. Para isto lançamos mão da analise de uma série de
características destes, como: características bioquímicas, sorológicas, de
patogenicidade, etc, que vão depender do micro-organismo que se pretende identificar.

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7.2.1 Semeadura em meios sólidos:
Em tubos de ensaio:

 Meio inclinado por esgotamento de alça: técnica utilizada para


obtenção de crescimento bacteriano e/ou para observação de
propriedades bioquímicas da bactéria. A semeadura é,
geralmente, feita da base do meio de cultura para a
extremidade do mesmo. Pode ser denominada de estriamento.

Meio inclinado: pode-se realizar a semeadura da base para a extremidade do


meio de cultura de forma uniforme, sem estriar. Esta técnica é realizada para
que haja crescimento bacteriano, bem como pode-se utilizá-la para observar
funções metabólicas de algumas bactérias.

 Em picada: esta técnica é utilizada para que se possa observar


funções metabólicas de alguns micro-organismos. No tubo à
esquerda observa-se o momento da picada com o auxílio de uma
agulha de semeadura inserida verticalmente até o fundo, e à
direita observa-se o resultado da picada propriamente dita.

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Em placas de Petri:

 Semeadura em superfície: o material a ser semeado deverá conter poucos micro-


organismos porque o inóculo (porção da amostra a ser semeada que consta na
alça ou agulha) para o isolamento deve ser leve. Lembrar que cada colônia
formada na superfície de um meio sólido é originada de um ou alguns micro-
organismos. Quanto maior o número, menor a possibilidade de isolamento e
maior a probabilidade de crescimento confluente. Quando o inóculo for obtido
a partir de material sólido deve-se diluir em salina estéril ou utilizar a técnica de
esgotamento adequada.
 Estrias múltiplas para isolamento: consiste em espalhar o material com o auxílio
da alça bacteriológica fazendo estrias sucessivas até o esgotamento do material,
de modo a obter-se um perfeito isolamento das bactérias existentes na amostra.
Quando material é muito denso, a alça deverá ser flambada. A técnica é a
seguinte: a alça deslizará sobre a superfície do meio de cultura sobre a região
onde há um inóculo bacteriano e logo depois com movimentos de zig-zag em
vários sentidos sem sobrepor os deslizes de forma a esgotar o material e isolar o
micro-organismo.

 Espalhamento em placa: consiste em espalhar o material, em geral uma


suspensão bacteriana, com o auxílio de um swab (obtenção de tapete uniforme
de crescimento microbiano) ou alça de Drigalski (obtenção de colônias isoladas
após diluição), fazendo a semeadura por toda a superfície da placa de Petri.
Deve-se ter o cuidado para que toda a superfície da placa seja semeada evitando

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regiões sem semeadura. Recomenda-se fazer o procedimento com swab em três
ou quatro direções distintas rodando a placa.

 Em profundidade ou Incorporação: técnica consiste em adicionar 1mL de


suspensão bacteriana que esteja em análise a 20mL de um meio de cultura
fundido e resfriado, com posterior homogeneização com movimentos circulares.
Pode ser utilizada para quantificar micro-organismos. Também denominada
Pour-Plate.

7.2.2 Semeadura em meios líquidos:


 Difusão: técnica que consiste em acrescentar o micro-organismo através da alça
ou agulha de platina em meios líquidos. Tem como principal finalidade a
observação de propriedades bioquímicas através de testes microbiológicos, bem
como poderá ser utilizada para o favorecimento do crescimento bacteriano,
quando é realizada em meios que possibilitem o enriquecimento.

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7.2.3 Semeadura em meios semi-sólidos:
 Em picada: esta técnica é utilizada para que se possam observar funções
metabólicas ou características físicas, como motilidade, de alguns micro-
organismos.

As culturas bacterianas podem ser mantidas refrigeradas para sua estocagem por curtos
períodos, porém existem métodos para longo período:

 Congelamento em baixas temperaturas: as culturas são colocadas em um líquido


de suspensão e congeladas rapidamente nas temperaturas entre -50 e -90°C.
Estas culturas permanecem viáveis por vários anos.
 Liofilização: a suspensão microbiana é rapidamente congelada nas temperaturas
entre -54 e -72°C e imediatamente ocorre a remoção da água através da utilização
de alto vácuo (sublimação). O resíduo parecendo um pó, que são os micro-
organismos viáveis, são estocados por anos.

8. Métodos físicos e químicos de controle dos micro-


organismos
Quando as populações bacterianas são aquecidas ou tratadas com substâncias
químicas antimicrobianas, em geral, elas morrem em taxa constante, porém existem
diversas condições que influenciam no controle microbiano: o número de micro-
organismos, pois quanto maior o número maior será o tempo para eliminar a população;
influências ambientais, a presença de matéria orgânica como sangue, saliva ou fezes,
frequentemente inibe a ação dos antimicrobianos; tempo de exposição, quanto mais
prolongada a exposição maior é o número de indivíduos mortos; características
microbianas específicas, por exemplo os esporos.

Para o controle microbiano utiliza-se de diferentes características:

 Alteração da permeabilidade da membrana: a lesão dos lipídios de membrana


plasmática por agentes antimicrobianos, causa o vazamento do conteúdo celular
no meio, e interfere no crescimento da célula.
 Danos as proteínas: produtos químicos ou calor suficiente podem romper as
ligações de hidrogênio e/ou as pontes dissulfeto, desnaturando as proteínas.

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 Danos aos ácidos nucléicos: ações letais para os ácidos nucléicos, que não podem
mais se replicar nem realizar as funções metabólicas normais.

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Características de um agente químico ideal:

 Ação sobre vários micro-organismos;


 Toxicidade seletiva;
 Solubilidade, estabilidade e odor (relativo);
 Não corrosivo e não se corar;
 Alto poder de penetração e poder residual;
 Temperatura de ação adequada;

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 Não combinar com substâncias orgânicas;
 Disponibilidade e preço razoável;
 Não poluir o meio ambiente;

Mas qual o objetivo desse controle?

O controle artificial da população microbiana propicia a obtenção de condições


assépticas e de esterilidade em ambientes e vários materiais, sendo o controle da
população microbiana em nível de pele e mucosa um problema constante.

Mas por quê?

A microbiota das mãos apresenta uma população de micro-organismos representada


por diferentes gêneros, e por uma diversificação muito grande de indivíduo para
indivíduo, e, em um mesmo indivíduo, de um momento a outro. Os folículos pilosos da
pele são colonizados por bactérias não virulentas, que impedem a implantação de micro-
organismos patogênicos, constituindo a ‘microbiota indígena’, ‘autóctone ou ‘residente’.

Na superfície da pele depositam-se micro-organismos das mais variadas fontes, mas


que não a colonizam, sendo de fácil remoção. Estes micro-organismos são chamados
‘microbiota transitória’.

Dependendo da atividade profissional do indivíduo, seja


ele médico, enfermeiro, dentista, auxiliar de enfermagem,
técnico de análises clínicas, manipulador de alimentos, entre
outros, os micro-organismos presentes na microbiota da mão
representam elevado risco de contaminação para outros
indivíduos, porque as mãos agem como um veículo de
transmissão de micro-organismos patogênicos.

Muitos surtos de intoxicações alimentares, infecções intestinais, infecções


hospitalares e a elevada incidência de contaminação de feridas cirúrgicas podem ser
evitados com um simples ato de lavar as mãos antes de preparar os alimentos e antes de
manipular o paciente.

No hospital, a lavagem de mãos deve ser um procedimento dos mais importantes


entre as medidas que se destinam ao controle de infecções hospitalares. Isto deve ser
exigido de todos aqueles que manipulam doentes, inclusive do médico. A lavagem das
mãos com água e sabão remove a microbiota transitória mas a microbiota residente
persiste, havendo necessidade do emprego do antisséptico e uso de luvas estéreis,
quando o paciente ficar exposto a alto risco de infecção (cirurgia, angiografia, biopsia,
etc).

Para a antissepsia das mãos existe uma série de produtos comerciais, cabendo ao
usuário a escolha de acordo com os critérios fundamentais apresentados em trabalhos
científicos, que apontam as vantagens e desvantagens de cada um dos produtos, como
já discutido anteriormente.

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Um cuidado importante é a pesquisa da microbiota das mãos periodicamente em
enfermeiras e médicos que cuidam de pacientes queimados, com feridas cirúrgicas ou
de recém-nascidos. Não é raro profissionais que possuem bactérias patogênicas na
microbiota residente das mãos, como Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus,
o que apresenta um grande risco de contaminação externa para os pacientes.

Outro cuidado que se deve ter é em relação aos antissépticos indicados para a
assepsia das mãos, verificando, antes do seu uso rotineiro, se os componentes de sua
fórmula são germicidas nas concentrações indicadas, se no preparo das soluções são
seguidas as especificações do fabricante, não deixando de observar o tempo de validade
das soluções em uso. Muitos produtos já lançados no mercado mostraram-se menos
eficientes que o sabão neutro. Com relação ao álcool iodado, deve-se salientar que,
embora seja um antisséptico de grande poder germicida, seu uso constante provoca o
ressecamento da pele e que pessoas alérgicas ao iodo não devem usá-lo, havendo então
a necessidade de substituí-lo por outro produto de eficiência comprovada e equivalente.

