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COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Prof. Me. Allison Eduardo da Silva Almeida


Prof. Guilherme Bernardes Filho
Diretor Presidente
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes
Diretor Tesoureiro
Prof. Frederico Ribeiro Simões
Reitor

UNISEPE – EaD

Prof.ª M.ª Leandra Aurélio Baquião

Coordenador EaD de área

Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz

Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD)

Material Didático – EaD

Equipe editorial:
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395
Isis Gabriel Alves
Laura Lemmi Di Natale
Pedro Ken-Iti Torres Omuro
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável

Apoio técnico:
Alexandre Meanda Neves
Anderson Francisco de Oliveira
Douglas Panta dos Santos Galdino
Fabiano de Oliveira Albers
Gustavo Batista Bardusco
Kelvin Komatsu de Andrade
Matheus Eduardo Souza Pedroso
Vinícius Capela de Souza

Revisão: Yuri dos Reis Pimentel

Diagramação: Chrystian da Silva Santos


SOBRE O AUTOR:

Me chamo Allison Almeida, sou jornalista, pós-graduado em Jornalismo Científico (Labjor-Unicamp)


e mestrando em Divulgação Científica (IEL-Unicamp). Trabalho com produções textuais relacionadas
à ciência e cultura desde 2010.

SOBRE A DISCIPLINA:

Para entrarmos no mundo da ciência é necessário aprendermos como construir um diálogo perene
com a comunidade de pesquisadores. Trabalharemos aspectos da Comunicação Científica
entendendo ciência como uma construção cultural coletiva em que os estudantes do ensino superior
devem participar. Este curso foi pensado para que o aluno seja iniciado no mundo dos artigos,
papers, revistas e demais elementos comunicacionais do universo da pesquisa assimilando as
especificidades sociais e linguísticas relacionadas ao ato de comunicar ciência para um público
especializado.
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem
e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
SUMÁRIO
UNIDADE I ........................................................................................................................... 5
Capítulo 1- Importância da comunicação científica e breve histórico ................................ 5
Capítulo 2 - Classificações da comunicação científica .....................................................13
Capítulo 3 - Periódicos científicos ....................................................................................21
Capítulo 4 - Gêneros textuais científicos ..........................................................................30
UNIDADE II .........................................................................................................................39
Capítulo 5 - A escrita científica .........................................................................................39
Capítulo 6 - Revisão de literatura científica ......................................................................47
Capítulo 7 - Normas abnt e citações ................................................................................54
Capítulo 8 - Precisamos falar sobre plágio .......................................................................62
UNIDADE III ........................................................................................................................69
Capítulo 9 - O que deve conter a introdução ....................................................................69
Capítulo 10 - Comunicando materiais e métodos.............................................................77
Capítulo 11 - Apresentando os resultados da pesquisa ...................................................84
Capítulo 12 - Acertando ao realizar discussões ...............................................................92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................99
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 - IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E
BREVE HISTÓRICO
Ao término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Sobre a importância da disseminação da ciência para a sociedade.

✓ As diferenças entre comunicação científica e divulgação científica.

✓ A classificação dos tipos de conhecimentos existentes.

✓ As características do conhecimento científico.

✓ Um resumo da história da comunicação científica no mundo.

✓ Características de diferentes períodos históricos da comunicação da ciência.

Introdução
Você já parou para pensar no quanto a ciência é uma esfera importante nas nossas vidas? Física,
química, matemática, história, psicologia… todas essas áreas têm em comum um ingrediente que
está na raiz do porquê nós fazemos ciência. Tal elemento nos diferencia das outras espécies: a
vontade de conhecer o que está ao redor.

A palavra ciência advém do termo em latim scientia que, em seu sentido literal, significa
conhecimento. Apesar do trabalho de pesquisadores possuir um estereótipo de solidão, tenha em
mente que, na realidade, acontece justamente o contrário: a prática da atividade científica, em todos
os seus aspectos, é um trabalho realizado em conjunto. Por mais genial que um pesquisador seja,
ninguém faz ciência sozinho. É necessário um constante diálogo não somente com a comunidade
científica, mas também com toda sociedade.

Para tomar decisões sobre temas centrais como saúde, meio ambiente e questões que abordem
qualidade de vida como um todo, a sociedade precisa de informações esclarecedoras. Os cientistas
são preciosas referências que detém credibilidade necessária para conter a desinformação, as
notícias falsas e os equívocos causadores de enormes prejuízos ao debate público. Apresentando
dados, estudos e novas estimativas, os cientistas influem diretamente em diversas decisões
governamentais.

Outra responsabilidade importante de quem faz ciência é saber partilhar seus conhecimentos com
seus colegas. Comunicar-se bem com outros pesquisadores é uma virtude que deve ser aprimorada
frequentemente. Um profissional que trabalha bem os aspectos da comunicação, sendo claro em
seus apontamentos, buscando então sempre o diálogo e a perene troca de experiências, torna-se
mais reconhecido em competência e atinge uma maior repercussão, o que pode resultar em
parcerias produtivas com outros cientistas e oportunidades de trabalho.

A rotina do fazer científico é repleta de incertezas. O constante diálogo entre profissionais também é
necessário para realizar averiguações dos resultados obtidos em novas experimentações e
pesquisas. Cabe ao profissional explicar aos colegas seus métodos de análise e coleta de dados
para que sejam avaliados e, quando necessário, replicá-los para que outros cientistas testem a

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validade dos experimentos e resultados.

O objetivo deste trabalho é introduzir aspectos da comunicação científica, uma interlocução


constante que você usará na sua trajetória tanto acadêmica quanto profissional. Neste curso
trabalharemos aspectos da Comunicação Científica entendendo-a como um processo de
transferência de conhecimento de informações científicas, que se destinam a comunidade
profissional (Bueno, 2010). Quando o público não necessariamente é iniciado na atividade científica,
trabalhamos com a perspectiva da Divulgação Científica, que definiremos como “a utilização de
recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações
científicas a um público leigo” (BUENO, 2009, p.162) e não será alvo deste livro.

Para um diálogo com colegas, é indicada a confecção de uma peça de comunicação científica e o uso de uma
linguagem mais técnica. Se o objetivo for iniciar uma conversa com uma audiência composta por um público
diverso, a divulgação científica e sua linguagem mais educativa deverá ser a ferramenta escolhida.

1.1 Ciência e conhecimento científico


Agora que já definimos o que é comunicação científica, tenha em vista que toda forma de
comunicação leva consigo uma mensagem a ser distribuída para um público que é determinado por
um interesse específico. A mensagem que trabalharemos neste curso é o conhecimento relativo à
ciência que, entendido sob a perspectiva de Lakatos e Marconi (2003), será definido como “um
conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido à verificação (p.75)."

O objetivo do conhecimento científico é a explicação, descrição e contextualização de fenômenos


naturais ou sociais. Ressaltamos que a ciência não é a única maneira de chegar-se à verdade e o
conhecimento científico também não é a única forma de conhecimento. Há outras esferas de
conhecimento que também são importantes e nos deram inestimáveis contribuições no que diz
respeito ao sentido de sociedade que conhecemos.

Lakatos e Marconi (2003) dividem o conhecimento em quatro categorias distintas, com


características e peculiaridades próprias. São eles:

Conhecimento popular: É o conhecimento que se baseia em experiências próprias de um sujeito


qualquer. Pode ser influenciado por valores culturais e distintos estados emocionais. Não existe uma
obrigação em saber como e em quais circunstâncias acontece o fenômeno, sendo o mesmo descrito
por meio de observações valorativas. A substância contida em suas informações pode ser falível.
Exemplo: um pescador que sabe pela experiência para qual sentido nadam os peixes em relação ao
rio ou a maré.

Conhecimento filosófico: É derivado da filosofia e busca uma reflexão crítica de elementos que
advém de experiências únicas, como o sentido da vida humana, das artes, da ética e da estética.
Apesar de basear-se na racionalidade, este conhecimento não pode ser confirmado ou refutado, uma
vez que não pode ser replicado como experimento em laboratório. Exemplo: uma reflexão crítica
sobre como a tecnologia interfere na noção de tempo dos trabalhadores.

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Conhecimento religioso: se dedica ao sagrado e ao sobrenatural, uma constante que varia
culturalmente. É galgado em dogmas, verdades universais que não podem ser questionadas,
bastando, então, o valor da fé para afirmá-las. Baseado em doutrinas, o conhecimento religioso é
intangível, isto é, advém de experimentações sensoriais e não de experiências laboratoriais.
Exemplo: Um mandamento da Bíblia.

Conhecimento científico: provém de sistematizações baseadas em análises experimentais que


pretendem a descrição das formas, causas e consequências dos fenômenos observados. Advém de
experimentos que podem ser replicados por outras pessoas, não se resigna às experiências
individuais e admite a falibilidade de seu conteúdo, que pode ser superado por outros conceitos e
paradigmas. Exemplo: a teoria da relatividade.

Tenha em mente que nenhum conhecimento é necessariamente excludente ao outro. Trabalhar com ciência
requer respeito a outros conhecimentos e outras verdades.

1.2 História da comunicação científica


Agora que sabemos o que é ciência, conhecimento científico e do se trata a comunicação científica,
abordaremos um pouco da rica história da transmissão das ideias relacionadas à ciência. Da pré-
história aos dias atuais, a evolução dos padrões de comunicação contribuiu consideravelmente para
diversas mudanças culturais. Desde a antiguidade, a humanidade vem desenvolvendo formas para
a difusão de conhecimento científico.

No começo, as primeiras transmissões de informações foram estabelecidas basicamente de forma


oral, algumas vezes auxiliada por registros ilustrativos, como desenhos. O surgimento da escrita, por
volta de 3.200 a. C, é o marco revolucionário que possibilitou um registro mais fiel do conhecimento
científico. A invenção de mídias como o pergaminho e o livro, ainda na antiguidade, também foram
importantes. O aparecimento de um sistema maquinário dedicado a impressão, em 1434, também é
outro marco que precisa ser explicitado, pois ocasionou a proliferação de cópias de livros e outros
veículos permitindo assim uma difusão mais ampla do trabalho científico

Estes são símbolos importantes relacionados à história da Comunicação Científica. Tenha em mente
que foi um longo processo histórico até estabelecermos os padrões atuais relacionados à divulgação
científica contemporânea. Até chegar ao padrão atual, a Comunicação Científica passou por quatro
momentos históricos distintos que situamos com suas respectivas características e marcos
cronológicos.

I – Pré-Antiguidade e Antiguidade (aproximadamente do séc. IV a. C até o séc. V d. C)

Período inicial em que foram estabelecidas as primeiras formas de transmissão de conhecimentos


através de desenhos e, posteriormente, com o surgimento da primeira forma de escrita, registrada
em peças de barro. A escrita cuneiforme, criada pelos Sumérios, um antigo povo que habitava uma
região entre os atuais Iraque e Kuwait, permitiu, entre outras coisas, registrar cálculos informações
diversas e referentes a assuntos como, por exemplo, as colheitas.

Ao decorrer do tempo, a escrita se provou ser um meio poderoso para a preservação do

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conhecimento. Posteriormente, os antigos egípcios também contribuíram para o início de uma
perspectiva de comunicação voltada para o registro de atividades culturais diversas, utilizando o
papiro como mídia e os hieróglifos como forma de escrita. Na antiguidade também surgiram as
primeiras classificações do meio ambiente, das plantas e dos animais, uma espécie de início dos
programas científicos registradas em documentos antigos.

A transmissão do conhecimento ganhou um grande impulso a partir do resplendor da civilização


grega, onde iniciou-se uma perspectiva mais ampla de educação com o surgimento de escolas que
foram desenvolvidas em torno de grandes pensadores, principalmente os filósofos. De uma maneira
geral, neste período não podemos afirmar que houve uma popularização do saber científico, pois a
disseminação do conhecimento e de técnicas diversas acontecia de forma lenta e eram voltadas a
uma pequena parcela da população das antigas civilizações.

II – Idade Média (séc. V até o XV)

Período histórico em que a ciência e, consequentemente a comunicação científica, foi subjugada à


religião e as pesquisas foram limitadas basicamente a cálculos astronômicos para formação de
calendários e a poucos comentários sobre alguns textos de origem greco-romana, principalmente
escritos filosóficos.

Além do controle religioso, a educação era voltada a membros especiais da nobreza e aos religiosos,
principalmente os monges, fator que dificultou a proliferação da ciência. A maior parcela da
população era iletrada e os livros e outros meios para comunicação científica eram bastante caros,
o que atrapalhou também consideravelmente o fluxo de informações.

No ocidente, a maior parcela dos escritos ficou sob a tutela de religiosos, que tinham a
responsabilidade de tradução, reprodução e vigilância dos conhecimentos que foram, muitas vezes,
distorcidos pelo não domínio de línguas antigas, como a grega, e de ciências, como a medicina.

A partir do contato com a cultura árabe, que aconteceu através de invasões realizadas na Península
Ibérica (territórios de Portugal e Espanha), ocorreu uma considerável evolução no conhecimento
científico ocidental, pois os árabes tinham maiores conhecimentos em áreas como a álgebra e as
ciências médicas. Um outro fator que contribuiu para o desenvolvimento da comunicação científica
ocidental, acontecido no final da Idade Média, foi a expansão urbana, que permitiu o aparecimento
de pequenas oficinas de copistas leigos. Neste período, a partir do domínio religioso, o latim se
estabeleceu como língua oficial dos registros de conhecimentos diversos e surgiram as primeiras
universidades na Europa, como a Universidade de Bolonha, no Sacro Império Germânico Romano
(atual Itália), Oxford, na Inglaterra, Sorbonne, na França e Coimbra, em Portugal;

III – Renascimento//Período Clássico

Do ponto de vista da história da comunicação científica, este período é marcado pela invenção do
maquinário para impressão, idealizado por Johannes Gutenberg, em 1434. Tal acontecimento
ocasionou uma revolução na comunicação, permitindo que mais livros fossem fabricados em menos
tempo, o que consequentemente proporcionou uma diminuição dos preços dos livros e uma maior
circulação do conhecimento.

Na Europa, surgem as primeiras editoras dedicadas à ciência e também ligadas às universidades,


como a Oxford University Press. Este fenômeno provocou, entre outras benesses, o surgimento
dos primeiros trabalhos científicos e técnicos destinados a estudantes e a ampliação do número de
novos autores.

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Um outro importante marco temporal situado neste período é a Revolução Científica, acontecida na
Europa, no Séc. XVII, lideradas por nomes como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Francis Bacon,
entre outros que estabeleceram paradigmas importantes que até hoje perduram como o método
científico.

As grandes navegações trouxeram novidades ao levarem para a Europa descrições de novas plantas
e animais, além de possibilidades de novos remédios. Há, também, o início de uma tímida
perspectiva de divulgação científica, pois as publicações passaram a ser consumidas também por
outros grupos além dos cientistas, como os comerciantes, banqueiros e marinheiros.

O Estado e a Igreja também usaram a tecnologia da impressão, mas como um meio de estabelecer
seu poder. Neste período, ambos proibiram a publicação de obras consideradas perturbadoras e
perseguiram importantes cientistas, como Galileu Galilei. Para burlar tais controles, cientistas
estabeleceram novos padrões e técnicas de comunicação científica, como as cartas científicas.

No final do período clássico, surgiram as primeiras associações científicas, sendo a primeira a Royal
Society of London, fundada em 1660, na Inglaterra. Posteriormente, tais instituições introduziram
um novo veículo de comunicação: as revistas científicas.

IV – Período Iluminista (séc. XVIII)

O período Iluminista é o grande marco histórico da comunicação científica contemporânea no


ocidente e tal fato aconteceu devido a inúmeros fatores. A difusão do conhecimento científico
aumentou consideravelmente graças ao avanço da alfabetização nas camadas mais populares e o
constante interesse de uma pequena burguesia interessada em ciência, cultura e artes.

Na França, os escritores Rond d'Alembert e Dennis Diderot idealizaram a enciclopédia, um grande


sistema figurativo do conhecimento humano que concentrou grande volume de conhecimento de
diversas áreas em diferentes volumes de livros, que constantemente eram atualizados.

Aos poucos, o latim foi substituído por línguas como o inglês e principalmente o francês, fator
preponderante para uma escalada relacionada ao interesse científico. Também emergiram as
primeiras publicações técnicas relacionadas principalmente às ciências médicas, naturais e
agronômicas. O ensino de ciências foi estabelecido como parte obrigatória do currículo acadêmico
em universidades, juntamente a uma popularização dos livros que se tornaram mais baratos e
diversificados em relação à linguagem e ao público.

Do ponto de vista da evolução metodológica, neste período foi implantada a obrigatoriedade da


exibição das referências bibliográficas nos trabalhos científicos e exigido um maior rigor na descrição
e precisão no que se refere à coleta de dados. As Academias Científicas se proliferam, provendo, a
partir da circulação de livros, revistas e encontros, um maior fluxo de conhecimento.

Pesquise trabalhos que se refiram a história da comunicação científica brasileira e suas características.

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Considerações Finais
Como movimento inicial, discutimos um pouco da importância da comunicação científica para a
sociedade. O domínio desta forma de comunicar é essencial para quem trabalha com ciência, pois
tal ferramenta é responsável pela disseminação do conhecimento científico, com todas suas
peculiaridades, entre os pesquisadores. Através de um olhar histórico observamos, através de alguns
marcos, que o processo de evolução da comunicação científica evolui de acordo com a forma como
a ciência é tratada pela sociedade.

→A palavra ciência advém do termo em latim scientia, que em seu sentido literal significa conhecimento.
→ A prática da atividade científica, em todos os seus aspectos, é um trabalho realizado em conjunto.
→ Se comunicar bem com outros pesquisadores é uma virtude que deve ser aprimorada frequentemente.
→ A comunicação científica é um processo de transferência de conhecimento de informações científicas, que
se destinam a comunidade profissional (BUENO, 2010, p.2)
→ A divulgação científica é um processo de transferência de conhecimento de informações científicas, que se
destina a comunidade de uma forma (Bueno, 2009).
→ O objeto da comunicação científica e da divulgação científica é a disseminação do conhecimento científico.
→ O objetivo do conhecimento científico é a explicação, descrição e a contextualização de fenômenos naturais
ou sociais.
→ A ciência não é a única forma de se chegar à verdade e o conhecimento científico também não é a única
forma de conhecimento. Há outras esferas de conhecimento que também são importantes e que nos deram
inestimáveis contribuições no que diz respeito ao sentido de sociedade que conhecemos.
→ O conhecimento científico advém de experimentos que podem ser replicados por outras pessoas, não se
resigna às experiências individuais e admite a falibilidade de seu conteúdo, que pode ser superado por outros
conceitos e paradigmas. Exemplo: a teoria da relatividade.

O combustível da ciência não é a certeza, mas sim as dúvidas.

Conheça a revista eletrônica ComCiência, editada pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da
Universidade Estadual de Campinas (LABJOR – UNICAMP), um dos mais importantes e premiados veículos
universitários de divulgação científica no Brasil.

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Disponível em: https://www.comciencia.br/. Acesso em 13 abr. 2021

É uma característica do conhecimento científico:


a) A refutação dos conhecimentos populares e relacionados à religião.
b) Trabalhar em parceria com a filosofia em busca de uma verdade plena.
c) A mercantilização do seu conteúdo para o lucro do movimento científico.
d) A afirmação de uma infalibilidade relacionada a suas proposições.
e) A descrição e sistematização das formas, causas e consequências de fenômenos naturais ou sociais.
Comentário: A – O conhecimento científico não se preocupa necessariamente em refutar outros
conhecimentos. Muitas vezes pode até validá-los. B – O conhecimento científico não se origina da filosofia,
embora o fazer científico seja um dos objetos de reflexão da filosofia. C – Embora possa ser mercantilizado,
não é característica do conhecimento científico a sua vinculação com o capitalismo. D – Pelo contrário, o
conhecimento científico admite sua falibilidade e constantemente é atualizado.
Resposta E

1- A Comunicação Científica se dedica a:


a) Proceder maneiras para distribuir mensagens de ciência para um público leigo.
b) Se resume à elaboração de conteúdos científicos para tomadores de decisão.
c) Ser uma conversa formal com uma audiência composta por um público diverso.
d) Erradicar peças de fake news distribuídas através da internet, o que não pode ser realizado pela
divulgação científica.
e) Estabelecer maneiras para a transferência de conhecimento de informações científicas
que se destinam a comunidade profissional.

2- Para você, qual é a importância de comunicar ciência entre os profissionais e de divulgar ciência para um
público leigo? Justifique a resposta utilizando exemplos do cotidiano.

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Para saber um pouco mais sobre a importância da ciência para a sociedade, leia: O mundo assombrado
pelos demônios: a ciência como uma vela no escuro, do astrônomo Carl Sagan, publicado pela editora
Cia das Letras. Através de uma linguagem simples e exemplos do cotidiano, Sagan aponta os motivos pelos
quais devemos criar uma cultura científica perene.

Resposta:
1 – Alternativa E

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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 - CLASSIFICAÇÕES DA COMUNICAÇÃO
CIENTÍFICA
Ao término deste capítulo, você deverá saber:

✓ A importância das classificações relacionadas à comunicação científica ;

✓ A classificação relacionada às fontes

✓ A classificação referente aos canais de comunicações

✓ A classificação voltada à linguagem

✓ Os principais tipos de comunicações científicas orais

✓ Os principais tipos de comunicações científicas escritas

Introdução
Classificar significa, primeiramente, separar os conteúdos para, em segunda instância, observar
características semelhantes e, por último, uni-los em suas respectivas classes. A importância do
exercício de classificação está presente na organização de assuntos e temas, sobretudo na ciência,
que separa os conteúdos em “caixinhas” diversas, ajudando bastante na otimização da pesquisa. É
em torno da discussão desta temática que discutiremos este segundo capítulo. No geral,
classificamos porque cada situação específica exige um certo tipo de comportamento comunicativo.

Para escolher a comunicação científica adequada, sempre observe algumas nuances em relação ao
público. Por exemplo, se a comunicação relacionada a seu experimento for de extrema importância
e trouxer alguma novidade, você deverá priorizar tipos de comunicação impessoais (não
endereçadas a alguém) e que sejam mais fáceis de compartilhar em grupo, como artigos e papers.
Se a pretensão for uma comunicação rápida para um grupo de colegas, as palestras são mais
indicadas.

Quanto à linguagem, com exceção de raríssimos experimentos que se valem da imagem e outros
recursos não usuais, a comunicação científica utiliza preponderantemente a linguagem verbal. Isto
quer dizer que a palavra, tanto escrita quanto falada, será o seu pilar para a transmissão dos
conhecimentos científicos, o que não significa afirmar que ilustrações, gráficos e mapas, por
exemplo, não sejam bem-vindos para ações complementares.

Basicamente, ao longo de toda sua trajetória científica e acadêmica, você utilizará a fala ou a escrita
para disseminar conhecimento. Há profissionais que são naturalmente melhores oradores do que
escritores e vice-versa, mas tenha em mente que ambas as modalidades podem ser melhoradas
através de exercícios e experiências acumuladas. O domínio da linguagem verbal para fins científicos
requer bastante atenção, pois a língua é repleta de armadilhas que proporcionam desafios
constantes para os cientistas. Uma palavra mal colocada ou um termo fora do contexto podem gerar
interpretações equivocadas. A comunicação é um jogo em que o produtor de mensagem deve fazer
tudo que for possível para que o conteúdo seja transmitido de forma cristalina, evitando-se, assim,
equívocos de interpretação.

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Neste capítulo abordaremos as principais classificações relacionadas às comunicações científicas,
explicando suas características e apontando as situações mais indicadas para utilizá-las. Existem
diferenças consideráveis em respeito à forma e conteúdo. Por este motivo, foi necessário criar
diferentes classificações para as comunicações científicas.

2.1 – Classificação relacionada às fontes


A pesquisa é uma comunicação científica primordial para a disseminação de conteúdo científico entre
pares. Tenha em mente que pesquisar é trabalho essencial do cientista, que sempre buscará por
elementos em documentos, registros e fontes de informação diversas. Desta maneira, a primeira
classificação da comunicação científica diz respeito às fontes de informação utilizadas para a
construção do conteúdo da comunicação em questão.

As comunicações científicas, no que diz respeito às fontes de informação, são então classificadas
em três grupos distintos:

Comunicação científica baseada em fontes primárias: apresenta informações novas em relação


ao estado da ciência, bem como novas interpretações, teorias e paradigmas. Exemplo: teses de
doutorado.

Comunicação científica baseada em fontes secundárias: apresenta informações já discutidas


noutros momentos e tem como funções o arranjo, organização, discussão crítica e retomada de
teorias, questões, conceitos e ideias já levantadas anteriormente. Exemplo: resenhas científicas.

Comunicação científica baseada em fontes terciárias: apresenta-se como guia para a seleção de
outras comunicações científicas. Não tem como objetivo a apresentação, formulação, discussão ou
retomada de conceitos, pois seu caráter é, sobretudo, organizacional. Exemplo: bibliografias.

2.2 – Classificação referente aos canais de comunicações


O formato em que é desenvolvida a comunicação científica é fator para outra importante
classificação: a classificação referente aos canais de comunicação. Tal referência aponta para
quesitos ligados às características gerais da audiência para a qual está sendo desenvolvido o
trabalho.

É uma comunicação entre dois cientistas apenas? A mensagem é sobre uma pesquisa que está em
andamento? A pesquisa relata informações novas e de interesse de uma grande parte da
comunidade científica? Todas estas questões são chaves para a escolha entre comunicações
formais e informais.

A classificação referente aos canais de comunicações é dividida em:

Comunicações de canais formais: têm como característica serem elaboradas para uma circulação
perene. São de caráter impessoal, isto é, não são endereçadas especificamente a alguém. Exemplo:
artigos científicos e papers.

Comunicações de canais informais: têm como característica serem elaboradas para uma
circulação temporária. Podem ser utilizadas em caráter pessoal e atingem uma quantidade restrita
de pessoas. Exemplos: cartas científicas e palestras

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As comunicações científicas formais abrangem circulação de conhecimento para um público-alvo maior e que
geralmente não podem interagir com o comunicador. As comunicações científicas informais circulam
conhecimento para um público restrito que geralmente pode interagir com o interlocutor.

A maior parte das pessoas não é formada por oradores naturais. É normal que, em suas primeiras
apresentações, questões como o nervosismo, por exemplo, atrapalhem o andamento de seu seminário ou
palestra. Sempre que puder, exercite a comunicação oral, pois experiências acumuladas o farão evoluir como
orador. Além disso, a participação em eventos que trabalham com comunicação oral é um diferencial
substancial para o seu currículo acadêmico.

2.3 – Classificações voltadas à linguagem


Começamos o capítulo afirmando que a linguagem verbal é a principal característica da comunicação
científica, pois a palavra é o pilar em que se desenvolve a veiculação de conhecimento científico.
Desta forma, a última e mais importante classificação se refere à forma em que são registradas as
palavras.

As comunicações científicas são classificadas em:

Orais: utilizam-se da palavra falada como principal meio para circulação de conteúdo. Exemplos:
Seminários, palestras e conferências.

Escritas: utilizam-se da palavra escrita como principal meio para circulação de conteúdo. Exemplos:
artigos, relatórios e papers.

Os principais tipos de comunicações científicas orais são:

Seminários: comunicações orais geralmente utilizadas para a disseminação de informações entre


pequenos grupos de pesquisadores, que apresentam temas de maneira informal e, posteriormente,
abrem espaço para discussões relacionadas à apresentação.

Palestras: comunicações orais dedicadas à apresentação de algum tema num período de tempo
curto e de maneira informal. A critério do palestrante, podem ou não ter espaço para perguntas
geralmente apresentadas no final da sessão.

Conferências: comunicações orais geridas por pesquisadores que são referências em suas áreas
de estudo, que disseminam informações específicas para um determinado público. A critério do
conferencista, podem ou não ter espaço para perguntas geralmente apresentadas no final da sessão.

Os principais tipos de comunicações científicas escritas são:

Cartas científicas: comunicações científicas informais, destinadas à troca de informações pessoais

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relacionadas à pesquisa entre dois pesquisadores. Cada vez menos utilizada, tal modalidade tem
sido substituída pelos e-mails que podem, inclusive, ser endereçados a mais de um remetente.

