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MICROBIOLOGIA

Fungos e micoses
Denise Diedrich

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir a importância clínica da micologia.


> Listar os diferentes tipos de micoses.
> Reconhecer as formas de contágio.

Introdução
A microbiologia é a ciência que estuda os microrganismos, seja de forma isolada
ou em suas relações entre si e com o ser humano. A micologia é uma subárea
da microbiologia e traz o estudo focado em microrganismos eucariotos que se
parecem com as células animais, os fungos. Os fungos são organismos complexos
que despertam cada vez mais o interesse da ciência, seja pelo interesse biotec-
nológico, auxiliando na produção de medicamento, alimentos ou componentes
da indústria, seja pelo estudo das infecções que esses organismos podem causar
no ser humano. Ao longo dos últimos anos, o número de infecção fúngicas tem
aumentado e há uma crescente preocupação em entender melhor os mecanismos
patogênicos, preventivos e de tratamento dessas infecções, que podem causar
desde desconforto e ou até infecções sistêmicas oportunistas fatais.
Neste capítulo, você verá a importância clínica da micologia e os diferentes
tipos de infecções fúngicas que acometem o ser humano, reconhecendo as prin-
cipais formas de contágio. Além disso, estudará os diferentes tipos de micoses:
superficiais, subcutâneas, sistêmicas e oportunistas.
2 Fungos e micoses

Micoses e sua relevância clínica


Os fungos são eucariotos, mas diferem bem das plantas e dos animais. São
organismos multinucleados ou multicelulares com uma parede celular espessa
que pode conter quitina, glucanos, mananas e glicoproteínas. Os fungos abran-
gem um vasto grupo de microrganismos, variado e largamente disseminado,
formado basicamente por bolores, cogumelos e leveduras. Cerca de 100 mil
espécies fúngicas foram identificadas e descritas, mas estimativas sugerem a
existência de 1,5 milhão de espécies. Filogeneticamente, os fungos constituem
um grupo diverso dos demais protistas e são estritamente relacionados com
os animais (GOERING et al., 2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
A maioria dos fungos é microscópica e terrestre, habitando o solo ou a
matéria vegetal morta e desempenhando uma função essencial no ciclo do
carbono orgânico. Dessa forma, os fungos desempenham importante papel na
cadeia alimentar, pois decompõem a matéria vegetal. As partes mais rígidas
das plantas que os animais não digerem, por exemplo, são decompostas
pelos fungos por meio de enzimas como as celulases. Grande parte das
plantas precisa ou depende de relações simbióticas com os fungos, como as
micorrizas, que ajudam as raízes das plantas a absorverem água e minerais
do solo (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022).
Mesmo no reino animal, os fungos desempenham importante papel. Um
exemplo são algumas espécies de formigas que têm relação simbiótica com
fungos para degradar a celulose e a lignina das plantas, fornecendo glicose.
A espécie humana não é diferente, e utiliza os fungos como fonte de alimen-
tação direta (cogumelos), na produção de alimentos, como o pão, e ainda na
produção de fármacos e produtos industriais, como o álcool (GOERING et al.,
2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Um dos clássicos exemplos em que os fungos foram utilizados e ainda o
são em benefício da humanidade é o caso da descoberta da penicilina. Em
1928, o bacteriologista Alexander Fleming acidentalmente observou que um
bolor que contaminou sua cultura bacteriana inibiu o crescimento dela. A
substância isolada do contaminante fúngico pertence ao que chamamos de
penicilinas. Essa descoberta foi um marco importante para o desenvolvimento
de antibióticos, a partir dos quais diminuíram muito as mortes causadas
por diversas infecções bacterianas, antes sem possibilidade de tratamento.
A Figura 1a apresenta a imagem de Alexander Fleming observando uma
placa de cultura, enquanto a Figura 1b ilustra o núcleo geral das penicilinas,
a partir do qual muitos antibióticos foram desenvolvidos e são utilizados até
hoje (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022).
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Figura 1. Penicilina: (a) Alexander Fleming observando uma placa de cultura; (b) estrutura
química geral (núcleo) das penicilinas.
Fonte: Calixto e Cavalheiro (2012, p. 119-120).

