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Microbiologia e Parasitologia

Prof. Felipe Gouvêa De Lima


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UNISEPE – EaD

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Matheus Eduardo Souza Pedroso

Vinícius Capela de Souza

Revisão: Juliana Duarte

Diagramação: Douglas Panta dos Santos Galdino


Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem
e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
SUMÁRIO

UNIDADE I ..............................................................................................05
1º História, evolução e principais áreas da
microbiologia...........................................................................................05
2º Características, respiração, reprodução e crescimento
bacteriano........................................................................................16

UNIDADE II ............................................................................................. 32
3º Vírus.................................................................................................... 32
4º Fungos................................................................................................ 40

UNIDADE III ............................................................................................ 49


5º Evolução e adaptação parasita x hospedeiro .................................... 49
6º Protozoários, helmintos e artrópodos ................................................ 57
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS ÁREAS DA
MICROBIOLOGIA.
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ História da microbiologia.

Introdução

Ao longo deste capítulo, será abordada de forma sucinta a história da microbiologia com os primeiros
registros sobre os microrganismos e as principais hipóteses acerca de seu surgimento com a teoria
da geração espontânea (abiogênese), onde microrganismos poderiam originar-se a partir de matéria
bruta, que posteriormente foi desmentida, dando início à teoria da biogênese, atribuída a Louis
Pasteur, demonstrando que os seres vivos provêm de outros seres vivos.

A “Idade de Ouro da Microbiologia” trouxe uma eternidade de informações e conteúdos, tanto sobre
os microrganismos em si quanto sobre a ação deles no organismo humano, podendo causar
enfermidades ou, até mesmo, auxiliar na produção de alimentos. Ainda nesta época, os cientistas
atuantes conseguiram descobrir formas de combater estes microrganismos, criando medicamentos
capazes de matá-los ou mecanismos para prevenir a contaminação de alimentos como a
pasteurização, primeiras técnicas de assepsia e de como surgiu a primeira vacina contra varíola.

A microbiologia é uma área extremamente ampla e complexa, dividindo-se em três grandes centros
iniciais principais: bacteriologia, micologia e parasitologia, sendo os primeiros microrganismos vistos
nos microscópios. Posteriormente, foi possível realizar novas descobertas, incluindo as áreas de
virologia e genética, com estudo de doenças acometidas por vírus, além de pesquisas sobre a
mutação genética causada por eles.

Sendo assim, conclui-se que o estudo da microbiologia consiste em uma constante evolução, pois
sempre aparecerá algo novo para ser descoberto, estudado e entendido nesse mundo tão enigmático
com seres miúdos com grandes preocupações.

1.1 História da microbiologia

Conceitualmente, a microbiologia é a ciência que estuda seres vivos ínfimos e invisíveis a olho nu,
que só podem ser visualizados com o auxílio do microscópio.

As primeiras observações dos microrganismos foram realizadas graças à teoria celular, na qual todas
as coisas vivas são compostas por células, descoberta por Robert Hooke (1665) quando observou
uma fatia de cortiça em seu microscópio rudimentar, dando início à curiosidade científica em
visualizar as menores unidades estruturais de vida. Foi então que Anton van Leeuwenhoek (1683),
com o auxílio de lentes de aumento, provavelmente foi o primeiro a observar microrganismos vivos,
escrevendo sobre eles, os “animáculos”, como decidiu denominar. Ele os encontrou na água da
chuva, nas fezes e em material de raspado de dentes, fazendo ilustrações que mais tarde foram
identificadas como representações de bactérias e protozoários.

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Após a descoberta deste mundo novo, anteriormente invisível, a comunidade científica se interessou
em descobrir a origem desses seres vivos, criando a primeira teoria, da geração espontânea ou
abiogênese, na qual se acreditava que algumas formas de vida poderiam se originar de matéria
morta, presumindo que, por exemplo, larvas poderiam se originar de cadáveres em decomposição.

Desacreditando dessa teoria, o médico italiano Francesco Redi, em 1668, iniciou trabalhos para
comprovar que as larvas não eram geradas de forma espontânea. E para validar tal argumento, Redi
encheu duas jarras com carne em decomposição, deixando uma aberta e outra selada. Na jarra
aberta, as moscas entraram e depositaram seus ovos na carne, enquanto que na selada elas não
conseguiram entrar e não houve aparecimento de larvas. No entanto, essa experiência não foi o
bastante para provar sua teoria, uma vez que o contra-argumento foi de que o ar fresco era
necessário para ocorrer a geração espontânea. Redi então realizou um segundo experimento, em
que a jarra foi coberta com uma rede, permitindo a passagem de ar, e nenhuma larva apareceu na
carne.

Esses resultados foram de suma importância para refutar a ideia de que formas grandes de vida
eram geradas de forma espontânea, mas ainda assim acreditava-se que os “animáculos” de
Leeuwenhoek eram simples o bastante para serem gerados espontaneamente, ainda mais após o
experimento de John Needham (1745), que mesmo após aquecer os caldos de galinha e milho antes
de guardá-los em frascos cobertos, após ficarem horas em temperatura ambiente, ainda continham
microrganismos, reforçando a geração espontânea. Lazzaro Spallanzani, com algumas modificações
ao experimento de Needham, demonstrou que os caldos submetidos a fervuras por algum tempo,
após serem lacrados, não apresentaram desenvolvimento microbiano. No entanto, tal experimento
recebeu críticas, principalmente de Needham, alegando que não havia oxigênio suficiente nos
frascos lacrados para o desenvolvimento da vida, além do caldo ter perdido a “força vital” durante
fervura prolongada.

Foi então que Rudolf Virchow (1845), o pai da patologia, desafiou essa teoria criando o conceito de
biogênese, no qual células vivas só podem se originar de células vivas preexistentes. Hipótese
comprovada através de experimentos realizados por Louis Pasteur, que demonstrou que os
microrganismos estão presentes no ar e podem contaminar, mas que o ar por si próprio não os
origina.

O livro de Tortora, Funke e Case (2017, p. 7) explica que Pasteur encheu vários frascos que tinham
a abertura em forma de pescoço curto com caldo de carne e ferveu o conteúdo, deixando algum
deles esfriar aberto. Em poucos dias, esses frascos estavam contaminados com micróbios. Os outros
frascos, lacrados após a fervura, estavam livres de microrganismos. A partir desses resultados,
Pasteur fundamentou que os micróbios do ar eram os agentes responsáveis pela contaminação da
matéria não viva. Pasteur também colocou caldo em frascos de pescoço longo, com abertura
terminal, e dobrou os pescoços, formando curvas no formato de um “S”. Os conteúdos dos frascos
foram fervidos e resfriados. O meio de cultura nos frascos não apodreceu e não apresentou sinais
de vida, mesmo após meses. O modelo único criado por Pasteur permitia que o ar entrasse no frasco,
mas o pescoço curvado capturava todos os microrganismos do ar que poderiam contaminar o meio
de cultura.

Com estes experimentos, Pasteur concluiu para toda comunidade científica que, embora os
microrganismos possam estar presentes na matéria não viva, eles não se originam dela. Por esses
microrganismos já estarem presentes no ar e nos próprios fluidos, provavelmente houve alguma

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forma de geração espontânea na terra primitiva, mas isso não acontece sob as condições atuais.
Além disso, suas descobertas também foram fundamentais para o início das técnicas de assepsia,
uma vez que ele demonstrou como a vida microbiana pode ser destruída pelo calor, bloqueando o
acesso ao ar para os meios nutrientes.

Os anos de 1857 a 1914 foram de suma importância para o estabelecimento da microbiologia,


através dos avanços e descobertas impulsionadas principalmente por Pasteur e Robert Koch, sendo
conhecido como a “Idade de Ouro da Microbiologia”.

Foram muitas as descobertas desse período, destacando-se os agentes causadores de diversas


doenças, o papel da imunidade na prevenção e cura dessas doenças, além dos estudos das
atividades químicas de microrganismos, melhoria de técnicas de microscopia e cultivo,
desenvolvimento de vacinas e técnicas cirúrgicas.

Dentre as principais descobertas da idade de ouro, destacam-se:

✓ Fermentação e pasteurização: Alguns estudiosos sugeriam que o ar convertia os açúcares


desses fluidos em álcool. Foi Pasteur quem descobriu que eram microrganismos – leveduras
– que convertiam os açúcares em álcool na ausência de ar, processo chamado de
fermentação, utilizado na produção de vinho e cerveja.

✓ Já o azedamento e deterioração são causados pelos microrganismos chamados bactérias,


que na presença de ar transformam álcool em ácido acético. Pasteur solucionou esse
problema, aquecendo a cerveja e o vinho suficientemente para matar a maioria das bactérias
causadoras do estrago, processo denominado pasteurização, hoje comumente utilizado no
leite e em algumas bebidas alcoólicas.

✓ Teoria do germe da doença: Teoria que fazia ligação entre a atividade de um microrganismo
e as mudanças físicas e químicas nas matérias orgânicas, alertando os cientistas sobre a
possibilidade da relação entre os microrganismos e a causa de doenças.

✓ Mas foi Robert Koch, importante bacteriologista alemão, quem descobriu a primeira evidência
de que as bactérias causam doenças, cultivando-as em meio de cultura e injetando amostras
em animais saudáveis. Assim, quando os eles adoeciam e morriam, Koch isolava a bactéria
presente em seu sangue e comparava com a bactéria isolada inicialmente, ambas amostras
continham a mesma bactéria. Assim foram estabelecidos os “Postulados de Koch”, que
consistia em uma sequência de etapas experimentais que eram capazes de relacionar um
micróbio específico a uma doença específica, critérios muito úteis nas investigações que
provam que microrganismos específicos podem causar diversas doenças.

✓ Vacinação: Antes mesmo de Koch descobrir que microrganismos específicos causavam


doenças específicas, Edward Jenner iniciou pesquisas para descobrir uma forma de prevenir
as pessoas da varíola. Um jovem trabalhador da ordenha informou Jenner que não contraía
a doença, pois já havia contraído a varíola bovina. Então, Jenner decidiu investigar a história
do jovem, coletando raspados das feridas das vacas, e inoculou em um voluntário de 8 anos
através de arranhões no braço do garoto com uma agulha contaminada. O voluntário contraiu
uma forma mais branda da doença, mas se recuperou e nunca mais contraiu nem a varíola
bovina, nem a humana. Anos depois, Pasteur descobriu como funcionava a vacina e, através

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de experimentos, concluiu que a bactéria da cólera, por exemplo, e outros microrganismos
com sua virulência diminuída induziam imunidade contra infecções subsequentes. Até hoje
algumas vacinas ainda são produzidas através de microrganismos com a taxa de virulência
baixa, outras através de micróbios virulentos mortos, componentes isolados de
microrganismos virulentos ou técnicas de engenharia genética.

Através de todas as descobertas e fundamentações da Idade de Ouro da Microbiologia, diversas


conquistas foram alcançadas nos anos seguintes, e assim foram desenvolvidos novos ramos para a
microbiologia, revolucionando-a.

Pode-se destacar como as principais áreas de estudo da microbiologia:

✓ Bacteriologia: Estudo das bactérias, que teve início quando van Leeuwenhoek
realizou os primeiros experimentos com raspados de dentes, seguindo para os
estudos do papel das bactérias no ambiente e alimentos, realizados por Pasteur, a
descoberta da bactéria Thiomargarita, que vive no lodo e é visível a olho nu,
realizada por Heide Schulz, e diversas outras bactérias patogênicas que são
descobertas com frequência até hoje.

✓ Micologia: Estudo dos fungos, que inclui medicina, agricultura e ecologia. É


através dessa área da microbiologia que estudos estão sendo desenvolvidos para
o diagnóstico e tratamento das infecções fúngicas, que aumentaram em demasia
e representam cerca de 10% das infecções adquiridas em hospitais.

✓ Parasitologia: – Estudo de parasitos, vermes e protozoários, que já são


conhecidos há muito tempo, por seu tamanho e possibilidade de serem vistos a
olho nu. Doenças parasitárias até então desconhecidas estão sendo encontradas
em pacientes imunossuprimidos e trabalhadores expostos em derrubadas de
florestas tropicais.

Essas três áreas da microbiologia estão passando por um período denominado “era de ouro da
classificação”, uma vez que a genômica permitiu o estudo detalhado de todos os genes de um
organismo, permitindo a classificação das bactérias e fungos de acordo com sua relação genética
com outras bactérias, fungos e protozoários.

✓ Imunologia: Estudo da imunidade que teve seu grande marco e avanço em 1933,
quando Rebecca Lancefield, baseando-se em alguns componentes das paredes
celulares das bactérias, propôs que os estreptococos fossem classificados por seus
sorotipos – variantes dentro de uma determinada espécie. Em 1960, foram
descobertos os interferons, que inibem a replicação viral e são alvos constantes de
estudos para o tratamento de doenças virais e câncer.

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Além disso, foi graças ao entendimento acerca dos mecanismos do funcionamento do
sistema imunológico que hoje dispõe-se de várias vacinas para diversas doenças,
como sarampo, rubéola, tétano, hepatite B entre outras.

✓ Virologia: Estudo dos vírus que se originou ainda durante a Idade de Ouro da
Microbiologia, quando Dimitry Ivanovski observou organismos pequenos, capazes de
atravessar filtros finos, como os causadores da doença do mosaico no tabaco, foram
descobertos como vírus por Wendell Stanley, e com o desenvolvimento do microscópio
eletrônico, foram observadas as estruturas dos vírus em detalhes.

✓ Tecnologia do DNA recombinante (Genética microbiana): Graças a Paul Berg, que


demonstrou como fragmentos do DNA humano ou animal que codificam proteínas
podem ser ligados ao DNA bacteriano – resultando no primeiro exemplo de DNA
recombinante (rDNA) –, os microrganismos podem ser modificados geneticamente
para fabricação de hormônios humanos e outras substâncias de importância médica.

De acordo com Tortora, Funke e Case (2017, p. 13), a tecnologia do DNA


recombinante (rDNA) insere DNA recombinante em uma bactéria (ou outros micróbios)
para a produção de grandes quantidades de uma proteína desejada. Este campo
combina elementos de duas outras áreas de estudo, incluindo a genética microbiana,
que estuda os mecanismos pelos quais os microrganismos herdam características, e
a biologia molecular, que estuda como a informação genética é carreada em moléculas
de DNA e como o DNA direciona a síntese de proteínas.

