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UNISEPE – EaD
Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes
Prof. Danillo Yuzo Fujii Sakuma
Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos
Prof. Me. Igor Gabriel Lima
Prof. Dr. José Luís Izidoro
Prof. Dr. Jozeildo Kleberson Barbosa
Prof. Me. Leonardo José Tenório Mourão Torres
Prof. Me. Ricardo Nakamura
Equipe editorial:
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395
Isis Gabriel Alves
Laura Lemmi Di Natale
Pedro Ken-Iti Torres Omuro
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável
Apoio técnico:
Alexandre Meanda Neves
Anderson Francisco de Oliveira
Douglas Panta dos Santos Galdino
Fabiano de Oliveira Albers
Gustavo Batista Bardusco
Kelvin Komatsu de Andrade
Matheus Eduardo Souza Pedroso
Vinícius Capela de Souza
Apresentação da Disciplina
A disciplina de genética proporciona conhecimento sobre a história, conceitos, aplicações e
princípios fundamentais da genética necessários para a compreensão da dinâmica da transmissão
de características hereditárias, dos principais distúrbios genéticos e padrões de heranças
populacionais.
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem
e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
SUMÁRIO
UNIDADE I ................................................................................................. 05
1. Introdução à genética................................................................. 05
2. Genética mendeliana.................................................................. 16
UNIDADE II ................................................................................................ 33
3. Estrutura e replicação do DNA.....................................................33
4. Do fenótipo ao genótipo.............................................................. 46
Introdução
Embora a genética seja considerada uma ciência nova quando comparada a outras, como a
astronomia, há milhares de anos os povos já compreendiam a existência da hereditariedade das
características e aplicavam seus princípios. A domesticação de plantas e animais começou há
aproximadamente 10.000 anos no Oriente Médio e, atualmente, são muito diferentes dos seus
progenitores selvagens. A aplicação de princípios genéticos em plantas resultou em alterações
genéticas que forneceram diversas características desejáveis, como aumento do rendimento,
resistência a doenças e pragas, qualidades nutricionais e facilidade na coleta. A Revolução Verde,
na década de 1960, utilizou-se de tecnologias para o melhoramento genético, expandindo a produção
de alimentos pelo mundo.
A genética também tem papel fundamental na indústria farmacêutica. Diversos fármacos são
produzidos por fungos e bactérias que foram geneticamente modificados para que tornassem
produtores eficientes destas substâncias. Atualmente, hormônios de crescimento, insulina, fatores
de coagulação, enzimas, antibióticos, vacinas e outros fármacos são produzidos com o auxílio de
microrganismos geneticamente modificadas.
A hereditariedade interfere em muitas das nossas características físicas e na nossa suscetibilidade a diversas
doenças e distúrbios. Por outro lado, a genética contribui imensamente nos campos da agricultura, indústria
farmacêutica e medicina.
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do termo “dogma central da biologia”, além de entender como o ambiente interfere nas nossas
características.
Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publicou o livro A Origem das Espécies, no qual
descreveu a teoria da evolução por meio da seleção natural. Darwin reconheceu a hereditariedade
como parte fundamental para a evolução; no entanto, nunca conseguiu explicar como ocorria a
herança.
Em 1866, Gregor Mendel (1822-1884) (Figura 1), um monge austríaco, publicou suas
experiências com cruzamentos de ervilhas e apresentou os princípios da hereditariedade.
Mendel chamou os fatores que controlam a hereditariedade de partículas e supôs que tais
partículas são transmitidas de uma geração para a próxima. Atualmente, as partículas descritas por
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Mendel são conhecidas como genes. Além disso, Mendel supôs que as células das plantas
estudadas continham duas cópias do gene que determina a cor da flor. Entretanto, apenas uma cópia
do gene é transmitida para futuras gerações. Dessa forma, quando os gametas se unem, haverá
novamente duas cópias do gene da cor da flor em cada célula da nova planta. Mendel ainda afirmou
que o gene para a cor da flor possui duas variantes genéticas, ou atualmente chamados de alelos,
um que determina a cor roxa, e outro, a cor branca. Mendel foi além e afirmou que o alelo roxo é
dominante em relação ao alelo branco, dessa forma uma planta com um alelo roxo e um alelo branco
apresentaria flores roxas. Uma planta só teria flores brancas se tivesse dois alelos brancos. Seu
trabalho foi publicado nos Proceedings of the Natural History Society de Brünn (Figura 2).
Infelizmente, naquela época, seu trabalho não teve o impacto que deveria e a sua importância foi
subestimada durante mais de 30 anos.
Somente a partir de 1900, o trabalho de Mendel foi reconhecido graças aos esforços de
biólogo britânico William Bateson e do trabalho de biólogos da Alemanha, da Holanda e da Áustria
que reproduziram os experimentos de Mendel e reafirmaram os resultados. Em 1905, Bateson
introduziu o termo genética para descrever o estudo da herança. A partir daí, houve um imenso
progresso nessa área da ciência. Em 1910, Thomas H. Morgan indicou a localização dos genes nos
cromossomos. Em 1941, Edward Tatum e George Beadle propuseram a hipótese de que um gene
codificaria um polipeptídio. Em 1948, Barbara McClintock descreveu elementos que se movimentam
de um local para outro no genoma, hoje chamados de transposons. Em 1950, Erwin Chargaff
enumerou regras simples que a composição do DNA segue em relação às quantidades relativas de
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cada base nitrogenada. Em 1952, Alfred Hershey e Martha Chase comprovaram que é o DNA que
codifica todos as informações genéticas. Em 1953, James Watson e Francis Crick, com a ajuda dos
experimentos de difração de raios X de Rosalind Franklin, descreveram a dupla hélice do DNA. Em
1958, Matthew Meselson e Franklin Stahl identificaram a replicação semiconservativa do DNA. 1977,
Fred Sanger, Walter Gilbert e Allan Maxam propuseram métodos de sequenciamento das sequências
de nucleotídeos de moléculas de DNA. Em 2001, a sequência completa do genoma humano foi
publicada pela primeira vez. Em 2017, uma equipe chinesa, pela primeira vez, corrigiu mutações
genéticas em células de três embriões humanos usando o método CRISPR/Cas.
A genética molecular consiste no estudo da natureza química dos genes, sua estrutura,
organização e função. O foco está no entendimento de como as informações genéticas são
codificadas, replicadas e expressas.
A divisão da genética nesses três grupos é didática e tradicional, mas devemos estar cientes de que as divisões
podem ainda apresentar outras subdivisões, como a genética dos cromossomos, a genética quantitativa etc.
Além disso, o estudo em genética pode determinado por um organismo, como a genética da abelha, do milho
ou das bactérias, e esses organismos podem ser estudados no nível de genética da transmissão, molecular e
populacional.
Cromossomos (Figura 3): molécula longa e contínua de DNA visualizadas durante a durante
a divisão celular. São estruturas altamente empacotadas por dobras e espirais associadas a
proteínas, de tamanho e forma variáveis, de acordo com a espécie.
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Figura 3. Do DNA ao cromossomo.
Genes: segmento do DNA responsável pelas características herdadas. Cada gene contém
uma sequência específica para produzir uma ou mais proteínas.
Alelos: são as variáveis de um determinado gene que ocupam um mesmo loco (posição do
gene no cromossomo) em cromossomos homólogos (possuem genes para as mesmas
características) (Figura 4B).
Cromossomos homólogos: formam um par durante a divisão celular e possuem genes para
as mesmas características, na mesma ordem e posição, mas os alelos podem ser diferentes (Figura
4B).
Figura 4. O cariótipo do ser humano e um par de cromossomos homólogos
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Homozigotos: organismo que apresenta dois alelos iguais
Gametas: Célula especializada (sexual) que contém metade dos cromossomos. Exemplos:
espermatozoide e óvulo.
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Figura 6. Dogma central da biologia celular.
Investigue qual a função dos RNAs que não codificam proteínas, como os micro RNAs (miRNA), o RNA
interferente pequeno (si RNA).
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1.3 Genética e o ambiente
Os genes têm papel fundamental nas caraterísticas de um indivíduo, porém não exercem esse papel
de forma integral. Outro fator com grande influência nas características é o ambiente. O ambiente
fornece ao organismo materiais necessários para os processos controlados pelos genes, como água,
oxigênio etc.
Conforme um organismo cresce e se desenvolve, seus genes interagem com ambiente onde está durante toda
sua história de vida. A interação entre o genótipo e o ambiente determina o organismo.
Todas as características que definem uma espécie são determinadas por seus respectivos
genomas. Não existe qualquer chance de algum ambiente transformar um cavalo em um cachorro.
Onças e tucanos podem crescer lado a lado em uma floresta e esses animais continuarão sendo
onças e tucanos. Embora estejam no mesmo ambiente, esses animais assemelham-se a seus
genitores e diferem uma da outra. Mesmo dentro da espécie, diferenças genéticas sempre estarão
presentes e não poderão ser modificadas pelo ambiente em que vivem. Temos como exemplo a cor
dos olhos: indivíduos podem ter olhos castanhos, verdes ou azuis, e o ambiente não influenciara na
determinação genética.
Por outro lado, precisamos considerar o fato de que gêmeos monozigóticos (idênticos) que
cresceram em ambientes culturais distintos podem apresentar características diferentes. Mesmo que
os gêmeos possuam o mesmo genótipo, os ambientes culturais diferentes onde cresceram e viveram
produzirão diferenças entre eles. Neste caso, é clara a influência do ambiente.
Quando dizemos que uma pessoa "herdou a inteligência da mãe" ou "herdou diabetes do
pai", não estamos considerando o papel do ambiente nas características. A inteligência e o diabetes
desenvolvem-se como consequência de uma sequência de acontecimentos ocorridos durante a vida
de pessoas com essas características
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Figura 7. Interação genótipo-ambiente
Considerações finais
Apesar de o termo genética ter sido introduzido em 1905, o estudo da hereditariedade começou
desde 1860 com o trabalho de Gregor Mendel, o primeiro a descrever a ideia de genes. Desde então
houve uma revolução no conhecimento da área, e a análise genética respondeu a muitas questões
fundamentais em relação à transmissão das informações genéticas dentro das famílias e das células.
Atualmente, sabemos que um gene consiste em uma região funcional da longa molécula
dupla fita de DNA que constitui a estrutura fundamental de um cromossomo. Novas fitas de DNA são
obtidas durante a divisão celular pelo processo de replicação do DNA. A informação genética contida
no DNA é transmitida para o mRNA pelo processo de transcrição e do mRNA para a proteína pelo
processo de tradução.
Todo o conhecimento obtido pelos estudos em genéticas nos permitiu aplicar princípios
genéticos em plantas alterando-as de forma que fornecessem diversas características desejáveis.
Além disso, nos permitiu a produção diversos fármacos a partir por fungos e bactérias geneticamente
modificados. Não podemos deixar de citar o progresso no entendimento de diversas doenças e
distúrbios de origem hereditária, além do desenvolvimento de métodos de diagnóstico.