A porcentagem de fungos patogênicos é muito pequena — levando-se em


consideração as mais de 100 mil espécies fúngicas identificadas, somente
cerca de 200 são patogênicas aos humanos e aos animais. Entretanto, nas
últimas décadas a incidência de infecções fúngicas tem aumentado e gerado
preocupação. Tais infecções têm sido identificadas em unidades de cuidados
de saúde, como postos e hospitais, e em indivíduos imunossuprimidos. Além
disso, outro problema bastante importante em relação às infecções fúngicas
são as doenças que afetam plantas economicamente importantes, pois levam
a vastos prejuízos econômicos (mais de um bilhão de dólares por ano) e de
produtividade (LEVINSON et al., 2022; MADIGAN et al., 2016).
A ciência que estuda os fungos é chamada de micologia e pertence à grande
área da microbiologia. Quando um fungo causa uma doença em humanos, esta
é chamada de micose. Para que uma micose seja tratada adequadamente,
o patógeno deve ser identificado com precisão, a fim de tratar e prevenir
sua disseminação. Dessa forma, para distinguir cada patógeno, é essencial
conhecer as estruturas que servem de base para a identificação fúngica
em laboratório clínico e conhecer seus ciclos de vida e suas necessidades
nutricionais (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022).
Os fungos, de uma maneira geral, são químio-heterotróficos, ou seja,
absorvem os nutrientes, em vez de ingeri-los, precisando de fontes orgânicas
de energia e carbono. Podem ser aeróbicos ou anaeróbicos facultativos, mas
apenas algumas espécies fúngicas são anaeróbicas conhecidas. Para fazer a
identificação de fungos, ou ainda diferenciá-los das bactérias, são utilizados
testes bioquímicos, mas fungos multicelulares muitas vezes são identificados
levando-se em consideração seu aspecto físico, como as características da
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colônia e dos esporos reprodutivos (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,


2021; RIEDEL et al., 2022).
Os fungos crescem basicamente de duas formas: leveduras e bolores. São
chamados de fungos filamentosos os bolores e de fungos carnosos quando
o corpo (talo) é composto por longos filamentos de células conectadas, que,
por sua vez, são chamados de hifas.

As hifas podem crescer em proporções enormes. Como exemplo, um


cogumelo mapeado no Oregon, Estados Unidos, apresentava hifas
que se estendiam por mais de 6,4 km2 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Na maior parte dos bolores, as hifas têm paredes cruzadas, também


chamadas de septos, que separam as hifas em unidades parecidas com
células uninucleadas distintas. Tais hifas são chamadas de hifas septadas
(Figura 2a). Quanto as hifas não possuem septos, apresentam-se longas e
contínuas, com muitos núcleos, chamadas de hifas cenocíticas (Figura 2b).
As hifas crescem por alongamento de suas extremidades, e mesmo quando
quebradas essas estruturas podem se alongam e formar uma nova hifa
(Figura 2c). Dessa forma, em ambiente laboratorial alguns fungos podem
crescer a partir de um talo do fungo original (GOERING et al., 2020; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).

Figura 2. Detalhes de diferentes tipos de hifas: (a) as hifas septadas têm paredes cruzadas,
ou septos, dividindo-as em unidades semelhantes a células. (b) as hifas cenocíticas não têm
septos; (c) as hifas crescem pelo alongamento de suas extremidades.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 322).
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As hifas podem apresentar porções que contêm nutrientes e outras porções


com funções reprodutivas ou aéreas. As hifas vegetativas estão envolvidas
na obtenção de nutrientes, enquanto as hifas reprodutivas se projetam
acima da superfície onde o fungo está crescendo e estão envolvidas com a
reprodução. Frequentemente, essas hifas reprodutivas sustentam os esporos
reprodutivos (Figura 3a). Já quando as condições do ambiente são favoráveis,
formam uma massa filamentosa, visível a olho nu, chamada de micélio (Figura
3b) (GOERING et al., 2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Figura 3. Hifas aéreas e vegetativas: (a) fotomicrografia de hifas aéreas, mostrando esporos
reprodutivos; (b) colônia de Aspergillus niger crescendo numa placa de ágar glicose, mostrando
as hifas vegetativas e aéreas.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 322).

De modo geral, as leveduras, por sua vez, são fungos unicelulares, não
filamentosos, esféricos ou ovais. Assim como os fungos filamentosos, as le-
veduras são vastamente distribuídas na natureza, como quando encontramos
um “pó” branco sobre frutas e folhas. As leveduras de brotamento, como as
Saccharomyces, dividem-se e formam células desiguais (Figura 4a). Nesse
processo, a célula parental desenvolve uma protuberância ou broto em sua
superfície externa, que vai se alongando e migra com parte do núcleo parental
previamente dividido. Uma parede celular também vai sendo sintetizada entre
o broto e a célula original, até que por fim são separadas, originando uma
nova célula. Dessa forma, uma única célula de levedura é capaz de produzir
mais de 24 células-filhas mediante brotamento (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
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Figura 4. Leveduras: (a) micrografia da levedura Saccharomyces cerevisiae em diversos


estágios do brotamento; (b) o dimorfismo no fungo Mucor indicus depende da concentração
de C02 — na superfície do ágar, o Mucor apresenta um crescimento leveduriforme, mas no
interior do meio seu crescimento é filamentoso.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 323).

