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MICROBIOLOGIA

Fundamentos de
microbiologia
Denise Diedrich

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Listar os eventos que culminaram com o desenvolvimento da microbiologia.


> Diferenciar os tipos celulares estudados pela microbiologia.
> Caracterizar célula procarionte e eucarionte.

Introdução
A fundamentação e o futuro de qualquer ciência estão alicerçados em suas realiza-
ções passadas. Mesmo que a microbiologia tenha raízes muito antigas, essa ciência
não se desenvolveu de forma organizada até o século XIX, quando as tecnologias
essenciais para seu desenvolvimento — como os microscópios e as técnicas de
cultura — precisaram ser descobertas. Nos últimos 150 anos ou mais, a ciência da
microbiologia demonstrou avanços sem precedentes e tem desenvolvido vários
campos novos na biologia e na medicina moderna.
Recentemente, a pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, ou Covid-19, levou
milhões de pessoas à morte em todo o mundo, além de gerar prejuízos econômicos
e sociais. Nesse sentido, a microbiologia e o estudo das doenças infecciosas se
tornam cada vez mais necessários. Além disso, a manipulação e o conhecimento
dos microrganismos pode trazer diversos avanços tecnológicos nas áreas indus-
triais e ambientais.
2 Fundamentos de microbiologia

Neste capítulo, você vai estudar os principais eventos importantes para o


desenvolvimento da microbiologia e os tipos celulares mais relevantes: bactérias,
fungos, protozoários, algas e vírus. Além disso, você vai compreender as principais
diferenças entre a célula procarionte e a eucarionte.

Desenvolvimento da microbiologia
A microbiologia é uma ciência inteiramente voltada ao estudo dos microrga-
nismos —também denominados micróbios — e ao modo como eles funcionam.
Essa ciência busca compreender a diversidade dos microrganismos, buscando
entender por que e como surgiram. Além disso, a microbiologia trata da
ecologia e, dessa forma, estuda o local onde os microrganismos vivem, como
se associam e/ou cooperam entre si, com o ambiente e as demais espécies
(p. ex., animais e plantas) (MADIGAN et al., 2016; FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021).
A ciência da microbiologia busca, principalmente, estudar duas áreas
interconectadas: a natureza e o funcionamento dos microrganismos e a
aplicabilidade do conhecimento acerca da microbiologia para beneficiar a
humanidade e o meio ambiente. Assim, a microbiologia como uma ciência
biológica básica utiliza o estudo das células microbianas para compreender
os processos fundamentais da vida (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; MADIGAN et al., 2016).
A denominação microbiologia, em si, traz muito significado, pois "micro"
significa “muito pequeno”, algo tão minúsculo que precisa ser visualizado com
um microscópio (instrumento óptico utilizado para observar objetos muito
pequenos) e "logia" significa "o estudo de". Com apenas raras exceções, os
micróbios individualizados só podem ser observados com o uso dos vários
tipos de microscópios. Além disso, eles são considerados onipresentes, ou
seja, podem ser encontrados em praticamente todos os lugares. As diversas
categorias de micróbios incluem vírus, bactérias, Archaea, protozoários e
determinados tipos de algas e fungos. Elas serão discutidas de modo deta-
lhado adiante no texto (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN
et al., 2016).
A primeira vez que alguém ouve falar de micróbios pode ser quando sua
mãe ou seu pai o adverte sobre a existência dos “germes”. Apesar de não ser
um termo científico, eles são os micróbios que causam doenças, os pais se
preocupam com a possibilidade de infecção por esses tipos de micróbios.
Os microrganismos causadores de doenças são tecnicamente conhecidos
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como patógenos, mas também são designados como agentes infecciosos. Na


verdade, apenas cerca de 3% dos microrganismos conhecidos são capazes
de causar doença. Dessa maneira, em sua maioria, são não patogênicos, ou
seja, não provocam doença (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
MADIGAN et al., 2016).

Na superfície e no interior do corpo humano vivem aproximadamente


10 vezes mais micróbios do que a quantidade total de células que o
constituem (100 trilhões de micróbios). Foi estimado que talvez até 500 a 1.000
espécies diferentes de micróbios vivam na superfície ou no interior do corpo.
Em conjunto, são conhecidas como microbiota normal ou endógena (microbioma
humano) e, em sua maior parte, são benéficas para a espécie humana. Alguns dos
microrganismos que colonizam o corpo humano são conhecidos como patógenos
oportunistas. Embora, geralmente, não causem nenhum problema, eles têm o
potencial de provocar infecções se tiverem acesso a uma parte da anatomia
em que normalmente não residem, ou, ainda, atacam quando o indivíduo está
imunossuprimido (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).

