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GENÉTICA

Prof.ª M.ª Leticia Santos Pimentel


Prof. Guilherme Bernardes Filho
Diretor Presidente
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes
Diretor Tesoureiro
Prof. Frederico Ribeiro Simões
Reitor

UNISEPE – EaD
Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes
Prof. Danillo Yuzo Fujii Sakuma
Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos
Prof. Me. Igor Gabriel Lima
Prof. Dr. José Luís Izidoro
Prof. Dr. Jozeildo Kleberson Barbosa
Prof. Me. Leonardo José Tenório Mourão Torres
Prof. Me. Ricardo Nakamura

Material Didático – EaD

Equipe editorial:
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395
Isis Gabriel Alves
Laura Lemmi Di Natale
Pedro Ken-Iti Torres Omuro
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável

Apoio técnico:
Alexandre Meanda Neves
Anderson Francisco de Oliveira
Douglas Panta dos Santos Galdino
Fabiano de Oliveira Albers
Gustavo Batista Bardusco
Kelvin Komatsu de Andrade
Matheus Eduardo Souza Pedroso
Vinícius Capela de Souza

Revisão: Vinícius Guimarães Rodtigues

Diagramação: Nikolas Fellipe de Morais


Apresentação da Professora
Prof.ª Ma. Leticia Santos Pimentel
Formada em Biomedicina pela Universidade Federal de Uberlândia em 2015, Mestre em Genética e
Bioquímica em 2018 e, atualmente, doutoranda em Genética e Bioquímica também pela
Universidade Federal de Uberlândia.

Tem experiência em pesquisa na área de nano biotecnologia aplicada a vacinas e sistemas de


entrega de drogas.

Apresentação da Disciplina
A disciplina de genética proporciona conhecimento sobre a história, conceitos, aplicações e
princípios fundamentais da genética necessários para a compreensão da dinâmica da transmissão
de características hereditárias, dos principais distúrbios genéticos e padrões de heranças
populacionais.
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem
e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
SUMÁRIO

UNIDADE I ................................................................................................. 05
1. Introdução à genética................................................................. 05
2. Genética mendeliana.................................................................. 16

UNIDADE II ................................................................................................ 33
3. Estrutura e replicação do DNA.....................................................33
4. Do fenótipo ao genótipo.............................................................. 46

UNIDADE III ............................................................................................... 65


5. Regulação da expressão gênica................................................ 65
6. Mutação e reparo........................................................................ 76
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO À GENÉTICA

No término deste capítulo, você deverá saber


✓ História e conceitos básicos da Genética
✓ Dogma central da biologia
✓ Genética e o ambiente

Introdução
Embora a genética seja considerada uma ciência nova quando comparada a outras, como a
astronomia, há milhares de anos os povos já compreendiam a existência da hereditariedade das
características e aplicavam seus princípios. A domesticação de plantas e animais começou há
aproximadamente 10.000 anos no Oriente Médio e, atualmente, são muito diferentes dos seus
progenitores selvagens. A aplicação de princípios genéticos em plantas resultou em alterações
genéticas que forneceram diversas características desejáveis, como aumento do rendimento,
resistência a doenças e pragas, qualidades nutricionais e facilidade na coleta. A Revolução Verde,
na década de 1960, utilizou-se de tecnologias para o melhoramento genético, expandindo a produção
de alimentos pelo mundo.

A genética também tem papel fundamental na indústria farmacêutica. Diversos fármacos são
produzidos por fungos e bactérias que foram geneticamente modificados para que tornassem
produtores eficientes destas substâncias. Atualmente, hormônios de crescimento, insulina, fatores
de coagulação, enzimas, antibióticos, vacinas e outros fármacos são produzidos com o auxílio de
microrganismos geneticamente modificadas.

A Medicina é, obviamente, outra área na qual a genética é bastante utilizada. Diversas


doenças e distúrbios têm origem hereditária como a anemia falciforme e a doença de Huntington.
Pesquisas na área da genética auxiliam no entendimento do surgimento e desenvolvimento de
doenças e no desenvolvimento de métodos de diagnóstico. A terapia gênica, ou seja, a alteração de
genes no tratamento de doenças humanas, é um avanço enorme da ciência, embora sua utilização
ainda seja experimental e limitada.

A hereditariedade interfere em muitas das nossas características físicas e na nossa suscetibilidade a diversas
doenças e distúrbios. Por outro lado, a genética contribui imensamente nos campos da agricultura, indústria
farmacêutica e medicina.

Neste primeiro capítulo, revisaremos brevemente a história da genética e, em seguida, alguns


conceitos básicos e muito importantes dessa disciplina. Depois disso, aprenderemos o significado

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do termo “dogma central da biologia”, além de entender como o ambiente interfere nas nossas
características.

1.1 História e conceitos básicos


O desenvolvimento da citologia nos anos 1800 teve grande importância no surgimento da genética.
Em 1833, Robert Brown (1773-1858), em conjunto com o trabalho de diversos pesquisadores,
descreveu o núcleo da célula e, assim, a célula passou a ser considerada como unidade fundamental
de estrutura e funcionamento dos organismos vivos. Em 1879, Walther Flemming (1843-1905)
observou a divisão dos cromossomos e descreveu o processo de mitose. Em 1885, o núcleo passou
a ser reconhecido por conter as informações da hereditariedade.

Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publicou o livro A Origem das Espécies, no qual
descreveu a teoria da evolução por meio da seleção natural. Darwin reconheceu a hereditariedade
como parte fundamental para a evolução; no entanto, nunca conseguiu explicar como ocorria a
herança.

Em 1866, Gregor Mendel (1822-1884) (Figura 1), um monge austríaco, publicou suas
experiências com cruzamentos de ervilhas e apresentou os princípios da hereditariedade.

Figura 1. Gregor Johann Mendel (1822-1884)

Fonte: Griffiths et al., 2016

Mendel chamou os fatores que controlam a hereditariedade de partículas e supôs que tais
partículas são transmitidas de uma geração para a próxima. Atualmente, as partículas descritas por

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Mendel são conhecidas como genes. Além disso, Mendel supôs que as células das plantas
estudadas continham duas cópias do gene que determina a cor da flor. Entretanto, apenas uma cópia
do gene é transmitida para futuras gerações. Dessa forma, quando os gametas se unem, haverá
novamente duas cópias do gene da cor da flor em cada célula da nova planta. Mendel ainda afirmou
que o gene para a cor da flor possui duas variantes genéticas, ou atualmente chamados de alelos,
um que determina a cor roxa, e outro, a cor branca. Mendel foi além e afirmou que o alelo roxo é
dominante em relação ao alelo branco, dessa forma uma planta com um alelo roxo e um alelo branco
apresentaria flores roxas. Uma planta só teria flores brancas se tivesse dois alelos brancos. Seu
trabalho foi publicado nos Proceedings of the Natural History Society de Brünn (Figura 2).
Infelizmente, naquela época, seu trabalho não teve o impacto que deveria e a sua importância foi
subestimada durante mais de 30 anos.

Figura 2. Trechos da publicação de Mendel de 1866, Versuche über Pflanzen-Hybriden

Fonte: Griffiths et al., 2016

Somente a partir de 1900, o trabalho de Mendel foi reconhecido graças aos esforços de
biólogo britânico William Bateson e do trabalho de biólogos da Alemanha, da Holanda e da Áustria
que reproduziram os experimentos de Mendel e reafirmaram os resultados. Em 1905, Bateson
introduziu o termo genética para descrever o estudo da herança. A partir daí, houve um imenso
progresso nessa área da ciência. Em 1910, Thomas H. Morgan indicou a localização dos genes nos
cromossomos. Em 1941, Edward Tatum e George Beadle propuseram a hipótese de que um gene
codificaria um polipeptídio. Em 1948, Barbara McClintock descreveu elementos que se movimentam
de um local para outro no genoma, hoje chamados de transposons. Em 1950, Erwin Chargaff
enumerou regras simples que a composição do DNA segue em relação às quantidades relativas de

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cada base nitrogenada. Em 1952, Alfred Hershey e Martha Chase comprovaram que é o DNA que
codifica todos as informações genéticas. Em 1953, James Watson e Francis Crick, com a ajuda dos
experimentos de difração de raios X de Rosalind Franklin, descreveram a dupla hélice do DNA. Em
1958, Matthew Meselson e Franklin Stahl identificaram a replicação semiconservativa do DNA. 1977,
Fred Sanger, Walter Gilbert e Allan Maxam propuseram métodos de sequenciamento das sequências
de nucleotídeos de moléculas de DNA. Em 2001, a sequência completa do genoma humano foi
publicada pela primeira vez. Em 2017, uma equipe chinesa, pela primeira vez, corrigiu mutações
genéticas em células de três embriões humanos usando o método CRISPR/Cas.

A genética moderna é dividida em três subdisciplinas principais: genética da transmissão,


genética molecular e genética populacional.

A genética da transmissão, também conhecida como genética clássica, consiste no estudo


dos princípios básicos da hereditariedade e como as características são transmitidas entre gerações.
O foco está no mapeamento dos genes e em sua organização nos cromossomos.

A genética molecular consiste no estudo da natureza química dos genes, sua estrutura,
organização e função. O foco está no entendimento de como as informações genéticas são
codificadas, replicadas e expressas.

A genética populacional consiste no estudo da composição genética de grupos da mesma


espécie (populações) e como essa composição se difere em diferentes regiões geográficas e com o
passar do tempo. O foco é o grupo de genes encontrado em uma determinada população.

A divisão da genética nesses três grupos é didática e tradicional, mas devemos estar cientes de que as divisões
podem ainda apresentar outras subdivisões, como a genética dos cromossomos, a genética quantitativa etc.
Além disso, o estudo em genética pode determinado por um organismo, como a genética da abelha, do milho
ou das bactérias, e esses organismos podem ser estudados no nível de genética da transmissão, molecular e
populacional.

Antes de seguirmos nosso aprendizado em genética, precisamos definir alguns conceitos


básicos dessa ciência:

DNA (ácido desoxirribonucleico): molécula em dupla fita que armazena a informação


genética para a síntese de proteínas.

RNA (ácido ribonucleico): molécula transcrita a partir do DNA intermediadora da síntese de


proteínas.

Cromossomos (Figura 3): molécula longa e contínua de DNA visualizadas durante a durante
a divisão celular. São estruturas altamente empacotadas por dobras e espirais associadas a
proteínas, de tamanho e forma variáveis, de acordo com a espécie.

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Figura 3. Do DNA ao cromossomo.

Fonte: Pierce, 2016

Cariótipo: conjunto de características dos cromossomos típicos de uma espécie. Os seres


humanos possuem 46 cromossomos, sendo 22 pares de autossomos e 1 par de cromossomos
sexuais (Figura 4A).

Genes: segmento do DNA responsável pelas características herdadas. Cada gene contém
uma sequência específica para produzir uma ou mais proteínas.

Alelos: são as variáveis de um determinado gene que ocupam um mesmo loco (posição do
gene no cromossomo) em cromossomos homólogos (possuem genes para as mesmas
características) (Figura 4B).

Cromossomos homólogos: formam um par durante a divisão celular e possuem genes para
as mesmas características, na mesma ordem e posição, mas os alelos podem ser diferentes (Figura
4B).
Figura 4. O cariótipo do ser humano e um par de cromossomos homólogos

Fonte: Pierce, 2016

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Homozigotos: organismo que apresenta dois alelos iguais

Heterozigotos: organismo que apresenta dois alelos diferentes

Genoma: Conjunto de cromossomos que carrega toda informação genética de indivíduo,


variando se acordo com a espécie.

Gametas: Célula especializada (sexual) que contém metade dos cromossomos. Exemplos:
espermatozoide e óvulo.

Células haploides (n): possuem um único conjunto de cromossomos, ou seja, metade do


número de cromossomos da espécie (Figura 5). Exemplo: células sexuais (óvulo e espermatozoide).

Células diploides (2n): possuem dois conjuntos de cromossomos, um conjunto de


cromossomos originários da mãe e um conjunto originário do pai (Figura 5). Exemplo: zigoto,
neurônios, células epiteliais etc.

Figura 5. Célula haploide e diploide

Genótipo: refere-se à composição genética de um indivíduo.

Fenótipo: refere-se à expressão do genótipo em interação com o ambiente. Exemplo:


aspectos morfológicos, fisiológicos, comportamentais e ecológicos do indivíduo e suas relações.

1.2 Dogma central da biologia molecular


A expressão “dogma central” foi introduzida em 1958 por Francis Crick para representar o sentido
que segue o fluxo da informação genética dentro das células: iniciando no DNA, passando pelo RNA
e chegando finalmente à proteína (Figura 6).

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Figura 6. Dogma central da biologia celular.

Fonte: Griffiths et al., 2016

A replicação do DNA consiste no processo de produção de novas cópias de DNA. Esse


processo é importante durante a divisão celular, em que cada célula-filha deve apresentar ao final
uma cópia completa de todo o DNA da célula-mãe (genitora).

A transferência da informação do DNA para o RNA mensageiro (mRNA) é chamada de


transcrição. A sequência de pares de bases em um gene (segmento do DNA) é copiada para uma
molécula de mRNA.