Existem leveduras que produzem brotos que acabam não se separando


uns dos outros, formando uma pequena cadeia de células chamadas pseudo-
-hifas. Um exemplo importante é a Candida albicans, que se fixa às células
epiteliais humanas na forma de levedura; porém, ela precisa estar na forma
de pseudo-hifas para ser capaz de invadir tecidos mais profundos. Por ou-
tro lado, as leveduras de fissão, como as Schizosaccharomyces, dividem-se
para produzir duas novas células idênticas, por meio de uma fissão binária
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).
As leveduras têm a capacidade de crescer de forma anaeróbica facultativa,
uma característica importante que as permite sobreviver em vários ambientes:
se há oxigênio, as leveduras respiram de forma aeróbica para metabolizar
carboidratos; já na ausência de oxigênio, elas fermentam carboidratos, pro-
duzindo etanol e dióxido de carbono (processo aproveitado na fabricação
de cerveja, vinho e panificação) (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Uma porcentagem muito pequena das espécies fúngicas é causadora


de doenças, sendo os filos zigomiceto, ascomiceto (abrangem 60%
dos fungos conhecidos e cerca de 80% dos fungos patogênicos humanos) e ba-
sidiomiceto os que mais apresentam espécies patogênicas de interesse médico.
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Existem alguns fungos, especialmente espécies patogênicas, que se apre-


sentam como dimórficas, ou seja, podem ter duas formas de crescimento,
dependendo das condições. Os fungos dimórficos podem crescer tanto na
forma filamentosa quanto na forma de levedura, produzindo na forma fila-
mentosa hifas aéreas e vegetativas e na forma de levedura, brotos. Nos fungos
patogênicos, o dimorfismo depende da temperatura: a 37 °C, apresentam forma
de levedura; a 25 °C, de fungo filamentoso. No entanto, com o surgimento de
dimorfismo no fungo demostrado na Figura 4b (não patogênico) a morfologia
muda conforme a concentração de CO2 (MORAES, 2008; RIEDEL et al., 2022).
Os fungos filamentosos podem se reproduzir de forma assexuada, pela
fragmentação de suas hifas, ou ainda de forma sexuada, pela formação de
esporos (mediante a fusão de núcleos de duas linhagens distintas, gerando
fungos com características genéticas de ambas as linhagens parentais). Os
esporos também podem ter uma forma de reprodução assexuada (a partir
de hifas de um organismo, gerando cópias geneticamente iguais) e têm a
capacidade de identificar os fungos (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Diferentes tipos de micoses


Micoses são infecções causadas por determinadas espécies de fungos patogê-
nicos. Quanto à etiologia dos fungos causadores de doenças, é possível dizer
que muitas espécies são exógenas, ou seja, provenientes de reservatórios
externos ao organismo, como a água, o solo ou resíduos orgânicos, habitats
naturais dessas espécies fúngicas. No entanto, as micoses com maior inci-
dência (dermatofitoses e candidíase) são provocadas por espécies fúngicas
que compõem o microbioma normal humano e que estão muito adaptas a
viver nesse hospedeiro (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL
et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Para facilitar o entendimento e o aprendizado, as micoses podem ser
classificadas quanto à sua forma de crescimento (visto anteriormente como
fungos filamentoso, leveduras ou dimórficos) ou quanto ao tipo de infecção
causada em humanos. Didaticamente, são reconhecidos quatro tipos de
infecções fúngicas: superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas (que
atacam órgãos internos). Micoses do tipo sistêmico podem ser provocadas
por espécies fúngicas endêmicas (geograficamente restritas e de origem
primária) ou por fungos ubíquos (do tipo presente em muitos ambientes
diferentes e que normalmente são oportunistas secundários) (Quadro 1)
(FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).
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Quadro 1. Principais micoses e as espécies fúngicas causadoras

Categoria Micose Agente etiológico (fungo)

Superficial Pitiríase versicolor Espécies de Malassezia


Tínea negra Hortaea werneckii
Piedra branca Espécies de Trichosporon
Piedra negra Piedraia hortae