Ao longo da história, diversas epidemias e pandemias foram responsáveis


por milhões de mortes, como a peste negra, por exemplo, causada pela
bactéria Yersina pestis no século XIV. No início do século XX, as infecções
causadas por bactérias e vírus patogênicos representavam as principais
causas de morte na humanidade, como a gripe espanhola, causada pelo
vírus Influenza, por exemplo. Atualmente, no entanto, as doenças infecciosas
apresentam menos letalidade, sobretudo nos países desenvolvidos, resultado
da combinação de avanços no conhecimento das doenças e de seus agentes
etiológicos, melhora das práticas sanitárias e de saúde pública, vacinação
e o uso de agentes antimicrobianos (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
O desenvolvimento da microbiologia como ciência proporcionou estudos
pioneiros das doenças infecciosas; no entanto, embora muitas doenças in-
fecciosas estejam sob controle atualmente, muitas outras ainda representam
uma ameaça à vida, principalmente em países em desenvolvimento. Doenças
como malária, tuberculose, cólera, sarampo, pneumonia e outras doenças
respiratórias, bem como síndromes diarreicas, ainda são comuns em países
em desenvolvimento (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et
al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
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Além disso, os seres humanos estão sob ameaça de doenças que poderiam
emergir subitamente, como a gripe aviária ou suína, ou a febre hemorrágica
do Ebola, por exemplo, cujo surgimento está cada vez mais relacionado
às mudanças climáticas e ao desequilíbrio dos ecossistemas. Um exemplo
recente é a pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, que causou mais de
6,46 milhões de mortes ao redor do mundo até agosto de 2022, além de crise
econômica e social. Dessa forma, os microrganismos ainda representam gra-
ves ameaças à saúde humana em todas as partes do mundo, demonstrando
cada vez mais a importância dos estudos microbiológicos (ALAM; SULTANA,
2021; CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2022; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2022).
Embora uma pequena parcela dos microrganismos seja patogênica, a
maior parte das espécies microbianas desempenha importante papel para a
vida humana e nos ecossistemas do planeta. Vários exemplos poderiam ser
citados, como os microrganismos envolvidos em ciclos elementares, como
os do carbono, do nitrogênio, do oxigênio, do enxofre e do fósforo. No ciclo
do nitrogênio, determinadas bactérias convertem o gás nitrogênio do ar em
amônia no solo. Em seguida, outras bactérias do solo convertem a amônia
em nitritos e nitratos. Outras bactérias ainda convertem o nitrogênio dos
nitratos em gás nitrogênio, completando, assim, o ciclo (FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN et al., 2016).
Alguns micróbios vivem no trato intestinal de animais, onde ajudam na
digestão do alimento e, em alguns casos, produzem substâncias valiosas
para o hospedeiro animal. Por exemplo, a bactéria E. coli, que vive no trato
intestinal humano, produz as vitaminas K e B1, que são absorvidas e utilizadas
pelo corpo. Outro exemplo é o dos micróbios essenciais em várias indústrias
de alimentos e bebidas, enquanto outros são utilizados na produção de
determinadas enzimas e substâncias químicas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN et al., 2016).
As bactérias e os protozoários foram os primeiros micróbios a serem ob-
servados pelos seres humanos, e foram necessários cerca de 200 anos para
estabelecer uma conexão entre os microrganismos e as doenças infecciosas.
Entre os acontecimentos mais significativos nos primórdios da história da
microbiologia, destacam-se o desenvolvimento dos microscópios, os métodos
de coloração das bactérias, as técnicas que possibilitaram a cultura (cresci-
mento) dos microrganismos em laboratório e as etapas que provaram que
micróbios específicos eram responsáveis por doenças infecciosas específicas.
No decorrer dos últimos 400 anos, muitos indivíduos contribuíram para o
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atual conhecimento dos microrganismos; neste capítulo, são discutidos al-


guns dos microbiologistas pioneiros (BLACK; BLACK, 2021; FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021).

Anton van Leeuwenhoek (1632-1723)