A partir do estudo e divisão das grandes áreas da microbiologia, vistas anteriormente, é possível
ainda classificar mais áreas de estudo que a microbiologia abrange como, por exemplo:

✓ Microbiologia ambiental: ciência que estuda a fisiologia, genética, interações e funções dos
microrganismos no ambiente com o objetivo de manter a qualidade ambiental e contribuir
para o desenvolvimento sustentável.
✓ Microbiologia de alimentos: estuda os microrganismos importantes para garantia da sua
inofensividade nos alimentos, garantindo sua vida útil.
✓ Microbiologia veterinária: estuda as doenças infecciosas de animais domésticos,
abordando seus mecanismos patogênicos e diagnósticos laboratoriais de interesse
veterinário.
✓ Microbiologia agrícola: estudo dos microrganismos (fungos e bactérias) e suas reações
bioquímicas benéficas à produção agrícola, que atuam na dinâmica das relações do sistema
solo-planta.
✓ Microbiologia médica e sanitária: estuda microrganismos que acometem o homem e
animais a nível sanitário, relacionado ao controle e prevenção de doenças.
✓ Microbiologia industrial: utiliza microrganismos em processos industriais para produzir
bens e serviço de interesse comercial, social e ambiental como, por exemplo, fármacos,
vacinas etc.

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Considerações finais

Diante dos fatos aqui citados, foi possível acompanhar a linha do tempo que desenhou a história da
microbiologia, dando início com uma simples observação de uma fatia de cortiça, até as primeiras
teorias sobre o surgimento desses microrganismos, citando a teoria da geração espontânea que logo
depois foi desconceituada através dos estudos de Pasteur. Essa geração de teorias e comprovações
do início do surgimento dos microrganismos foi extremamente importante para a humanidade, tanto
que foi capaz de desvendar complexas doenças que os microrganismos são capazes de produzir,
sendo possível desvendar mecanismos que pudessem curar e prevenir essas enfermidades.

Nos dias de hoje, há uma gama de medicamentos contra diversos microrganismos como bactérias,
vírus, fungos e parasitas, além de inúmeros métodos de prevenção extremamente eficientes a fim
de evitar a propagação de uma doença a uma determinada população ou, até mesmo, erradicar,
através de vacinas, surtos de patógenos consideravelmente perigosos e capazes de provocar a
morte em poucos dias que assolavam o mundo.

Além disso, observou-se também os primeiros experimentos que poderiam eliminar microrganismos,
como a pasteurização de Pasteur, utilizado até hoje na produção de leite e na qualidade dos
alimentos, além de outras técnicas de assepsia, utilizadas no dia a dia de clínicas, laboratórios e
hospitais.

Portanto, conhecer um pouco da história da microbiologia e sua evolução, bem como os feitos e
ideias dos primeiros pesquisadores, é entender a essência dessa ciência vasta, complexa e que
ainda há muito a ser estudado, para quem sabe um dia, o mundo encontrar-se longe ou talvez com
menos doenças das consideradas infecciosas.

A microbiologia é a ciência que estuda os seres vivos microscópicos, invisíveis a olho nu, e suas primeiras
observações foram realizadas graças à teoria celular.

Com a descoberta desse mundo novo, surgiram teorias – geração espontânea ou abiogênese – nas quais
acreditava-se que os microrganismos se originavam a partir de matéria morta, e posteriormente a teoria da
biogênese, em que passou-se a acreditar que células vivas só podem se originar de outras células vivas já
existentes.

Conforme os estudos foram sendo realizados, novas descobertas vieram à tona, o que marcou um período
denominado “Idade de Ouro da Microbiologia”. Grandes descobertas, como a da fermentação e pasteurização,
técnicas de assepsia e teoria do germe da doença aconteceram durante esse período, no qual grandes
cientistas como Pasteur e Koch tiveram papel crucial. Nesse mesmo período, foi desvendado por Pasteur como
a vacina funciona, dando início a importantes estudos na área da imunologia, explicando o mecanismo de ação
e resposta da imunidade pós-vacinação.

Então, por efeito de toda evolução e descobertas dessa época, áreas de estudo foram inseridas no contexto
da microbiologia, tendo como destaque o estudo das bactérias (bacteriologia), estudo dos fungos (micologia),
estudo dos vermes e protozoários (parasitologia, imunologia) que tornou possível o desenvolvimento de
diversas vacinas e impulsionou o estudo para tratamento e cura de doenças, estudo dos vírus (virologia), além
da tecnologia do DNA recombinante.

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Por que a descoberta de van Leeuwenhoek foi tão importante para a microbiologia e sua evolução?

Alguns microrganismos vivem associados aos seres humanos e animais, sendo importantes para a
manutenção de uma boa saúde. Alguns também são utilizados para produzir alimentos e produtos químicos.
E outros, causam doenças. (TORTORA, 2017).

Todos os organismos são classificados em três grandes domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya.

O domínio Bacteria, obviamente, inclui todas as bactérias existentes. O domínio Archea inclui todas as arqueas,
morfologicamente semelhantes às bactérias, mas bioquimicamente e geneticamente distintas. E o domínio
Eukarya inclui os reinos Protistas, Fungi, Plantae e Animalia.

Motivos que levaram a geração espontânea a ser refutada.

https://new.hindawi.com/journals/ijmicro/ (O International Journal of Microbiology é um periódico de acesso


aberto, que publica artigos de pesquisa originais, artigos de revisão e estudos clínicos sobre microrganismos
e suas interações com hospedeiros e o meio ambiente.)

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O que é o postulado de Koch?

O postulado de Koch tem o intuito de estabelecer que os microrganismos causam doenças específicas,
fornecendo um enquadramento para o estudo da etiologia de qualquer doença infecciosa

Questão Objetiva:

Qual das seguintes opções consiste no elemento mais importante da teoria do germe da doença de Koch? O
animal apresenta sintomas da doença quando:

a. o animal entra em contato com um animal doente.

b. o animal tem uma resistência reduzida.

c. um microrganismo é observado no animal.

d. um microrganismo é inoculado no animal.

e. microrganismos podem ser cultivados a partir de amostras do animal.

Questão Discursiva:

Como surgiu a ideia da geração espontânea?

O livro de Microbiologia de Tortora, um dos mais utilizados na prática estudantil quando o assunto é
microbiologia, aborda de forma clara e completa os principais e essenciais assuntos referentes ao tema.

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Ínfimo: pequeno.

A Idade de Ouro da Microbiologia avançou rapidamente entre 1857 e 1914.

Pasteur descobriu que as leveduras fermentam açúcares a etanol e que as bactérias podem oxidar o álcool a
ácido acético. O processo de aquecimento, chamado de pasteurização, é usado para matar bactérias em
algumas bebidas alcoólicas e no leite.

Agostino Bassi (1835) e Pasteur (1865) mostraram uma relação causal entre os microrganismos e as doenças.

Joseph Lister introduziu o uso do desinfetante para limpar feridas cirúrgicas, com o objetivo de controlar
infecções em seres humanos (década de 1860).

Robert Koch provou que os microrganismos causam doenças. Ele usou uma sequência de procedimentos,
hoje chamados de postulados de Koch (1876), para provar que um determinado microrganismo é o causador
de uma doença específica.

Em 1798, Edward Jenner demonstrou que a inoculação com material proveniente de lesões da varíola bovina
proporciona aos seres humanos imunidade contra a varíola.

Por volta de 1880, Pasteur descobriu que bactérias não virulentas podiam ser utilizadas como vacina para a
cólera aviária.

As vacinas modernas são preparadas a partir de microrganismos vivos não virulentos ou patógenos mortos,
de componentes isolados do patógeno e por técnicas de DNA recombinante. (TORTORA, 2017).

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Imagem 1: Experimento em que Pasteur demonstrou que os microrganismos estão presentes no ar, mas o ar,
por si próprio não origina micróbios.

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

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Imagem 2: Linha do tempo com os principais acontecimentos e descobertas da Idade de Ouro da
Microbiologia.

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

1. CARVALHO, Irineide Teixeira de. Microbiologia Básica. Recife: Edufrpe, 2010.


2. TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
3. https://sbmicrobiologia.org.br/

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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS, RESPIRAÇÃO,
REPRODUÇÃO E CRESCIMENTO BACTERIANO.

No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Principais características bacterianas.

Introdução

Bactérias são seres procariontes, ou seja, unicelulares, com características morfológicas, químicas,
habitat e patogenicidade distintas umas das outras, podendo definir, assim, sua espécie.

Estão em todo e qualquer ambiente, no qual podem multiplicar-se a depender das condições
ambientais e, assim, propagarem-se pelo ar, água e por qualquer outro veículo de locomoção, seja
ele vivo ou não.

É impossível viver sem elas e, para nós seres humanos, podem ter efeito benéfico, como proteção
da pele contra entrada de outras bactérias patogênica e auxílio na digestão de muitos nutrientes após
alimentação, ou efeito contrário, causando malefícios através de liberação de toxinas prejudiciais ao
organismo humano, acarretando diversas complicações.

Morfologicamente, sua parede celular as define em dois grandes grupos: gram-positivas e gram-
negativas. Essa definição inicial é importante para descobrir quais são as possíveis espécies
bacterianas, além de auxiliar na escolha do meio de cultura mais apropriado para seu crescimento e
seu isolamento com posterior diagnóstico e escolha da melhor terapêutica.

Sua reprodução ocorre de forma assexuada, por divisão binária. Tem, entre outros recursos,
recombinação genética que as torna mais fortes de modo geral, em constante mutação, e resistentes
a muitos antibióticos, dificultando um possível tratamento.

Ter conhecimento sobre as principais características das bactérias, bem como as formas de
reprodução e condições para o crescimento, é de extrema importância para o entendimento de como
vivem e, assim, poder estudá-las de forma mais aprofundada.

2.1 Principais características bacterianas

As bactérias são parte integral da vida na terra e podem ser vistas em diferentes ambientes, sendo
muito resistentes. Podem ser encontradas na pele, mucosa e trato intestinal de homens e animais,
onde vivem sem causar prejuízo algum a seu hospedeiro, sendo benéficas às vezes, dando proteção
contra outras bactérias patogênicas e ajudando na degradação bioquímica de alimentos. Algumas
com características patogênicas, quando saem do seu habitat natural, podem causar sérios
prejuízos, principalmente com a queda do sistema imunológico.

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Elas são seres procariotos, ou seja, organismos unicelulares ínfimos, cujo seus milhares de espécies
são diferenciados por fatores específicos, como sua morfologia, composição química, necessidades
nutricionais, atividades bioquímicas e fontes de energia.

Elas podem ter formato de esferas – cocos (frutificação), de bastão – bacilos, e de espiral:

✓ Cocos: são redondos, mas também podem se apresentar como ovais, alongados ou
achatados em uma de suas extremidades.

✓ Bacilos: alguns possuem forma de “canudinho”, outros possuem extremidades


cônicas, parecidas com charutos, outros são ovais, parecidos com cocos, por isso são
chamados de cocobacilos. A denominação “bacilo” pode ter dois significados no
âmbito da microbiologia, podendo ser tanto uma forma bacteriana, como já visto,
quanto um gênero específico, quando escrito em latim e itálico – Bacillus.

✓ Espirais: sempre dispõem de uma curvatura, nunca são retas. Os vibriões se


assemelham a bastões curvados, os espirilos têm forma helicoidal e as espiroquetas
têm forma helicoidal e flexível.

A forma de uma bactéria é designada por sua hereditariedade, ou seja, sua grande maioria é
monomórfica, que mantém uma forma única, mas também podem ser encontradas bactérias
pleomórficas, que podem apresentar muitas formas. Isso varia dependendo de condições
ambientais, o que torna a identificação mais difícil de ser realizada.

A estrutura de uma célula procariótica pode ser estudada seguindo a ordem: estruturas externas à
parede celular, parede celular e suas estruturas internas. Dentre as estruturas externas à
parede celular, encontram-se o glicocálice, os flagelos, os filamentos axiais, as fímbrias e os pili.

✓ Glicocálice: consiste em uma substância produzida dentro da célula e secretada para


a superfície, utilizada para envolver as células, caracterizando-se por um polímero
viscoso e gelatinoso, cuja composição química varia bastante de acordo com a
espécie. Por estar aderido à parede celular, é descrito como cápsula.

✓ Flagelos: presentes em algumas células procarióticas, são longos apêndices


filamentosos, responsáveis pelos movimentos bacterianos. Eles podem ser
peritríquios, distribuídos ao longo de toda a célula, ou polares, em uma ou ambas as
extremidades da célula. Dentro dos polares, ainda podemos encontrar os
monotríquios, único flagelo no polo da célula, ou lofotríquios, tufos de flagelos
saindo do polo celular, e ainda os anfitríquios, em ambos polos celulares. As bactérias
que não os possuem são denominadas atríquias. O flagelo é constituído de três
porções básicas: filamento, região mais externa que contém proteína globular

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flagelina e se entrelaça formando uma hélice, gancho, onde o filamento está aderido,
e o corpo basal, que ancora o flagelo à parede celular e membrana plasmática.

✓ Filamentos axiais: também denominados endoflagelos, são compostos por feixes de


fibrilas originados das extremidades celulares e fazem uma espiral em volta da célula,
sendo uma estrutura exclusiva de motilidade do grupo bacteriano das espiroquetas.

✓ Fímbrias: envolvidas na formação de biofilme, tendem a aderirem-se umas às outras


e às superfícies, por isso, auxiliam na adesão da bactéria às superfícies epiteliais do
corpo.

✓ Pili: envolvidos na agregação bacteriana, facilitando a transferência de DNA entre


elas, processo denominado conjugação (sexuais). O DNA compartilhado nesse
processo pode adicionar uma nova função à célula receptora, como a resistência a um
antibiótico.

A parede celular é responsável pela forma da célula, protegendo a membrana plasmática


(citoplasma) e o interior celular. Sua principal função é evitar a ruptura das células, ajudando a manter
a forma de uma bactéria e ponto de ancoragem para os flagelos. É de suma importância clínica, tanto
para capacidade de algumas espécies causarem doenças quanto para a ação de alguns antibióticos,
além de auxiliar na diferenciação dos principais tipos bacterianos, através de sua composição
química. É através dela que identificamos as bactérias como gram-positivas ou gram-negativas.

As bactérias gram-positivas têm como principais características as muitas camadas de


peptideoglicano, que formam uma estrutura bem rígida e espessa. Na coloração de gram, sua parede
celular retém o corante cristal violeta em seu citoplasma durante o tratamento com etanol-acetona,
o que as deixa visivelmente com um aspecto violeta escuro vistas ao microscópio.

Já as bactérias gram-negativas são caracterizadas por uma ou poucas camadas de peptideoglicano


e uma membrana externa, sendo assim, mais propensas ao rompimento mecânico. Na coloração de
gram, sua fina parede celular não retém o corante cristal violeta, colorindo-as com o contracorante
safranina, o que as deixa com um aspecto vermelho ou rosa escuro quando vistas no microscópio.

Entrando em suas estruturas internas, as células procarióticas possuem estruturas como a


membrana plasmática (citoplasmática), que reveste o citoplasma celular e situa-se no interior da
parede celular, tendo como principal função a permeabilidade seletiva, ou seja, o controle sob
determinadas moléculas e íons que conseguem ou não atravessar a membrana. Também são
importantes para a produção de energia (ATP) e digestão de nutrientes.