Cutânea Dermatofitose Espécies de Microsporum,


Trichophyton e Epidermophyton
Candidíase de pele, floccosum
mucosa ou unhas Candida albicans e outras espécies
de Candida

Subcutânea Esporotricose Sporothrix schenkii


Cromoblastomicose Phialophora verrucosa, Fonsecae
Micetoma pedrosoi e outros
Feoifomicose Pseudallescheria boydii, Madurella
mycetomatis e outros
Exophiala, Bipolaris, Exserohillum
e outros bolores demácios

Endêmica Coccidioidomicose Coccidioides posadasii e


(primária, Histoplasmose Coccidioides immitis
sistêmica) Blastomicose Histoplasma capsulatum
Paracoccidioidomicose Blastomyces dermatitidis
Paracoccidioides brasiliensis

Oportunista Candidíase sistêmica Candida albicans e outras espécies


Criptococose de Candida
Aspergilose Cryptococcus neoformans e
Hialoifomicose Cryptococcus gattii
Aspergillus fumigatus e outras
Feoifomicose espécies de Aspergillus
Espécies de Fusarium,
Mucormicose Paecilomyces, Trichosporon e
Pneumonia por outros bolores hialinos
Pneumocystis Cladophialophora bantiana;
espécies de Alternaria,
Peniciliose Cladosporium, Bipolaris
Exserohilum e inúmeros outros
bolores demácios
Espécies de Rhizopus, Lichtheimia,
Cunninghamella e outros membros
da ordem Mucorales
Pneumocystis jirovecii
Penicillium marneffei

Fonte: Adaptado de Riedel et al. (2022).


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As micoses superficiais são infecções fúngicas que acometem as áreas


mais externas do corpo humano, incluindo a superfície externa dos folículos
pilosos e a camada mais externa de células mortas da pele (a epiderme). Elas
incluem a otomicose, a piedra negra, a piedra branca, a tinha (ou pitiríase
versicolor) e a tinha negra. Todas essas micoses são provocadas por bolores.
A piedra negra, que é causada por Piedraia hortae, é uma infecção fúngica do
couro cabeludo e, menos comumente, das sobrancelhas e dos cílios (Figura 5b).
A piedra branca, geralmente causada por Trichosporon spp., é uma infecção
fúngica dos bigodes, da barba, dos pelos púbicos e das axilas (Figura 5a). A ti-
nha versicolor, causada por Malassezia furfur, é uma infecção por dermatófito,
que afeta a pele do tórax ou do dorso e, menos comumente, dos braços, das
coxas, do pescoço e do rosto. A tinha negra, causada por Hostaea werneckii,
é uma infecção das palmas das mãos e, menos comumente, do pescoço e
dos pés. Com mais frequência, as micoses superficiais são diagnosticadas
com base nas manifestações clínicas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Figura 5. Piedra: (a) cabelo com piedra branca e nódulo devido a crescimento do Trichosporon
(ampliada 200X); (b) cabelo com piedra negra e sólido nódulo escuro causado pelo crescimento
de um bolor dernácio, P. hortae (ampliada 200X).
Fonte: Riedel et al. (2022, documento on-line).

As micoses cutâneas, também dos cabelos e das unhas (dermatomicoses),


são as infecções fúngicas das camadas vivas da pele (a derme), de folículos
pilosos e unhas, comumente chamadas de infecções por tinhas, ou derma-
tofitoses. São causadas por um grupo de bolores coletivamente designados
dermatófitos, que só infectam o tecido ceratinizado. Entre os mais relevantes
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dermatófilos fúngicos, está um grupo com mais de 40 espécies fúngicas


relacionadas principalmente a três gêneros: Microsporum, Trichophyton e
Epidermophyton (Figura 6). Embora raramente sejam debilitantes ou fatais, as
dermatofitoses estão entre as infecções mais prevalentes no mundo e podem
causar desconforto ao paciente, sendo bastante persistentes e gerando custos
anuais bilionários para tratá-las (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Figura 6. Exemplos de três gêneros de dermatófitos: (a) Trichophyton tonsurans caracteriza-se


pela produção de um microconídio alongado ligado a uma hifa de sustentação; (b) Mycrospo-
rum gypseum produz macroconídios individuais, finos e de parede rugosa; (c) Epidermophyton
floccosum possui macroconídios em forma de bastão e de parede fina e lisa, que aparecem
tipicamente em pequenos aglomerados.
Fonte: Riedel et al. (2022, documento on-line).