Relatórios de pesquisa: comunicações escritas geralmente formais, realizadas para explicar como
foram coletados e analisados os dados colhidos para a pesquisa. Podem ter um resumo dos
resultados momentâneos obtidos nos experimentos.

Artigos científicos: comunicações científicas formais, realizadas em espaços limitados para


publicação, que objetivam a análise de um problema científico determinado e a apresentação dos
resultados obtidos por meio dos experimentos realizados para a solução das questões apresentadas.
Geralmente, são utilizados para apresentação de descobertas científicas e publicados em revistas
científicas.

Papers: espécies de artigos científicos mais sucintos, utilizados geralmente como forma de avaliação
para aceitação de trabalhos em congressos e eventos científicos.

Posters: tipo de comunicação utilizada como suporte, unindo conteúdo verbal com ilustrações,
tabelas e gráficos para apresentações orais sucintas de artigos e trabalhos de conclusão de curso
em eventos científicos.

A comunicação científica, diferente da divulgação científica, é voltada à comunidade de especialistas. Seu


público é iniciado em pesquisa científica. Ser muito didático nas explicações pode fazer com que você perca
um precioso tempo para o desenvolvimento de sua apresentação oral ou estender desnecessariamente sua
comunicação escrita.

2.4 Cuidados referentes à utilização da comunicação científica oral


Por serem mais populares, enfatizaremos as comunicações científicas escritas ao decorrer deste
curso. Entretanto, abordaremos a seguir alguns cuidados relativos a apresentações orais, pois elas
também têm importância para a disseminação do conhecimento. Cada vez mais é necessário que o
cientista, além de saber escrever de forma concisa, seja um orador capaz de lidar com diferentes
públicos. Leve em consideração também que novos meios, como o YouTube, ampliaram as
possibilidades em relação ao alcance das apresentações orais, por isso é tão necessário atualmente
trabalhar, também, de maneira assertiva com a fala.

Em apresentações orais, tenha muito cuidado ao apresentar posições pessoais. Utilizamos a


comunicação da ciência para disseminar conhecimentos e não pensamentos abstratos ou
posicionamentos pessoais, que pouco têm a ver com o tema debatido. Numa apresentação oral,
procuramos divulgar a realidade dos fatos científicos e não impor a construção da realidade pessoal
do orador. Tenha como meta buscar maneiras para que o conteúdo não seja influenciado pela sua
subjetividade, pois tal ação é capaz de distorcer a interpretação do conteúdo apresentado.

Quando a palavra falada é o instrumento da disseminação de conhecimento, a comunicação absorve


aspectos importantes. A comunicação oral possibilita uma relação mais próxima ao público, pois
basicamente é uma interlocução informal em que o apresentador estabelece apontamentos de
maneira célere e concisa para pessoas que escutam, observam sua expressão corporal e podem

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expressar suas dúvidas durante ou ao final da apresentação. Tenha em mente que é desejável
manter uma comunicação com a sua audiência para criar empatia. Gestos corporais muito acintosos
devem ser evitados, pois podem desvirtuar a atenção.

Se for possível, prepare elementos audiovisuais complementares à sua exposição, mas tenha em
mente que slides, ilustrações, gráficos, mapas, filmagens e outros apontamentos não devem ser os
elementos principais de sua apresentação. As pessoas se deslocam para acompanhar uma
comunicação oral com o intuito de assistir à apresentação de um especialista ou alguém que se
propõe a trazer informações sobre determinado tema e não para acompanhar uma sucessão de
realizações técnicas audiovisuais. Pense sempre também na possibilidade de acontecer algo no local
que seja impeditivo de expor os elementos complementares. Imprevistos acontecem e você precisa
estar preparado para prosseguir

Trabalhe para que a velocidade da explicação permita que o público tenha o tempo suficiente para
decodificar as informações. Explicações muito rápidas podem estabelecer problemas de
entendimento ao público e explanações muito morosas podem fazer com que os presentes percam
o interesse pela sua fala. Pense sempre que, apesar de você estar no centro das atenções naquele
momento, a comunicação científica oral não é um monólogo. É necessária uma adequação
relacionada a aspectos como velocidade e tom de voz.

Principalmente se for um orador com pouca experiência, estabeleça anteriormente uma linha
temporal para a apresentação dos tópicos que serão comunicados em sua palestra ou seminário. É
normal, principalmente ao início das declarações, sentirmos um pouco de nervosismo e tal
sentimento atrapalhar a apresentação. Por este motivo, é desejável que você tenha em mente um
roteiro prévio do que vai comunicar, pois tal elemento deve reforçar sua segurança na fala e ajudar
caso o nervosismo atrapalhe o andamento da sua apresentação.

Molde o conteúdo ao tempo que você terá disponível para sua comunicação oral. Os horários
programados devem ser rigorosamente respeitados e o conteúdo adaptado ao espaço concedido,
sem perder qualidade e clareza.

Considerações Finais
O objetivo deste capítulo foi apresentar, a partir das diferentes classificações de comunicação
exibidas, que não há um único caminho para a comunicação científica. Antes de escolher qualquer
abordagem, cabe uma reflexão sobre o que você pretende com tal ação e um olhar atento para as
pessoas que fazem parte de sua audiência. Qualidades como empatia e singularidade são sempre
bem-vindas, mas a essência da comunicação científica é ter um conteúdo perene para ser
disseminado.

A partir de um sereno domínio do conhecimento que você pretende abordar, tudo ficará mais fácil.
Lembre-se: ainda que você seja um bom escritor ou orador, seu público conhece o tema e você não
poderá enganá-lo por muito tempo.

→ Classificar significa primeiramente separar os conteúdos para, em segunda instância, observar suas
características semelhantes. Por último, devemos uni-los em suas respectivas classes. Classificamos porque

17
cada situação específica exige um certo tipo de comportamento comunicativo.
→ A comunicação científica utiliza preponderantemente a linguagem verbal. Isto quer dizer que a palavra, tanto
escrita quanto falada, será o seu pilar para a transmissão dos conhecimentos científicos.
→ As comunicações científicas, no que diz respeito às fontes de informação, são classificadas em três grupos
distintos: I – Comunicações científicas baseadas em fontes primárias; II – Comunicações científicas
secundárias; III – Comunicações científicas baseadas em fontes terciárias.
→ Comunicações científicas baseadas em fontes primárias: apresentam informações novas em relação ao
estado da ciência, bem como novas interpretações, teorias e paradigmas.
→ Comunicações científicas baseadas em fontes secundárias: apresentam informações já discutidas noutros
momentos e têm como funções o arranjo, organização, discussão crítica e retomada de teorias, questões,
conceitos e ideias já levantadas anteriormente.
→ Comunicações científicas baseadas em fontes terciárias: apresentam-se como guias para a seleção de
outras comunicações científicas; não têm como objetivo a apresentação, formulação, discussão ou retomada
de conceitos, pois seu caráter é, sobretudo, organizacional.
→ Quanto aos canais de informação, as comunicações científicas são classificadas em: Comunicações de
Canais Formais e Comunicações de Canais Informais.
→ Comunicações de Canais Formais: têm como característica o fato de serem elaboradas para uma circulação
perene. São de caráter impessoal, isto é, não são endereçadas especificamente a alguém. Exemplo: artigos
científicos e papers.
→ Comunicações de Canais Informais: têm como característica o fato de serem elaboradas para uma
circulação temporária. Podem ser utilizadas em caráter pessoal e atingem uma quantidade restrita de pessoas.
Exemplos: cartas científicas e palestras.
→ As comunicações científicas também são classificadas em orais e escritas.

Realize uma pesquisa sobre outros tipos de comunicações científicas escritas e orais, escolha uma, e na aula
seguinte, apresente para turma a presente definição.

Conheça o portal Blogs de Ciência administrado pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. A
iniciativa de comunicação e divulgação científica reúne textos de cientistas de diversas áreas do conhecimento
científico. https://www.blogs.unicamp.br/.

18
I – O elemento em que se estabelece a comunicação científica é a palavra. É a partir dela que podemos iniciar
estabelecer uma interlocução com os nossos pares. Quanto a comunicação científica e o uso das palavras,
não podemos afirmar que:
a) O domínio da língua é uma questão importante para a comunicação científica.
b) A linguagem verbal é primordial para a comunicação científica.
c) Uma palestra não pode ser considerada uma comunicação científica séria se não for gravada ou não tiver
registro de seu conteúdo escrito.
d) Devemos ter zelo na construção de ideias e evitar termos escusos na elaboração da nossa comunicação
científica.
e) É possível considerar um programa veiculado num canal do YouTube como uma efetiva comunicação
científica.
Comentários
A – Para a comunicação científica, o domínio da língua é essencial, uma vez que a disseminação é realizada
por palavras, que compõem orações e discursos. B – Linguagem Verbal é aquela composta por palavras, logo,
é primordial para a comunicação científica. C – Uma palestra é uma comunicação científica independente de
ser registrada em vídeo ou de forma escrita. Sua disseminação científica se estabelece através da fala. D –
Ser prolixo ou usar termos dúbios atrapalham a compreensão da mensagem. E – Geralmente utilizado como
divulgação científica, um canal do YouTube pode ser considerado uma comunicação científica, desde que suas
mensagens sejam voltadas à comunidade científica
Resposta C

1- – Assinale a comunicação científica que pode ser classificada como escrita, baseada em pesquisas de
fontes primárias e de canal informal.
a) Artigo
b) Paper
c) Carta Científica
d) Seminário
e) Tese de doutorado

2- Os seminários são geralmente classificados em qual tipo de comunicação relacionada às fontes? Explique
sua escolha.

19
Se possível, leia o livro: Como redigir e apresentar um trabalho científico, do economista brasileiro Cláudio
Moura de Castro, publicado pela editora Pearson. Esta é uma obra brasileira com importantes informações
sobre como escolher a comunicação científica mais precisa e como realizá-la.

Respostas:

1- Alternativa C
2- Geralmente, fazemos seminários sobre temáticas já discutidas pela ciência e moldamos nossa
apresentação a partir de outros trabalhos, sendo, desta forma, uma comunicação de canal secundário.

20
UNIDADE I
CAPÍTULO 3 - PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ O que são os veículos de comunicação científica

✓ A definição e as características dos periódicos científicos

✓ Sobre importância das revistas científicas como veículo de comunicação

✓ O que é o ISSN

✓ Sobre a relevância dos indexadores para a circulação de periódicos

✓ A respeito do significado do Sistema de avaliação dos periódicos científicos – Qualis e o valor


de suas atribuições

É por meio da publicação do conhecimento que a ciência evolui. Nunca guarde um conhecimento científico.
Sempre que puder, dissemine-o!

Introdução
O que vem à sua mente quando falamos em veículos de comunicação? É provável que pense em
canais de televisão, estações de rádio, portais de internet ou mesmo em jornais, não é mesmo? Sob
uma perspectiva teórica, definiremos veículos de comunicação como centros midiáticos que
organizam a circulação de informações através de escolhas determinadas por questões editoriais
diversas.

Todos os exemplos que citamos são veículos de comunicação. Eles trabalham com a perspectiva de
circulação de informação, mas não qualquer informação. Há uma lógica própria que varia caso a
caso e determina as informações publicadas. Os veículos de comunicação televisivos, por exemplo,
tendem a priorizar informações que, de alguma maneira, valorizem a questão da imagem, pois ela é
o seu principal atrativo. Já as estações de rádios tendem a dar ênfase à programação musical e a
informalidade na interação com o público.

Além dos veículos tradicionais, também existem os veículos dedicados à comunicação científica.
Igualmente munidos por uma lógica editorial, num primeiro momento os veículos de comunicação
científicos agregam uma certa quantidade de informações, selecionam algumas por questões
editoriais para, depois, por diversos meios, fazê-las circular entre a comunidade de pesquisadores,
universidades e centros de pesquisa.

É através dos veículos de comunicação que a informação científica especializada ganha repercussão
no mundo acadêmico. Um artigo brasileiro sobre uma espécie nova de uma ave amazônica recém-
encontrada, por exemplo, pode ser estudado por um pesquisador europeu quando a informação é

21
publicada por uma revista especializada em biologia. Cada vez mais torna-se função dos veículos
de comunicação não somente publicizar a ciência como também globalizá-la, expandindo as
descobertas em relação aos limites geográficos.

Neste capítulo nós abordaremos os periódicos científicos, definiremos os principais e trataremos de


sua importância para a comunidade. Trataremos de questões como o ISSN e os indexadores, que
têm, entre outras funções, a catalogação para que os registros sejam facilitados em meio à
quantidade enorme de informação que nos circunda. Abordaremos, também, a classificação Qualis,
o registro de avaliações das revistas científicas nacionais. Por último, discutiremos alguns dos
cuidados essenciais que devemos ter ao enviarmos um trabalho para ser avaliado.

Faça uma pesquisa sobre do que se trata a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e sua
importância para os trabalhos acadêmicos em geral

3.1 Periódicos científicos


Segundo definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 6023/2002), um
periódico científico é “um tipo de publicação seriada, que se apresenta sob a forma de revista,
boletim, anuário, etc. editada em fascículos com designação numérica e/ou cronológica, em
intervalos pré-fixados (periodicidade), por tempo indeterminado” (p. 2). Noutras palavras, um
periódico científico é um veículo de comunicação que reúne textos científicos, em períodos
preestabelecidos de forma fixa e contínua, com objetivo de disseminar conhecimento para a
comunidade especializada.

Como característica, os periódicos científicos geralmente recebem uma espécie de identificação


própria conhecida como ISSN (International Standard Serial Number, traduzida em língua
portuguesa para Número de Série Padrão Internacional), um código válido em todo o mundo, que
tem como finalidade a individualização das obras, identificando-as por tipo de publicação, editora
responsável, país, ciência abordada, temática, e número de edição. O ISSN é intransferível e deve
constar em cada edição de revistas, boletins, anuários e outros periódicos. Embora não seja
obrigatório, o ISSN é um parâmetro importante que atesta a qualidade presente nos periódicos
científicos.

Quantos aos periódicos científicos, eles historicamente são considerados um marco no que se refere
à profissionalização da ciência. Como abordamos no primeiro capítulo, ainda no século XVI, as
revistas foram os primeiros veículos editados para comunicação específica da comunidade científica,
tornando assim possível um maior fluxo de informações em um mundo que ainda se encontrava com
resquícios da desconfiança geral relacionada ao fazer científico, característica da idade média.

Mais de três séculos após a publicação da primeira revista científica, uma boa parte do acervo dos
periódicos agora está hospedado na internet. Porém, os veículos impressos ainda são muito
importantes, sobretudo em países com problemas em relação a velocidade de transmissão de dados,
mas a tendência é que, num futuro próximo, todos os veículos sejam alocados completamente em
plataformas digitais.

22
É inegável a importância dos periódicos científicos para toda a sociedade porque, de acordo com
Miranda e Pereira (1996) tais meios “cumprem funções de registro oficial público da informação
mediante a reconstituição de um sistema de editor-avaliador e de um arquivo público – fonte para o
saber científico” (p. 376). Em outras palavras, os periódicos científicos disseminam conhecimento a
um público irrestrito, sob a responsabilidade de, primeiramente, avaliá-lo em relação a forma e
principalmente conteúdo. Todo periódico possui normas técnicas para publicação e um grupo de
especialistas que assumem o papel de editores, avaliando as comunicações científicas a partir de
critérios de relevância para, posteriormente, decidir se a informação merece ser realmente publicada.

Em tempos de publicações de constantes especulações, fake news e artigos pseudocientíficos que


surgem principalmente na internet, a publicação de um conteúdo em um periódico científico é uma
garantia considerável e importante sobre o proceder de determinado conteúdo. Significa que existiu
um processo muito importante de análise e revisão realizada por especialistas acerca daquela
informação específica publicada.

As revistas científicas surgiram durante o período histórico do Renascimento Europeu no séc. XVII.

3.2 Principais tipos de periódicos científicos


São três os tipos de periódicos científicos mais populares entre a comunidade acadêmica: boletins
científicos, anuários científicos e as revistas científicas. Seguem abaixo as definições de tais
periódicos, tal qual sua importância enquanto função de registro.

Boletins Científicos: são periódicos, em forma de publicação digital ou impressa, que agrupam
comunicações científicas realizadas por profissionais que compõem universidades, centros de
pesquisa e instituições públicas ou privadas. Geralmente, são limitados em aspectos autorais, ou
seja, para poder publicar um estudo ou outra informação, o autor deve fazer parte do quadro de
pesquisadores, alunos ou funcionários da instituição. A determinada pesquisa deve, ainda, promover,
de alguma forma, interesses da agremiação científica.

Anuários Científicos: são periódicos que reúnem, em forma de publicação digital ou impressa, os
principais estudos apresentados principalmente em eventos e encontros anuais de disseminação
científica. Algumas agremiações científicas também publicam anuários informando o resultado de
seus principais estudos para a comunidade.

Revistas Científicas: são periódicos, em forma de publicação digital ou impressa, abertos à


contribuição de especialistas dedicados à disseminação do conhecimento científico, à publicação de
resultados de pesquisas e à análise crítica de conceitos, experimentações e técnicas. As revistas
científicas são o principal veículo de comunicação científica em termos de popularidade e
respeitabilidade na maioria dos países.

Quanto a acessibilidade às revistas científicas, elas são classificadas em:

Revistas científicas de acesso aberto: Também conhecidas como Open Access (OP), são
periódicos que disponibilizam, gratuitamente, à comunidade, todo o conteúdo publicado. Geralmente,
tem como editoras as universidades e centros de pesquisa.

23
Revistas científicas de acesso restrito: São periódicos que disponibilizam seu conteúdo por meio
de pagamento de assinaturas ou números avulsos. Na maioria das vezes, as editoras são empresas
globais focadas na disseminação científica como modelo de negócio.

Normalmente, em seu conteúdo, uma revista científica, de acesso aberto ou restrito, é composta por
artigos revisados por cientistas renomados, em suas respectivas áreas, que observam questões
importantes, como a validade dos resultados obtidos, a metodologia aplicada, a respeitabilidade às
questões éticas em experimentações e as citações corretas a trabalhos anteriores. A resenha crítica
também é um gênero comum a este tipo de publicação e algumas revistas têm uma seção destinada
a notícias.

3.3 Indexadores e periódicos científicos


Indexação é uma ação para catalogação, que classifica os periódicos em assuntos diversos,
inserindo-os em bases de dados nacionais e internacionais. No que refere às revistas, boletins e
periódicos, os indexadores têm a importante função de organizar os periódicos em coleções
sintetizadas por assunto, oferecendo à comunidade científica a possibilidade de uma pesquisa mais
rápida e precisa, relacionada tanto a veículos de comunicação quanto aos vários tipos de
comunicação científica, influenciando diretamente numa maior publicidade dos periódicos.

Os indexadores mais utilizados pela comunidade científica brasileira são: SciELO (nacional), Web of
Science e SCOPUS (internacional). Cada indexador trabalha com critérios próprios para a
catalogação das ciências, a sistematização dos conteúdos abordados e a avaliação das revistas
indexadas. Os editores dos veículos científicos devem ter conhecimento dos critérios e moldar a
publicação a fim de conseguir atendê-los. Assim como o ISSN, a presença nos principais indexadores
não é obrigatória, mas adjetiva credibilidade aos veículos científicos.

Observação: O ISSN não é indexador.

3.4 Sistema de avaliação dos periódicos científicos – Qualis


O Brasil possui um sistema de avaliação próprio para atestar a qualidade e o padrão dos periódicos
científicos. Organizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), uma fundação mantida pelo Ministério da Educação para prover a melhoria da pós-
graduação nacional, a Qualis é uma classificação realizada por especialistas que atribuem notas de
acordo com critérios específicos e gerais atualizados anualmente pela Capes.

O fator de impacto, métrica utilizada para medir as citações das revistas e outros veículos, é um dos
principais quesitos de avaliação dos periódicos científicos. As notas variam entre A1 (a pontuação
máxima obtida por uma publicação) até C (possui influência irrelevante para a comunidade científica).
Seguem abaixo os níveis de relevância das ‘Avaliações Qualis’ para a comunidade científica.

A1 e A2: considerados os melhores periódicos e os que seguem os melhores padrões de


respeitabilidade e repercussão internacional

B1 e B2: periódicos bem avaliados e de grande repercussão nacional.

B3, B4 e B5: Periódicos importantes, mas seu conteúdo é de média repercussão para a comunidade
científica nacional.

C: classificação utilizada para os periódicos que não atingiram os padrões mínimos referentes ao
rigor científico em suas publicações. Não possuem repercussões para a comunidade científica, mas
podem servir como experiência para pesquisadores iniciantes.

24
As notas não são definitivas, pois as avaliações dos periódicos mudam constantemente. É comum
que uma revista nova, por exemplo, receba notas mais baixas, porém vá melhorando gradualmente
a sua avaliação. Sem dúvidas, a avaliação Qualis é um grande indicativo no que diz respeito a
qualidade da publicação, mas, quando você, aluno (a), for procurar uma revista, tente entender que
a Qualis não é o único parâmetro para a decisão referente à escolha mais adequada para o envio do
seu trabalho. Converse sempre com professores e pesquisadores mais experientes a respeito dos
seus propósitos relacionados à publicação.

Observação: o sistema de avaliação Qualis não é indexador.

Por questão relacionada à ética, se o seu trabalho foi realizado em conjunto com outros colegas, só envie para
possível publicação com autorização de todas as pessoas envolvidas.

Confira a plataforma Sucupira, o catálogo completo da Capes que reúne as notas de todos os periódicos
científicos das áreas analisadas pelos especialistas da instituição. sucupira.capes.gov.br.

3.5 Cuidados ao enviar um trabalho para publicação


Em uma boa parcela das situações, os periódicos científicos exigem algumas taxas para a avaliação
e, posteriormente, a publicação do conteúdo. Portanto, tenha ponderação ao enviar artigos para
publicação. Lembre-se também que o seu trabalho está em avaliação por cientistas e pesquisadores
com mais experiência, que já passaram por diversas situações relacionadas à comunicação
científica. Submeta um trabalho para publicação apenas se, realmente, a pesquisa foi levada muito
a sério, pois, de certa forma, o seu nome também está sendo avaliado junto à pesquisa.

Abaixo, citamos alguns cuidados para o envio de trabalho a revistas e outros periódicos.

Escolha um periódico de acordo com o perfil do seu currículo: para os iniciantes, a não ser que
seu trabalho seja revolucionário, as revistas do grupo de avaliação A1, A2, B1 e B2 dificilmente
publicarão o seu trabalho, pois a concorrência para publicação nesses periódicos é muito grande e
o currículo é um dos critérios para avaliação dos candidatos a contribuição. Além disso, escrever
bons artigos é uma técnica que os cientistas vão aprimorando com muita experiência adquirida. É
muito comum que pesquisadores iniciantes não tenham o refinamento necessário em relação à
escrita para publicação em revistas mais renomadas.

Leve em consideração a questão da novidade: os periódicos científicos são utilizados pela


comunidade para saber questões novas referentes a determinada ciência. A não ser que seja um
trabalho específico solicitado previamente, nenhuma revista publicará um conteúdo já muito
abordado e conhecido pela comunidade científica.

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Observe padrões exigidos para publicação: é bem comum que textos sejam rejeitados, inclusive
bons artigos, por não seguirem os padrões exigidos, no que se refere à escrita, pelas editoras,
universidades ou centros de pesquisa. Leia com extrema atenção as exigências publicadas pelos
editores e molde o seu trabalho para satisfazê-las.

Observe a temática da publicação em questão: por mais genial que um trabalho de Fisioterapia
seja, ele não será publicado em uma revista dedicada aos estudos de Farmácia. Entendemos que
existem estudos multidisciplinares, mas, verifique sempre a predominância do tema abordado ao
enviar o artigo

Certifique-se de que seu trabalho se adequa à língua do periódico em questão: faça sempre
uma revisão ortográfica e gramatical minuciosa do trabalho a ser enviado ou contrate um profissional
para fazê-lo. Ao enviar o texto numa língua não nativa, aumente os cuidados em relação à revisão
textual.

Procure sempre parcerias para a elaboração da escrita: ninguém faz ciência sozinho, lembra?
Parcerias o ajudarão bastante, principalmente com professores e pesquisadores mais experientes,
pois além de terem mais domínio na escrita, tais profissionais podem acompanhar experimentações
orientando quanto a possíveis erros metodológicos.

Receber um não de uma revista faz parte do jogo: se você levou a sério a produção do seu artigo
científico e mesmo assim recebeu um não da publicação selecionada, tenha calma. A negativa é
bastante presente na atividade científica como um todo. Não é uma afirmação que seu trabalho é
ruim ou algo do gênero. Procure um pesquisador mais experiente para constatar possíveis falhas.
Se não for constatado nada, é provável que naquele momento a publicação tenha recebido trabalhos
mais impactantes. Faça ajustes e procure um outro periódico apropriado ao seu trabalho.

Considerações Finais
Ter um trabalho publicado num veículo de comunicação, além de ser muito importante, é muito
satisfatório, pois é um atestado de qualidade para a sua pesquisa. Num bom periódico científico, não
só os textos, mas também a abordagem teórica, a metodologia e os resultados das experimentações
são revisados por especialistas, o que garante a relevância do estudo.

As publicações são importantes também para expansão das fronteiras do conhecimento. Um


experimento ou um novo olhar crítico seu, publicado aqui no Brasil, pode ajudar um pesquisador da
Romênia a complementar um estudo de mestrado. Sempre que iniciar novos experimentos,
metodologias ou mesmo reflexões, tenha como objetivo a ideia de publicá-las em veículos de
comunicação científica. A quantidade de publicações também é importante como um diferencial em
alguns concursos públicos e um atestado de competência para análise de currículos na iniciativa
privada.

→ Os veículos de comunicação científicos agregam uma certa quantidade de informações, selecionam


algumas por questões editoriais para, depois, por diversos meios, fazê-las circular entre a comunidade de
pesquisadores, universidades e centros de pesquisa.
→ É por meio dos veículos de comunicação que a informação científica especializada ganha repercussão no

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mundo acadêmico.
→ Segundo definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 6023/2002), um periódico
científico é “um tipo de publicação seriada, que se apresenta sob a forma de revista, boletim, anuário, etc.
editada em fascículos com designação numérica e/ou cronológica, em intervalos pré-fixados (periodicidade),
por tempo indeterminado” (p. 2).
→ Geralmente, os periódicos científicos recebem uma espécie de identificação própria conhecida como ISSN,
um código válido em todo mundo, que tem como finalidade a individualização das obras, identificando-as por
tipo de publicação, editora responsável, país, ciência abordada, temática, e número de edição.
→ São três os tipos de periódicos científicos mais populares entre a comunidade acadêmica: boletins
científicos, anuários científicos e as revistas científicas.
→ As revistas científicas são periódicos, em forma de publicação digital ou impressa, abertos à contribuição
de especialistas dedicados à disseminação do conhecimento científico, à publicação de resultados de
pesquisas e à análise crítica de conceitos, experimentações e técnicas. As revistas científicas são o principal
veículo de comunicação científica em termos de popularidade e respeitabilidade na maioria dos países.
→ Os indexadores têm a importante função de organizar os periódicos em coleções sintetizadas por assunto,
oferecendo à comunidade científica a possibilidade de uma pesquisa mais rápida e precisa, relacionada tanto
a veículos de comunicação quanto aos vários tipos de comunicação científica, influenciando diretamente numa
maior publicidade dos periódicos.
→ Os indexadores mais utilizados pela comunidade científica brasileira são: SciELO (nacional), Web of Science
e SCOPUS (internacional). Cada indexador trabalha com critérios próprios para catalogação das ciências,
sistematização dos conteúdos abordados e avaliação das revistas indexadas.
→ Qualis é uma classificação realizada por especialistas que atribuem notas de acordo com critérios
específicos e gerais atualizados anualmente pela Capes.
→ As notas variam entre A1 (a pontuação máxima obtida por uma publicação) até C (possui influência
irrelevante para a comunidade científica).
→ Tanto o ISSN quanto a Qualis não são indexadores
OS TÓPICOS A SEGUIR DEVEM SER INCLUÍDOS AO FIM DE CADA CAPÍTULO, SEM EXCEÇÃO!