Como Anton van Leeuwenhoek foi a primeira pessoa a observar bactérias e
protozoários vivos, algumas vezes ele é chamado como “pai da microbiologia”,
“pai da bacteriologia” e “pai da protozoologia.” É interessante assinalar que
Leeuwenhoek não era cientista formado. Durante a sua vida, foi comerciante
de tecidos, inspetor, provador de vinhos e funcionário público em Delft, na
Holanda. Como passatempo, ele polia lentes de vidro minúsculas que montava
em pequenas armações de metal, criando, assim, o que hoje se conhece como
microscópio de lente simples ou microscópio simples. Durante a sua vida,
construiu mais de 500 desses aparelhos. A arte de Leeuwenhoek de polir
lentes capazes de ampliar um objeto até 200 a 300 vezes o seu tamanho foi
perdida com a sua morte, visto que ele não ensinou essa habilidade a ninguém
durante a sua vida (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
Aparentemente, Leeuwenhoek era dotado de uma insaciável curiosidade,
visto que utilizava seus microscópios para examinar quase tudo que podia
pegar em suas mãos. Ele examinava raspados de seus dentes, água de valas
e lagos, água na qual tinha deixado de molho pimentas em grão, sangue,
espermatozoides e até mesmo as próprias fezes diarreicas. Em muitas dessas
amostras, ele observou várias criaturas vivas minúsculas, às quais deu o
nome de “animalículos”. Leeuwenhoek registrou suas observações em cartas
dirigidas à Sociedade Real de Londres (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; MADIGAN et al., 2016).
Uma vez convencidos da existência dessas minúsculas criaturas que não
podiam ser observadas a olho nu, os estudiosos começaram a especular a
sua origem. Assim, com base em observações, muitos dos cientistas daquela
época acreditaram que a vida podia se desenvolver de modo espontâneo a
partir de substâncias inanimadas, como cadáveres em decomposição, solo e
gases de pântanos. A ideia de que a vida poderia surgir espontaneamente a
partir de material não vivo foi denominada teoria da geração espontânea ou
abiogênese. Por mais de dois séculos, de 1650 a 1850, essa teoria foi debatida
e testada. Após o trabalho de outros pesquisadores, Louis Pasteur e John
Tyndall refutaram finalmente a teoria da geração espontânea e provaram que
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a vida só pode surgir a partir de vida preexistente. Essa teoria, denominada


teoria da biogênese, foi inicialmente proposta por um cientista alemão,
Rudolf Virchow, em 1858. No entanto, ela não especula a origem da vida, um
assunto que vem sendo debatido há centenas de anos (FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).

Louis Pasteur (1822-1895)


Louis Pasteur foi um químico francês que fez inúmeras contribuições para
o campo recém emergente da microbiologia, e, de fato, suas contribuições
são consideradas por muitas pessoas como o fundamento da ciência da
microbiologia e um dos pilares da medicina moderna. Enquanto procurava
descobrir por que o vinho se degradava, Pasteur observou o que acontece
durante a fermentação alcoólica. Ele também demonstrou que diferentes
tipos de micróbios produzem diversos produtos de fermentação. Por exem-
plo, as leveduras utilizam a glicose presente nas uvas e produzem álcool
etílico por fermentação; entretanto, certas bactérias contaminantes, como
Acetobacter, convertem a glicose em ácido acético também por fermentação,
arruinando, assim, o sabor do vinho (BLACK; BLACK, 2021; FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021).
Por meio de seus experimentos, Pasteur derrubou a teoria da geração
espontânea, descobriu que formas de vida podiam existir na ausência de
oxigênio, introduzindo os termos “aeróbios” (organismos que necessitam de
oxigênio) e “anaeróbios” (organismos que não necessitam de oxigênio). Pasteur
também desenvolveu um processo (hoje conhecido como pasteurização) para
matar microrganismos que causavam deterioração do vinho — um problema
econômico para a indústria de vinhos da França. A pasteurização pode ser
utilizada para matar patógenos em muitos tipos de líquidos, auxiliando na
conservação e no controle de doenças. Hoje em dia, a pasteurização é reali-
zada pelo aquecimento dos líquidos a 63 a 65°C durante 30 minutos, ou a 73
a 75°C por 15 segundos. É importante assinalar que a pasteurização não mata
todos os micróbios presentes em líquidos, apenas os patogênicos (FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).
Pasteur fez importantes contribuições para a teoria germinal das doenças,
segundo a qual microrganismos específicos causam doenças infecciosas
específicas. Por exemplo, o antraz é provocado pelo Bacillus anthracis, en-
quanto a tuberculose é provocada pela Mycobacterium tuberculosis. Na área
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hospitalar, Pasteur promoveu mudanças para diminuir a disseminação de


doenças causadas por microrganismos patogênicos e desenvolveu vacinas
para a cólera aviária, o antraz e a erisipela suína (uma doença cutânea), o
que o tornou famoso na França (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
MADIGAN et al., 2016).

Em 1885, enquanto estava desenvolvendo uma vacina que evitaria


a raiva em cães, Louis Pasteur deparou-se com um menino de 9
anos de idade que havia sido mordido 14 vezes por um cão raivoso e estava
fadado à morte. Apesar dos dilemas éticos, Pasteur injetou a vacina na criança
na tentativa de salvar-lhe a vida. O menino sobreviveu, e Pasteur desenvolveu
uma vacina contra a raiva em cães e a utilizou de forma bem-sucedida para o
tratamento da raiva humana. Para homenagear Pasteur e continuar o seu trabalho
foi criado o Instituto Pasteur, em Paris, em 1888, o qual se tornou uma clínica
para o tratamento da raiva, um centro de pesquisa para doenças infecciosas e
um centro de ensino (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).