As micoses subcutâneas são infecções fúngicas da derme e dos tecidos


subjacentes. São mais graves do que as superficiais e cutâneas. A infecção
resulta da implantação traumática do bolor através da derme até o tecido
subcutâneo. Exemplos de micoses subcutâneas incluem esporotricose, feo­
hifomicose (anteriormente denominada cromomicose, ou cromoblastomicose)
e micetomas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
A esporotricose é causada pelo Sporothrix schenckii, um fungo dimórfico
que normalmente afeta a pele de um membro (Figura 7). Está frequentemente
associada a pessoas que fazem jardinagem e é designada como “doença
dos cortadores de rosas”. Já a feo­hifomicose (do latim phaeo, que significa
“escuro”) é causada por várias espécies de bolores. Trata-se de uma infecção
crônica e disseminada da pele dos tecidos subcutâneos, que geralmente afeta
um membro inferior. Os fungos mais frequentemente associados à infecção
(Exophiala, Cladophialophora e Fonsecaea) são bolores que possuem mela-
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nina em suas paredes celulares. Consequentemente, as colônias exibem uma


coloração castanho­escura a negra quando crescem em culturas. Por fim, os
micetomas, que são causados por diversos bolores, são infecções granuloma-
tosas crônicas que geralmente acometem os pés e mais raramente as mãos
e outras áreas do corpo. Algumas dessas micoses subcutâneas podem ter
uma aparência muito grotesca (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Figura 7. Esporotricose em tecido cutâneo, revelando células de levedura esféricas (3 a 5


µm), pequenas, com brotamentos alongados de Sporothrix schenkii, corados em preto com
corante metenamina-prata de Gomori (GMS). Ampliada 400 X.
Fonte: Riedel et al. (2022, documento on-line).

As micoses sistêmicas, também conhecidas como generalizadas ou pro-


fundas, e constituem os tipos mais graves. São infecções fúngicas dos órgãos
internos do corpo, que algumas vezes afetam simultaneamente dois ou mais
sistemas orgânicos. Na maioria dos casos, resultam da inalação de esporos ou
conídios, com infecção subsequente dos pulmões e disseminação, através do
sistema circulatório, para outros sistemas, como a pele, o trato geniturinário ou
o sistema nervoso central. Na maior parte das situações, as micoses sistêmicas
ocorrem em indivíduos imunocomprometidos e, portanto, são consideradas
infecções oportunistas. Praticamente qualquer bolor pode causar infecção
em pacientes gravemente imunocomprometidos (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
A coccidioidomicose (febre do Vale) é um exemplo de micose sistêmica
que começa na forma de infecção respiratória, com febre, calafrios, tosse
e, raramente, dor. É causada pelo Coccidioides posadasii ou pelo Coccidio-
ides immitis e é endêmica nas regiões semiáridas do sudeste dos Estados
Unidos e Américas Central e do Sul. A infecção primária pode ser curada por
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completo ou evoluir para a forma disseminada, que é frequentemente fatal.


A coccidioidomicose disseminada pode consistir em lesões pulmonares e
abscessos por todo o corpo, sobretudo nos tecidos subcutâneos, na pele, nos
ossos e no sistema nervoso central. Outros tecidos e órgãos também podem
ser acometidos, como linfonodos inguinais, rins, glândula tireoide, coração,
hipófise, esôfago e pâncreas (Figura 8) (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Figura 8. Coccidioidomicose: (a) radiografia de pulmão de um paciente, revelando linfonodos


hilares aumentados e uma cavidade no pulmão esquerdo. Espécies de Coccidioides. (b) Em
cultura à temperatura ambiente, Coccidioides posadasii produz hifas septadas hialinas e
artroconídios (ampliada 400 X). (c) Grandes esférulas contendo endósporos podem ser vistas
nessa seção de tecido pulmonar (HE, ampliada 200 X).
Fonte: Riedel et al. (2022, documento on-line).