Um determinado artigo de quatro autores foi publicado numa revista científica de psicologia médica avaliada
com a nota B1, de acordo com padrões da Capes. Sobre esta afirmação, podemos deduzir que:
a) A – A revista tem grande aceitação entre a comunidade científica internacional.
b) B – É uma publicação que detém uma boa nota, um considerável fator de impacto e é bem avaliada entre
os pares.
c) C – É uma publicação voltada para pesquisadores iniciantes.
d) D – A afirmação é falsa, pois só existem revistas científicas de psicologia com notas A.
e) A revista em questão é uma publicação nacional restringindo a contribuição de cientistas estrangeiros.
Comentários
A - Avaliações B1 e B2 são designadas para revistas de grande repercussão entre a comunidade científica
nacional. C - Embora não seja proibitivo, por conta da alta demanda de trabalhos e a exigência em relação a
qualidade, não é recomendável o envio de trabalhos de pesquisadores iniciantes para revistas B1.
Provavelmente, a maioria dos pesquisadores que enviaram o texto em questão são experientes e possuem

27
bons currículos. D - Existem periódicos de psicologia com diversas notas na avaliação Qualis. E - A avaliação
Qualis não restringe a participação de estrangeiros na confecção de artigos.Alter
Alternativa B

1- Quanto aos indexadores científicos, não é correto afirmar que:


a) Não são obrigatórios, mas a presença do periódico em questão pode ser um bom indicativo referente a
qualidade.
b) O Qualis não pode ser considerado um indexador científico.
c) O SciELO é um bom indexador nacional.
d) Também podem abranger os veículos relacionados às ciências sociais.
e) O ISSN é um bom exemplo de indexador científico.

2- Junto a outros três colegas e sob a supervisão de um professor, Juliana Dias desenvolveu um trabalho de
iniciação científica de psicologia relacionada a uma perspectiva de nova abordagem teórica para
procedimentos relacionados à psicologia infantil. Que tipos de conselhos você daria a Juliana Dias em
relação a publicação do resultado deste trabalho em periódicos científicos?
Primeiramente, Juliana precisa contactar seus colegas e o professor responsável, pois um trabalho em conjunto
só deve ser enviado com autorização de todos os pesquisadores que participaram da elaboração do trabalho.
Juliana deve procurar a orientação de outro pesquisador mais experiente, que pode inclusive ser o orientador
do trabalho de iniciação científica, a fim de apontar possíveis erros metodológicos que invalidam os resultados
obtidos pela pesquisa.
Por fim, Juliana e outros devem conversar com outros pesquisadores para verificar a importância daquela
pesquisa para a comunidade científica e enviar o trabalho para a publicação adequada, respeitando as normas
de publicação e regras apontadas pelos editores. É muito importante, também, que Juliana e seu grupo
realizem uma minuciosa revisão ortográfica e gramatical antes do envio.

Se possível, leia a obra Oficina de revistas científicas, técnicas e culturais, escrita por Maria Dias Bicalho
e publicada pela editora ALL print. Nesta obra, a autora trata de assuntos como os critérios relacionados à
edição de revistas científicas e outros periódicos.

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Respostas:

1- Alternativa E. O ISSN é um código internacional para identificação para publicações científicas que nada
tem a ver com quaisquer indexadores.

29
UNIDADE I
CAPÍTULO 4 - GÊNEROS TEXTUAIS CIENTÍFICOS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ A definição de gênero textual científico.

✓ A classificação dos gêneros textuais científicos.

✓ Os principais gêneros textuais científicos, suas finalidades e seus propósitos relacionados à


transmissão de informações.

✓ As características dos gêneros textuais científicos sintéticos.

✓ As características dos gêneros textuais científicos extensos.

✓ Definições de artigos, papers, resenhas ensaios e projetos de pesquisa.

✓ Definições de monografias, dissertações e teses.

Introdução
Estamos finalizando esta primeira unidade que apresentou alguns tópicos iniciais relacionados a
Comunicação Científica. Nesta abordagem introdutória, estudamos a importância da comunicação
científica para sua futura vida acadêmica e profissional, além das principais ferramentas que,
certamente, você vai se relacionar ao dialogar com seus pares. Com a apresentação dos principais
gêneros textuais científicos, fechamos este ciclo esperando ter apresentado a questão de comunicar
ciência não como um conjunto de regras rígidas, mas como uma forma agradável de conversar sobre
ciência

Quanto aos gêneros, de forma indireta, tal assunto sempre esteve presente nos três capítulos
anteriores. Tenha em vista que todos os temas que apresentamos se entrelaçam. Como você já deve
ter percebido, os tópicos e discussões da Comunicação Científica devem ser encarados de maneira
encadeada para que fique evidente o principal caráter da comunicação: a circulação de informação
entre profissionais.

Primeiramente, definiremos o que é gênero textual a partir de observação referente ao cotidiano. Se


um dia você abrir um novo negócio, é provável que elabore alguma propaganda para apresentá-lo
ao público, não? Quem trabalha com artes cênicas, labora com peças e novelas. O jornalista,
constantemente publica reportagens sobre assuntos diversos. Peças de propaganda, novelas e
reportagens são textos diferentes que têm formas e finalidades próprias para comunicar ideias.
Noutras palavras, os exemplos citados são textos de gêneros textuais distintos.

Sob uma perspectiva teórica, o texto é uma manifestação da linguagem, que apresenta um sentido
completo e a transmissão da informação como objetivo. Já um gênero textual determina uma função
específica aliada às características próprias textuais, que são relacionadas às transmissões das
informações.

Os gêneros textuais são definidos por um determinado apontamento que indica uma ação
comunicativa clara elaborada para um propósito estabelecido. É o que acontece com os textos de
propaganda, citados no parágrafo anterior. Eles são idealizados, enquanto gênero textual, para ter

30
características e formatações específicas e, assim, propagar informações que estimulem um desejo
de compra.

Com os todos os tipos de textos científicos que já abordamos até agora não é diferente. Podemos
afirmar que exatamente todos os que citamos têm, como objetivo principal, a transmissão do
conhecimento científico, mas a partir de perspectivas e finalidades particulares que os fazem ser
classificados em gêneros distintos. Neste capítulo, abordaremos os principais gêneros, explicitando
suas estruturas, formatações e finalidades específicas.

4.1 Principais gêneros relacionados a textos científicos


Todos os gêneros têm como objetivo comunicar ciência, mas com propósitos e perspectivas
totalmente diferentes. Existem textos em que a finalidade é a crítica. Já outros, buscam reforçar
linhas teóricas já apresentadas a partir de revisões bibliográficas. Alguns se estabelecem como
função social para a comunidade acadêmica e como apresentação de novas experimentações.

Apresentaremos os principais gêneros e suas respectivas características, mas antes, por questões
relacionadas à didática, os classificaremos em dois grandes grupos:

Gêneros textuais científicos sintéticos: são menores e mais concisos em relação à apresentação
de conteúdo. Geralmente, são utilizados para apresentar ou mesmo reforçar resultados,
experimentos, revisões, posições críticas ou intenções de pesquisa. Neste grupo, inserimos artigos
científicos, resenhas, papers, ensaios e projetos de pesquisa.

Gêneros textuais científicos extensos: além de apresentar resultados de experimentos e reflexões


de maneira mais dilatada em relação ao tamanho do conteúdo, tais gêneros geralmente também são
utilizados como trabalho de conclusão de curso de grau acadêmico. Estamos a falar das
monografias, dissertações e teses.

4.1.1 Gêneros textuais científicos sintéticos


Artigos científicos: durante este curso, estaremos sempre abordando este gênero que também é o
principal conteúdo das revistas científicas e, certamente, o mais popular tipo de comunicação
científica escrita do mundo acadêmico. No capítulo 2, especificamente, definimos os artigos como
comunicações científicas formais, realizadas em espaços limitados à publicação, que objetivam a
análise de um problema científico determinado e a apresentação dos resultados obtidos através dos
experimentos realizados para solução das questões apresentadas. Pontuamos também que,
geralmente, os artigos são utilizados para apresentação de descobertas científicas.

Além da nossa definição, é importante enfatizar a determinação da Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT, 2011), que define um artigo científico como “uma publicação com autoria declarada,
que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do
conhecimento” (p. 2).

Um artigo científico pode ser de autoria coletiva. O número de páginas dos artigos varia, geralmente,
entre dez a vinte páginas definidas previamente pelos veículos de comunicação em que se
endereçam este tipo de texto.

Quanto ao conteúdo, os artigos científicos podem ser classificados em:

Originais: que se destinam a apresentação em primeira mão de resultados de uma pesquisa inédita.

Revisionais: dedicados às críticas sobre uma determinada pesquisa científica já apresentada à

31
sociedade. Basicamente, um artigo de revisão é uma análise realizada por um especialista sobre os
resultados obtidos em experimentos.

Quanto à forma, normalmente os artigos científicos são estruturados em cinco partes distintas: 1)
introdução; 2) contextualização e revisão acadêmica; 3) metodologia abordada e descrições dos
experimentos; 4) resultados obtidos e 5) considerações finais ou conclusão. Ao decorrer deste curso,
especificamente na unidade III, além de definir todas as estruturas citadas, apresentaremos algumas
discussões sobre a importância das mesmas e apontaremos como realizá-las de forma satisfatória.

Paper: como já definimos no segundo capítulo, os papers são uma espécie de artigos mais sucintos,
utilizados geralmente como forma de avaliação para aceitação de trabalhos em congressos e eventos
científicos. Como gênero, ele é muito utilizado nas ciências da saúde, em pesquisas relacionadas a
estudos de caso e para apresentar à comunidade pesquisas que ainda estão em fase de finalização.

A estrutura de formatação de um paper é semelhante à apresentada para a construção de um artigo.


Tenha em mente que todo paper é um artigo, mas nem todo artigo deve ser classificado como um
paper.

O paper científico pode ter autoria coletiva. O número de páginas de um paper varia geralmente
entre oito e doze páginas, definidas previamente pelos veículos de comunicação aos quais se
endereçam este tipo de texto.

Os textos de gênero textual jornalístico, como as notícias, apesar de poder estar no conteúdo de algumas
revistas científicas, não são peças de comunicação científica, mas sim de divulgação científica.

Resenhas: gênero textual utilizado também como conteúdo de revistas científicas, embora não seja
obrigatória sua presença, como acontece nos artigos. As resenhas têm como função, enquanto
gênero, a divulgação de novas obras, sendo, geralmente, livros, coletâneas e estudos importantes
recém-publicados.

Resenhar algo significa descrever. Tal característica deve estar presente na feitura deste gênero mesmo nas
resenhas críticas

Por exemplo, se algum estudioso importante para psicologia apresenta uma abordagem nova e
revolucionária para o tratamento das neuroses e o publica em formato de livro, é provável que grande
parte das revistas especializadas publiquem resenhas de especialistas descrevendo as novidades
da obra e as contextualizando em relação aos estudos recentes sobre o tema.

A autoria da resenha geralmente é individual. O número de páginas das resenhas varia geralmente
entre uma e três páginas, definidas previamente pelos veículos de comunicação em que se

32
endereçam este tipo de texto.

Quanto ao conteúdo, as resenhas podem ser classificadas em:

Resumo: descreve os elementos mais importantes de um livro ou um estudo sem o posicionamento


formal do resenhista, que se limita a explanar as principais informações do veículo resenhado.

Crítica: posiciona-se de forma valorativa quanto ao conteúdo publicado, ressalta suas virtudes e
aponta suas possíveis falhas do ponto de vista relacionado tanto à forma quanto ao conteúdo. As
críticas apresentadas neste tipo de gênero devem ser de caráter científico, deixando de lado
questões pessoais relacionadas ao autor do livro resenhado.

Ensaio científico: tem como função a disseminação de ideias, considerações e posicionamentos


científicos sobre determinado tema. Diferentemente do artigo, o ensaio não tem como expectativa a
investigação científica, podendo, inclusive, ser relacionado a uma temática já bastante discutida pela
academia. Desta maneira, o fator novidade não é obrigatório como elemento para publicação.

Quanto à construção do conteúdo, admite-se do ensaísta uma certa dose de subjetividade no


encadeamento de todo o texto, pois o ensaio é geralmente uma interpretação de um assunto
controverso que pode relacionar ciência a outras esferas culturais. O ensaio não se propõe a se
tornar uma solução fechada de um problema, mas um ponto de vista de um especialista que observa
apontamentos complexos para a ciência e sociedade.

Por exemplo, o melhor gênero científico para discutir de maneira geral as polêmicas relacionadas às
células-tronco é justamente o ensaio científico, pois determinado gênero permite uma maior fluidez
perante à apresentação do conteúdo, proporcionando uma maior liberdade para um posicionamento
do cientista em relação ao tema, que irá considerar considerações questões culturais que precisam
ser também analisadas em determinados temas. O ensaísta não vai fechar a discussão sobre o
assunto abordado neste gênero científico, mas propor uma profunda reflexão a partir de um ponto
de vista.

Os ensaios são menos frequentes em veículos científicos e, geralmente, quando aparecem, abre-se
então espaço ao posicionamento de importantes pesquisadores sobre temas de enorme controvérsia
para determinada comunidade.

A autoria do ensaio geralmente é individual. O número de páginas dos ensaios científicos varia
geralmente entre três e dez páginas, porém os ensaístas, geralmente pesquisadores convidados,
têm uma maior liberdade tanto sobre a formalidade textual quanto a apresentação do número total
de páginas apresentadas ao editor.

Projeto de pesquisa: como o próprio nome aponta, sua finalidade é servir como uma espécie de
roteiro da pesquisa e dos experimentos que estão por vir. Nesta espécie de prévia, o pesquisador
indica o fenômeno que será estudado, a relevância de tais estudos, os métodos para coleta de dados
e informações a respeito da metodologia que será utilizada para interpretação dos resultados.

A elaboração de um bom projeto de pesquisa pode abrir inúmeras portas, pois geralmente este
gênero de texto científico é utilizado como peça imprescindível para avaliação de financiamentos
públicos e privados relacionados à ciência e como uma das partes de avaliação para entrada de
novos alunos em cursos de pós-graduação stricto sensu.

A autoria do projeto de pesquisa é individual. O número de páginas dos projetos de pesquisa varia
geralmente entre dez a vinte páginas, definidas previamente pelos órgãos que solicitam este tipo de
comunicação para um fim específico

33
4.1.2 Gêneros textuais científicos extensos
Monografia: É o resultado de uma investigação científica, geralmente realizada a partir de outras
comunicações e estudos científicos já existentes, que visa um levantamento de um conhecimento
específico relacionado a alguma área da ciência. Geralmente, as monografias não são de caráter
inédito, isto é, não são originadas a partir de novos experimentos ou abordagens teóricas, mas sim
relacionadas principalmente a revisões bibliográficas.

Além da nossa definição, é importante enfatizar a determinação da Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT, 2011), que define monografia como “documento que representa o resultado de
estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente
emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados” (p. 8).

As monografias obrigatoriamente devem ser coordenadas por um orientador, um pesquisador mais


experiente, de preferência algum especialista, um professor mestre ou doutor. Este gênero textual é
utilizado como parte obrigatória para obtenção do título de especialista na pós-graduação lato sensu,
ou ainda como trabalho de conclusão de curso de ensino superior.

A autoria de uma monografia é individual. Geralmente, a extensão de uma monografia varia entre 50
e 100 páginas.

Dissertação: é o resultado de uma investigação científica que ambiciona a defesa de um


apontamento teórico ou prático específico que pode ser inédito ou o reforço a uma ideia ou
interpretação já levantada anteriormente. As dissertações são utilizadas na academia como
avaliação final de um curso de mestrado (pós-graduação stricto sensu), pois cobram em sua
construção aspectos como a capacidade de aplicação de um método de análise para solução de um
problema científico levantado durante a pesquisa, assim como uma profunda inserção teórica de
questões abordadas durante o período do curso.

Além da nossa definição, é importante enfatizar a determinação da Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT, 2011) define dissertação como um “documento que apresenta o resultado de um
trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem
delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações” (p. 8).

A autoria de uma dissertação é individual. As dissertações obrigatoriamente devem ser coordenadas


por um orientador que deve ter o título de doutor em alguma área de conhecimento correlata a
pesquisa.

Pesquisa o significado dos termos Lato Sensu e Stricto Sensu apresentados durante este capítulo.

Tese: é o resultado de uma investigação científica que levanta um novo conhecimento, teoria,
interpretação ou posicionamentos inéditos relacionados a algum fenômeno ou fato científico. A
formulação de uma tese é uma prática obrigatória para obtenção do título acadêmico de doutor, o
grau acadêmico mais elevado em termos de respeitabilidade na comunidade científica.

De acordo com a determinação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011), a tese
é “um documento que apresenta o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um

34
estudo científico de tema único e bem delimitado. A tese deve ser elaborada com base em
investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão” (p. 8).

A autoria de uma tese é individual. As teses obrigatoriamente devem ser coordenadas por um
orientador que deve ter o título de doutor especificamente na área de conhecimento objeto do estudo.

Considerações finais
E chegamos ao fim da nossa primeira unidade. Neste primeiro momento, não fiquem preocupados
com a quantidade de informações, pois a maioria delas deverão ser absorvidas naturalmente durante
sua experiência enquanto aluno (a) de um curso superior. Atenha-se principalmente aos conceitos.
Neste capítulo, focalize em saber que um gênero textual científico tem como objetivo comunicar
ciência, mas com propósitos e perspectivas totalmente próprios em relação à apresentação de
conteúdo. Ao decorrer deste curso, entraremos em detalhes em relação à formatação de alguns
gêneros textuais, como os artigos, e explicaremos como tais questões se relacionam com a
perspectiva de comunicar ciência. Mas, neste momento introdutório, tenha como objetivo a
definições. Tal procedimento ficará mais fácil com a leitura destes gêneros, que podem ser realizados
através de pesquisas em bancos de dados na internet. Mais do que definições, o que move o espírito
científico é a curiosidade. Exercite-o constantemente.

O domínio dos gêneros textuais apresentados requer, além de prática e experiência acumulada, muita leitura.
Sempre que puder, leia principalmente artigos, resenhas e ensaios, pois, desta forma, além de exercitar a
observação, você ficará antenado com as discussões mais recentes relacionadas a sua profissão.

→ O texto é uma manifestação da linguagem, que apresenta um sentido completo e a transmissão da


informação como objetivo. Já um gênero textual determina uma função específica aliada a características
próprias textuais, que são relacionadas às transmissões das informações.
→ Os gêneros textuais são definidos por um determinado apontamento que indica uma ação comunicativa
clara elaborada para um propósito estabelecido.
→ Todos os gêneros textuais científicos têm como objetivo principal a transmissão do conhecimento científico,
mas a partir de perspectivas e finalidades particulares, que os diferem.
→ Por questões relacionadas à didática, dividimos os principais gêneros textuais científicos em dois grandes
grupos: sintéticos e extensos. Os sintéticos são menores e mais concisos em relação à apresentação de
conteúdo e geralmente são utilizados para apresentar resultados de experimentos, revisões, reflexões ou
intenções de pesquisa. Já os extensos são geralmente utilizados como trabalho de conclusão de curso de grau
acadêmico.
→ De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011), um artigo científico é “uma
publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados
nas diversas áreas do conhecimento” (p. 2).
→. As resenhas têm como função, enquanto gênero, a divulgação de novas obras geralmente livros, coletâneas

35
e estudos importantes recém-publicados.
→ Diferentemente do artigo, o ensaio não tem como expectativa a investigação científica, podendo, inclusive,
ser relacionado a uma temática já bastante discutida pela academia. Desta maneira, o fator novidade não é
obrigatório como elemento para publicação.
→ De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011), define monografia é “documento
que representa o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser
obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados”
(p. 8).
→ De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011), a dissertação é um “documento
que apresenta o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de
tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações” (p.
8).
→ De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011), a tese é “um documento que
apresenta o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e
bem delimitado. A tese deve ser elaborada com base em investigação original, constituindo-se em real
contribuição para a especialidade em questão” (p. 8).

I – Leia o texto com atenção e responda a questão quando solicitado.


CÉREBRO: MÁQUINA DO TEMPO, TAMBOR DE TODOS OS RITMOS

O livro Your brain is a time machine, de Dean Buonomano, é um caleidoscópio, em que fragmentos de
filosofia, física, biologia e psicologia formam diferentes perspectivas sobre o tempo. O que é o tempo? É a
pergunta que norteia os doze capítulos – representados pelas doze horas do relógio: da 1h às 6h o foco é o
cérebro e sua habilidade de contar o tempo e nos projetar no passado e no futuro; das 7h às 12h, física e
neurociência trazem proposições sobre a natureza do tempo.
O autor mostra que a compreensão da mente humana é impossível sem antes determinar como o cérebro
conta, percebe e representa o tempo. Segundo Buonomano “o tempo é para o relógio como a mente é para o
cérebro”.
Na história da humanidade, a contagem do tempo se tornou uma obsessão irresistível para sincronizar as
tarefas diárias e impulsionar as revoluções tecnológicas. A partir da astronomia e das grandes navegações,
tornamos a contagem do tempo algo objetivo e tangível através dos relógios, dos mecânicos do século XIII ao
atômico de 1949. A precisão da máquina hoje é tamanha que erros de um segundo na contagem do tempo em
um dado local precisam de um milhão de anos para ocorrer. Mesmo assim, ferramentas de autocorreção
tornam erros improváveis, se não impossíveis.
CUNHA, C. P. Cérebro: máquinas do Tempo, tambor de todos os ritmos. Revista ComCiência -
UNICAMP, Campinas, edição 215. Disponível em: https://www.comciencia.br/cerebro-maquina-do-tempo-
tambor-de-todos-os-ritmos. Acesso em: 03 de dezembro de 2020.
O texto ‘Cérebro: máquinas do tempo, tambor de todos os ritmos’ pode ser classificado como representante
de qual gênero textual?
a) Artigo
b) Tese
c) Resenha
d) Ensaio

36
e) Paper
Gabarito: o texto em questão tem a finalidade de esquadrinhar uma obra recente tratando-se, portanto, de
uma resenha.
Alternativa C

1 – Os diferentes gêneros textuais científicos têm como característica:


a) A busca da verdade infalível em relação ao conhecimento.
b) Ser sempre utilizados para obtenção de algum título acadêmico.
c) A publicação obrigatória em veículos científicos como as revistas.
d) Ter como objetivo principal a transmissão de qualquer conhecimento.
e) Serem definidos por um determinado apontamento social que indica uma ação comunicativa clara
elaborada para um propósito estabelecido.

2 – Lúcio Ferro é um estudante do curso de graduação em Educação Física que está no último ano elaborando
uma tese como trabalho final de conclusão de curso. Que tipo de sugestão você apresentaria para tal colega?

Se possível, leia a obra Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos escrito
por Lucie Didio e publicado pela editora Atlas. De forma prática, a autora apresenta boa parcela dos gêneros
de maneira clara, apontando suas características e necessidades que devemos atingir para a construção de
diversos trabalhos acadêmicos. Um bom livro para consultar para se ter na prateleira e para consultar durante
todo o curso.

Realize uma exploração digital no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Capes e observe algumas destas investigações: Disponível em:
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/ . Acesso em 13 abr. 2021.

37
Respostas:
1- Alternativa E Comentários:
A - Não é função de um gênero textual, nem da ciência a busca de uma verdade infalível. B - Nem sempre a
finalidade está relacionada a obtenção de algum título acadêmico. C - A publicação não é uma condição que
define qualquer gênero textual, nem muito menos obrigatória. D -Os diferentes gêneros textuais científicos têm
como objetivo principal a transmissão do conhecimento científico!
2 - Nenhum conselho é válido, pois a afirmação não se sustenta. Por sua sofisticação e complexidade, as teses
são utilizadas para obtenção do título de doutor, o grau máximo acadêmico. É impossível Lúcio Ferro elaborar
uma tese como estudante de graduação. Ele deve apresentar uma monografia.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 3a
ed..2001.

LAKATOS, E.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 1985.

BUENO, W. da C. B. Jornalismo científico: revisitando o conceito. In: VICTOR, C.; CALDAS, G.;
BORTOLIERO, S. (Org.). Jornalismo científico e desenvolvimento sustentável. São Paulo: All Print, 2009.
p. 157-78.

BUENO, W. da C. B. Comunicação científica e divulgação científica: aproximações e rupturas


conceituais. Informação & Informação, [S.l.], v. 15, n. 1, p. 1-12, dez. 2010. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/6585/6761>. Acesso em: 11 dez. 2020.

COMBEROUSSE, M. Histoire de l'information scientifique et technique. Paris: Armand Colin, 2005.

LAKATOS, E.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas,1985.

LAKATOS, E.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 1985.

MIRANDA, D.; PEREIRA, M. N. F. O periódico científico como veículo de comunicação: uma revisão de
literatura. Ci. Inf., Brasília, v. 25, n. 3, p. 375-382, set./dez. 1996

38
UNIDADE II
CAPÍTULO 5 - A ESCRITA CIENTÍFICA
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ O que é a escrita científica.

✓ As características da escrita científica.

✓ Sobre a importância da precisão ao comunicar ciência através de palavras.

✓ A respeito do problema da subjetividade na comunicação.

✓ Quais são as virtudes desejáveis na escrita científica.

Introdução
Agora que já introduzimos importantes conceitos relacionados à comunicação científica,
discutiremos, na unidade II, questões ligadas à construção de conteúdo. Começaremos nossa
conversa com uma abordagem sobre a escrita científica, um tema relativamente simples, mas que
alguns manuais de metodologia e livros de comunicação científica tratam de uma maneira um tanto
quanto assustadora, apresentando um tutorial repleto de regras que devemos realizar.

Entendemos este apontamento ser muito disseminado pois, na escrita científica, não trabalhamos
com a linguagem coloquial. Porém, tal perspectiva não quer dizer que necessariamente devemos
“decorar” regras, mas sim levar em consideração determinadas situações do escrever que podem
nos ocasionar problemas de comunicação.

Tenha em mente que a língua é um instrumento que se adapta perfeitamente às circunstâncias, por
isso, trabalhamos com a ideia de evitar determinadas dinâmicas linguísticas em situações
específicas, e não proibir. Em relação a redigir textos sobre ciência e tecnologia, existem
particularidades que devem ser apontadas para que sejam evitadas confusões interpretativas.

A escrita científica é, basicamente, uma redação técnica, ou seja, é uma composição concisa, na
qual são redigidas as informações necessárias para o entendimento do fenômeno que se deseja
comunicar. Num primeiro momento, é provável que um iniciante tenha dificuldades, mas, tendo
consciência dos aspectos desejáveis em relação à linguagem, é perfeitamente possível escrever
artigos e outros gêneros de forma satisfatória e sem memorizar regras.

Ao escrever sobre ciência e tecnologia para especialistas, frequentemente você usará termos
técnicos, mas isto não significa que seu texto deva ser rebuscado ou repleto de prolixidade. Nós
escrevemos para entrar em contato com a comunidade científica e não por exercício de vaidade ou
para demonstrar erudição e cultura. A escrita científica deve, sobretudo, fazer sentido para o leitor.
Tenha este objetivo sempre em mente. Pense sempre no bem-estar do colega ao desenvolver um
texto científico e imagine também nos prejuízos que você terá se um artigo ou paper for recusado
simplesmente porque tal trabalho não foi claro o suficiente para outros cientistas entenderem a sua
importância.

Neste capítulo inicial da unidade II, abordaremos algumas virtudes que um bom texto científico deve
possuir em sua construção. Mais do que realizar uma lista proibitiva em relação à língua portuguesa,
queremos introduzir um pensamento crítico a respeito de certas situações linguísticas corriqueiras

39
que podem ocasionar a má interpretação de um conteúdo científico escrito.

5.1 Precisão, o principal ingrediente da escrita científica


O domínio da norma culta da língua não é uma condição quando falamos em textos científicos, mas
sim uma obrigação. Não significa afirmar, porém, que você deve registrar seus experimentos em
língua portuguesa como um texto literário de Luís de Camões ou, se for em inglês, como uma peça
de William Shakespeare. A escrita científica é uma redação técnica na qual usamos a linguagem
denotativa, ou seja, as palavras são aplicadas em seus sentidos literais. Não há muito espaço para
floreios ou representações abstratas.

Entenda cada forma de escrita como uma bússola, em que a agulha aponta para um elemento-chave.
Tal apontamento norteia características relacionadas às formas nas quais encadeamos nossa
escolha de palavras e frases. No caso da escrita literária, este ponto é a criatividade artística. Já a
escrita publicitária é desenvolvida para gerar empatia a uma determinada marca.