Nesse capítulo aprendemos um pouco sobre a história da genética, desde os experimentos com ervilhas de
Mendel publicados em 1866, passando pelo descobrimento da estrutura do DNA por Watson e Crick com a
ajuda dos experimentos de difração de raios X de Rosalind Franklin em 1953, até o sequenciamento completo
do genoma humano em 2001.
Hoje sabemos que um gene consiste em um segmento do DNA responsável pelas características herdadas e
que possui variáveis chamadas de alelos. Sabemos que o DNA constitui a estrutura empacotada do
cromossomo e que cada espécie possui um conjunto de cromossomos específicos em número e forma.
Sabemos que, durante a divisão celular, novas fitas de DNA são obtidas pelo processo de replicação e que o
fluxo da informação genética sai do DNA, passa para o RNA pelo processo de transcrição e finalmente chega
ao seu produto final, a proteína, pelo processo de tradução. Cada indivíduo possui uma composição genética
única, o genótipo. A expressão do genótipo com a interação do ambiente resultada no fenótipo, ou seja,
conjunto de características visíveis.
Todo conhecimento obtido durante esses anos foi de grande importância para a agricultura, a indústria
farmacêutica e a medicina, nos permitindo alterar a composição genética de plantas de forma que fornecessem
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características desejáveis; alterar a composição genética de fungos e bactérias para que produzam fármacos
de interesse; além de permitir o entendimento e a identificação de diversas doenças e distúrbios de origem
hereditária.
Para aprender um pouco mais sobre a história da genética acesse: < https://www.news-medical.net/life-
sciences/History-of-Genetics-(Portuguese).aspx >
YANAGUI, K. Novas tecnologias, novos desafios. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 68, n. 3, set. 2016
(adaptado).
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Com relação as contribuições da genética para a sociedade, assinale a alternativa correta.
Resposta correta: D
O livro “Introdução à Genética” escrito por Griffiths e outros autores traz desde conceitos básicos de genética
até técnicas de análise e manipulação de DNA.
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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 - GENÉTICA MENDELIANA
Introdução
Um dos motivos que levou Mendel a ter tanto sucesso em seus experimentos de hereditariedade foi
a escolha do organismo a ser estudado. Mendel escolheu a ervilha Pisum sativum, que oferecia
diversas vantagens para a investigação genética. Essa espécie de ervilha era de fácil cultivo,
ocupava pouco espaço e crescia com relativa facilidade. Uma geração inteira da planta é completada
no período de um ano. Se ele tivesse escolhido trabalhar, por exemplo, com cavalos que
apresentassem período de geração maior, talvez nunca teria descoberto os princípios da herança.
Além disso, a ervilha produz um número alto de descendentes, o que permitiu que razões
matemáticas fossem identificadas nas características dos descendentes.
Outro motivo foi a escolha das sete características a serem estudas (Figura 1). Mendel evitou
características que apresentassem grande variação e focou nas que existiam em duas formas de
fácil diferenciação. As sete características estudadas foram: cor da ervilha, formato da ervilha, cor
da vagem, formato da vagem, cor da flor, altura da planta e posição do broto florescente.
Figura 1. Fenótipos de cada característica estudada por Mendel
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Por fim, não podemos deixar de citar que o sucesso de Mendel se deu também pela
abordagem experimental adotada e pela impecável interpretação dos resultados usando matemática.
Mendel não descreveu simplesmente os resultados dos cruzamentos, ele formulou hipóteses com
base nas suas observações iniciais. Ele registrou cuidadosamente suas observações de várias
gerações e fez cálculos para as proporções dos diferentes fenótipos. Além disso, Mendel foi
extremamente paciente e conduziu seus experimentos por 10 anos antes de tirar conclusões dos
seus resultados.
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Os experimentos realizados levaram Mendel a propor o seguinte modelo:
Essa separação igual se tornou conhecida como primeira lei de Mendel ou lei da
segregação igual. Uma planta com dois alelos idênticos (Y/Y ou y/y) é denominada homozigota,
podendo ser homozigota dominante (Y/Y) ou homozigota recessiva (y/y). Uma planta com dois
alelos diferentes é denominada heterozigota (Y/y).
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O quadrado de Punnett foi desenvolvido em 1917 pelo geneticista inglês Reginald C.
Punnett com o objetivo de facilitar as análises de cruzamento genéticos. Vamos utilizá-lo para
analisar outro cruzamento feito por Mendel, o de plantes de diferentes alturas (Figura 3A). Sabemos
que a variedade alta (T) era dominante sobre a baixa (t).
Figura 3. O quadrado de Punnett na análise do cruzamento genético entre plantas altas (T/t) e plantas baixas
(t/t).
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2.2 Distribuição independente de genes
Além dos cruzamentos mono-híbridos, Mendel também analisou cruzamentos de linhagens de
ervilhas que apresentavam duas características distintas, os cruzamentos di-híbridos. Os primeiros
cruzamentos di-híbridos foram realizados em relação ao formato e à cor da semente e, novamente,
as linhagens utilizadas por Mendel eram todas linhagens puras. Uma linhagem apresentava
sementes rugosas e amarelas (r/r; Y/Y) e a outra linhagem apresentava sementes lisas e verdes
(R/R; y/y). O cruzamento entre essas linhagens (Figura 4) sempre produzia progênie (F1) com
sementes lisas e amarelas (R/r; Y/y). Esse resultado indicou que a dominância de R sobre r e de Y
sobre y não se alteram, ou seja, R permaneceu dominante sobre r, independentemente da cor da
semente, e Y dominante sobre y, independentemente do formato da semente.
De início, essa proporção parece ser bem mais complexa do que a proporção 3:1; no entanto,
se analisarmos os números reais obtidos por Mendel, podemos encontrar as proporções de 3:1 de
mono-híbridos na F2. Atente-se: foram geradas 423 sementes lisas (315 + 108) e 133 sementes
rugosas (101 + 32). Esses números estão próximos de uma proporção de 3:1. Ainda, foram geradas
416 sementes amarelas (315 + 101) e 140 verdes (108 + 32), números também muito próximos aos
de uma proporção de 3:1. A partir dessa análise, Mendel percebeu que seus resultados se tratavam
de duas proporções de 3:1 diferentes escondidas na proporção de 9:3:3:1.
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A combinação das duas proporções de 3:1 levou Mendel a propor o que atualmente é
conhecido como a lei de segregação independente ou segunda lei de Mendel: durante a formação
dos gametas, alelos se distribuem independentemente de outros alelos. Isso significa que, por
exemplo, os alelos para a ervilha rugosa/lisa segregam independentemente dos alelos para a ervilha
amarela/verde.
A proporção 9:3:3:1 foi encontrada também em cruzamentos di-híbridos realizados com diversas outras
combinações de características.
Analisando o cruzamento di-híbrido pelo quadrado de Punnett (Figura 5), podemos observar
uma diversidade de genótipos. No entanto, há apenas quatro fenótipos e estes estão na proporção
de 9:3:3:1. Portanto, a lei de Mendel explica, além dos fenótipos encontrados por ele na F2, os
genótipos da progênie.
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Atualmente, sabemos que essa lei se aplica somente aos genes localizados em cromossomos
diferentes. Genes de um mesmo cromossomo não se distribuem independentemente, já que são
mantidos juntos pelo próprio cromossomo.
Mesmo com limitações, os estudos genéticos humanos são de grande importância. Dessa
forma, uma técnica importante utilizada é a análise de heredogramas. Um heredograma consiste na
esquematização da história familiar, uma arvore genealógica com informações da herança de uma
ou mais características com a utilização dos símbolos-padrões (Figura 6).
Figura 6. Símbolos utilizados em heredogramas
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Geralmente os heredogramas são construídos por motivos clínicos e, assim, se referem a
doenças raras. São estudados então dois fenótipos: a presença e a ausência do distúrbio clínico.
Cinco padrões de herança monogênica podem ser observados nos heredogramas: autossômicos
recessivos, autossômicos dominantes, recessivos ligados ao X, dominantes ligados ao X e ligados
ao Y.
Esse heredograma tende a se apresentar de forma simples, com poucos símbolos pretos.
Isso acontece porque se trata de uma condição rara e a maioria da população não possui o alelo
anormal. Além disso, grande parte da população que possui o alelo anormal é heterozigota e não
apresenta o fenótipo. O nascimento de uma criança afetada depende da probabilidade rara da união
de genitores heterozigotos. No entanto, a endogamia, ou também chamado de consanguinidade,
eleva a probabilidade da união de dois heterozigotos. A Figura 7 mostra um exemplo da união entre
primos (endogamia). Os indivíduos III-5 e III-6 são primos em primeiro grau e ambos são
heterozigotos (A/a). a união dos dois gera indivíduos homozigotos (a/a) afetados. Perceba que
ancestrais heterozigotos que se unem a indivíduos homozigotos dominantes (não raros) geram
muitos descendentes heterozigotos e, portanto, não afetados. A relação consanguínea tem maior
risco do surgimento de distúrbios recessivos do que relações entre não parentes. Como exemplos
de distúrbios autossômicos recessivos em humanos temos fenilcetonúria, a fibrose cística, anemia
falciforme, albinismo etc.
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No distúrbio autossômico dominante, o fenótipo afetado é herdado por um alelo
dominante. Logo, o fenótipo não afetado corresponde ao alelo recessivo.
Pode parecer estranho que um distúrbio dominante possa ser raro, mas tenha em mente que dominância e
recessividade são apenas características de como diferentes alelos atuam em heterozigose e não têm relação
com o quão são comuns na população.
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1. Tende a ser mais frequente em homens
2. A progênie de homens afetados não apresenta o fenótipo, mas todas as suas filhas
irão conter o alelo recessivo. Essas filhas terão metade dos filhos afetados
3. Nenhum dos filhos de um indivíduo do sexo masculino afetado serão afetados, nem
portadores do alelo recessivo.
4. Metade dos filhos de mulheres portadoras do alelo recessivo serão afetados
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3. A união de mulheres heterozigotas afetadas e homens não afetados geram metade
de filhos e de filhas.
Esse tipo de distúrbio é facilmente identificado, pois apenas homens são afetados. Isso ocorre
porque somente homens apresentam o cromossomo Y. A masculinidade é uma das poucas
características que parece ligado ao Y nos seres humanos. O gene responsável é o SRY.
A dominância total, ou também chamada de completa, é o tipo mais simples e o que lidamos
até agora nos tópicos anteriores da herança mendeliana. Um alelo com dominância total é expresso
no fenótipo mesmo quando apenas um alelo estiver presente (em heterozigotos), enquanto o alelo
alternativo é recessivo total. Neste tipo de dominância, não é possível distinguir o homozigoto
dominante (A/A) do heterozigoto (A/a) a nível fenotípico. Na figura 11 temos um exemplo deste tipo
de dominância.
