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Fungos e micoses
Denise Diedrich
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A microbiologia é a ciência que estuda os microrganismos, seja de forma isolada
ou em suas relações entre si e com o ser humano. A micologia é uma subárea
da microbiologia e traz o estudo focado em microrganismos eucariotos que se
parecem com as células animais, os fungos. Os fungos são organismos complexos
que despertam cada vez mais o interesse da ciência, seja pelo interesse biotec-
nológico, auxiliando na produção de medicamento, alimentos ou componentes
da indústria, seja pelo estudo das infecções que esses organismos podem causar
no ser humano. Ao longo dos últimos anos, o número de infecção fúngicas tem
aumentado e há uma crescente preocupação em entender melhor os mecanismos
patogênicos, preventivos e de tratamento dessas infecções, que podem causar
desde desconforto e ou até infecções sistêmicas oportunistas fatais.
Neste capítulo, você verá a importância clínica da micologia e os diferentes
tipos de infecções fúngicas que acometem o ser humano, reconhecendo as prin-
cipais formas de contágio. Além disso, estudará os diferentes tipos de micoses:
superficiais, subcutâneas, sistêmicas e oportunistas.
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Figura 1. Penicilina: (a) Alexander Fleming observando uma placa de cultura; (b) estrutura
química geral (núcleo) das penicilinas.
Fonte: Calixto e Cavalheiro (2012, p. 119-120).
Figura 2. Detalhes de diferentes tipos de hifas: (a) as hifas septadas têm paredes cruzadas,
ou septos, dividindo-as em unidades semelhantes a células. (b) as hifas cenocíticas não têm
septos; (c) as hifas crescem pelo alongamento de suas extremidades.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 322).
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Figura 3. Hifas aéreas e vegetativas: (a) fotomicrografia de hifas aéreas, mostrando esporos
reprodutivos; (b) colônia de Aspergillus niger crescendo numa placa de ágar glicose, mostrando
as hifas vegetativas e aéreas.
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 322).
De modo geral, as leveduras, por sua vez, são fungos unicelulares, não
filamentosos, esféricos ou ovais. Assim como os fungos filamentosos, as le-
veduras são vastamente distribuídas na natureza, como quando encontramos
um “pó” branco sobre frutas e folhas. As leveduras de brotamento, como as
Saccharomyces, dividem-se e formam células desiguais (Figura 4a). Nesse
processo, a célula parental desenvolve uma protuberância ou broto em sua
superfície externa, que vai se alongando e migra com parte do núcleo parental
previamente dividido. Uma parede celular também vai sendo sintetizada entre
o broto e a célula original, até que por fim são separadas, originando uma
nova célula. Dessa forma, uma única célula de levedura é capaz de produzir
mais de 24 células-filhas mediante brotamento (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-
-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
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Figura 5. Piedra: (a) cabelo com piedra branca e nódulo devido a crescimento do Trichosporon
(ampliada 200X); (b) cabelo com piedra negra e sólido nódulo escuro causado pelo crescimento
de um bolor dernácio, P. hortae (ampliada 200X).
Fonte: Riedel et al. (2022, documento on-line).