No que se refere à escrita científica, a precisão é o norte para onde deve sempre apontar nossa
agulha magnética. Tenha em mente que, em boa parcela das vezes, escrever sobre ciência também
significa descrever ciência e tal perspectiva deve ser atingida de maneira esclarecedora. Seja sempre
o mais cirúrgico possível em relação a apresentação de fatos, situações, métodos e números, pois
tais elementos são cruciais para a formulação das interpretações do leitor.

Em um experimento científico, colocar um nível maior ou menor de um reagente pode pôr todo o
estudo a ser perdido. Por este motivo, temos bastante cuidado ao inserir a quantidade do elemento
reativo em questão. Com as palavras, pontuações e outros elementos linguísticos, os cuidados
devem ser exatamente os mesmos, pois uma assertiva conflituosa pode gerar dúvidas ao leitor em
questões triviais que não deveriam ser foco de quaisquer polêmicas.

Observe a frase a seguir e perceba como a falta de precisão na escrita científica gera interpretações
dúbias, que causam prejuízos à compreensão de uma ideia:

Os elementos isótopos, que foram descobertos em 1853, são radioativos.

Qual informação científica esta declaração apresenta com exatidão? O exemplo em questão pode
dar entender que todos os isótopos foram descobertos em 1853, não? Obviamente, seria um grande
erro científico e identificado facilmente por um pesquisador mais atento da área química ou mesmo
de áreas correlatas. No entanto, a intenção desta frase era afirmar que os elementos isótopos
descobertos naquele ano específico são radioativos.

Entende como a imprecisão pode atrapalhar a compreensão de uma afirmação aparentemente


simples? Seja sempre o mais claro possível na escrita. Sempre que puder, releia o que escreveu,
revendo também pontuações e elementos linguísticos desnecessários.

Observe agora:

Os elementos isótopos descobertos em 1853 são radioativos.

A eliminação das vírgulas e de outros elementos linguísticos desnecessários melhorou bastante a


precisão, certo? A explicação ambígua anterior, sem a presença da pontuação, tornou-se uma
afirmação que acabou evidenciando a verdadeira intenção da mensagem científica.

Apesar de termos eliminado o foco de dubiedade, este exemplo ainda pode ser alvo de um
melhoramento em relação a precisão. Avalie sempre a possibilidade de citar nominalmente cada

40
substância, fato, organismo ou sujeito participante da informação.

Os elementos Isótopos X, Y e Z descobertos em 1853 são radioativos

A partir de agora, sempre que você escrever um texto científico, seu objetivo deve ser o de deixá-lo
o mais preciso possível!

5.1.1 Termos vagos e imprecisos.


Trabalhar com precisão na escrita científica não significa necessariamente decorar uma série de
regras, mas sim raciocinar sobre situações que podem ocasionar conflitos interpretativos, avaliando
maneiras de eliminar uma possível má interpretação.

Você executará este apontamento selecionando palavras, ordenamentos e pontuações que


comunicam rigorosamente o que você deseja afirmar. Ao contrário de uma palestra, quem lê o texto
científico não pode pedir esclarecimentos e, por este motivo, devemos evitar dinâmicas linguísticas
populares que, no entanto, se apresentam como termos nebulosos em relação à compreensão de
uma ideia.

Observe esta situação muito comum em trabalhos científicos:

O Ferro derrete em alta temperatura.

Tal oração demonstra um exemplo claro de um termo que não apresenta especificidade e deve ser
evitado na escrita científica. Parece um exagero? Então, responda: qual é o referencial que está
sendo utilizado para definir o que é uma alta temperatura? Tenha em mente que o fato científico deve
ser descrito da maneira exata ou mais próxima em que ele acontece, evitando-se, assim, criar
referências inespecíficas:

O Ferro derrete a 1.538 °C.

Percebe agora o quão vago é o termo alta temperatura? 500 °C, por exemplo, é uma alta temperatura
em relação ao ponto de ebulição da água e mais do que suficiente para ocasionar um grave acidente
num humano. No entanto, tal temperatura não seria satisfatória para derreter o ferro. Ao observar
seu texto, tente sempre perceber focos de imprecisão, pois eles podem fazer com que uma afirmação
simples caia num limbo de incertezas.

5.2 O problema da subjetividade


Assim como a imprecisão, a subjetividade é um traço que necessita ser amenizado sempre que
comunicamos ciência. A mensagem deve apresentar uma ideia que necessita ser verificada por
diferentes sujeitos para chegar a sua confirmação. Deliberando-a através de um termo que
demonstre, mesmo que implicitamente, juízos de valor ou julgamentos culturais quaisquer, a
afirmação científica perde força e pode até mesmo ser considerada uma falácia.

Observe este exemplo:

A manipulação genética é um mal necessário para o futuro.

Quem tem o poder de afirmar que a manipulação genética é um mal necessário pra toda sociedade?
Por mais que a argumentação científica apresente lógica e possua uma sequência, a aplicação do
termo “mal necessário” não é desejável, uma vez que ele determina uma proposição que varia de
acordo com perspectivas individuais, que se ligam a outras esferas não relacionadas à ciência.

Por exemplo, um apontamento que pode ser considerado um mal para você, não necessariamente

41
significa que será um mal para outra pessoa. Ainda que eu realmente o considere um mal, não
significa que eu devo ter a necessidade de aceitá-lo. Esta situação traz um exemplo prático de um
termo subjetivo que deve ser evitado na escrita científica.

Observe as mudanças propostas:

A manipulação genética é crucial para o futuro da medicina.

Crucial é um termo objetivo, que deixa a afirmação possível de ser verificada, sem entrar numa esfera
de interpretação individual. Além disso, a declaração torna-se mais passível de ser especificada.
Agora, em qualquer discussão que venhamos a ter, devemos adotar como proposição o fato de
estarmos falando da esfera médica e não de outras questões.

5.2.1 Troque posições de cunho pessoal por informações propositivas a sua pesquisa
Ainda em relação à subjetividade, procure evitar as adjetivações, sobretudo as mais extremas. Leia
com atenção o exemplo abaixo:

Os agrotóxicos são um câncer para o Brasil, pois são encontrados em doses além das permitidas
pelos órgãos responsáveis pela fiscalização, em mais de 70 por cento dos alimentos de origem
vegetal.

Tente evitar transformar seu estudo num manifesto. O fato científico deve falar por si. Lembre-se que
quem acompanha as comunicações científicas são os especialistas. A adjetivação não é necessária
neste caso, pois um estudioso não só entenderá a gravidade do fato, como será capaz sozinho de
elaborar uma posição sobre a afirmação. Em vez de adjetivar um fato científico, forneça o máximo
de informações, que se relacionam diretamente com o fenômeno em questão.

Agora, leia a reformulação do exemplo:

Os agrotóxicos são encontrados em doses além das permitidas pelos órgãos responsáveis pela
fiscalização, em mais de 70% dos produtos da agricultura. Precisamente 66% dos agrotóxicos
disponíveis no mercado foram avaliados como potencialmente cancerígenos pela Anvisa, em
um levantamento científico realizado em 2018.

Trocamos a subjetividade da adjetivação por uma informação que fornece um panorama mais preciso
da intensidade na qual os agrotóxicos estão se estabelecendo enquanto um problema para a nação.
Quando estiver escrevendo um texto científico, priorize a apresentação de informações que podem
ser checadas em relação a atributos que indiquem posições.

Ainda abordando a questão da subjetividade, evite inserir uma declaração com suposições em
relação ao estado do conhecimento apresentado. Observe o exemplo:

Por ser muito conhecido, o carbonato de lítio é utilizado como um estabilizante de humor na
medicina psiquiátrica.

De que maneira podemos apontar o quão conhecido é o carbonato de lítio em relação ao estudo?
Elimine a suposição e cite autores que afirmam a assertiva científica. Agora, leia a reescritura do
exemplo:

Autores como Hermans (1995) e Zanaya (2000) apontam que o carbonato de lítio é utilizado como
um estabilizante de humor na medicina psiquiátrica.

42
5.3 Preste atenção no tamanho das frases

É bem comum nos empolgarmos com a escrita e colocarmos todas as informações numa única frase.
Tenha em mente que frases muito extensas podem se tornar confusas e, de uma maneira geral,
também são mais difíceis para acompanhar o raciocínio em questão. Trabalhe sempre com um
tamanho de frases que permita que seus apontamentos transcorram com facilidade. Uma leitura de
toda comunicação é sempre necessária para evitarmos este tipo de situação.

Observe o exemplo a seguir:

Caso ocorra uma pane elétrica, é importante que existam fontes alternativas e a forma como isso
deve ser feito consiste em permitir que as centrais elétricas sejam interligadas através das linhas de
transmissão de alta-tensão de modo que todas contribuam para o fornecimento total de energia e
uma demanda inesperadamente grande possa ser manipulada.

Percebe como o texto torna-se truncado quando possui frases demasiadamente longas? Imagine o
quão difícil seria ler uma monografia escrita desta forma. Provavelmente, o pesquisador se empolgou
na formulação da explicação em questão e não se deu conta da necessidade do ponto final.

Reescrever o texto com frases mais curtas torna as explicações mais fáceis de serem acompanhadas
porque facilita a leitura. Veja:

Caso ocorra uma pane, é importante que suprimentos alternativos estejam disponíveis. Realizamos
tal indicação ligando as estações de energia às linhas de transmissão de alta-tensão. Todos eles,
portanto, contribuem para o fornecimento total de energia e uma demanda inesperadamente grande
pode ser tratada.

Considerações Finais
Ao escrever para especialistas, tenha como objetivo ser preciso, objetivo e informativo. Tais virtudes
são essenciais para a escrita científica. Ao começar a escrever artigos, resenhas e trabalhos
acadêmicos, é totalmente normal que as primeiras escritas não saiam da forma mais adequada,
porém, naturalmente a sua escrita científica deverá ir se desenvolvendo ao encontro destas três
características.

A leitura regular de bons textos, monografias e artigos publicados em revistas científicas de boa
qualidade também ajudará bastante na compreensão de como deve funcionar um bom texto
científico. Quando possível, ao escrever, apresente o resultado a um professor ou outro pesquisador
mais experiente, pois eles fornecerão apontamentos importantes relacionados a como apresentar
ciência com a escrita.

Na escrita científica, não trabalhamos com a linguagem coloquial utilizada geralmente em situações formais.
No entanto, isso não quer dizer que necessariamente devemos memorizar regras, mas sim levar em
consideração as situações corriqueiras do escrever que podem nos ocasionar problemas de comunicação.
→ A escrita científica é, basicamente, uma redação técnica, ou seja, é uma composição concisa, na qual se
redigem as informações necessárias ao entendimento do fenômeno que se deseja comunicar.

43
→ Ao escrever sobre ciência e tecnologia para especialistas, frequentemente você usará termos técnicos, mas
isto não significa que seu texto deva ser rebuscado ou repleto de prolixidade.
→ Pense sempre no bem-estar do colega ao desenvolver um texto científico e imagine também os prejuízos
que você terá se um artigo ou paper for recusado simplesmente porque tal trabalho não foi claro o suficiente
para os pares entenderem sua importância ou mesmo os resultados apresentados.
→ Tenha em mente que, em boa parcela das vezes, escrever sobre ciência também significa descrever
ciência. Tal perspectiva deve ser atingida de maneira esclarecedora. Seja sempre o mais cirúrgico possível em
relação a apresentação de fatos, situações, métodos e números, pois tais elementos são cruciais para a
formulação das interpretações.
→ Seja sempre o mais claro possível na escrita. Sempre que puder, releia o que escreveu, revendo, também,
pontuações e elementos linguísticos desnecessários.
→ Quem lê o texto científico não pode pedir esclarecimentos e, por este motivo, devemos evitar dinâmicas
linguísticas populares que, no entanto, apresentam-se como termos nebulosos em relação à compreensão de
uma ideia.
→ A mensagem deve apresentar uma ideia que necessita ser verificada por diferentes sujeitos antes de sua
confirmação. Se for deliberada através de um termo que demonstre, mesmo que implicitamente, juízos de valor
ou julgamentos culturais quaisquer, a mensagem perde força.
→ Troque posições de cunho pessoal por informações propositivas a sua pesquisa.
→ Trabalhe sempre com tamanho de frases que permita que seus apontamentos transcorram com facilidade.

A comunicação, se for imprecisa, não é um texto científico. Se for ambígua, não é escrita científica. Se for
prolixa e desnecessariamente discursiva, não é uma redação científica” (LINDSAY, 2011, p. 4).

Falácia científica é um termo linguístico que determinamos para apontar uma afirmação sabidamente falsa
declarada como conhecimento científico, geralmente por conveniência. Exemplo de falácia: A Terra é plana
porque não podemos observar a linha do horizonte.

Realize uma pesquisa em artigos científicos sobre como alguns pesquisadores da sua área de conhecimento
lidam com a questão da subjetividade.

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Conheça o canal do YouTube “Física e afins” da pesquisadora Gabriela Bailas. De uma maneira informal,
frequentemente a cientista aborda questões relativas à escrita científica.
Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCmiptCNi7GR1P0H6bp9y0lQ. Acesso em 13 abr. 2021

I – Sobre a escrita científica, não é correto afirmar que:


a) Deve amenizar traços de subjetividade e juízos de valor.
b) A precisão ao comunicar deve ser o objetivo de tal escrita.
c) Proíbe de forma perene qualquer afirmação de criatividade na metodologia.
d) Procura evitar as adjetivações, sobretudo as mais extremas.
e) Prioriza a apresentação de informações que podem ser checadas em relação a atributos que indiquem
posições de caráter meramente opinativo.
Alternativa C
A escrita científica não interfere em qualquer processo relacionado a escolha da metodologia ou qualquer etapa
da construção científica. Trabalhamos com precisão a apresentação e descrição da metodologia. Para escrever
ciência é necessário precisão, mas tal apontamento não interfere em aspectos próprios do estudo.

1- Marque a alternativa mais precisa e desejável em relação a uma perspectiva de escrita científica que não
deixa possibilidades de interpretações errôneas ao leitor.
a) Os exoplanetas, que foram descobertos nesta década, são gasosos.
b) Os exoplanetas descobertos nesta década são gasosos.
c) Superimportantes para astronomia infravermelha, como era de se esperar, os exoplanetas descobertos
nesta década são gasosos.
d) Os exoplanetas descobertos nesta década são gasosos. Logo, aqueles que foram descobertos na década
anterior são rochosos.
e) Os exoplanetas Cygnus 23876, Phoenix 666, Pegasus 123, Dragon 8010 e Andrômeda 1010 foram
descobertos na década anterior. De acordo com projeções de Simmons (2017) e Rothfield (2019), todos
os corpos celestes citados devem ser rochosos.

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O estudante Júlio Ferro escreveu um artigo de economia para ser enviado a uma revista da área. Em
determinado trecho, ele escreveu o termo spread bancário e foi repreendido por Maria do Céu, uma colega
que fazia uma leitura crítica da obra. Júlio foi aconselhado a não utilizar tal termo, pois pode ser incompreendido
pela banca de avaliação.
Você concorda com este conselho? Explique sua posição.

A maior parte dos textos científicos estão escritos em língua inglesa. Quem lê em inglês aumenta
consideravelmente seu arsenal relacionado à comunicação científica em qualquer área. Para os iniciantes na
língua, antes de ler um artigo, é bom começar por livros científicos mais básicos e uma boa pedida de leitura
é a obra Scientific Writing = Thinking in Words, escrito por David Lindsay e publicado pela editora australiana
CSIRO Publishing. Este livro, que é um dos mais recomendados de nossa bibliografia, trata de apresentar, de
uma maneira simples, a escrita científica, sendo o mesmo essencial para a confecção deste capítulo.

Respostas:
1- Alternativa E. Atenção: Observe que a questão pede o enunciado mais preciso.
A - A sentença torna possível uma compreensão dúbia. O leitor pode entender que todos os exoplanetas
foram descobertos na década passada, ou que a declaração se refere apenas aos planetas descobertos
na década. B – É possível melhorar a precisão citando os planetas na declaração. C – A sentença aplica
juízos de valores desnecessários ao conhecimento científico.
D – Falácia. Nunca deve ser utilizada na escrita científica. Ao afirmar que os exoplanetas descobertos
nesta década são gasosos, não se atribui conclusão alguma sobre outros exoplanetas.

2- Não há problemas em utilizar termos específicos ao escrever para colegas, pois a escrita científica é uma
redação técnica. Os avaliadores são especialistas e potenciais leitores da revista em questão são iniciados
em estudos econômicos.

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UNIDADE II
CAPÍTULO 6 - REVISÃO DE LITERATURA CIENTÍFICA
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ O que é a revisão de literatura científica.

✓ Sobre a importância da revisão de literatura para construção de conteúdos de comunicação.

✓ Como realizar uma preparação adequada de uma revisão de literatura científica.

✓ Como utilizar a revisão de literatura científica para elaboração de textos.

Introdução
Iniciamos este curso pontuando que a ciência é, sobretudo, uma construção coletiva. Ninguém faz
ciência sozinho, certo? Por mais original que seja uma descoberta, de alguma maneira, outros
conhecimentos auxiliaram a confecção da metodologia, a estruturação da teoria ou mesmo na
confirmação ou refutação do que foi proposto como novidade.

Para comunicar-se com seus colegas e realizar bons trabalhos científicos, tenha em mente que é
fundamental o constante exercício de elaborar reflexões relacionadas aos trabalhos de outros. Nesse
sentido, fazer um trabalho de revisão de literatura científica significa realizar uma síntese de outros
trabalhos, que pode ser crítica, com o objetivo de conseguir uma posição sobre um determinado
conteúdo. Noutras palavras, trata-se, sobretudo, de sistematizar entendimentos já conhecidos para
organizar uma ordem e, assim, levantar um panorama de como a comunidade científica observa
determinada questão.

A partir dos conhecimentos já estabelecidos que estão inseridos em nossa pesquisa, através da
revisão de literatura científica, firmamos uma espécie de condução que une as experimentações ou
novas interpretações de fenômenos sociais às novas ou as já consolidadas teorias científicas.

Por exemplo, se um pesquisador da área de psicologia vem elaborando uma reflexão que propõe
novas abordagens metodológicas relacionadas à aplicação da terapia psicanalítica em crianças com
transtorno do espectro do autismo, será necessária uma revisão de literatura científica para que
outros pesquisadores verifiquem, entre outros aspectos, qual é o entendimento histórico da questão,
o grau de conhecimento atual sobre o tema, em quais aspectos os conhecimentos na área podem
ser melhorados, a linha teórica que sustenta tais argumentos em relação à nova abordagem proposta
e, por último, a construção da metodologia estabelecida para os experimentos.

Ao realizarmos este procedimento que é muito importante para elaboração de artigos, papers,
monografias dissertações e teses, elaboramos uma linha do tempo essencial para a construção do
saber científico e, em boa parcela das vezes, justificamos a importância da atualização ou refutação
de determinada perspectiva.

O pesquisador também pode trabalhar com uma revisão de literatura científica sem ter alguma
perspectiva nova em mente, estabelecendo-a, então, como elemento principal. Esta situação
acontece principalmente no gênero textual artigo científico de revisão. Não podemos esquecer que
o processo de comunicar ciência é, sobretudo, o de disseminar informações para colegas. É =
necessário e bastante nobre se propor a atualizar uma parcela da comunidade científica sobre novos

47
conhecimentos e tendências que estão sendo concebidas no que se refere a novas técnicas,
terapias, abordagens, teorias e reflexões diversas.

Em relação a confecção de novos trabalhos, os autores escolhidos para dialogar com determinada
escrita fornecem preciosas pistas sobre a abordagem escolhida, o entendimento e interpretação do
problema de pesquisa e, por fim, o pensamento que gira em torno dos elementos que são
considerados para a construção do trabalho científico como um todo.

O trabalho científico é uma construção coletiva. Só chegamos no atual estágio de conhecimento graças ao
esforço de pesquisadores de diversas épocas.

6.1 Preparando uma revisão de literatura científica


Mais do que inspiração, para fazer uma boa revisão literária é necessário, sobretudo, ter organização.
Antes de procurar informações em revistas e outros gêneros de comunicação científica, é necessário
saber exatamente qual é o tema específico que levantou a questão que motivou a pesquisa e,
principalmente, refletir sobre a relevância da dúvida em si.

Parece óbvio, não? Porém, ter dificuldades ao realizar tal procedimento é uma situação muito
presente no cotidiano de pesquisadores iniciantes. Desta forma, a etapa da elaboração da revisão
de literatura científica acaba injustamente tida como difícil por uma parcela considerável de
estudantes.

Para não ter problemas com a revisão de literatura científica, primeiramente observe o seu objeto de
estudo e levante dúvidas que o motivaram a escolhê-lo dentro de tantos temas possíveis. Não tenha
preconceitos com quaisquer indagações que venham à sua mente neste momento. Até mesmo as
mais simples dúvidas também são importantes para a construção de um panorama
científico.Voltemos ao exemplo dado na introdução deste capítulo sobre o pesquisador da área de
psicologia. Neste momento, pretendemos elaborar uma revisão de literatura que nos ajude a pensar
em novas perspectivas sobre a aplicação da terapia psicanalítica em crianças com transtorno do
espectro do autismo. Devemos então, antes de procurar nos debruçar sobre a técnica em si, olhar
com atenção para este assunto e procurar lacunas importantes no nosso conhecimento.

Neste momento inicial, apareceram, basicamente, cinco grandes questões.

1° O que a ciência entende por transtorno do espectro do autismo?

2° Como autores da psicanálise observam a questão?

3° Quais são as terapêuticas conhecidas e como a comunidade científica as observam?

4° Qual entendimento de infância trabalharei na pesquisa?

5° Existem diferenças de abordagens psicanalíticas relacionadas às idades dos pacientes?

É a partir deste movimento de questionamento que deve se iniciar esta revisão de literatura científica.

Prontos para começar a estudar tais questões, organizaremos palavras-chave que, de alguma forma,

48
sintetizem cada questionamento. O passo seguinte é procurar comunicações científicas em bases
de dados estabelecidas na web ou em bibliotecas especializadas em universidades e centros de
pesquisa.

Conversar com colegas também é recomendado, pois eles podem indicar meios para levantar tais
informações ou, ainda, conhecer outros especialistas, que saibam como ajudá-lo. Tenha em mente
também que uma revisão de literatura científica leva bastante tempo de pesquisa, tanto com a
procura manual quanto com a ajuda de índices de bases de dados anexados na web.

É bastante provável também que encontremos estudos diversos, com diferentes abordagens ligadas
às questões apresentadas.

Se esta situação ocorrer, será necessária uma seleção do conteúdo a ser estudado. A partir de uma
leitura do resumo das peças publicadas, analise com cuidado os detalhes das pesquisas para
perceber quais são as que mais se aproximam do que é verdadeiramente o objeto de pesquisa.

Ainda à luz da hipótese de pesquisa citada na introdução, veja este exemplo: suponha que, ao lermos
os resumos, encontramos dois trabalhos distintos, com populações diferentes de crianças em relação
a idade. A primeira pesquisa tem participação de crianças brasileiras de 5 a 10 anos. A outra foi
elaborada a partir do contato com pré-adolescentes japoneses, entre 12 e 13 anos. É preferível, pela
questão da idade, selecionar então a primeira, se apenas tivermos tempo para ler uma.

Este tipo de situação acontece frequentemente e cabe ao pesquisador criar filtros para delimitar a
leitura antes de começar, de fato, o processo de revisão literária. Estes quesitos podem ser: períodos
históricos, resultados analisados, idade da população, proximidades geográficas, entre outras
questões. O estabelecimento de tais filtros pode fazer com que o pesquisador em questão ganhe um
tempo precioso que certamente será utilizado na pesquisa.

6.2 Elaborando a revisão de literatura científica


Para começar a realizar o trabalho de revisão, organize uma espécie de roteiro relacionado às
questões levantadas e pesquise comunicações científicas com o intuito de enriquecer seus
conhecimentos em relação a abordagens históricas, apontamentos metodológicos, definições e
informações específicas sobre as questões.

É importante elaborar um guia sobre o que dizem tais autores sobre determinada questão. Neste
guia, que pode ser uma espécie de tabela informacional, no primeiro momento, extraia precisamente
o posicionamento do autor sobre a dúvida levantada. Em seguida, elabore um resumo sobre do que
se trata tal conteúdo.

Sempre que achar pertinente, realize uma abordagem crítica em relação a tal definição ou
apontamento, revelando pontos fortes e posições que, a seu ver, ainda estão obscuras. É comum
encontrar diferenças de abordagens e até mesmo de definições. Isto não significa que você deva,
necessariamente, por este motivo, escolher trabalhar com um autor apenas. É possível aproveitar,
para seus estudos, mais de uma definição apontando questões críticas sobre os pensamentos
expostos de dois ou mais autores.

Tenha em mente que a ciência é, sobretudo, um processo contínuo de construção e desconstrução.


O conhecimento científico é falível, certo? Por exemplo, uma observação levantada por Sigmund
Freud, pioneiro da psicanálise, pode ter sido criticada por La Planche, outro importante estudioso da
psicanálise. Faz parte da revisão literária recapitular discussões que ainda não estão concluídas e,
se for necessário, se posicionar a respeito de determinada controvérsia sempre de forma impessoal.

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Em relação à revisão de literatura científica focada em tópicos relacionados a experimentos, extraia
de artigos e outros gêneros de comunicação analisados algumas informações como, por exemplo,
características do estudo e da população participante como gênero, idade e comorbidades
preexistentes, os cenários geográficos, a metodologia aplicada e os resultados obtidos.

6.3 Utilizando a revisão de literatura científica na comunicação científica


Ao finalizar a sistematização das principais informações relacionadas aos textos selecionados, tenha
em vista que, em qualquer momento, você poderá utilizar os conhecimentos coletados. Por exemplo,
na construção de uma monografia, desde a introdução até as considerações finais, é possível que
sejam utilizados trechos da revisão de literatura científica realizada para pesquisa. Tais pontos
aparecerão em forma de citação aos autores, o próximo assunto que discutiremos ao decorrer deste
curso.

Ao utilizar a revisão na prática, você perceberá que ela não funciona como uma espécie de
fichamento ou, ainda, um amontoado de ideias de autores postas desenfreadamente. Cada parte
inserida precisa ser contextualizada para que a assertiva selecionada se torne um elemento
indissociável do conhecimento científico construído numa pesquisa, que está sendo disseminado
dentro do gênero textual escolhido para este fim.

O trabalho científico, de forma metafórica, pode ser considerado um “museu de grandes novidades”,
pois, em todo instante, você vai se deparar com conhecimentos já estabelecidos por outros
pesquisadores e estes serão os elementos que pavimentarão a elaboração do conhecimento
realizado por você. Ninguém faz ciência sozinho, não se esqueça.

Considerações finais
Trabalhar com revisão de literatura científica é uma situação que você fará constantemente, não só
para elaboração de artigos e outros gêneros científicos, mas também como elemento muito
importante para feitura de exercícios característicos de quaisquer cursos universitários. Em relação
a vida profissional, tal procedimento é também essencial para atualizações de conhecimentos.

Na medida em que você for utilizar procedimentos de revisão de literatura científica com mais
frequência, a tendência é que seja aumentado seu poder de interpretação e síntese de ideias, virtude
muito importante para a construção de um bom texto de comunicação científica e para pesquisa em

Revisar significa olhar com atenção. Uma abordagem superficial acompanhada de uma leitura supérflua é o
caminho para interpretações erradas de dados e pontuações. Tal movimento poderá destruir o raciocínio de
pesquisa.

Fazer um trabalho de revisão literária significa realizar uma síntese de outros trabalhos, que pode ser crítica,
com o objetivo de conseguir uma posição sobre um determinado conteúdo.