A tradução, ou também chamada de síntese proteica, é a transferência da informação do


mRNA para a proteína, o produto final. O processo de tradução ocorre por complementariedade das
bases nitrogenadas nos ribossomos no citoplasma de cada célula. As proteínas compreendem as
enzimas, os componentes estruturais das células e as moléculas para a sinalização celular.

Desde o surgimento do termo “dogma central”, novas informações sobre o fluxo da


informação genética foram descobertas ao longo do tempo. Atualmente, sabe-se que existem
algumas classes de RNA que não codificam proteínas, como os micro RNAs (miRNA), o RNA
interferente pequeno (si RNA), entre outros. Além disso, sabe-se que alguns RNAs podem ser
editados após a transcrição e que é possível a informação do RNA ser transmitida de volta para o
DNA com ajuda da enzima transcriptase reversa.

Investigue qual a função dos RNAs que não codificam proteínas, como os micro RNAs (miRNA), o RNA
interferente pequeno (si RNA).

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1.3 Genética e o ambiente
Os genes têm papel fundamental nas caraterísticas de um indivíduo, porém não exercem esse papel
de forma integral. Outro fator com grande influência nas características é o ambiente. O ambiente
fornece ao organismo materiais necessários para os processos controlados pelos genes, como água,
oxigênio etc.

Conforme um organismo cresce e se desenvolve, seus genes interagem com ambiente onde está durante toda
sua história de vida. A interação entre o genótipo e o ambiente determina o organismo.

Todas as características que definem uma espécie são determinadas por seus respectivos
genomas. Não existe qualquer chance de algum ambiente transformar um cavalo em um cachorro.
Onças e tucanos podem crescer lado a lado em uma floresta e esses animais continuarão sendo
onças e tucanos. Embora estejam no mesmo ambiente, esses animais assemelham-se a seus
genitores e diferem uma da outra. Mesmo dentro da espécie, diferenças genéticas sempre estarão
presentes e não poderão ser modificadas pelo ambiente em que vivem. Temos como exemplo a cor
dos olhos: indivíduos podem ter olhos castanhos, verdes ou azuis, e o ambiente não influenciara na
determinação genética.

Por outro lado, precisamos considerar o fato de que gêmeos monozigóticos (idênticos) que
cresceram em ambientes culturais distintos podem apresentar características diferentes. Mesmo que
os gêmeos possuam o mesmo genótipo, os ambientes culturais diferentes onde cresceram e viveram
produzirão diferenças entre eles. Neste caso, é clara a influência do ambiente.

Portanto, podemos afirmar que o fenótipo de um indivíduo de determinada espécie será


determinado pelo genótipo que possui e pela sua interação com fatores ambientais. Para prever
como será o fenótipo de um indivíduo, devemos considerar a constituição genética que ele herda de
seus genitores e todos os ambientes aos quais ele será exposto. Além dos ambientes aos quais o
indivíduo será exposto, quando ele será exposto também importa. Como exemplo, temos o
desenvolvimento da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) que se desenvolve normalmente a
25°C. Se, por algum motivo, a temperatura do ambiente se elevar para 37°C durante seu estágio de
pupa, a mosca quando adulta poderá apresentar padrão de veia em suas asas alterado. No entanto,
se essa mudança de temperatura ocorre 24h depois do estágio de pupa, a mosca adulta apresentará
padrão de veias normais.

Quando dizemos que uma pessoa "herdou a inteligência da mãe" ou "herdou diabetes do
pai", não estamos considerando o papel do ambiente nas características. A inteligência e o diabetes
desenvolvem-se como consequência de uma sequência de acontecimentos ocorridos durante a vida
de pessoas com essas características

Na figura 7 temos esquematizado a influência do ambiente sobre o genótipo e as


características de um organismo.

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Figura 7. Interação genótipo-ambiente

Fonte: Griffiths et al., 2008

Considerações finais
Apesar de o termo genética ter sido introduzido em 1905, o estudo da hereditariedade começou
desde 1860 com o trabalho de Gregor Mendel, o primeiro a descrever a ideia de genes. Desde então
houve uma revolução no conhecimento da área, e a análise genética respondeu a muitas questões
fundamentais em relação à transmissão das informações genéticas dentro das famílias e das células.

Atualmente, sabemos que um gene consiste em uma região funcional da longa molécula
dupla fita de DNA que constitui a estrutura fundamental de um cromossomo. Novas fitas de DNA são
obtidas durante a divisão celular pelo processo de replicação do DNA. A informação genética contida
no DNA é transmitida para o mRNA pelo processo de transcrição e do mRNA para a proteína pelo
processo de tradução.

Todo o conhecimento obtido pelos estudos em genéticas nos permitiu aplicar princípios
genéticos em plantas alterando-as de forma que fornecessem diversas características desejáveis.
Além disso, nos permitiu a produção diversos fármacos a partir por fungos e bactérias geneticamente
modificados. Não podemos deixar de citar o progresso no entendimento de diversas doenças e
distúrbios de origem hereditária, além do desenvolvimento de métodos de diagnóstico.

Nesse capítulo aprendemos um pouco sobre a história da genética, desde os experimentos com ervilhas de
Mendel publicados em 1866, passando pelo descobrimento da estrutura do DNA por Watson e Crick com a
ajuda dos experimentos de difração de raios X de Rosalind Franklin em 1953, até o sequenciamento completo
do genoma humano em 2001.
Hoje sabemos que um gene consiste em um segmento do DNA responsável pelas características herdadas e
que possui variáveis chamadas de alelos. Sabemos que o DNA constitui a estrutura empacotada do
cromossomo e que cada espécie possui um conjunto de cromossomos específicos em número e forma.
Sabemos que, durante a divisão celular, novas fitas de DNA são obtidas pelo processo de replicação e que o
fluxo da informação genética sai do DNA, passa para o RNA pelo processo de transcrição e finalmente chega
ao seu produto final, a proteína, pelo processo de tradução. Cada indivíduo possui uma composição genética
única, o genótipo. A expressão do genótipo com a interação do ambiente resultada no fenótipo, ou seja,
conjunto de características visíveis.
Todo conhecimento obtido durante esses anos foi de grande importância para a agricultura, a indústria
farmacêutica e a medicina, nos permitindo alterar a composição genética de plantas de forma que fornecessem

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características desejáveis; alterar a composição genética de fungos e bactérias para que produzam fármacos
de interesse; além de permitir o entendimento e a identificação de diversas doenças e distúrbios de origem
hereditária.

Para aprender um pouco mais sobre a história da genética acesse: < https://www.news-medical.net/life-
sciences/History-of-Genetics-(Portuguese).aspx >

(ENADE, 2017) Desenvolvida recentemente, a técnica de edição de genoma denominada CRISPR/Cas9


mostra-se bastante promissora nas áreas de Biotecnologia e Medicina. Por engenharia genética, é possível
direcionar o sistema CRISPR/Cas9 para clivar o DNA em um ponto específico dos genomas de vírus, de
plantas, de fungos e de animais, inclusive de embriões humanos, o que tem gerado discussões a respeito dos
aspectos éticos de sua utilização.

YANAGUI, K. Novas tecnologias, novos desafios. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 68, n. 3, set. 2016
(adaptado).

Em relação às questões bioéticas envolvidas na edição genética, avalie as afirmações a seguir.


I. No Brasil, não é permitido o uso de técnicas para a edição genética de embriões humanos; os estudos
científicos nessa área devem ter como objetivo tratar e curar problemas de saúde e não alterar o genoma ou
realizar clonagens.
II. A despeito do caráter promissor da edição genética no tratamento de doenças graves, as intervenções feitas
por meio da técnica de CRISPR/Cas9 em embriões podem ser passadas às gerações futuras; por esse motivo,
a prática é considerada eugenista, o que ensejou a proibição de estudos desse tipo em embriões humanos em
alguns países.
III. Em alguns países, inclusive no Brasil, são permitidas por lei a manipulação e a modificação genética de
embriões humanos para fins de pesquisa; entretanto, esses embriões devem ser descartados dentro do prazo
de duas semanas.

É correto o que se afirma em


A) I, apenas.
B) III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
Resposta correta: C

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Com relação as contribuições da genética para a sociedade, assinale a alternativa correta.

A) Princípios genéticos são proibidos de serem utilizados em plantas


B) Organismos geneticamente modificados (OGMs) são extremamente perigosos
C) Princípios genéticos são proibidos de serem utilizados pela indústria farmacêutica
D) Diversos fármacos são produzidos por fungos e bactérias que foram geneticamente modificados
E) A genética ainda não permite a identificação de doenças e distúrbios de origem hereditária

Resposta correta: D

Defina a expressão “Dogma central da biologia”.


Resposta: A expressão “dogma central” foi introduzida em 1958 por Francis Crick para representar o sentido
que segue o fluxo da informação genética dentro das células: iniciando no DNA, passando pelo RNA e
chegando finalmente na proteína.

O livro “Introdução à Genética” escrito por Griffiths e outros autores traz desde conceitos básicos de genética
até técnicas de análise e manipulação de DNA.

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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 - GENÉTICA MENDELIANA

No término deste capítulo, você deverá saber:


✓ As proporções de cruzamentos mono-híbridos e di-híbridos,
✓ Como analisar heredogramas e entender como os genes podem interagir entre si.
✓ Herança monogênica
✓ Distribuição independente de genes
✓ Análise de heredogramas
✓ Interações gênicas

Introdução
Um dos motivos que levou Mendel a ter tanto sucesso em seus experimentos de hereditariedade foi
a escolha do organismo a ser estudado. Mendel escolheu a ervilha Pisum sativum, que oferecia
diversas vantagens para a investigação genética. Essa espécie de ervilha era de fácil cultivo,
ocupava pouco espaço e crescia com relativa facilidade. Uma geração inteira da planta é completada
no período de um ano. Se ele tivesse escolhido trabalhar, por exemplo, com cavalos que
apresentassem período de geração maior, talvez nunca teria descoberto os princípios da herança.
Além disso, a ervilha produz um número alto de descendentes, o que permitiu que razões
matemáticas fossem identificadas nas características dos descendentes.

Outro motivo foi a escolha das sete características a serem estudas (Figura 1). Mendel evitou
características que apresentassem grande variação e focou nas que existiam em duas formas de
fácil diferenciação. As sete características estudadas foram: cor da ervilha, formato da ervilha, cor
da vagem, formato da vagem, cor da flor, altura da planta e posição do broto florescente.
Figura 1. Fenótipos de cada característica estudada por Mendel

Fonte: Griffiths et al., 2016

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Por fim, não podemos deixar de citar que o sucesso de Mendel se deu também pela
abordagem experimental adotada e pela impecável interpretação dos resultados usando matemática.
Mendel não descreveu simplesmente os resultados dos cruzamentos, ele formulou hipóteses com
base nas suas observações iniciais. Ele registrou cuidadosamente suas observações de várias
gerações e fez cálculos para as proporções dos diferentes fenótipos. Além disso, Mendel foi
extremamente paciente e conduziu seus experimentos por 10 anos antes de tirar conclusões dos
seus resultados.

Nesse capítulo, iremos conhecer os experimentos de Mendel e as proporções de


cruzamentos mono-híbridos e di-híbridos que ele descreveu. Além disso, iremos aprender a analisar
heredogramas familiares e como genes podem interagir entre si.

2.1 Herança monogênica


As linhagens utilizadas por Mendel eram todas linhagens puras, ou seja, toda a prole obtida em
cruzamentos entre os membros daquela linhagem era idêntica. Por exemplo, o cruzamento dentro
da linhagem com sementes amarelas sempre produzia progênie com sementes amarelas. Em seu
primeiro experimento, Mendel cruzou plantas de linhagens com sementes amarelas com plantas de
linhagens com sementes verdes e chamou-as de geração parental (P). A progênie obtida desse
cruzamento era sempre de sementes amarelas, independente de qual genitor (amarelo ou verde)
fosse utilizado como masculino ou feminino. Mendel chamou essa geração de progênie é de primeira
geração filial (F1).

Em seguida, Mendel cultivou as ervilhas amarelas da F1, autofecundou essas plantas e


obteve a segunda geração filial (F2). A F2 foi composta por ervilhas amarelas e ervilhas verdes
numa proporção muito próxima de três quartos (75%) de amarelas e um quarto (25%) de verdes, ou
seja, havia uma proporção de 3:1 de amarelas e verdes. De alguma forma, o fenótipo verde
reapareceu em um quarto das plantas da F2, sugerindo que os determinantes genéticos para o
fenótipo verde estavam presentes na F1 amarela, porém não eram expressos.

Além da autofecundação, Mendel cruzou as plantas de sementes amarelas da F1 com outra


planta de sementes verdes. A progênie apresentou 50% sementes amarelas e 50% verdes, ou seja,
proporção de 1:1, diferentemente dos experimentos de autofecundação. Os experimentos de
Mendel estão esquematizados na Figura 2 e as proporções de 3:1 e 1:1 também foram observadas
em relação às outras seis características que Mendel estudou.
Figura 2. Os resultados de Mendel (esquerda) e sua explicação baseada em seu modelo monogênico
(direita).