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Figura 11. Dominância completa
Na dominância incompleta não há recessividade, cada alelo irá produzir uma dose
estabelecida de seu produto proteico. O número de um alelo, e consequentemente, a dose do
produto proteico irão determinar o fenótipo. Na figura 12, podemos observar o cruzamento entre
flores Mirabilis jalapa, uma branca e outra vermelha. O heterozigoto apresenta fenótipo intermediário,
apresenta a cor rosa.
Figura 12. Dominância incompleta
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O sistema ABO é um claro exemplo de codominância. Cada alelo determina a presença de um tipo de uma
molécula de açúcar diferente sobre a superfície dos eritrócitos. Investigue quais moléculas são essas e quais
suas respectivas funções.
A determinação dos grupos sanguíneos é feita por três alelos distintos de um gene: i, IA e IB.
Cada indivíduo possui dois desses alelos duas cópias de um deles. Combinações entre esses alelos
resultam em seis genótipos diferentes: três homozigotos e três tipos diferentes de heterozigotos
(Figura 13).
Figura 13. Codominância dos grupos sanguíneos
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Epistasia é um efeito que um gene tem de mascarar (se sobrepor) o fenótipo de outro gene
em um locus diferente. Este efeito é semelhante à relação de dominância, no entanto a dominância
é uma relação que ocorre entre alelos de genes no mesmo locus (genes alélicos). Na epistasia, o
gene epistático mascara gene hipostático localizado em um locus diferente. Genes epistáticos
podem ser recessivos ou dominantes.
1. Influência do ambiente.
2. Interação com outros genes.
3. A sutileza do fenótipo mutante (feitos sutis gerados pela ausência de uma função
gênica podem ser de difícil identificação
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Considerações finais
Nas células somáticas, o genoma é transmitido por meio da mitose durante a divisão celular, onde
cada cromossomo se replica e cada cópia (um par de cromossomos) é transferida para as células-
filhas. Por outro lado, nas células germinativas o genoma é transmitido por meio da meiose, em que
cada homólogo se replica e apenas uma cópia (um cromossomo) é transferida para os gametas.
Mendel descreveu que no processo de meiose, os alelos separam-se igualmente dentro das células
que se tornam os gametas, ou seja, um único gameta contém apenas um membro do par de alelos.
Além disso, Mendel foi capaz de descrever que, durante a formação dos gametas, alelos se
distribuem independentemente de outros alelos, ou seja, a separação ocorre sem a influência de
outros alelos. O reconhecimento das leis de Mendel em 1900 foi responsável por despertar grande
interesse na área, resultando em um imenso progresso. Desde então houve um grande fluxo de
conhecimento genético.
Neste capítulo aprendemos como forram realizados os experimentos genéticos com ervilhas de Mendel e a
conclusões às quais o monge chegou. A partir dos cruzamentos mono-híbridos, foram observadas as
proporções 3:1 na F2 autofecundada e 1:1 no cruzamento da F2 com ervilhas verdes puras. Essas proporções
demonstraram a segregação igual, também conhecida como primeira lei de Mendel. Os cruzamentos di-
híbridos mostram a proporção 9:3:3:1 e, após análises, Mendel percebeu que havia uma combinação de duas
proporções 3:1. Essa percepção levou Mendel a identificar a segregação independente dos genes, também
conhecida como a segunda lei de Mendel.
A análise das características humanas não é tão simples como as análises feitas em ervilhas ou em outros
organismos devido ao longo tempo de geração e ao baixo número da progênie. Dessa forma, cruzamentos
experimentos não são possíveis. Um método muito importante utilizado é a análise de heredogramas,
esquematização da história familiar, uma arvore genealógica com informações da herança de uma ou mais
características com a utilização dos símbolos-padrões. Cinco padrões de herança monogênica podem ser
observados nos heredogramas: autossômicos recessivos, autossômicos dominantes, recessivos ligados ao X,
dominantes ligados ao X e ligados ao Y.
Mendel foi capaz de descrever as características da herança tão bem porque escolheu (mesmo sem saber na
época) genes com dominância completa. Se ele tivesse escolhido características determinadas por alelos com
dominância incompleta ou codominância, talvez não teria tido tanto sucesso. Além disso, Mendel trabalhou
com características como a penetrância e a expressividade absoluta.
(ENADE, 2019) A adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X (X-ALD) é uma doença hereditária recessiva
cujas primeiras manifestações são notadas na infância. A doença está relacionada à mutação no gene ABCD1
(mapeado em Xq28), que gera problemas em peroxissomos. A figura a seguir representa o heredograma
referente a X-ALD de uma família. O indivíduo C7 faleceu aos 23 anos de idade, vítima dessa doença. Não há
confirmação de outros óbitos por X-ALD nessa família, nem de membros vivos manifestando sinais da doença.
Indivíduos da geração D são crianças menores de 5 anos de idade.
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O indivíduo C8 e sua noiva, de 29 e 27 anos de idade, respectivamente, procuraram o Serviço de
Aconselhamento Genético (SAG). Sabendo-se que a mulher não tem histórico familiar de X-ALD, assinale a
opção que indica o aconselhamento genético correto para esse casal.
A) As filhas de sexo feminino do casal serão portadoras da mutação em ABCD1 identificada na família
paterna.
B) O casal deve optar por reprodução assistida ou adoção para evitar o risco de terem filhos com X-ALD.
C) O planejamento familiar, nesse caso, requer pesquisa molecular da mutação em ABCD1 no casal.
D) Os filhos de sexo masculino do casal têm 25% de chance de herdarem a mutação em ABCD1.
E) Os filhos do casal não herdarão a mutação em ABCD1 identificada na família paterna.
Resposta correta: E
Com relação aos padrões de herança monogênica que podem ser observados nos heredogramas, a distrofia
muscular de Duchenne é um exemplo de:
Resposta correta: A
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Cite diferenças entre dominância total, dominância incompleta e codominância.
Resposta: Na dominância total um alelo com dominância total é expresso no fenótipo mesmo quando apenas
um alelo estiver presente (em heterozigotos), enquanto o alelo alternativo é recessivo total. Neste tipo de
dominância, não é possível distinguir o homozigoto dominante (A/A) do heterozigoto (A/a) a nível fenotípico.
Na dominância incompleta não há recessividade, cada alelo irá produzir uma dose estabelecida de seu produto
proteico. O número de um alelo, e consequentemente a dose do produto proteico, irão determinar o fenótipo.
Na codominância temos a expressão de ambos os alelos de um heterozigoto. O exemplo mais comum e claro
são os grupos sanguíneos humanos, também chamado de sistema ABO.
Mendel, Gregor. 1866. Versuche über Plflanzenhybriden. Verhandlungen des naturforschenden Vereines
in Brünn, Bd. IV für das Jahr 1865, Abhandlungen, 3–47. Esse é o artigo original de Mendel traduzido para o
inglês.
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UNIDADE II
CAPÍTULO 3 – ESTRUTURA E REPLICAÇÃO DO DNA
Introdução
Desde que o monge austríaco Gregor Mendel descreveu os princípios da herança genética, iniciou-
se uma corrida de quase um século até a compreensão da composição e da estrutura do material
genético.
O DNA foi identificado como o responsável pela transmissão da herança em 1944 por Oswald
Avery e seus colegas Colin MacLeod e Maclyn McCarty em experimentos com cepas da bactéria
Streptococcus pneumoniae em camundongos, iniciados por Frederick Griffith em 1928.
A partir de então, a busca pela descoberta da estrutura do DNA era concorrida. A inglesa
Rosalind Franklin, trabalhando no laboratório de Maurice Wilkins, desenvolveu estudos com raios X
que foram essenciais na identificação da dupla hélice. Entretanto, seu trabalho caiu nas mãos dos
biólogos Watson e Crick, que investigavam a estrutura do DNA, não realizando experimentos, mas
usando todas as informações disponíveis sobre a química do DNA e construindo modelos
moleculares.
No dia 25 de abril de 1953 foi publicado na revista cientifica “Nature” o artigo “Estrutura do
ácido desoxirribonucleico” de autoria do britânico Francis Crick e do americano James Watson, que
receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1962 junto com o britânico Maurice Wilkins.
Rosalind Franklin foi responsável pelo trabalho com difração de raios X que levou Francis Crick e James
Watson a descreverem a estrutura em dupla hélice do DNA. Entretanto, a cientista não levou nenhum crédito
pelo seu estudo; somente seu colega de trabalho, Maurice Wilkins.
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A descrição da dupla-hélice do DNA revolucionou a compreensão da vida, revelando como a
informação genética é armazenada e indicando o mecanismo com o qual o DNA se reproduz em
duas cópias idênticas, a base da herança genética.
Neste capítulo estudaremos a estrutura do DNA e sua associação com proteínas que resulta
na conformação conhecida dos cromossomos. Além disso, iremos aprender como o DNA é replicado
dentro das células durante a divisão celular.
O grupo fosfato consiste em um átomo de fósforo ligado a quatro átomos de oxigênio. Esse
grupo funcional se encontra ligado ao átomo 5′ de carbono do açúcar e apresenta carga elétrica
negativa, o que torna o DNA ácido.
34
pirimidínicas possuem apenas um anel de seis átomos. O DNA possui duas purinas, adenina (A) e
guanina (G), e duas pirimidinas, citosina (C) e timina (T). Cada base nitrogenada se encontra ligada
covalentemente com o átomo de carbono 1′ do açúcar.
Os nucleotídeos são ligados uns aos outros por ligações covalentes (fosfodiéster); o grupo 5′-
fosfato de um nucleotídeo liga a 3′-hidroxila do próximo nucleotídeo.
35
uma molécula de DNA extremamente longa, fazendo-se necessária uma compactação específica
para que se encaixe no núcleo na célula.
As histonas são as proteínas mais encontradas na cromatina, tendo cinco tipos principais:
H1, H2A, H2B, H3 e H4. Essas proteínas possuem elevada quantidade de arginina e lisina,
aminoácidos com carga positiva, o que torna as histonas proteínas de uma carga elétrica positiva.
As cargas positivas das histonas interagem com as cargas elétricas negativas do DNA, mantendo
essas duas moléculas em contato.
A cromatina possui uma estrutura complexa e com vários níveis de organização (Figura 3). O
nível mais simples consiste em dupla-hélice do DNA já discutido anteriormente. O nível acima refere-
se à associação do DNA as proteínas histonas formando os nucleossomos. Os nucleossomos são
compostos mais precisamente por DNA enrolado 1,65 vez em torno de um octâmero histonas (duas
cópias de H2A, H2B, H3 e H4), Cada uma dessas proteínas histona contêm uma “cauda” flexível (11
a 37 aminoácidos) que se encontra no externamente ao nucleossomo. As caldas das histonas de um
nucleossomo pode interagir com nucleossomos vizinhos, facilitando a compactação. A histona H1
não faz parte do nucleossomo, mas é capaz de se ligar ao DNA do nucleossomo, mantendo-o em
seu lugar.