Quando devemos lavar as mãos?

SEMPRE!

Por exemplo:

1. Antes de realizar trabalhos hospitalares;


2. Antes de manusear medicamentos e alimentos;
3. Antes de calçar as luvas;
4. Antes e depois do contato direto com o paciente;
5. Antes e depois de efetuar procedimentos terapêuticos e diagnóstico
(sondagens, punções venosas, coleta de material para exame, curativos e
outros), mesmo quando houver indicações da utilização de luvas;
6. Antes de realizar atos e funções fisiológicas ou pessoais como: alimentar,
usar o banheiro, pentear os cabelos, fumar, etc.
7. Antes de preparar materiais e equipamentos (respiradores, nebulizadores);
8. Antes de manipular materiais e equipamentos (cateteres intravasculares,
sistema fechado de drenagem urinária e equipamentos respiratórios);
9. Antes de manusear cada paciente e, às vezes, entre as diversas atividades
realizadas em um mesmo paciente (p.ex. higiene e aspiração endotraqueal);
10. Após contato direto acidental com secreções e material orgânico em geral;
11. Após contato com materiais e superfícies contaminadas;
12. Após terminar o trabalho;
13. Após retirar as luvas.

Devemos ter outros cuidados especiais, tais como manter as unhas bem aparadas e,
de preferência, sem pintura excessiva, cabelos presos, de preferência em coques, barba
bem aparada, etc.

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9. Relação bactéria-hospedeiro
Os micro-organismos são ubíquos e capazes de se adaptar a qualquer ambiente
físico-químico, inclusive o corpo humano.

São vários os benefícios observados entre essa relação de simbiose entre hospedeiro
e micro-organismo, tendo destaque o antagonismo microbiano, em que a microbiota
protege o hospedeiro impedindo a colonização por micro-organismos potencialmente
patogênicos, através da competição por nutrientes, sítios de adesão, produção de
substâncias nocivas aos patógenos e alterações das condições ambientais, como
alteração do pH local e disponibilidade de oxigênio.

Qualquer alteração na microbiota, portanto, pode resultar no desenvolvimento de


doenças causadas por micro-organismos patogênicos. Além disso, é importante ressaltar
que a microbiota de um determinado sítio do hospedeiro pode causar infecções quando,
em situações anormais, atingem outros sítios, originariamente estéreis ou compostos
por uma microbiota diversa.

Algumas definições importantes:

 Infecção: implica a colonização, multiplicação, invasão ou a persistência dos


micro-organismos patogênicos no hospedeiro;
 Doença: ocorre quando é verificada uma alteração do estado normal do
organismo;

Infecção pode existir sem doença detectável


 Patologia ou patogênese: modo como se originam e desenvolvem as doenças;
 Patogenecidade: é a habilidade com que um micro-organismo causa
infecção, através dos seus mecanismos estruturais ou bioquímicos;

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 Virulência: é o grau de patogenecidade de um micro-organismo;
 Flora normal ou comensal: micro-organismos que permanecem no
organismo sem produzir doença e vivem em simbiose com o hospedeiro, ou
seja, obtêm vantagens sem prejuízo para o hospedeiro;
 Bactérias estritamente patogênicas: estão sempre associadas à doença
 Bactérias potencialmente patogênicas: podem estar ou não associadas à
doença;
 Bactérias oportunistas: bactérias que normalmente não causam doença,
exceto em situações que podem favorecer a sua proliferação;
 Portadores sãos: indivíduos em que na sua flora normal existem bactérias
patogênicas.

O processo saúde X doença


envolve diversos fatores que
devem estar balanceados para que
um ou outro ocorra, e isso depende
dos fatores de virulência de cada
micro-organismo, das barreiras de
defesa do hospedeiro e os fatores
ambientais envolvidos.

As interações bactéria-hospedeiro podem ou não resultar em dano ao hospedeiro,


sendo que a doença ocorre quando o hospedeiro sofre danos o suficiente para perturbar
a homeostase, causando sintomas, que são alterações subjetivas na função corporal
(desconforto, mal-estar, dor), e sinais, alterações objetivas que o médico pode observar
e medir (lesões nos tecidos, edema, paralisia).

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As bactérias podem causar doença por dois mecanismos principais:

 Produção de toxinas e/ou enzimas: exotoxinas (polipetídeos secretados pelas


células) ou endotoxinas (LPS presente na parede celular de Gram negativas), que
podem causar sintomas independentemente da presença da bactéria no hospedeiro;
 Invasão e inflamação: bactérias invasivas penetram e se multiplicam no local dos
tecidos sãos induzindo a resposta inflamatória, que consiste em eritema, edema,
calor e dor.

Fatores de virulência bacterianos: estruturas, produtos ou estratégias que


contribuem para o aumento da capacidade da bactéria de causar doença, são alguns
deles:

o Produção de enzimas: leucocidinas, hemolisinas, coagulases, hialuronidases,


colagenases;
o Produção de toxinas: exotoxinas - citotoxinas (toxinas diftérica e
eritrogênica), neurotoxinas (toxinas botulínica e tetânica) e enterotoxinas
(toxinas colérica e estafilocócica); e endotoxinas – LPS de Gram negativas;
o Adesinas: localizadas nas fímbrias e cápsulas, responsável pela penetração e
escape do sistema imunológico;
o Peptideoglicano: o ácido teicóico de Gram positivas contribui para a adesão
do micro-organismo às mucosas;
o Cápsula: além de auxiliar na adesão ao tecido contribui para resistência
bacteriana à fagocitose;

A carga infecciosa ou dose infecciosa necessária para um organismo causar doença


varia entre as bactérias patogênicas, por exemplo, Salmonella e Shigella causam diarréia
por infecção do trato gastrointestinal, porém a dose infecciosa da Salmonella é de mais
de 100.000 células enquanto a da Shigella e de menos de 100 células.

As colonizações podem ser de origem da microbiota residente ou exógena, de


etiologia monomicrobiana ou polimicrobiana e de natureza infecciosa e não-infecciosa.

Classificação das doenças infecciosas:

 Contagiosa: se dissemina de um hospedeiro susceptível para outro, de forma


direta ou indireta, por exemplo, tuberculose;

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 Não contagiosa: não se dissemina de um hospedeiro para outro, geralmente
é causada por micro-organismos endógenos ou exógenos, por exemplo,
tétano;
 Aguda: desenvolvimento rápido, e tem duração curta, apresenta geralmente
sintomas graves, por exemplo, influenza;
 Crônica: desenvolvimento lento com sintomas geralmente menos graves,
mas a doença provavelmente será contínua e recorrente por longos períodos
de tempo, por exemplo, hepatite B;
 Latente: o agente causal permanece inativo por um determinado período de
tempo sem causar nenhum sintoma, por exemplo, varicela;
 Emergente: apresenta um aumento da incidência em um passado recente ou
em um futuro próximo, por exemplo, poliomielite, varíola;
 Local: são aquelas em que os agentes patogênicos estão limitados a uma área
relativamente pequena do corpo do hospedeiro, por exemplo, abscessos e
piodermites;
 Sistêmica: são aquelas em que os agentes causais ou seus produtos são
disseminados por todo o organismo, pelo sangue ou linfa, por exemplo,
septicemia;
 Hospitalar: são doenças adquiridas como resultado de uma hospitalização,
causadas geralmente por agentes que não causam infecção em pessoas
saudáveis, associadas a indivíduos cujas defesas foram enfraquecidas pela
doença ou por determinadas terapias, por exemplo, pneumonias.

ENDEMIA: constante em baixos


níveis numa população espercífica
em uma determinada região.

EPIDEMIA: ocorrem mais


frequentemente do que o usual

PANDEMIA: que têm uma


distribuição mundial

Para uma doença se perpetuar deve haver uma fonte contínua de organismos da
doença. Esta fonte pode ser o organismo vivo ou um objeto inanimado que fornece ao
micro-organismo condições adequadas para sobreviver e se multiplicar, sendo
denominado reservatório.

 Reservatórios humanos -> o próprio corpo humano constitui o reservatório,


pois muitas pessoas abrigam patógenos e os transmitem direta ou
indiretamente para outras pessoas. Alguns reservatórios humanos podem ser

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portadores sãos que apesar de abrigar o patógeno e transmiti-lo não
apresentam quaisquer sinais da doença, o que é extremamente importante
quando pensamos em disseminação de doenças como AIDS, Sífilis,
Gonorréia, etc.
 Reservatórios animais -> tanto animas selvagens como domésticos podem
ser reservatórios de patógenos, sendo as doenças denominadas zoonoses.
Exemplo: toxoplasmose.
 Reservatórios inanimados -> solo, água, alimentos podem ser caracterizados
como reservatórios.

A transmissão de doenças pode ser realizada de diversas formas: por contato direto
(pessoa-pessoa), contato indireto (fômites) e perdigotos (gotículas de saliva); através de
veículos como água, alimentos, ar, sangue, líquidos corporais, drogas e líquidos
intravenosos; por meio de vetores, por exemplo insetos e artrópodes, que podem
transmitir mecanicamente (transporte passivo dos patógenos) ou biologicamente
(transporte ativo).