Robert Koch (1843-1910)


Robert Koch foi um médico alemão que fez numerosas contribuições para a
ciência da microbiologia. Ele provou, por exemplo, que o bacilo do antraz (B.
anthracis), que tinha sido anteriormente descoberto por outros cientistas, era
de fato o agente causador do antraz. Essa constatação foi obtida por meio de
uma série de etapas científicas desenvolvidas por ele e seus colaboradores,
que posteriormente ficaram conhecidas como postulados de Koch (FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).
Entre muitas descobertas importantes, Kock desenvolveu métodos para a
fixação, a coloração e a obtenção de fotografias das bactérias e desenvolveu
métodos de cultura para bactérias em meios sólidos. Um de seus colegas,
R. J. Petri, inventou um prato de vidro plano (atualmente conhecido como
placa de Petri) para a cultura de bactérias em meio sólido. Foi Frau Hesse, a
esposa de outro colaborador de Koch, que sugeriu a utilização do ágar (um
polissacarídeo obtido de algas marinhas) como agente solidificante. Esses
métodos possibilitaram a Koch obter culturas puras de bactérias. As placas
de Petri contendo ágar ainda são utilizadas para a cultura de bactérias e
fungos em laboratórios (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN
et al., 2016).
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Além disso, Kock descobriu a bactéria que causa tuberculose (M. tuber-
culosis) e a que provoca cólera (Vibrio cholerae). O trabalho de Koch com a
tuberculina (uma proteína derivada da M. tuberculosis) levou, finalmente, ao
desenvolvimento de um teste cutâneo valioso no diagnóstico da tuberculose
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2012).

Célula procarionte e eucarionte


A microbiologia estuda basicamente duas categorias principais de micró-
bios, os acelulares (também chamados de partículas infecciosas) e celu-
lares (também chamados de microrganismos). Em função de seu tamanho,
poucos detalhes relativos à sua estrutura podem ser obtidos com o uso
do microscópio óptico composto, fazendo com que o conhecimento sobre
a ultraestrutura dos micróbios fosse adquirido por meio da utilização dos
microscópios eletrônicos (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MA-
DIGAN et al., 2016).
Para a biologia, uma célula é definida como a unidade fundamental
de qualquer organismo vivo, tendo em vista que assim como o organismo
como um todo, a célula exibe as características básicas da vida. Uma célula
obtém alimento (nutrientes) do meio ambiente para produzir a energia
necessária ao metabolismo (todas as reações químicas que ocorrem no
interior de uma célula) e outras atividades. Graças ao metabolismo, uma
célula pode manter-se viva, crescer e se reproduzir. Além disso, pode res-
ponder a estímulos provenientes do seu meio ambiente, como luz, calor,
frio e a presença de substâncias químicas. Uma célula pode sofrer mutação
(alteração genética) devido a mudanças em seu material genético (o ácido
desoxirribonucleico [DNA]) que compõe os genes de seus cromossomos
e, em consequência, pode tornar-se mais ou menos adaptada a seu meio
ambiente (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
As células bacterianas exibem todas as características da vida, embora
não tenham o complexo sistema de membranas e organelas encontrado nos
organismos unicelulares mais evoluídos. Essas células menos complexas,
que incluem Bacteria e Archaea, são denominados procariontes ou células
procarióticas. As mais complexas, que contêm um núcleo verdadeiro e mui-
tas organelas envolvidas por membrana, são chamadas de eucariontes ou
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células eucarióticas. Os eucariontes incluem organismos como as algas, os


protozoários, os fungos, as plantas, os animais e os seres humanos. Alguns
micróbios são procarióticos, outros são eucarióticos, e outros, ainda, como os
vírus, não são células, conforme esquematiza a Figura 1 (FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).

Figura 1. Micróbios acelulares e celulares.


Fonte: Adaptada de Fader, Engelkirk e Duben-Engelkirk (2021).

Os vírus são compostos apenas de alguns genes protegidos por um reves-


timento de proteína e, algumas vezes, podem conter uma ou mais enzimas.
Para se reproduzirem, eles dependem da energia e da maquinaria metabólica
de uma célula hospedeira. Por serem acelulares, são classificados dentro de
uma categoria totalmente separada (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
É essencial, para os profissionais da área de saúde, aprender as diferenças
na estrutura de várias células, não apenas com o propósito de identificá-las,
mas também de compreender as diferenças existentes no seu metabolismo.
Esses fatores precisam ser conhecidos antes que se possa determinar ou
explicar por que os agentes (fármacos) antimicrobianos atacam e destroem
os patógenos, mas não danificam as células humanas. Neste sentido, a cito-
logia, que é o estudo da estrutura e da função das células, desenvolveu-se
nos últimos 75 anos com a ajuda do microscópio eletrônico e da pesquisa
bioquímica sofisticada (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN
et al., 2016).
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Os eucariontes (eu = verdadeiro; karyo = refere­se a uma noz ou núcleo)