Os nucleossomos dobram sobre si mesmos formando uma estrutura densa e compondo uma
fibra com diâmetro de 30 nm. O próximo nível de estruturação consiste em uma série de alças
compostas das fibras de 30 nm. Cada alça mede cerca de 300 nm de comprimento. Essas fibras são
dobradas e comprimidas de modo que formem uma fibra de 250 nm de largura e 700 nm de
comprimente. Por fim, temos o nível mais complexo de organização do DNA a partir do enrolamento
rígido das fibras de 250 nm que forma a cromátide do cromossomo.
36
Figura 3. Estrutura tridimensional do DNA
37
Figura 4. Replicação semiconservativa do DNA.
A fita dupla de DNA se separa na origem da replicação, gerando fitas únicas de nucleotídeos
que irão atuar como moldes para a síntese do novo DNA. O ponto de separação das duas fitas únicas
de nucleotídeos do DNA é chamado de forquilha de replicação (Figura 5). Cromossomos
eucarióticos contêm uma quantidade expressivamente alta de DNA para ser replicado rapidamente.
Além disso, a taxa de replicação eucariótica é de 500 a 5.000 nucleotídeos por minuto em cada
forquilha de replicação. Se houvesse apenas uma origem de replicação em todo o DNA, a replicação
levaria dias até ser completada. Dessa forma, a replicação se inicia em diversos pontos do DNA e
leva apenas alguma minutos ou horas.
38
Figura 5. Forquilha de replicação do DNA
Visto que as fitas da dupla hélice do DNA são antiparalelas e a síntese da nova fita é sempre
5′ → 3′, a síntese de cada molde de DNA segue sentidos opostos (Figura 5). À medida que o DNA
se desenrola, um molde é exposto no sentido 5′ → 3′ e o outro é exposto no sentido 3′ → 5′. A fita
molde é exposta no sentido 3′ → 5′ permite a síntese contínua no sentido 5′ → 3 da nova fita, também
chamada de filamento contínuo. A fita molde exposta no sentido 5′ → 3′ não permite que a síntese
seja continua 5′ → 3′, pois o sentido da síntese é contrário a forquilha e não pode prosseguir por
muito tempo. A síntese ocorre em segmentos curtos, ou seja, a polimerase sintetiza um pequeno
segmento e se movimenta de volta para a extremidade 5′ do segmento, onde a forquilha em
crescimento expôs o novo molde e inicia o processo novamente. Essa nova fita é chamada de
filamento descontinuo. Os segmentos curtos (100 a 200 nucleotídeos) de DNA recém-sintetizado
pela replicação descontínua são chamados fragmentos de Okazaki.
A DNA polimerase é capaz de adicionar nucleotídeos e estender uma cadeia, mas não iniciar
uma cadeia. Essa enzima exige que haja um primer (uma sequência curta de nucleotídeos) ligado à
fita molde para que a síntese seja continuada (Figura 6). Os primers são produzidos por um conjunto
de proteínas chamado de primossomo, sendo a enzima primase o componente central. A primase
é um tipo de RNA polimerase e sintetiza um segmento curto (8 a 12 nucleotídeos) de RNA
complementar a uma região específica do DNA. No filamento contínuo, apenas um primer é
necessário, pois, no filamento descontínuo cada fragmento de Okazaki necessita de seu próprio
primer. Ao final da síntese da nova fita de DNA, a DNA polimerase I, remove os primers de RNA e
39
os substitui por DNA. Em seguida, a DNA ligase, une a extremidade 3′ do DNA substituto à
extremidade 5′ do fragmento de Okazaki, resultando em uma nova fita de DNA continua.
Figura 6. Síntese do filamento descontínuo.
40
Em eucariotos, a replicação do DNA ocorre no núcleo da célula. Como procariotos não apresentam membrana
celular, ou seja, o material genético é encontrado no citoplasma, a replicação também ocorre no citoplasma da
célula.
41
Para evitar a perda de informações, as células contêm um sistema especializado capaz de
adicionar múltiplas cópias de uma sequência não codificadora, ou seja, contêm informações nas
extremidades do cromossomo. Portanto, a cada replicação, apenas essas sequências repetidas são
perdidas e, então adicionadas novamente às extremidades do cromossomo. Cromossomos humanos
contêm aproximadamente 10 a 15 kb de repetições em tandem da sequência TTAGGG em suas
extremidades.
42
A maior parte das células germinativas contêm grandes quantidades da enzima telomerase,
ao contrário das células somáticas, que contêm muito pouca ou nenhuma telomerase. Por esse
motivo, os cromossomos das células somáticas se tornam mais curtos a cada divisão celular, até
que a célula interrompe o processo de divisão, para que não se perca nenhuma informação genética
e entre em uma fase de senescência.
Além de prevenir o encurtamento do material genético após cada replicação, os telômeros preservam a
integridade cromossômica associando-se com proteínas e isolando o prolongamento unifilamentar 3′.
Considerações finais
Desde a descrição dos princípios da herança genética por Gregor Mendel, diversos cientistas
passaram a investigar a composição e a estrutura do material genético. Trabalhos experimentais
realizados por Oswald Avery e seus colegas Colin MacLeod e Maclyn McCarty no ano de 1944
demonstraram que o DNA, e não proteínas, lipídios ou carboidratos, são de fato o material genético.
Utilizando dados obtidos por outros pesquisadores, incluindo as imagens de difração de raios
X de Rosalind Franklin, James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura em dupla hélice do
DNA.
Neste capítulo aprendemos sobre os três níveis de complexidade da estrutura do DNA. A estrutura primária do
DNA é composta por uma cadeia de nucleotídeos, também conhecidos como desoxirribonucleotídios, unidos
por meio de ligações fosfodiéster. Os nucleotídeos são estruturas compostas por: um açúcar, um fosfato e uma
base nitrogenada. A estrutura secundária do DNA está relacionada à sua configuração tridimensional, a
estrutura helicoidal. A dupla-hélice do DNA é formada por duas cadeias de polinucleotídeos enroladas uma
sobre a outra de forma espiral, apresentando dois sulcos de tamanhos distintos: o sulco maior e o sulco menor.
A ligação das duas cadeias é feita pelo pareamento da adenina (A) com a timina (T) e da guanina (G) com a
citosina (C). O primeiro par é unido por duas ligações de hidrogênio; o segundo, por três. A estrutura terciária
do DNA refere-se ao empacotamento do DNA, que possibilita seu acondicionamento no espaço limitado de
uma célula.
Além disso, estudamos como é realizada a replicação semiconservativa do DNA, ou seja, a síntese de novas
cópias da molécula. A dupla hélice de DNA é separada na forquilha de replicação e os dois filamentos atuam
como moldes para a síntese da nova cadeia de nucleotídeos. A adição dos nucleotídeos à cadeia crescente é
realizada pela enzima DNA polimerase, que os adiciona apenas à extremidade 3′. Por esse motivo, a
polimerização em um molde é contínua e no outro é descontínua em trechos curtos (fragmentos de Okazaki).
A síntese do filamento contínuo e de cada fragmento de Okazaki é iniciada por um primer de RNA curto
sintetizado pela enzima primase. Toda essa maquinaria de replicação é chamada de replissomo.
43
A replicação das extremidades dos cromossomos (telômeros) exige a atuação de uma outra enzima para que
não haja perda de informações genéticas. Essa enzima é a telomerase, que adiciona várias sequências curtas
e repetitivas, mantendo o comprimento do cromossomo. Os telômeros encurtam lentamente ao longo dos anos
nas células somáticas, tendo em vista que a telomerase não é produzida em grande quantidade naquelas
células.
Resposta: C
Resposta: D
Resposta: A eucromatina constitui maior parte do material cromossômico e passa pelo processo normal de
condensação e descondensação durante o ciclo celular. É na eucromatina onde grande parte da transcrição
ocorre. A heterocromatina permanece altamente condensada durante todo o ciclo celular, mesmo durante a
interfase.
44
O livro “Genética molecular básica”, dos autores Carlos M. F. Menck e Marie-Anne Van Sluys, descreve toda
a estrutura do DNA, bem como seu mecanismo de replicação. Esse livro pode ser utilizado como material
complementar ao capítulo que acabamos de estudar.
45
UNIDADE II
CAPÍTULO 4 – DO FENÓTIPO AO GENÓTIPO
Introdução
O médico inglês Archibald Garrod foi a primeira pessoa a sugerir uma relação entre genótipo e
proteínas. Em 1908, Garrod propôs que genes codificam enzimas, mas foi somente em 1940, quando
Beadle e Tatum realizaram experimentos com Neurospora, que sua teoria foi amplamente aceita. A
ideia ficou conhecida como a hipótese de um gene, uma enzima: um gene codifica uma enzima.
Mais tarde, observou-se que cada gene codifica uma proteína, então o modelo passou a ser a
hipótese de um gene, um polipeptídio. À medida que novas descobertas foram feitas a respeito
da estrutura dos genes, ficou claro que esse é um conceito muito simplificado.
Nos anos de 1900, acreditava-se que um gene fosse responsável pela codificação de uma única proteína. Se
assim fosse, uma quantidade enorme, para não dizer absurda, de material genético seria necessária para
codificar todas as proteínas existentes no nosso organismo.
Atualmente sabemos que os humanos apresentam cerca de 21 000 genes que codificam mais
de 100 000 proteínas. Isso é possível graças ao processo de splicing alternativo do RNA, o qual
estudaremos posteriormente neste capítulo. Brevemente, podemos dizer que o RNA transcrito a
partir de um gene pode ser recomposto de diversos modos alternativos, resultando em diferentes
proteínas.
Investigue quantas proteínas podem resultar do transcrito primário do gene α-tropomiosina de camundongos.
46
3.2 Transcrição e processamento do RNA
Embora ambos DNA e RNA sejam ácidos nucleicos, o RNA apresenta algumas diferenças em
relação ao DNA:
1. O açúcar do RNA contém um grupo hidroxila (OH) ligado ao átomo de carbono 2′, ao
contrário do açúcar do DNA que contém um átomo de hidrogênio na mesma posição. O
açúcar do RNA é chamado de ribose, por isso o nome ácido ribonucleico (DNA)
2. O RNA contém apenas uma cadeia de nucleotídeos, ao contrário do DNA que contém
uma dupla-hélice. Essa estrutura permite que o RNA seja mais flexível e possa apresentar
diversas conformações moleculares tridimensionais complexas.
3. O RNA possui quatro nucleotídeos, também chamados de ribonucleotídeos: adenina (A),
guanina (G), citosina (C) e a base pirimidínica uracila (U) (Figura 1). Ao contrário do DNA,
o RNA não apresenta o nucleotídeo timina.
Os RNA são divididos em duas classes gerais: os RNAs codificantes e os não codificantes,
ou também chamados de funcionais. Os RNAs codificantes são os intermediários no processo que
leva à informação genética do DNA para a proteína. Os RNAs mensageiros (mRNAs) pertencem a
essa classe de RNA e funcionam como mensageiros da informação do DNA para a proteína. Os
RNAs funcionais são intermediários da informação do DNA e não resultam em síntese proteica.