Os patógenos podem entrar no hospedeiro através de várias vias denominadas


portas de entrada, sendo as principais:

 Membranas mucosas: membranas que revestem os tratos respiratório,


gastro-intestinal, genito-urinário e conjuntivo, sendo o primeiro o mais fácil
e mais frequentemente utilizado pelos micro-organismos infecciosos.
Através do trato gastro-intestinal é comum os micro-organismos obterem o
acesso via veículos como água e alimentos contaminados. Exemplos:
resfriado, pneumonia, tuberculose, gripe, sarampo, hepatite A, diarréias,
disenteria, cólera, etc.
 Pele: quando íntegra é impermeável para a maioria dos micro-organismos,
porém quando lesionada torna-se importante porta de entrada. Alguns
patógenos obtém acesso através dos folículos pilosos e os dutos das glândulas
sudoríparas.
 Via parenteral: através da deposição direta do micro-organismo nos tecidos
via punções, injeções, ferimentos e cirurgias.

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Etapas da patogênese bacteriana:

Sintomas da
doença causados
Colonização e pela produção de
multiplicação no toxinas, enzimas
sítio da infecção ou pela invasão
Aderência às acompanhada
membranas por inflamação
mucosas através
de fímbrias
Evasão das bacterianas
defesas
primárias do
hospedeiro Respostas do hospedeiro
como a pele e a
inespecíficas ou
Transmissão acidez do
a partir de estômago específicas durante a
uma fonte invasão, multiplicação
externa para ou produção de toxinas
a porta de
entrada

Prosseguimento ou
término da doença

Lembrando:

IMUNIDADE NATURAL, NATIVA OU INATA: Mecanismos de


defesa que estão presentes nos sistema independente da presença de
agentes infecciosos ou partículas estranhas (barreiras biológicas,
fagocitose e resposta inflamatória, febre)

IMUNIDADE ADQUIRIDA OU ESPECÍFICA: Mecanismos de defesa


estimulados pela exposição a substâncias estranhas, são específicos;
discriminam entre diferentes substâncias e aumentam sua
magnitude a cada exposição subsequente ao mesmo agente
(imunoglobulinas, resposta mediada por células T)

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10.Métodos diagnósticos:
O diagnóstico das infecções bacterianas pode ser realizado por diversos
procedimentos, porém o de certeza é baseado no isolamento e identificação do agente
bacteriano a partir de materiais clínicos coletados adequadamente do sítio de infecção,
conhecido normalmente como exame bacteriológico ou cultura.

Outros métodos podem ser utilizados: demonstração das bactérias por técnicas de
coloração, de antígenos por métodos imunológicos, pesquisa de genes específicos do
agente microbiano, pesquisa de anticorpos e resposta imunológica celular. Os
procedimentos que utilizam métodos de demonstração do agente diretamente do
material clínico apresentam grande interesse, pois são geralmente rápidos por
dispensarem as técnicas de cultivo, contudo, são métodos presuntivos.

 Demonstração direta da bactéria: é rápido e de baixo custo e auxilia o


microbiologista na escolha dos meios de cultura mais indicados para aquele
material e ao médico para melhorar a terapia empírica a ser ministrada.
 Exame ao microscópio óptico: são eles o exame direto, a coloração de Gram,
a coloração ácido resistente, etc.
 Detecção de antígenos: os mais empregados são os testes de aglutinação e
ELISA. Podem ser utilizados no próprio material biológico ou na cultura após
isolamento, e permitem um diagnóstico rápido, específico e sensível.
 Detecção de ácidos orgânicos: utiliza a propriedade de algumas espécies
produzirem substâncias específicas, porém é de alto custo por utilizar
cromatografia gasosa.
 Pesquisa de DNA: é uma técnica genética de pesquisa do micro-organismo
muito específica e que pode ser realizada em diferentes espécies e em
quantidades muito pequenas, porém de custo mais alto do que o método
tradicional. Cada vez mais são utilizados no diagnóstico.
 Métodos bacteriológicos: baseiam-se no isolamento e identificação
bioquímica dos micro-organismos, logo, é necessário o crescimento do
agente em meio de cultura.
 Perfil de Sensibilidade aos antimicrobianos: é a ferramenta mais importante
do ponto de vista clínico, visto que define as possibilidades de controle da
infecção.
10.1 Isolamento e identificação de bactérias
Para estudarmos as bactérias precisamos dividi-las em grupos.

As enterobactérias são bacilos Gram negativos pertencentes à ordem


Enterobacteriales frequentemente encontrados em amostras clínicas como agentes
causadores de infecções. Na natureza são amplamente distribuídos, sendo encontrados
no solo, água, plantas e até na microbiota residente, em especial no intestino dos seres
humanos e animais.

Elas podem causar diferentes processos infecciosos de gravidades distintas


localizadas no trato gastro intestinal ou em outros sítios do hospedeiro, sendo comuns

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como agentes de infecção do trato urinário, respiratório, sistema nervoso central, além
de causarem intoxicações alimentares, infecções disseminadas e nosocomiais. Em geral,
apresentam resistência múltipla à antibióticos.

A identificação das enterobactérias está baseada nas propriedades bioquímicas,


antigênicas e de patogenicidade. Em geral as amostras clínicas suspeitas são semeadas
em meios de cultura seletivo-diferencial, por exemplo o MacConkey, que inibe o
crescimento de outros micro-organismos e diferenciam as bactérias em fermentadoras
de lactose (coloração rosa da colônia) ou não fermentadoras de lactose (colônias
transparentes ou amareladas). Em seguida inocula-se a bactéria isolada em meios de
triagem e em diversos testes bioquímicos, como por exemplo os aminoácidos (Arginina,
Lisina, Ornitina), provas de fermentação de açúcares (glicose, lactose), produção de
gases, indol, motilidade, citrato, etc. Após essa inoculação e crescimento faz-se a leitura
dos testes onde a mudança de coloração indica se um teste está positivo ou negativo, e
após um cruzamento de dados conclui-se a espécie bacteriana.

Meio de cultura MacConkey

A – Lactose positiva

B – Lactose negativa

Os bacilos Gram negativos não fermentadores constituem outro grupo importante


de bactérias patogênicas amplamente distribuídos pela natureza, podendo ser
encontrado em alimentos congelados, água de torneira, utensílios médico-hospitalares,
etc. Apresentam grande importância em casos de infecções relacionadas à assistência à
saúde, antigamente denominada infecção hospitalar.

Possuem baixa atividade metabólica quando comparados às enterobactérias sendo a


identificação bioquímica mais complexa. Utiliza-se muitas das provas citadas
anteriormente mais as carcaterísticas morfológicas, micro e macroscópicas, além das
resistências intrínsecas.

Os cocos Gram positivos apresentam características diferentes, sendo os


estafilococos (catalase positivo) melhor cultivados em meios de cultura suplementados
com 10-15% de cloreto de sódio, enquanto os estreptococos (catalase negativo) podem
necessitar de gás carbônico para crescerem adequadamente além de exigirem meios de
cultura mais ricos.

Podem ser encontrados na natureza e na microbiota e causam diversas infecções. Os


estafilococos provocam intoxicações alimentares, formação de abscessos, infecções

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supurativas, piogênicas e septicemia, enquanto os estreptococos causam faringite,
escarlatina, febre reumática, endocardite, etc.

Para identificação de ambos o arranjo torna-se essencial, mas as características


morfológicas e a capacidade hemolítica dos estreptococos visualizada em ágar sangue
são importantes ferramentas na identificação.

Assim como os Gram negativos, os Gram positivos podem ser inoculados em provas
bioquímicas para auxiliar na identificação da espécie.

Algumas provas seguem abaixo:

À esquerda prova da coagulase, A – positiva e B- negativa; à direita prova da


catalase, sendo – negativa e + positiva.

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10.2 Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos
A necessidade de controlar a população microbiana levou à criação da antibiose pela
utilização de agentes físicos, químicos e biológicos, visando a diminuição ou a
eliminação dos micro-organismos.

A antibiose biológica realizada no antibiograma estabelece in vitro o perfil de


susceptibilidade dos micro-organismos frente aos diferentes antibióticos de uso
comercial. O resultado expressa uma indicação para se conseguir a terapêutica racional
em diferentes processos patológicos causados pro micro-organismos, bem como o
controle ou eliminação da microbiota presente não só na pele como nas cavidades
naturais, que são fontes de disseminação.

Grande parte das bactérias relevantes do ponto de vista clínico é capaz de adquirir e
expressar resistência a agentes antimicrobianos. Assim, quando um mciro-organismo é
isolado em laboratório, sua caracterização envolve frequentemente, a avaliação do perfil
de susceptibilidade a drogas antimicrobianas, ou seja, a realização do antibiograma.

O objetivo primário da realização do antibiograma é a investigação da capacidade


de determinada amostra bacteriana expressar resistência a drogas antimicrobianas
comumente empregadas na terapêutica. Os dados obtidos podem nortear a escolha do
agente antimicrobiano mais adequado a cada situação e predizer a chance de sucesso de
um esquema terapêutico específico. Como os padrões de resistência intrínseca são
geralmente conhecidos, o método visa à pesquisa de resistência adquirida, que é bem
menos previsível.

Diversas variáveis devem ser controladas quando da realização do antibiograma.