Fonte: Griffiths et al., 2016

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Os experimentos realizados levaram Mendel a propor o seguinte modelo:

1. Um fator hereditário (gene) é necessário para a produção das características da


ervilha.
2. Cada planta carrega um par desse tipo de fator.
3. O fator hereditário se apresenta em duas formas, chamadas de alelos. Y representa
o fenótipo amarelo e y o fenótipo verde.
4. Uma planta pode ser Y/Y, y/y, ou Y/y.
5. Na planta Y/y, o alelo Y domina e, dessa forma, o fenótipo é amarelo. Portanto, o alelo
Y é dominante e o alelo y é recessivo.
6. Na meiose, os alelos separam-se igualmente dentro das células que se tornam os
gametas. Um único gameta contém apenas um membro do par de alelos.
7. A fecundação dos gametas ocorre de forma aleatória, independentemente de quais
alelos eles contêm.

Essa separação igual se tornou conhecida como primeira lei de Mendel ou lei da
segregação igual. Uma planta com dois alelos idênticos (Y/Y ou y/y) é denominada homozigota,
podendo ser homozigota dominante (Y/Y) ou homozigota recessiva (y/y). Uma planta com dois
alelos diferentes é denominada heterozigota (Y/y).

O modelo proposto por Mendel explica as proporções encontradas em seus experimentos


(Figura 2). As linhagens puras utilizadas no primeiro cruzamento são homozigotas, sejam Y/Y
(sementes amarelas) ou y/y (sementes verdes). Cada uma dessas linhagens produz apenas gametas
com alelo Y ou apenas com alelo y. Dessa forma, quando as linhagens Y/Y e y/y são cruzadas,
apresentam progênie totalmente composta por heterozigotos (Y/y). Considerando que Y é
dominante, toda a progênie F1 apresentarão sementes amarelas (fenótipo amarelo).

Na autofecundação dos indivíduos da F1 temos um cruzamento Y/y × Y/y, também chamado


de cruzamento mono-híbrido. A segregação igual dos alelos gera gametas do sexo masculino e
feminino, sendo que metade apresentam Y e metade y. Dessa forma, a autofecundação resulta em
três quartos de sementes amarelas e um quarto de verdes, uma proporção de 3:1. As sementes
verdes da F2 são puras, ou seja, são homozigotas recessivas y/y. Entretanto, as sementes amarelas
da F2 apresentam dois genótipos distintos: dois terços delas são heterozigotas Y/y, e um terço é
homozigota dominante Y/Y. Portanto, a proporção fenotípica é de 3:1 e a proporção genotípica é de
1:2:1 na F2.

No cruzamento entre as plantas de sementes amarelas da F1 (Y/y) e plantas de sementes


verdes (y/y), o genitor (Y/y) gera gametas Y e y e o genitor y/y gera somente gametas y. Dessa forma,
o cruzamento resulta em uma proporção fenotípica e genotípica de 1:1 de plantas com sementes
amarelas (Y/y) e plantas com sementes verdes (y/y).

Para aprender um pouco mais sobre a genética mendeliana, acesse: <


http://www.uel.br/pessoal/rogerio/genetica/respostas/mendeliana.html>

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O quadrado de Punnett foi desenvolvido em 1917 pelo geneticista inglês Reginald C.
Punnett com o objetivo de facilitar as análises de cruzamento genéticos. Vamos utilizá-lo para
analisar outro cruzamento feito por Mendel, o de plantes de diferentes alturas (Figura 3A). Sabemos
que a variedade alta (T) era dominante sobre a baixa (t).

A construção do quadrado de Punnett é feita ao desenhar uma grade e colocar os gametas


gerados por um genitor ao longo da linha superior e os gametas gerados pelo outro genitor na vertical
esquerda (Figura 3B). Cada célula (e futura planta/organismo) é representada por um bloco dentro
do quadrado de Punnett e é gerada a partir da junção de um alelo de cada gameta correspondente.

Podemos então determinar o genótipo e o fenótipo dos descendentes produzidos e suas


razões. Na Figura 3B, duas plantas serão altas (T/t) e duas serão baixas (t/t). Dessa forma, a razão
genotípica e fenotípica esperada para é 1:1 de plantas altas (T/t) e plantas baixas (t/t).

Figura 3. O quadrado de Punnett na análise do cruzamento genético entre plantas altas (T/t) e plantas baixas
(t/t).

Fonte: Pierce, 2016

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2.2 Distribuição independente de genes
Além dos cruzamentos mono-híbridos, Mendel também analisou cruzamentos de linhagens de
ervilhas que apresentavam duas características distintas, os cruzamentos di-híbridos. Os primeiros
cruzamentos di-híbridos foram realizados em relação ao formato e à cor da semente e, novamente,
as linhagens utilizadas por Mendel eram todas linhagens puras. Uma linhagem apresentava
sementes rugosas e amarelas (r/r; Y/Y) e a outra linhagem apresentava sementes lisas e verdes
(R/R; y/y). O cruzamento entre essas linhagens (Figura 4) sempre produzia progênie (F1) com
sementes lisas e amarelas (R/r; Y/y). Esse resultado indicou que a dominância de R sobre r e de Y
sobre y não se alteram, ou seja, R permaneceu dominante sobre r, independentemente da cor da
semente, e Y dominante sobre y, independentemente do formato da semente.

Mendel novamente cultivou as ervilhas da F1 e autofecundou essas plantas. As sementes da


F2 apresentaram 4 fenótipos diferentes: lisas e amarelas, lisas e verdes, rugosas e amarelas e
rugosas e verdes na proporção de 9:3:3:1.

Figura 4. Cruzamento di-híbrido e a proporção encontrada de 9:3:3:1.

Fonte: Griffiths et al., 2016

De início, essa proporção parece ser bem mais complexa do que a proporção 3:1; no entanto,
se analisarmos os números reais obtidos por Mendel, podemos encontrar as proporções de 3:1 de
mono-híbridos na F2. Atente-se: foram geradas 423 sementes lisas (315 + 108) e 133 sementes
rugosas (101 + 32). Esses números estão próximos de uma proporção de 3:1. Ainda, foram geradas
416 sementes amarelas (315 + 101) e 140 verdes (108 + 32), números também muito próximos aos
de uma proporção de 3:1. A partir dessa análise, Mendel percebeu que seus resultados se tratavam
de duas proporções de 3:1 diferentes escondidas na proporção de 9:3:3:1.

20
A combinação das duas proporções de 3:1 levou Mendel a propor o que atualmente é
conhecido como a lei de segregação independente ou segunda lei de Mendel: durante a formação
dos gametas, alelos se distribuem independentemente de outros alelos. Isso significa que, por
exemplo, os alelos para a ervilha rugosa/lisa segregam independentemente dos alelos para a ervilha
amarela/verde.

A proporção 9:3:3:1 foi encontrada também em cruzamentos di-híbridos realizados com diversas outras
combinações de características.

Analisando o cruzamento di-híbrido pelo quadrado de Punnett (Figura 5), podemos observar
uma diversidade de genótipos. No entanto, há apenas quatro fenótipos e estes estão na proporção
de 9:3:3:1. Portanto, a lei de Mendel explica, além dos fenótipos encontrados por ele na F2, os
genótipos da progênie.

Figura 5. Cruzamento di-híbrido e o quadrado de Punnett.

Fonte: Griffiths et al., 2016

21
Atualmente, sabemos que essa lei se aplica somente aos genes localizados em cromossomos
diferentes. Genes de um mesmo cromossomo não se distribuem independentemente, já que são
mantidos juntos pelo próprio cromossomo.

2.3 Análise de heredogramas


A análise das características humanas não é tão simples como em outros organismos, como as
ervilhas de Mendel. Primeiro, cruzamentos experimentais controlados não são possíveis. Outro
problema é o longo tempo de geração, a maioria das pessoas não se reproduzem antes dos 18 anos.
Isso significa que, mesmo que os cruzamentos controlados pudessem ser realizados, os geneticistas
teriam que esperar em média 40 anos apenas para estudar os descendentes F2. Além disso, famílias
humanas são pequenas e as proporções genéticas observadas por Mendel não seriam facilmente
encontradas. Por exemplo, em uma família com apenas duas crianças, seria impossível encontrar
uma proporção mono-híbrida 3: 1. Mesmo uma família com 10 crianças, seria impossível encontrar
a proporção di-híbrida 9: 3: 3: 1.

Mesmo com limitações, os estudos genéticos humanos são de grande importância. Dessa
forma, uma técnica importante utilizada é a análise de heredogramas. Um heredograma consiste na
esquematização da história familiar, uma arvore genealógica com informações da herança de uma
ou mais características com a utilização dos símbolos-padrões (Figura 6).
Figura 6. Símbolos utilizados em heredogramas

Fonte: Griffiths et al., 2016

22
Geralmente os heredogramas são construídos por motivos clínicos e, assim, se referem a
doenças raras. São estudados então dois fenótipos: a presença e a ausência do distúrbio clínico.
Cinco padrões de herança monogênica podem ser observados nos heredogramas: autossômicos
recessivos, autossômicos dominantes, recessivos ligados ao X, dominantes ligados ao X e ligados
ao Y.

No distúrbio autossômico recessivo, o fenótipo afetado é herdado por um alelo recessivo.


Logo, o fenótipo não afetado corresponde ao alelo dominante.

Esse tipo de distúrbio segue alguns padrões em um heredograma:

1. Surge na mesma frequência em homens e mulheres


2. Pode aparecer na progênie de indivíduos não afetados
3. Aparece apenas em homozigotos recessivos
4. Tende a pular gerações

Esse heredograma tende a se apresentar de forma simples, com poucos símbolos pretos.
Isso acontece porque se trata de uma condição rara e a maioria da população não possui o alelo
anormal. Além disso, grande parte da população que possui o alelo anormal é heterozigota e não
apresenta o fenótipo. O nascimento de uma criança afetada depende da probabilidade rara da união
de genitores heterozigotos. No entanto, a endogamia, ou também chamado de consanguinidade,
eleva a probabilidade da união de dois heterozigotos. A Figura 7 mostra um exemplo da união entre
primos (endogamia). Os indivíduos III-5 e III-6 são primos em primeiro grau e ambos são
heterozigotos (A/a). a união dos dois gera indivíduos homozigotos (a/a) afetados. Perceba que
ancestrais heterozigotos que se unem a indivíduos homozigotos dominantes (não raros) geram
muitos descendentes heterozigotos e, portanto, não afetados. A relação consanguínea tem maior
risco do surgimento de distúrbios recessivos do que relações entre não parentes. Como exemplos
de distúrbios autossômicos recessivos em humanos temos fenilcetonúria, a fibrose cística, anemia
falciforme, albinismo etc.

Figura 7. Herança de um distúrbio autossômico recessivo

Fonte: Griffiths et al., 2016

23
No distúrbio autossômico dominante, o fenótipo afetado é herdado por um alelo
dominante. Logo, o fenótipo não afetado corresponde ao alelo recessivo.

Pode parecer estranho que um distúrbio dominante possa ser raro, mas tenha em mente que dominância e
recessividade são apenas características de como diferentes alelos atuam em heterozigose e não têm relação
com o quão são comuns na população.

Esse tipo de distúrbio segue alguns padrões em um heredograma:

1. Surge na mesma frequência em homens e mulheres


2. Sempre herdado de indivíduos afetados
3. Aparece em homozigotos dominantes e em heterozigotos
4. Tende a aparecer em todas as gerações

A figura 8 mostra um exemplo de um heredograma de um distúrbio autossômico dominante.


Semelhante aos distúrbios autossômicos recessivos, é muito mais comum indivíduos conterem uma
única cópia do alelo anormal raro (A/a) do que conterem duas cópias dele (A/A). Dessa forma,
podemos observar que a maioria da população afetada é heterozigota. Os cruzamentos geralmente
são A/a × a/a e a progênie deve apresentar uma proporção de 1:1 de pessoas não afetadas (a/a) e
afetadas (A/a). Como exemplos de distúrbios autossômicos dominantes em humanos temos
pseudoacondroplasia, doença de Huntington, polidactilia, piebaldismo, hipercolesterolemia familiar
etc.
Figura 8. Herança de um distúrbio autossômico recessivo

Fonte: Griffiths et al., 2016

No distúrbio recessivo ligado ao X o fenótipo afetado é herdado por um alelo recessivo


localizado no cromossomo X. Logo, o fenótipo não afetado corresponde ao alelo dominante.

Esse tipo de distúrbio segue alguns padrões em um heredograma:

24
1. Tende a ser mais frequente em homens
2. A progênie de homens afetados não apresenta o fenótipo, mas todas as suas filhas
irão conter o alelo recessivo. Essas filhas terão metade dos filhos afetados
3. Nenhum dos filhos de um indivíduo do sexo masculino afetado serão afetados, nem
portadores do alelo recessivo.
4. Metade dos filhos de mulheres portadoras do alelo recessivo serão afetados

Os seres humanos possuem dois cromossomos sexuais, o X e o Y. Homens possuem um X e um Y e mulheres


possuem dois X.

A figura 9 mostra um exemplo de um heredograma de um distúrbio recessivos ligados ao X.