50
→ A partir dos conhecimentos já estabelecidos inseridos em nossa pesquisa por meio da revisão literária,
firmamos uma espécie de condução que une as experimentações ou novas interpretações de fenômenos
sociais a teorias científicas.
→ Realizado este procedimento que é muito importante para elaboração de artigos, papers, monografias
dissertações e teses, elaboramos uma linha do tempo essencial para a construção do saber científico e, em
boa parcela das vezes, justificamos para a academia a importância da atualização ou refutação de determinada
perspectiva.
→Antes de procurar informações em revistas e outros gêneros de comunicação científica, é necessário saber
exatamente qual é o tema específico que levantou a questão motivadora da pesquisa, e principalmente, refletir
sobre a relevância da dúvida em si.
→ Para não ter problemas com a revisão literária, primeiramente observe o seu objeto de estudo e levante
dúvidas que o motivaram a escolhê-lo dentro de tantos temas possíveis.
→ O passo seguinte é procurar comunicações científicas em bases de dados estabelecidas na web ou em
bibliotecas especializadas em universidades e centros de pesquisa.
→ É bastante provável, também, que encontremos estudos diversos com diferentes abordagens ligadas às
questões apresentadas. Se esta situação ocorrer, será necessária uma seleção do conteúdo a ser estudado.
A partir de uma leitura do resumo das peças publicadas, analise com cuidado os detalhes das pesquisas para
perceber quais são as que mais se aproximam do que é verdadeiramente o objeto de pesquisa.
→ Para começar a realizar o trabalho de revisão, organize uma espécie de roteiro relacionado às questões
levantadas e pesquise comunicações científicas com o intuito de enriquecer seus conhecimentos em relação
a abordagens históricas, apontamentos metodológicos, definições e informações específicas sobre as
questões.
→ Ao finalizar a sistematização das principais informações relacionadas aos textos selecionados, tenha em
vista que, em qualquer momento, você poderá utilizar os conhecimentos coletados. Por exemplo, na construção
de uma monografia, desde a introdução até as considerações finais, você utilizará trechos da revisão literária
acadêmica realizada para pesquisa que aparecerão em forma de citação aos autores, o próximo assunto que
discutiremos ao decorrer deste curso.

É inevitável falarmos em paráfrase quando abordamos a revisão literária. Parafrasear significa interpretar uma
ideia e, com outras palavras, manter seu sentido original. A paráfrase é muito presente no processo de inserção
da revisão literária na mensagem científica.

Entreviste pesquisadores da sua área e investigue a respeito de como eles elaboram os procedimentos de
revisão literária de artigos e de outros gêneros textuais que utilizam para comunicação entre os pares.

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Conheça a revista digital científica Psicologia em pesquisa, editada pelo Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ao ler um artigo, você verá que sempre um artigo
fará referências a conceitos já conhecidos e estudos publicados anteriormente.
Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/psicologiaempesquisa/index. Acesso em 13 abr. 2021

II – Em relação a revisão literária, é correto afirmar que:


a) nas comunicações científicas.
b) B – É presente obrigatoriamente em conteúdos de todos os tipos de comunicação científica.
c) É presente obrigatoriamente em conteúdos de todos os gêneros de comunicação científica.
d) D – Não é utilizado na confecção de teses.
e) Significa realizar uma síntese de outros trabalhos, que pode ser crítica, com o objetivo de conseguir uma
atualização sobre um determinado conteúdo
Gabarito: E
Comentários: A – A revisão literária participa da construção da mensagem científica a qual estabelecemos na
comunicação. Não a realizamos apenas para fixação de conhecimentos. B – Em tipos orais de comunicação,
não é obrigatória a realização de uma revisão literária. Em gêneros como a carta científica, por exemplo, não
é obrigatório a revisão literária. D – Utilizamos a revisão literária como parte da confecção do conhecimento
construído em teses.

1- Tulio Ferro é um estudante de biologia que está realizando uma revisão literária para a confecção de uma
monografia. Que tipo de aconselhamento você não daria ao Túlio?
a) A – Primeiramente, observe o seu objeto de estudo e levante dúvidas. É a partir delas que você vai elaborar
a revisão literária.
b) B – Extraia de artigos e de outros gêneros de comunicação científica informações como as características
do estudo e da população participante como gênero, idade e comorbidades preexistentes.
c) C – Selecione a literatura a partir da leitura do resumo das peças publicadas. Analise com cuidado os
detalhes das pesquisas para perceber quais são as que mais se aproximam do que é verdadeiramente seu
objeto de pesquisa.
d) D – Ao encontrar literaturas divergentes, necessariamente descarte um autor e selecione para revisão
literária aquele texto que você acha que está com a razão.

52
e) E – Organização é muito importante para a construção da revisão literária.

2- Podemos afirmar que um artigo focado em revisão literária transforma a revisão literária em gênero textual
científico? Justifique sua resposta.

Respostas:
1- Alternativa: D
Comentários:
A divergência faz parte da ciência. Para construção do conhecimento científico, é comum trabalharmos com
interpretações divergentes. É possível aproveitar para os seus estudos mais de uma definição, apontando
questões críticas sobre os pensamentos expostos de dois ou mais autores.

2- R. Não, o gênero textual científico continua a ser artigo, que será classificado como um artigo de revisão.

Para complementar os estudos, se possível, leia Textos do discurso científico – Pesquisa, revisão e ensaio,
escrito por Regina Célia Pagliuchi Da Silveira e publicado pela editora Terracota em 2012. A obra discute as
sutis diferenças em relação aos gêneros textuais, refletindo sobre os elementos da revisão literária que
constroem as pesquisas e a comunicação científica.

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UNIDADE II
CAPÍTULO 7 - NORMAS ABNT E CITAÇÕES
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ O que são citações acadêmicas.

✓ Sobre a importância das citações para a comunicação científica.

✓ O que é a NBR 10520.

✓ A respeito das principais normas de citação relacionadas ao padrão ABNT.

✓ As classificações das citações.

✓ Como realizar citações.

Introdução
Nesta unidade, estamos trabalhando com elementos que fazem parte da escrita científica. Ao
acompanhar este livro-texto, você já deve ter percebido que a comunicação científica tem um rito
próprio tanto em relação à forma quanto à construção de conteúdo. No presente capítulo,
apontaremos as normas para utilizar os conhecimentos advindos de outras fontes. Vamos aplicar a
revisão literária na prática? Para isso, estudaremos o conjunto de regras para citar pensamentos,
conceitos, críticas e teorias já apresentadas.

Ciência se trata de uma construção coletiva, certo? Para realizar pesquisas e comunicar ciência,
você constantemente fará consultas a conhecimentos que foram publicados anteriormente e, num
movimento de retorno, os trará de volta para a edificação de sua própria perspectiva científica.
Realizaremos, então, um procedimento chamado de citação, que se relaciona diretamente com o
capítulo de revisão literária.

É por meio das citações que contextualizamos a revisão de literatura científica com o conteúdo da
pesquisa em questão. Tenha em mente que citar um autor é mais do que informar que você está
utilizando conceitos, ideias e resultados de pesquisas que não são suas. Este procedimento é,
sobretudo, um convite ao leitor para que ele se adentre ao contexto histórico, abordagem teórica e
procedimentos metodológicos escolhidos para fazer parte da estruturação de uma pesquisa.

No Brasil, o órgão que estabelece regras para padronização tanto da escrita quanto dos trabalhos
científicos é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Esta entidade privada propõe as
sistematizações que seguimos na maioria dos tipos de comunicação científica. Em relação ao
assunto abordado neste capítulo, a ABNT descreve a citação como uma “menção de uma informação
extraída de outra fonte” (2002, p.1). Noutras palavras, trata-se da referenciação a outros
conhecimentos e a inserção desses mesmos conhecimentos em nossos trabalhos para que, assim,
evitemos o plágio, a apropriação indevida de um trecho de uma obra ou mesmo de um pensamento
de outra pessoa.

Em relação às citações, as academias científicas brasileiras, universidades e revistas científicas


tendem, por maioria, a aceitar como padrão as normas estabelecidas pela ABNT. Isto não significa
dizer que este conjunto de regras é universal. Quando for enviar uma comunicação científica,
principalmente para outro país, verifique como se estabelece o padrão de regras de citações

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adotados.

As normas da ABNT disciplinam as citações das maiorias das comunicações científicas publicadas
no Brasil. Ao citar conhecimentos de outros autores em cartas científicas, slides, pôsteres, artigos,
resenhas, papers, monografias ou quaisquer outros gêneros, leve em consideração que, a menos
que a instituição ou veículo de comunicação científica avise que adota outras regras, você utilizará o
conjunto de regras sistematizadas pela ABNT, que não são difíceis de assimilar, mas requerem um
pouco de atenção, sobretudo aos pesquisadores iniciantes.

7.1 NBR 10520


Antes de começarmos nosso estudo em relação a como fazer citações, explicaremos que as
normatizações relacionadas às citações estão publicadas num documento da ABNT chamado NBR
10520, válido desde setembro de 2002 até os dias em que escrevemos a presente obra. Tenha em
mente que as normas técnicas podem mudar. A longo prazo, sempre que possível, realize uma
pesquisa para se informar se a NBR 10520 ainda é válida e continua a ser responsável pela
padronização das regras de citação adotadas em larga escala no Brasil.

As normas da ABNT em relação as citações não são um código de abrangência internacional.

7.2 Informações citadas


De acordo com o padrão estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, noticiamos,
através das citações, três informações importantes em relação ao conhecimento de outros aplicados
em nosso trabalho.

Em ordem, as informações colocadas nas citações são:

1) Autor: identificando-o através de um sobrenome.

2) Edição: explicitando o ano em que o trabalho foi publicado.

3) Páginas: caracterizando as páginas exatas das quais extraímos tal pensamento.

Desta forma, a citação geralmente é apresentada desta maneira: (ALMEIDA, 2020, p. 33).

Observação: as informações em relação ao nome, título da pesquisa e editora são referenciadas no


final na pesquisa numa parte acadêmica intitulada bibliografia, que trabalharemos posteriormente.

7.3 Classificação das citações


Para mencionar conhecimentos de quaisquer tipos de outras pessoas em pesquisas e em outros
tipos de comunicação científica, trabalhamos com três variedades de citações: a citação direta, a
citação indireta e a citação da citação.

Abaixo, além de definirmos cada tipo de citação, ensinaremos como realizá-las de acordo com a
ABNT.

55
7.3.1 Citação direta
Trata-se da extração, na íntegra, do pensamento ou de uma definição vinda de um autor. Utilizamos
a citação direta em informações que pretendemos enfatizar sobre determinado tema. Trazemos,
então, a palavra do próprio pesquisador para o devido destaque ao esclarecimento. Tenha em mente
que este tipo de citação não deve ser utilizado frequentemente, pois os textos científicos não são
fichamentos. Utilize com parcimônia a citação direta e procure, sempre que possível, parafrasear as
informações, isto é, explicá-la como suas próprias palavras.

Ao realizar a citação direta, preste atenção no tamanho do conteúdo citado, pois é esta característica
que determinará o procedimento a ser seguido quanto a formatação sistematizada pela ABNT.

As citações diretas são definidas em citações diretas curtas e citações diretas longas. Logo abaixo,
apresentaremos as respectivas definições e procedimentos a serem realizados em torno da
formatação a ser seguida.

Citação direta curta: trechos citados que possuem até três linhas de conteúdo.

Exemplo: De acordo com Almeida (2020, p. 34) definimos escrita científica como “uma redação
técnica, ou seja, uma composição concisa, na qual se redige as informações necessárias para o
entendimento do fenômeno que se deseja comunicar”.

Neste tipo de citação, abrimos parênteses para informar o ano de publicação do material no qual
retiramos a informação e, em seguida, relatamos a página exata em que se encontra a informação
para depois fechar parênteses. Atente que o trecho exato da informação retirada é posto em aspas
para que o leitor acompanhe a leitura saber precisamente onde se inicia e onde é finalizada a
informação obtida em questão.

Uma outra possibilidade seria aceitável de acordo com as normas da ABNT. Podemos inserir o
sobrenome, o ano da publicação e a página consultada no final da citação sem prejuízos maiores,
desde que não apresentemos o autor anteriormente.

Exemplo: “A escrita científica é basicamente uma redação técnica, ou seja, é uma composição
concisa, na qual se redige as informações necessárias para o entendimento do fenômeno que se
deseja comunicar” (ALMEIDA, 2020, p. 34).

Observe que existem algumas diferenças deste modo para o primeiro apresentado. Nesta variação,
ao abrir parênteses, inserimos o sobrenome do autor, já que não o citamos anteriormente. Nessa
situação, o sobrenome do autor precisa ser informado em letras maiúsculas e, logo após, devemos
proceder escrevendo o ano da publicação e a página que retiramos o trecho para, depois, fecharmos
parênteses.

Ressaltamos que as duas maneiras de citações são aceitas como corretas. Os dois tipos de
procedimento também são adotados nas outras citações. Sempre que apresentar o autor na própria
frase, seu sobrenome será posto da maneira convencional. Em contrapartida, toda vez que não o
apresentar na própria frase, ao abrir parênteses, como primeira informação, você deverá colocar seu
nome em letras maiúsculas.

Citação direta longa: chamamos de citação direta longa uma passagem citada com um trecho
superior a três linhas de conteúdo.

Observe, no exemplo abaixo, que existe uma mudança considerável a respeito da formatação do
trecho em que se aponta a citação direta longa.

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Exemplo:

Alguns autores apontam que escrever ciência tem um rito próprio que não pode ser confundido com
prolixidade ou vaidade:
Nós escrevemos para entrar em contato com a comunidade científica e não por
exercício de vaidade ou para demonstrar erudição e cultura. A escrita científica deve
sobretudo fazer sentido para o leitor. Tenha este objetivo sempre em mente. Pense
sempre no bem-estar do colega ao desenvolver um texto científico e imagine também
os prejuízos, que você terá se um artigo ou paper for recusado simplesmente porque
tal trabalho não foi claro o suficiente para os pares entenderem a sua importância ou
mesmo os resultados apresentados (ALMEIDA, 2020, p. 34).

Observe, então, os procedimentos que realizamos para uma citação direta longa:

I – Primeiramente, enfatizamos o trecho citado através da separação de seu conteúdo do restante


do texto.

II – Utilizamos recuo de 4 centímetros em relação à margem esquerda, mantendo o texto justificado.

III - Escrevemos o trecho citado com um tamanho de fonte menor e aplicamos espaçamento simples
em relação às linhas.

III – Não colocamos o trecho em questão em aspas.

7.3.2 Citação indireta


É um tipo de citação que utilizamos quando reproduzimos as ideias de determinado autor, realizando
uma interpretação e reproduzindo o conceito sem a extração das palavras exatas do autor em
questão. Em outras palavras, trata-se, então, da paráfrase.

Exemplo: De acordo com Almeida (2020), é necessário ter uma escrita científica clara para não ter
prejuízos em relação a possíveis problemas com a comunidade científica.

Observe que o trecho da citação direta longa foi resumido, sendo interpretado e escrito de acordo
com a sua essência. O texto foi parafraseado e inserido na pesquisa com as palavras do próprio
idealizador, fornecendo o devido crédito ao autor de quem foi retirado o conceito ou a ideia
apresentada. Tenha em mente que a citação indireta é uma espécie de tradução de um conceito,
teoria ou mesmo, em alguns casos, de um livro em que o contexto é essencial para a pesquisa em
questão e para o leitor.

Ao realizar uma citação indireta, tenha muito cuidado para não deturpar o pensamento parafraseado.
É preferível sempre que, ao abrir parênteses, você forneça o ano e também a página em questão,
mas é aceitável, como fizemos no exemplo anterior, referenciarmos a paráfrase sem o número de
página consultada exata, sobretudo quando a ideia parafraseada está presente em diferentes lugares
da obra.

7.3.3 Citação de outra citação


Em algumas situações acadêmicas, nos deparamos com citações em pesquisas consultadas, que
convém também referenciarmos em nossas comunicações científicas. Você também pode utilizar
tais informações já citadas. Chamamos este tipo de situação de citação de outra citação.

Observe como proceder:

Exemplo: De acordo com Almeida (2020, p.12 apud LAKATOS e MARCONI, 1985, p.62), o

57
conhecimento científico deve ser classificado em quatro diferentes categorias.

Deixamos claro que se trata de uma citação de outra citação por meio da inserção do termo latino
apud que deve ser posto antes da obra citada pela comunicação científica que você retirou tal
pensamento.

Neste caso, como se trata de uma paráfrase, poderíamos trabalhar apenas informando o sobrenome
dos autores e os respectivos anos de publicação, porém, é preferível trabalhar informando também
as páginas consultadas.

A ABNT também permite que a citação de outra citação seja realizada colocando a segunda citação
ao final da frase.

Exemplo: De acordo com Almeida (2020, p. 12), o conhecimento científico deve ser classificado em
quatro diferentes categorias (apud LAKATOS e MARCONI, 1985, p. 62).

A ABNT ainda permite uma terceira variação, que dispensa a ção do termo latino apud.

Exemplo: De acordo com Almeida (2020, p.12), conforme citado por Lakatos e Marconi (1985, p.
62), o conhecimento científico deve ser classificado em quatro diferentes categorias.

Preste atenção que substituímos a expressão latina apud pelo termo ‘conforme citado’ sem maiores
prejuízos.

Observações Gerais

Ao citarmos uma pesquisa ou outro tipo de comunicação científica com dois ou três autores, devemos
citá-los por ordem alfabética, escrevendo os sobrenomes com letra maiúscula, separando-os por
ponto e vírgula quando não o apresentamos anteriormente no texto, ou apenas separando por
vírgulas quando já os apresentarmos.

Exemplo: “Fazer citações não é difícil’'' (ALMEIDA; BORGES; DIAS, 2004, p.12).

Ou assim:

De acordo com Almeida, Borges e Dias (2004, p. 12), “fazer citações não é difícil''.

Ao citarmos uma pesquisa ou outro tipo de comunicação científica com mais de três autores,
devemos citar um dos autores e em seguida colocarmos a expressão latina et al. em itálico.

Exemplo: “Citações são essenciais para as pesquisas” (DIAS et al. 2014, p.11).

Ou assim:

Dias et al (2014, p.11) afirmam que “citações são essenciais para as pesquisas”.

Citação direta acima de três linhas torna-se uma citação direta longa.

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Considerações finais
Como abordamos noutro momento deste capítulo, citar um autor é mais do que informar que você
está utilizando conceitos, ideias e resultados de pesquisas que não são suas. Este procedimento é,
sobretudo, um convite ao leitor para que ele se adentre ao contexto histórico, abordagem teórica e
procedimentos metodológicos escolhidos para fazer parte da estruturação de uma pesquisa. A
citação é um modo de colocarmos os conhecimentos adquiridos durante a revisão de literatura
científica na prática da escrita voltada aos nossos colegas cientistas.

Tenha bastante atenção, pois as regras de citação não foram criadas por excesso de zelo ou
preciosismo. Independentemente do modelo adotado, as regras de citação estabelecem um
reconhecimento de autoria de determinado pensamento ou teoria. Para evitar constrangimentos e
problemas maiores, ponha sempre em prática as diretrizes apontadas pela ABNT ou pelo outro
modelo escolhido para este fim.

É por meio das citações que contextualizamos a revisão literária com o conteúdo da pesquisa em questão.
→ No Brasil, o órgão que estabelece regras para padronização tanto da escrita quanto dos trabalhos científicos
é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
→ Em relação às citações, as academias científicas brasileiras, universidades e revistas científicas tendem,
por maioria, a aceitar como padrão as normas estabelecidas pela ABNT. Isto não significa dizer que este
conjunto de regras seja universal.
→ Quando for enviar uma comunicação científica, principalmente para outro país, verifique como se estabelece
o padrão de regras de citações adotados.
→ As normatizações relacionadas às citações estão publicadas num documento da ABNT chamado NBR
10520, válido desde setembro de 2002 até os dias em que escrevemos a presente obra.
→ De acordo com o padrão estabelecido pela ABNT, noticiamos, através das citações, três informações
importantes em relação ao conhecimento de outros aplicados em nosso trabalho: 1°) Autor – identificando-o
através do último sobrenome; 2°) Edição – explicitando o ano em que o trabalho foi publicado; 3°) Páginas –
caracterizando as páginas exatas que extraímos tal pensamento.
→ Para mencionar conhecimentos de outras pessoas em pesquisas e quaisquer peças de comunicação
científica, trabalhamos com três tipos diferentes de citações: a citação direta, a citação indireta e a citação da
citação.
→ As citações diretas tratam da extração, na íntegra, do pensamento ou uma definição vinda de um autor. São
subdivididas em citações diretas curtas e longas.
→ As citações indiretas são um tipo de citação que utilizamos quando reproduzimos as ideias de determinado
autor, realizando uma interpretação e reproduzindo o conceito sem a extração das palavras exatas do autor
em questão.
→ Ao realizar uma citação indireta, tenha muito cuidado para não deturpar o pensamento parafraseado.
→ Em algumas situações acadêmicas, nos deparamos com citações em pesquisas consultadas que convém
também citarmos em nossas comunicações científicas. Você também pode utilizar tais informações já citadas.
Chamamos este tipo de situação de citação de outra citação.

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Entenda as normas da ABNT como uma espécie de padrão que disciplina os trabalhos científicos. Sempre que
possível, siga-as para não ter problemas. Geralmente, nas correções de trabalhos acadêmicos, os professores
que adotam as normas ABNT para a confecção de trabalhos descontam nota de erros de citação e outros
procedimentos como se fossem erros de gramática. O mesmo vale para boa parcela das revistas científicas.

Pesquise outros padrões de citações, como Harvard Referencing, e observe quais são as diferenças em
relação ao modelo ABNT.

Confira o NBR 10520 na íntegra:


Disponível em: http://www.ufrgs.br/cursopgdr/download/NBR10520.pdf. Acesso em 13 abr. 2021

I – Assinale a alternativa que a citação seguiu os padrões estabelecidos pela NBR 10520:
a) De acordo com NEDVED (1999), a comunicação científica pode ser aprimorada com dedicação.
b) Nedved explica que a comunicação científica pode ser aprimorada com dedicação. (NEDVED, 1999, p.12)
c) NEDVED (1999, p. 12) explica que a comunicação científica pode ser aprimorada com dedicação.
d) De acordo com Nedved (1999), a comunicação científica pode ser aprimorada com dedicação.
e) Comunicação científica pode ser aprimorada com dedicação (Afonso Alves NEDVED, 1999, p.12).
Gabarito D

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Sobre as citações científicas, não podemos afirmar que:
a) É por meio das citações que contextualizamos a revisão literária com o conteúdo da pesquisa em questão.
b) Chamamos de citação direta curta os trechos citados que possuem até quatro linhas de conteúdo.
c) As normatizações relacionadas a citações estão publicadas num documento da ABNT chamado NBR
10520.
d) Ao realizar uma citação indireta, devemos ter muito cuidado para não deturpar o pensamento parafraseado.
e) Ao citarmos uma pesquisa ou outro tipo de comunicação científica com dois ou três autores, devemos citá-
los por ordem alfabética, escrevendo os sobrenomes com letra maiúscula, separando por ponto e vírgula
quando não o apresentamos anteriormente no texto, ou apenas separando por vírgulas quando os
apresentarmos na frase.

Lúcio Ferro é psicólogo e, neste instante, está preparando um artigo de revisão que deverá ser enviado para
uma revista científica canadense. Que tipo de conselho você daria ao seu colega em relação a tal situação no
que se refere às citações acadêmicas?

Para complementar os estudos, se possível, leia Normas da ABNT: comentadas para trabalhos científicos,
de autoria de Jamil Ibrahim e José Ernani de Carvalho Pacheco, publicado pela editora Juruá em 2019. Trata-
se de um livro de referência que trata de todas as normas ABNT relacionadas aos trabalhos, pesquisas e
comunicações científicas.

Respostas:
1- Alternativa B

2- Padrão de respostas: O colega precisa conhecer primeiramente o padrão de citações utilizado no periódico
em questão e adequar seu texto a tais normas.

61
UNIDADE II
CAPÍTULO 8 - PRECISAMOS FALAR SOBRE PLÁGIO
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ O que é plágio científico.

✓ Quais os tipos de plágio científico.

✓ Sobre as modalidades de plágio científico.

✓ Quais as penalidades aplicadas aos plagiadores.

✓ Como evitar plágios científicos.

A essência da ciência é a busca da verdade. Não existe nada mais anticientífico do que uma conduta antiética.

Introdução
Estamos finalizando a unidade II deste curso em que apresentamos o que é a escrita científica, suas
principais características, elementos construtivos e formalidades. Desta forma, chegou então a hora
de abordar os “pecados” relacionados não só a escrita, mas a comunicação científica como um todo.
Abordaremos comportamentos inaceitáveis, que transgridem a ética e, muitas vezes, até mesmo
ferem a legislação presente em diversos países.

Estamos falando da fabricação de dados para serem utilizados em pesquisas direcionadas, a


falsificação completa de pesquisas visando a captação de recursos financeiros, a utilização de
humanos ou outros seres vivos em pesquisas sem o aval e o acompanhamento de um conselho de
ética determinado pela comunidade científica e de outras condutas totalmente erráticas.

Neste capítulo, teremos uma conversa franca sobre o plágio, a principal atitude desonesta em relação
à escrita e a comunicação científica. Segundo pesquisa de Rabab et al (2015), dado que ilustra o
tamanho do problema que o plágio se tornou na contemporaneidade, cerca de um quarto dos artigos
científicos médicos enviados são recusados em periódicos por serem detectados trechos de outros
trabalhos acadêmicos, que não foram devidamente creditados.

Mas, o que propriamente é o plágio? Esta questão pode parecer uma pergunta óbvia no primeiro
momento, porém, ao decorrer deste capítulo, observaremos que a resposta precisa acabar se
dividindo em várias condutas. Antes de respondê-la, tenha em mente que, no Brasil, de acordo com
a lei N° 9610/98, o plágio é considerado crime passível de prisão em regime fechado pelo período
de três meses a um ano.

Responderemos à questão estabelecendo, então, uma conversação sobre plágio tendo como pilares
dois elementos importantes que muitas vezes são esquecidos, sobretudo quando o diálogo ocorre
com estudantes e pesquisadores iniciantes: a conscientização e a educação. A conscientização

62
consiste em explicar o quão errado é este tipo de comportamento e suas consequências legais que
aguardam o plagiador. A educação é baseada na premissa de apontar do que se trata
especificamente a questão do plágio e suas diversas modalidades.

No senso comum, existe uma difusão que relaciona o plágio unicamente como uma cópia exata de
um determinado trabalho acadêmico. Esta é só uma das modalidades conhecidas, que nem
mesmo é a mais comum, pois é mais fácil de ser detectada por avaliadores experientes. Há outras
modalidades nas quais muitas pessoas cometem o plágio sem saber que estão realizando tal
conduta. Por isso, a educação é essencial e a apresentação de informações será a base deste
oitavo e último capítulo da unidade II.

As citações podem ser utilizadas em padrões diferentes aos recomendados pela ABNT. Não é plágio utilizar,
por qualquer outro motivo, um outro padrão de citação.

8.1 Definição, tipos e modalidades


Numa definição simples, o plágio é a ação de tomar para si um conhecimento ou até mesmo parte
de uma obra que não é sua, assumindo, então, a autoria. O termo plágio advém da palavra latina
plagiare, que significa sequestro (RABAB et al, 2015).

Como abordamos na introdução, ainda existe muita desinformação no que se refere à definição do
plágio científico. Alguns pesquisadores, inclusive mais experientes, ligam a questão unicamente à
conduta errática da cópia deliberada de outros trabalhos científicos.

Tal situação realmente é definida como uma das modalidades do plágio, mas existem outras
conjunturas e circunstâncias que também apontam para o problema e que, de uma maneira geral,
ainda são pouco abordadas. Em linhas gerais, sempre que alguém usufrui de um saber sem o devido
reconhecimento ao autor, trata-se de uma perspectiva de plágio.

Observe algumas situações:

• Quando alguém participa de uma palestra, anota uma informação importante e posteriormente insere
numa pesquisa, sem dar o devido crédito ao palestrante, trata-se de um plágio.

• Quando alguém utiliza dados vindouros de uma reportagem jornalística e não cita o jornalista por
qualquer motivo, mesmo ele não sendo propriamente um pesquisador, também se trata de plágio.

• Utilizar um gráfico ou uma ilustração de outro trabalho sem a devida citação, é indevido. Ou seja, o
plágio também se manifesta a partir da não citação de um elemento não verbal.

Observe que, nessas situações, não ficou necessariamente nítida a intenção de levantar vantagem
ou tomar para si parte de uma pesquisa alheia em uma nova comunicação científica, mas o plágio
ocorreu a partir do momento em que não se estabeleceu o reconhecimento dos créditos sobre as
informações utilizadas.