O citoplasma encontra-se no interior da membrana plasmática e contém um nucleoide com DNA,


ribossomos, depósitos de reserva (inclusões) e um citoesqueleto, que atua na divisão celular,
mantém a forma da célula, crescimento, movimentação do DNA, direcionamento de proteínas e
alinhamento de organelas.

O nucleoide contém uma única molécula de DNA dupla-fita em forma circular – cromossomo
bacteriano – que carrega todas as informações genéticas necessárias para estrutura e funções
celulares. Além desses cromossomos, as bactérias também podem apresentar pequenas moléculas

18
de DNA chamadas plasmídeos, que são extracromossômicos e replicam-se de forma independente
do DNA cromossômico.

Nos ribossomos ocorre a síntese proteica. Dentro de uma célula procariota existem vários
ribossomos, o que lhe confere uma característica granular. São compostos por proteínas e RNA
ribosomal (rRNA).

Os depósitos de reserva, ou inclusões, são compostas de macromoléculas que evitam o aumento


da pressão osmótica que ocorreria se as moléculas estivessem dispersas no citoplasma.

Os endósporos são células dormentes especializadas e altamente duráveis, com paredes espessas
e camadas adicionais, que quando liberadas no ambiente podem resistir a temperaturas extremas,
falta de água e exposição a muitas substâncias químicas tóxicas e radiação. Seu processo de
formação dentro de uma célula vegetativa leva várias horas e é conhecido como esporulação ou
esporogênese.

O ATP, adenosina trifosfato, é a principal fonte de energia para todos os seres vivos da face da terra.
É composto por um nucleotídeo com uma base nitrogenada (adenina) ligada a um açúcar (ribose) e
três fosfatos. Libera mais energia para a célula quando o ATP é quebrado a sua forma mais simples,
liberando dois fosfatos.

Todo esse processo de respiração celular pode ocorrer na ausência ou presença de oxigênio, o que
chamamos de respiração anaeróbica e aeróbica, respectivamente.

✓ Respiração anaeróbica: utilizados por algumas bactérias e arqueobactérias, que vivem em


condições com baixa quantidade de oxigênio, não sendo possível o processo de via de
respiração normal (utilizando O2). Como alternativa, a respiração celular ocorre com a
degradação da glicose (glicólise) ou fermentação.

• Respiração através da glicólise: a glicose que vem da alimentação ou reservas do próprio


corpo é degradada tornando-se glicose livre e disponível. Passa então por uma série de
reações químicas no interior do citoplasma, gerando duas moléculas de ATP. É uma valiosa
fonte de energia em várias situações, até mesmo quando o O2 é limitado.
• Fermentação: em seu início, tem a mesma etapa da respiração celular, a glicólise,
adicionando ao final uma ou duas reações extras que tem como propósito regenerar o
carregador de elétrons NAD+ a partir do NADH produzido na glicólise. Na fermentação de
ácido lático, o NADH transfere seus elétrons diretamente para o piruvato, gerando o lactato,
forma desprotonada do ácido lático. Tal respiração é bastante comum na produção de iogurte
e células musculares com pouco O2 para respiração aeróbica.

Existe também a fermentação alcoólica, no qual o NADH doa seus elétrons a um derivado do
piruvato, produzindo etanol. Processo bastante comum na produção de cerveja e vinho, através da
fermentação do etanol por leveduras.

Vale destacar que a produção de energia por respiração anaeróbica não é muito eficaz, devido à
pouca energia gerada de aproximadamente um mol de glicose para dois mols de ATP. No entanto,
é de extrema importância para aqueles organismos que têm o O2 como tóxico para si, não o
tolerando.

19
✓ Respiração aeróbica: com participação do O2, podendo ser dividida em três etapas:

• Glicólise: processo semelhante à glicólise da respiração anaeróbica, gerando duas


moléculas de ATP.
• Ciclo de Krebs: conhecido também como ciclo do ácido cítrico, que é produzido após
combinação de Acetil-CoA e oxalacético, que formam também uma molécula de
coenzima A. No final do ciclo, são formados 3 NADH e 1 FADH2.
• Fosforilação oxidativa: responsável pela maior parte do ATP produzido na célula,
ocorre reoxidação das moléculas de NADH e FADH2, liberando uma grande
quantidade de elétrons, formando água.

As bactérias podem se reproduzir de forma assexuada, dividindo-se por fissão binária, também
conhecida como cissiparidade ou bipartição, onde as células se alongam, formando uma partição
que separa a célula em duas células-filhas idênticas. Essa partição é denominada como um septo,
resultante do crescimento interno da membrana citoplasmática e da parede celular em direções
opostas, até que ocorra a separação das células.

Logo após a divisão, as células permanecem ligadas por um período de tempo, observando
grupamentos característicos, como os cocos, por exemplo, os que permanecem em pares após a
divisão são chamados diplococos, em forma de cadeia são estreptococos, os que se dividem em
dois planos e permanecem em grupos de quatro são os tétrades, os que se dividem em três planos
e permanecem ligados em grupos de oito e forma de cubo são sarcinas, e os que se dividem em
vários planos e formam agrupamentos em forma de cachos de uva são os estafilococos. Já os
bacilos que ficam em pares após a divisão são denominados diplobacilos e os que aparecem em
cadeias são os estreptobacilos.

Também podemos citar a recombinação genética, uma vez que as bactérias não dispõem de uma
forma sexuada de reprodução. Essa recombinação ocorre através da transferência horizontal de
genes entre as células, sendo três mecanismos os responsáveis por essa transferência:
conjugação, transdução e transformação.

A conjugação ocorre quando há o contato entre a célula doadora e a receptora. Nesse contato é
transferido apenas uma fita de DNA, que completa a estrutura do DNA, sintetizando a fita que
complementa a recém adquirida pela célula doadora.

Já na transdução, o DNA do doador é transportado por um envelope de fago e transferido para o


receptor através de um mecanismo de infecção por fagos.

E na transformação, ocorre uma captação direta de DNA do doador pela célula receptora. Esse
mecanismo pode ser natural ou forçado, sendo o forçado feito em laboratório, de extrema importância
clínica e para pesquisas na engenharia genética.

São processos de extrema importância clínico-laboratorial e para pesquisas de medicamentos ou


resistência bacteriana, no entanto não podem ser consideradas formas de reprodução, uma vez que
só há uma recombinação de DNA e não um aumento no número de células bacterianas.

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Alguns fatores são essenciais para o crescimento de qualquer microrganismo presente na natureza,
sendo divididos em físicos e químicos. Dentre os fatores físicos, podemos citar a temperatura, pH e
pressão osmótica. Já nos fatores químicos, encontram-se fontes de carbono, nitrogênio, enxofre,
fósforo, oxigênio, elementos-traço e fatores orgânicos de crescimento.

O material nutriente para o crescimento bacteriano preparado em laboratório é denominado meio de


cultura. Onde algumas bactérias crescem bem em qualquer meio, outras necessitam de meios
especiais, e outras não podem crescer em qualquer dos meios não vivos desenvolvidos até hoje. O
microrganismo introduzido no meio de cultura para dar início ao crescimento é chamado de inóculo,
enquanto os que crescem são chamados cultura.

Para escolher o meio de cultura mais adequado para o crescimento de determinada bactéria, deve-
se levar em consideração os nutrientes adequados para o crescimento do microrganismo específico
em estudo, conter a quantidade suficiente de água, pH apropriado, um bom nível de oxigênio, ou
nenhum, além de ser obrigatoriamente um meio estéril e incubado em temperatura apropriada.

Hoje em dia existe uma gama de meios de cultura comercializados para laboratório, que requerem
somente a adição de água e esterilização, e são constantemente desenvolvidos e atualizados para
serem utilizados no isolamento e identificação de bactérias que são de interesse para pesquisas,
sobretudo na microbiologia dos alimentos, da água e clínica.

O ágar é utilizado quando se deseja um crescimento bacteriano em meio sólido. Ele pode ser
utilizado tanto em placas de Petri, quanto em tubos de ensaio – que podem ser chamados de meios
inclinados, quando feito com o tubo inclinado, ou meio profundo, quando mantido na vertical.

Existem vários tipos de meios de cultura, dentre os quais podemos citar:

✓ Meio quimicamente definido: crescimento de quimioautotróficos, fotoautotróficos e


ensaios microbiológicos.

✓ Meio complexo: crescimento da maioria dos organismos quimio-heterotróficos.

✓ Meio redutor: crescimento de anaeróbios obrigatórios.

✓ Meio seletivo: supressão de microrganismos indesejados e consequente


favorecimento dos microrganismos de interesse.

✓ Meio diferencial: diferenciação na estrutura das colônias bacterianas de interesse em


relação aos outros.

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✓ Meio de enriquecimento: parecido com o meio seletivo, porém elaborado para uma
ampla replicação das bactérias de interesse.

Considerações finais

As bactérias, em determinadas situações, são extremamente oportunistas, causando prejuízo ao


homem e acarretando doenças graves. Entender suas principais características, como os
mecanismos de ação, reprodução, crescimento e potencial patogênico é uma das preocupações e
metas da maioria dos hospitais, principalmente da rede pública, a fim de diminuir e evitar surtos e
infecções em pacientes que, muitas vezes, estão lá por conta de outras patologias.

A recombinação genética vem sendo alvo de constantes estudos dos mecanismos de resistência e
mutações que assolam o mundo atual.

O diagnóstico deve ser preciso, afim de passar o antibiótico correto, deve-se compreender também
como é realizado o meio de cultura apropriado para o crescimento bacteriano, definindo critérios para
qual meio escolher para determinadas espécies de bactérias, sempre se atentando a características
necessárias, como fontes de alimentação, temperatura, fonte de O2 etc.

Esse entendimento conceitual é essencial para estudos mais aprofundados sobre o tema, bem como
para entender todo o contexto da microbiologia.

As bactérias fazem parte da vida na terra e podem ser encontradas em vários lugares, além de exercerem
diferentes papéis para o homem, sendo benéfico, com proteção contra bactérias patogênicas e auxiliando na
degradação de determinadas substâncias, ou maléfico, causando prejuízos severos com suas toxinas e
diferentes graus de infecção. Podem ser diferenciadas por vários fatores como sua morfologia, habitat, tipo de
respiração etc.

Como é uma célula procariota, sua estrutura pode ser dividida em parte externa, parede celular e parte interna.
Na estrutura externa encontram-se o glicocálice, flagelos, filamentos axiais, fímbrias e pili, enquanto na interna
encontram-se a membrana plasmática, citoplasma, nucleoide, ribossomos, depósitos de reserva/inclusões e
endósporos.

Podem ainda ter uma respiração celular anaeróbia, na qual dependem de oxigênio e geralmente conseguem
grandes reservas, e anaeróbica, na ausência de O2, tendo como mecanismo principal a fermentação.

Quanto a sua reprodução, que é de forma assexuada, é possível observar que se reproduzem por fissão
binária, não havendo uma forma de reprodução sexuada, apenas uma forma de recombinação genética que
se dá através de três mecanismos: conjugação, transdução e transformação.

Por fim, seu crescimento depende de fatores essenciais, como temperatura, pH, pressão osmótica, fontes de
carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo, oxigênio, elementos-traço e fatores orgânicos de crescimento. O ágar é

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utilizado para um crescimento bacteriano em meio sólido, e dentre os principais meios de cultura destacam-se
os meios quimicamente definidos, complexos, redutores, seletivos, diferenciais e de enriquecimento, todos a
fim de gerar um diagnóstico preciso.

Entre os procariotos, algumas células não possuem paredes ou tem pouco material de parede. Estes incluem
membros do gênero Mycoplasma e organismos relacionados.

O porquê de a ação dos antibióticos na parede celular ser tão eficaz para o extermínio de grande parte das
bactérias.

A bactéria gram-negativa Klebsiella pneumoniae faz parte da microbiota normal do intestino, porém fora de seu
ambiente natural ela pode causar infecções severas, sendo responsável por cerca de 8% de todas as infecções
associadas aos cuidados de saúde.

Quais são as principais diferenças estruturais entre as paredes celulares de gram-positivas e gram-negativas?

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(Albert Einstein 2017 – Medicina) Seres humanos e bactérias têm um longo histórico de interações.
Ancestralmente, uma relação conflituosa de parasitismo, com bactérias invadindo e interferindo no equilíbrio
dinâmico da fisiologia humana e sendo responsáveis por um grande número de infecções e enfermidades.
Mais tarde, como organismos fermentadores, cuja ação as tornou interessantes aliadas na fabricação de
vinagres e laticínios e, mais recentemente ainda, em técnicas de biotecnologia.

Ecologicamente, as bactérias são imprescindíveis em processos de decomposição da matéria orgânica, no


ciclo biogeoquímico do nitrogênio e na produção de glicose e o oxigênio molecular (…)

(Scientific American Brasil, ano II – nº 14, ‘A MAIS RECENTE REDE SOCIAL’)

Após a leitura do texto, um estudante do ensino médio fez as afirmações a seguir. Assinale a INCORRETA.

A) Superbactérias causadoras de doenças em seres humanos apresentam alterações em seu DNA,


provocadas por antibióticos utilizados indiscriminadamente por nossa população.

B) Lactobacilos, utilizados em larga escala na indústria de alimentos como queijos e iogurtes, realizam
o processo de glicólise, sendo capazes de produzir ácido lático.

C) Certas bactérias, juntamente com fungos, são, em um ecossistema, responsáveis pela


decomposição de organismos mortos.

D) Bactérias nitrificantes, presentes no solo, são responsáveis pela produção de nitritos e nitratos; estes
últimos são absorvidos pelas plantas para a produção de compostos orgânicos nitrogenados. Por outro lado,
as cianobactérias realizam fotossíntese, produzindo glicose e liberando oxigênio para o ambiente.

Resolução:

O surgimento das superbactérias é um evento casual, ou seja, as mutações que ocorreram no DNA
bacteriano, responsáveis pelas novas características das bactérias, não foi induzida pelo uso indiscriminado
de antibióticos. Estes apenas selecionam as cepas (variedades) resistentes que, através da reprodução,
multiplicam-se muito rapidamente.

Resposta: A

Questão Objetiva:

O glicocálice é uma extensão da membrana que desempenha diversos papéis importantes para a célula. Entre
as funções a seguir, marque aquela que não pode ser atribuída a essa região.

a) Ajuda na movimentação de algumas células.

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b) Atua no reconhecimento celular.

c) Participa da adesão celular.

d) Protege contra lesões mecânicas.

e) Garante seletividade à membrana plasmática.

Questão Discursiva:

Por que um endósporo é denominado uma estrutura dormente? Qual a vantagem do endósporo para uma
célula bacteriana?