são assim denominados por terem um núcleo verdadeiro, em que o DNA está
envolvido por uma membrana nuclear. As células animais e vegetais medem,
em sua maioria, 10 a 30 μm, ou seja, são aproximadamente 10 vezes maiores
do que a maioria das células procarióticas. A Figura 2 ilustra uma célula
eucariótica animal e vegetal típica. Essa ilustração é uma composição feita
com a maioria das estruturas que podem ser encontradas nos vários tipos
de células do corpo humano ou em uma planta (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).

Figura 2. Diagrama altamente esquemático da composição de uma célula eucariótica, metade


planta e metade animal.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 99).

A célula eucarionte é revestida e mantida intacta pela membrana celular,


que também é denominada membrana plasmática ou membrana citoplas-
mática. Do ponto de vista estrutural, se trata de um mosaico composto de
moléculas de proteínas e fosfolipídeos (certos tipos de gorduras). A membrana
celular regula a passagem dos nutrientes, dos produtos de degradação e
das secreções para dentro e para fora da célula (BLACK; BLACK, 2021; FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021).
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A principal diferença entre as células procarióticas e eucarióticas é a


presença de um “núcleo verdadeiro” nos eucariontes, o que não acontece
nas procarióticas. O núcleo controla as funções celulares e apresenta três
partes principais: o nucleoplasma, os cromossomos e a membrana nuclear. Os
cromossomos estão inseridos ou suspensos no nucleoplasma, que consiste
na matriz gelatinosa, ou material de base, do núcleo. A membrana, que serve
como “pele” ao redor do núcleo, é denominada membrana nuclear e contém
orifícios (poros nucleares) através dos quais moléculas podem entrar e sair. Os
cromossomos das células eucarióticas são compostos por moléculas lineares
de DNA e proteínas (histonas e não histonas). Os genes estão localizados ao
longo das moléculas de DNA (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
LEVINSON et al., 2022).
O citoplasma é uma matriz nutritiva semifluida e gelatinosa. No seu interior,
são encontrados grânulos de armazenamento insolúveis e diversas orga-
nelas citoplasmáticas, incluindo retículo endoplasmático (RE), ribossomos,
complexos de Golgi, mitocôndrias, centríolos, microtúbulos, lisossomos e
outros vacúolos delimitados por membrana. Cada uma dessas organelas
desempenha uma função altamente específica, e todas essas funções estão
inter-relacionadas para manter a célula e possibilitar a realização adequada
de suas atividades (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; MADIGAN
et al., 2016).
As células procarióticas são aproximadamente 10 vezes menores do que
as eucarióticas. Uma célula típica de E. coli mede cerca de 1 μm de largura
e 2 a 3 μm de comprimento. Do ponto de vista estrutural, os procariontes
são células muito simples quando comparadas com as células eucarióticas
e, mesmo assim, são capazes de realizar os processos necessários para a
vida. A reprodução das células procarióticas ocorre por divisão binária, isto
é, a divisão simples de uma célula em duas após a replicação do DNA e a
formação de uma membrana e uma parede celular que separam as células.
Todas as bactérias são procariontes, assim como as Archaea. No interior
do citoplasma das células procarióticas encontram-se um cromossomo,
ribossomos e outras partículas citoplasmáticas, conforme a Figura 3 (FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2012).
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Figura 3. Estrutura da célula procariótica. As estruturas marcadas em vermelho são encon-


tradas em todas as bactérias. O desenho e a micrografia mostram a bactéria seccionada
transversalmente para revelar a composição interna.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 80).

Diferentemente das células eucarióticas, o citoplasma das procarióticas


não é preenchido por membranas internas. O citoplasma é circundado por
uma membrana celular, uma parede celular (geralmente) e, algumas vezes,
por uma cápsula ou camada limosa. Estas últimas três estruturas compõem o
envoltório da célula bacteriana. Dependendo da espécie de bactéria, podem
se observar flagelos, fimbrias, pili ou ambos na parte externa do envoltório
da célula; algumas vezes, é possível ver um esporo dentro da célula. No
Quadro 1 estão resumidas as principais diferenças estruturais das células
procarióticas e eucarióticas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
LEVINSON et al., 2022).