Formas de contágio das micoses


A classificação das micoses conforme o mecanismo de entrada e local de
comprometimento no hospedeiro muitas vezes pode gerar situações con-
troversas, pois pode existir superposição de manifestações clínicas, como,
por exemplo, quando infecções fúngicas sistêmicas desenvolvem sintomas
subcutâneos, e vice-versa. Na maioria das micoses oportunistas, os pacientes
apresentam doenças subjacentes graves com comprometimento da imuni-
Fungos e micoses 13

dade do hospedeiro, tornando-o imunossuprimido. No entanto, é possível


que ocorram micoses sistêmicas de origem primária nesses pacientes, assim
como espécies fúngicas oportunistas podem causar micoses em indivíduos
imunocompetentes (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et
al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Em contraste com as bactérias, a maior parte das espécies fúngicas não
produz toxinas que prejudicam o hospedeiro. Em vez disso, o dano causado
aos tecidos pelas micoses é oriundo principalmente da invasão direta do
tecido, com movimentação e destruição teciduais subsequentes de estruturas
fisiológicas vitais, agregando-se a isso efeitos nocivos da resposta infla-
matória. Ademais, massas de células fúngicas podem obstruir os brônquios
pulmonares e os ureteres nos rins, provocando a interrupção do fluxo de
líquidos corporais essenciais à homeostase. Como exemplos, é possível citar
as espécies fúngicas de Aspergillus e Mucor, que podem crescer nas paredes
de artérias e veias, levando à obstrução e necrose tecidual. Dessa forma, um
dos principais mecanismos patogênicos dos fungos é causar a doença pela
invasão e destruição mecânica dos tecidos ou ainda pela obstrução do fluxo
dos líquidos corporais (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL
et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

D. D., 42 anos, natural de São Paulo, sexo masculino, está em trata-


mento de uma leucemia mieloide. O paciente apresenta granuloci-
topenia e está utilizando um cateter central para administração dos fármacos
quimioterápicos. Há cerca de 25 dias, vem apresentando queda no estado geral,
com urina turva, apesar do uso de antibacteriano de amplo espectro. No exame
físico, o paciente apresenta-se hidratado, eupneico, acianótico, anicatético, com
boa perfusão periférica, febril e com ausência de linfonodomegalias palpáveis.
No hemograma, apresenta anemia e neutofilia. No exame de urina, apresenta
alta predominância de leucócitos e eritrócitos. Após exame de urocultura, o
resultado foi positivo para fungos. Nos exames de imagem, foram observadas
áreas de infartos renais bilaterais.
Mesmo após 50 dias de tratamento com anfotericina B, as lesões do paciente
não regrediram. Uma biópsia renal revelou a presença de granulomatose com
pseudo-hifas. Segundo a literatura, pacientes que sofrem com neoplasias
malignas hematológicas, como as leucemias, podem ser acometidos por in-
fecções fúngicas oportunistas sistêmicas, com taxa de mortalidade de 60%,
principalmente causadas pelos gêneros Candida sp. e Aspergillus sp. A candidíase
sistêmica ocorre quando o microrganismo (parte do microbioma normal) entra
na corrente sanguínea e as defesas do hospedeiro não contêm o crescimento
e a disseminação das leveduras. Já a aspergilose pode ocorrer por inalação de
pequenos conídios aerossolizados de diversas espécies de Aspergillus presentes
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no ambiente. A imunossupressão sem dúvida é um fator crucial para que esse


tipo de infecção oportunista aconteça. Essa alta susceptibilidade às infecções
fúngicas oportunistas desses pacientes é explicada pelo estado imunocom-
prometido proveniente tanto da doença, que interfere na produção de células
de defesa, quanto na quimioterapia, fazendo com que o cuidado com o manejo
e prevenção de infecção por microrganismos oportunistas seja essencial à
sobrevivência desses pacientes.

Ao longo das infecções fúngicas, a maior parte dos pacientes produz


respostas imunológicas em âmbitos celular e humoral de forma relevante
contra os antígenos fúngicos. No entanto, boa parte das micoses oportunistas
se devem aos avanços nos tratamentos médicos, que aumentam a sobrevida
de pacientes com doenças que causam imunossupressão, como câncer, sín-
drome da imunodeficiência adquirida (aids), pacientes com transplantes de
órgãos sólidos e que utilizam imunossupressores, por exemplo. Dessa forma,
é importante ressaltar que os dados clínicos sugerem que são mecanismos
importantes de defesa natural do hospedeiro contra as micoses (com potencial
fatal) a resposta imune Th1 e TH17 (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,
2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
De forma geral, as espécies de fungos patogênicos não produzem toxinas
potentes, com recursos de patogenicidade poligênicos e complexos. Infecções
experimentais demonstram que, dentro de uma mesma população fúngica
patogênica, há variedade na virulência, demonstrando que existem vários
genes que modulam a patogenicidade fúngica e que podem se expressar de
formas distintas.
Além disso, outro aspecto importante que pode levar a infecções sistêmi-
cas ou oportunistas é a dificuldade de tratar adequadamente a maior parte
das micoses. Por serem organismos eucariotos, os fungos são parecidos
em termos de produtos gênicos e vias metabólicas com seus hospedeiros
humanos e, dessa forma, dificultam a obtenção de alvos específicos para a
terapia antifúngica. Ao longo dos anos, há cada vez mais estudos e interesse
científico para encontrar novos alvos terapêuticos e, consequentemente,
fármacos seletivos e seguros para terapias antifúngicas.
A maior parte das espécies fúngicas pode ser encontrada na natureza e
tem seu crescimento relacionado a fontes simples de nitrogênio e carboi-
dratos. O meio de cultura tradicional para crescimento de fungos é o ágar de
Sabouraud, que contém glicose e peptona modificada (pH 7,0). Esse meio é
muito utilizado, pois desfavorece o crescimento de bactérias, tornando-se
mais seletivos para fungos.
Fungos e micoses 15