Observe que mulheres só serão afetadas se forem homozigotas recessivas, ou seja, precisam herdar
o alelo recessivo de seu pai e sua mãe. Por outro lado, os homens serão afetados mesmo possuindo
apenas um alelo recessivo vindo da mãe. Isso acontece porque, em mulheres (XX) heterozigotas, o
fenótipo afetado é impedido pelo alelo dominante; já em homens (XY), o único alelo ligado ao
cromossomo X que possuem é o recessivo. Homens somente passam o cromossomo Y para seus
filhos; dessa forma, nunca terão filhos afetados. Como exemplos de distúrbios recessivos ligados ao
X em humanos temos daltonismo, hemofilia, distrofia muscular de Duchenne etc.

Figura 9. Herança de um distúrbio recessivo ligado ao X

Fonte: Griffiths et al., 2016

No distúrbio dominante ligado ao X, o fenótipo afetado é herdado por um alelo dominante


localizado no cromossomo X. Logo, o fenótipo não afetado corresponde ao alelo recessivo.

Esse tipo de distúrbio segue alguns padrões em um heredograma:

1. Surge na mesma frequência em homens e mulheres


2. Homens afetados passam para todas as suas filhas, mas nunca para seus filhos

25
3. A união de mulheres heterozigotas afetadas e homens não afetados geram metade
de filhos e de filhas.

A figura 10 mostra um exemplo de um heredograma de um distúrbio dominante ligado ao X.


Observe que cada indivíduo afetado tem necessariamente um genitor afetado. Como exemplos de
distúrbios dominantes ligados ao X em humanos temos hipofosfatemia, alguns tipos de hipertricose
etc.

Figura 10. Herança de um distúrbio dominante ligado ao X

Fonte: Griffiths et al., 2016

No distúrbio ligado ao Y, o fenótipo afetado é herdado por um alelo localizado no


cromossomo Y.

Esse tipo de distúrbio segue alguns padrões em um heredograma:

1. Surge apenas em homens


2. Homens sempre passam para seus filhos
3. Fenótipo aparece em todas as gerações

Esse tipo de distúrbio é facilmente identificado, pois apenas homens são afetados. Isso ocorre
porque somente homens apresentam o cromossomo Y. A masculinidade é uma das poucas
características que parece ligado ao Y nos seres humanos. O gene responsável é o SRY.

2.4 Interações gênicas


As interações gênicas são classificadas em duas categorias: interações dos alelos de um mesmo
locus e interações dos alelos de dois ou mais loci. A primeira está relacionada às características de
dominância, e a segunda, à quantidade e aos tipos de genes que determinam uma função biológica.

A dominância total, ou também chamada de completa, é o tipo mais simples e o que lidamos
até agora nos tópicos anteriores da herança mendeliana. Um alelo com dominância total é expresso
no fenótipo mesmo quando apenas um alelo estiver presente (em heterozigotos), enquanto o alelo
alternativo é recessivo total. Neste tipo de dominância, não é possível distinguir o homozigoto
dominante (A/A) do heterozigoto (A/a) a nível fenotípico. Na figura 11 temos um exemplo deste tipo
de dominância.

26
Figura 11. Dominância completa

Na dominância incompleta não há recessividade, cada alelo irá produzir uma dose
estabelecida de seu produto proteico. O número de um alelo, e consequentemente, a dose do
produto proteico irão determinar o fenótipo. Na figura 12, podemos observar o cruzamento entre
flores Mirabilis jalapa, uma branca e outra vermelha. O heterozigoto apresenta fenótipo intermediário,
apresenta a cor rosa.
Figura 12. Dominância incompleta

Na codominância temos a expressão de ambos os alelos de um heterozigoto. O exemplo


mais comum e claro são os grupos sanguíneos humanos, também chamado de sistema ABO.

27
O sistema ABO é um claro exemplo de codominância. Cada alelo determina a presença de um tipo de uma
molécula de açúcar diferente sobre a superfície dos eritrócitos. Investigue quais moléculas são essas e quais
suas respectivas funções.

A determinação dos grupos sanguíneos é feita por três alelos distintos de um gene: i, IA e IB.
Cada indivíduo possui dois desses alelos duas cópias de um deles. Combinações entre esses alelos
resultam em seis genótipos diferentes: três homozigotos e três tipos diferentes de heterozigotos
(Figura 13).
Figura 13. Codominância dos grupos sanguíneos

Um alelo letal é responsável pela morte de um organismo ainda no estágio inicial do


desenvolvimento, geralmente antes do parto. Um exemplo é o alelo que determina a cor amarela do
pelo em camundongos (Figura 14). O cruzamento entre dois camundongos amarelos heterozigotos
gera uma progênie de 1/4 Y/Y, 1/2 Y/y e 1/4 y/y, entretanto os animais homozigotos YY morrem logo
na fase inicial do desenvolvimento. Dessa forma, temo uma proporção fenotípica de 2:1 de pelo
amarelo (Y/y) e pelo não amarelo (y/y). A identificação de uma proporção de 2:1 de um cruzamento
entre indivíduos com o mesmo fenótipo pode indicar a presença de um alelo letal. A maioria dos
alelos letais são recessivos.
Figura 14. Cruzamento entre dois camundongos amarelos e a presença de um alelo letal

Fonte: Pierce, 2016

28
Epistasia é um efeito que um gene tem de mascarar (se sobrepor) o fenótipo de outro gene
em um locus diferente. Este efeito é semelhante à relação de dominância, no entanto a dominância
é uma relação que ocorre entre alelos de genes no mesmo locus (genes alélicos). Na epistasia, o
gene epistático mascara gene hipostático localizado em um locus diferente. Genes epistáticos
podem ser recessivos ou dominantes.

Nos cruzamentos genéticos estudados até o momento, observamos proporções mendelianas


claras, caracterizando fenótipos 100% penetrantes. No entanto, diversos fenótipos apresentam
penetrância incompleta, ou seja, alguns indivíduos possuem genótipo para determinada
característica, mas não apresentam o fenótipo associado ao genótipo. Penetrância é definida como
a quantidade de indivíduos em porcentagem que possuem determinado alelo para um fenótipo e que
exibem o fenótipo correspondente.

Diversos fatores explicam a penetrância incompleta:

1. Influência do ambiente.
2. Interação com outros genes.
3. A sutileza do fenótipo mutante (feitos sutis gerados pela ausência de uma função
gênica podem ser de difícil identificação

Além da penetrância, a expressividade também é uma medida de variação fenotípica. A


expressividade representa a intensidade com que determinado alelo é expresso fenotipicamente. A
expressividade depende de fatores ambientais. Na figura 15 temos um exemplo de expressividade
variável em cães.

Figura 15. Expressividade variável

Fonte: Griffiths et al., 2016

29
Considerações finais
Nas células somáticas, o genoma é transmitido por meio da mitose durante a divisão celular, onde
cada cromossomo se replica e cada cópia (um par de cromossomos) é transferida para as células-
filhas. Por outro lado, nas células germinativas o genoma é transmitido por meio da meiose, em que
cada homólogo se replica e apenas uma cópia (um cromossomo) é transferida para os gametas.
Mendel descreveu que no processo de meiose, os alelos separam-se igualmente dentro das células
que se tornam os gametas, ou seja, um único gameta contém apenas um membro do par de alelos.
Além disso, Mendel foi capaz de descrever que, durante a formação dos gametas, alelos se
distribuem independentemente de outros alelos, ou seja, a separação ocorre sem a influência de
outros alelos. O reconhecimento das leis de Mendel em 1900 foi responsável por despertar grande
interesse na área, resultando em um imenso progresso. Desde então houve um grande fluxo de
conhecimento genético.

Neste capítulo aprendemos como forram realizados os experimentos genéticos com ervilhas de Mendel e a
conclusões às quais o monge chegou. A partir dos cruzamentos mono-híbridos, foram observadas as
proporções 3:1 na F2 autofecundada e 1:1 no cruzamento da F2 com ervilhas verdes puras. Essas proporções
demonstraram a segregação igual, também conhecida como primeira lei de Mendel. Os cruzamentos di-
híbridos mostram a proporção 9:3:3:1 e, após análises, Mendel percebeu que havia uma combinação de duas
proporções 3:1. Essa percepção levou Mendel a identificar a segregação independente dos genes, também
conhecida como a segunda lei de Mendel.
A análise das características humanas não é tão simples como as análises feitas em ervilhas ou em outros
organismos devido ao longo tempo de geração e ao baixo número da progênie. Dessa forma, cruzamentos
experimentos não são possíveis. Um método muito importante utilizado é a análise de heredogramas,
esquematização da história familiar, uma arvore genealógica com informações da herança de uma ou mais
características com a utilização dos símbolos-padrões. Cinco padrões de herança monogênica podem ser
observados nos heredogramas: autossômicos recessivos, autossômicos dominantes, recessivos ligados ao X,
dominantes ligados ao X e ligados ao Y.
Mendel foi capaz de descrever as características da herança tão bem porque escolheu (mesmo sem saber na
época) genes com dominância completa. Se ele tivesse escolhido características determinadas por alelos com
dominância incompleta ou codominância, talvez não teria tido tanto sucesso. Além disso, Mendel trabalhou
com características como a penetrância e a expressividade absoluta.

(ENADE, 2019) A adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X (X-ALD) é uma doença hereditária recessiva
cujas primeiras manifestações são notadas na infância. A doença está relacionada à mutação no gene ABCD1
(mapeado em Xq28), que gera problemas em peroxissomos. A figura a seguir representa o heredograma
referente a X-ALD de uma família. O indivíduo C7 faleceu aos 23 anos de idade, vítima dessa doença. Não há
confirmação de outros óbitos por X-ALD nessa família, nem de membros vivos manifestando sinais da doença.
Indivíduos da geração D são crianças menores de 5 anos de idade.

30
O indivíduo C8 e sua noiva, de 29 e 27 anos de idade, respectivamente, procuraram o Serviço de
Aconselhamento Genético (SAG). Sabendo-se que a mulher não tem histórico familiar de X-ALD, assinale a
opção que indica o aconselhamento genético correto para esse casal.

A) As filhas de sexo feminino do casal serão portadoras da mutação em ABCD1 identificada na família
paterna.
B) O casal deve optar por reprodução assistida ou adoção para evitar o risco de terem filhos com X-ALD.
C) O planejamento familiar, nesse caso, requer pesquisa molecular da mutação em ABCD1 no casal.
D) Os filhos de sexo masculino do casal têm 25% de chance de herdarem a mutação em ABCD1.
E) Os filhos do casal não herdarão a mutação em ABCD1 identificada na família paterna.

Resposta correta: E

Com relação aos padrões de herança monogênica que podem ser observados nos heredogramas, a distrofia
muscular de Duchenne é um exemplo de:

a) Distúrbios autossômicos recessivos


b) Distúrbios autossômicos dominantes
c) Nos distúrbios recessivos ligados ao X
d) Nos distúrbios dominantes ligados ao X
e) Nos distúrbios ligados ao Y

Resposta correta: A

31
Cite diferenças entre dominância total, dominância incompleta e codominância.

Resposta: Na dominância total um alelo com dominância total é expresso no fenótipo mesmo quando apenas
um alelo estiver presente (em heterozigotos), enquanto o alelo alternativo é recessivo total. Neste tipo de
dominância, não é possível distinguir o homozigoto dominante (A/A) do heterozigoto (A/a) a nível fenotípico.
Na dominância incompleta não há recessividade, cada alelo irá produzir uma dose estabelecida de seu produto
proteico. O número de um alelo, e consequentemente a dose do produto proteico, irão determinar o fenótipo.
Na codominância temos a expressão de ambos os alelos de um heterozigoto. O exemplo mais comum e claro
são os grupos sanguíneos humanos, também chamado de sistema ABO.

Mendel, Gregor. 1866. Versuche über Plflanzenhybriden. Verhandlungen des naturforschenden Vereines
in Brünn, Bd. IV für das Jahr 1865, Abhandlungen, 3–47. Esse é o artigo original de Mendel traduzido para o
inglês.

32
UNIDADE II
CAPÍTULO 3 – ESTRUTURA E REPLICAÇÃO DO DNA

No término deste capítulo, você deverá saber:


✓ Estrutura do DNA
✓ Replicação do DNA
✓ Replicação das extremidades dos cromossomos

Introdução
Desde que o monge austríaco Gregor Mendel descreveu os princípios da herança genética, iniciou-
se uma corrida de quase um século até a compreensão da composição e da estrutura do material
genético.

O DNA foi identificado como o responsável pela transmissão da herança em 1944 por Oswald
Avery e seus colegas Colin MacLeod e Maclyn McCarty em experimentos com cepas da bactéria
Streptococcus pneumoniae em camundongos, iniciados por Frederick Griffith em 1928.

A partir de então, a busca pela descoberta da estrutura do DNA era concorrida. A inglesa
Rosalind Franklin, trabalhando no laboratório de Maurice Wilkins, desenvolveu estudos com raios X
que foram essenciais na identificação da dupla hélice. Entretanto, seu trabalho caiu nas mãos dos
biólogos Watson e Crick, que investigavam a estrutura do DNA, não realizando experimentos, mas
usando todas as informações disponíveis sobre a química do DNA e construindo modelos
moleculares.