Quadro 1. Comparação entre as células eucarióticas e procarióticas

Células
Células eucarióticas
procarióticas

Parâmetros Vegetais Animais

Distribuição Todas as plantas, Todos os animais Todas as


biológica os fungos e as e protozoários bactérias
algas
(Continua)
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(Continuação)

Células
Células eucarióticas
procarióticas

Membrana Presente Presente Ausente


nuclear

Estruturas Presentes Presentes Geralmente


membranosas ausentes, exceto
além da os mesossomos
membrana e as membranas
fotossintéticas
celular

Microtúbulos Presentes Presentes Ausentes

Ribossomos 80S 80S 70S


citoplasmáticos
(densidade)

Cromossomos Constituídos Constituídos Constituídos


de DNA e de de DNA e de apenas de DNA
proteínas proteínas

Flagelos Quando Quando Quando


ou cílios presentes, têm presentes, têm presentes,
uma estrutura uma estrutura os flagelos
complexa complexa apresentam
uma estrutura
proteica
contorcida
simples.
As células
procarióticas
não apresentam
cílios

Parede celular Quando Ausente Constituição


presente, exibe química
uma constituição complexa,
química simples; contendo
geralmente peptideoglicano
contém celulose

Fotossíntese Presente Ausente Presente nas


(clorofila) cianobactérias
e em algumas
outras bactérias

Fonte: Adaptado de Fader, Engelkirk e Duben-Engelkirk (2021).


14 Fundamentos de microbiologia

Tipos celulares estudados


pela microbiologia
A microbiologia é o estudo dos micróbios, cuja maior parte é demasiado
pequena para ser vista a olho nu. Os micróbios podem ser divididos em:
verdadeiramente celulares (bactérias, Archaea, algas, protozoários e fungos)
e acelulares (vírus, viroides e príons). Os microrganismos celulares podem
ser subdivididos em procariontes (bactérias e Archaea) e eucariontes (algas,
protozoários e fungos). Por uma variedade de razões, os acelulares não são
considerados organismos vivos pela maioria dos cientistas (FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).

Vírus
As partículas virais completas, denominadas vírions, são muito pequenas e
de estrutura simples. A maioria dos vírus varia, quanto a seu tamanho, de 10
a 300 nm de diâmetro, porém alguns, como o vírus Ebola, pode alcançar até
1 μm de comprimento. Os menores vírus têm aproximadamente o tamanho
da grande molécula de hemoglobina de um eritrócito; por isso, os cientistas
eram incapazes de visualizá-los até a invenção do microscópio eletrônico,
na década de 1930 (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).
São reconhecidas cinco propriedades específicas dos vírus, que os dis-
tinguem das células vivas (BLACK; BLACK, 2021; FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021).

1. A maioria dos vírus apresenta DNA ou RNA, diferentemente das células


vivas, que têm ambos.
2. Os vírus são incapazes de se replicar (multiplicar) por si sós; sua re-
plicação é dirigida pelo ácido nucleico viral após ter sido introduzido
em uma célula hospedeira.
3. Diferentemente das células, eles não se dividem por divisão binária,
mitose ou meiose.
4. Carecem dos genes e das enzimas necessários para a produção de
energia.
5. Dependem dos ribossomos, das enzimas e dos metabólitos da célula
hospedeira para a síntese de proteínas e ácidos nucleicos.
Fundamentos de microbiologia 15

Um vírion típico consiste em um genoma de DNA ou de RNA, circundado por


um capsídeo (capa de proteína), que é composto de muitas unidades proteicas
pequenas, denominadas capsômeros. Juntos, o ácido nucleico e o capsídeo são
designados como nucleocapsídeo. Alguns vírus (chamados de envelopados)
têm um envelope externo composto de lipídeos e de polissacarídeos. Os vírus
são classificados com base em várias características, resumidas na Figura 4
(BLACK; BLACK, 2021; FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021).

Figura 4. Estrutura da célula procariótica. As estruturas marcadas em vermelho são encon-


tradas em todas as bactérias. O desenho e a micrografia mostram a bactéria seccionada
transversalmente para revelar a composição interna.
Fonte: Adaptada de Fader, Engelkirk e Duben-Engelkirk (2021).

Bactérias
O domínio Archaea contém organismos que são amplamente divididos em
três categorias fenotípicas, ou seja, com base em suas características físicas:
bactérias gram-negativas e com parede celular, bactérias gram­positivas e
16 Fundamentos de microbiologia

com parede celular e bactérias que carecem de parede celular. Muitas carac-
terísticas das bactérias são examinadas para fornecer dados utilizados na
identificação e classificação. Elas incluem o formato e o arranjo morfológico
das células, as reações de coloração, a motilidade, a morfologia das colônias,
as necessidades atmosféricas, as exigências nutricionais, as atividades bio-
químicas e metabólicas, as enzimas específicas produzidas pelo organismo,
a patogenicidade (capacidade de causar doença) e a constituição genética
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).
Com o uso do microscópio óptico composto, é fácil observar o tamanho, o
formato e o arranjo morfológico de várias bactérias. Elas variam enormemente
quanto ao tamanho e, em geral, consistem em esferas que medem cerca de
0,2 μm de diâmetro até espiraladas de 10 μm de comprimento e, inclusive,
filamentosas ainda mais longas. São observadas três formas básicas de
bactérias: redondas ou esféricas (os cocos), retangulares ou em forma de
bastonete (os bacilos) e curvas e espiraladas (algumas vezes designadas
como espirilos), conforme a Figura 5 (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; MADIGAN et al., 2016).