Entre elas, destacam-se: o tamanho do inóculo, o meio de cultura e as condições de
incubação. Além disto, deve-se ressaltar que nem sempre os dados obtidos in vitro
correspondem ao que se observa in vivo. Neste caso, a ação das drogas é influenciada por
inúmeros fatores como, por exemplo, capacidade de atingir o loal da infecção em
concentrações adequadas. Existem ainda variáveis que não podem ser controladas
quando da administração de agentes antimicrobianos a seres vivos.

A principal metodologia utilizada é a de disco-difusão em meio sólido de Kirby


Bauer, que baseia-se na utilização de discos de papel de filtro impregnados com
antimicrobianos que em contato com o ágar permitem a difusão do antibiótico criando
um gradiente de concentração e consequentemente um halo de inibição do crescimento
bacteriano. A presença ou ausência de crescimento em torno dos discos é interpretada
como resistência ou susceptibilidade ao antibiótico.

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A leitura é realizada utilizando-se uma régua para medir o diâmetro do halo em
milímetros e comparando com uma tabela pré-determinada de tamanho dos halos
define-se R para resistente, I para intermediário e S para sensível.

Existem ainda metodologias de diluição em caldo, difusão em gradiente de


concentração e automatizadas, que são utilizadas em menor escala porém em situações
específicas.

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11. Infecções bacterianas
Antes de falarmos propriamente dito das
infecções devemos pensar quais são as portas de
entrada para os micro-organismos: as membranas
mucosas (trato respiratório, gastro-intestinal,
genito-urinário e conjuntiva); pele; via parenteral.

O nosso organismo está preparado para a


entrada desses micro-organismos, ou seja, ele
possui barreiras físicas e químicas para impedir a
entrada, porém quando há um desequilíbrio
ocorre a contaminação com posterior infecção.

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11.1 Infecções do trato genito-urinário
O trato urinário é composto pela uretra, bexiga, ureteres e rins, e quando há a
presença e colonização de micro-organismos em qualquer um desses órgãos
denominamos infecção urinária. A entrada dos micro-organismos pode ser pela mucosa
íntegra ou lesionada. Vejamos a anatomia:

A prevalência de bacteriúria é maior na população feminina, estima-se que cerca de


10 a 20% da população feminina apresenta, pelo menos, uma Infecção do Trato Urinário
(ITU) em algum momento da vida. A relação sexual e o uso de diafragma são fatores de
risco para ITU.

A ITU pode afetar apenas o trato urinário inferior ou o trato urinário superior,
comprometendo um dos rins. O termo cistite tem sido utilizado para descrever
uma síndrome que compreende: disúria, polaciúria, dificuldade de micção e,
ocasionalmente, dor à palpação da região suprapúbica. Entretanto, estes sintomas
também podem estar associados à inflamação do trato urinário inferior, produzidos
por uretrites, como a gonorréia ou a infecção por clamídias. A pielonefrite aguda é uma
síndrome clínica que envolve o rim, caracterizada por dor e/ou sensibilidade à palpação
no flanco, febre e frequentemente bacteriúria, sendo que, por vezes, ocorre disúria,
polaciúria, dificuldade à micção e elevação das proteínas de fase aguda. Entretanto, 10 a
20% das infecções do trato urinário não podem ser classificadas como inferiores ou
superiores.

Alguns exames auxiliam no diagnóstico de ITU, como o exame Rotina de Urina I,


porém o diagnóstico padrão ouro é a urocultura, sendo ela fundamental para a decisão
acerca da terapia adequada, nas seguintes situações:

 suspeita de infecções urinárias de etiologia hospitalar;


 infecções urinárias relacionadas ao uso de cateteres vesicais;
 infecções de repetição;
 uso prévio de antimicrobianos;
 pielonefrites agudas;
 pré-operatório de cirurgias urológicas;

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 prostatites agudas e crônicas.

Devido a isso o cuidado na coleta do material biológico é essencial para evitar


resultados falsos.

A bactéria mais prevalente em ITUs é a Escherichia coli, comumente encontrada nas


fezes, mas podem ser encontradas ainda outras bactérias, tais como Klebsiella
pneumoniae, Enterococcus faecalis, Staphylococcus saprophyticcus, Pseudomonas
aeruginosa, etc. Já nas uretrites podemos encontrar mais comumente Trichomonas
vaginalis, Chlamidia trachomatis, Neisseria gonorrheae, etc.

11.2 Infecções do trato gastro-intestinal


A principal via de entrada de micro-organismos patogênicos no trato gastro-
intestinal é por ingestão de água e alimentos contaminados.

A cavidade oral é colonizada por diversos micro-organismos sendo importante nas


cirurgias odontológicas. Já as diarréias infecciosas constituem um prolema de saúde
pública mundial.

Dentre os principais micro-organismos envolvidos temos os invasivos, cuja diarréia


é acompanhada de sangue e sintomas sistêmicos, é causada principalmente por:
E. coli entero-invasiva; Shigella spp.; Salmonella spp.; Campylobacter jejuni; Clostridium
difficile; Citomegalovírus; Entamoeba histolytica; Giardia lamblia; etc; e os não invasivos,
que são responsáveis por quadros diarreicos de intensidade leve a grave.

A coprocultura, ou cultura das fezes, é um exame auxiliar no diagnostico dessas


infecções intestinais, porém não detecta todos os tipos de bactérias.

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11.3 Infecções do trato respiratório
A principal forma de entrada de micro-organismos no trato respiratório é por
inalação na cavidade nasal ou boca e por gotículas de umidade ou partículas de pó.
Vejamos a anatomia do trato respiratório superior e inferior:

As infecções mais comuns no Trato Respiratório Superior (TRS) são as faringites e


amigdalites agudas que são síndromes clínicas causadas por diversos micro-organismos.
A maioria dos casos é de etiologia virótica frequentemente associada ao resfriado
comum, às infecções pelo vírus influenza e ao vírus Epstein-Barr (agente da
mononucleose infecciosa).

Outra infecção muito comum é a rinosinusite bacteriana aguda, termo que tem sido
utilizado tradicionalmente para definir uma série de sintomas específicos associados
à infecção por bactérias de um ou mais seios paranasais, presentes no TRS.

Já no Trato Respiratório Inferior (TRI) a infecção mais comum é a pneumonia que


está associada com elevada morbidade e mortalidade, tornando-se um grave problema
de saúde pública. Pode ser causada por diversos micro-organismos, tais como: Klebsiella
pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Acinetobacter
baumannii, Pneumocystis cariini, etc.

Um fator predisponente as infecções do trato respiratório é a Doença Pulmonar


Obstrutiva Crônica (DPOC), patologia não reversível, lentamente progressiva e que
apresenta reagudizações que deterioram a função pulmonar. A média das reagudizações
é de 2,5/paciente/ano.

O diagnóstico microbiológico das TRS e TRI pode ser realizado através da cultura de
materiais biológicos coletados nas diferentes regiões: orofaringe, nasofaringe, escarro ou
aspirado ou lavado traqueal.

11.3.1 Tuberculose

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A tuberculose (TB), também conhecida como Peste branca, tísica pulmonar e doença
do peito, é uma doença grave, transmitida pelo ar, que pode atingir todos os órgãos do
corpo, em especial os pulmões. O micro-organismo causador da doença é o bacilo de
Koch, cientificamente chamado Mycobacterium tuberculosis.

Há uma década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose


(TB) em estado de emergência no mundo, sendo ainda hoje a maior causa de morte por
doença infecciosa em adultos. Segundo estimativas da OMS, dois bilhões de pessoas
correspondendo a um terço da população mundial, está infectada pelo Mycobacterium
tuberculosis. Destes, 8 milhões desenvolverão a doença e 2 milhões morrerão a cada
ano. O Brasil ocupa o 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos
de tuberculose no mundo. O agravo atinge a todos os grupos etários, com maior
predomínio nos indivíduos economicamente ativos (15-54 anos) e do sexo masculino.

A forma pulmonar, além de ser mais frequente, é também a mais relevante para a
saúde pública, principalmente a positiva à baciloscopia, pois é a principal responsável
pela manutenção da cadeia de transmissão da doença.

A forma extrapulmonar, que acomete outros órgãos que não o pulmão, ocorre mais
frequentemente em pessoas que vivem com o HIV, especialmente entre aquelas com
comprometimento imunológico.

A tuberculose é uma doença de transmissão aérea e ocorre a partir da inalação de


aerossóis oriundos das vias aéreas, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com
tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), que lançam no ar partículas em forma de
aerossóis que contêm bacilos. Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, um
indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.

Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se


dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel importante na transmissão da doença,
logo, a tuberculose não é transmitida por objetos compartilhados, tais como talheres,
copo, etc.

Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em


geral, após 15 dias de tratamento, ela encontra-se muito reduzida. No entanto, o ideal é
que as medidas de controle sejam implantadas até que haja a negativação da
baciloscopia, tais como cobrir a boca com o braço ou lenço ao tossir, manter o ambiente
bem ventilado e com bastante luz solar, principalmente porque o bacilo é sensível à luz
solar, e a circulação de ar possibilita a dispersão de partículas infectantes. Com isso,
ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão.

A busca ativa dos sintomáticos respiratórios é a principal estratégia para o controle


da TB, uma vez que permite a detecção precoce das formas pulmonares.