Para saber mais sobre a vida e os experimentos de Rosalind Franklin, acesse:


<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2020/04/quem-foi-rosalind-franklin-quimica-que-descobriu-
estrutura-do-dna.html >

No dia 25 de abril de 1953 foi publicado na revista cientifica “Nature” o artigo “Estrutura do
ácido desoxirribonucleico” de autoria do britânico Francis Crick e do americano James Watson, que
receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1962 junto com o britânico Maurice Wilkins.

Rosalind Franklin foi responsável pelo trabalho com difração de raios X que levou Francis Crick e James
Watson a descreverem a estrutura em dupla hélice do DNA. Entretanto, a cientista não levou nenhum crédito
pelo seu estudo; somente seu colega de trabalho, Maurice Wilkins.

33
A descrição da dupla-hélice do DNA revolucionou a compreensão da vida, revelando como a
informação genética é armazenada e indicando o mecanismo com o qual o DNA se reproduz em
duas cópias idênticas, a base da herança genética.

Neste capítulo estudaremos a estrutura do DNA e sua associação com proteínas que resulta
na conformação conhecida dos cromossomos. Além disso, iremos aprender como o DNA é replicado
dentro das células durante a divisão celular.

3.1 Estrutura do DNA


O DNA apresenta uma estrutura simples com três níveis de complexidade crescente: estrutura
primária, secundária e terciária.

A estrutura primária do DNA é composta por uma cadeia de nucleotídeos, também


conhecidos como desoxirribonucleotídios ou 5′-monofosfatos de desoxirribonucleosídio, unidos
por meio de ligações fosfodiéster. Os nucleotídeos (Figura 1) são estruturas compostas por: um
açúcar, um fosfato, e uma base nitrogenada.
Figura 1. Bases nitrogenadas que compõem a molécula de DNA.

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os açúcares possuem cinco átomos de carbono (pentose) numerados de 1′ a 5′. Os açúcares


do DNA, também chamados de desoxirribose, possuem um átomo de hidrogênio (—H) ligado ao
átomo do carbono 2’, por isso o nome ácido desoxirribonucleico (DNA).

O grupo fosfato consiste em um átomo de fósforo ligado a quatro átomos de oxigênio. Esse
grupo funcional se encontra ligado ao átomo 5′ de carbono do açúcar e apresenta carga elétrica
negativa, o que torna o DNA ácido.

As bases nitrogenadas podem ser classificadas em purina ou pirimidina. As bases


purínicas possuem um anel de seis átomos ligado a um anel de cinco átomos, enquanto as bases

34
pirimidínicas possuem apenas um anel de seis átomos. O DNA possui duas purinas, adenina (A) e
guanina (G), e duas pirimidinas, citosina (C) e timina (T). Cada base nitrogenada se encontra ligada
covalentemente com o átomo de carbono 1′ do açúcar.

Os nucleotídeos são ligados uns aos outros por ligações covalentes (fosfodiéster); o grupo 5′-
fosfato de um nucleotídeo liga a 3′-hidroxila do próximo nucleotídeo.

A estrutura secundária do DNA está relacionada à sua configuração tridimensional: sua


estrutura helicoidal (Figura 2). A dupla hélice do DNA é formada por duas cadeias de polinucleotídeos
enroladas uma sobre a outra de forma espiral apresentando dois sulcos de tamanhos distintos: o
sulco maior e o sulco menor.
Figura 2. Estrutura secundária do DNA

Fonte: Griffiths et al., 2016

As ligações açúcar-fosfato entre os nucleotídeos permanecem no lado externo da hélice; as


bases nitrogenadas, no interior da molécula. As duas cadeias de polinucleotídeos são antiparalelas
e se encontram em direções opostas, ou seja, a extremidade 5′ de uma cadeia é oposta à
extremidade 3′ da outra. As bases nitrogenadas no interior das moléculas são unidas por pontes de
hidrogênio. Esse tipo de ligação química é relativamente fraco quando comparada com as ligações
covalentes fosfodiéster e é importante porque diversas funções do DNA demandam a separação de
suas duas cadeias de nucleotídeos. O pareamento entre as bases nitrogenadas ocorre de forma
específica, C sempre pareia com G e A sempre pareia com T. Assim, as duas cadeias de
polinucleotídeos são consideradas fitas complementares do DNA. Entre C e G se formam três
pontes de hidrogênio; entre A e T, apenas duas. Dessa forma, o pareamento C-G é mais forte que o
A-T.

A estrutura terciária do DNA refere-se ao empacotamento do DNA, possibilitando seu


acondicionamento no espaço limitado de uma célula. Cada cromossomo de um indivíduo contém

35
uma molécula de DNA extremamente longa, fazendo-se necessária uma compactação específica
para que se encaixe no núcleo na célula.

O DNA eucariótico se associa a proteínas e chamamos essa combinação de cromatina.


Existem dois tipos de cromatina: a eucromatina e a heterocromatina. A eucromatina constitui-se na
maior parte do material cromossômico e passa pelo processo normal de condensação e
descondensação durante o ciclo celular. É na eucromatina onde grande parte da transcrição ocorre.
A heterocromatina permanece altamente condensada durante todo o ciclo celular mesmo durante
a interfase.

As histonas são as proteínas mais encontradas na cromatina, tendo cinco tipos principais:
H1, H2A, H2B, H3 e H4. Essas proteínas possuem elevada quantidade de arginina e lisina,
aminoácidos com carga positiva, o que torna as histonas proteínas de uma carga elétrica positiva.
As cargas positivas das histonas interagem com as cargas elétricas negativas do DNA, mantendo
essas duas moléculas em contato.

Investigue qual o papel das proteínas histonas na expressão de genes.

A cromatina possui uma estrutura complexa e com vários níveis de organização (Figura 3). O
nível mais simples consiste em dupla-hélice do DNA já discutido anteriormente. O nível acima refere-
se à associação do DNA as proteínas histonas formando os nucleossomos. Os nucleossomos são
compostos mais precisamente por DNA enrolado 1,65 vez em torno de um octâmero histonas (duas
cópias de H2A, H2B, H3 e H4), Cada uma dessas proteínas histona contêm uma “cauda” flexível (11
a 37 aminoácidos) que se encontra no externamente ao nucleossomo. As caldas das histonas de um
nucleossomo pode interagir com nucleossomos vizinhos, facilitando a compactação. A histona H1
não faz parte do nucleossomo, mas é capaz de se ligar ao DNA do nucleossomo, mantendo-o em
seu lugar.

Os nucleossomos dobram sobre si mesmos formando uma estrutura densa e compondo uma
fibra com diâmetro de 30 nm. O próximo nível de estruturação consiste em uma série de alças
compostas das fibras de 30 nm. Cada alça mede cerca de 300 nm de comprimento. Essas fibras são
dobradas e comprimidas de modo que formem uma fibra de 250 nm de largura e 700 nm de
comprimente. Por fim, temos o nível mais complexo de organização do DNA a partir do enrolamento
rígido das fibras de 250 nm que forma a cromátide do cromossomo.

36
Figura 3. Estrutura tridimensional do DNA

Fonte: Pierce, 2016

3.2 Replicação do DNA


Na replicação do DNA, cada fita original de nucleotídeos permanece conservada (sem modificação)
e não se liga mais com a mesma fita original, mas se liga a nova fita sintetizada. Em outras palavras,
a dupla-hélice de cada nova molécula de DNA contém uma fita da molécula de DNA original e uma
fita filamento recém-sintetizada. Por isso chamamos de replicação semiconservativa (Figura 4).
Esse processo é possível por dois motivos: (1) a complementariedade das fitas de nucleotídeos
permite que cada fita sirva como molde para a síntese de uma nova fita e (2) a especificidade do
pareamento de bases (A-T, G-C) exige uma sequência de bases especifica para cada molde, logo
as duas moléculas de DNA sintetizadas serão idênticas à molécula de DNA original.

37
Figura 4. Replicação semiconservativa do DNA.

Fonte: Griffiths et al., 2016

A fita dupla de DNA se separa na origem da replicação, gerando fitas únicas de nucleotídeos
que irão atuar como moldes para a síntese do novo DNA. O ponto de separação das duas fitas únicas
de nucleotídeos do DNA é chamado de forquilha de replicação (Figura 5). Cromossomos
eucarióticos contêm uma quantidade expressivamente alta de DNA para ser replicado rapidamente.
Além disso, a taxa de replicação eucariótica é de 500 a 5.000 nucleotídeos por minuto em cada
forquilha de replicação. Se houvesse apenas uma origem de replicação em todo o DNA, a replicação
levaria dias até ser completada. Dessa forma, a replicação se inicia em diversos pontos do DNA e
leva apenas alguma minutos ou horas.

38
Figura 5. Forquilha de replicação do DNA

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os trifosfatos de desoxirribonucleosídio (dNTPs) são compostos por um açúcar


desoxirribose e uma base nitrogenada ligados a três grupos fosfato e atuam como a matéria-prima
cada a síntese de novas fitas de DNA. Durante a replicação, o grupo 3′-OH do último nucleotídeo da
fita crescente interage com o grupo 5′-fosfato do dNTP, dois grupos fosfato do dNTP são rompidos,
e uma ligação fosfodiéster é criada entre os dois nucleotídeos.

As enzimas responsáveis pela adição de nucleotídeos na extremidade 3′ da nova fita de DNA


são chamadas de DNA polimerases. Essas enzimas são incapazes de adicionar nucleotídeos na
extremidade 5′ da fita crescente, portanto as novas fitas de DNA sempre são sintetizadas no mesmo
sentido 5′ para 3′ (5′ → 3′).

Visto que as fitas da dupla hélice do DNA são antiparalelas e a síntese da nova fita é sempre
5′ → 3′, a síntese de cada molde de DNA segue sentidos opostos (Figura 5). À medida que o DNA
se desenrola, um molde é exposto no sentido 5′ → 3′ e o outro é exposto no sentido 3′ → 5′. A fita
molde é exposta no sentido 3′ → 5′ permite a síntese contínua no sentido 5′ → 3 da nova fita, também
chamada de filamento contínuo. A fita molde exposta no sentido 5′ → 3′ não permite que a síntese
seja continua 5′ → 3′, pois o sentido da síntese é contrário a forquilha e não pode prosseguir por
muito tempo. A síntese ocorre em segmentos curtos, ou seja, a polimerase sintetiza um pequeno
segmento e se movimenta de volta para a extremidade 5′ do segmento, onde a forquilha em
crescimento expôs o novo molde e inicia o processo novamente. Essa nova fita é chamada de
filamento descontinuo. Os segmentos curtos (100 a 200 nucleotídeos) de DNA recém-sintetizado
pela replicação descontínua são chamados fragmentos de Okazaki.

A DNA polimerase é capaz de adicionar nucleotídeos e estender uma cadeia, mas não iniciar
uma cadeia. Essa enzima exige que haja um primer (uma sequência curta de nucleotídeos) ligado à
fita molde para que a síntese seja continuada (Figura 6). Os primers são produzidos por um conjunto
de proteínas chamado de primossomo, sendo a enzima primase o componente central. A primase
é um tipo de RNA polimerase e sintetiza um segmento curto (8 a 12 nucleotídeos) de RNA
complementar a uma região específica do DNA. No filamento contínuo, apenas um primer é
necessário, pois, no filamento descontínuo cada fragmento de Okazaki necessita de seu próprio
primer. Ao final da síntese da nova fita de DNA, a DNA polimerase I, remove os primers de RNA e

39
os substitui por DNA. Em seguida, a DNA ligase, une a extremidade 3′ do DNA substituto à
extremidade 5′ do fragmento de Okazaki, resultando em uma nova fita de DNA continua.
Figura 6. Síntese do filamento descontínuo.

Fonte: Griffiths et al., 2016

Chamamos de replissomo o complexo de proteínas que coordenam as atividades na


forquilha de replicação (Figura 7). O filamento descontínuo forma uma alça de modo que toda a
maquinaria do replissomo consiga conduzir a síntese de ambas as fitas ao passo que se movimenta
no sentido da forquilha de replicação. A proteína grampo β envolve o DNA e mantém a DNA
polimerase ligada à molécula de DNA. Perceba que a grampo β não interage com a primase,
permitindo que esta sintetize um segmento curto de nucleotídeos e se dissocie da fita molde. As
enzimas helicases são responsáveis pelo rompimento das ligações de hidrogênio entre os dois
filamentos da dupla-hélice, ou seja, essa enzima é capaz de separar a dupla-hélice do DNA. A fita
livre que servirá de molde é estabilizada pelas proteínas de ligação a filamento simples (SSB -
single-strand-binding), impedindo a reestruturação da dupla-hélice. Conforme a fita dupla do DNA é
separada, pode haver uma super-helicoidização da dupla-hélice à frente. Essa super-helicoidização
é relaxada por enzimas topoisomerases por meio da quebra de um único ou ambos filamentos de
DNA, permitindo que o DNA gire e se torne uma molécula relaxada. Por fim, as topoisomerases ainda
reúnem os filamentos da molécula de DNA.
Figura 7. Replissomo na forquilha de replicação

Fonte: Griffiths et al., 2016

40
Em eucariotos, a replicação do DNA ocorre no núcleo da célula. Como procariotos não apresentam membrana
celular, ou seja, o material genético é encontrado no citoplasma, a replicação também ocorre no citoplasma da
célula.