Esses RNAs têm atividade própria. Os RNAs transportadores (tRNA) e os RNAs ribossômicos
(rRNA) são os principais tipos de RNAs funcionais e atuam em diversas etapas da transferência da
informação do RNA para a proteína. Os pequenos RNA nucleares (snRNA) constituem um sistema
que processa os transcritos de RNA nas células eucariotas. Os microRNA (miRNA), pequenos
RNA de interferência (siRNA) e RNA de interação piwi (piRNA) são parte um grande grupo de
47
RNA funcionais que atua na supressão da expressão gênica e na manutenção da estabilidade do
genoma. Além disso, os RNA não codificadores longos (lncRNA, ou ncRNA) já foram
identificados, porém a função desses RNAs atualmente é desconhecida.
Todo e qualquer RNA é sintetizado a partir do DNA molde pelo processo de transcrição ainda
no núcleo da célula. Durante esse processo, sequência de nucleotídeos de um ou mais genes é
“copiada” (transcrita) para uma molécula de RNA.
De modo geral, as duas fitas da dupla-hélice do DNA são separadas em local específico, e
uma das fitas atua como molde para a síntese de RNA. No DNA como um todo, ambas as fitas são
utilizadas como moldes; entretanto, para um gene específico, apenas uma fita é utilizada. A mesma
fita é sempre utilizada para um mesmo gene (Figura 2 A). Os ribonucleotídeos formam pares estáveis
com o molde de DNA por complementariedade de bases. O ribonucleotídeo A pareia com T do DNA,
o G com C, o C com G e o U com A. A adição de cada ribonucleotídeo é feita pela enzima RNA
polimerase. Essa enzima se liga ao DNA e se movimenta ao longo dele, adicionando os
ribonucleotídeos complementares sempre no sentido 5′ para 3’, resultando na formação de moléculas
de RNA (Figura 2 A). Os nucleotídeos são sempre adicionados a uma ponta em crescimento 3′
(Figura 2 B).
48
Figura 3. Sequências do DNA e do RNA transcrito
O DNA é uma molécula longa e contínua e a toda a maquinaria de transcrição deve estar
direcionada para o local exato de início da transcrição, deve continuar transcrevendo por todo o
comprimento do gene, e deve interromper a transcrição na outra extremidade. Esses três estágios
são chamados de iniciação, alongamento e término.
49
Figura 4. Iniciação da transcrição
Após a síntese de cerca de 30 pares de base (pb), a RNA polimerase deixa o promotor e
inicia o alongamento da transcrição dentro da bolha de transcrição. À medida que o filamento de
RNA é sintetizado ele passa pelo por um processamento cotranscricional. O CTD da RNA
polimerase II tem um papel fundamental no processamento do RNA nascente. Em sua composição
existem muitas repetições de uma sequência de sete aminoácidos que atuam como sítios de ligação
de enzimas e algumas proteína. Além disso, está localizado próximo ao local onde o RNA nascente
emerge da polimerase.
50
A figura 5 A ilustra o processamento da extremidade 5’ do RNA nascente, em outras palavras,
a adição de um revestimento cap, um resíduo 7-metilguanosina ligado ao transcrito por três grupos
fosfato. O cap possui duas funções importantes: protege o RNA da degradação durante seu caminho
até o citoplasma (onde será traduzido) e tem papel importante durante a tradução do mRNA.
51
O término da transcrição acontece quando a sequência conservada AAUAAA ou AUUAAA
é alcançada. Essas sequencias são reconhecidas por uma enzima que corta a extremidade do RNA
a aproximadamente 20 bases adiante. A extremidade 3’ cortada é adicionado um trecho de 150 a
200 nucleotídeos adenina chamado de cauda poli(A) (Figura 5 C). A adição desse trecho é chamada
de poliadenilação.
A informação contida no DNA pode ser dividida em: éxons e íntrons. Os éxons são os
segmentos do DNA que codificam proteínas e os íntrons são segmentos do DNA localizados entre
os éxons. Os íntrons são removidos do transcrito primário (pré RNA) logo após o cap ter sido
adicionado e enquanto o RNA ainda está sendo transcrito. A recomposição (splicing) é o nome
dado ao processo de remoção dos íntrons e a união dos éxons. Recomposição alternativa (ou
splicing alternativo) é o nome dado ao processo recomposição de diferentes combinações de éxons,
resultando na síntese de diferentes proteínas a partir do mesmo transcrito primário.
52
Figura 7. Processo de remoção de íntrons pelo spliceossomo
53
3.3 Estrutura e tradução de proteínas
Proteínas são polímeros compostos por monômeros chamados de aminoácidos, ou seja, uma
proteína é uma cadeia de aminoácidos. Todos os aminoácidos conhecidos possuem dois grupos
funcionais, uma carboxila e um amino, ligados ao mesmo átomo de carbono, denominado carbono
α. Ao carbono α também estão ligados um átomo de hidrogênio (H) e uma cadeia lateral, ou grupo
R (reativo) (Figura 8).
Figura 8. Estrutura geral de aminoácidos
Cada aminoácido é unido por ligações covalentes, também chamadas de ligações peptídicas,
entre a extremidade amino (NH2) de um aminoácido com a extremidade carboxila (COOH) de outro
aminoácido (Figura 9). Para que a reação de ligação aconteça, uma molécula de água é removida.
Figura 9. Ligação peptídica
54
A estrutura das proteínas é complexa, com quatro níveis de organização: estrutura primaria,
secundaria, terciaria e quaternária (Figura 10). A estrutura primária consiste na sequência linear da
cadeia de aminoácidos da proteína. A estrutura secundária é composta por formas específicas
formadas por ligações químicas locais da cadeia de aminoácidos, como ligações de hidrogênio,
forças eletrostáticas e forças de Van Der Waals. As formas mais comuns da estrutura secundária
são a α-hélice e a folha β-pregueada. A estrutura terciária é obtida pelo dobramento da estrutura
secundária, resultando no formato tridimensional da proteína. A estrutura quaternária refere-se à
união por ligações fracas de dois ou mais polipeptídios dobrados na forma tridimensional, também
chamados de subunidades
Figura 10. Níveis estruturais de proteínas
55
Figura 11. O código genético.
56
A aminoacil-tRNA sintetase é a enzima responsável pela união dos aminoácidos aos tRNAs.
Nas células, são encontrados 20 tipos dessas enzimas e cada uma é específica para casa um dos
20 aminoácidos. Quando um tRNA é encontrado ligado a um aminoácido, dizemos que o tRNA está
carregado.
Os ribossomos são compostos por uma subunidade pequena e uma grande; cada uma
dessas subunidades possuem RNA ribossômico (rRNA) e proteínas (Figura 13). Em procariotos, a
subunidade pequena é chamada de 30S, e a grande, de 50S. Associadas, resultam na formação de
uma partícula 70S. Em eucariotos, temos as subunidades 40S e 60S formando a partícula 80S.
Os ribossomos contêm sítios-chave de interação com o mRNA e o tRNA (Figura 14). O sítio
de ligação ao mRNA se encontra em sua totalidade dentro da subunidade menor. Os tRNAs
interagem com as duas subunidades, se posicionando com a alça do anticódon na subunidade menor
e a extremidade aminoacil (onde o aminoácido está ligado) na subunidade maior. Para os tRNA
existem três sítios de ligação: o sítio A, P e E. O sítio A (de aminoacil) é o sitio de entrada, e
liga um tRNA cujo anticódon corresponde ao códon do mRNA no sítio A da subunidade 30S. Em
seguida, o tRNA que entrou no ribossomo é transferido para o sítio P (de peptidil) da subunidade
30S. Posicionado nesse sitio de ligação, a ligação do aminoácido com a cadeia polipeptídica em
crescimento ocorre no centro peptidiltransferase na subunidade 50S. Quando o tRNA é transferido
para o sítio E (de exit), ele não carreia mais o aminoácido e está pronto para ser liberado do
ribossomo. Além disso, a subunidade 30S possui o centro decodificador na subunidade 30S, que
permite que apenas os tRNA que carreiam anticódons correspondentes aos códons sejam ligados
no sítio A.
57
Figura 14. Sítios de interação nos ribossomos
58
Em células eucarióticas, a replicação e a transcrição acontecem no núcleo da célula. O mRNA transcrito é
então direcionado ao citoplasma da célula e lá é traduzido na proteína correspondente.
A iniciação da tradução ocorre assim que o mRNA chega ao citoplasma e é recoberto por
proteínas, ou também chamados de fatores de iniciação (eIF4A, B e G). Esses fatores de iniciação
se associam ao cap na extremidade 5′, à subunidade 40S e ao tRNA iniciador para formar um
complexo de iniciação (Figura 15). Assim que o complexo é formado, ele se movimenta ao longo do
mRNA no sentido 5′ para 3′ até encontrar o códon iniciador AUG, que sinaliza o início da tradução.
O primeiro aminoácido em qualquer polipeptídio recém-sintetizado é a metionina, que é inserida por
um tRNA específico chamado de iniciador. Após o alinhamento do códon AUG ao tRNA iniciador, a
subunidade maior do ribossomo se une ao complexo de iniciação se une à subunidade.
59
O alongamento da tradução se inicia após a dissociação dos fatores de iniciação do
ribossomo. É nessa fase em que os aminoácidos são adicionados à cadeia polipeptídica em
crescimento (Figura 16). Além da associação com o aminoácido, o tRNA também se associa ao fator
de alongamento Tu (EF-Tu), formando um complexo ternário. Esse complexo ternário entra no sítio
A do ribossomo e, quando há correspondência entre códon e anticódon, o ribossomo altera sua
forma, EF-Tu é liberado do complexo e as duas extremidades aminoacil de dois tRNAs são
justapostas no centro peptidiltransferase, formando a ligação peptídica. Em seguida, o fator de
alongamento G (EF-G) se encaixa no sítio A, provocando a transferência dos tRNA nos sítios A e P
para os sítios P eE, respectivamente. Além disso, o mRNA se movimenta pelo ribossomo,
posicionando o próximo códon no sítio A. Com a saída do EF-G, o sítio A está livre para a entrada
do próximo complexo ternário. Na medida em que o alongamento progride, o tRNA desacilado deixa
o sítio E e está livre para ser reciclado por meio da adição de outro aminoácido.
O término da tradução ocorre quando o códon de parada (UGA, UAA ou UAG) se encontra
no sítio A do ribossomo (Figura 17). Esses códons não são reconhecidos por tRNAs, mas sim por
proteínas chamadas de fatores de liberação (RF1, RF2 e RF3 em bactérias). Esses fatores de
liberação se encaixam no sítio A do ribossomo e permitem que uma molécula de água entre no centro
peptidiltransferase. A presença dessa molécula de água induz a liberação do polipeptídio formado e
as subunidades ribossômicas se separam.
60
Figura 17. Término da tradução
A maioria das proteínas eucarióticas recém sintetizadas é inativa. Modificações pós-tradução, tais como a
fosforilação ou a ubiquitinação, alteram grupos laterais dos aminoácidos, resultando na ativação ou na
degradação da proteína, respectivamente. Além disso, modificações pós-tradicionais são responsáveis por
alterar e direcionar proteínas para locais nos quais sua atividade é necessária dentro ou fora da célula.