Micoses superficiais
As micoses superficiais são representadas principalmente pelas pitiríase visi-
color, Tinea nigra e pietra branca e negra. Esses tipos de micoses geralmente
não estão associados com transmissão interpessoal, pois em geral os fungos
causadores dessas doenças fazem parte do microbioma humano ou estão
presentes no solo, água e superfícies. A Tinea nigra, por exemplo, tem maior
incidência nas regiões intertropicais americanas, incluindo o Brasil, pois os
solos com alto teor de salinidade são os nichos ecológicos do fungo, pelo qual
o ser humano pode ser contaminado, provavelmente através de pequenas
lesões cutâneas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Micoses cutâneas
Em geral, as micoses causadas por dermatófitos surgem na pele depois de
traumatismo e contato. A infecção pode ser facilitada pela suscetibilidade
do hospedeiro (imunossupressão), umidade, calor, características da pele,
pela composição do sebo e do suor e pela idade e genética. A incidência
dessas micoses é maior em regiões com clima quente e úmido, assim como
em condições de aglomeração. Um exemplo são os calçados fechados, que
favorecem o calor e a umidade, situação propícia à infecção dos pés. A fonte
de infecção pode ser o solo ou animais infectados por dermatófitos geofílicos
e zoofílicos, respectivamente. As espécies fúngicas antropofílicas podem ser
transmitidas por contato direto ou fômites, como toalhas, roupas e chuveiros
contaminados. De forma diversa a outras infecções fúngicas, os dermatófitos
são contagiosos e frequentemente transmitidos pela exposição à pele desca-
mada, unhas e cabelos contaminados por hifas ou conídios. Essas estruturas
fúngicas podem permanecer viáveis por longo período nos fômites (FADER;
ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al., 2022; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).
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Micoses subcutâneas
Os fungos responsáveis pelas micoses subcutâneas (dezenas de fungos
filamentosos ou bolores) geralmente residem no solo ou na vegetação e
adentram à pele ou ao tecido subcutâneo por inoculação traumática com
material contaminado. Um corte superficial ou arranhões, por exemplo, podem
introduzir um bolor ambiental com a capacidade de infectar a derme exposta.
As lesões, de um modo geral, tornam-se granulomatosas e expandem-se
lentamente a partir da área da implantação, com disseminação lenta pelos
vasos linfáticos, exceto na esporotricose. Em geral, as micoses subcutâneas
se limitam aos tecidos subcutâneos, mas, em raros casos, podem tornar-se
sistêmicas e causar doença potencialmente fatal. A prevenção pode ser feita
com medidas destinadas a minimizar a inoculação acidental, bem como o
uso de fungicidas (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Micoses endêmicas
As micoses endêmicas são representadas por quatro tipos principais: cocci-
dioidomicose, histoplasmose, blastomicose e paracoccidioidomicose, todos
limitados geograficamente a áreas específicas endêmicas. Os fungos causa-
dores da coccidioidomicose e histoplasmose são encontrados na natureza
ou em solo seco. Acredita-se que os agentes causadores da blastomicose e
da paracoccidioidomicose também sejam encontrados na natureza, mas seus
habitats não estão totalmente elucidados ainda. Essas espécies fúngicas
são, em teoria, dimórficas e suas infecções se iniciam, na maior parte dos
casos, nos pulmões, após a inalação dos respectivos conídios. A maioria
dessas infecções é assintomática ou branda, resolvendo-se sem tratamento
específico. Porém, uma pequena parte dos pacientes desenvolve infecções
pulmonares que podem se disseminar para outros órgãos. Com raras exce-
ções, essas micoses endêmicas não são transmissíveis entre seres humanos
e outros animais (FADER; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2021; RIEDEL et al.,
2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Micoses oportunistas
Os pacientes com comprometimento de suas defesas imunitárias tornam-se
mais suscetíveis a infecções fúngicas, ao passo que pessoas sadias são ex-
postas e não desenvolvem infecções. O tipo de fungo, sua virulência, histórico
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Referências
CALIXTO, C. M. F.; CAVALHEIRO, E. T. G. Penicilina: efeito do acaso e momento histórico
no desenvolvimento científico. Química Nova na Escola, v. 34, n. 3, p. 118-123, 2012.
FADER, R. C.; ENGELKIRK, P.; DUBEN-ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para as ciências
da saúde. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
GOERING, R. et al. Mims: microbiologia médica e imunologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2020.
LEVINSON, W. et al. Microbiologia médica e imunologia: um manual clínico para doenças
infecciosas. 15. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MORAES, R. G. Parasitologia e micologia humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.
RIEDEL, S. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 28. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2022. E-book.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.