Figura 5. Categorias de bactérias com base na forma de suas células.


Fonte: Adaptada de Fader, Engelkirk e Duben-Engelkirk (2021).

Na natureza, a maioria das bactérias é incolor, transparente e difícil de


ser observada. Por esse motivo, foram desenvolvidos vários métodos de
coloração para ajudar os cientistas a examiná-las. Durante a preparação para
a coloração, as bactérias são esfregadas em uma lâmina de vidro (produzindo
o chamado “esfregaço”), deixadas para secar ao ar e, em seguida, “fixadas”.
Fundamentos de microbiologia 17

Um dos métodos de coloração mais utilizados é o método de Gram, desen-


volvido em 1883 pelo Dr. Hans Christian Gram, que passou a constituir o mais
importante procedimento de coloração no laboratório de bacteriologia, visto
que diferencia as bactérias “gram-positivas” das “gram-negativas”.
A reação de Gram dos organismos auxilia na identificação, pois a cor
adquirida pelas bactérias no final do procedimento de coloração de Gram
depende da composição química de sua parede celular, conforme demonstra
a Figura 6. Se elas não perderem a sua cor durante a etapa de descoloração,
terão uma coloração azul a púrpura no final do procedimento, sendo consi-
deradas “gram-positivas”. A camada espessa de peptideoglicano nas paredes
celulares das bactérias gram-positivas dificulta a remoção do complexo cristal
violeta-iodo durante a etapa de descoloração. Por outro lado, se ela adquirir
uma coloração rosada a vermelha, trata-se de uma bactéria gram-negativa
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2012).

Figura 6. Diferenças entre as paredes celulares de bactérias gram-negativas e gram-positivas.


Fonte: Adaptada de Fader, Engelkirk e Duben-Engelkirk (2021).

Fungos
Os fungos constituem um grupo diverso, e seu estudo é denominado mico-
logia. Os fungos são encontrados em quase todas as partes na Terra, alguns
(saprófitas) vivem na matéria orgânica, na água e no solo, enquanto outros
(parasitas) vivem na superfície e no interior de animais e plantas. Algumas
espécies são prejudiciais, causando doenças ou prejuízos econômicos pela
18 Fundamentos de microbiologia

deterioração de alimentos e produtos. No entanto, a grande maioria das


espécies fúngicas vive em simbiose e oferece muitos benefícios ao ambiente
e ao ser humano, sendo importantes na produção de queijos, cerveja, vinho e
outros itens alimentícios, além de certos fármacos (ciclosporina, um imunos-
supressor) e antibióticos (penicilina) (BLACK; BLACK, 2021; FADER; ENGELKIRK;
DUBEN-ENGELKIRK, 2021).
Estima-se que os fungos constituam o grupo mais diversificado de or-
ganismos na Terra, incluindo leveduras, bolores e até mesmo cogumelos.
Como saprófitas, sua principal fonte de alimento é constituída por matéria
orgânica morta e em decomposição. Embora muitos fungos sejam unicelu-
lares (leveduras e microsporídeos), outros crescem na forma de filamentos
denominados hifas, que se entrelaçam para formar uma massa chamada de
micélio ou talo. Alguns fungos têm hifas septadas, ou seja, o citoplasma no
interior da hifa é dividido em células por paredes transversais ou septos; já
outros têm hifas asseptadas com citoplasma multinucleado. Dependendo da
espécie, as células dos fungos podem reproduzir-se por brotamento, extensão
das hifas ou formação de esporos que podem ser sexuados e assexuados
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; LEVINSON et al., 2022).