61
Considerações finais
A proposição de que o genótipo estava relacionado com as proteínas em 1908 foi uma sugestão
acertada. Entretanto, o modelo não estava totalmente certo. Inicialmente, acreditava-se que um único
gene era responsável por uma única proteína. Atualmente sabemos que nós humanos temos cerca
de 21 000 genes que codificam mais de 100 000 proteínas em todo o nosso genoma. Um único gene
é capaz de resultar em diferentes proteínas graças ao processo de splicing alternativo do RNA, que
estudamos neste capítulo. Por esse processo, o RNA transcrito a partir de um gene pode ser
recomposto de diversos modos alternativos, resultando em diferentes proteínas.
As proteínas presentes nos organismos vivos, mais do que qualquer outra molécula, são
responsáveis pela determinação do que somos e de nossas características. São moléculas versáteis
capazes de assumir diversas formas e funções.
Para aprender um pouco mais sobre os mecanismos de replicação, transcrição e tradução, assista vídeos
explicativos acessando: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/gene-expression-central-dogma>
Neste capítulo aprendemos que a informação genética não é transmitida diretamente do DNA para a proteína.
Esse fluxo de informação é intermediado pelo RNA que difere do DNA em basicamente três maneiras: (1)
normalmente é um filamento único, em vez de uma dupla-hélice; (2) os nucleotídeos contêm o açúcar ribose
em vez de desoxirribose e (3) contém a base pirimidínica uracila, em vez de timina.
A transcrição é didaticamente dividida em três estágios: iniciação, alongamento e término. Durante esses
estágios, a maquinaria de transcrição deve ser direcionada para o local exato de início da transcrição, continuar
transcrevendo por todo o comprimento do gene e interromper a transcrição na outra extremidade,
respectivamente.
A RNA polimerase II, enzima responsável pela síntese do mRNA, contém diversas subunidades que atuam
não apenas no alongamento do transcrito primário, mas também na coordenação do processamento
cotranscricional. O processamento do mRNA inclui a adição do cap em 5′, a remoção de íntrons e a união de
éxons pelo spliceossomo, além da clivagem em 3′ seguida pela adição de uma cauda poli (A).
Além disso, também estudamos como ocorre a tradução da informação genética da molécula de mRNA para
a sequência de aminoácidos de uma proteína. Assim como a transcrição, a tradução é dividida em três
estágios: iniciação, alongamento e término. Durante esses estágios, a maquinaria de tradução deve adicionar
o primeiro aminoácido de forma correta, assim como os subsequentes, e finalizar polimerização da cadeia de
polipeptideos. As principais moléculas que compõem o processo de tradução são o tRNA, mRNA e rRNA.
62
(ENADE, 2013) Os mecanismos envolvidos na expressão e interação dos genes, assim como a compreensão
das redes funcionais estabelecidas pelas proteínas, fazem com que, no cenário científico atual, a genômica e
a proteômica estejam cada vez mais em evidência. Quatro são os principais bancos de dados utilizados para
as diferentes análises de nucleotídeos. Um deles é o INSDC (INTERNATIONAL NUCLEOTIDE SEQUENCE
DATABASE), que disponibiliza um repertório de sequências e é resultado da associação de três bancos de
dados parceiros, o DDBJ (DATA BANK OF JAPAN), o EMBL (EMBL NUCLEOTIDE SEQUENCE DATABASE)
e o GenBank. Devido à sua designação como provedor de dados primários, o EMBL/DDBJ/GenBak é a fonte
inicial de muitos bancos de dados em biologia molecular.
Como exemplos de bancos de dados de sequências genômicas secundárias, pode-se citar o Ensembl, o
RefSeq e o Genome Review, que representam uma versão da sequência original de um cromossomo ou
plasmídeo, com informações importadas de fontes que incluem o UniProt (UNIVERSAL PROTEIN
RESOURCE), o Gene Ontology (GO), o projeto GOA (GO ANNOTATION), o InterPro e o HoGenom, além de
serem disponibilizadas referências cruzadas com 18 bancos de dados.
Resposta: C
63
Questão Objetiva
Com relação à estrutura do RNA, assinale a alternativa correta.
Resposta: B
Questão Discursiva
Descreve o código genético da tradução de proteínas.
Resposta: Cada aminoácido é codificado por três nucleotídeos consecutivos no mRNA, também chamados
de códons. Considerando os quatro nucleotídeos presentes na estrutura do mRNA (A, G, C e U), temos um
total de 64 (43) possíveis códons. Destes 64, 3 são códons de parada (UAA, UAG e UGA) e determinam o
término da tradução. Os 61 códons restantes são chamados códons com sentido ou senso e codificam os
aminoácidos presentes nos organismos. Em outras palavras, 20 diferentes aminoácidos comumente
encontrados nas proteínas são codificados por 61 códons senso. Por esse motivo, chamados o código de
código genético degenerado. Isso significa que os aminoácidos podem ser codificados por mais de um códon.
O livro “Biologia molecular da célula”, escrito por Bruce Alberts e outros autores, descreve todo o fluxo da
informação genética desde o DNA passando pelo RNA até chegar ao produto final, a proteína. Esse livro é um
excelente material complementar ao capítulo que acabamos de estudar.
64
UNIDADE III
CAPÍTULO 5 - REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA
Introdução
A regulação da expressão gênica nas células eucarióticas ocorre em diversos níveis. A expressão
dos genes pode ser influenciada por alterações na estrutura da cromatina (DNA associado a
proteínas), que ocorrem por vários mecanismos diferentes. O processo de transcrição e o
processamento do mRNA podem ser controlados por interações complexas entre vários tipos de
proteínas e elementos regulatórios das moléculas de DNA. Além disso, a tradução também pode ser
regulada de diferentes maneiras.
65
A remodelagem da cromatina consiste na movimentação dos nucleossomos ao longo do
DNA (Figura 1). Alguns fatores de transcrição e algumas proteínas regulatórias compõem
complexos de remodelagem da cromatina e são capazes de se ligar a sítios específicos no DNA
e reposicionar os nucleossomos alterando a estrutura da cromatina sem alterar diretamente a
estrutura química das histonas. Essa movimentação dos nucleossomos permite que os fatores de
transcrição e a RNA polimerase se liguem aos promotores e iniciem o processo de transcrição.
66
adição ou remoção de grupos fosfato, metila ou acetila ou moléculas chamadas ubiquitinas. A adição
de grupos metila às caudas das proteínas histona é chamada de metilação de histonas. Essas
alterações provocam a ativação ou a repressão da transcrição do gene em questão, dependendo de
quais aminoácidos na cauda da histona são metilados. As enzimas histona metiltransferases
adicionam grupos metila a aminoácidos específicos, geralmente lisina ou arginina. As demetilases
são enzimas que realizam a remoção dos grupos metila das histonas. A adição de grupos acetila às
caudas das histonas é chamada de acetilação de histonas. A acetilação das histonas na maioria
das vezes desestabiliza a estrutura da cromatina e estimula a transcrição dos genes (Figura 2). As
enzimas acetiltransferases são responsáveis pela adição desses grupos e as enzimas desacetilases
são responsáveis pela remoção desses grupos e pela restauração da estrutura da cromatina,
impedindo a sua transcrição.
67
A metilação do DNA é uma modificação da molécula de DNA que altera a estrutura da
cromatina. A metilação do DNA ocorre nas bases de citosina e, de modo diferente da metilação de
histonas, reprime a transcrição do gene.
Fatores gerais de transcrição, a enzima RNA polimerase e outras proteínas formam um complexo responsável
pelo início do processo de transcrição.
68
Figura 3. Ação de proteínas ativadoras
69
bloqueio no efeito dos acentuadores ocorre quando o insulador se encontra entre o acentuador e o
promotor do gene. Entretanto, o insulador não é capaz de bloquear o efeito do acentuador se não
estiver nessa região (Figura 4). A atividade bloqueadora dos insuladores ocorre somente quando
proteínas específicas se ligam a sua sequência. Alguns insuladores também são capazes de impedir
mudanças na estrutura da cromatina que influenciem no processo de transcrição.
Figura 4. Ação de acentuadores e insuladores
70
A quantidade do produto final da tradução (proteína) depende diretamente da quantidade de
mRNA correspondente disponível para tradução pelos ribossomos. A quantidade de mRNA
disponível depende de dois fatores: (1) a taxa de síntese de mRNA e (2) a taxa de degradação do
mRNA. A estabilidade dos mRNAs eucarióticos é altamente variável e sua presença no citoplasma
por durar alguns minutos, algumas horas, dias ou até meses. O tempo de permanência de cada
mRNA nas células pode resultar em grandes diferenças na quantidade de proteína sintetizada.
A regulação por inibição da tradução é realizada por miRNA combinados ao RISC que
interagem com mRNA complementares. Pouco se sabe sobre o mecanismo exato dessa via de
regulação, mas acredita-se que o miRNA seja responsável pela inibição do início da tradução, assim
como do alongamento e da tradução.
71
5.3 Regulação tradicional
Como já vimos, miRNAS associados ao RISC podem inibir o processo de tradução de proteínas.
Entretanto, outros mecanismos de regulação da tradução estão presentes em células eucarióticas.
A maioria das proteínas recém-traduzidas são incapazes de exercer sua função biológica e
necessitam de alterações estruturais para que se tornem ativas. São diversas as alterações que
podem ocorrer: clivagem seletiva, retirada de aminoácidos das extremidades, fosforilação,
acetilação, alquilação, metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, formação de pontes dissulfeto
etc. A adição ou remoção de grupos químicos é responsável pela regulação da atividade proteica ou
o tempo em que a proteína permanece na célula antes de ser degradada. As modificações químicas
também determinam o direcionamento de proteínas para locais onde sua atividade é necessária, por
exemplo: no núcleo, no citoplasma, aderida à membrana plasmática etc.
A fosforilação é uma das modificações pós-tradicionais mais comuns nas quais um grupo
fosfato é ligado à proteína. As consequências da fosforilação variam de proteína para proteína:
algumas são ativadas pela fosforilação, outras são desativadas, enquanto outras alteram totalmente
seu comportamento, podendo interagir com moléculas diferentes ou se direcionando para outra
região da célula.
Para saber um pouco mais sobre a regulação da expressão gênica em eucariotos e o que a difere da regulação
da expressão gênica em procariotos, acesse: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/gene-regulation>
72
5.4 Silenciamento gênero-específico de genes e cromossomos inteiros
O Imprinting genômico consiste no fenômeno de padrão de herança em que determinados genes
são expressos apenas por um alelo, enquanto o outro permanece metilado. Durante o
desenvolvimento dos gametas, grupos metil são adicionados a molécula de DNA em regiões
reguladoras de genes imprintados em apenas um sexo. Genes imprintados são expressos como se
apenas uma única cópia do gene estivesse presente na célula, embora existam duas (diploides).