O livro de Microbiologia de Tortora, um dos mais utilizados na prática estudantil quando o assunto é
microbiologia, aborda de forma clara e completa os principais e essenciais assuntos referentes ao tema.

Ínfimo: pequeno.

Estéril: inicialmente sem microrganismos vivos.

Extracromossômico: não estão conectados ao cromossomo bacteriano.

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As células procarióticas e eucarióticas são similares em sua composição química e reações químicas.

Em geral, as células procarióticas não possuem organelas revestidas por membrana (incluindo um núcleo).

O peptideoglicano é encontrado nas paredes celulares procarióticas, mas não nas paredes celulares
eucarióticas.

As células eucarióticas possuem um núcleo limitado por uma membrana e outras organelas. (TORTORA, 2017)

1. BROOKS, Geo. F. et.al. Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2014.
2. SANTOS, Neusa de Queiroz. A Resistência Bacteriana no Contexto da Infecção Hospitalar. Santa
Catarina, 2004.
3. TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.

26
Imagem 1: Bacilos

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

27
Imagem 2: Cocos

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

28
Imagem 3: Espirais

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).


Imagem 4: Flagelos

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

29
Imagem 5: Estrutura Célula Procarionte

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

30
Imagem 6: Tabela Gram-Positivo e Gram-Negativo

Fonte: Tortora; Funke; Case (2017).

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UNIDADE II
CAPÍTULO 3 – VÍRUS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Vírus.

Introdução

Todo tipo de organismo vivo pode ser hospedeiro de pelo menos um vírus. O vírus é uma partícula
minúscula com capacidade de infectar uma célula, utilizando-se de sua maquinaria para sobreviver
e se replicar, tornando-se parasita obrigatório.

Cientistas acreditam que existem mais de 1031 espécies de vírus na Terra, cuja maioria se encontra
nos oceanos.

Por não conseguir se replicar sozinho e ser inerte fora da célula hospedeira, o vírus não é
considerado um ser vivo. No entanto, como contém ácido nucleico, carrega em seu genoma
características baseadas no mesmo código genético da célula infectada. É dessa forma que obtém
as famosas mutações e evolui para vírus até então não descoberto.

Os vírus variam em sua forma estrutural, mas, de uma forma geral, contêm características comuns
entre si: capsídeo, genoma de ácido nucleico (DNA ou RNA) e camada protetora, denominada
envelope.

Replicam-se no interior das células seguindo as seguintes fases: adsorção, penetração,


desnudamento, síntese, montagem/maturação e liberação.

Seu potencial patogênico depende da sua capacidade de replicação e camuflagem do sistema


imune.

3.1 Vírus

Acredita-se que os vírus existem desde os primórdios da vida na Terra. A varíola, por exemplo,
persiste desde o século X a.C. e por anos se propagou sem que soubéssemos seu agente causador.
A raiva animal e humana também ocorre desde o tempo dos faraós, mas começou a ser estudada
mais a fundo por Louis Pasteur em 1884, que cultivou o vírus em cérebro de coelhos, desenvolvendo
uma vacina, mesmo sem identificar o agente etiológico.

Em meados de 1901, após os primeiros relatos de isolamento viral em humanos, o mundo começou
a questionar com maior preocupação quem eram esses agentes que, até então, infectavam apenas
animais e conseguiam passar por filtros extremamente minúsculos que retinham bactérias. Isso foi
demonstrado pelo biólogo Dimitri Ivanovsky em artigo de 1892, após tentar descobrir o agente
causador da doença do tabaco. Suas pesquisas resultaram em uma série de questionamentos: o
que são os vírus? Como detê-los? Como se proteger deles?

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Anos depois, Friedrich Loeffler e Paul Frosch, ambos cientistas alemães, constataram que o agente
causador da febre aftosa, doença altamente contagiosa com grande potencial epidêmico, afetando
bovinos, caprinos, ovinos e suínos, também não era retido por filtros de isolamento bacteriano. Estes
mesmos pesquisadores conseguiram, ainda, provar que os vírus eram parasitas obrigatórios, ou
seja, capazes de se multiplicar apenas em seus hospedeiros.

No início das descobertas sobre os vírus, Martinus Beijerinck, considerado o “pai da virologia”,
classificou esse agente microscópico como “fluido vivo contagioso”, a fim de apontar sua rápida e
potencial capacidade de infecção e replicação. Posteriormente, recebeu o nome de vírus (do latim
virus = veneno).

Os vírus não apresentam um aparelho enzimático suficiente para que se repliquem sozinhos, sendo
necessária uma maquinaria celular para completar o seu ciclo. Tal característica faz deles parasitas
intracelulares obrigatórios.

Nos dias de hoje, com os avanços nas pesquisas científicas, os vírus puderam ser classificados com
base em sua estrutura e sua replicação celular dentro de um hospedeiro:

• São agentes infecciosos e parasitas celulares obrigatórios;


• Seu genoma viral pode ser formado por DNA e RNA;
• Os vírions (progênie viral) são formados dentro de células hospedeiras através da síntese e
montagem de outros componentes virais;
• Os vírus se aproveitam da estrutura celular para síntese de proteínas virais, replicação do
genoma e sua multiplicação;
• As células hospedeiras nas quais houve replicação viral são condenadas a carregar o
genoma viral que pode codificar informações necessárias para síntese e multiplicação de
novas partículas em outras células-alvo.

O desenvolvimento de meios de culturas contendo nutrientes e fatores de crescimento para cultivo


de células animais revolucionou a investigação da replicação viral, contribuindo muito para o
isolamento e a identificação de vários vírus. Isso ocorreu em meados de 1955, quando diversos
pesquisadores conseguiram desenvolver meios de culturas específicos para cultivo de células de
mamíferos, que podiam ser mantidas em passagens seriadas. Desta maneira, pode-se mencionar
as células de ratos L e células humanas de cérvix uterino (HeLa), utilizadas por diversos laboratórios
de pesquisa até hoje.

Basicamente, essas células crescem em meios de cultura bioquimicamente pré-definidos, contendo


glicose, sais, coenzimas, aminoácidos, vitaminas e soro fetal com fatores de crescimento essenciais
à célula. Esses meios também são tamponados em pH 7,2 a 7,4 e suplementados com antibióticos
a fim de inibir o crescimento de bactérias e fungos.

O Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV) publicou em seu último relatório, de 2009, que
existem aproximadamente 30.000 a 40.000 vírus identificados em bactérias, plantas ou animais,
sendo classificados em 6 ordens, 87 famílias, 19 subfamílias, 348 gêneros e 2.285 espécies.

O ICTV ainda cataloga agentes virais, classificados como:

33
• Vírus satélites: constituídos de uma única molécula de RNA que perdeu importantes genes
para complementar o seu ciclo de replicação. Sendo assim, depende de um outro vírus na
mesma célula para se associar e gerar partículas virais viáveis. Exemplo: o vírus da hepatite
delta, que necessita de uma coinfecção do vírus da hepatite B.
• Viroides: são os menores agentes virais já descritos até hoje. Contêm RNA fita simples, com
genoma, que, quando introduzido em células animais, se replica de forma autônoma.
• Príons: responsáveis pela encefalopatia espongiforme transmissível (TSE), conhecida
também como “doença da vaca louca”, que pode ser fatal, causando sintomas
neurodegenerativos tanto em animais como em humanos. São constituídos apenas por
proteínas, sem ácidos nucléicos, e considerados os menores agentes infecciosos já descritos.
Sua descoberta rendeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1997 para o pesquisador
Stanley B. Prusiner, que elucidou seus mecanismos patogênicos na TSE.

De acordo com a Classificação de Baltimore (1971), podemos classificar os vírus conforme seu
genoma da seguinte forma:

• Classe I: DNA de fita dupla. Ex.: adenovírus, herpesvírus;


• Classe II: DNA de fita simples positiva. Ex.: parvovírus;
• Classe III: RNA de fita dupla. Ex.: reovírus;
• Classe IV: RNA de fita simples positiva. Ex.: picornavírus;
• Classe V: RNA de fita simples negativa. Ex.: rhabdovírus;
• Classe VI: RNA de fita simples positiva. Ex.: retrovírus;
• Classe VII: DNA de fita dupla com RNA intermediário. Ex.: hepadnavírus.

A cada dia, as normas de classificação dos vírus são aprimoradas, estabelecendo uma taxonomia
para sua organização. Os vírus podem ser agrupados de acordo com suas propriedades físicas,
químicas e biológicas, além do tropismo pelas células que infectam.

Sobre a nomenclatura dos vírus, quando pensamos na qualificação de família, é utilizado o sufixo -
viridae; para subfamília, utiliza-se -virinae; e para gênero, usa-se o sufixo virus. O vírus da raiva, por
exemplo, está classificado na ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus,
espécie Rabies virus. Algumas classificações são complexas, não havendo divisão em subfamílias,
como neste caso, em que o gênero já está em um nível hierárquico inferior.

Quando os vírus exibem estruturas biológicas e moleculares semelhantes, são agrupados na mesma
família. Por exemplo: os vírus da família Herpesviridae contêm vírions grandes, capsídeo icosaédrico,
glicoproteínas no envelope e uma camada proteica entre o capsídeo e o envelope.

O genoma viral pode ser constituído de fita simples ou fita dupla, sendo linear ou circular, com
polaridade positiva ou negativa. O ácido nucleico carrega informações genéticas através dos genes,
auxiliando a codificar proteínas importantes para sua replicação que também induzem resposta
imunológica do hospedeiro. Esse processo de constante replicação dos vírus, por muitas vezes,
favorece frequentes mutações, fazendo com que esses micro-organismos tenham a capacidade de
burlar o sistema imunológico e não serem reconhecidos. O vírus do HIV, por exemplo, tem seu ácido
nucleico incorporado ao genoma da célula hospedeira, passando muitas vezes despercebido pelas
células responsáveis pela resposta imune.

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O DNA ou RNA dos vírus é envolto por uma cápsula proteica protetora denominada capsídeo. Esse
complexo formado por ambas as estruturas forma o chamado nucleocapsídeo, que dispõe das
seguintes simetrias:

✓ Icosaédrica: o capsídeo apresenta-se organizado como um polígono. Pode conter nos


vértices capsômeros hexâmeros e pentâmeros (de seis e cinco lados, respectivamente),
assemelhando-se a cristais. Exemplos de vírus icosaédricos: rinovírus e adenovírus.
✓ Helicoidal: contém capsídeo cilíndrico em forma de hélice que envolve o ácido nucleico,
podendo ser de forma helicoidal rígida, assemelhando-se a bastonetes, ou helicoidal frouxa,
com aspecto polimórfico, em que os nucleocapsídeos se dobram na forma de novelos
irregulares. Exemplo: grupos dos Influenza.
✓ Complexas: grupos de vírus com organização morfológica mais enigmática, podendo
apresentar duas cadeias peptídicas na constituição do capsídeo, resultando em uma
suborganização nos componentes da partícula viral.

Os vírus se replicam no interior das células do hospedeiro, evoluindo as seguintes fases:

✓ Adsorção: processo de interação e ligação entre as moléculas presentes na superfície dos


vírus e os receptores nas células do hospedeiro que, por sua vez, determinam o tropismo
viral, ou seja, o tipo de célula que é capaz de receber a replicação viral. Temperatura, pH e
envoltórios com glicoproteínas influenciam na adsorção.
✓ Penetração: pode ocorrer através da fusão, quando a membrana celular e o envelope do
vírus se fundem, permitindo a entrada no citosol da célula. A outra forma é através da
viropexia, uma invaginação de membrana celular mediada por receptores e clatrinas
(proteínas), que revestem a membrana internamente.

Ambos os mecanismos são dependentes de uma temperatura adequada, em torno de 37 oC.

✓ Desnudamento: remoção do capsídeo através de lisossomos presentes nas células do


hospedeiro, expondo o genoma viral.
✓ Síntese: a partir do processo de transcrição e tradução, são formadas proteínas estruturais
(as primeiras proteínas a serem sintetizadas para formação da partícula viral) e não
estruturais (sintetizadas tardiamente, participam do processo de replicação).
✓ Montagem e maturação: proteínas se agregam ao genoma viral, formando o
nucleocapsídeo. A maturação se dá através da formação de partículas virais ou vírions
envoltos pelo envelope ou envoltório lipídico. Como todo vírus é um parasita intracelular, esse
processo depende de enzimas da célula afetada, podendo ocorrer no citoplasma ou no
núcleo.
✓ Liberação: se a replicação viral for intensa, a célula fica tão carregada de vírus que acaba
se rompendo (lise – ciclo lítico), liberando as partículas virais que vão infectar outras células.

Outra forma de liberação ocorre principalmente com os vírus envelopados, quando o nucleocapsídeo
migra para a face interna da membrana e sai por brotamento.

Dependendo do potencial de replicação viral e da não capacidade de se acobertar do sistema imune,


os vírus não causam alterações clínicas visíveis no indivíduo. Alguns vírus podem causar sintomas
clínicos distintos, e diferentes espécies podem provocar os mesmos sintomas.

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A patogenia viral é determinada por características e fatores específicos do agente interagindo com
a natureza do hospedeiro, ambos influenciados por fatores genéticos. É possível observar doenças
mais severas ou brandas, a depender da resposta imune eficaz do hospedeiro ou de cepas virais
mais ou menos virulentas.

Considerações finais

Até que os vírus pudessem ser observados e estudados, foi preciso muito tempo para se adaptarem,
evoluírem e adquirirem técnicas que possibilitassem resistir ao sistema imune do hospedeiro.

Com maquinaria simples, são constituídos por duas estruturas: ácido nucleico, que possui a
informação genética para replicação viral, e capsídeo, com a função de proteger o genoma. Algumas
espécies ainda possuem o envelope, composto de fosfolipídios que auxiliam a entrada do vírus na
célula-alvo.

Sua fácil replicação e liberação para infectar novas células através da lise ou inserção do material
genético no genoma da célula é um dos principais focos de pesquisa, a fim de evitar doenças virais
de difícil tratamento.

Por mais que os vírus existam há milhões de anos, os primeiros relatos sobre seu isolamento em humanos
surgiram em meados de 1901, trazendo preocupação concreta e questionamentos à comunidade científica.

São inertes no meio ambiente, tendo a necessidade de infectar uma célula e utilizar seu maquinário celular,
como estrutura, enzimas e proteínas, para replicação. Isso faz deles parasitas intracelulares obrigatórios.

Constituídos apenas por ácido nucleico e proteínas que os protegem, são considerados os menores agentes
infecciosos já descritos.

Em seu processo de replicação, trocam informações de material genético com a célula-alvo, muitas vezes
introduzindo seu próprio genoma junto ao da célula hospedeira, replicando-se quando esta faz mitose. Tal
processo favorece as mutações virais, produzindo vírus desconhecidos e resistentes a diferentes antivirais.

Como os vírus infectam uma célula-alvo?