3.3 Replicação das extremidades dos cromossomos


A replicação de moléculas lineares de DNA copia a maior parte da fita; no entanto, existe um
problema relacionado à replicação das duas extremidades dos cromossomos, também chamadas de
telômeros (Figura 8). A síntese do filamento contínuo prossegue até a ponta do molde sem
problema. Entretanto, como já discutido, a síntese do filamento descontínuo exige a presença de
diversos primers. Dessa forma, quando o último primer é removido, uma ponta unifilamentar
permanece em uma das moléculas-filhas de DNA. A cada replicação, o filamento descontinuo seria
cada vez mais encurtado, até que finalmente seriam perdidas informações codificantes essenciais
para o funcionamento da célula e do organismo.

Figura 8. Problema na replicação nas extremidades dos cromossomos

Fonte: Griffiths et al., 2016

41
Para evitar a perda de informações, as células contêm um sistema especializado capaz de
adicionar múltiplas cópias de uma sequência não codificadora, ou seja, contêm informações nas
extremidades do cromossomo. Portanto, a cada replicação, apenas essas sequências repetidas são
perdidas e, então adicionadas novamente às extremidades do cromossomo. Cromossomos humanos
contêm aproximadamente 10 a 15 kb de repetições em tandem da sequência TTAGGG em suas
extremidades.

A molécula responsável pela adição dessas sequencias às extremidades 3′ do DNA é a


enzima telomerase. Essa enzima carrega consigo uma pequena molécula de RNA de sequência 3′-
AAUCCC-5′, que atua como um molde para a síntese da sequência 5′-TTAGGG-3′, de repetição
telomérica.

O mecanismo de adição dessa sequência é simples (Figura 9) e se inicia quando a telomerase


se liga ao prolongamento 3′ do DNA. A extremidade é estendida e alguns nucleotídeos são
adicionados ao prolongamento 3′. A telomerase então se movimenta ao longo do DNA sentido à
extremidade 3’, permitindo que essa possa ser adicionalmente estendida. Essa extensão é repetida
várias vezes. Em seguida, as enzimas primase e DNA polimerase utilizam o prolongamento 3′ como
molde para estender a extremidade do outro filamento de DNA (o filamento contínuo).
Figura 9. Alongamento no telômero

Fonte: Griffiths et al., 2016

42
A maior parte das células germinativas contêm grandes quantidades da enzima telomerase,
ao contrário das células somáticas, que contêm muito pouca ou nenhuma telomerase. Por esse
motivo, os cromossomos das células somáticas se tornam mais curtos a cada divisão celular, até
que a célula interrompe o processo de divisão, para que não se perca nenhuma informação genética
e entre em uma fase de senescência.

Além de prevenir o encurtamento do material genético após cada replicação, os telômeros preservam a
integridade cromossômica associando-se com proteínas e isolando o prolongamento unifilamentar 3′.

Considerações finais
Desde a descrição dos princípios da herança genética por Gregor Mendel, diversos cientistas
passaram a investigar a composição e a estrutura do material genético. Trabalhos experimentais
realizados por Oswald Avery e seus colegas Colin MacLeod e Maclyn McCarty no ano de 1944
demonstraram que o DNA, e não proteínas, lipídios ou carboidratos, são de fato o material genético.

Utilizando dados obtidos por outros pesquisadores, incluindo as imagens de difração de raios
X de Rosalind Franklin, James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura em dupla hélice do
DNA.

A identificação da estrutura do DNA foi capaz de revelar como a informação genética é


armazenada em um espaço tão limitado como o de uma célula (o núcleo mais especificamente) e
auxiliar no entendimento do mecanismo com o qual o DNA se reproduz em duas cópias idênticas
durante a divisão celular.

Neste capítulo aprendemos sobre os três níveis de complexidade da estrutura do DNA. A estrutura primária do
DNA é composta por uma cadeia de nucleotídeos, também conhecidos como desoxirribonucleotídios, unidos
por meio de ligações fosfodiéster. Os nucleotídeos são estruturas compostas por: um açúcar, um fosfato e uma
base nitrogenada. A estrutura secundária do DNA está relacionada à sua configuração tridimensional, a
estrutura helicoidal. A dupla-hélice do DNA é formada por duas cadeias de polinucleotídeos enroladas uma
sobre a outra de forma espiral, apresentando dois sulcos de tamanhos distintos: o sulco maior e o sulco menor.
A ligação das duas cadeias é feita pelo pareamento da adenina (A) com a timina (T) e da guanina (G) com a
citosina (C). O primeiro par é unido por duas ligações de hidrogênio; o segundo, por três. A estrutura terciária
do DNA refere-se ao empacotamento do DNA, que possibilita seu acondicionamento no espaço limitado de
uma célula.
Além disso, estudamos como é realizada a replicação semiconservativa do DNA, ou seja, a síntese de novas
cópias da molécula. A dupla hélice de DNA é separada na forquilha de replicação e os dois filamentos atuam
como moldes para a síntese da nova cadeia de nucleotídeos. A adição dos nucleotídeos à cadeia crescente é
realizada pela enzima DNA polimerase, que os adiciona apenas à extremidade 3′. Por esse motivo, a
polimerização em um molde é contínua e no outro é descontínua em trechos curtos (fragmentos de Okazaki).
A síntese do filamento contínuo e de cada fragmento de Okazaki é iniciada por um primer de RNA curto
sintetizado pela enzima primase. Toda essa maquinaria de replicação é chamada de replissomo.

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A replicação das extremidades dos cromossomos (telômeros) exige a atuação de uma outra enzima para que
não haja perda de informações genéticas. Essa enzima é a telomerase, que adiciona várias sequências curtas
e repetitivas, mantendo o comprimento do cromossomo. Os telômeros encurtam lentamente ao longo dos anos
nas células somáticas, tendo em vista que a telomerase não é produzida em grande quantidade naquelas
células.

Com relação à enzima telomerase, assinale a alternativa correta.

A) É responsável pela adição de longas sequências às extremidades 3′ do DNA


B) É responsável pela adição de sequências não repetitivas às extremidades 3′ do DNA
C) É encontrada em grande quantidade em células germinativas
D) É encontrada em excesso em células somáticas
E) Carrega consigo uma longa molécula de RNA

Resposta: C

Assinale a alternativa que compreende proteínas que participam da replicação do replissomo.

A) dNTPS, RNA polimerase e primase


B) dNTP, primase e RNA ligase
C) dNTP, RNA polimerase e grampo β
D) DNA polimerase, DNA ligase e topoisomerase
E) RNA polimerase, RNA ligase e helicase

Resposta: D

Diferencie eucromatina e heterocromatina.

Resposta: A eucromatina constitui maior parte do material cromossômico e passa pelo processo normal de
condensação e descondensação durante o ciclo celular. É na eucromatina onde grande parte da transcrição
ocorre. A heterocromatina permanece altamente condensada durante todo o ciclo celular, mesmo durante a
interfase.

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O livro “Genética molecular básica”, dos autores Carlos M. F. Menck e Marie-Anne Van Sluys, descreve toda
a estrutura do DNA, bem como seu mecanismo de replicação. Esse livro pode ser utilizado como material
complementar ao capítulo que acabamos de estudar.

45
UNIDADE II
CAPÍTULO 4 – DO FENÓTIPO AO GENÓTIPO

No término deste capítulo, você deverá saber:


✓ Transcrição e processamento do RNA
✓ Estrutura e tradução de proteínas

Introdução
O médico inglês Archibald Garrod foi a primeira pessoa a sugerir uma relação entre genótipo e
proteínas. Em 1908, Garrod propôs que genes codificam enzimas, mas foi somente em 1940, quando
Beadle e Tatum realizaram experimentos com Neurospora, que sua teoria foi amplamente aceita. A
ideia ficou conhecida como a hipótese de um gene, uma enzima: um gene codifica uma enzima.
Mais tarde, observou-se que cada gene codifica uma proteína, então o modelo passou a ser a
hipótese de um gene, um polipeptídio. À medida que novas descobertas foram feitas a respeito
da estrutura dos genes, ficou claro que esse é um conceito muito simplificado.

Nos anos de 1900, acreditava-se que um gene fosse responsável pela codificação de uma única proteína. Se
assim fosse, uma quantidade enorme, para não dizer absurda, de material genético seria necessária para
codificar todas as proteínas existentes no nosso organismo.

Atualmente sabemos que os humanos apresentam cerca de 21 000 genes que codificam mais
de 100 000 proteínas. Isso é possível graças ao processo de splicing alternativo do RNA, o qual
estudaremos posteriormente neste capítulo. Brevemente, podemos dizer que o RNA transcrito a
partir de um gene pode ser recomposto de diversos modos alternativos, resultando em diferentes
proteínas.

Investigue quantas proteínas podem resultar do transcrito primário do gene α-tropomiosina de camundongos.

Neste capítulo, iremos aprender as etapas da transferência da informação genética: do DNA


(genes) para o RNA e do RNA para o produto final, a proteína.

46
3.2 Transcrição e processamento do RNA
Embora ambos DNA e RNA sejam ácidos nucleicos, o RNA apresenta algumas diferenças em
relação ao DNA:

1. O açúcar do RNA contém um grupo hidroxila (OH) ligado ao átomo de carbono 2′, ao
contrário do açúcar do DNA que contém um átomo de hidrogênio na mesma posição. O
açúcar do RNA é chamado de ribose, por isso o nome ácido ribonucleico (DNA)
2. O RNA contém apenas uma cadeia de nucleotídeos, ao contrário do DNA que contém
uma dupla-hélice. Essa estrutura permite que o RNA seja mais flexível e possa apresentar
diversas conformações moleculares tridimensionais complexas.
3. O RNA possui quatro nucleotídeos, também chamados de ribonucleotídeos: adenina (A),
guanina (G), citosina (C) e a base pirimidínica uracila (U) (Figura 1). Ao contrário do DNA,
o RNA não apresenta o nucleotídeo timina.

Figura 1. Bases nitrogenadas que compõem a molécula de RNA

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os RNA são divididos em duas classes gerais: os RNAs codificantes e os não codificantes,
ou também chamados de funcionais. Os RNAs codificantes são os intermediários no processo que
leva à informação genética do DNA para a proteína. Os RNAs mensageiros (mRNAs) pertencem a
essa classe de RNA e funcionam como mensageiros da informação do DNA para a proteína. Os
RNAs funcionais são intermediários da informação do DNA e não resultam em síntese proteica.
Esses RNAs têm atividade própria. Os RNAs transportadores (tRNA) e os RNAs ribossômicos
(rRNA) são os principais tipos de RNAs funcionais e atuam em diversas etapas da transferência da
informação do RNA para a proteína. Os pequenos RNA nucleares (snRNA) constituem um sistema
que processa os transcritos de RNA nas células eucariotas. Os microRNA (miRNA), pequenos
RNA de interferência (siRNA) e RNA de interação piwi (piRNA) são parte um grande grupo de

47
RNA funcionais que atua na supressão da expressão gênica e na manutenção da estabilidade do
genoma. Além disso, os RNA não codificadores longos (lncRNA, ou ncRNA) já foram
identificados, porém a função desses RNAs atualmente é desconhecida.

Todo e qualquer RNA é sintetizado a partir do DNA molde pelo processo de transcrição ainda
no núcleo da célula. Durante esse processo, sequência de nucleotídeos de um ou mais genes é
“copiada” (transcrita) para uma molécula de RNA.

De modo geral, as duas fitas da dupla-hélice do DNA são separadas em local específico, e
uma das fitas atua como molde para a síntese de RNA. No DNA como um todo, ambas as fitas são
utilizadas como moldes; entretanto, para um gene específico, apenas uma fita é utilizada. A mesma
fita é sempre utilizada para um mesmo gene (Figura 2 A). Os ribonucleotídeos formam pares estáveis
com o molde de DNA por complementariedade de bases. O ribonucleotídeo A pareia com T do DNA,
o G com C, o C com G e o U com A. A adição de cada ribonucleotídeo é feita pela enzima RNA
polimerase. Essa enzima se liga ao DNA e se movimenta ao longo dele, adicionando os
ribonucleotídeos complementares sempre no sentido 5′ para 3’, resultando na formação de moléculas
de RNA (Figura 2 A). Os nucleotídeos são sempre adicionados a uma ponta em crescimento 3′
(Figura 2 B).

Em organismo eucariotos, a transcrição é realizada por três polimerases diferentes:

• A RNA polimerase I transcreve os genes de rRNA


• A RNA polimerase II transcreve todos os genes de mRNA e transcreve alguns snRNA
• A RNA polimerase III transcreve os pequenos genes de RNA funcional (tRNA, alguns
snRNA e o rRNA 5S).