Algas
As algas são organismos eucarióticos fotossintéticos que, juntamente com os
protozoários, são classificados como pertencentes ao reino Protista. Todas as
células das algas são constituídas de citoplasma, parede celular (geralmente),
membrana celular, núcleo, plastídeos, ribossomos, mitocôndrias e corpúscu-
los de Golgi. Além disso, algumas células de algas apresentam uma película
(membrana celular mais espessa), um estigma (organela que é um sensor de
luz, também conhecida como ocelo) e flagelos. Embora não sejam plantas e
careçam de raízes verdadeiras, caules e folhas, as algas assemelham-se mais
a vegetais do que aos protozoários (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; MADIGAN et al., 2016).
As algas variam, quanto ao tamanho, desde organismos microscópicos
minúsculos e unicelulares (p. ex., diatomáceas, dinoflagelados e desmídias)
até grandes algas marinhas multicelulares e semelhantes a plantas. Dessa
forma, nem todas são microrganismos, podendo formar colônias ou fila-
mentos, e podem ser encontradas na água doce e na salgada, em solos ou
rochas úmidas. As algas produzem a sua energia por fotossíntese, utilizando
energia solar, dióxido de carbono, água e nutrientes inorgânicos do solo para
Fundamentos de microbiologia 19

sintetizar o material celular. No entanto, algumas espécies utilizam nutrientes


orgânicos, enquanto outras sobrevivem com uma quantidade muito pequena
de luz solar (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).

Protozoários
Os protozoários são organismos eucarióticos que, juntamente com as al-
gas, são classificados como protistas, uma decisão não unânime entre os
taxonomistas. O estudo dos protozoários é denominado protozoologia.
Os protozoários são, em sua maioria, unicelulares, e o seu tamanho varia
de 3 a 2.000 μm. A maior parte é de organismos de vida livre, encontrados
no solo e na água. As células dos protozoários são mais semelhantes às de
animais do que às de vegetais, mas todas têm uma variedade de estruturas
e organelas eucarióticas, incluindo membranas celulares, núcleo, retículo
endoplasmático, mitocôndrias, corpúsculos de Golgi, lisossomos, centrí-
olos e vacúolos digestivos. Além disso, alguns protozoários apresentam
películas, citóstomas, vacúolos contráteis, pseudópodes, cílios e flagelos
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2012).
Os protozoários são desprovidos de clorofila e, portanto, são incapazes
de produzir o próprio alimento pela fotossíntese. Alguns ingerem algas intei-
ras, leveduras, bactérias e protozoários menores como fonte de nutrientes,
enquanto outros vivem em matéria orgânica morta e em decomposição. O
ciclo de vida típico de um protozoário consiste no estágio trofozoíta no qual
é móvel, se alimenta e se divide, enquanto o cisto é o estágio de sobrevi-
vência imóvel e dormente. Alguns protozoários são parasitas, degradando e
absorvendo os nutrientes do corpo do hospedeiro onde vivem. Muitos deles
são patógenos, como os que causam a malária e a giardíase, por exemplo.
Outros protozoários coexistem com o animal hospedeiro em um tipo de re-
lação simbiótica mutualística — em que ambos os organismos se beneficiam
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2012).
A microbiologia, portanto, é uma ciência indispensável para o desenvolvi-
mento humano, a prevenção e o tratamento de doenças e desenvolvimento
econômico. Ao longo da história, essa ciência se provou essencial ao aumento
da expectativa e da qualidade de vida do ser humano. A curiosidade e a ge-
nialidade de diversos cientistas propiciaram descobertas que, acumuladas,
20 Fundamentos de microbiologia

alicerçaram o conhecimento e o desenvolvimento de importantes avanços


médicos como as vacinas e os fármacos antimicrobianos.
Por fim, o conhecimento aliado às práticas sustentáveis pode trazer o
equilíbrio entre espécies de seres vivos tão pequenos e a humanidade, pre-
venindo o surgimento de novas pandemias.

Referências
ALAM, S.; SULTANA, R. Influences of climatic and non-climatic factors on COVID-19
outbreak: A review of existing literature. Environmental Challenges, v. 5, p. 1-8, 2021.
BLACK, J. G.; BLACK, L. J. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 10. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Covid data tracker. Atlanta: CDC,
2022. Disponível em: https://covid.cdc.gov/covid-data-tracker/#global-counts-rates.
Acesso em: 4 set. 2022.
FADER, R.; ENGELKIRK, P.; DUBEN-ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para as ciências
da saúde. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
LEVINSON, W. et al. Microbiologia médica e imunologia: um manual clínico para doenças
infecciosas. 15. ed. Porto Alegre: AMGH, 2022.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
RIEDEL, S. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 28. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2022.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Coronavirus (COVID-19) dashboard. Geneva: WHO,
2022. Disponível em: https://covid19.who.int/. Acesso em: 4 set. 2022.

Leituras recomendadas
FEIJÓ, R. B.; SÁFADI, M. A. Imunizações: três séculos de uma história de sucessos e
constantes desafios. Jornal de Pediatria, v. 82, n. 3 suppl., p. s1-s3, 2006. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/S0021-75572006000400001. Acesso em: 4 set. 2022.
UJVARI, S. C. A história e suas epidemias: a convivência do homem com os microrganismos.
Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 45, n. 4, pp. 212, 2003. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/S0036-46652003000400017. Acesso em: 4 set. 2022.

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