36
Os vírus são os menores agentes infectantes já existentes e são capazes de se replicar rapidamente, causando
prejuízo ao hospedeiro.

Diferentemente das bactérias, os vírus não são capazes de se reproduzir sozinhos, precisando da estrutura de
uma célula para isso. Sendo assim, os vírus são considerados parasitas intracelulares.

Pesquise sobre o vírus da raiva.

https://viralzone.expasy.org/678

O que são príons?

37
Príons são os menores agentes infectantes já conhecidos, constituídos apenas por proteínas, sem ácido
nucleico. São responsáveis pela transmissão da encefalopatia espongiforme transmissível, mais conhecida
como doença da vaca louca.

Questão objetiva:

Não faz parte do processo de replicação dos vírus:

A) Montagem
B) Fermentação
C) Síntese
D) Desnudamento
E) Liberação

Questão discursiva:

Descreva os dois processos de liberação dos vírus da célula hospedeira.

O livro Virologia humana, de Norma S. O. Santos, Maria Teresa V. Romanos e Marcia D. Wigg, aborda desde
os princípios básicos da virologia até as mais recentes pesquisas sobre infecções em humanos.

38
Você sabia que a dengue, a zika e a chikungunya são doenças virais transmitidas pelo mesmo mosquito e com
sintomas semelhantes?

SANTOS, Norma Suely de Oliveira; ROMANOS, Maria Teresa Villela; WIGG, Marcia Dutra. Virologia humana.
3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed,
2017.

39
UNIDADE II
CAPÍTULO 4 – FUNGOS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Fungos: aspectos gerais.

Introdução

Pertencentes ao Reino Fungi, os fungos são conhecidos popularmente como bolores, cogumelos,
orelhas-de-pau e leveduras. Este grupo reúne aproximadamente 200.000 espécies espalhadas por
qualquer tipo de ambiente em diferentes condições, que apresentam uma grande variedade de
modos de vida.

Os fungos são organismos heterotróficos, ou seja, não são capazes de produzir seu próprio alimento,
nutrindo-se através de absorção. Além disso, são eucarióticos, podendo ser unicelulares, como as
leveduras, ou multicelulares, no caso dos cogumelos.

Ecologicamente, os fungos também desempenham um papel muito importante na decomposição,


sendo recicladores de nutrientes na natureza e diminuindo o acúmulo do lixo orgânico, assim como
algumas bactérias, tendo assim uma valiosa contribuição no ciclo ambiental. Também são muito
utilizados na produção alimentícia de queijos, pães, bebidas etc., além de úteis para a indústria
farmacêutica, com a produção de antibióticos como a penicilina, descoberta em 1929. Por outro lado,
essa característica de decomposição também pode causar dores de cabeça ao desenvolvimento
econômico, pois diversos produtos alimentícios acabam apodrecendo.

Com os animais ou seres humanos, podem retirar e se alimentar de substâncias essenciais para o
organismo e até mesmo liberar toxinas prejudiciais ao hospedeiro. Quando não patogênicos,
estabelecem uma associação mutualística, sem causar prejuízo ao hospedeiro.

Sua identificação se dá através de aspectos como aparência física, características da colônia, entre
outros. Já sua patogenicidade é denominada micose, que são infecções fúngicas classificadas em
cinco grupos distintos, cada qual com suas características específicas.

Ao longo deste capítulo, serão abordados de forma sucinta e completa todos os aspectos
mencionados, as principais características dos fungos e como se dá seu reconhecimento, bem como
os principais fungos de importância médica e patógenos para humanos e animais.

4.1 Fungos: aspectos gerais

Os fungos fazem parte do Reino Fungi, sendo seres quimio-heterotróficos e multicelulares (com
exceção das leveduras), e adquirem seu alimento por absorção. Seu estudo é conhecido como
micologia.

São conhecidas cerca de 100 mil espécies de fungos, sendo cerca de 200 as patogênicas para seres
humanos e animais. Além disso, os fungos também são benéficos dentro do ciclo ambiental,
principalmente na cadeia alimentar, como para as formigas, que os cultivam para posteriormente

40
digeri-los, e até para os seres humanos, que os consomem e os utilizam na produção de alimentos
e fármacos.

Quanto às suas características, a identificação se dá através dos seguintes aspectos: aparência


física, características da colônia e dos esporos reprodutivos (no caso dos multicelulares) e testes
bioquímicos (no caso das leveduras). As colônias fúngicas são consideradas estruturas vegetativas,
por serem compostas de células envolvidas no catabolismo e crescimento.

Os fungos filamentosos (bolores) e fungos carnosos têm como principais características físicas
suas hifas, longos filamentos de células conectados, que podem se diferenciar entre hifas septadas,
compostas por paredes cruzadas denominadas septos, como é o caso dos bolores, e hifas
cenocíticas, encontradas em poucas classes fúngicas, caracterizadas pela ausência de septos e
células longas com muitos núcleos. Quando as hifas crescem, formam uma massa filamentosa
denominada micélio e visível a olho nu.

As leveduras têm como características o fato de serem unicelulares e não filamentosas, podendo
ser encontradas em forma esférica ou oval. Realizam crescimento anaeróbio facultativo, permitindo-
lhes sobreviver em vários ambientes.

Podem ser divididas em:

✓ Leveduras de brotamento, cujas principais características consistem na formação de


uma protuberância (broto) em sua superfície externa, que se alonga; o núcleo da célula
se divide e parte dele migra para o broto, que se separa. Algumas leveduras formam
brotos que não se separam, denominadas pseudo-hifas, como é o exemplo da Candida
albicans.
✓ Leveduras de fissão, que se dividem e produzem duas novas células iguais. Essa
divisão acontece durante o processo de fissão, no qual a célula parental se alonga,
seu núcleo se divide e duas células-filhas são produzidas.

Os fungos dimórficos possuem duas formas de crescimento: tanto na forma de fungos filamentosos
quanto leveduras, podendo ser patógenos ou não, e seu dimorfismo depende da concentração de
CO2.

Quanto a seu ciclo reprodutivo, os fungos podem se reproduzir tanto de forma assexuada quanto
sexuada, através da formação de esporos. Além disso, os fungos filamentosos podem se reproduzir
de forma assexuada, através da fragmentação de suas hifas.

De acordo com Tortora, Funke e Case (2017, p. 323), os esporos assexuados são formados pelas
hifas de um organismo. Quando esses esporos germinam, tornam-se organismos geneticamente
idênticos ao parental. Os esporos sexuados resultam da fusão de núcleos de duas linhagens opostas
de cruzamento de uma mesma espécie de fungo, sendo produzidos com menor frequência do que
os esporos assexuados. Os organismos que crescem a partir de esporos sexuados apresentarão
características genéticas de ambas as linhagens parentais.

Os fungos também podem ser classificados como teleomorfos, ou seja, produzem esporos
sexuados e assexuados, ou anamorfos, cuja reprodução é somente assexuada (Penicillium é um
exemplo).

41
Como já mencionado, os fungos podem ser patogênicos, causando infecções fúngicas denominadas
micoses.

São caracterizadas por infecções crônicas, portanto de longa duração, pois os fungos crescem de
forma lenta. As micoses podem ser classificadas em quatro grupos de acordo com o grau de
desenvolvimento tecidual e forma de entrada no hospedeiro:

• Sistêmicas: podem afetar qualquer parte do corpo. São infecções profundas e geralmente
causadas por fungos que vivem no solo, cujos esporos são transmissíveis por inalação, não
sendo contagiosas entre animais e seres humanos. Dois exemplos de micoses sistêmicas
são a histoplasmose e a coccidioidomicose.
• Subcutâneas: localizam-se abaixo da pele e são causadas por fungos saprofíticos que
podem ser encontrados na vegetação ou solo e ocorrem pela implantação direta dos esporos
ou fragmentos de micélio em perfurações na pele.
• Cutâneas: também chamadas de dermatomicoses, são causadas por fungos que infectam
apenas a epiderme, cabelo e unhas (dermatófitos). Sua transmissão pode ocorrer entre seres
humanos ou de um animal para um ser humano, seja por contato direto ou com fios e células
epidérmicas infectadas.
• Superficiais: infecções causadas por fungos que mais comumente atingem a população
humana, restringindo-se às camadas mais superficiais da pele e seus anexos, como cabelo
e unhas. Dá-se o nome de dermatofitose a micoses superficiais causadas por três gêneros
de fungos: zoofílicos, geofílicos e antropofílicos.

Ainda assim, as micoses podem ser:

• Oportunistas: desenvolvem-se em pacientes que estão com a imunidade comprometida


(HIV, leucemias, queimaduras, em uso de imunossupressores etc.). Podem ser causadas
tanto por fungos patogênicos como não patogênicos. Neste caso, a infecção pode afetar
gravemente o indivíduo, com pneumonias e meningites, podendo levar à morte.
• Primárias: geralmente procedem da inalação de esporos com potencial de causar
comprometimento sistêmico, principalmente pneumonia localizada. Normalmente, em
pacientes imunocompetentes, esses quadros são raros; quando desenvolvem lesão
pulmonar por infecção fúngica, o quadro progride de forma crônica, lenta, por meses ou até
mesmo anos antes que procurem um serviço médico para um diagnóstico. Diversos órgãos
podem ser infectados, com diferentes sintomas, como febre, calafrios, mal-estar e depressão.

Como os animais estão relacionados aos fungos, os fármacos que os afetam também afetam as
células animais, o que acaba tornando um tratamento de infecções mais complicado.

Essas infecções ainda podem ser oportunistas ou primárias:

Alguns dos principais fungos de importância médica, encontrados em alimentos e culturas em


laboratório, serão listados a seguir como exemplos característicos de seus grupos:

✓ Zigomiceto: também conhecidos como fungos de conjugação, são fungos filamentosos


saprofíticos, e seu exemplo clássico é o mofo preto do pão (Rhizopus stolonifer).

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✓ Microsporídios: associados a várias doenças humanas, como a diarreia crônica e
ceratoconjuntivite, principalmente em pacientes com Aids, são parasitos intracelulares
obrigatórios e eucariotos que não possuem mitocôndria.
✓ Ascomicetos: incluem fungos com hifas septadas e algumas leveduras. Seus esporos são
facilmente liberados da cadeia, flutuando no ar como poeira.
✓ Basidiomicetos: são fungos em clava que possuem hifas septadas. Este grupo inclui os
fungos que produzem cogumelos.

Ainda que um grande número de espécies de fungos ocasione doenças no homem, a sua grande
maioria é de forma limitada sem sintomas clínicos. Os fagócitos são responsáveis por desenvolver
os mecanismos de defesa contra os fungos, produzindo óxido nítrico (NO) e outros componentes de
combate. Neutrófilos e macrófagos também participam efetivamente, estimulados por IFN-g. Desta
maneira, pacientes com deficiência na imunidade celular, apresentando neutropenia, tendem a ter
micoses recorrentes, podendo desenvolver formas mais brandas e profundas.

Dentre os fungos relacionados à morbidade no Brasil, podemos destacar a Candida albicans, o


Cryptococcus neoformans e o Paracoccidioides brasiliensis:

• Candida albicans: normalmente causa infecções leves e sem grandes complicações.


Observam-se quadros raros de candidíase mucocutânea crônica em crianças que
apresentam alterações na resposta celular ou distúrbios endócrinos. Pacientes com HIV
tendem a apresentar alta prevalência de infecção por C. albicans com envolvimento no
intestino e estômago.

A candidíase vaginal é um acontecimento frequente, porém também sem grandes


consequências quando diagnosticada precocemente e tratada. Pacientes com níveis baixos
de IFN-g podem apresentar quadros recorrentes.

• Cryptococcus neoformans: é um fungo encontrado no solo, em matéria orgânica morta,


nas fezes de aves, principalmente de pombos. É um patógeno oportunista, que desenvolve a
doença em pessoas com o sistema imune debilitado, como pacientes em tratamento
prolongado com uso de corticoides fortes, pacientes que passaram por transplante de órgãos
e em uso de imunossupressores e, principalmente, pacientes com HIV, sendo responsável
pela morte de 15% destes.

De forma geral, a criptococose apresenta três manifestações clínicas: pulmonar, disseminada


e neurológica. O pulmão é o primeiro sítio de infecção do C. neoformans por ser inalado,
instalando-se nos alvéolos e formando granulomas. Devido ao comprometimento do sistema
imune do paciente, ocorre a disseminação, sendo a segunda manifestação clínica do
paciente, com focos do fungo em mais de um sítio anatômico, podendo este ser qualquer
órgão. Por fim, ocorre a terceira manifestação clínica, quando o C. neoformans atinge o
sistema nervoso central, causando meningite, que pode ser fatal.

• Paracoccidioides brasiliensis: é um fungo termodimórfico que desenvolve uma doença


inflamatória crônica granulomatosa. Tem alta incidência no Brasil, principalmente no estado
de São Paulo, com a ocorrência de 3 casos a cada 100 mil habitantes.

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Ainda não está muito bem estabelecido o papel do P. brasiliensis no meio ambiente. Sua
doença está relacionada principalmente a trabalhadores rurais em contato constante com a
vegetação e o solo. Além disso, o fungo adquire comportamento de agente oportunista em
pacientes imunossuprimidos infectados pelo vírus HIV.

Os fungos são inalados, alcançando os bronquíolos e alvéolos pulmonares e adquirindo a


forma de células leveduriformes. A infecção pode ser disseminada pelos demais tecidos por
via hematogênica e/ou linfática. É possível desenvolver a forma subaguda, que geralmente
acomete indivíduos jovens, disseminando-se em órgãos do sistema monocítico-macrofágico
(baço, fígado, medula óssea etc.). A forma crônica é a mais comum na parte clínica.
Desenvolve-se a partir do complexo primário pulmonar e vai progredindo lentamente.

Na Primeira Guerra Mundial, Alexander Fleming, oficial médico inglês, perdeu muitos soldados por
conta das graves infecções em feridas de batalha. Voltou para Londres com o sonho de pesquisar e
descobrir uma forma de reduzir esse sofrimento entre os soldados.

Em 1928, Fleming dedicou-se a estudar as bactérias Staphylococcus aureus presentes na pele, que
comumente causam abcessos em feridas abertas. Após extensivas e cansativas pesquisas, Fleming
decidiu se dar alguns dias de folga, deixando, por descuido, recipientes contendo culturas de
bactérias expostas ao ar. As culturas foram contaminadas com mofo da atmosfera e, ao voltar, o
cientista inglês percebeu que nas áreas onde se formou bolor e nos espaços próximos a ele não
havia crescimento de Staphylococcus aureus. Assim, concluiu que o bolor, um fungo chamado
Penicillium, agia secretando uma substância que era capaz de destruir e inibir o crescimento
bacteriano.