As infecções fúngicas em humanos podem ter diferentes classificações.


A seguir, serão discutidas as principais formas de contágio das micoses e
as doenças mais importantes (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021;
RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Micoses superficiais
As micoses superficiais são representadas principalmente pelas pitiríase visi-
color, Tinea nigra e pietra branca e negra. Esses tipos de micoses geralmente
não estão associados com transmissão interpessoal, pois em geral os fungos
causadores dessas doenças fazem parte do microbioma humano ou estão
presentes no solo, água e superfícies. A Tinea nigra, por exemplo, tem maior
incidência nas regiões intertropicais americanas, incluindo o Brasil, pois os
solos com alto teor de salinidade são os nichos ecológicos do fungo, pelo qual
o ser humano pode ser contaminado, provavelmente através de pequenas
lesões cutâneas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Micoses cutâneas
Em geral, as micoses causadas por dermatófitos surgem na pele depois de
traumatismo e contato. A infecção pode ser facilitada pela suscetibilidade
do hospedeiro (imunossupressão), umidade, calor, características da pele,
pela composição do sebo e do suor e pela idade e genética. A incidência
dessas micoses é maior em regiões com clima quente e úmido, assim como
em condições de aglomeração. Um exemplo são os calçados fechados, que
favorecem o calor e a umidade, situação propícia à infecção dos pés. A fonte
de infecção pode ser o solo ou animais infectados por dermatófitos geofílicos
e zoofílicos, respectivamente. As espécies fúngicas antropofílicas podem ser
transmitidas por contato direto ou fômites, como toalhas, roupas e chuveiros
contaminados. De forma diversa a outras infecções fúngicas, os dermatófitos
são contagiosos e frequentemente transmitidos pela exposição à pele desca-
mada, unhas e cabelos contaminados por hifas ou conídios. Essas estruturas
fúngicas podem permanecer viáveis por longo período nos fômites (FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).
16 Fungos e micoses

Micoses subcutâneas
Os fungos responsáveis pelas micoses subcutâneas (dezenas de fungos
filamentosos ou bolores) geralmente residem no solo ou na vegetação e
adentram à pele ou ao tecido subcutâneo por inoculação traumática com
material contaminado. Um corte superficial ou arranhões, por exemplo, podem
introduzir um bolor ambiental com a capacidade de infectar a derme exposta.
As lesões, de um modo geral, tornam-se granulomatosas e expandem-se
lentamente a partir da área da implantação, com disseminação lenta pelos
vasos linfáticos, exceto na esporotricose. Em geral, as micoses subcutâneas
se limitam aos tecidos subcutâneos, mas, em raros casos, podem tornar-se
sistêmicas e causar doença potencialmente fatal. A prevenção pode ser feita
com medidas destinadas a minimizar a inoculação acidental, bem como o
uso de fungicidas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Micoses endêmicas
As micoses endêmicas são representadas por quatro tipos principais: cocci-
dioidomicose, histoplasmose, blastomicose e paracoccidioidomicose, todos
limitados geograficamente a áreas específicas endêmicas. Os fungos causa-
dores da coccidioidomicose e histoplasmose são encontrados na natureza
ou em solo seco. Acredita-se que os agentes causadores da blastomicose e
da paracoccidioidomicose também sejam encontrados na natureza, mas seus
habitats não estão totalmente elucidados ainda. Essas espécies fúngicas
são, em teoria, dimórficas e suas infecções se iniciam, na maior parte dos
casos, nos pulmões, após a inalação dos respectivos conídios. A maioria
dessas infecções é assintomática ou branda, resolvendo-se sem tratamento
específico. Porém, uma pequena parte dos pacientes desenvolve infecções
pulmonares que podem se disseminar para outros órgãos. Com raras exce-
ções, essas micoses endêmicas não são transmissíveis entre seres humanos
e outros animais (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Micoses oportunistas
Os pacientes com comprometimento de suas defesas imunitárias tornam-se
mais suscetíveis a infecções fúngicas, ao passo que pessoas sadias são ex-
postas e não desenvolvem infecções. O tipo de fungo, sua virulência, histórico
Fungos e micoses 17