Dessa forma, estabeleceremos então duas situações distintas que classificam os tipos de plágio, que
podem ser um plágio acidental ou um plágio deliberado. O primeiro ocorre por falta de informação

63
ou mesmo descuido ocorrido por esquecimento de citar determinado autor, situação bem comum
entre pesquisadores iniciantes. Já o segundo, pode ser definido como intencional, ou seja, é nítido o
desejo por parte do plagiador de tomar outro conhecimento com intuito de ludibriar a comunidade
científica e assim obter quaisquer vantagens.

Deixamos claro, então, que as duas modalidades de plágio são passíveis de punição. Às vezes, por
desconcentração, acabamos esquecendo de citar quem nos forneceu os dados. Para evitar tal
procedimento errático, antes de submeter um trabalho para análise, realize uma observação para
evitar a possibilidade de algum plágio acidental. Dar os devidos créditos é um sinal não só de ética,
mas de respeito aos colegas, que deve ser explicitado sempre.

Quando for constatado que determinado trabalho foi obtido por meio de um plágio, deliberadamente
ou não, geralmente o artigo é retirado imediatamente do periódico quando foi publicado através de
uma plataforma digital, e é realizada uma retratação formal da revista em relação à comunidade
científica. O plagiador também pode ser denunciado por sua atividade perniciosa na esfera judicial
(cível e criminal) e no conselho de ética de sua profissão.

Quanto às modalidades de plágio, Rabab et al (2015) definem quatro categorias distintas que
citaremos a seguir:

I. Plágio de ideia: situação que envolve a apropriação de conceitos, concepções, interpretações,


teorias ou resultados de outros autores sem a devida citação.

II. Plágio de escrita: trata-se da apropriação exata de um trecho de uma obra para alocação numa
outra comunicação científica sem a exata citação de onde foi retirado o conhecimento.

III. Conluio: situação em que um pesquisador, por quaisquer motivos, repassa o resultado de sua
pesquisa ou outra comunicação científica para um terceiro assumir a autoria. Um exemplo de conluio
é a prática de compras de monografias e outros trabalhos acadêmicos.

IV. Patchwriting: modalidade de plágio que consiste na substituição ou omissão de algumas


palavras num trecho plagiado para, desta forma, tentar ludibriar mais facilmente a comunidade
científica.

V – Autoplágio: consiste numa atitude em que o plagiador acaba copiando a si próprio, ou seja,
apresenta um texto já publicado num veículo científico como uma comunicação nova. Outra
modalidade de autoplágio consiste no esquecimento da autocitação, isto é, escrever um trecho de
uma obra já publicada sem fazer referência à publicação posterior e a autoria.

Embora o autoplágio, em primeiro momento, não seja considerado crime, uma vez que não se
enquadra na lei de N° 9610/98, canal que regulamenta os direitos autorais, é considerado uma atitude
totalmente antiética porque “leva o leitor a imaginar que o texto é a primeira publicação da ideia ou
metodologia. Isso leva a um mal julgamento temporal e circunstancial, o que pode ter consequências
na execução da pesquisa” (MARTINS, 2018, p.1).

64
Também é necessário citar a autoria de poemas, letras e outros gêneros textuais utilizados em textos
científicos.

8.1.1 Pesquisador iniciante, não vale a pena começar sua trajetória com uma mentira
O trabalho científico como um todo é uma das atividades que mais preza por questões relacionadas
à ética. Em nenhuma circunstância o plágio é justificável, pois é uma atitude que causa prejuízo a
terceiros e a todo o sistema científico. Além das sanções penais, um indivíduo que cometeu esta
conduta errática sempre terá um asterisco em sua carreira, por mais brilhante que ela se estabeleça,
e será olhado com desdém pelos colegas.

Em relação à verificação de um possível conteúdo copiado, ela é bem mais possível do que atenta
o senso comum. Um plagiador em série dificilmente não será pego, uma vez que um avaliador
experiente sabe exatamente como detectar uma fraude acadêmica. Um parecerista de um veículo
de comunicação científica ou um professor que avalia um trabalho são pesquisadores experientes,
que conhecem profundamente conceitos que, para um plagiador, na maioria das vezes é novidade.

No que se refere a facilidades e sofisticação, também estão, cada vez mais, disponíveis à
comunidade acadêmica os sites, programas e aplicativos desenvolvidos para identificar plágios por
meio de uma extensa varredura textual que detecta fraudes relacionadas à apropriação indevida de
textos, resultados e gráficos.

Quando um plágio é detectado em uma pesquisa financiada por uma instituição pública, como a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ou a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do processo, quem cometeu a fraude é obrigado,
por vias legais, a devolver todo o investimento aplicado na pesquisa.

Quando o plágio é detectado em dissertações ou teses, se realmente for comprovada má fé, uma
investigação é realizada e o pesquisador pode até mesmo ter o seu título acadêmico cancelado
devido a fraude em seu trabalho, de maneira que fique claro à sociedade que tal atividade não é
tolerável.

8.1.2 Preserve-se: ética e cuidado são fundamentais


Para evitar o plágio deliberado, é necessário ter consciência que esta atitude, além de danosa, é
considerada um crime que não deve ser considerado em qualquer hipótese. Alguns dos motivos
pelos quais as pessoas recorrem ao plágio deliberado consistem nas circunstâncias ligadas à falta
de tempo hábil para entrega do trabalho. Se tal situação ocorrer, a melhor coisa a se fazer é
estabelecer uma conversa franca com o professor, orientador ou supervisor da pesquisa sobre a
presente condição. Lembre-se que além de cientista, ele é humano e certamente deve ter passado
por situação parecida em sua trajetória.

Muitos pesquisadores iniciantes acabam optando pelo plágio deliberado por não dominarem a escrita
científica. Copiar o trabalho de alguém, nessas circunstâncias, além de não resolver a questão, vai
estabelecer um problema muito maior. Diferente do plágio, não é um crime não saber escrever bons
artigos ou outras comunicações científicas. Esta habilidade vem com prática e um bom tempo. É

65
importante que você trilhe seu caminho de maneira ética.

Em relação a plágios acidentais, alguns cuidados simples podem fazer com que se diminuam
drasticamente os riscos de cometer tal conduta. Quando realizar uma paráfrase, por exemplo,
recorde-se sempre de em seguida fazer referência através da citação ao texto em que foi retirada a
informação. Tenha muito cuidado, também, durante as paráfrases, ao atribuir determinada ideia a
um autor diferente, pois é comum trocarmos autores parafraseados. Também não atribua, de forma
deliberada, um pensamento ou um resultado não correspondente a um outro colega. Tal atitude é
muito malvista na comunidade científica;

Para esquivar-se do autoplágio, não envie simultaneamente o mesmo artigo ou outra modalidade de
comunicação científica para ser publicado em dois ou mais veículos científicos. Caso isso aconteça
e mais de uma publicação aceite o trabalho, para evitar o autoplágio, no mínimo, você passará por
uma situação bastante embaraçosa, tendo que escolher um periódico e pedir para que a outra não
publique o estudo.

Considerações finais
Sempre se coloque no lugar daquele que foi plagiado e acabou tendo parte de sua pesquisa
extraviada por um colega. Certamente, esta é uma das situações mais desalentadoras ligadas ao
trabalho científico. Tente, também, imaginar qual seria sua reação se você fosse professor e
descobrisse que um trabalho recém-avaliado de um aluno, na verdade, foi realizado por outra
pessoa. Além de se sentir enganado, você certamente se aborreceria por perder tempo que poderia
ser dedicado a outra atividade mais produtiva.

Como afirmamos desde o começo do material, a ciência é uma atividade coletiva, mas o
conhecimento é de autoria individual e precisa ser respeitado em sua autoria. Por isso, a citação
científica não é somente uma questão de ordenamento e formalidade, mas sim uma necessidade.
Use-a, pois ela evitará uma série de problemas. Quanto aos plágios, tenha em mente que é preferível
que sejam evitados ao máximo possível devido à existência de penalidades aplicáveis.

A fabricação de dados para utilização em pesquisas direcionadas, a falsificação completa de pesquisas


visando a captação de recursos financeiros, a utilização de humanos ou outros seres vivos em pesquisas sem
o aval e o acompanhamento de um conselho de ética determinado pela comunidade científica são condutas
reprováveis, pois transgridem a ética científica.
→ O plágio é muitas vezes tido enquanto uma atitude desonesta em relação à escrita e a comunicação
científica.
→ No Brasil, de acordo com a lei N° 9610/98, o plágio é considerado crime passível de prisão em regime
fechado, pelo período de três meses a um ano.
→ O plágio é a ação de tomar para si um conhecimento ou parte de uma obra que não é sua, assumindo,
então, a autoria.
→ Existem dois tipos de plágio: deliberado e acidental. Ambos são considerados danosos e as duas
modalidades de plágio são passíveis de punição.
→ O plágio acidental é caracterizado pelo esquecimento de citar determinado autor.
→ O plágio deliberado pode ser definido como intencional, ou seja, é nítido o desejo por parte do plagiador de

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tomar outro conhecimento com intuito de ludibriar a comunidade científica e assim obter quaisquer vantagens.
→ Existem cinco modalidades de plágio: plágio de ideias, plágio de escrita, conluio, patchwriting e autoplágio.
→ Plágio de ideia: envolve a apropriação de conceitos, concepções, interpretações, teorias ou resultados de
outros autores sem a devida citação.
→ Plágio de escrita: trata-se da apropriação exata de um trecho de uma obra para alocação numa outra
comunicação científica, sem a exata citação de onde foi retirado o conhecimento.
→ Conluio: uma situação em que um pesquisador, por quaisquer motivos, repassa o resultado de sua pesquisa
ou outra comunicação científica para um terceiro assumir a autoria. Um exemplo é a prática de compras de
monografias e outros trabalhos acadêmicos.
→ Patchwriting: consiste na substituição ou omissão de algumas palavras num trecho plagiado para, desta
forma, tentar ludibriar mais facilmente a comunidade científica.
→ Autoplágio: o plagiador acaba copiando a si próprio.

Pesquise como diferentes países lidam com a questão do trabalho científico.

Confira a lei N° 9610/98 na íntegra:


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em 13 abr. 2021

I – Assim como o plágio, que conduta é considerada danosa à comunidade científica?


a) A fabricação de dados para pesquisas com resultados direcionados.
b) A utilização de um padrão de citação popular num país sem tradição científica.
c) A escrita de artigos em duplas.
d) A escolha de um periódico científico com nota C no Quali-CAPES.
e) Adotar um assunto religioso para investigação científica.
Gabarito: A
B – Não causa danos à comunidade científica a escolha de um padrão diferente de citação. C – A autoria
coletiva é comum na escrita de artigos. D – Os critérios para escolha dos periódicos só dizem respeito aos
autores dos artigos. Adotar um tema religioso para investigação científica não causa nenhum dano e é muito

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comum, principalmente, em ciências humanas como a história.

1- Assinale a alternativa que aponta para a definição exata da modalidade de plágio conhecida como
Patchwriting:
a) Uma situação em que um pesquisador, por motivos quaisquer, repassa o resultado de sua pesquisa ou
outra comunicação científica para um terceiro assumir a autoria.
b) Trata-se da apropriação exata de um trecho de uma obra para alocação numa outra comunicação científica
sem a exata citação de onde foi retirado o conhecimento.
c) Consiste na substituição ou omissão de algumas palavras num trecho plagiado para, desta forma, tentar
ludibriar mais facilmente a comunidade científica.
d) O plagiador está plagiando a si próprio com um texto de sua autoria.
e) Situação que envolve a apropriação de conceitos, concepções, interpretações, teorias ou resultados de
outros autores sem a devida citação.

2- Quais tipos de procedimentos devemos realizar para evitar o plágio acidental em comunicações científicas?

Para complementar os estudos, se possível, leia O crime de plágio acadêmico, de autoria de Francisco Alencar,
e publicado pela editora Anjo em 2017. Esta obra é importante pois adentra em aspectos jurídicos relacionados
ao plágio na ciência e em outras áreas, trazendo informações adicionais sobre o tema.

Respostas:
1- Alternativa C

2- Padrão de resposta: É necessária uma maior atenção no que se refere à devida citação da autoria das
ideias parafraseadas. Uma boa revisão pode evitar esquecimentos em relação a citações ou possíveis
trocas de autores ou confusões relacionadas a atribuição de autorias.

68
UNIDADE III
CAPÍTULO 9 - O QUE DEVE CONTER A INTRODUÇÃO
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Quais os tópicos constituintes dos artigos científicos.

✓ A função do tópico Introdução nos artigos científicos.

✓ As informações que devem estar contidas na seção Introdução.

✓ Como elaborar uma Introdução satisfatória.

✓ Sobre alguns erros que devem ser evitados na construção de uma introdução.

O cuidado com a língua portuguesa é essencial na escrita científica e tal cuidado deve se iniciar na escrita da
introdução.

Introdução
Principiamos a última jornada deste curso de comunicação científica abordando uma série de
estratégias que ajudarão na construção de seus primeiros artigos. Antes de quaisquer elaborações
teóricas, leve em consideração que a feitura deste tipo de comunicação é, sobretudo, a apresentação
de um relato de uma investigação científica.

Como apontamos noutros momentos, a escrita de um artigo deve ser direta, concisa e objetiva,
porém, há outras virtudes que necessitam ser explicitadas para a realização efetiva do mais popular
tipo de comunicação científica. De um modo geral, o artigo funciona como uma espécie de tabulação
na qual são descritas todas as condutas que levaram à investigação científica, os procedimentos
realizados para a averiguação sistemática de tais questões, os resultados obtidos a partir do trabalho
de pesquisa e, em última instância, é realizada uma análise de como fica a situação científica a partir
das descobertas realizadas.

No âmbito da configuração, não há uma regra específica em relação ao formato para apresentação
deste tipo de comunicação científica. Entretanto, boa parcela das revistas científicas trabalha com a
seguinte ordem em relação aos tópicos constituintes dos artigos científicos: I – Introdução; II –
Materiais e métodos; III – Resultados obtidos; IV – Discussões. Desta maneira, por questões
metodológicas, trabalharemos ressaltando tais pontos, apontando-os, então, como elementos-chave
para a construção de um artigo científico.

Neste primeiro arco da unidade III, discutiremos o papel prático da introdução no artigo científico. De
uma maneira geral, tenha em mente que a introdução é o lugar mais apropriado para convencer os
leitores de que as reflexões que serão colocadas em prática realmente são importantes. Nesta parte,
também detalhamos e justificamos os objetivos que foram traçados ante a realização do trabalho de
investigação científica.

69
Uma introdução bem construída orienta o leitor em relação às dúvidas que serviram de base para
realização da pesquisa e também funciona como uma espécie de roteiro, situando de forma
explicativa os tópicos que deverão ser abordados em todo o artigo e noutros gêneros ou tipos de
comunicação que também exigem uma elaboração de uma introdução, como os pôsteres e papers,
e até mesmo as comunicações científicas extensas, como as monografias, dissertações, teses e
livros científicos.

O pesquisador deve caprichar na escrita deste componente, pois a introdução pode servir como um
bom cartão de visitas do artigo científico que está por vir, garantindo a atenção do leitor e apontando
os conhecimentos que o artigo pretende estabelecer como novidades a serem apresentadas à
comunidade científica. Desta maneira, começaremos a unidade III designando então os principais
registros e aportes práticos para a elaboração deste importante movimento referente à escrita de
gêneros textuais científicos diversos.

Na escrita de um artigo científico, nada deve ser mais interessante do que seus estudos e o que você pretende
realizar com a pesquisa. Você deve deixar isto claro a partir da introdução.

Faça uma entrevista com pesquisadores de sua área para observar como eles compreendem o significado da
seção introdução para o trabalho científico e quais os procedimentos eles realizam no que tange à escrita.

9.1 Começando a escrita da introdução


Como já discutimos em capítulos passados, escrevemos artigos científicos para comunicar novos
conhecimentos aos colegas, obtidos a partir de experimentos recentes, abordagens originais ou,
ainda, revisões teóricas. A partir desta perspectiva, a primeira tarefa da introdução enquanto parte
essencial de um artigo científico ou de qualquer outro gênero textual é apontar como e por que o
novo trabalho é relevante para determinado grupo da comunidade científica.

O tempo é importante para quem se dispõe a trabalhar com ciência. Dificilmente um pesquisador
prosseguirá a leitura de um artigo se a introdução não apresentar motivos suficientes que justifiquem
a atenção para tal pesquisa. A introdução, portanto, se fundamenta como uma apresentação, uma
espécie de prólogo dos assuntos que serão abordados ao prosseguimento da leitura de determinado
relato científico.

É comum que trabalhos exitosos e interessantes tenham pouca repercussão quando difundidos em
forma de artigo. Uma das explicações mais plausíveis para tal fenômeno advém, justamente, de um
possível desleixo na estruturação da introdução. Tenha em mente que um bom trabalho na
elaboração de uma introdução é capaz até mesmo de converter um leitor relativamente
desinteressado num ávido entusiasta, pronto para interagir com os apontamentos científicos
levantados e avançar na compreensão de todo o artigo observando pormenores.

70
Para alcançar este êxito, considere que algumas informações são essenciais para a construção da
introdução. Ao escrevê-la, você deve ter como meta demonstrar que os acontecimentos relatados
apresentados no artigo valem a pena ser repercutidos pois são sobretudo cientificamente sólidos e
tangem importantes lacunas da ciência de maneira plausível e lógica.

Ressaltamos que não é necessário possuir dotes literários elevados para escrever uma boa
introdução. O que você deve fazer, na verdade, é simplesmente iniciar uma conversa franca sobre o
trabalho realizado, de modo que não reste dúvidas sobre o motivo de tal investigação ou proposta
de abordagem ser necessária. Implementamos a introdução da forma mais sintética possível, apenas
discutindo questões científicas referentes à pesquisa.

Em relação à medida, é muito difícil estipular um tamanho exato de palavras, parágrafos ou laudas
ideais para a introdução, pois sua efetiva realização depende de alguns fatores, como a
complexidade para apresentação das etapas que abordaremos a seguir. Algumas publicações
também exigem um número exato de extensão. No entanto, o mais comum é que a introdução ocupe
de dez a vinte por cento do conteúdo total aplicado no artigo científico.

10.2 Etapas para a introdução


Quanto à formulação de conteúdo, embora não seja uma regra fixa, como primeira etapa para
construção de uma introdução sólida geralmente comunicamos aos leitores a dúvida que suscitou a
investigação científica em estudo. Provavelmente, a questão apresentada não será inédita. Desta
maneira, então como o seguinte passo, é preferível que se informe brevemente a quem lê a razão
das abordagens mais conhecidas não responderem de forma satisfatória à questão proposta. Assim,
o autor contextualiza a pesquisa orientando sobre o estado atual em relação aos conhecimentos
apresentados à comunidade científica e ainda reforça a relevância de tal questionamento científico.

Ainda sobre a contextualização, de forma breve, é muito bem-vindo como procedimento introdutório
realizarmos um sucinto histórico de como outros cientistas observaram a questão e quais teorias e
métodos científicos eles utilizaram para tentar respondê-la. Assim sendo, a introdução deve ser
formulada como uma justificativa para a importância da solução de determinada pergunta para o
avanço da ciência.

Outro movimento importante para a elaboração de uma introdução efetiva é a apresentação dos
objetivos do artigo científico, que devem indicar de maneira clara e perene o legado que pretendemos
deixar a partir da finalização do trabalho em questão, ou seja, o que exatamente estabeleceremos
como um novo apontamento para as discussões científicas que se sucederão. Quando não
relatamos na introdução os objetivos da pesquisa científica de forma precisa, perdemos a
oportunidade de reforçar o interesse do leitor, uma vez que, nessa descrição, estão contidos a ideia
principal e a justificativa que motivou o desenvolvimento do trabalho.

Numa introdução, apontamos de maneira preliminar os métodos que utilizamos para coleta dos
dados e/ou a indicação de qual metodologia utilizamos para realizar as experimentações a partir dos
dados colhidos. Também apresentamos uma contextualização das teorias e de outros
conhecimentos que funcionaram como suporte para a investigação científica. Realizamos este
procedimento a fim de preparar o leitor para o que será abordado no próximo tópico do artigo,
materiais e métodos, etapa em que são descritos os procedimentos realizados para realização da
experiência.

Também é importante que o leitor possa identificar claramente qual hipótese está sendo investigada
como uma possível solução relacionada ao problema científico. Uma hipótese nada mais é do que

71
uma proposição que precisa ser certificada, por meio de um método científico, para que se
estabeleça como conhecimento. É, também, a possível resposta da pergunta abordada pela
pesquisa. De uma maneira geral, as hipóteses se constituem também como uma motivação para a
construção de parcela considerável das pesquisas científicas, pois é a partir deste elemento que se
inicia a investigação científica para confirmação ou refutação de um conhecimento.

10.3 Um guia prático para a elaboração da Introdução


A priori, pode parecer que organizar todas as questões para a elaboração da escrita da introdução
de um artigo científico seja algo extremamente difícil, mas, na prática, quando sabemos qual é a
função e a importância da introdução, tal inventário se torna um elemento que dificilmente deve
suscitar maiores contratempos com relação à produção de um artigo ou outro gênero científico. Na
medida em que você for ganhando experiência na escrita científica, todas essas questões
importantes, e que devem ser abordadas na introdução, serão resolvidas de forma natural, sem a
memorização de regras.

Tenha em mente que os pontos apresentados como importantes para a construção da introdução de
um artigo científico não são necessariamente fixos, isto é, não existe uma espécie de ordenamento
obrigatório para o apontamento de tais questões na escrita da introdução. Leve em consideração
apenas que tópicos como a apresentação do problema científico, contextualização, indicação de
objetivos e outros elementos citados devem ser relatados. Porém, o espaço que eles vão tomar na
escrita, assim como a ordem que serão designados na introdução, devem ser avaliados por quem
escreve o artigo.

Observemos uma situação prática para aprender como funciona a racionalização da introdução a
partir de um hipotético caso de uma investigação científica que necessitaria ser comunicada em
forma de artigo e publicada num periódico. Visualize um profissional da fisioterapia que passou os
últimos quatro anos pesquisando se o ato de estalar os dedos de forma periódica pode, de alguma
forma, fazer mal à saúde das articulações das mãos.

Como o fisioterapeuta em questão pode realizar de forma satisfatória a introdução de seu artigo
científico? A partir da apresentação objetiva e concisa dos pontos que definimos como importantes.

Acompanhe então o esquema:

Evidenciação da dúvida científica em questão: afinal de contas, estalar os dedos frequentemente


é algo prejudicial ou não? Na escrita da introdução deve se deixar claro que esta é a motivação
apresentada para a pesquisa como um todo.

O estado atual da ciência em relação ao problema: o que outros pesquisadores dizem


atualmente? Lembre-se que uma questão científica pode, inclusive, se for o caso, não ter uma
resposta unânime. O mais importante neste tópico é resgatar através da questão um histórico
contemporâneo em relação a dúvida científica apresentada.

Evidenciação das lacunas científicas: é importante deixar claro na introdução o porquê de você
estar retomando as discussões. Certamente, isso se deve a algumas lacunas no conhecimento atual
que são relevantes e impedem que o posicionamento mais atual da maior parcela dos pesquisadores,
na sua visão, seja definitivo.

Objetivos: explicamos a que o estudo se propõe e o que pretendemos deixar de espólio para a
evolução do conhecimento científico. Neste caso, o objetivo é responder cientificamente se o ato de
estalar os dedos pode fazer mal à saúde, encontrando, então, evidências de quais problemas podem

72
ser ocasionados por tal atitude.

Materiais e métodos: um breve relato da coleta de dados e dos experimentos realizados para sanar
a dúvida científica. A apresentação deve servir como uma espécie de sumário do que o leitor
encontrará no tópico posterior à introdução, também chamado de materiais e métodos, em que a
discussão será amplificada.

Evidenciação da hipótese: a possibilidade de resposta que precisa ser investigada para tornar-se
um conhecimento científico. A hipótese em questão é que o ato de estalar os dedos de forma
contínua pode trazer malefícios, uma vez que tais movimentos repetidos inúmeras vezes têm
potencial teórico para machucar as articulações.

Perceba que, ao apontarmos estas questões neste esquema, clareamos para o fisioterapeuta uma
espécie de caminho lógico para a escrita da introdução do artigo por meio da designação desses
pontos, o leitor que acompanha a introdução deve ficar ciente do está por vir em todo o artigo
científico. Há grandes possibilidades de a introdução atingir seu objetivo de apontar como e por qual
razão o novo trabalho é relevante para determinado grupo da comunidade científica.

Considerações Finais
No que se refere a apresentação de um artigo científico, a seção Introdução deve ser realizada com
muito esmero para que transmita aos leitores do que se trata a pesquisa e qual tipo de legado se
pretende deixar para a comunidade científica com a sua realização.

Realize esta etapa inicial com o intuito de que ela seja um diferencial no seu trabalho para que ele
repercuta na comunidade científica. Não é difícil fazê-lo. Este ato requer apenas uma conversa franca
com os leitores sobre o que te motivou para realização desta investigação científica. Se sentir
necessidade, peça ajuda a um professor ou mesmo um pesquisador.

Uma escrita competente desta seção, além de muito bem-vinda, é um bom sinal de que todo o
trabalho foi realizado com foco e profissionalismo. Tenha em mente que uma introdução incompleta
e que não comunique os principais pontos abordados no artigo, além de dificilmente despertar
interesse ao leitor em relação a continuação da leitura de um artigo, é um sinal de desleixo que,
muitas vezes, serve como um bom critério para não publicação de um artigo científico, sobretudo em
publicações mais concorridas.

Com relação a configuração, não há uma regra específica em relação ao formato para apresentação deste tipo
de comunicação científica. Entretanto, boa parcela das revistas científicas trabalha com a seguinte ordem em
relação aos tópicos constituintes dos artigos científicos: I – Introdução; II – Materiais e métodos; III –
Resultados obtidos; IV – Discussões.
A introdução é o lugar mais apropriado para convencer o leitor de que as reflexões que serão colocadas em
prática realmente são importantes. Nesta parte, também detalhamos e justificamos os objetivos que foram
traçados ante a realização do trabalho de investigação científica.
→Uma introdução bem construída orienta o leitor em relação às dúvidas que serviram de base para a
realização da pesquisa e também funciona como uma espécie de roteiro, situando de forma explicativa sobre
os tópicos que deverão ser abordados em todo o artigo

73
→ O pesquisador deve caprichar na escrita deste componente, pois a introdução pode servir como um bom
cartão de visitas para o artigo científico que está por vir, garantindo a atenção do leitor e apontando os
conhecimentos que o artigo pretende estabelecer como novidades a serem apresentadas à comunidade
científica.
→ A primeira tarefa da introdução, enquanto parte essencial de um artigo científico ou de qualquer outro
gênero textual, é apontar como e por que o novo trabalho é relevante para determinado grupo da comunidade
científica.
→ Como primeira etapa para construção de uma introdução sólida, geralmente comunicamos aos leitores a
dúvida que suscitou a investigação científica em estudo.
→ Desta maneira, como o seguinte passo, é preferível que se informe brevemente a quem lê a razão das
abordagens mais conhecidas ão responderem de forma satisfatória à questão proposta.
→ Também é muito bem-vinda como procedimento introdutório a escrita de um sucinto histórico de como
outros cientistas observaram a questão e quais teorias e métodos científicos utilizaram para tentar respondê-
la.
→ Outro movimento importante para a elaboração de uma introdução efetiva é a apresentação dos objetivos
do artigo científico, que devem indicar de maneira clara e perene o legado que pretendemos deixar a partir da
finalização do trabalho em questão.
→ Numa introdução, apontamos de maneira preliminar os métodos que utilizamos para coleta dos dados e/ou
a indicação de qual metodologia utilizamos para realizar as experimentações a partir dos dados colhidos.
Realizamos este procedimento a fim de preparar o leitor para o que será abordado no próximo tópico do artigo,
materiais e métodos, etapa em que serão apresentados os procedimentos realizados para realização da
experiência.

Tenha cuidado para não tornar a introdução extensa. Lembre-se de que a introdução funciona como um início
de conversa sobre sua pesquisa. Você terá outras seções para aprofundar discussões que achar importantes.