Embora houvesse uma onda de desconfiança sobre a eficácia do Penicillium, estava sendo criado o
primeiro antibiótico da humanidade, graças à descoberta de Alexander Fleming. Muitos outros
cientistas se propuseram a dar continuidade a essa pesquisa. Então, com a Segunda Guerra
Mundial, em 1938, Howard W. Florey e Ernst B. Chain deram continuidade ao cultivo do bolor de
Fleming, na Universidade de Oxford, conseguindo extrair dele um pó marrom testado em 80 tipos de
bactérias e provando sua eficácia. A substância, chamada de penicilina, foi testada em humanos
pela primeira vez em 1940, em um policial vítima de grave infecção generalizada.

Com a descoberta da penicilina, estabelecia-se um novo mundo. Surgia uma grande indústria que
passou a se dedicar à produção de novos antibióticos contra doenças como tuberculose, pneumonia
e sífilis, possibilitando uma vida com mais qualidade.

Além da indústria farmacêutica, os fungos também são muito utilizados na indústria alimentícia.
Abaixo, alguns exemplos:

• Classe de fungos Basidiomycota e Ascomycota, os famosos cogumelos, com cerca de 200


tipos comestíveis, que contêm nutrientes de alto valor biológico.
• Produção de bebidas alcoólicas com as leveduras, que convertem glicose, sacarose e frutose
em energia celular para formação de etanol e dióxido de carbono, processo denominado de
fermentação alcóolica. Alguns exemplos: Saccharomyces cerevisiae (produção de cerveja,
saquê e uísque); S. carlsbergensis (produção de cerveja); S. ellipsoideus (produção de
vinhos).

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• Saccharomyces cerevisae, usado na produção de bolos, massas e pães, consumindo o
açúcar e liberando gás carbônico e álcool, ajudando no crescimento do volume e deixando-
os macios.
• Produção de queijos, como com o Penicillium roqueforti e o Penicillium camemberti. Definem
características do queijo através de perfurações depois de prontos e introdução dos bolores
quando expostos ao ar.

Considerações finais

Os fungos são seres eucariotos e decompositores que não conseguem produzir seu próprio alimento.
Por essa razão, o ser humano conseguiu uma forma de manuseá-los para seu benefício, adaptando-
os para produção de diversos produtos, como queijos, pães, bebidas alcoólicas e até mesmo
antibióticos, como é o caso da penicilina, descoberta por Alexander Fleming em 1929.

Em contrapartida, os fungos são de fácil disseminação, estando no solo, ar, água, e material orgânico
em decomposição; podem ser inalados, causando sérias doenças, como candidíase, micoses e
meningites, principalmente em pacientes com o sistema imunológico comprometido, podendo,
muitas vezes, levá-los à morte.

Ao longo deste capítulo, estudamos as principais características que definem e classificam os fungos,
de acordo com seus aspectos morfológicos e/ou reprodutivos.

Pertencentes ao Reino Fungi, são mais de 100 mil as espécies de fungos já estudadas, sendo cerca de 200
as patogênicas. Seu estudo é denominado micologia.

Sua identificação é de extrema importância para o conhecimento do tipo fúngico. Esta se dá através da
observação de sua aparência física, de características da colônia e dos esporos reprodutivos e de testes
bioquímicos, no caso das leveduras.

São várias as estruturas que definem e caracterizam os fungos. Dentre elas estão as hifas, que podem ser
septadas ou cenocíticas, e ainda se tornam uma massa filamentosa denominada micélio.

As leveduras podem ser de brotamento ou fissão. Existem também os fungos dimórficos. Eles se reproduzem
tanto de forma assexuada quanto sexuada.

Alguns fungos causam infecções denominadas micoses, que podem ser sistêmicas, subcutâneas, cutâneas,
superficiais ou oportunistas.

Os principais fungos de importância médica citados são: zigomicetos, microsporídios, ascomicetos e


basidiomicetos.

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Qual é a diferença entre um broto e um esporo?

A maioria dos fungos é decompositora. Alguns são parasitas de plantas e animais.

Diferente dos outros fungos, as leveduras são fungos unicelulares. Para se reproduzir, as leveduras que
realizam fissão se dividem simetricamente, ao passo que as leveduras que realizam brotamento se dividem
assimetricamente.

O que é uma micose oportunista?

A Revista Iberoamericana de Micologia (Jornal Ibero-Americano de Micologia) é o jornal oficial da Associação


Espanhola de Micologia, da Associação Venezuelana de Micologia e da Associação Argentina de Micologia.

Disponível em: <http://www.reviberoammicol.com/2013-30/index.shtml>.

46
Qual é a diferença de uma levedura para um fungo filamentoso?

A levedura é usualmente unicelular, se reproduz por brotamento ou fissão e produz colônias cremosas,
pastosas ou mucoides. O fungo filamentoso é multicelular, com a presença de estruturas tubulares chamadas
de hifas, que formam o micélio.

Questão objetiva:

No Reino Fungi, é possível encontrar representantes multicelulares e unicelulares. Entre os organismos


indicados a seguir, marque a alternativa que apresenta um exemplo de fungo unicelular:

a) Cogumelo

b) Levedura

c) Bolor

d) Orelha-de-pau

Questão discursiva:

As leveduras são benéficas ou prejudiciais?

O livro Compêndio de micologia médica aborda desde os princípios da micologia até seus estudos mais
aprofundados.

47
Quimio-heterotróficos: fungos que obtêm energia e carbono de fontes orgânicas.

Fungos saprofíticos: alimentam-se absorvendo substâncias orgânicas normalmente provenientes de matéria


orgânica em decomposição.

Saccharomyces e Trichoderma são utilizados na produção de alimentos. Os fungos são utilizados para controle
biológico de pragas. A deterioração causada por fungos em frutas, grãos e vegetais é mais comum que a
deterioração desses produtos causada por bactérias. Muitos fungos causam doenças em plantas.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed,
2017.

ZAITZ, Clarisse; CAMPBELL, Iphis; MARQUES, Sílvio A.; RUIZ, Lígia R. B.; FRAMIL, Valéria M. S (org.).
Compêndio de micologia médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

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UNIDADE III
CAPÍTULO 5 – EVOLUÇÃO E ADAPTAÇÃO PARASITA X
HOSPEDEIRO
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Evolução e adaptação parasita x hospedeiro.

Introdução

Parasitologia é a ciência que estuda a morfologia, o ciclo evolutivo e a fisiologia de parasitas que
infectam outros seres vivos. Todo parasita precisa de um hospedeiro que forneça condições de
abrigo e alimentação para seu desenvolvimento e propagação da espécie.

Os efeitos no hospedeiro variam de acordo com o tipo de parasita. Alguns passam quase
despercebidos por seu hospedeiro, em uma relação equilibrada. Outros causam dor e doenças
graves, principalmente quando os mecanismos de ação do sistema imunológico do hospedeiro estão
comprometidos. De modo geral, a interação básica deve ser sempre a mesma: boa para o parasita
e inofensiva ao hospedeiro.

Os parasitas são divididos em protozoários, helmintos e artrópodes. Podem ser, ainda, ectoparasitas,
endoparasitas ou hemoparasitas. A malária, por exemplo, patologia causada por um protozoário que
infecta hemácias na corrente sanguínea, é a quarta doença que mais mata no mundo, atrás apenas
das hepatites virais, da AIDS e da tuberculose.

As parasitoses intestinais permanecem como um dos principais problemas de saúde pública no


mundo, principalmente em países que apresentam discrepantes condições socioeconômicas, como
o Brasil. Apesar de não apresentarem altas taxas de mortalidade, seus índices de morbidade estão
diretamente relacionados a condições precárias de saneamento básico e hábitos higiênicos da
população. Além disso, a falta de diagnóstico e tratamento correto em áreas rurais dificulta o controle,
agravando o risco de infecção.

Desta maneira, entender o estilo de vida dos parasitas, seu ciclo evolutivo, a importância do vetor e
sua ação no hospedeiro auxilia na identificação e combate às causas das enfermidades provocadas
por esses micro-organismos. Com esses conhecimentos, podemos trazer novos métodos de
diagnóstico, campanhas de conscientização e ações profiláticas contra esse problema de saúde
pública.

5.1 Evolução e adaptação parasita x hospedeiro

Dentre as doenças denominadas “da pobreza”, podemos destacar as parasitoses, que envolvem
humanos, vetores e agentes etiológicos em uma relação complexa que ainda está longe do sonho
de uma vida livre de infecções.

A ciência chamada parasitologia foi estabelecida em meados de 1860, com a descoberta de


parasitas responsáveis por doenças que acometem os seres humanos e seus animais domésticos.

49
Foram durante pesquisas a hidatidose e a triquinelose que se descobriu que os agentes
patogênicos das doenças eram helmintos, popularmente conhecidos como “vermes”, das espécies
Echinococcus granulosus e Trichinella spiralis, respectivamente.

A partir daí, os avanços com o desenvolvimento da parasitologia aumentaram, principalmente com a


criação das escolas de medicina e hospitais nos trópicos. Assim, os parasitas puderam ser estudados
com maior profundidade.

No Brasil, o médico, sanitarista e pesquisador Carlos Chagas foi um dos grandes nomes que
contribuíram para o avanço dos estudos científicos envolvendo parasitas. Em 1901, Chagas foi
recrutado para atender trabalhadores atacados por malária em uma obra de represa na cidade de
Santos (SP). Rapidamente, identificou e implantou medidas sistemáticas de saneamento a fim de
evitar a propagação da doença, além de tratar todos os trabalhadores.

Em 1909, no Instituto Oswaldo Cruz, Chagas descobriu a tripanossomíase americana, mais


conhecida como doença de Chagas, em Lassance (MG). Identificou o vetor, o patógeno, os
hospedeiros e as manifestações clínicas causadas pelo parasita, sendo o primeiro cientista na
história da medicina a descrever por completo uma doença infecciosa. Tal feito rendeu a Chagas, no
ano seguinte, o Prêmio Schaudinn, dado pelo Instituto Naval de Medicina de Hamburgo por uma
comissão que reunia grandes pesquisadores da área da microbiologia e medicina tropical.

Outro fato marcante da parasitologia no Brasil ocorreu em meados do século 20, com uma epidemia
de leishmaniose tegumentar em São Paulo, na região da construção da estrada de ferro Noroeste,
que atingiu Alto de Sorocaba, Alto Paulista e região noroeste do estado. A denominação da lesão
“úlcera de Bauru” surgiu em decorrência desse surto, visto que muitos trabalhadores eram dessa
cidade.

Todos esses episódios aconteceram com a melhora socioeconômica do Estado, que resultou no
avanço do desmatamento e na invasão humana de áreas rurais e de mata, visando loteamentos para
ocupação do espaço e construção de ferrovias, com constante migração de pessoas. Com isso,
vetores e parasitas conseguiram acesso a regiões periurbanas, com variações domiciliares.

Por último, porém não menos importante, ocorreram na cidade de São Paulo casos autóctones de
esquistossomose em meados de 1923. Foram registrados onze casos sem que se conhecesse a
espécie do transmissor envolvido. Não se atribuiu maior importância à descoberta, visto que se
acreditava não haver condições propícias para a instalação da endemia.

Os parasitas são micro-organismos que vivem no interior ou exterior de um hospedeiro. O


relacionamento entre ambos tem base nutricional, em que o parasita é capaz de extrair alimento e
abrigo para si, não podendo lesar energeticamente seu hospedeiro. Assim, mantém um equilíbrio na
relação que permite a sobrevivência de ambos. Quando ocorre essa estabilidade na relação, temos
o que chamamos de parasitismo ideal, em que não há dano ao hospedeiro e, consequentemente,
não há doença. Nesses casos, o hospedeiro torna-se o “portador são”, ou seja, que não apresenta
sintomas. No entanto, esse portador é totalmente capaz de disseminar o parasita para o ambiente
externo.

Doenças parasitárias ocorrem quando já não existe mais o equilíbrio parasita/hospedeiro, resultando
em uma luta gerada pelos mecanismos de agressão do parasita contra os meios de defesa do

50
hospedeiro. Se as forças de agressão do parasita predominarem, o hospedeiro pode desenvolver
patologia e sintomas que podem ter como consequência a sua morte. Quando ocorre o inverso, em
que a defesa do hospedeiro é mais eficaz, o agressor é quem morre.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 980 milhões de pessoas no mundo estão
parasitadas pelo Ascaris lumbricoides e cerca de 200 milhões pelo Schistosoma mansoni. No Brasil,
de acordo com o último levantamento multicêntrico das parasitoses intestinais, aproximadamente
55,3% das crianças estão infectadas por parasitas, sendo que 51% destas são poliparasitadas, ou
seja, abrigam mais de uma espécie de parasita.

Basicamente, existem três grandes classes de parasitas que podem infectar o homem: os
protozoários (Giardia lamblia, Trypanosoma cruzi, Plasmodium vivax etc.); os helmintos, que se
dividem em platelmintos (vermes achatados: Schistosoma mansoni, Taenia spp.) e nematelmintos
(vermes cilíndricos: Ancylostoma duodenale, Ascaris lumbricoides); e os artrópodes, ectoparasitas
que se alojam no exterior dos hospedeiros, como os piolhos e carrapatos.

O ciclo evolutivo do parasita, também conhecido como ciclo de vida, compreende um conjunto de
processos que organiza sua colonização em um ou mais hospedeiros, suas fases evolutivas e seu
desenvolvimento até a forma adulta para, assim, poderem se reproduzir até o fim da vida.

Sendo assim, sabendo que o ciclo de vida dos parasitas está relacionado a um ou mais hospedeiros,
podemos classificá-los da seguinte forma:

Ciclo de vida monóxeno: quando o parasita precisa de apenas um hospedeiro para completar o
seu ciclo biológico, ou seja, consegue se reproduzir e se desenvolver em apenas um animal.
Normalmente, esse ciclo se inicia com ovos ou larvas depositadas em local de fácil interação com o
hospedeiro. Após a infecção do hospedeiro, que pode ocorrer através de ingestão, os parasitas se
proliferam no interior de seu organismo. Não obstante, o parasita ainda pode liberar ovos e larvas
para o meio ambiente através das fezes ou secreções do hospedeiro, fazendo dele uma fonte de
infecção. Ex.: Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis.

Ciclo de vida heteróxeno: quando o parasita precisa de dois hospedeiros para completar o seu
ciclo evolutivo. Geralmente, um hospedeiro irá conter a forma adulta dos parasitas, tornando-se o
hospedeiro definitivo, e o outro conterá formas em desenvolvimento inicial para se tornar infectante,
sendo o hospedeiro intermediário. Essa transição de um hospedeiro para outro pode ocorrer de
diferentes formas, sendo a ingestão do hospedeiro intermediário a forma mais comum. Ex.:
Angiostrongylus cantonensis.

Falando em hospedeiros, podemos classificá-los em:

Hospedeiros definitivos: geralmente colonizados pelo parasita em fase adulta e de reprodução


sexuada. Em parasitas com ciclo monóxeno, o hospedeiro definitivo acaba abrigando todas as
formas evolutivas.