de infecção e a condição do hospedeiro são fatores que podem predispor ou


não a uma micose oportunista. Alguns membros do microbioma normal, como
a Candida e outras leveduras, podem ser relacionadas como oportunistas
endógenos. Outras micoses oportunistas são causadas por fungos exógenos,
de forma geral encontrados no solo, na água e no ar. Embora a lista de espécie
que causam micoses oportunistas continue crescendo, a seguir abordamos
algumas das mais importantes.
A candidíase superficial pode ocorrer devido ao aumento local de Can-
dida e ou lesão da pele/epitélio, permitindo a invasão local por leveduras e
pseudo-hifas. Já a candidíase sistêmica ocorre quando o microrganismo entra
na corrente sanguínea e as defesas do hospedeiro não contêm o crescimento
e a disseminação das leveduras. A partir da corrente sanguínea, a Candida
pode atingir os rins, fixar-se em próteses valvares cardíacas ou provocar
infecções em quase qualquer parte do corpo (incluindo artrite, meningite
e endoftalmite) (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
O Cryptococcus neoformans e o C. gattii são leveduras ambientais, sendo
o C. neoformans distribuído mundialmente na natureza e isolado facilmente
em fezes secas de pombos, assim como nos troncos de árvores e no solo. O C.
gattii, por sua vez, é menos comum e está tipicamente associado a árvores de
áreas tropicais. As duas espécies fúngicas causam criptococose, que ocorre
após a inalação de células dessecadas de leveduras ou possivelmente por
pequenos basidiósporos. Nos pulmões, essas leveduras neurotrópicas migram
tipicamente para o sistema nervoso central, onde causam meningoencefalites,
apresentando ainda a capacidade de infectar muitos outros órgãos (como
pele, olhos e próstata).
A aspergilose representa um espectro de doenças que podem ser cau-
sadas por diversas espécies de Aspergillus. As espécies de Aspergillus são
sapróbios onipresentes na natureza, e a aspergilose ocorre no mundo inteiro.
O A. fumigatus é o patógeno humano mais comum, mas muitos outros, in-
clusive A. flavus, A. niger, A. terreus e A. lentulus, podem causar doença. Tais
fungos produzem quantidades abundantes de pequenos conídios facilmente
aerossolizados. Após a inalação desses conídios, os indivíduos atópicos
frequentemente desenvolvem reações alérgicas graves aos antígenos dos
conídios (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Em conclusão, conhecimentos sobre a fisiologia e a classificação básica
dos fungos, suas utilizações na biotecnologia e simbioses na natureza trazem
ao estudante uma visão ampla do quanto esses milhares ou possivelmente
18 Fungos e micoses

mais de 1 milhão de espécies ainda desconhecidas podem interagir com a


espécie humana, majoritariamente de forma benéfica. Vale destacar que os
fungos compõem uma ampla classe de organismos que são essenciais aos
ecossistemas da terra.
Além disso, é importante destacar a importância clínica das infecções
fúngicas, especialmente as sistêmicas oportunistas, que, apesar de menos
incidentes que as infecções mais superficiais, podem levar a altas taxas de
mortalidade, dependendo da doença primária que o paciente apresenta.
Conhecer o mecanismo patogênico dessas diferentes classes de infecção
ajuda o futuro profissional a ter uma atitude mais assertiva no diagnóstico,
prevenção, tratamento e controle da resistência desses organismos.

Referências
CALIXTO, C. M. F.; CAVALHEIRO, E. T. G. Penicilina: efeito do acaso e momento histórico
no desenvolvimento científico. Química Nova na Escola, v. 34, n. 3, p. 118-123, 2012.
FADER, R. C.; ENGELKIRK, P.; DUBEN-ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para as ciências
da saúde. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
GOERING, R. et al. Mims: microbiologia médica e imunologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2020.
LEVINSON, W. et al. Microbiologia médica e imunologia: um manual clínico para doenças
infecciosas. 15. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MORAES, R. G. Parasitologia e micologia humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.
RIEDEL, S. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 28. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2022. E-book.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

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