 Tuberculose Pulmonar: os sintomas clássicos são: tosse


persistente por 3 semanas ou mais, produtiva ou não (com muco e
eventualmente sangue), febre vespertina, sudorese noturna e
emagrecimento.

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Em populações especiais, tais como presidiários, moradores de rua, pacientes HIV
positivos, crianças, tosse com 2 semanas ou mais, pode ser sugestivo de tuberculose
pulmonar e deve ser investigado.

Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum na criança maior, adolescente
e adulto jovem.

A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5º C. A sudorese


noturna e a anorexia são comuns. O exame físico geralmente mostra “fácies” de doença
crônica e emagrecimento, embora indivíduos com bom estado geral e sem perda do
apetite também possam ter TB pulmonar.

 Tuberculose extrapulmonar: as formas extrapulmonares da


tuberculose têm seus sinais e sintomas dependentes dos órgãos e/ou
sistemas acometidos.

Sua ocorrência aumenta entre pacientes com imunocomprometimento grave,


principalmente naqueles com AIDS.

Para o diagnóstico da tuberculose são


utilizados exames bacteriológicos, como a
baciloscopia (BAAR), o teste rápido molecular
para tuberculose (a pesquisa do patógeno por
Reação em Cadeia da Polimerase- PCR) e a
cultura para micobactéria que demora até 60 dias
para o resultado devido ao crescimento lento do
micro-organismo; exames por imagem, como a
radiografia de tórax e imunológicos, como a
prova tuberculínica.

O diagnóstico padrão ouro da tuberculose é a pesquisa do bacilo de Koch através da


coloração de Ziehl Neelsen no material biológico em questão, em geral, escarro, mas
podendo ser realizado em urina, linfonodos, líquor, etc.

A Prova tuberculínica, também conhecida como PPD, consiste na inoculação


intradérmica de um derivado protéico do M. tuberculosis para medir a resposta imune
celular a estes antígenos. É utilizada, nas pessoas (adultos e crianças), para o ver se a
pessoa está infectada pelo M. tuberculosis. Na criança também é muito importante como
método coadjuvante para o diagnóstico da TB doença.

O tratamento da tuberculose é feito com 4 drogas na fase de ataque (2 meses)do


tratamento com isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol. Na fase de
manutenção (quatro meses subsequentes) utilizam-se rifampicina e isoniazida. Este
tratamento dura 6 meses e leva à cura da doença, desde que haja boa adesão ao
tratamento com uso diário da medicação.

O tratamento deve ser diretamente observado (TDO), ou seja, um profissional da


equipe da unidade de saúde observa a tomada da medicação do paciente desde o início

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do tratamento até a sua cura. Esta estratégia, também, oferece maior acolhimento ao
doente, melhor adesão com aumento da cura e redução de abandono ao tratamento.

Todo paciente com Tuberculose deve receber este tipo de tratamento, pois logo nas
primeiras semanas de tratamento, o paciente se sente melhor e, por isso, precisa ser
orientado pelo profissional de saúde a realizar o tratamento até o final,
independentemente da melhora dos sintomas. É importante lembrar que o tratamento
irregular pode complicar a doença e resultar no desenvolvimento de tuberculose
drogarresistente.

A principal maneira de prevenir a tuberculose em crianças é com a vacina BCG


(Bacillus Calmette-Guérin), ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).
Essa vacina deve ser dada às crianças ao nascer, ou, no máximo, até 04 anos, 11 meses e
29 dias. A vacina BCG protege a criança das formas mais graves da doença, como a
tuberculose miliar e a meníngea. A vacina está disponível nas salas de vacinação das
unidades básicas de saúde e maternidades.

Outra maneira de prevenir a doença é a avaliação de contatos de pessoas com


tuberculose, que permite identificar a Infecção Latente pelo Mycobacterium
tuberculosis, o que possibilita prevenir o desenvolvimento de tuberculose ativa. Em
outras situações específicas, pessoas que são diagnosticadas com a infecção latente da
tuberculose também tem indicação de receber tratamento para prevenir o adoecimento.
Neste caso, é necessário procurar uma unidade de saúde para avaliação.

11.4 Pele e anexos


A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme e hipoderme, e seus anexos
são as glândulas sudoríparas e sebáceas, pêlos e unhas. Segue a anatomia:

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A porta de entrada, em geral, é por pequenas lesões, sejam cortes, ferimentos ou
punções, pois a pele íntegra é impenetrável para maioria das bactérias. As principais
infecções associadas a pele e seus anexos são impetigo, impetigo bolhoso, foliculite,
abscessos, furúnculos e carbúnculos, erisipela, celulite, fasciíte necrosante.

Fasciíte necrosante

O tratamento pode ser tópico dependendo do tipo de infecção e a gravidade. E o


diagnóstico microbiológico é realizado pela coleta da secreção, se houver, ou partes de
tecido moles.

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11.5 Líquidos cavitários
Nosso organismo é composto por grande parte de água e parte dessa água se
encontra em locais específicos recebendo a denominação de líquidos cavitários ou
biológicos, como o peritôneo, a pleura, o pericárdio e entre as meninges. As amostras
em geral são colhidas inserindo uma agulha em uma cavidade do corpo e aspirando o
líquido com uma seringa, onde podem ser realizados diversos exames, incluindo
bioquímicos, microscópicos, sorológicos e microbiológicos.

Para alguns líquidos corporais, como líquido pleural, pericárdico ou peritoneal, é


importante determinar se o líquido é um transudato ou um exsudato, o que ajuda o
diagnóstico da doença presente.

Transudato é causado por um desequilíbrio entre a pressão nos capilares, que


impulsiona água para fora dos vasos, e a quantidade de proteínas no sangue, que retêm
a água nos vasos, é um líquido claro com baixa concentração de proteínas e poucos
leucócitos, observado em problemas como insuficiência cardíaca congestiva e cirrose
hepática. Em geral sua cultura é negativa.

Exsudato é causado por inflamação, tem uma concentração elevada de proteínas e


pode ser turvo por aumento do número de células, visto em problemas como infecções,
câncer (metastático, linfomas, mesotelioma) ou doenças autoimunes, podendo
apresentar cultura positiva para diversos micro-organismos.

Já para o líquido cefalorraquidiano ou líquor a análise microbiológica quando há


suspeita de meningites é essencial. Alguns micro-organismos comumente encontrados
são: Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis, Cryptococcus neoformans, etc.

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11.6 Sepse
A sepse é uma síndrome extremamente prevalente, com elevada morbidade e
mortalidade e altos custos. Seu reconhecimento precoce e tratamento adequado são
fatores primordiais para a mudança deste cenário. A implementação de protocolos
clínicos gerenciados é uma ferramenta útil neste contexto, auxiliando as instituições na
padronização do atendimento ao paciente séptico, diminuindo desfechos negativos e
proporcionando melhor efetividade do tratamento.

A síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS), embora não utilizada para a


definição de sepse, continua sendo importante para a triagem de pacientes com suspeita
de sepse.

A síndrome da resposta inflamatória sistêmica é definida pela presença de no


mínimo dois dos sinais abaixo:

• temperatura central > 38,3º C ou < 36ºC OU equivalente em termos de

temperatura axilar;

• frequência cardíaca > 90 bpm;

• frequência respiratória > 20 rpm, ou PaCO2 < 32 mmHg

• leucócitos totais > 12.000/mm³; ou < 4.000/mm³ ou presença de > 10% de

formas jovens (desvio à esquerda).

Infecção sem disfunção: entende-se como paciente com infecção sem disfunção
aquele que, tendo ou não os critérios de SRIS, possui foco infeccioso suspeito ou
confirmado (bacteriano, viral, fúngico, etc.) sem apresentar disfunção orgânica.

Sepse: presença de disfunção ameaçadora à vida em decorrência da presença de

resposta desregulada à infecção. As principais disfunções orgânicas são:

• hipotensão (PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg ou queda de PA > 40

mmHg)

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• oligúria (≤0,5mL/Kg/h) ou elevação da creatinina (>2mg/dL);

• relação PaO2/FiO2 < 300 ou necessidade de O2 para manter SpO2 > 90%;

• contagem de plaquetas < 100.000/mm³ ou redução de 50% no número de plaquetas


em relação ao maior valor registrado nos últimos 3 dias;

• lactato acima do valor de referência;

• rebaixamento do nível de consciência, agitação, delirium;

• aumento significativo de bilirrubinas (>2X o valor de referência).

A presença de disfunção orgânica na ausência dos critérios de SRIS pode representar


diagnóstico de sepse. Assim, na presença de uma dessas disfunções, sem outra
explicação plausível e com foco infeccioso presumível, o diagnóstico de sepse deve ser
feito, e o pacote de tratamento iniciado, imediatamente após a identificação.

Choque séptico: é definido pela presença de hipotensão não responsiva à utilização


de fluídos, independente dos valores de lactato.

Em toda suspeita de sepse devem ser coletadas amostras de hemocultura.

12. Vírus
12.1 Histórico e Importância dos vírus:
Antes do estabelecimento da teoria dos germes acreditava-se que muitas doenças
eram causadas por venenos. O termo em latim para veneno é vírus.

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No final do século XIX, com o advento da microscopia alguns estudiosos
evidenciaram que alguns agentes de doenças humanas e de plantas poderiam passar por
filtros e não eram visualizados ao microscópio, ao contrário das bactérias. Beijerinck
(1899) é considerado o "pai da virologia” com o vírus do Mosaico do Fumo, quando
demonstrou que são agentes filtráveis e transmissíveis.