Hospedeiros intermediários: abriga o parasito em sua fase larvária e de reprodução assexuada.


Quando o objeto de estudo é a doença gerada, também são chamados de vetores. Por exemplo,
podemos dizer que o mosquito Anopheles é o vetor do parasita causador da malária. Isso significa
que o parasita é transmitido através da interação do mosquito com outros organismos, o que se dá,

51
normalmente, através da picada. Sendo assim, é possível classificar os vetores quanto à sua função
de hospedeiro intermediário.

Hospedeiros paratênicos: são hospedeiros intermediários nos quais o parasita não se desenvolve
e se reproduz, mas mantém sua forma infectante viável, sendo transportado até atingir o hospedeiro
definitivo. Na angiostrongilíase, por exemplo, os ratos e os moluscos são, respectivamente, os
hospedeiros definitivo e intermediário do helminto causador. No entanto, no ciclo da cadeia alimentar
desses animais, lagartos, caranguejos e outros crustáceos podem também se alimentar dos
moluscos que contêm a forma infectante da larva; lá, esses parasitas se mantêm viáveis até serem
ingeridos por ratos e, assim, finalizarem seu ciclo. Resumidamente, hospedeiros paratênicos são
hospedeiros apenas de transporte.

Os vetores mecânicos são também conhecidos como vetores paratênicos. Realizam o transporte do
parasita sem estarem relacionados com seu ciclo evolutivo, ou seja, os parasitas não se
desenvolvem e nem se reproduzem neles.

Já os vetores biológicos são utilizados pelos parasitas como parte de seu ciclo evolutivo, além, claro,
de transportá-los.

Também podemos classificar os parasitas de acordo com a sua localização no hospedeiro:

• Ectoparasitas: parasitas que se localizam na parte externa do hospedeiro, fixando-se na


superfície de seu corpo. Ex.: piolhos, carrapatos, sanguessugas.
• Endoparasitas: parasitas que se localizam no interior de um hospedeiro. Os vermes, por
exemplo, costumam se prender no interior do intestino dos mamíferos, como a tênia (solitária)
e o Ascaris lumbricoides (lombrigas).
• Hemoparasitas: parasitas que se instalam na corrente sanguínea do hospedeiro. Malária e
doença de Chagas são patologias clássicas desse tipo de parasita.

Para o desenvolvimento de uma infecção causada por parasitas, é necessária a entrada do


patógeno e a colonização dos tecidos junto à lesão tecidual.

A penetração do parasita geralmente ocorre através da boca ou pele. Entrando pela boca, os
parasitas são deglutidos, podendo se instalar no intestino ou penetrar a parede intestinal e,
consequentemente, colonizar outros órgãos.

Já os parasitas que penetram a pele perfuram-na diretamente, como no caso de alguns helmintos
que vivem sua forma larvária no solo ou na água, conseguindo superar as barreiras físicas da pele e
penetrando o hospedeiro geralmente através da planta dos pés. Outra alternativa é a introdução dos
parasitas através de vetores, como nas picadas de insetos infectados.

As infecções parasitárias são causadas por helmintos, protozoários e artrópodes, sendo que a
maioria delas se desenvolve de forma crônica por conta da fraca imunidade inata do hospedeiro e
da capacidade de resistência dos parasitas à resposta imune adaptativa. Os artrópodes têm sua
relevância por carregarem muitos ectoparasitas.

Os protozoários podem ser agentes infecciosos intracelulares ou não, contendo mecanismos que
lhes permitem escapar da resposta imune. Portanto, podem permanecer no hospedeiro por longos

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períodos. Além disso, tais infecções costumam causar doença em uma pequena parcela dos
indivíduos infectados, indicando que o sistema imune inibe o processo de proliferação e multiplicação
do parasita em grande escala. Esta correlação é o que chamamos de equilíbrio parasita x hospedeiro,
no qual o protozoário tem a capacidade de permanecer no hospedeiro por toda a vida, contanto que
não haja desregulação com depressão do sistema imune pelo desenvolvimento de uma resposta
imune exacerbada.

Uma das habilidades mais importantes dos protozoários é a capacidade de escapar da resposta
inata. Formas infectantes da leishmaniose resistem à ação do complemento. Além disso, também
são capazes de penetrar macrófagos, livrando-se do ataque de neutrófilos. O Trypanosoma cruzi
possui habilidades de interagir e encobrir-se com moléculas do hospedeiro para impedir a ativação
do sistema complemento.

Os helmintos são capazes de resistir por muitos anos no hospedeiro, devido ao seu tamanho,
diversidade metabólica e capacidade de se esconder do sistema imune, uma vez que se cobrem de
antígenos do hospedeiro, como o S. mansoni, deixando então de serem estranhos para o sistema
imunológico.

Na resposta imune a helmintos, três moléculas/células são essenciais para sua destruição:

IgE: junto aos basófilos e mastócitos teciduais, induzem a liberação de mediadores de reação de
hipersensibilidades, que são tóxicos aos helmintos.

IL5: essencial na ativação de eosinófilos.

Eosinófilos: células de defesa que têm mecanismos de citotoxicidade celular.

No próximo capítulo, discutiremos um pouco mais sobre os principais protozoários e helmintos de


interesse médico, bem como seus mecanismos de ação, patogenicidade, sintomas e profilaxia.

Considerações finais

Você pode observar o quão abrangente e complexo é o ramo da ciência dedicado ao estudo dos
diferentes parasitas que podem infectar o homem. Seu vasto aparato enzimático, seu tamanho e sua
capacidade de camuflar-se do sistema imune garantem sua sobrevida por meses e até mesmo anos
no organismo do hospedeiro.

As parasitoses ainda são um grave problema de saúde pública no mundo, principalmente em países
subdesenvolvidos e com discrepâncias socioeconômicas, como o Brasil. Estão diretamente ligadas
a áreas rurais, a um sistema de saneamento precário e à desinformação da população, muitas vezes
desprovida de estudo.

Com isso, o estudo e entendimento de seu ciclo de vida, das formas de infecção e dos mecanismos
de ação são importantes para criar métodos de profilaxia das parasitoses, além de aperfeiçoar
medicamentos.

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A parasitologia é a ciência que estuda a associação do parasita com um organismo (hospedeiro), do qual se
utiliza como abrigo e retira nutrientes para sua sobrevivência, podendo causar prejuízos, ou seja, doenças.

Os efeitos no hospedeiro variam de acordo com o tipo de parasita. Alguns passam quase despercebidos por
seu hospedeiro, em uma relação equilibrada. Outros causam dor e doenças graves, principalmente quando os
mecanismos de ação do sistema imunológico do hospedeiro estão comprometidos. De modo geral, a interação
básica deve ser sempre a mesma: boa para o parasita e inofensiva ao hospedeiro.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 980 milhões de pessoas no mundo estão parasitadas pelo
Ascaris lumbricoides e cerca de 200 milhões pelo Schistosoma mansoni. No Brasil, cerca de 55,3% das
crianças estão infectadas por parasitas, sendo que 51% destas são poliparasitadas, ou seja, abrigam mais de
uma espécie de parasita.

Basicamente, existem três grandes classes de parasitas que podem infectar o homem: os protozoários (Giardia
lamblia, Trypanosoma cruzi, Plasmodium vivax etc.); os helmintos, que se dividem em platelmintos (vermes
achatados: Schistosoma mansoni, Taenia spp.) e nematelmintos (vermes cilíndricos: Ancylostoma duodenale,
Ascaris lumbricoides); e os artrópodes, ectoparasitas que se alojam no exterior dos hospedeiros, como os
piolhos e carrapatos.

O ciclo evolutivo do parasita, também conhecido como ciclo de vida, compreende um conjunto de processos
que organiza sua colonização em um ou mais hospedeiros, suas fases evolutivas e seu desenvolvimento até
a forma adulta para, assim, poderem se reproduzir até o fim da vida.

Por quais fatores as parasitoses são consideradas “doenças dos pobres”?

Os parasitas são micro-organismos que buscam abrigo e nutrientes no hospedeiro para que possam se
desenvolver e propagar a sua espécie.

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Fp = força do parasita
Fh = força do hospedeiro
Fp > Fh → doente parasitado
Fp < Fh → morte do parasita agressor
Fp = Fh → portador são, equilíbrio na relação

Pesquise sobre os principais parasitas de interesse médico no Brasil.

http://parasitologia.org.br/

O que é o ciclo monóxeno?

No ciclo monóxeno, o parasita precisa de apenas um hospedeiro para completar o seu ciclo biológico, ou seja,
consegue se reproduzir e se desenvolver em apenas um animal.

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Questão Objetiva:

Abriga o parasita na sua forma larvária até a forma infectante, realizando reprodução assexuada. Estamos
falando de qual hospedeiro?

a) Paratênico
b) Definitivo
c) Intermediário
d) Acidental
e) Sugestivo

Questão Discursiva:

O que são endoparasitas?

O livro Parasitologia humana e seus fundamentos gerais, de Benjamin Cimerman e Sérgio Cimerman, traz uma
abordagem das condições epidemiológicas e patogeográficas brasileiras, sendo uma obra essencial para
compreensão da realidade nacional.

O Ascaris lumbricoides é o parasita mais comum entre todas as infecções causadas por helmintos. Dados
recentes da OMS revelam uma prevalência total de um bilhão de indivíduos infectados com A. lumbricoides.
Na década de 70, no Brasil, para uma população estimada em 90 milhões de habitantes, havia cerca de 54
milhões de infectados. A ascaridíase é, portanto, uma infecção extremamente disseminada e pode levar a
quadros clínicos extremamente graves, como obstrução e perfuração intestinal, que podem ser fatais.

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UNIDADE III
CAPÍTULO 6 – PROTOZOÁRIOS, HELMINTOS E ARTRÓPODOS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Protozoários
✓ Helmintos
✓ Artrópodes

Introdução

Protozoários agrupam um grande conjunto de organismos unicelulares que se transformam para


realizar diferentes funções. São organismos microscópicos com variada morfologia e estruturas
fundamentais comuns a todo o grupo. Há algumas espécies que habitam o homem sem causar
prejuízo algum, chamadas de não patogênicas. Em contrapartida, outras espécies, quando há um
desequilíbrio da relação parasita/hospedeiro, aproveitam para causar úlceras e se disseminar por
outros órgãos.

Os helmintos, popularmente conhecidos como vermes, se dividem em dois grupos de interesse


médico: os platelmintos e os nematelmintos. Os vermes adultos podem permanecer em nosso
organismo por anos de forma assintomática ou oligossintomática, habitando principalmente o
intestino. São de fácil transmissão, contidos na água, soro e alimentos. Algumas espécies podem
ocasionar a autoinfecção, não precisando de outro ambiente para evoluir. Sua patogenia está
associada às condições imunológicas do hospedeiro e à carga parasitária.

Além dos protozoários e helmintos, alguns artrópodes têm despertado grande interesse na medicina
diagnóstica por transmitirem organismos patogênicos ao homem. São geralmente macroparasitas e
ectoparasitas que, ao se alimentarem através de picadas, transmitem os verdadeiros parasitas, como
os causadores da doença de Chagas e da malária.

6.1 Protozoários

São micro-organismos unicelulares e microscópicos, com raras formas visíveis a olho nu, como o
Porospora gigantea, natural de alguns crustáceos.

Contêm membrana delgada com função de contenção, proteção e osmose. Seu citoplasma é dividido
em duas partes: o endoplasma, parte interna que rodeia o núcleo, e o ectoplasma, mais homogêneo,
que envolve o endoplasma. O citoplasma ainda pode conter vacúolos, produtos metabólicos e
reservas energéticas (alimentares).

O núcleo situa-se no endoplasma e pode ser ovoide ou esférico. É constituído de uma membrana
nuclear, nucleoplasma e cromatina com localização central ou excêntrica.

Os protozoários têm a capacidade de se movimentar através de estruturas denominadas


pseudópodes, flagelos, cílios e mionemas:

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Pseudópodes: termo de origem grega que significa “falsos pés”. Os pseudópodes são uma expansão
do ectoplasma que auxilia na movimentação e na captura de alimentos.

Flagelos: longos filamentos em forma de chicote localizados na extremidade anterior. São capazes
de determinar movimentos ondulatórios e estão presentes em pequenas quantidades.

Cílios: parecidos com os flagelos, os cílios são pequenos. Pode haver centenas deles ao redor da
membrana externa do protozoário. Também estão relacionados à movimentação do parasita.

Mionemas: constituídos de filamentos musculares no citoplasma com função de locomoção.

Os protozoários podem respirar de forma aeróbica quando estão em meio rico de oxigênio, como o
sangue, ou de forma anaeróbica quando vivem em meio com baixa quantidade de oxigênio. Sua
nutrição pode ser holofítica, utilizando energia solar; holozoica, consumindo diversas substâncias
nutritivas da natureza e expulsando os metabólitos; ou saprozoica, absorvendo material nutritivo do
meio em que vivem.

São classificados também em:

Trofozoítos: estágio ativo do protozoário, no qual se alimenta, se reproduz e se movimenta.

Cistos: forma inativa do protozoário. Quando em ambiente inapropriado, o trofozoíto secreta uma
parede resistente para sua proteção.

Sua reprodução pode ser de forma sexuada ou assexuada. Na reprodução sexuada pode ocorrer o
processo de conjugação, que consiste na junção temporária das células para troca de material
nuclear e, consequentemente, a formação de uma nova célula. O processo de fecundação (ou
singamia) é a união dos gametas feminino (macrogameta) e masculino (microgameta), formando a
célula-ovo ou zigoto. Na reprodução assexuada os protozoários dividem-se em duas ou mais células-
filhas; a divisão binária é quando se dividem em duas células; e a esquizogonia é quando se dividem
várias vezes e seu citoplasma permanece íntegro.

Agora falaremos um pouco sobre o habitat, o ciclo e a patogenia dos principais protozoários de
interesse médico:

Giardia lamblia: a giárdia tem o duodeno como seu habitat preferido, mas pode também ser
encontrada em todo o intestino grosso e ocasionalmente no intestino delgado. Seus cistos, forma
infectante do protozoário, são altamente resistentes no meio ambiente, com sobrevida de dois
meses, além de resistirem à ação de altas temperaturas e à cloração da água. Após serem ingeridos,
perdem sua membrana cística no intestino, transformando-se em trofozoítos. Em seu habitat,
multiplicam-se constantemente por divisão binária em pouco tempo. Em uma infecção média por G.
lamblia, são liberados aproximadamente 300 milhões de cistos por dia nas fezes do hospedeiro.

Sua transmissão pode ocorrer através da água e de alimentos contaminados, do contato direto de
pessoa a pessoa, de artrópodes, de sexo anal-oral e de riachos e reservatórios com a presença de
animais contaminados.