Um exemplo claro são os genes Igf2 e H19 de camundongo. O alelo Igf2 é expresso no animal
apenas se ele for herdado do pai, o que chamamos de imprinting materno, visto que a cópia do
gene derivada da mãe é inativa. O alelo H19 é expresso apenas se for herdado da mãe, o que
chamamos de imprinting paterno, visto que a cópia paterna é inativa.
Os genes Igf2 e H19 fazem parte de um grupo de genes imprintados no cromossomo 7 de camundongo.
Estima-se que cerca de 100 genes são imprintados no genoma de camundongos. Os seres humanos
compartilham a maior parte dos mesmos genes imprintados de camundongos.
Existe uma região específica do DNA localizada entre os genes Igf2-H19 metilada em células
germinativas masculinas e não metilada em células germinativas femininas. Chamamos essa região
de região de controle de imprinting (ICR). (Figura 7). A metilação da ICR resulta em ativação de Igf2
e em inativação de H19, enquanto a ausência de metilação leva ao contrário. A ICR não metilada
(materna) interage com uma proteína reguladora chamada de CTCF, que impede a ativação da
transcrição de Igf2 pelo acentuador. No entanto, o acentuador ainda é capaz de ativar a transcrição
de H19. No alelo paterno, a CTCF não consegue se ligar à ICR devido à metilação da região, então
o acentuador é capaz de ativar a transcrição de Igf2. Entretanto, a transcrição de H19 não ocorre
visto que a região metilada se estende até o promotor H19, impedindo a ligação de proteínas
necessárias para o início da transcrição.
Figura 7. Mecanismo de imprinting genômico
73
Indivíduos de espécies haploides produzem aproximadamente a mesma quantidade de
transcritos em relação a cada gene que os compõem. Se ambos os cromossomos X fossem
expressos no sexo feminino, os indivíduos não produziriam o mesmo número de transcritos de genes
localizados nos cromossomos sexuais, visto que o número de cromossomos sexuais X e Y difere
entre os sexos (XX e XY). Fêmeas apresentariam o dobro de cópias dos genes ligados ao X e,
consequentemente, expressariam o dobro de transcritos desses genes do que os machos. A
ausência de um cromossomo Y nas fêmeas não é um problema, pois esse cromossomo possui
pouquíssimos genes, necessários apenas para o desenvolvimento da masculinidade.
Esse desequilíbrio na dosagem de transcritos não ocorre pois é corrigido por meio de um
processo chamado compensação de dose, que torna a quantidade da maior parte dos transcritos
do cromossomo X no sexo feminino equivalente à dose única do cromossomo X no sexo masculino.
Essa equivalência de doses é alcançada por meio da inativação aleatória de um dos dois
cromossomos X de células femininas no estágio inicial do desenvolvimento. O cromossomo X
inativado (Xi), também chamado de corpúsculo de Barr, pode ser observado no núcleo das células
somáticas como uma estrutura heterocromática altamente condensada e fortemente corada. A maior
parte dos genes no cromossomo Xi é silenciada por mecanismos que incluem H3K9me,
hipoacetilação de histonas e hipermetilação do DNA.
Considerações finais
A regulação da expressão gênica consiste em um conjunto de mecanismos responsáveis pelo
controle do fluxo de informação que sai da molécula de DNA, passa pela molécula de RNA e chega
ao produto final, a proteína. O controle desse processo é de extrema importância para as células.
Um organismo multicelular, como nós, humanos, contém tipos celulares distintos (celular epiteliais,
hepáticas, neurônios etc.) e cada tipo celular expressa conjuntos de genes diferentes apesar de
possuírem o mesmo DNA. Esse conjunto de genes expressos determina quais proteínas e RNAs
funcionais e em qual quantidade a célula irá apresentar cada uma delas, conferindo-lhe suas
características únicas.
Graças a regulação gênica, cada tipo de célula possui um conjunto distinto de genes ativados,
permitindo a presença de conjuntos diferentes de proteínas e tornando cada célula exclusivamente
especializada em uma função. Além disso, esse conjunto de genes ativados também se altera
durante o processo de desenvolvimento desde o zigoto, passando pela adolescência e chegando ao
envelhecimento.
74
Neste capítulo, vimos que em células eucarióticas, a estrutura da cromatina em seu estado natural inibe a
expressão gênica. Para que o processo de transcrição se inicie, a estrutura da cromatina precisa ser alterada
para que o DNA se torne mais acessível para a complexa maquinaria de transcrição. Essa alteração pode
ocorrer pelo reposicionamento dos nucleossomos e pela modificação das proteínas histonas, incluindo
acetilação, fosforilação, metilação e ubiquitinação. Além disso, a metilação do DNA também é capaz de alterar
a estrutura da cromatina e assim interferir no processo de transcrição.
O início da transcrição em células eucarióticas é controlado por fatores de transcrição gerais que se associam,
formando o complexo de iniciação da transcrição e por proteínas reguladoras de transcrição que se ligam a
promotores regulatórios e acentuadores, estimulando ou reprimindo o processo de transcrição.
Acentuadores são sequências no DNA que estimulam a transcrição de genes distantes quando proteínas se
ligam a elas. Insuladores são sequências no DNA que limitam a ação dos acentuadores, bloqueando sua ação
de modo dependente da localização.
A expressão de genes nas células eucarióticas ainda pode ser influenciada pelo processamento (recomposição
alternativa) e degradação da molécula de RNA.
Além das proteínas, pequenos RNAs também podem interferir na expressão gênica, interagindo com o mRNA
por meio de quatro mecanismos conhecidos: clivagem do mRNA, inibição da tradução e inibição da transcrição.
A maioria das proteínas recém-traduzidas são incapazes de exercer sua função biológica, necessitando de
alterações estruturais para que se tornem ativas, como: clivagem seletiva, retirada de aminoácidos das
extremidades, fosforilação, acetilação, alquilação, metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, formação de
pontes dissulfeto etc. Essas alterações também são consideradas formas de regulação da expressão gênicas.
O silenciamento gênero-específico de genes e cromossomos inteiros também é um fenômeno epigenético que
controla a expressão de determinados genes, temos como exemplos o imprinting genômico e a inativação
aleatória do cromossomo X.
Resposta: B
75
Considerando o Silenciamento gênero-específico de genes, assinale a alternativa correta.
Resposta: C
A modificação de histonas consiste na modificação química das caudas das proteínas histonas pertencentes
ao octâmero de histonas do nucleossomo. Cite e explique dois tipos de modificação de histonas.
Resposta: A adição de grupos metila às caudas das proteínas histona é chamada de metilação de histonas.
Essas alterações provocam a ativação ou a repressão da transcrição do gene em questão, dependendo de
quais aminoácidos na cauda da histona são metilados.
A adição de grupos acetila às caudas das histonas é chamada de acetilação de histonas. A acetilação das
histonas na maioria das vezes desestabiliza a estrutura da cromatina e estimula a transcrição dos genes.
O livro “Fundamentos de genética”, dos autores Snustad e Simmons, descreve a regulação gênica em
procariotos e eucariotos de forma simples. Por esse motivo, é uma ótima referência complementar ao capítulo
que acabamos de estudar.
76
UNIDADE III
CAPÍTULO 6 - MUTAÇÃO E REPARO
Introdução
Apesar de a molécula de DNA ser altamente estável, erros na replicação e mudanças da sua
estrutura podem ocorrer. Definimos mutação como uma alteração na informação genética, sendo
herdada por células ou organismos. Essa alteração varia desde uma simples troca de um par de
bases por outro até o desaparecimento de um cromossomo inteiro.
Podemos classificar as mutações em dois tipos considerando o tipo de célula em que elas
ocorrem. As mutações somáticas ocorrem em células somáticas, ou seja, todas as células de um
organismo exceto os gametas. Nesse tipo de célula, a mutação é transmitida para suas células-filhas
(mitose), resultando um uma população limitada de células contendo a alteração. As mutações
germinativas ocorrem em células germinativas (gametas). Esse tipo de mutação pode ser
transmitido para as futuras gerações, resultando em organismos que contenham a alteração em
todas as suas células.
Mutações têm papel fundamental na evolução das espécies, sendo a sua matéria-prima a
fonte de todas as variações genéticas. A capacidade de as espécies se adaptarem à mudança
ambiental depende diretamente da variação genética na população. Novos alelos são produzidos
por mutações de forma espontânea ou resultantes da exposição à radiação ou substâncias químicas
do ambiente. Mutações também são úteis no estudo de processos biológicos. Quando cientistas
encontram ou induzem mutações que afetam diferentes elementos de um sistema biológico, o estudo
dos seus efeitos pode levar à compreensão do sistema. Por outro lado, mutações podem resultar em
características prejudiciais não desejáveis, podendo ser a causa de muitas doenças e distúrbios.
Para saber um pouco mais sobre a relação entre mutações e o desenvolvimento de canceres, acesse: <
https://www.abrale.org.br/revista-online/mutacao-genetica-e-cancer/ >
77
Neste capítulo, estudaremos os tipos de alterações que ocorrem nos genes e no cromossomo
inteiro (vários genes), além de estudar os mecanismos de reparo das células a essas mutações.
As substituições de bases ocorrem quando um par de bases é substituído por outro. Esse
tipo de mutação é subdividido em: transições e transversões. A transição é a substituição de uma
base por outra base da mesma categoria química, ou seja, uma purina é substituída por outra purina
ou uma pirimidina é substituída por outra pirimidina. A transversão é a substituição de uma base por
outra de uma categoria química diferente, ou seja, uma purina é substituída por uma pirimidina ou
uma pirimidina é substituída por uma purina.
78
Em nível funcional, quando esse tipo de mutação ocorre em uma parte codificadora de um
gene, existem diversos desfechos possíveis. Quando a substituição altera o códon, mas o
aminoácido traduzido continua sendo o mesmo (código degenerado), chamamos de mutação
sinônima ou silenciosa. Esse tipo de mutação nunca altera a sequência de aminoácidos da
proteína. Quando a substituição altera o códon e o aminoácido traduzido, chamamos de mutação
de sentido trocado ou não sinônimas. Esse tipo de mutação pode substituir um aminoácido por
outro quimicamente semelhante, sendo chamada de substituição conservativa. Dessa forma,
apresenta menor probabilidade de alterar de forma grave a estrutura e a função da proteína
traduzida. Por outro lado, a substituição pode ser feita por um aminoácido quimicamente distinto,
sendo chamada de substituição não conservativa. Dessa forma, apresenta maior probabilidade
de alterar de forma grave a estrutura e a função da proteína traduzida. Quando a substituição
transforma o códon de um aminoácido para o um códon de parada, chamamos de mutação sem
sentido. Esse tipo de mutação antecipará o término da tradução, podendo alterar gravemente a
estrutura e a função da proteína.