No final do século XX foram descobertos alguns vírus


que eram capazes de infectar bactérias, os chamados
bacteriófagos. E desde então os estudos sobre os vírus não
pararam.

Os vírus são agentes infecciosos, causadores de


doenças em humanos, animais ou plantas. São causadores
desde doenças benignas, como gripe e verrugas, até
doenças graves, como AIDS, poliomielite e câncer. Entretanto, os vírus são ferramentas
fundamentais em pesquisas científicas, pois devido ao fato do seu genoma ser pequeno
é fácil manuseá-lo e utilizá-lo na biologia molecular e metabolismo celular.

Em resumo, os vírus são micro-organismos que se replicam sempre dentro de células


vivas, utilizam (em maior ou menor grau) o sistema de síntese das células e Induzem a
síntese de proteínas capazes de transferir o genoma viral para outras células.

Os vírus são os menores e mais simples micro-organismos que existem, são muito
menores que células eucariotas e procariotas e, ao contrário destas, possuem uma
estrutura simples e estática. Não possuem metabolismo próprio e dependem da
maquinaria celular para a sua replicação (parasitas intracelulares obrigatórios).

Possuem DNA ou RNA como genoma, mas não possuem ribossomas e outros fatores
necessário para a produção de proteínas. Por isso necessitam das funções e do
metabolismo celular para produzir suas proteínas e se multiplicar. O genoma viral, ácido
ribonucléico (RNA) ou desoxiribonucléico (DNA), codifica as informações mínimas
para: assegurar a sua replicação, empacotar o seu genoma e subverter funções celulares
em seu benefício.

Alguns vírus infectam células procariotas (bacteriófagos) e outros infectam células


eucariotas. Alguns vírus destroem as células infectadas, produzindo enfermidades
enquanto outros persistem em estado latente ou persistente na célula; e outros podem
causar transformação tumoral nas células infectadas.

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12.2 Estrutura viral:
Os vírus são compostos, pelo menos, do genoma de ácido nucléico RNA ou DNA e
uma cobertura de proteínas. Muitos vírus possuem uma membrana externa adicional
denominada envelope. A cobertura protéica ou capsídeo de um vírion (virus completo
ou partícula vírica) é composta de cópias múltiplas de uma ou mais tipos de proteínas.
Essas proteínas se associam entre si, formando unidades estruturais denominadas
capsômeros. O conjunto do genoma mais o capsídeo de um vírion é denominado de
nucleocapsídeo.

Ou seja:

 Capsídeo: camada proteica que envolve o genoma de ácido nucléico


 Capsômeros: subunidades dos capsídeos
 Envoltório, Invólucro ou Envelope: membrana lipídica que circunda algumas
partículas
 Nucleocapsídeo: capsídeo + ácido nucléico
 Vírion: partícula viral completa com capacidade infecciosa
 Vírus defeituoso ou defectivo: vírus que não é capaz de replicar-se em uma
célula hospedeira

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Os vírus mais simples não possuem envelope e possuem RNA ou DNA de cadeia
simples. Os vírus envelopados contêm uma membrana externa que recobre o
nucleocapsídeo e é derivada de membranas da célula hospedeira (nuclear, do aparelho
de Golgi, do retículo endoplasmático ou membrana plasmática). As proteínas do
envelope viral são codificadas pelo seu genoma. Alguns vírus, como os bacteriófagos,
possuem caudas protéicas complexas que são necessárias para a ancoragem e introdução
do genoma viral na célula hospedeira.

ÁCIDO NUCLÉICO VIRAL

É muito variável podendo ser:

o DNA ou RNA – contém as informações genéticas necessárias para a


sua replicação
o Filamento único ou duplo
o Circular ou Linear
o Segmentado ou não-segmentado
o Polaridade positiva e/ou negativa
o Nenhum vírus contêm DNA e RNA simultaneamente
o RNA + = RNAm (RNA infeccioso)

O genoma dos vírus pode codificar desde poucas proteínas diferentes até mais de 70
- 100 produtos gênicos. Em geral, o genoma dos vírus RNA são menores, atingindo uma
extensão máxima de pouco mais de 30.000 nucleotídeos. Uma hipótese para explicar isto
seria a de que as polimerases virais de RNA tendem a cometer mais erros do que as
polimerases de DNA no processo de replicação do genoma. Assim, a fidelidade de

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replicação poderia limitar o tamanho do genoma. Ao contrário, os genomas de vírus
DNA podem atingir mais de 300.000 pares de bases.

CAPSÍDEOS:

A função do capsídeo é empacotar e proteger o genoma viral durante a sua


transferência entre células e hospedeiros. O capsídeo pode ser formado por cópias
múltiplas de uma mesma proteína ou por uma associação de várias proteínas diferentes.
Os capsídeos construídos por cópias de uma única proteína representam um exemplo
de economia genética, pois apenas um gene pode codificar os produtos necessários para
construir o capsídeo e recobrir completamente o genoma.

Os vírus possuem grande diversidade e podem apresentar simetria do capsídeo. A


simetria dos vírus é definida pela forma e composição das subunidades proteicas que
compõem o capsídeo.

• Icosaédrica ou cúbica: picornavírus, parvovírus, adenovírus, etc;

• Helicoidal : rhabdovírus, filovírus, bunyavírus, etc;

• Complexa: HIV, poxvírus, bacteriófagos, etc.

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ENVELOPE

O envelope viral, presente em vírus de algumas famílias, origina-se de membranas


da célula hospedeira através de brotamento, que ocorre durante o egresso de vírions
maduros da célula hospedeira. Essa membrana frequentemente é derivada de uma
região da membrana plasmática, mas pode originar-se também das membranas do
aparelho de Golgi, do retículo endoplasmático ou da membrana nuclear, dependendo
do vírus e do compartimento celular onde ocorre a replicação. Independentemente de
sua origem, o envelope é composto de uma camada dupla de lipídios – de origem celular
– com proteínas associadas. As proteínas do envelope são codificadas pelo vírus e
constituem-se em sua maioria de glicoproteínas. O número de proteínas do envelope
pode variar de uma até mais de dez, dependendo do virus. As glicoproteínas do envelope
desempenham várias funções, incluindo a ancoragem inicial do vírion na célula,
penetração, fusão e disseminação do vírus entre células.

O processo de brotamento e a consequente aquisição do envelope por vírions recém-


formados podem ou não resultar na destruição da célula infectada. A liberação de um
número muito grande de vírus simultaneamente pode comprometer a integridade
celular e resultar na morte da célula. Muitas vezes, a liberação da progênie viral é lenta
e resulta em excreção viral contínua e infecção crônica ou persistente. Ao contrário dos
vírus sem envelope, cuja liberação é quase sempre acompanhada de morte celular, o
egresso de vírus envelopados é muitas vezes compatível com a sobrevivência da célula
hospedeira. Portanto, o processo de brotamento representa um mecanismo de liberação
de progênie viral sem induzir morte celular.

PROTEÍNAS VIRAIS

O genoma dos vírus codifica dois tipos de produtos: as proteínas estruturais e as


não-estruturais. As proteínas estruturais são aquelas que fazem parte da estrutura física
da partícula vírica (capsídeo, envelope), enquanto as proteínas não-estruturais são
produzidas dentro da célula infectada e desempenham diferentes funções na replicação
viral. O número de proteínas codificadas pelos vírus varia amplamente, desde poucas
até centenas.

As proteínas estruturais tem como função:

o facilitar a transferência do ácido nucléico viral de uma célula para outra


o proteger o genoma contra inativação por nucleases
o fixar a partícula a célula susceptível
o são responsáveis pela simetria da partícula
o determinam características antigênicas
o algumas possuem atividades específicas, como a hemaglutinina

Já as proteínas não-estruturais possuem funções de:

o atividade enzimática (presentes em pequenas concentrações)


o transcrição (polimerases)
o transcrição reversa (Transcriptase reversa)

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o enzimas que clivam receptores celulares (neuraminidases)

LIPÍDIOS

Os lipídios presentes nas partículas víricas envelopadas são derivados das


membranas celulares. São, em sua maioria fosfolipídios (50 - 60%) e o restante é
colesterol. O envelope dos vírus contém lipídios derivados das membranas celulares e
proteínas codificadas pelo vírus, as vezes formando projeções (espículas). A composição
lipídica total dos vírus envelopados representa aproximadamente 25 a 30% do seu peso
seco. O restante é formado pelo genoma e parte protéica.

CARBOIDRATOS

Os carboidratos estão presentes essencialmente na forma de oligossacarídeos nas


glicoproteínas, glicolipídios e mucopolissacarídeos. A composição de carboidratos
corresponde aproximadamente àquela da célula hospedeira. No entanto, as
glicoproteínas frequentemente contêm uma ligação glicosídica. Os carboidratos
encontram-se principalmente no envelope. Alguns vírus complexos contêm
glicoproteínas internas ou proteínas glicosiladas também no capsídeo.