Conheça o canal do Youtube TCC sem Drama, organizado pelo professor Hamilton Quintela que, entre outras
coisas, discute boas estratégias relacionadas à comunicação em artigos e outros gêneros científicos.
Disponível em: https://www.youtube.com/c/TCCSEMDRAMA/about. Acesso em 13 abr. 2021.

74
I – Não é papel da seção introdução:

a) Apresentar e discutir os resultados da pesquisa.


b) Orientar em relação às dúvidas científicas que serviram de base para realização da pesquisa.
c) Funcionar como uma espécie de roteiro, situando, de forma explicativa, os tópicos que deverão ser
abordados em todo o artigo.
d) Detalhar os objetivos que foram traçados ante a realização do trabalho de investigação científica.
e) Apontar de maneira preliminar os métodos utilizados para coleta dos dados
Gabarito: A
Comentários: tenha em mente que a seção de introdução não é o local adequado para abordarmos resultados
da pesquisa e seus significados para a comunidade científica. Realizamos tais procedimentos noutras seções.

1– Tendo como objetivo a construção de uma boa seção introdução em um artigo científico, qual primeiro passo
que realizamos neste tópico?
a) Apontamos o objetivo da pesquisa.
b) Apresentamos uma possível hipótese que está sendo investigada.
c) Indicamos a pergunta científica motivadora do estudo científico.
d) A indicação de qual metodologia utilizamos para realizar as experimentações a partir dos dados colhidos.
e) Inserimos comentários diversos sobre a relevância da pesquisa.

2 – Para chamar atenção de uma pesquisa e tê-la publicada em uma revista de boa classificação, um
pesquisador elaborou a introdução de um artigo a partir de características de linguagem mais voltadas à
literatura. Tal procedimento adotado pelo cientista na formulação da introdução era realmente necessário?
Justifique a resposta.

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Se possível, leia a obra Passo a passo do trabalho científico’, escrita por Bruno Carneiro de Lima e lançada
pela editora Vozes. Neste livro, o autor observa boas estratégias para uma comunicação científica eficiente.

Respostas:
1- Alternativa: B
Comentários: Como etapa inicial da introdução, geralmente apresentamos a indagação científica que motivou
os estudos realizados para encontrar as possíveis soluções a tais questões.

2- Padrão de Resposta: Não só é desnecessária tal atitude como também desaconselhável. Não é necessário
possuir dotes literários elevados para escrever uma boa introdução. O que você deve fazer, na verdade, é
simplesmente iniciar uma conversa franca sobre o trabalho realizado, de modo que não reste dúvidas sobre
o motivo de tal investigação ou proposta de abordagem ser necessária. Implementamos a introdução da
forma mais sintética possível, apenas discutindo questões científicas referentes à pesquisa.

76
UNIDADE III
CAPÍTULO 10 - COMUNICANDO MATERIAIS E MÉTODOS
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Do que se trata a seção Materiais e Métodos

✓ Qual a função da seção Materiais e Métodos dentro do artigo científico.

✓ O que comunica a seção Materiais e Métodos.

✓ Os 3 principais pontos da seção Materiais e Métodos.

✓ Como elaborar a seção Materiais e Métodos.

A partir da observação dos seus procedimentos metodológicos, outros cientistas poderão visualizar se existe
ciência em seu trabalho. Portanto, capriche na seção Materiais e métodos

Introdução
Já sabemos que uma das funções dos artigos enquanto peças de comunicação é servir como uma
ferramenta para troca de informações entre membros da comunidade científica. Utilizamos este
gênero, entre outros motivos, para informar nossos colegas a respeito da realização de trabalhos
dos quais fazemos parte enquanto pesquisadores. Por este motivo, torna-se essencial a divulgação
dos principais elementos que constroem nosso trabalho científico para que outros entendam como
se deu nosso movimento de observação.

Iniciamos o debate afirmando que a introdução, entre outras funções, serve para contextualizar a
relevância de determinado trabalho em relação a construção de novos conhecimentos científicos.
Mas, de que ferramentas nos utilizamos para referenciar em nosso trabalho a maneira pela qual ele
foi realizado? Como comunicarmos esta importante questão? Começamos este movimento na
introdução, porém aquele espaço realmente é suficiente para comunicação de quesitos tão
importantes?

Para respondermos à estas importantes questões, observe o seguinte trecho extraído de um artigo
científico publicado em uma revista da área de ciências médicas:
No estudo, foram usados 40 ratos Wistar-Albino com 6 meses de idade, cada um
pesando 350–400 gramas. Após aprovação do comitê de ética (HADYEK-41), o
estudo foi realizado dentro da estrutura das regras especificadas pelo Instituto
Nacional de Experimentos com Animais. Os ratos foram divididos em 3 grupos.
Assim, o Grupo 1 (n = 7) foi aceito como grupo controle. Os ratos submetidos à
obstrução ureteral parcial com ou sem terapia oral com carvedilol em doses diárias
de 2 mg / kg mantidas por 7 dias constituíram os Grupos 3 (n = 8) e 2 (n = 8),
respectivamente. Cada grupo de 4 ratos foi alojado em gaiolas padrão com área de
40 × 60 cm. Os animais foram alimentados com ração padrão de 8 mm e água da
torneira diariamente. Os ratos foram mantidos em gaiolas sob 12 horas de luz e 12

77
horas de escuridão. A temperatura ambiente e a umidade foram fixadas em 22 ± 2 °
C e 50 ± 10%, respectivamente. (ERDEMIR, 2013, p. 14)

Adiantamos que o texto acima não foi retirado de uma introdução. Tal excerto descreve um estudo
experimental, realizado para um possível novo tratamento urológico que, naquele momento, estava
em fase embrionária de testes, uma vez que, como você pode conferir na leitura, ainda estão sendo
utilizados animais de laboratório. Este trecho citado foi retirado de uma publicação da Turquia,
dedicada à apresentação de novos tratamentos e técnicas médicas relacionadas à urologia e é parte
integrante do tópico de Materiais e métodos deste mesmo trabalho. Como podemos constatar, um
leitor que não esteja habituado a questões referentes às ciências médicas ou farmacêuticas deverá
ter muito trabalho para a compreensão exata do assunto abordado no presente trecho, pois o autor
em questão trabalha descrevendo procedimentos experimentais que, para o entendimento completo,
é necessário ser iniciado em determinadas áreas científicas.

Basicamente, é sobre este ponto de que se trata o tópico Materiais e métodos, uma espécie de
retrato falado referente a experimentos e procedimentos metodológicos motivadores de novas
abordagens científicas que dissecaremos no antepenúltimo capítulo de nosso material didático de
comunicação científica.

10.1 A seção mais descritiva do artigo científico


De uma maneira geral, a seção Materiais e Métodos é a parte do texto na qual descrevemos para a
comunidade científica todos os passos que realizamos, a fim de tentar responder à pergunta central
que motivou o estabelecimento da pesquisa. Sendo assim, tenha em mente que, depois de
contextualizamos quaisquer pesquisas e apontamos a relevância na seção da introdução, é
desejável que o próximo tópico referente à escrita de um artigo seja justamente explicar como se
estabeleceram os estudos, metodologia e, se for o caso, os experimentos que foram realizados a fim
de testar determinada hipótese e, assim, validá-la ou refutá-la como conhecimento científico.

Quanto a justificativa desta seção, realizamos esta fase para que outro especialista possa replicar o
estudo a partir das informações fornecidas e também observar se existe realmente um método
científico nos referidos estudos. Por analogia explicativa, uma seção de Materiais e métodos bem
escrita funciona como uma espécie de receita em que, se a descrição estiver realmente correta,
quaisquer outros estudiosos, em diferentes lugares, poderão concluir pareceres próximos ao
publicado pelo autor do artigo em questão.

No que se refere a comunicação científica, a palavra segredo raramente é proferida. Um


conhecimento científico deve ser não só dissecado, mas também sistematizado através da
publicação dos métodos científicos que foram utilizados para a obtenção das conclusões captadas a
partir das experimentações.

Tal procedimento revela a importância da seção Materiais e Métodos na apresentação de um novo


artigo científico. Os outros leitores querem de fato saber se realmente foi realizado um trabalho de
viés científico. Leve em conta que, quando abordamos ciência, qualquer afirmação deve ser
verificada, e a seção de materiais e métodos funciona na prática como uma espécie de detector de
ficções, uma vez que oferece à comunidade científica a oportunidade de compreender
pragmaticamente como determinada conclusão científica foi obtida.

Ademais, uma imprescindível listagem é pontuada nesta seção. Em Materiais e Métodos, geralmente
damos publicidade a como os procedimentos éticos abrangentes às experimentações foram
utilizados. Também comunicamos nesta seção se eles foram analisados por um comitê de ética,
informação importante que garante a integridade e respeitabilidade da pesquisa no Brasil e em

78
território internacional.

10.2 O que comunica a seção Materiais e métodos


Além de todos esses detalhes no que se refere tanto à forma quanto ao conteúdo já citados, uma
elaboração adequada da seção Materiais e métodos tem como característica a apresentação de três
informações relacionadas à descrição dos estudos que, obrigatoriamente, devem ser especificados
para que esta seção do artigo consiga êxito em seus propósitos. Os 3 pontos que devem ser
delineados são, respectivamente: participantes, instrumentos e procedimentos.

Segue abaixo uma breve explicação sobre estes elementos:

Participantes: devemos apontar primeiramente quem, ou ainda, o que participou do presente


estudo, apontando o número de participantes, a descrição apropriada da população ou do outro
coletivo que envolve os sujeitos integrantes do estudo.

Instrumentos: é necessária, para a realização deste item, a descrição dos materiais utilizados para
investigar os participantes ou congregar os resultados. Como instrumentos, estamos a falar de
máquinas, aparelhos, programas de software e também de escolhas metodológicas.

Procedimentos: trata-se da explicação cronológica de como exatamente aconteceu a coleta de


dados realizada pelo pesquisador.

Se achar necessário, você pode separá-los em subseções para melhor descrevê-los, mas nunca
deve esquecer de dispor tais informações para quem acompanha o artigo. Ressaltamos que a
ausência de qualquer um desses itens descaracteriza a seção Materiais e métodos.

Focalize em responder de forma satisfatória às três questões. A apresentação não adequada destes
pilares é um dos grandes motivos pelos quais alguns artigos não sejam publicados em periódicos
científicos.

10.3 Escrevendo Materiais e Métodos


Alguns pesquisadores começam a escrita do artigo a partir da seção de Materiais e Métodos. Uma
explicação plausível para esta preferência tem a ver com a escrita deste tópico, que é essencialmente
descritiva em relação aos procedimentos, equipamentos, parâmetros, normas, medidas e padrões
estabelecidos no que se refere à construção dos experimentos e a apresentação da metodologia
abordada para realização do estudo.

Ao escrever esta seção, tenha em mente que a precisão na descrição é o elemento-chave para a
elaboração de um tópico exitoso de Materiais e Métodos, o que não significa necessariamente que
se deve descrever tudo em detalhes. Entenda que a escrita deste item é focalizada em ressaltar os
procedimentos essenciais que garantam ao leitor a replicação do experimento.

Lembre-se de que o artigo é uma comunicação realizada entre especialistas e a descrição de


algumas situações e procedimentos consiste em perda de tempo e de espaço do artigo que poderiam
ser utilizadas para a comunicação de outras informações mais relevantes. Uma seção de Materiais
e métodos que descreve informações desnecessárias é malvista entre os pares, pois é sinal que o
cientista ainda não domina por completo a formulação necessária para realizar um experimento
científico.

Nesse sentido, é necessário que um pesquisador iniciante resista ao ímpeto de relatar uma
informação que seja irrelevante para o processo de replicação do estudo. Desse modo, descreva

79
apenas informações que sejam realmente necessárias para que outro pesquisador possa refazer os
experimentos.

Não perca tempo descrevendo instrumentos de medição ou metodologias amplamente conhecidas


pela comunidade científica. Lembre-se que os artigos têm espaço limitado em relação a tamanho
para publicação. Desta forma, os parágrafos que você perde em informações desnecessárias podem
fazer falta noutras seções. Tenha em mente que você poderá prejudicar a estrutura de todo o artigo
se você tentar incluir muitos detalhes na seção Materiais e Métodos, então, dê uma boa olhada no
que pode ser descrito e veja o que pode ser removido sem reduzir sua precisão e clareza.

Tal procedimento pode parecer difícil. Por este motivo, é aconselhável uma leitura crítica de um
cientista mais experiente para orientar sobre o que não pode deixar de ser descrito para a realização
da experiência. Um agrônomo que descreve uma experiência sobre um crescimento de plantas, por
exemplo, teoricamente precisaria apontar a localização geográfica exata em que foi realizada a
pesquisa, assim como outras informações, como ambiente e quantidade necessária de regagem e
adubo.

Mas, a primeira informação se torna dispensável quando o experimento é realizado numa estufa
agrícola, pois com este material a experiência se torna replicável tanto numa região mais úmida
quanto mais seca. Seria importante, nesta situação específica, comunicar que a experiência foi
realizada em circunstâncias artificiais e, se necessário, informar a descrição da estufa agrícola se a
mesma tiver alguma particularidade.

Se a sua descoberta envolve um invento de um novo produto, você deve registrá-la nos órgãos competentes
para ser protegida pelas leis de Direitos Autorais e Patentes.

Algumas observações pertinentes:

1) Em relação à escrita de materiais e métodos, ao se referir a padrões relacionados a medidas em


uma descrição, utilize sempre os que se relacionam ao Sistema Internacional de Unidades (STI).

2) Ao utilizar abreviaturas, na primeira aparição no texto, apresente especificamente do que se trata


o termo e em seguida coloque em parênteses a abreviatura utilizada. O padrão ideal de escrita em
relação às abreviações diversas aconteceu no seguinte trecho: “Os pacientes foram avaliados com
história médica detalhada, exame físico, exame de urina completo, antígeno específico da próstata
(PSA) e ultrassom do sistema urinário” (ERDEMIR, 2013, p. 11). Dessa forma, aplique tal modelo
sempre que for necessário utilizar uma abreviação qualquer.

Considerações Finais
Uma boa seção de Materiais e Métodos deve ser entendida como uma seleção dos principais
mecanismos científicos realizados para a efetivação do estudo relatado no artigo. De uma maneira
geral, não há grandes dificuldades para uma construção bem realizada deste tópico se você focar
na descrição dos participantes, instrumentos e procedimentos, as principais informações que devem
ser relatadas para os leitores do artigo.

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Uma seção detalhada é bem-vinda, mas pormenores que não apresentem alguma influência na
realização do estudo, na metodologia e nos experimentos não devem ser relatados, pois indica para
outros especialistas que o cientista que escreve o artigo não tem o exato domínio do que é relevante
para a construção de um estudo científico. Se ficar em dúvida sobre o que relatar nesta seção,
consulte um professor ou um pesquisador mais experiente.

É importante finalizarmos afirmando mais uma vez que a escrita da seção deve ser extremamente
objetiva e clara para que não deixe dúvidas aos leitores sobre os passos seguidos para realização
dos estudos. Por este motivo, é importante que você apresente as situações descritas nesta seção
em ordem cronológica, para que o leitor não se perca na interpretação do relato apresentado.

O tópico Materiais e métodos é uma espécie de retrato falado referente a experimentos e procedimentos
metodológicos motivadores de novas abordagens científicas. Noutras palavras, é a parte do texto em que
descrevemos para a comunidade científica todos os passos que realizamos, a fim de tentar responder à
pergunta central que motivou o estabelecimento da pesquisa.
→ Quanto a justificativa desta seção, realizamos esta fase para que outro especialista possa replicar o
experimento a partir das informações fornecidas. Por analogia explicativa, uma seção de Materiais e métodos
bem escrita funciona como uma espécie de receita em que, se a descrição estiver realmente correta, quaisquer
outros estudiosos em diferentes lugares poderão concluir pareceres próximos ao publicado pelo autor do artigo
em questão.
→ Nesta seção se relatam como os procedimentos éticos abrangentes às experimentações foram utilizados.
Também comunicamos se eles foram analisados por um comitê de ética, informação importante que garante
a integridade e respeitabilidade da pesquisa no Brasil e em território internacional.
→ Uma elaboração adequada desta parte tem como característica a apresentação de três informações
relacionadas à descrição dos estudos que, obrigatoriamente, devem ser especificados para que esta seção do
artigo consiga êxito em seus propósitos. Os 3 pontos que devem ser delineados são, respectivamente:
participantes, instrumentos e procedimentos.
→A ausência de qualquer um desses itens descaracteriza a seção. Focalize em responder de forma satisfatória
às três questões. A apresentação não adequada destes pilares é um dos grandes motivos para que artigos
não sejam publicados em periódicos científicos.
→ A precisão na descrição é o elemento-chave para a elaboração de um tópico exitoso, o que não significa
necessariamente que se deve descrever tudo em detalhes. Tenha em mente que a escrita deste item é
focalizada para ressaltar os procedimentos essenciais que garantam ao leitor a replicação do experimento.
→ É necessário que um pesquisador iniciante resista ao ímpeto de relatar uma informação que seja irrelevante
para o processo de replicação do estudo. Desse modo, descreva apenas informações que sejam realmente
necessárias para que outro pesquisador possa refazer os experimentos.
→ Em relação à escrita de materiais e métodos, ao se referir a padrões relacionados a medidas em uma
descrição, utilize sempre os que se relacionam ao Sistema Internacional de Unidades (STI).

Não é necessário descrever todos os seus materiais e métodos, mas aquilo que é imprescindível para que os

81
pares entendam como se deu seus estudos.

Realize uma pesquisa para estudar quais padrões de medidas são reconhecidos pelo Sistema Internacional
de Unidades (STI).

Se você gosta de podcasts, confira o Fronteiras da Ciência, programa realizado por cientistas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul dedicado a explicar o cotidiano do trabalho científico e suas peculiaridades.
Disponível em: http://www.ufrgs.br/frontdaciencia. Acesso em 13 abr. 2021

I – No que tange à seção Materiais e Métodos de um artigo científico, é correto afirmar que:
a) Deve ser diluída dentro da seção Introdução.
b) Geralmente, é a terceira seção que apresentamos, logo após Introdução e Resultados.
c) Por ter como característica a originação de um texto extremamente descritivo, é a seção mais difícil para
elaboração num artigo científico.
d) É uma seção importante, em que contextualizamos a importância da pesquisa científica.
e) É uma espécie de retrato falado referente a experimentos e procedimentos metodológicos motivadores de
novas abordagens científicas.
Gabarito E
Comentários
A – Na seção Introdução, abordamos rapidamente os principais materiais e métodos, mas não diluímos a seção
Materiais e Métodos, que é um tópico independente.
B – Materiais e Métodos geralmente é a segunda seção de um artigo.
C – Por suas características descritivas, não é considerada uma seção de difícil escrita, embora sua realização
requeira cuidados
D – Tal apontamento é característico da Introdução e não de Materiais e Métodos.

82
1 – Em Materiais e Métodos, quais informações precisam necessariamente ser descritas para uma boa
elaboração desta seção?
a) A – Informações relacionadas aos Participantes, Instrumentos e Procedimentos.
b) B – Informações relacionadas aos Instrumentos e Procedimentos.
c) C - Informações relacionadas aos Instrumentos e experimentações.
d) D – Informações relacionadas aos Participantes, Instrumentos, Procedimentos e experimentações.
e) E – Informações relacionadas à contextualização da pesquisa.

2 – Uma pesquisadora que desenvolve uma nova terapia para crianças com transtorno de espectro de autismo
está com dificuldades para saber o que relatar na seção Materiais e Métodos. Por esse motivo, a psicóloga
decidiu indicar na escrita cada detalhe ínfimo das suas experimentações e procedimentos de estudos. A seu
ver, tal medida trata-se de uma boa escolha? Justifique sua resposta.

Se possível, leia Métodos e técnicas de pesquisa em psicologia, escrito por Luis Fernando de Lara Campos e
publicado pela editora Alinea em 2019. Nesta obra, o autor, que também é psicólogo, aprofunda técnicas de
escrita científica próprias da pesquisa em psicologia.

Respostas:

1- Alternativa A

2- Padrão de Resposta: Não. A precisão na descrição é o elemento-chave para a elaboração de um tópico


exitoso de materiais e métodos. A escrita deste item é focalizada para ressaltar os procedimentos
essenciais que garantam ao leitor a replicação do experimento. Se a pesquisadora tem dúvidas, ela deve
consultar um professor ou mesmo um pesquisador mais experiente para orientá-la.

83
UNIDADE III
CAPÍTULO 11 - APRESENTANDO OS RESULTADOS DA
PESQUISA
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Sobre a função da seção Resultados.

✓ O que deve ser foco da Seção Resultados.

✓ Como elaborar a seção Resultados em artigos e outros gêneros científicos.

✓ A respeito da importância dos elementos não verbais para a comunicação dos resultados.

✓ Como evitar alguns erros comuns na elaboração desta seção.

Introdução
Após indicarmos os materiais e métodos para a coleta de dados e a realização de procedimentos
experimentais aplicados na pesquisa, o próximo passo na apresentação de um artigo científico
consiste em apontar as descobertas levantadas na aplicação prática dos procedimentos
metodológicos. Consumamos isto na seção Resultados, o local em que os especialistas e leitores do
artigo esperam encontrar a descrição precisa dos dados que foram obtidos a partir das análises e
experimentos realizados.

É a partir da seção de Resultados que os remates dos experimentos aplicados para testar a eficácia
das hipóteses, apresentadas como possíveis respostas às dúvidas científicas, são mensurados,
tabulados e sistematizados para que a comunidade científica acompanhe a validação ou refutação
da nova proposição que está sendo investigada. Dessa forma, a seção Resultados deve ser
entendida como uma espécie de prova real do que foi proposto como solução científica.

Nesta etapa, as informações obtidas por meio dos experimentos e outros procedimentos
metodológicos devem ser descritas de forma extremamente objetiva. Ao relatar os dados obtidos, a
redação do artigo não deve deixar quaisquer tipos de dúvidas no que se refere à caracterização do
que foi observado.

As informações expostas neste tópico, que podem ser descritas tanto em linguagem verbal como em
linguagem não verbal (principalmente através de gráficos e tabelas), precisam indicar todo tipo de
informação relacionada à dúvida científica levantada a partir da introdução de forma clara, caso
contrário, a comunicação como um todo do artigo falhará no propósito de fornecer à comunidade um
conhecimento científico válido.

De um modo geral, a escrita de Resultados é realizada tendo como base o tempo verbal pretérito.
Adiantamos que este tópico tem como característica não interpretar os dados, mas apenas
apresentá-los de maneira bruta. Na escrita do artigo, realizamos nossas interpretações dos dados
obtidos com devida ênfase em outro tópico, a seção Discussão, que apresentaremos como último
ponto deste curso de comunicação científica.

Ao decorrer deste capítulo, o penúltimo de nosso curso de Comunicação Científica, indicaremos


como apresentar uma seção de Resultados satisfatória para a comunidade científica e para os

84
leitores que acompanham os relatos descritos no artigo a fim de descobrir o que apareceu de novo
nos experimentos propostos, respondendo às dúvidas científicas que ocasionaram a pesquisa.

Mais do que números, a seção Resultados é o lugar em que você concentra esforços para tentar responder
uma dúvida científica. Portanto, escreva-o com o devido esmero.

11.1 O que deve ser foco da seção Resultados


Em vias gerais, não há grandes dificuldades para a realização da escrita da seção Resultados. Para
uma boa comunicação desta seção, é necessário enfatizar o que foi encontrado a partir da
investigação. Por conseguinte, os números, estatísticas e outros dados mensurados no estudo
devem falar por si de forma catedrática, sem maiores explicações.

Em relação à formulação da escrita, a priori, como já adiantamos, tenha em mente que a seção
Resultados, de uma maneira geral, é realizada no tempo verbal pretérito. Nesta seção, não se deve
apontar interpretações relativas às informações colhidas. Seja por precipitação ou mesmo por falta
de orientação, o erro de apresentar os resultados junto a análises dos dados é malvisto entre
professores, pesquisadores e bancas que avaliam a inserção de artigos em revistas científicas e
pode, inclusive, a depender do critério de avaliação do periódico, ser um ponto relevante para não
publicação de um artigo.

Geralmente, as interpretações dos dados levantados na seção Resultados são apontados na seção
seguinte, denominada Discussões. Desmembrar os resultados das interpretações em distintas
seções é importante para a manutenção da objetividade do relato científico. Na prática, tal
procedimento visa facilitar que os leitores tirem conclusões próprias a partir das mensurações
publicadas. Noutro momento, esses deverão confrontar tais conclusões com a visão do autor então
apresentada na seção de discussões. Apontar qualificações referentes aos dados nesta seção pode
levantar uma impressão, por exemplo, de que, de alguma forma, o autor do texto deseja interferir na
interpretação de terceiros sobre os dados da pesquisa e suas relações com o trabalho de uma
maneira geral.

Outro erro bem comum na escrita deste item que precisa ser evitado é a apresentação de
informações não relacionadas aos resultados obtidos. Leve em consideração que, nesta etapa,
menos é mais. Em outras palavras, um fluxo muito grande de informações pode levar o leitor a erros
de interpretação. No entanto, é bem comum, ao escrevermos a seção Resultados, lembramos de
alguma informação específica que precisa ser apontada para um melhor entendimento das
mensurações obtidas. Neste caso, acrescente as informações nas seções anteriores. Na escrita dos
resultados, contextualizações pormenores, assim como explicações relacionadas aos experimentos
e à metodologia, não são bem-vindas.

Uma boa dica é sempre reler as outras seções do artigo depois de ter escrito a seção Resultados
para garantir que o leitor tenha contexto suficiente para entender os resultados apresentados. Se, de
algum modo, você entender que são necessárias mais informações para compreensão dos dados
obtidos na pesquisa, este é um sinal de que as outras seções precisam ser mais bem construídas e
contextualizadas.

85
11.2 Como devemos apresentar a seção resultados
Como já apontamos, o foco no relato do que foi observado a partir da metodologia e dos
experimentos escolhidos é a chave para elaboração deste tópico. Desta maneira, somente devem
ser apontados nesta seção os dados que se referem, de alguma forma, à pergunta inicial da
pesquisa.

Por exemplo: se você está estudando a possibilidade de uma substância ser eficaz para o tratamento
da gripe e descobrir evidências que esta mesma substância pode ser eficaz para o tratamento de
outra enfermidade, guarde este dado para uma outra investigação científica, pois ele não se refere a
pergunta que motivou a pesquisa.

Em seguida, é necessário construir uma lógica para a apresentação dos dados obtidos. É uma
característica comum a todos os experimentos em que alguns dados levantados sejam mais
significativos do que outros. Em linhas gerais, é muito importante que se dê mais publicidade e
destaque às informações principais que confirmem ou refutem a hipótese relacionada à pergunta
científica do estudo.

É preferível que comecemos a articular a escrita dos resultados a partir das informações principais
descobertas na pesquisa no que se refere à demanda científica que então pretendeu-se investigar.
Dados complementares podem ser bastante bem-vindos, mas, lembre-se que, de uma maneira geral,
o espaço físico para construção de um artigo é limitado. Portanto, avalie com outros pesquisadores
mais experientes a relevância da publicação destas informações para o estudo.

Por exemplo: um pesquisador da área de psicologia infantil que investiga uma possível nova
abordagem terapêutica para crianças com transtornos de ansiedade deve publicar primeiramente os
dados que atestem ou não a viabilidade de tal procedimento terapêutico nas circunstâncias
avaliadas. Se, por acaso, nas experimentações, a pesquisa revelar que tal terapia pode ser
potencialmente efetiva para outros problemas psicológicos, a informação deve ser publicada em
segundo plano e, caso realmente seja muito importante, deve ser esquadrinhada num outro artigo
científico. Dar a mesma importância a estas informações pode confundir o leitor em relação ao foco
do estudo.

O comprimento da página da seção de resultados é orientado pela quantidade e pelos tipos de dados
a serem relatados. Porém, uma gestão de espaço malfeita na seção Resultados pode ocasionar
problemas na construção do artigo. Lembre-se que o espaço físico para publicação de artigos é muito
limitado, entre 10 a 20 páginas geralmente. Por este motivo, também é muito importante não publicar
dados irrelevantes para investigação científica.