A nível funcional, quando esse tipo de mutação ocorre em uma parte codificadora de um
gene, há alteração da matriz de leitura do restante dos códons e alteração da sequência de
aminoácidos da proteína. Por esse motivo, são chamadas de mudança de matriz de leitura
(frameshift mutations). A alteração da sequência de aminoácidos na proteína muitas vezes é
responsável pela perda completa da estrutura e da função proteica original.
A mutações, sendo elas substituições, inserções ou deleções, podem ocorrer em regiões não
codificadoras. Regiões de um gene que não codificam diretamente uma proteína podem conter
diversos sítios de ligação cruciais para que a proteína produzida seja funcional. As consequências
funcionais irão depender do fato de a mutação anular ou criar um sítio de ligação. Mutações que
comprometem sítios de ligação irão alterar o padrão de expressão de um gene, ou seja, irão alterar
a quantidade de produto proteico produzido e não a estrutura da proteína.
No ano de 1974, Bruce Ames desenvolveu o teste de Ames para avaliar o potencial de substâncias químicas
de induzir ao surgimento de câncer. O teste é simples e se baseia no princípio de que o câncer e as mutações
surgem devido a danos na molécula de DNA. Bruce demonstrou com ajuda de seus experimentos que 90%
dos carcinógenos (substâncias capazes de induzir câncer) conhecidos também são mutágenos (substâncias
capazes de induzir dano ao DNA).
79
induzidas são realizadas intencionalmente em laboratório por meio da ação de agentes mutágenos
ou radiações.
80
Figura 3. Duplicação cromossômica
81
Figura 5. Inversão cromossômica.
82
Figura 6. Aneuploidias resultantes da não disjunção na meiose e na mitose
83
A trissomia ocorre quando há ganho de um único cromossomo (2 n + 1). Um zigoto humano
trissômico tem 47 cromossomos. Temos como exemplos a síndrome de Down (trissomia do
cromossomo 21), a síndrome de Edward (trissomia do cromossomo 18), a síndrome de Patau
(trissomia do cromossomo 13), etc.
A tetrassomia ocorre quando há ganho de dois cromossomos homólogos (2n + 2). Um zigoto
humano tetrassômico tem 48 cromossomos.
Durante o processo de replicação do DNA, bases pareadas de forma errada são incorporadas
à nova fita de DNA em uma frequência de cerca de 10−5. A maioria desses erros é corrigida
rapidamente por revisões realizadas pelas enzimas DNA polimerases I e III, reduzindo a taxa de erro
para menos de 10–7. Erros que escapam a detecção feita por essas enzimas são submetidos ao
reparo de pareamento errado ou também chamado de reparo pós replicação. Enzimas
especializadas identificam pareamentos errados e pequenas alças causadas pela inserção ou pela
deleção de nucleotídios (indels) e os substituem pelos nucleotídeos corretos, reduzindo a taxa de
erro para menos de 10–9.
O reparo direto é o mecanismo da célula que não substitui nucleotídeos, mas os modificam
para que voltem as suas estruturas originais. Um exemplo de reparo direto é a fotorreativação dos
dímeros de pirimidina induzidos pelo UV (Figura 7). A enzima fotoliase se liga ao fotodímero e utiliza
a energia da luz do comprimento de onda maior que 300 nm para quebrar as ligações covalentes
que unem as pirimidinas como um dímero.
84
Figura 7. Fotorreativação pela enzima fotoliase
O reparo por excisão de base é o mecanismo que remove bases incorretas ou danificadas
em regiões não volumosas do DNA (Figura 8). A enzima DNA glicosilase é responsável por clivar as
ligações base-açúcar e liberar as bases alteradas, gerando sítios apurínicos ou apirimidínicos (AP).
Em seguida, a enzima endonuclease AP corta a fita danificada upstream do sítio AP e a enzima
desoxirribofosfodiesterase (dRpase) remove resíduos de açúcar-fosfato. Por fim, uma DNA
polimerase adiciona nucleotídeos corretos na região removida e DNA ligase sela o novo nucleotídeo
na fita de DNA.
85
Figura 8. Processo de reparo por excisão de base
O reparo por excisão de nucleotídeo é o mecanismo que corrige adições volumosas que
distorcem a hélice do DNA, como dímeros de pirimidina (Figura 9). Um complexo de enzimas é
responsável pela identificação dessas distorções da configuração tridimensional da molécula de
DNA. Em seguida, enzimas adicionais separam as duas fitas do DNA na região danificada e
proteínas chamadas de proteínas ligadoras de fita única estabilizam as fitas únicas. Então, a região
danificada é clivada enzimaticamente em ambos os lados. A remoção da região clivada é feita pelas
enzimas helicases e, por fim, a DNA polimerase adiciona nucleotídeos corretos na região removida
e a DNA ligase sela o novo segmento de nucleotídeos na fita de DNA.
86
Figura 9. Processo de reparo por excisão de nucleotídeos
87
As doenças autossômicas recessivas xeroderma pigmentoso (XP) e síndrome de Cockayne são causadas por
defeitos na via do reparo por excisão de nucleotídeo. Os pacientes de ambas as síndromes são
excepcionalmente sensíveis à luz UV. Entretanto, outros sintomas são muito diferentes: o XP é caracterizado
pelo desenvolvimento precoce de cânceres e, em alguns casos, ocorrem defeitos neurológicos e os pacientes
da síndrome de Cockayne apresentam diversos sintomas de distúrbios do desenvolvimento, incluindo nanismo,
surdez e retardo.
A quebra bifilamentar, ou seja, a quebra da dupla fita do DNA, é um dano muito comum,
sendo causada por radiação ionizante, espécies reativas de oxigênio e outros agentes que possam
danificar a molécula. Esse tipo de dano pode causar rearranjos cromossômicos e até resultar em
morte celular ou em estado pré-canceroso. Os principais mecanismos de reparo de quebras
bifilamentares envolvem a recombinação homóloga e a junção de extremidades não homólogas.
A exposição frequente aos raios X pode causar a quebra bifilamentar da molécula de DNA e, possivelmente,
o desenvolvimento de forma cancerosas.
88
Figura 10. Recombinação homóloga
89
A via de junção de extremidades não homólogas se inicia quando as proteínas KU70 e
KU80 se ligam às extremidades quebradas da molécula de DNA, formando um heterodímero (Figura
11). O heterodímero formado previne leões adicionais às extremidades quebradas e recruta
proteínas responsáveis pelo corte das extremidades da fita, gerando as extremidades 5′-P e 3′-OH
necessárias para a ligação. Por fim, a enzima DNA ligase IV une as duas extremidades.
90
Considerações finais
A dupla fita do DNA faz com que a molécula seja altamente estável, entretanto erros na replicação e
alterações na sua estrutura podem ocorrer. Chamamos essas alterações na informação genética de
mutações, sendo herdada por células ou organismos.
Neste capítulo, estudamos as alterações que ocorrem em genes ou em cromossomos inteiros. Essas
alterações são chamadas de mutações, sendo herdadas por células (mutações somáticas) ou organismos
(mutações germinativas).
Alterações na molécula de DNA são chamadas de mutação de ponto e se referem a mudanças em um único
ou um pequeno número de pares de bases do DNA. O tipo mais simples é uma substituição de base, na qual
transições são substituições de purinas por purinas, ou pirimidinas são substituídas por pirimidinas, e
transversões são substituições de purinas por pirimidinas ou pirimidinas por purina. Outros tipos de mutação
de ponte são as inserções e deleções (indel), sendo inserções a adição de nucleotídeos, e deleções, a remoção
dos nucleotídios.
Mutações em cromossomos inteiros também podem ocorrer e variam em estrutura e número. Os três tipos de
mutações cromossômicas são: rearranjos cromossômicos, aneuploidia e poliploidia. Os rearranjos
cromossômicos são mudanças nas estruturas dos cromossomos, podendo ser duplicações, deleções,
inversões ou translocações. A aneuploidia é o aumento ou a redução no número de cromossomos, podendo
ser nulissomia (perda de dois cromossomos homólogos), monossomia (perda de um cromossomo homólogo),
a trissomia (adição de um cromossomo homólogo) ou tetrassomia (adição de dois cromossomos homólogos).
A poliploidia consiste no aumento de conjuntos inteiros de cromossomos.
Em células saudáveis, a maioria desses danos a molécula de DNA é corrigida por mecanismos de reparo, que
incluem reparo de pareamento errado, reparo direto, reparo por excisão de bases, reparo por excisão de
nucleotídeo e mecanismos de reparo da quebra bifilamentar. As quebras de fita dupla são reparadas pela
recombinação homóloga e junção de extremidades não homólogas. Danos ao DNA que não são reparados
são a causa principal de várias doenças genéticas.
(ENADE, 2019) A Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR) pode ser utilizada em diagnóstico
molecular de doenças genéticas, detecção de patógenos, identificação humana e de espécies virais ou
bacterianas, níveis de expressão gênica, resistência a antimicrobianos, entre outras aplicações.
91
PEREIRA, T. C. Introdução às técnicas de PCR convencional em tempo real e digital. Ribeirão Preto:
SBG, 2018 (adaptado).
O gráfico a seguir representa em A os ciclos de amplificação do qPCR (escala log) do gene ACTB (B-actina,
constituinte do esqueleto celular), e em B, os do gene COL1A1 (colágeno1, associado a osteogênese
imperfeita). O Ct (ciclo threshold) de ACTB é 18 e o de COL1A1 é 22.
Resposta: B
92
Questão Objetiva
(ENADE 2017) Os alimentos transgênicos resultam de um processo de modificação molecular por meio das
técnicas de engenharia genética. A obtenção de plantas transgênicas passa por três etapas: obtenção do gene
que deve ser incorporado em um vetor para se processar a transformação; introdução do gene na planta
receptora; e regeneração da célula em uma nova planta, por meio da cultura de tecidos.
Disponível em: <http://www.fruticultura.iciag.ufu.br>. Acesso em: 9 jul. 2016 (adaptado).
I. Os plasmídeos bacterianos são utilizados como vetores de clonagem do gene de interesse para a
transformação genética em plantas.
II. Os plasmídeos são dependentes do DNA cromossômico para replicação, sendo frequentemente
manipulados no processo de transformação gênica.
III. Para ser um bom vetor de clonagem, um plasmídeo deve possuir origem de replicação, sítios de clivagem
para endonucleases de restrição e um gene que codifique resistência a um antibiótico.
Resposta: C
Questão Discursiva
Diferencie poliploidia de monoploidia.
Resposta: Poliploides são organismos que contêm mais de dois conjuntos de cromossomos, podendo ser
triploides (3n), tetraploides (4n), pentaploides (5n), hexaploides (6n) e assim por diante. Monoploides são os
organismos de uma espécie normalmente diploide que apresenta apenas um conjunto de cromossomos (n).
93
O livro “Genética – Um enfoque conceitual” escrito por Benjamin A. Pierce traz diversos conceitos em
genética e descreve de forma didática os mecanismos de mutação e reparo do DNA, além das alterações
cromossômicas. Pode ser utilizado como uma ótima referência complementar ao capítulo que acabamos de
estudar.
94