PARTÍCULAS VÍRICAS ATÍPICAS ASSOCIADAS COM INFECÇÕES:

o Vírions defectivos: ou incompletos são aqueles cujo genoma não possui


um ou mais genes específicos, devido a mutação ou deleção. Por isso, são
incapazes de completar o ciclo replicativo na célula. Para alguns vírus, a
quantidade de partículas incompletas ou defectivas produzidas é maior
do que os vírions completos (até 1:1000). A produção de partículas
defectivas é característica de algumas espécies de vírus e acredita-se que
possa moderar a severidade da enfermidade clínica in vivo.
o Pseudovírions: podem ser produzidos durante a replicação viral, quando
o genoma da célula hospedeira se fragmenta. Como resultado disso,
segmentos de DNA celular são incorporados em partículas víricas, em
substituição ao DNA viral. Esses pseudovírions podem ligar-se na célula
hospedeira, penetrar, mas não são capazes de replicar, pois não possuem
os genes virais necessários.
o Prions: não são vírus. São partículas protéicas infecciosas associadas a
encefalopatias espongiformes transmissíveis (TSEs) de humanos e
animais. As TSEs inlcuem a doença de Creutzfeldt-Jacob (CJD) em
humanos, scrapie em ovinos e BSE em bovinos.
o Viróides: são ácidos nucléicos de baixo peso molecular, desnudos,
extremamente resistentes ao calor, a radiação ultravioleta e radiação
ionizante. Essas partículas se compõem exclusivamente de um
fragmento de RNA circular de cadeia simples, com algumas regiões de
cadeia dupla. Os viróides causam, em sua maioria, doenças em plantas
como a doença do tubérculo fusiforme da batata.
o Virusóides: também chamados de RNA satélites, são similares aos
viróides, pois são segmentos de ácido nucléico de baixo peso molecular,
extremamente resistentes ao calor e a radiações ultravioletas e

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ionizantes. No entanto, dependem de um vírus auxiliar para a sua
replicação. Os virusóides replicam no citoplasma da célula, através de
uma polimerase de RNA dependente de RNA.

12.3 Replicação viral:


As etapas da replicação viral são:

1. Adesão/ adsorção: ligação específica de uma proteína viral (anti-


receptor) a um componente da superfície celular (receptor);
2. Penetração: processo ativo, dependente de gasto de energia, no qual a
partícula viral (ou parte do vírus) penetra na célula hospedeira e injeta
seu ácido nucléico.

São conhecidas três formas de penetração na célula:

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o Fusão do envelope viral com a membrana celular;
o Translocação do vírus inteiro através da membrana plasmática;
o Endocitose, resultando na formação de vesículas citoplasmáticas
contendo partículas inteiras;

3. Desnudamento: separação do ácido nucléico de sua cobertura protéica,


pode ocorrer por ação de enzimas lisossomais em vacúolos fagocíticos da
célula hospedeira, enzimas específicas codificadas pelo genoma viral e
enzimas do citoplasma da célula hospedeira;
4. Biossíntese: replicação do ácido nucléico e síntese das proteínas virais. É
dependente do tipo de genoma viral;
5. Montagem/Maturação: reunião de todos os componentes do vírion
(Proteínas estruturais, Proteínas não-estruturais, Genoma viral e
Envelope);
6. Liberação: extrusão da célula hospedeira, que pode ser por brotamento
em caso de vírus envelopados.

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13. Fungos
Durante muito tempo os fungos foram classificados como vegetais apesar de
apresentarem características conflitantes com aqueles pertencentes ao Reino Vegetalia,
por exemplo não possuírem clorofila nem pigmentos fotossintéticos, obterem sua
energia por absorção de nutrientes, não armazenarem amido e nem apresentarem
celulose na parede celular, em sua maioria.

Em 1969 foi criado o Reino Fungi ou Mycetalia que inclui os fungos, seres
heterotróficos, eucarióticos, com um só núcleo, como as leveduras, ou multinucleados,
como os bolores ou fungos filamentosos, e os cogumelos (fungos macroscópicos).

Geralmente, os fungos encontram-se em ambientes úmidos e rico em matéria


orgânica, podendo ser encontrados no solo, na água, nos vegetais, animais, no homem
e em detritos.

A maioria dos fungos são saprófitas ou parasitas e possuem grande quantidade de


enzimas capazes de digerir diferentes tipos de substratos que serão absorvidos.

13.1 Estrutura e morfologia:


A célula fúngica é constituída pelos principais componentes encontrados nos
organismos eucarióticos, podendo ser unicelulares ou multicelulares, quando as células
são tubulares e denominada de hifas, cujo conjunto constitui o micélio.

As células fúngicas microscópicas podem ser encontradas em duas formas básicas:


leveduras e hifas. As células leveduriformes são ovais ou esféricas, fazem reprodução
assexuada por brotamento e algumas espécies podem formar pseudo-hifas. Já as hifas
são células alongadas ou ramificadas encontradas nos fungos filamentosos. Alguns
fungos podem ser encontrados em ambas as formas dependendo da condição de
crescimento, principalmente a temperatura, sendo denominados dimórficos. Essa
característica é particular à alguns fungos patogênicos, por exemplo os pertencentes ao
gênero Paracoccidiodes sp, que apresentam-se em forma de bolor em temperatura
ambiente (25°C) e leveduriforme em temperatura corporal (37°C).

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Suas células possuem extensa gama de organelas, assim como as células animais:

PAREDE CELULAR:

É responsável pela rigidez da célula fúngica sendo composta basicamente por


polissacarídeos de natureza celulósica e quitínica, dependendo do grupo de fungos, além
de proteínas e lipídios.

A constituição da parede celular dependerá da espécie de fungo, sua idade,


composição do substrato de crescimento, pH e temperatura.

MEMBRANA CELULAR

Possui as mesmas funções das membranas encontradas em outras células: limitação


celular e transporte de substâncias para o interior e exterior celular.

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É composta de duas camadas de fosfolipídios revestidas por proteínas e apresenta
uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas,
responsáveis por um contato entre o meio externo e o interior da célula.

Contém esteróis na forma de ergosterol, diferente da célula animal que possui


colesterol, sendo esse um importante sítio de ação de antifúngicos.

Esgosterol

CITOPLASMA

É onde ocorrem as sínteses e o metabolismo energético. É nele que se encontram as


diversas organelas: ribossomos e retículo endoplasmático (síntese de proteínas),
mitocôndria (respiração celular), complexo de Golgi (síntese e secreção de substâncias),
vacúolos digestivos ou de reserva, etc.

NÚCLEO

A célula fúngica pode apresentar um ou mais núcleos envoltos por uma membrana
porosa denominada carioteca. No núcleo encontram-se os cromossomos, DNA, RNA e
proteínas.

CÁPSULA

É um elemento facultativo e está relacionado à patogenicidade do fungo. Um


exemplo é o Cryptococcus neoformans.

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HIFAS

As hifas podem ser contínuas ou cenocíticas e septadas ou tabacadas.

 Hifas contínuas:

É uma única célula longa e contínua não septada, ou seja, sem divisão em
compartimentos. As organelas movimentam-se livremente de uma região à outra da
célula e pode apresentar numerosos núcleos.

 Hifas septadas:

São divididas por segmentos de parede celular denominados septo. Os septos podem
se fechar totalmente impedindo a comunicação entre os compartimentos ou se fechar
parcialmente permitindo comunicação entre os compartimentos através de pequenos
poros que permitem o fluxo de organelas e nutrientes.

As hifas também podem ser classificadas conforme sua função em vegetativas ou


reprodutivas e quanto ao aspecto de cor em claras ou hialinas e escuras ou demáceas.

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O micélio, que é o conjunto de hifas, também pode ser classificado em: Micélio
vegetativo, responsável pela sustentação e absorção dos nutrientes; Micélio Aéreo,
desenvolve-se acima da superície do meio diferenciando-se em Micélio reprodutivo, que
sustenta os corpos reprodutivos.

13.2 Reprodução dos fungos:


Os fungos se reproduzem em ciclos assexuais, sexuais e parassexuais.

A reprodução assexuada abrange quatro modalidades:

1. Fragmentação de artroconídios

2. Fissão de células somáticas

3. Brotamento ou gemulação de
blastoconídio mãe

4. Produção de esporos (propágulos ou órgãos de disseminação dos


fungos) – esporageósporos ou conídios

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Já a reprodução sexuada dois núcleos são juntos numa mesma célula por diferentes
vias, com o objetivo de adaptação e sobrevivência por combinação genética.

Os esporos sexuados originam-se da fusão de estruturas diferenciadas com


características sexuais.

Os fungos que se reproduzem de forma sexuada e assexuada são denominados


fungos perfeitos enquanto os fungos que se reproduzem apenas da forma assexuada são
denominados fungos imperfeitos.

13.3 Pesquisa e Cultura para fungos

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Os fungos são inicialmente divididos em macroscópicos (cogumelos) e
microscópicos (bolores e leveduras) e apresentam características bem diferentes e
peculiares.

Assim como as bactérias a grande maioria dos fungos pode ser cultivada em meios
de culturas próprios como ágar Sabourand, ágar Mycosel, ágar batata, ágar fubá, etc.