Figura 2. Processo de transcrição do RNA

Fonte: Griffiths et al., 2016

Observe que, se a sequência de nucleotídeos do transcrito e do molde são complementares,


então a sequência de nucleotídeos no RNA deve ser semelhante ao do filamento não molde do DNA.
A única diferença é de fato a substituição de T por U (Figura 3). Por esse motivo, o filamento não
molde do DNA é chamado de filamento codificador.

48
Figura 3. Sequências do DNA e do RNA transcrito

Fonte: Griffiths et al., 2016

O DNA é uma molécula longa e contínua e a toda a maquinaria de transcrição deve estar
direcionada para o local exato de início da transcrição, deve continuar transcrevendo por todo o
comprimento do gene, e deve interromper a transcrição na outra extremidade. Esses três estágios
são chamados de iniciação, alongamento e término.

A iniciação da transcrição em eucariotos necessita de um complexo de muitas proteínas


em uma sequência promotora antes que a RNA polimerase II possa começar a sintetizar o RNA.
Promotor é uma sequência específica de DNA localizada na região reguladora de um gene próximo
do início da região transcrita. As proteínas que ligam a região promotora são chamadas de fatores
gerais de transcrição (GTF - general transcription factors). Esses fatores não participam da síntese
do RNA, apenas reconhecem e interagem com a região promotora e atraem a RNA polimerase ao
sítio correto de iniciação. Os GTFs são chamados de TFIIA (fator de transcrição A da RNA polimerase
II), TFIIB e assim por diante. Os promotores eucarióticos estão localizados imediatamente 5′
upstream do sítio de início da transcrição. Umas das sequências promotoras mais comuns é a
TATAAA, chamada de TATA boxe, localizada a aproximadamente 30 pares de bases (—30 pb) do
local de início da transcrição (Figura 4). A proteína de ligação a TATA (TBP - TATA-binding protein)
é parte do complexo TFIID, um dos seis GTF e, quando ligada ao TATA boxe, atrai outros GRF e o
cerne da RNA polimerase II para o promotor, resultando na formação do complexo de pré-iniciação
(PIC - preinitiation complex). A RNA polimerase II possui uma cauda proteica chamada de domínio
carboxi-terminal (CTD - carboxy terminal domain) e, quando fosforilada por um dos GTF, sua
ligação com o PIC enfraquece. Como enfraquecimento da ligação, a RNA polimerase II se dissocia
da maior parte dos GTF e inicia o processo de alongamento primário do RNA. Alguns dos GTF
permanecem no promotor e atraem um novo cerne de RNA polimerase. Portanto, inúmeras RNA
polimerases II podem sintetizar transcritos de um único gene concomitantemente.

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Figura 4. Iniciação da transcrição

Fonte: Griffiths et al., 2016

Após a síntese de cerca de 30 pares de base (pb), a RNA polimerase deixa o promotor e
inicia o alongamento da transcrição dentro da bolha de transcrição. À medida que o filamento de
RNA é sintetizado ele passa pelo por um processamento cotranscricional. O CTD da RNA
polimerase II tem um papel fundamental no processamento do RNA nascente. Em sua composição
existem muitas repetições de uma sequência de sete aminoácidos que atuam como sítios de ligação
de enzimas e algumas proteína. Além disso, está localizado próximo ao local onde o RNA nascente
emerge da polimerase.

50
A figura 5 A ilustra o processamento da extremidade 5’ do RNA nascente, em outras palavras,
a adição de um revestimento cap, um resíduo 7-metilguanosina ligado ao transcrito por três grupos
fosfato. O cap possui duas funções importantes: protege o RNA da degradação durante seu caminho
até o citoplasma (onde será traduzido) e tem papel importante durante a tradução do mRNA.

Figura 5. Processamento cotranscricional do RNA nascente

Fonte: Griffiths et al., 2016

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O término da transcrição acontece quando a sequência conservada AAUAAA ou AUUAAA
é alcançada. Essas sequencias são reconhecidas por uma enzima que corta a extremidade do RNA
a aproximadamente 20 bases adiante. A extremidade 3’ cortada é adicionado um trecho de 150 a
200 nucleotídeos adenina chamado de cauda poli(A) (Figura 5 C). A adição desse trecho é chamada
de poliadenilação.

A informação contida no DNA pode ser dividida em: éxons e íntrons. Os éxons são os
segmentos do DNA que codificam proteínas e os íntrons são segmentos do DNA localizados entre
os éxons. Os íntrons são removidos do transcrito primário (pré RNA) logo após o cap ter sido
adicionado e enquanto o RNA ainda está sendo transcrito. A recomposição (splicing) é o nome
dado ao processo de remoção dos íntrons e a união dos éxons. Recomposição alternativa (ou
splicing alternativo) é o nome dado ao processo recomposição de diferentes combinações de éxons,
resultando na síntese de diferentes proteínas a partir do mesmo transcrito primário.

Durante a recomposição, os íntrons são cortados em cada extremidade e nessas


extremidades na maioria das vezes é possível identificar as sequencias conservadas GU na
extremidade 5′ e AG na extremidade 3′ (regra GU–AG). Além disso, um resíduo A estará presente
na maioria das vezes entre 15 e 45 nucleotídeos upstream do sítio de corte 3’ (Figura 6).

Figura 6. Sequências de nucleotídeos conservadas relacionadas a remoções de íntrons.

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os snRNA são complementares às sequências consenso GU-AG nas junções de


recomposição. Por esse motivo, acredita-se que snRNAs, cada uma denominada de U1, U2, U4, U5
e U6, reconhecem essas sequências. Esses snRNAs e diversas proteínas compõem o
spliceossomo, a máquina molecular responsável pela remoção de íntrons e união de éxons.

Os componentes do spliceossomo interagem com o CTD da RNA polimerase (Figura 5 B),


além de interagir com o transcrito primário (Figura 7). Os snRNA U1 e U2 interagem com o sítio de
corte e atraem os snRNA U4, U5 e U6, resultando na formação do spliceossomo. O complexo
formado realiza a remoção do íntron em duas etapas consecutivas: (1) unindo uma extremidade do
íntron à interna conservada, formando uma estrutura em alça e (2) clivando a alça e unindo os dois
éxons adjacentes.

52
Figura 7. Processo de remoção de íntrons pelo spliceossomo

Fonte: Griffiths et al., 2016

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3.3 Estrutura e tradução de proteínas
Proteínas são polímeros compostos por monômeros chamados de aminoácidos, ou seja, uma
proteína é uma cadeia de aminoácidos. Todos os aminoácidos conhecidos possuem dois grupos
funcionais, uma carboxila e um amino, ligados ao mesmo átomo de carbono, denominado carbono
α. Ao carbono α também estão ligados um átomo de hidrogênio (H) e uma cadeia lateral, ou grupo
R (reativo) (Figura 8).
Figura 8. Estrutura geral de aminoácidos

Fonte: Griffiths et al., 2016

Um total de 20 aminoácidos combinados entre si compõem as proteínas. Cada um deles


apresenta um grupo R diferente. A cadeia lateral confere propriedades únicas aos aminoácidos e
pode ser desde um único átomo de hidrogênio até um anel complexo.

Cada aminoácido é unido por ligações covalentes, também chamadas de ligações peptídicas,
entre a extremidade amino (NH2) de um aminoácido com a extremidade carboxila (COOH) de outro
aminoácido (Figura 9). Para que a reação de ligação aconteça, uma molécula de água é removida.
Figura 9. Ligação peptídica

Fonte: Griffiths et al., 2016

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A estrutura das proteínas é complexa, com quatro níveis de organização: estrutura primaria,
secundaria, terciaria e quaternária (Figura 10). A estrutura primária consiste na sequência linear da
cadeia de aminoácidos da proteína. A estrutura secundária é composta por formas específicas
formadas por ligações químicas locais da cadeia de aminoácidos, como ligações de hidrogênio,
forças eletrostáticas e forças de Van Der Waals. As formas mais comuns da estrutura secundária
são a α-hélice e a folha β-pregueada. A estrutura terciária é obtida pelo dobramento da estrutura
secundária, resultando no formato tridimensional da proteína. A estrutura quaternária refere-se à
união por ligações fracas de dois ou mais polipeptídios dobrados na forma tridimensional, também
chamados de subunidades
Figura 10. Níveis estruturais de proteínas

Fonte: Griffiths et al., 2016

Cada aminoácido é codificado por três nucleotídeos consecutivos no mRNA, também


chamados de códons. Considerando os quatro nucleotídeos presentes na estrutura do mRNA (A,
G, C e U), temos um total de 64 (43) possíveis códons (Figura 11). Destes 64, 3 são códons de
parada (UAA, UAG e UGA) e determinam o término da tradução. Os 61 códons restantes são
chamados códons com sentido ou senso e codificam os aminoácidos presentes nos organismos.
Em outras palavras, 20 diferentes aminoácidos comumente encontrados nas proteínas são
codificados por 61 códons senso. Por esse motivo chamados o código de código genético
degenerado. Isso dignifica que os aminoácidos podem ser codificados por mais de um códon.

55
Figura 11. O código genético.

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os aminoácidos são transportados e direcionados aos ribossomos, onde a cadeia


polipeptídica está em crescimento, pelo RNA transportador (tRNA) (Figura 12). Os tRNAs são
moléculas adaptadoras compostos por quatro hastes de dupla hélice e três alças unifilamentares
(Figura 12 A). Uma das alças do tRNA é chamada de alça do anticódon. Isso porque essa alça
transporta uma trinca de nucleotídeos chamados de anticódon. O anticódon do tRNA é
complementar ao códon do mRNA, ou seja, essas sequencias se ligam por pareamento específico
de bases.
Figura 12. Estrutura do RNA transportador

Fonte: Griffiths et al., 2016

56
A aminoacil-tRNA sintetase é a enzima responsável pela união dos aminoácidos aos tRNAs.
Nas células, são encontrados 20 tipos dessas enzimas e cada uma é específica para casa um dos
20 aminoácidos. Quando um tRNA é encontrado ligado a um aminoácido, dizemos que o tRNA está
carregado.

Os ribossomos são compostos por uma subunidade pequena e uma grande; cada uma
dessas subunidades possuem RNA ribossômico (rRNA) e proteínas (Figura 13). Em procariotos, a
subunidade pequena é chamada de 30S, e a grande, de 50S. Associadas, resultam na formação de
uma partícula 70S. Em eucariotos, temos as subunidades 40S e 60S formando a partícula 80S.

Figura 13. Composição do ribossomo em eucariotos

Fonte: Griffiths et al., 2016

Os ribossomos contêm sítios-chave de interação com o mRNA e o tRNA (Figura 14). O sítio
de ligação ao mRNA se encontra em sua totalidade dentro da subunidade menor. Os tRNAs
interagem com as duas subunidades, se posicionando com a alça do anticódon na subunidade menor
e a extremidade aminoacil (onde o aminoácido está ligado) na subunidade maior. Para os tRNA
existem três sítios de ligação: o sítio A, P e E. O sítio A (de aminoacil) é o sitio de entrada, e
liga um tRNA cujo anticódon corresponde ao códon do mRNA no sítio A da subunidade 30S. Em
seguida, o tRNA que entrou no ribossomo é transferido para o sítio P (de peptidil) da subunidade
30S. Posicionado nesse sitio de ligação, a ligação do aminoácido com a cadeia polipeptídica em
crescimento ocorre no centro peptidiltransferase na subunidade 50S. Quando o tRNA é transferido
para o sítio E (de exit), ele não carreia mais o aminoácido e está pronto para ser liberado do
ribossomo. Além disso, a subunidade 30S possui o centro decodificador na subunidade 30S, que
permite que apenas os tRNA que carreiam anticódons correspondentes aos códons sejam ligados
no sítio A.

57
Figura 14. Sítios de interação nos ribossomos

Fonte: Griffiths et al., 2016

Tradução é o nome dado ao processo de síntese de proteínas e ocorre no citoplasma as


células eucarióticas. Assim como a transcrição, a tradução é dividida em três estágios: iniciação,
alongamento e término.

58
Em células eucarióticas, a replicação e a transcrição acontecem no núcleo da célula. O mRNA transcrito é
então direcionado ao citoplasma da célula e lá é traduzido na proteína correspondente.

A iniciação da tradução ocorre assim que o mRNA chega ao citoplasma e é recoberto por
proteínas, ou também chamados de fatores de iniciação (eIF4A, B e G). Esses fatores de iniciação
se associam ao cap na extremidade 5′, à subunidade 40S e ao tRNA iniciador para formar um
complexo de iniciação (Figura 15). Assim que o complexo é formado, ele se movimenta ao longo do
mRNA no sentido 5′ para 3′ até encontrar o códon iniciador AUG, que sinaliza o início da tradução.
O primeiro aminoácido em qualquer polipeptídio recém-sintetizado é a metionina, que é inserida por
um tRNA específico chamado de iniciador. Após o alinhamento do códon AUG ao tRNA iniciador, a
subunidade maior do ribossomo se une ao complexo de iniciação se une à subunidade.