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Quando em grande número, os trofozoítos podem impedir a absorção de vitaminas lipossolúveis,
ácidos graxos, vitamina B12 e ácido fólico, ocorrendo também quadro de esteatorreia. Além disso,
podem causar irritação nas vilosidades do intestino, com diarreia aguda, cólica, azia, constipação
intestinal, dor epigástrica, náuseas e vômitos. Em seu tratamento, destacam-se: quinacrina,
furazolidona, albendazol, nimorazol, ornidazol e metronidazol.

Entamoebas: encontradas em diversas regiões tropicais e subtropicais, principalmente aquelas com


condições sanitárias precárias e baixo nível socioeconômico da população. Podem ser patogênicas
ou não.

Entamoeba histolytica: seus cistos são tetranucleados, vivendo no intestino grosso. Quando o
equilíbrio parasita/hospedeiro é comprometido, podem se disseminar rapidamente no interior de
úlceras intestinais, abcessos hepáticos, pulmonares e cutâneos e, raramente, no cérebro. Nestes
casos, os trofozoítos são muito ativos e hematófagos, sendo chamados de invasivos e virulentos.

Entamoeba coli: é encontrada habitando o intestino grosso humano, nutrindo-se de bactérias e


detritos alimentares. Não é patogênica, mas pode indicar contaminação feco-oral. Geralmente seus
cistos são encontrados nas fezes, sendo esféricos ou ovais, possuindo de um a oito núcleos.

Iodamoeba butschlii: não é patogênica, sendo bastante comum entre nós, habitando o intestino
grosso. Seus cistos, quando corados com lugol, apresentam núcleo em evidência com cromatina
condensada em uma massa central ou excêntrica.

Endolimax nana: ameba parasita do homem. Muito pequena e bastante frequente em nosso meio.
Também não é patogênica. Seus cistos são ovais ou elípticos, contendo de um a quatro núcleos.

Protozoários sanguíneos: vivem na corrente sanguínea do hospedeiro, podendo ser intracelulares.


Geralmente utilizam vetores de transmissão para conseguir acesso à corrente sanguínea, como os
mosquitos. Entre os dois principais hemoparasitas que infectam o homem, podemos destacar:

Trypanosoma cruzi: protozoário que causa a doença de Chagas. Os vetores de transmissão são os
triatomíneos, também conhecidos como barbeiros. Os barbeiros depositam suas fezes contaminadas
próximo à região de sua picada, causando coceira e levando o parasita à corrente sanguínea. Sua
manifestação clínica mais importante é a forma crônica cardíaca, com alta taxa de morbimortalidade.

Plasmodium spp.: é transmitido pela fêmea do mosquito Anopheles, causando a malária. Os


protozoários invadem as hemácias, dando início às alterações fisiológicas. O grau de hemólise varia
de acordo com o número de parasitas; o Plasmodium falciparum é a espécie que causa reações
mais graves, infectando cerca de 40.000 hemácias e levando o hospedeiro à anemia aguda.

Leishmania spp.: pode causar a leishmaniose tegumentar ou visceral, dependendo da espécie


infectada. É um grave problema de saúde pública, acometendo homens e animais domésticos. A
transmissão ocorre através de mosquitos do gênero dos flebótomos. São protozoários intracelulares
que podem infectar células de diferentes tecidos e macrófagos.

6.2 Helmintos

São divididos em quatro grupos, sendo que apenas dois são de interesse da medicina humana:

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Platelmintos: vermes achatados sem tubo digestivo completo. A maioria é hermafrodita, com exceção
aos vermes da família Schistosomatidae. Dividem-se em duas classes: digenea, denominados
também de trematódeos digenéticos, formados por um só segmento com tubo digestivo incompleto;
e a classe cestoda, desprovidos de tubo digestivo, com corpo composto de vários segmentos
chamados anéis ou proglotes.

Nematelmintos: vermes de corpo cilíndrico e alongado, com aparelho digestivo completo e sexo
definido. As fêmeas são geralmente maiores que os machos. Seu tamanho pode variar de um
milímetro a um metro de comprimento. Como exemplos temos o Strongyloides stercoralis e o Ascaris
lumbricoides. Reproduzem-se com a formação e liberação de ovos, podendo conter ciclo heteróxeno
e monóxeno.

Alguns helmintos de interesse médico no Brasil:

Schistosoma mansoni: atinge principalmente países da África, Ásia e América, sendo endêmico em
todo o mundo. Os vermes têm sexo separado, sendo longos e delgados. Em seu ciclo biológico,
contêm as formas de verme adulto (macho e fêmea), localizado nos canalículos biliares de
humanos, e de ovo, depositado pela fêmea adulta na parede do intestino e carregado pelo bolo fecal,
que sai para o meio ambiente. Cerca de 70% deles podem atingir a circulação através das veias
mesentéricas e se instalar no fígado. Os ovos expelidos, quando caem no meio aquático, eclodem e
liberam o miracídio, que procura geralmente um caramujo para penetrar e lá se dividir em
esporocisto e depois cercária. Esta é liberada no meio aquático e infecta o homem, perdendo sua
cauda e formando o esquistossômulo, que, após mais ou menos 40 dias, se torna macho ou fêmea
adulta. Os ovos que voltam pela circulação são o principal fator patogênico da esquistossomose,
podendo atingir o parênquima hepático, o pulmão, o baço e, com menor frequência, outros órgãos,
como medula óssea e cérebro. A presença dos ovos no tecido, com a constante liberação de
antígenos, provoca reações inflamatórias granulomatosas, que causam cicatrizes fibrosas.

Ascaris lumbricoides: também chamado de lombriga, é o maior nematoide intestinal do homem. A


OMS calcula que existem aproximadamente um bilhão de pessoas infectadas com o A. lumbricoides
no mundo. O verme adulto vive e se alimenta no intestino delgado, sendo capaz de se mover de um
lado para o outro. A fêmea elimina em média 200 mil ovos por dia. Os ovos eliminados podem viver
no meio ambiente por meses ou até anos, e só se tornam infectantes após três mudas da larva em
seu interior. No homem, se infectado ao ingerir os ovos, o suco gástrico do estômago rompe a
membrana e a larva é liberada no intestino. Para se tornar verme adulto, as larvas atingem a corrente
sanguínea, passando por coração, pulmão e traqueia, e são deglutidas novamente, tornando-se
macho e fêmea de volta ao intestino. O quadro clínico só será percebido com o verme adulto. Pode
causar cólicas abdominais, distensão e perfuração intestinal, má nutrição e, em casos mais graves,
interrupção do fluxo fecal pelo bolo de Ascaris.

Strongyloides stercoralis: é assintomático ou oligossintomático na maioria dos casos. No entanto, em


pessoas imunocomprometidas sua infecção pode adquirir caráter grave por exacerbação dos
mecanismos de autoinfecção e disseminação das larvas por diferentes órgãos. No solo, larvas de
vida livre rabditoide dão origem a larvas filarioides infectantes, que penetram a pele humana. Assim
como o A. lumbricoides, realizam o ciclo pulmonar, passando por coração, pulmão e traqueia até
serem deglutidos, tornando-se fêmeas adultas no intestino delgado, com consequente oviposição.
Este é o ciclo direto. No indireto, larvas rabditoides sofrem mudanças, transformando-se em verme

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macho e fêmea adulta, que se reproduzem de forma sexuada, com a fêmea produzindo ovos
rabditoides.

Na estrongiloidíase, a transmissão pode ocorrer como heteroinfecção (penetração das larvas na


pele), autoinfecção externa (penetração de larvas na região perianal de indivíduos já infectados) e
autoinfecção interna (com larvas rabditoides se desenvolvendo rapidamente e larvas filarioides no
intestino).

Devido à eficiente capacidade de infecção, o S. stercoralis pode desenvolver a forma crônica,


mantendo-se vivo por anos de forma oligossintomática. A presença dos ovos e larvas no intestino
pode causar reação inflamatória intenta com consequentes ulcerações extensas. Causam também
má absorção proteica e diarreia crônica.

Teníase e cisticercose: a teníase é uma infecção intestinal humana causada pelos vermes adultos
das espécies Taenia solium e Taenia saginata. Ambas provêm respectivamente das carnes suína e
bovina. As larvas contidas na carne são ingeridas pelo homem, fixando-se na mucosa duodenal,
onde podem permanecer por mais de 20 anos. São assintomáticas na maioria dos casos, mas podem
causar alterações no apetite, cólicas, vômitos e dores ilíacas e epigástricas, além de diarreia.
Obstrução intestinal é rara.

A cisticercose é resultante da forma larvária da T. solium, após a ingestão dos ovos. Quando chegam
ao intestino delgado, sais biliares auxiliam na liberação de oncosferas (embrião), que atingem veias
e vasos linfáticos, ganhando a circulação geral. Quando atingem a condição de larva (cisticerco), têm
tropismo pelo sistema nervoso central, causando a neurocisticercose, quadro grave com diversas
complicações neurológicas.

6.3 Artrópodes

Têm importância médica e veterinária por transmitirem organismos patogênicos ao homem e a


animais. Por isso, quando se discute a biologia dos artrópodes, devemos ter como base a
bacteriologia, a virologia e a parasitologia. São ectoparasitas, podendo ser macro ou microparasitas,
residindo na superfície corporal do homem. Alimentam-se através da sucção de sangue, que é
quando podem transmitir os verdadeiros parasitas. É o caso dos triatomíneos (barbeiros) com a
doença de Chagas e dos mosquitos com a malária. Desta maneira, muitos artrópodes funcionam
como vetores.

Alguns exemplos de artrópodes: piolhos, pulgas, carrapatos, barbeiros, mosquitos e moscas.

Considerações finais

Os protozoários são seres eucariontes e unicelulares incluídos no Reino Protista. São classificados
de acordo com sua locomoção. Dentre os que infectam o homem, alguns têm seu habitat preferencial
no intestino. Normalmente, a maioria não é patogênica. Outro grupo prefere habitar a corrente
sanguínea, infectando hemácias, leucócitos e outras células, além de se disseminar por diferentes
órgãos. Estes causam graves problemas de saúde.

As helmintíases são as doenças causadas por vermes que, em sua grande maioria, também habitam
o intestino. Os principais parasitas de interesse médico no Brasil são: Ascaris lumbricoides,

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Strongyloides stercoralis, Taenia solium e taenia saginata, Enterobius vermicularis e Ancylostoma
duodenale.

As doenças decorrentes dos helmintos e protozoários estão diretamente relacionadas a problemas


de saneamento básico e cuidados inadequados de higiene. Desta maneira, a educação em saúde e
a divulgação de informações básicas sobre higienização adequada das mãos e alimentos podem
auxiliar consideravelmente na prevenção de tais contaminações.

Por fim, os artrópodes, mesmo sendo ectoparasitas que não causam patologia diretamente no
organismo humano, têm sua importância por servirem como vetores de outros endoparasitas,
causando graves doenças como malária, leishmaniose e doença de Chagas.

Protozoários são micro-organismos unicelulares e microscópicos que contêm membrana delgada com função
de contenção, proteção e osmose. Seu citoplasma é dividido em duas partes: o endoplasma, parte interna que
rodeia o núcleo, e o ectoplasma, mais homogêneo, que envolve o endoplasma. O núcleo situa-se no
endoplasma e pode ser ovoide ou esférico. É constituído por uma membrana nuclear, nucleoplasma e
cromatina com localização central ou excêntrica. Têm a capacidade de se movimentar através de estruturas
denominadas pseudópodes, flagelos, cílios e mionemas.

Os helmintos são vermes divididos em dois grupos principais de interesse à saúde do homem: os platelmintos,
vermes achatados sem tubo digestivo completo, em sua maioria hermafroditas, e os nematelmintos, de corpo
cilíndrico e alongado, com aparelho digestivo completo e sexo definido. As fêmeas são geralmente maiores
que os machos. Seu tamanho pode variar entre um milímetro e um metro de comprimento. Como exemplos
temos o Strongyloides stercoralis e o Ascaris lumbricoides. Reproduzem-se com a formação e liberação de
ovos, podendo conter ciclo heteróxeno e monóxeno.

Por último, vimos os artrópodes, ectoparasitas que podem ser macro ou microparasitas e residem na superfície
corporal do homem. Alimentam-se através da sucção de sangue, momento em que podem transmitir os
verdadeiros parasitas. É o caso dos triatomíneos (barbeiros) com a doença de Chagas e dos mosquitos com
a malária. Desta maneira, muitos artrópodes funcionam como vetores.

Problemas de saneamento básico e a falta de educação em saúde estão relacionados às principais


parasitoses.

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Platelmintos são helmintos achatados, com tubo digestivo incompleto, e geralmente são hermafroditas.
Nematelmintos têm o corpo cilíndrico e alongado, com tubo digestivo completo, e sexo definido entre macho e
fêmea.

Plasmodium spp. são protozoários sanguíneos transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. Causam a
malária, uma das cinco doenças que mais matam no mundo.

Pesquise sobre o modo de transmissão da doença de Chagas.

https://www.cdc.gov/

Importante site sobre doenças infecciosas que traz diversas informações a respeito de parasitas ao redor do
mundo.

Qual é a diferença entre trofozoítos e cistos?

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Ambos são protozoários, mas os trofozoítos são a forma ativa que se reproduz e se alimenta. Em condições
ambientais prejudiciais, os trofozoítos se tornam cistos, forma inativa e extremamente resistente.

Questão Objetiva:

São um meio de locomoção dos protozoários. São longos, possuem forma de chicotes, existem em pequena
quantidade e promovem movimentos ondulatórios.

a. Cílios

b. Pseudópodes

c. Flagelos

d. Fimbrias

e. Cauda

Questão Discursiva:

O que é o ciclo pulmonar?

O livro Parasitologia, de David Pereira Neves, traz conceitos completos sobre os principais protozoários e
helmintos de interesse médico no Brasil.

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A leishmaniose tegumentar é uma parasitose causada pelo protozoário do gênero Leishmania, acometendo a
pele e mucosas do homem e de animais de diferentes espécies. É transmitida pela picada de mosquitos do
gênero dos flebótomos.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed,
2017.

SANTOS, Norma Suely de Oliveira; ROMANOS, Maria Teresa Villela; WIGG, Márcia Dutra. Virologia
humana. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

ZAITZ, Clarisse; CAMPBELL, Iphis; MARQUES, Sílvio A.; RUIZ, Lígia R. B.; FRAMIL, Valéria M. S (org.).
Compêndio de micologia médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

CARVALHO, Irineide Teixeira de. Microbiologia básica. Recife: EDUFRPE, 2010.

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SANTOS, Neusa de Queiroz. A resistência bacteriana no contexto da infecção hospitalar. Texto & Contexto –
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<https://www.scielo.br/pdf/tce/v13nspe/v13nspea07.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2021.

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