As características das colônias após crescimento em meio de cultura são utilizadas


para auxilizar a identificação do fungo estudado. A seguir alguns características das
colônias que podem ser encontradas:

Algodonosa – micélio aéreo alto e Glabra – sem micélio aéreo –


denso normalmente formado por leveduras

Aveludada – micélio aéreo baixo

Rugosa – sulcos profundos a partir


do centro

Granular – planas e “esfarelentas”

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Umbilicada – elevação central Verrucosa – superfície franzida e
retorcida

Os fungos apresentam ainda grande diversidade de cores, bordos, formas, e


estrutura reprodutiva, que é o principal fator difenciador.

A principal forma de evidenciar as estruturas reprodutivas é realizar a técnica de


microcultivo com posterior coloração com azul de algodão.
13.4 Principais doenças fúngicas:
13.4.1 Paracoccidiodomicose
A Paracoccidioidomicose (PCM) é a principal micose sistêmica no Brasil. Essa
doença representa uma das dez principais causas de morte por doenças infecciosas e
parasitárias, crônicas e recorrentes.

É causada pelo fungo termodimórfico Paracoccidioides spp., com destaque a duas


espécies patogênicas: Paracoccidioides brasiliensis e Paracoccidioides lutzii. Esses fungos
estão dispersos no meio ambiente.

A transmissão está relacionada à exposição pós manejo do solo contaminado, como,


por exemplo, atividades agrícolas, terraplenagem, preparo de solo, práticas de
jardinagens, transporte de produtos vegetais, entre outras. A maioria dos indivíduos que
adoeceram com a PCM apresenta história de atividade agrícola exercida nas duas
primeiras décadas de vida. Hábitos de vida como, tabagismo e etilismo, também são
considerados fatores de risco frequentemente associados à micose, e ao agravamento do
seu quadro clínico.

Não existe transmissão inter-humana do fungo Paracoccidioides spp., nem de


animais ao homem. No entanto, os indivíduos estão expostos ao risco por inalação de
propágulos infectantes, dispersos no solo. A principal porta de entrada do fungo no
organismo é por via inalatória. Os órgãos comumente afetados são os pulmões (50-
100%), seguidos da pele, mucosas, linfonodos, adrenais, sistema nervoso central, fígado
e ossos.

As principais formas clínicas da doença são:

Forma aguda ou subaguda (tipo juvenil): A progressão das lesões primárias evolui
rapidamente, de semanas a meses. Esta forma clínica é considerada grave, devido a
elevadas taxas de letalidade em crianças e adolescentes. Os sinais podem manifestar com
hipertrofia do sistema retículo endotelial e acometimento generalizado de linfonodos,
que geralmente fistulizam. O fungo pode disseminar para outros órgãos ou sistemas
como pele, ossos, sistema gastrintestinal, além do fígado, baço e medula óssea.

Forma crônica (tipo do adulto): responsável pela maioria dos casos de PCM, com
prevalência de 74 a 96%. Os indivíduos entre 30 e 60 anos de idade e do sexo masculino
são os mais acometidos por essa doença. Esta forma clínica manifesta-se mais lenta, com
duração da sintomatologia entre quatro a seis meses, inclusive acima de 1 ano. O
comprometimento pulmonar está presente em 90% dos indivíduos. Os pulmões, a
mucosa das vias aerodigestivas superiores e a pele são os locais mais acometidos pela
PCM;

Forma residual: também chamada “sequelas”, manifesta-se clinicamente com


alterações anatômicas e funcionais causadas pelas cicatrizes que se seguem ao
tratamento da PCM. As sequelas podem ser observadas em vários órgãos, com maior

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frequência nos pulmões, pele, laringe, traqueia, glândulas adrenais, mucosa das vias
aerodigestivas superiores, sistema nervoso central e sistema linfático.

O diagnóstico é clínico e laboratorial. A confirmação laboratorial é feita pelo achado


do fungo em materiais clínicos (secreções e tecidos), em forma de levedura com ou sem
gemulação e cultura específica. A sorologia, biologia molecular e a histopatologia
também são considerados na confirmação diagnóstica da PCM. Exames
complementares, como hemograma, provas bioquímicas e exames de imagem podem
auxiliar o diagnóstico.

13.4.2 Criptococose
A criptococose é uma doença, classificada como micose sistêmica, causada por
fungos do gênero Cryptococcus e que, dependendo do caso, pode matar. É um
importante problema de saúde pública devido à magnitude, ou seja, elevada letalidade,
e transcendência da doença, que pode desenvolver formas clínicas graves.

O principal reservatório do fungo é matéria orgânica morta presente no solo, em


frutas secas, cereais e nas árvores. O fungo causador da doença também é encontrado
nas fezes de aves, principalmente dos pombos.

A variante C. neoformans, de caráter oportunista, representa a principal causa


de meningoencefalite e morte em indivíduos com a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS). No entanto, essa espécie também acomete indivíduos sem problemas
de saúde em todo o mundo.

O C. neoformans var. gattii acomete crianças e jovens sem evidência de


imunodepressão aparente, de comportamento endêmico ou focal nas regiões tropicais e
subtropicais, especialmente nas regiões Norte (Amazônia) e Nordeste do Brasil, incluído
o semiárido, e, esporadicamente, nas demais regiões brasileiras.

As manifestações clínicas dependem do estado imunológico de cada indivíduo e do


subtipo do fungo em questão. O surgimento de sinais e sintomas ocorre entre três
semanas e três meses antes da internação hospitalar.

Individualmente, os sintomas podem variar de dois dias a mais de 18 meses. Na


forma sistêmica, a criptococose apresenta frequentemente a meningite subaguda ou
crônica, caracterizada por: febre; fraqueza; dor no peito; rigidez de nuca; dor de cabeça;
náusea; vômito; sudorese noturna; confusão mental; alterações de visão; pode haver
comprometimento ocular, pulmonar e ósseo.

A forma cutânea representa de 10% a 15% dos casos, e apresenta os seguintes sinais
e sintomas: aparecimento de várias lesões avermelhadas, contendo secreção amarelada
no centro, semelhante à espinha; aparecimento de erupções cutâneas vermelhas em uma
região específica ou por todo o corpo; ulcerações ou massas subcutâneas, semelhante a
tumores.

IMPORTANTE: Em pacientes imunocompetentes, observa-se meningoencefalite de


forma aguda ou crônica, com dor nos olhos e na cabeça, usualmente sem febre ou quadro

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febril pouco expressivo, que evolui para dor de cabeça intensa e presença de sinais mais
graves, como estrabismo, paralisia facial e cegueira total ou parcial.

Não existe transmissão inter-humana dessa micose, nem de animais ao homem. No


entanto, indivíduos, ou seja, os seres humanos, estão expostos à doença por meio da
inalação dos fungos causadores da criptococose.

O diagnóstico da criptococose é clínico e laboratorial. A confirmação laboratorial é


feita com o uso de “tinta da China” (nanquim) – com evidências de criptococos visíveis
em materiais clínicos. Trata-se do principal diagnóstico das meningites criptocócicas:
exame do líquor-LCR.

O criptococo também pode ser isolado na urina ou no pus. A sorologia, a biologia


molecular e a histopatologia também são consideradas na confirmação diagnóstica da
criptococose. Como exame complementar, a tomografia computadorizada, ressonância
magnética ou radiografia de tórax podem demonstrar danos pulmonares, presença de
massa única ou nódulos múltiplos distintos (criptococomas).

13.4.3 Histoplamose
A histoplasmose é uma micose sistêmica causada pelo fungo Histoplasma
capsulatum, que afeta órgãos internos. Ela é uma zoonose, transmitida por aves e
morcegos.

O quadro clínico apresentado pelo paciente vai depender do tipo da infecção.

Infecção pulmonar aguda: geralmente é assintomática ou subclínica. Quando há


sintomas, as manifestações são autolimitantes do trato respiratório. Quando há uma
inalação maciça de conídeos, pode haver o aparecimento de uma forma pulmonar aguda,
grave, após o período de incubação. Os sintomas mais comuns são: febre, calafrios,
cefaléia, dispnéia, mialgias, hiporexia, tosse e dor no peito. Aproximadamente 10% dos
pacientes desenvolvem artrite ou atralgias, relacionadas com o quadro de eritema
nodoso. Pode haver linfadenopatia que, raramente, pode comprimir estruturas

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torácicas; quadros de pericardite com derrame e efusão pleural pode ocorrer neste tipo
de infecção.

Histoplasmose Pulmonar Crônica: em pacientes fumantes, com certa idade, que


possuem doença pulmonar crônica obstrutiva, a histoplasmose pulmonar pode
progredir vagarosamente para uma forma fibrocavitária crônica que acomete,
geralmente, os lobos superiores dos pulmões. Os sinais clínicos apresentados são: febre
baixa vespertina, perda de peso, sudorese noturna, dor no peito e tosse com
expectoração hemoptóica.

Infecções disseminadas: a infecção primária pelo H. capsulatum, independente de


qual seja a sintomatologia, pode disseminar por todo o organismo, em especial, para
órgãos ricos em macrófagos. Raramente, os indivíduos que estão com o sistema imune
aparentemente normal, irão desenvolver histoplasmose disseminada sintomática.

O diagnóstico desta enfermidade é baseado no encontro do fungo em secreções,


tecidos e nas reações sorológicas específicas. Diversos testes laboratoriais estão
disponíveis para o diagnóstico desta doença, como: imunodifusão, fixação do
complemente, técnicas imunoenzimáticas (ELISA), entre outras.

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