11. 3 Elementos de linguagem não verbais


Para a construção de uma seção que identifique os resultados da pesquisa de uma forma efetiva,
são bem-vindas incursões de elementos de linguagem não verbais, como tabelas e gráficos, pois
são muito interessantes no que se refere a uma melhor apresentação dos dados descobertos a partir
da pesquisa.

Sempre converse com outros pesquisadores mais experientes sobre a necessidade de apresentação
dos resultados a partir de elementos não verbais. Gráficos e tabelas têm a função de enfatizar os
dados obtidos por meio do destaque visual em relação a leitura que proporcionam a quem
acompanha o artigo e, por este motivo, devem ser autossuficientes no que se refere a interpretação.

86
Isto quer dizer que se, de alguma forma, existe a necessidade de explicá-los através da escrita, tais
elementos devem ser repensados porque estão mal estruturados em relação a seu propósito.

Os resultados apresentados em tabelas não devem ser repetidos literalmente no texto. Os trechos
textuais que se sucedem a elementos gráficos não verbais devem agir de maneira complementar em
relação às informações que já foram apresentadas. Ou seja, destacar algum ponto muito específico
importante para validação ou refutação da hipótese proposta como possível solução, mas sem
explicá-la ou entrar em detalhes pormenores.

Figura 1: Ilustração que demonstra de forma prática como um gráfico deve ser apresentado na seção
Resultados de um artigo científico. GIACCHERO E MIASSO, (2006).

11.4 Números que refutam a hipótese devem ser apresentados?


Se os estudos apresentarem dados que refutem a proposição inicial que foi investigada, não há
problema em publicá-los, nem tal descoberta invalida os méritos científicos de uma pesquisa bem
realizada. Ao testar uma hipótese que não se confirmou, o pesquisador contribuiu para a evolução
da ciência ao apontar que tal mecanismo investigado não apresentou valor científico como
conhecimento.

Comunicar este fato também é de extrema relevância para que, assim, outros estudiosos possam
elaborar novas hipóteses e experimentar mais abordagens como possível solução à indagação
científica que continua aberta. Se deparar com números e estatísticas que refutem uma ideia que
parecia promissora é algo comum na ciência e de nenhuma forma devem ser impeditivos para que
se comunique um estudo e todos os conhecimentos advindos da pesquisa.

87
Considerações Finais
A partir do que discutimos nos três últimos capítulos, entenda que, no que se refere à disposição das
seções de um artigo científico, existe uma lógica cronológica que deve ser estabelecida.
Primeiramente, contextualizamos a pesquisa para, a partir da introdução, apresentarmos a dúvida
que motivou a pesquisa e a sua relevância para a comunidade científica.

Posteriormente, na segunda seção, descrevemos os materiais e métodos que usaremos para


estudar a questão motivadora de nossa dúvida científica. A terceira seção é o lugar em que
divulgamos tudo que foi encontrado relativo aos nossos estudos e que, de alguma forma, se
relacionam com a questão que está sendo investigada em nosso trabalho.

Tenha como objetivo, ao escrever a seção Resultados, não os interpretar, pois existe um tópico
específico para tal procedimento. A seção Resultados é o espaço dos números, estatísticas e outras
informações obtidas a partir dos procedimentos metodológicos aplicados na prática. Desta forma,
qualquer outra informação, mesmo que importante, deve ser deslocada para as outras seções. Se
faltar alguma informação para que este tópico seja lido de maneira clara, insira a referência na seção
adequada e escrita anteriormente. Apresentar informações de resultados próprios da pesquisa a
partir de gráficos, tabelas e outros elementos próprios da linguagem não verbal podem ser
interessantes, desde que estes componentes não precisem de maiores explicações em relação aos
dados indicados. Avalie a possibilidade desta aplicação com outros pesquisadores mais experientes.

A função do tópico Resultados nos artigos e outras comunicações científicas é comunicar, de maneira
adequada, o que foi encontrado nos procedimentos metodológicos selecionados para o estudo em questão..
→ Para uma boa comunicação desta seção, é necessário enfatizar o que foi encontrado a partir da
investigação. Os números, estatísticas e outros dados mensurados no estudo devem falar por si de forma
catedrática, sem maiores explicações.
→ Nesta seção, não se deve apontar interpretações relativas às informações colhidas. O erro de apresentar
os resultados junto a análises dos dados é mal visto entre professores, pesquisadores e bancas que avaliam
a inserção de artigos em revistas científicas.
→ Outro erro bem comum na escrita deste item que precisa ser evitado é a apresentação de informações não
relacionadas aos resultados obtidos. Somente devem ser apontados nesta seção os dados que se referem, de
alguma forma, a pergunta inicial da pesquisa.
→ É necessário construir uma lógica para apresentação dos dados obtidos. É uma característica comum a
todos os experimentos que alguns dados levantados sejam mais importantes do que outros. Em via geral, é
muito importante que se dê mais publicidade e destaque às informações principais que confirmem ou refutem
a hipótese relacionada à pergunta científica do estudo.
→ Para construção de uma seção que identifique os resultados de uma forma efetiva, são bem-vindas
incursões de elementos não textuais, como tabelas e gráficos. Apesar de não obrigatórios, elementos não
textuais como os citados são bastante interessantes no que se refere a uma melhor apresentação dos dados
descobertos a partir da pesquisa.
→ Gráficos e tabelas têm a função de enfatizar os dados obtidos através do destaque visual em relação a
leitura que proporcionam aos leitores e, por este motivo, devem ser autossuficientes no que se refere a
interpretação.

88
→ Ao apresentar gráficos e tabelas, tenha em mente que será necessário enumerá-los [por exemplo, Tabela
1, Tabela 2; Quadro 1, Quadro 2; Mapa 1, Mapa 2] e legendá-los de forma que a legenda não deixe dúvidas a
respeito das informações que estão sendo descritas em formas de números, porcentagens, estatísticas e
outras formas de mensuração científica.
→ Se os estudos apresentarem dados que refutam a proposição inicial que foi investigada, não há problema
em publicá-los, nem tal descoberta invalida os méritos científicos de uma pesquisa bem realizada. Ao testar
uma hipótese que não se confirmou, o pesquisador contribuiu para a evolução da ciência ao apontar que tal
mecanismo investigado não apresentou valor científico como conhecimento.

Nesta seção, só devem ser publicados os resultados dos experimentos que se relacionam de alguma forma
com a dúvida inicial levantada pela pesquisa na Introdução.

Em nenhuma situação você deve fabricar resultados. Esta é uma má conduta científica tão grave quanto o
plágio e passível de punição. Não minta para defender um ponto que não pode ser provado cientificamente em
nenhuma hipótese.

Realize entrevistas com pesquisadores de sua área científica para observar, de forma prática, como eles
formulam a seção Resultados e como a relatam a partir da escrita científica.

Conheça a revista Psicologia em Pesquisa, um periódico editado pelo Programa de Pós-graduação em


Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) que, em seu conteúdo, relata muitos resultados de
pesquisas empíricas e teóricas de trabalhos de diversas áreas da psicologia. Ao ler a revista, focalize em como
os pesquisadores apresentam a seção de resultados para o público leitor do periódico.

Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/psicologiaempesquisa/about. Acesso em 13 abr. 2021

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I – Assinale a alternativa que aponta para uma característica que deve ser apresentada na seção Resultados.
a) Nesta seção, apresentamos a interpretação relacionada aos dados que obtivemos a partir dos
experimentos.
b) De forma obrigatória, devemos apresentar os dados desta seção através de gráficos.
c) Números que refutam nossa tese devem não ser publicados nesta seção.
d) Para construção de uma seção que identifique os resultados de uma forma efetiva, são bem-vindas
incursões de elementos não textuais, como tabelas e gráficos.
e) Quaisquer dados obtidos a partir dos experimentos devem ser alocados na seção Resultado.
Gabarito: D
Comentários
A – Esta seção não deve apresentar interpretações relacionadas aos dados.
B – A apresentação de elementos não textuais não é obrigatória para a formulação desta seção.
C – Os números que refutam uma tese devem ser publicados, pois eles não invalidam o trabalho científico
proposto para investigação de uma dúvida científica.
E – Dados que não se relacionem com o propósito da pesquisa devem ser descartados ou guardados para
uma outra investigação científica.

II – Sobre a seção Resultados, é correto afirmar que:

a) Geralmente trata-se da última seção de um artigo científico.


b) Sua escrita permite uma maior liberdade de improviso ao escritor, que pode apresentar dons literários na
realização de tal seção.
c) Sua função nos artigos e em outras comunicações científicas é comunicar de maneira adequada o que foi
encontrado nos procedimentos metodológicos selecionados para o estudo em questão.
d) É desejável que sejam inseridos na seção introdução os resultados mais importantes para facilitar a escrita
da seção Resultados.
e) Trata-se, obrigatoriamente, da seção mais curta de um artigo científico.
Gabarito: C

90
III – Ao pesquisar uma possível nova terapia a ser aplicada em adultos a partir de 60 anos, uma pesquisadora
concluiu que tal procedimento investigado não tem eficácia científica na prática. Por este motivo, nossa amiga
está pensando em desistir de escrever um artigo científico e de apresentar tal trabalho em congressos de
psicologia, pois sua tese inicial acabou sendo refutada. Na sua visão, esta atitude está correta? Justifique a
resposta
Padrão de resposta: A atitude não se justifica. A pesquisadora deve apresentar seu trabalho normalmente,
pois resultados negativos não invalidam a ciência de seu trabalho. Ao testar uma hipótese que não se
confirmou, o pesquisador contribuiu para a evolução da ciência ao apontar que tal mecanismo investigado não
apresentou valor científico como conhecimento.

Se possível, leia Estatística sem matemática para psicologia, escrito por Christine Dancey e John Reid,
publicado pela editora Penso. Entre outras coisas, a presente obra aborda como apresentar resultados usando
ferramentas próprias da estatística de uma maneira compreensível e direta, expandindo, dessa forma, os
horizontes possíveis na comunicação da pesquisa científica da área de psicologia.

91
UNIDADE III
CAPÍTULO 12 - ACERTANDO AO REALIZAR DISCUSSÕES
No término deste capítulo, você deverá saber:

✓ Qual é a função da seção Discussões.

✓ O que deve ser foco da seção Discussões.

✓ Como elaborar a seção Discussões em artigos e outros gêneros científicos.

✓ Sobre algumas armadilhas que se apresentam na construção deste tópico.

✓ Como elaborar as considerações finais de um artigo.

A função da ciência não é alimentar egos; mas, sim, fornecer novas perspectivas em relação aos
conhecimentos.

Introdução
É chegada a hora de finalizar o artigo e, como etapa final, é necessário apontar para os leitores os
principais debates que se sucederam a partir do que foi revelado na pesquisa. Realizamos tal
procedimento na seção Discussões, que tem como principal objetivo contextualizar os dados obtidos
na seção Resultados a partir de interpretações científicas próprias para, assim, comunicar de forma
clara se houve uma resposta concreta à indagação científica que motivou os estudos.

Neste estágio, apresentamos nossas considerações a respeito do estudo realizado para que então
sejam avaliadas pelos pares, enfatizamos o legado de todo o trabalho, suas possíveis implicações
em nosso campo e em outras áreas de estudo e, quando necessário, apontamos novas investigações
que precisam ser desenvolvidas para um melhor entendimento do problema científico em toda sua
conjuntura.

Em linhas gerais, esta seção é importante porque apresenta à comunidade científica um parecer do
que foi investigado. Desta forma, indicamos de que maneira a descoberta transformou as
compreensões conhecidas anteriormente. Em alguns casos, também argumentamos nesta seção
como as descobertas do estudo sinalizam para novas lacunas na ciência que não haviam sido
anteriormente expostas ou adequadamente descritas na literatura científica.

Por todos estes motivos, tenha em mente que a seção Discussões é a mais significativa de um artigo.
É a partir de sua escrita que o cientista demonstra aos colegas suas habilidades de raciocínio crítico
e toda sua criatividade e domínio de questões de ordem teórica, indicando então soluções com base
nos dados obtidos para os problemas que deram origem à pesquisa científica.

Para descobrir o grau de relevância de um estudo, geralmente o primeiro local que a banca
avaliadora de um periódico observa é a seção Discussões, para descobrir quais as novidades que

92
determinado pesquisador aponta para a evolução da ciência. Se esta seção não comunicar de forma
objetiva, clara e concisa, dificilmente os avaliadores prosseguirão a leitura. Caprichar neste tópico é
essencial para que nossos estudos atinjam relevância, no que se refere à comunicação, para um
público mais amplo.

Neste último capítulo de nossa disciplina de comunicação científica, trabalharemos estratégias


comunicativas para que você consiga realizar uma boa seção Discussões e finalizar de forma
competente um artigo científico para publicá-lo numa revista ou outro periódico, disseminando
conhecimentos para outros profissionais.

12.1 Os principais passos


Se a pesquisa como um todo foi bem realizada e os outros tópicos do artigo foram bem escritos, não
será difícil escrever uma boa seção de discussões, desde que tomemos alguns cuidados. Em
primeiro lugar, é importante entender que a seção Discussões não é uma repetição da seção
Resultados. Lembre-se que cada tópico do artigo científico tem sua própria função. Dito isto, tenha
em consideração que neste tópico não devemos descrever o que encontramos nos nossos estudos,
mas sim realizarmos uma interpretação do que foi encontrado.

Por este motivo, apresentar este tópico de maneira superficial, sem os exames necessários dos
dados obtidos ou mesmo repetindo os resultados já escritos na pesquisa é um erro que fará com que
o artigo em questão não seja publicado. Realizar todos os procedimentos científicos para responder
uma questão e não tentar respondê-la é, metaforicamente, o mesmo que nadar para escapar de um
afogamento e arrefecer na areia da praia. Desta forma, tenha o devido cuidado para não repetir o
que já foi escrito anteriormente.

A partir desta perspectiva, leve em conta que a chave para a elaboração deste tópico consiste em
selecionar as informações mais importantes da seção Resultados e extrair conhecimentos que se
relacionam diretamente com as indagações científicas apresentadas no artigo. Se, por exemplo, você
é um biólogo que está estudando se existe possibilidade de vida em Marte, você precisa, a partir de
suas investigações científicas e experimentos, verificar se o planeta tem condições para levantar tal
hipótese.

Na seção Discussões é esperado que você argumente em prol de uma conclusão que foi obtida a
partir do que foi encontrado nos resultados. Se o biólogo encontrou, no nosso exemplo, água líquida
e outros elementos essenciais para a formação da vida como a conhecemos na terra, a partir destes
dados o pesquisador deve apontar um raciocínio que sustente uma posição afirmativa em relação à
pergunta que motivou o estudo.

Desta forma, tenha em mente que, além de um bom relator, um escritor de artigos científicos
competente precisa saber interpretar o significado das descobertas da pesquisa para a área de
estudos em questão. Por exemplo, se você constatar em sua investigação científica que uma nova
terapia na área de psicologia é promissora para o tratamento de pessoas com quadro leves de
depressão, seu artigo deve apontar o que muda a partir desta descoberta em relação ao que se sabe
atualmente na psicologia clínica e em outras áreas que abordam a depressão como tema de
interesse.

Tal apontamento crítico é necessário para a evolução da ciência e muito esperado pelos leitores que
acompanharam o artigo científico até esta fase final. Assim sendo, é importante não deixar de pontuar
no debate as questões primordiais reveladas pelos estudos. Apesar do espaço físico para realização
de artigos ser limitado, a comunicação das novidades é a alma do gênero artigo científico e o que

93
motiva a leitura de trabalhos publicados em revistas e outros periódicos. Por este motivo, é
necessário deixar um espaço considerável para a feitura deste tópico. Geralmente, reservamos de
20% a 40% do espaço dedicado à publicação dos artigos para realização dos debates.

12.2 As armadilhas da seção Discussões.


Durante a escrita desta seção, é preciso ter cuidado ao comunicar quaisquer conclusões definitivas.
É comum em pesquisadores inexperientes uma empolgação excessiva em relação aos números e
tal atitude pode atrapalhar na leitura da pesquisa. É necessário um profundo cuidado para não
enxergar nas descobertas elementos que não se baseiam na realidade factual dos resultados.

Observe também que o tópico Discussões deve permanecer focado em apresentar debates
relacionados às descobertas realizadas dentro do trabalho, e não especular sobre situações não
investigadas. Por exemplo, se você estudou uma nova abordagem psicológica terapêutica para
crianças entre 7 a 10 anos, não é possível especular que tal procedimento tenha o mesmo grau de
eficácia com pacientes adultos ou mesmo adolescentes sem recorrer a uma investigação precisa
que sustente a afirmação, o que seria outro trabalho científico.

Neste sentido, tenha cuidado para não responder uma outra pergunta que não estava
contextualizada e nem era propósito da pesquisa científica exposta no artigo em questão. Este
equívoco é muito comum nas comunicações científicas escritas em geral, inclusive em outros
gêneros, como as dissertações e as teses. Não se distraia com as suas descobertas e mantenha o
foco. Se for caso, relate esta descoberta afirmando que ela não tem a ver com sua proposta inicial e
que será mais investigada noutro estudo.

Imagine o leitor que vem acompanhando um artigo para obter uma possível informação e, no final
da leitura, ele observa que o trabalho responde uma outra questão que não é do interesse dele. Seu
colega obviamente vai se sentir enganado e evitará acompanhar outros trabalhos realizados por
você. Por isso, se atente a esta questão que em primeiro momento parece óbvia, mas que acontece
frequentemente com pesquisadores inclusive mais experientes.

12.3 Construindo a seção Discussões


Começamos a escrever os resultados a partir do entendimento do problema científico exposto na
introdução. Dito isso, devemos ter o cuidado de reproduzirmos na seção a indagação exata que
motivou a pesquisa. Se, no início, pretendemos investigar de que forma o bullying infantil contribuiu
para prejudicar a saúde mental de adolescentes, devemos finalizar o artigo retomando esta dúvida
para, em seguida, respondê-la a partir dos conhecimentos obtidos nos estudos. Leve em
consideração que esta seção tem função analítica dentro de um artigo, portanto, nenhuma
informação nova relacionada a pergunta científica deve aparecer

O próximo passo é comunicar, em ordem de relevância, as implicações relacionadas às descobertas


obtidas pela pesquisa. Nesse sentido, é primordial deixar muito claro ao leitor o que tais apurações
representam para o entendimento de possíveis novos conhecimentos científicos. Noutras palavras,
se você estiver, por exemplo, estudando se uma nova abordagem terapêutica é funcional para um
tratamento específico, indique a resposta de forma objetiva justificando com os dados e informações
obtidos na seção Resultados.

Para a realização de afirmações categóricas, aprofunde-se ao máximo ao explicar suas descobertas,


relacionando-as com a indagação inicial motivadora da pesquisa. Selecione os dados e os
conhecimentos adquiridos mais interessantes e avalie criticamente os seus significados, não

94
esquecendo de levar em consideração as circunstâncias em que foram construídos os seus
experimentos.

Se sentir que faltou alguma explicação sobre os métodos e a contextualização da pesquisa de uma forma
geral, insira-os nas seções adequadas.

12.4 Contextualizando as descobertas com trabalhos anteriores


A fim de uma contextualização adequada, é importante apresentar, durante a escrita deste tópico, a
confrontação dos dados obtidos em nossa pesquisa com investigações de outros pesquisadores para
nos posicionarmos em relação às discussões antigas, que podem ter um novo entendimento ou
mesmo reforçar posicionamentos já apresentados por colegas anteriormente.

Por exemplo, se um pesquisador concluiu anteriormente que tal procedimento não é eficaz para um
problema e suas evidências experimentais contrariam esta perspectiva, faz parte da contextualização
a interpretação de possíveis motivos para esta diferença de resultados. Para a realização de tal
objetivo, é necessário utilizar-se da revisão de literatura científica, uma das etapas iniciais da
pesquisa científica.

Lembre-se que é característica do conhecimento científico não ser infalível, pois constantemente ele
evolui. É papel da seção de uma seção Discussões bem construída situar o conhecimento científico
apresentado na pesquisa, aproximando-os coerentemente com trabalhos anteriores.

A partir de um mau trabalho de revisão de literatura científica, será muito difícil a necessária contextualização
de nossos resultados e interpretações com o de outros pesquisadores. Este é um dos motivos que justifica o
capricho no trabalho de revisão de literatura científica.

12.5 Realizando as considerações finais


É comum, após a realização dos principais debates acadêmicos apontados na seção Discussões,
que revistas e outros periódicos cedam espaço para que o pesquisador possa relatar suas
considerações finais e realizar, de forma breve, um desfecho formal para o relato científico exibido
em forma de artigo. Durante as considerações finais, seja breve, claro e sucinto, apontando o legado
de toda a jornada científica, ou seja, as principais realizações do estudo para uma área específica
do conhecimento e, quando for o caso, também para áreas correlatas.

Seja interpretativo, analítico, mas de forma nenhuma apresente uma informação nova na finalização
de seu artigo científico. As comunicações científicas não são filmes ou romances que permitem
grandes plot twists justamente no final da obra. As revelações devem ser apontadas nas seções
anteriores, de acordo com o perfil das informações obtidas.

95
A atitude de deixar para apresentar uma nova informação ou mesmo uma interpretação mais perene
dos resultados justamente nas considerações finais é muito malvista entre os pares, sendo um sinal
de que o escritor não domina de forma satisfatória a estruturação de um artigo científico.

Pesquise o significado do termo plot twist e raciocine sobre o porquê de tal formulação ser indesejável nas
considerações finais de um artigo científico.

Considerações finais
Chegamos ao fim da nossa disciplina de Comunicação Científica. Mais do que apresentarmos regras,
definições e proposições específicas, esperamos ter introduzido quem acompanhou este trabalho a
novas perspectivas de disseminação de conhecimentos. Esperamos que você se adentre no rico
universo da comunicação científica aprendendo com outros colegas e disseminando suas próprias
descobertas para que outros não só as reproduzam, mas as complementem quando necessário.
Nesse sentido, lembre-se sempre da lição exibida nos primeiros capítulos deste livro: ciência é uma
atividade coletiva. Este é um dos motivos que a fazem tão necessária para a humanidade.

Em relação ao tópico Discussões, tema derradeiro deste livro, entenda-o como a oportunidade de
apontar à comunidade científica a sua interpretação dos resultados colhidos na jornada de estudos
evidenciada ao decorrer de todo artigo científico. Tenha em mente que a seção Discussões, por mais
definitiva que ela possa parecer, geralmente não é o fim da jornada, pois as considerações inseridas
neste local servem como um motivador para que outros colegas prossigam a investigação científica
de onde você parou. Este movimento é uma das principais engrenagens que faz evoluir os
conhecimentos científicos como um todo.

A seção Discussões tem como principal objetivo contextualizar os dados obtidos na seção Resultados a partir
de interpretações científicas próprias para comunicar, de forma clara, se houve uma resposta concreta à
indagação científica que motivou os estudos.
→ Neste estágio, apresentamos nossas considerações a respeito do estudo realizado para que sejam
avaliadas pelos pares, também enfatizando o legado de todo o trabalho, suas possíveis implicações em nosso
campo e em outras áreas de estudo e, quando necessário, apontamos novas investigações que precisam ser
desenvolvidas para um melhor entendimento do problema científico em toda sua conjuntura.
→ É a partir deste tópico que o cientista demonstra aos colegas suas habilidades de raciocínio crítico e toda
sua criatividade e domínio de questões de ordem teórica, indicando então soluções com base nos dados
obtidos para os problemas que deram origem à pesquisa científica.
→ É importante entender que a seção Discussões não é uma repetição da seção Resultados. Lembre-se que
cada tópico do artigo científico tem sua própria função. Dito isto, tenha em consideração que, neste tópico, não
devemos descrever o que encontramos nos nossos estudos, mas sim realizarmos uma interpretação do que
foi encontrado.
→ Na seção Discussões. é esperado que você argumente em prol de uma conclusão que foi obtida a partir do

96
que foi encontrado nos resultados.
→ É preciso ter cuidado ao comunicar quaisquer conclusões definitivas. É comum em pesquisadores
inexperientes uma empolgação excessiva em relação aos números e tal atitude pode atrapalhar na leitura da
pesquisa. É necessário um profundo cuidado para não enxergar nas descobertas elementos que não se
baseiam na realidade factual dos resultados.
→ Neste sentido, tenha cuidado para não responder uma outra pergunta que não estava contextualizada e
nem era propósito da pesquisa científica exposta no artigo em questão.
→ A fim de uma contextualização adequada, é importante apresentar na escrita deste tópico a confrontação
dos dados obtidos em nossa pesquisa com investigações de outros pesquisadores para, assim, nos
posicionarmos em relação as discussões antigas que podem ter um novo entendimento ou mesmo reforçar
posicionamentos já apresentados por colegas anteriormente.
→ Nas considerações finais, seja breve, claro e sucinto apontando o legado de toda a jornada científica, ou
seja, as principais realizações do estudo para uma área específica do conhecimento e, quando for o caso,
também para áreas correlatas.

Conheça o canal History of Science, produzido pela Universidade de Coimbra, que se dedica a explicar e a
divulgar questões relacionadas à História e à evolução das Ciências e da Educação Científica em geral.
https://www.youtube.com/channel/UC38lVqK94HzgjnpKIJKIclg/featured

I – Para uma boa realização de uma seção de discussões em um artigo científico, não devemos:
a) A – Apresentar informações novas relacionadas à pesquisa.
b) B – Ser analíticos no que se refere aos resultados.
c) Ter cuidado para não repetir a seção Resultados.
d) Reservar um espaço físico considerável para apontar os principais debates e descobertas.
e) – Apresentar, na escrita deste tópico, a confrontação dos dados obtidos em nossa pesquisa com
investigações de outros pesquisadores.
Gabarito: A
Comentários: A seção Discussões não é lugar para apresentação de novas informações, mas sim de
interpretação dos resultados obtidos na pesquisa.

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1 – Assinale um ato que é considerado como um grave erro que deve ser evitado na construção da seção
Discussões:
a) Reservar um espaço para as considerações finais referentes a pesquisa.
b) Interpretar os dados obtidos na seção Resultados.
c) Acabar respondendo uma outra pergunta que não era propósito da pesquisa científica exposta no artigo
em questão.
d) Ser muito crítico e profundo em relação a interpretação dos resultados.
e) Confrontar dados obtidos em nossa pesquisa com investigações de outros pesquisadores.

2 – Um pesquisador que estuda novos procedimentos terapêuticos para pré-adolescentes com Transtorno de
Ansiedade Generalizada, em vias de finalizar um artigo científico e por estratégia, pretende deixar para revelar
suas principais descobertas nas Considerações Finais para assim, segundo ele, garantir a audiência da
comunidade científica de psicólogos. Você acha esta estratégia válida? Justifique a resposta:

Se você quiser se aprofundar em questões relacionadas a escrita dos artigos, aconselhamos a leitura do livro
Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar, do professor Maurício Gomes Pereira, publicado pela
editora Guanabara. Cada item dos artigos é destrinchado nesta obra, que também aponta para algumas
técnicas de escrita interessantes.

Respostas:
1- Alternativa C
2- Padrão de Resposta: Não é válida. As comunicações científicas não são filmes ou romances que permitem
grandes plot twists justamente no final da obra. As revelações devem ser apontadas nas seções anteriores
de acordo com o perfil das informações obtidas. Esta atitude do pesquisador em questão é muito malvista
entre os pares e é sinal de que o escritor não domina, de forma satisfatória, a estruturação de um artigo
científico.

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LAKATOS, E.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 1985.
ERDEMIR, F. How to write a materials and methods section of a scientific article? Turkish Journal of
Urology. Setembro, 2013. Conteúdo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4548564/
Faltou o acesso
GIACCHERO K. G; MIASSO A. I. A produção científica na graduação em enfermagem (1997 a 2004):
análise crítica. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2006;8(3):431-40. Conteúdo disponível em:
https://projetos.extras.ufg.br/fen_revista/revista8_3/v8n3a14.htm
RABAB, A.: MOHAMED, O. M.; SHAABAN, D. G. et al. Plagiarism in medical scientific research. Journal
of Taibah University Medical Sciences. Disponível em: colocar o link. Acesso em data aqui.
MARTINS, T. D. Autoplágio é plágio? Jornal UFG, 2018. Conteúdo disponível em: http://jornal.ufg.br/n/104517-
autoplagio-e-plagio. Acesso em 30/12/2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e documentação: citações
em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: 2012.

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