Figura 15. Iniciação da tradução

Fonte: Griffiths et al., 2016

59
O alongamento da tradução se inicia após a dissociação dos fatores de iniciação do
ribossomo. É nessa fase em que os aminoácidos são adicionados à cadeia polipeptídica em
crescimento (Figura 16). Além da associação com o aminoácido, o tRNA também se associa ao fator
de alongamento Tu (EF-Tu), formando um complexo ternário. Esse complexo ternário entra no sítio
A do ribossomo e, quando há correspondência entre códon e anticódon, o ribossomo altera sua
forma, EF-Tu é liberado do complexo e as duas extremidades aminoacil de dois tRNAs são
justapostas no centro peptidiltransferase, formando a ligação peptídica. Em seguida, o fator de
alongamento G (EF-G) se encaixa no sítio A, provocando a transferência dos tRNA nos sítios A e P
para os sítios P eE, respectivamente. Além disso, o mRNA se movimenta pelo ribossomo,
posicionando o próximo códon no sítio A. Com a saída do EF-G, o sítio A está livre para a entrada
do próximo complexo ternário. Na medida em que o alongamento progride, o tRNA desacilado deixa
o sítio E e está livre para ser reciclado por meio da adição de outro aminoácido.

Figura 16. Alongamento da tradução

Fonte: Griffiths et al., 2016

O término da tradução ocorre quando o códon de parada (UGA, UAA ou UAG) se encontra
no sítio A do ribossomo (Figura 17). Esses códons não são reconhecidos por tRNAs, mas sim por
proteínas chamadas de fatores de liberação (RF1, RF2 e RF3 em bactérias). Esses fatores de
liberação se encaixam no sítio A do ribossomo e permitem que uma molécula de água entre no centro
peptidiltransferase. A presença dessa molécula de água induz a liberação do polipeptídio formado e
as subunidades ribossômicas se separam.

60
Figura 17. Término da tradução

Fonte: Griffiths et al., 2016

A maioria das proteínas eucarióticas recém sintetizadas é inativa. Modificações pós-tradução, tais como a
fosforilação ou a ubiquitinação, alteram grupos laterais dos aminoácidos, resultando na ativação ou na
degradação da proteína, respectivamente. Além disso, modificações pós-tradicionais são responsáveis por
alterar e direcionar proteínas para locais nos quais sua atividade é necessária dentro ou fora da célula.

61
Considerações finais
A proposição de que o genótipo estava relacionado com as proteínas em 1908 foi uma sugestão
acertada. Entretanto, o modelo não estava totalmente certo. Inicialmente, acreditava-se que um único
gene era responsável por uma única proteína. Atualmente sabemos que nós humanos temos cerca
de 21 000 genes que codificam mais de 100 000 proteínas em todo o nosso genoma. Um único gene
é capaz de resultar em diferentes proteínas graças ao processo de splicing alternativo do RNA, que
estudamos neste capítulo. Por esse processo, o RNA transcrito a partir de um gene pode ser
recomposto de diversos modos alternativos, resultando em diferentes proteínas.

As proteínas presentes nos organismos vivos, mais do que qualquer outra molécula, são
responsáveis pela determinação do que somos e de nossas características. São moléculas versáteis
capazes de assumir diversas formas e funções.

Para aprender um pouco mais sobre os mecanismos de replicação, transcrição e tradução, assista vídeos
explicativos acessando: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/gene-expression-central-dogma>

Neste capítulo aprendemos que a informação genética não é transmitida diretamente do DNA para a proteína.
Esse fluxo de informação é intermediado pelo RNA que difere do DNA em basicamente três maneiras: (1)
normalmente é um filamento único, em vez de uma dupla-hélice; (2) os nucleotídeos contêm o açúcar ribose
em vez de desoxirribose e (3) contém a base pirimidínica uracila, em vez de timina.
A transcrição é didaticamente dividida em três estágios: iniciação, alongamento e término. Durante esses
estágios, a maquinaria de transcrição deve ser direcionada para o local exato de início da transcrição, continuar
transcrevendo por todo o comprimento do gene e interromper a transcrição na outra extremidade,
respectivamente.
A RNA polimerase II, enzima responsável pela síntese do mRNA, contém diversas subunidades que atuam
não apenas no alongamento do transcrito primário, mas também na coordenação do processamento
cotranscricional. O processamento do mRNA inclui a adição do cap em 5′, a remoção de íntrons e a união de
éxons pelo spliceossomo, além da clivagem em 3′ seguida pela adição de uma cauda poli (A).
Além disso, também estudamos como ocorre a tradução da informação genética da molécula de mRNA para
a sequência de aminoácidos de uma proteína. Assim como a transcrição, a tradução é dividida em três
estágios: iniciação, alongamento e término. Durante esses estágios, a maquinaria de tradução deve adicionar
o primeiro aminoácido de forma correta, assim como os subsequentes, e finalizar polimerização da cadeia de
polipeptideos. As principais moléculas que compõem o processo de tradução são o tRNA, mRNA e rRNA.

62
(ENADE, 2013) Os mecanismos envolvidos na expressão e interação dos genes, assim como a compreensão
das redes funcionais estabelecidas pelas proteínas, fazem com que, no cenário científico atual, a genômica e
a proteômica estejam cada vez mais em evidência. Quatro são os principais bancos de dados utilizados para
as diferentes análises de nucleotídeos. Um deles é o INSDC (INTERNATIONAL NUCLEOTIDE SEQUENCE
DATABASE), que disponibiliza um repertório de sequências e é resultado da associação de três bancos de
dados parceiros, o DDBJ (DATA BANK OF JAPAN), o EMBL (EMBL NUCLEOTIDE SEQUENCE DATABASE)
e o GenBank. Devido à sua designação como provedor de dados primários, o EMBL/DDBJ/GenBak é a fonte
inicial de muitos bancos de dados em biologia molecular.
Como exemplos de bancos de dados de sequências genômicas secundárias, pode-se citar o Ensembl, o
RefSeq e o Genome Review, que representam uma versão da sequência original de um cromossomo ou
plasmídeo, com informações importadas de fontes que incluem o UniProt (UNIVERSAL PROTEIN
RESOURCE), o Gene Ontology (GO), o projeto GOA (GO ANNOTATION), o InterPro e o HoGenom, além de
serem disponibilizadas referências cruzadas com 18 bancos de dados.

ESPINDOLA, F. S. et al. Recursos de bioinformática aplicados às ciências ômicas como genômica,


transcriptômica, proteômica, interatômica e metabolômica. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 26, n. 3, p. 463-
477, Maio/Junho 2010 (adaptado).

Nesse contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.


I. As informações disponíveis nos bancos de dados de sequências possibilitam o desenvolvimento de
pesquisas in silico, dependendo dos métodos interpretativos e programas de análises envolvidos, sendo que
os bancos de dados de sequências fornecem informações sobre diversos genes, que podem ser utilizadas de
forma rápida, independentemente do tipo de processamento.
PORQUE
II. As informações contidas nos bancos de dados de sequências são validadas quando analisadas juntamente
com as informações provenientes dos bancos INSDC, Ensembl, RefSeq e Genome Review, sendo que as
informações dos bancos de dados secundários são independentes das informações presentes nos bancos
primários.

Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.


A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I.
C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E) As asserções I e II são proposições falsas.

Resposta: C

63
Questão Objetiva
Com relação à estrutura do RNA, assinale a alternativa correta.

A) Os açúcares do RNA são chamados de desoxirribose


B) O açúcar do RNA contém um grupo hidroxila (OH) ligado ao átomo de carbono 2′
C) Assim como o DNA, o RNA contém uma dupla hélice
D) O RNA é incapaz de apresentar estruturas tridimensionais complexas
E) O RNA possui quatro bases nitrogenadas: adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T).

Resposta: B

Questão Discursiva
Descreve o código genético da tradução de proteínas.

Resposta: Cada aminoácido é codificado por três nucleotídeos consecutivos no mRNA, também chamados
de códons. Considerando os quatro nucleotídeos presentes na estrutura do mRNA (A, G, C e U), temos um
total de 64 (43) possíveis códons. Destes 64, 3 são códons de parada (UAA, UAG e UGA) e determinam o
término da tradução. Os 61 códons restantes são chamados códons com sentido ou senso e codificam os
aminoácidos presentes nos organismos. Em outras palavras, 20 diferentes aminoácidos comumente
encontrados nas proteínas são codificados por 61 códons senso. Por esse motivo, chamados o código de
código genético degenerado. Isso significa que os aminoácidos podem ser codificados por mais de um códon.

O livro “Biologia molecular da célula”, escrito por Bruce Alberts e outros autores, descreve todo o fluxo da
informação genética desde o DNA passando pelo RNA até chegar ao produto final, a proteína. Esse livro é um
excelente material complementar ao capítulo que acabamos de estudar.

64
UNIDADE III
CAPÍTULO 5 - REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA

No término deste capítulo, você deverá saber:


✓ Alterações na estrutura da cromatina
✓ Regulação transcricional
✓ Regulação tradicional
✓ Silenciamento gênero-específico de genes e cromossomos inteiros

Introdução
A regulação da expressão gênica nas células eucarióticas ocorre em diversos níveis. A expressão
dos genes pode ser influenciada por alterações na estrutura da cromatina (DNA associado a
proteínas), que ocorrem por vários mecanismos diferentes. O processo de transcrição e o
processamento do mRNA podem ser controlados por interações complexas entre vários tipos de
proteínas e elementos regulatórios das moléculas de DNA. Além disso, a tradução também pode ser
regulada de diferentes maneiras.

A regulação da expressão gênica em procariotos e eucariotos compartilham algumas


características como, por exemplo, a capacidade de proteínas que se ligam a molécula de DNA de
influenciar na iniciação da transcrição pela enzima RNA polimerase. No entanto, existem algumas
diferenças. Por exemplo, ao contrário das células procarióticas, as células eucarióticas possuem
membrana nuclear, o que faz com que os processos de transcrição e de tradução aconteçam em
diferentes momentos e em diferentes localizações. A presença da cromatina em células eucarióticas
e sua estrutura influencia a expressão de genes, dada a necessidade da molécula de DNA se
desenroscar e permanecer livre das proteínas histonas para que a transcrição se inicie.

A regulação da expressão gênica nas células eucarióticas possui maior diversidade de


mecanismos, e cada um desses mecanismos é responsável pela regulação de pontos distintos do
processo de transferência de informações do DNA para as proteínas. Além disso, os genomas
eucarióticos são maiores e possuem sequências mais complexas. Por esse motivo, o isolamento e
a manipulação das mutações são mais difíceis, tornando o processo de regulação gênica eucariótica
menos compreendida do que a procariótica.

Neste capítulo, estudaremos os principais mecanismos de regulação da expressão gênica


em células eucariotas.

5.1 Alterações na estrutura da cromatina


No núcleo de células eucarióticas, octâmeros de histonas se associam à molécula de DNA helicoidal,
que se enrola firmemente formando a cromatina. No estado natural de um gene, a estrutura da
cromatina impede a expressão gênica. Portanto, para que fatores de transcrição, outras proteínas
regulatórias e a RNA polimerase se liguem ao DNA e o gene seja transcrito, a estrutura da cromatina
precisa ser alterada para que o DNA se torne mais acessível para a complexa maquinaria de
transcrição. Três principais mecanismos alteram a estrutura da cromatina: remodelagem da
cromatina, modificação das histonas no cerne do nucleossomo e modificação da molécula de DNA.

65
A remodelagem da cromatina consiste na movimentação dos nucleossomos ao longo do
DNA (Figura 1). Alguns fatores de transcrição e algumas proteínas regulatórias compõem
complexos de remodelagem da cromatina e são capazes de se ligar a sítios específicos no DNA
e reposicionar os nucleossomos alterando a estrutura da cromatina sem alterar diretamente a
estrutura química das histonas. Essa movimentação dos nucleossomos permite que os fatores de
transcrição e a RNA polimerase se liguem aos promotores e iniciem o processo de transcrição.

Figura 1. Remodelagem de cromatina

Fonte: Pierce, 2016


A modificação de histonas consiste na modificação química das caudas das proteínas
histonas pertencentes ao octâmero de histonas do nucleossomo. Essas modificações podem ser

66
adição ou remoção de grupos fosfato, metila ou acetila ou moléculas chamadas ubiquitinas. A adição
de grupos metila às caudas das proteínas histona é chamada de metilação de histonas. Essas
alterações provocam a ativação ou a repressão da transcrição do gene em questão, dependendo de
quais aminoácidos na cauda da histona são metilados. As enzimas histona metiltransferases
adicionam grupos metila a aminoácidos específicos, geralmente lisina ou arginina. As demetilases
são enzimas que realizam a remoção dos grupos metila das histonas. A adição de grupos acetila às
caudas das histonas é chamada de acetilação de histonas. A acetilação das histonas na maioria
das vezes desestabiliza a estrutura da cromatina e estimula a transcrição dos genes (Figura 2). As
enzimas acetiltransferases são responsáveis pela adição desses grupos e as enzimas desacetilases
são responsáveis pela remoção desses grupos e pela restauração da estrutura da cromatina,
impedindo a sua transcrição.

Figura 2. Acetilação de histonas

Fonte: Pierce, 2016

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A metilação do DNA é uma modificação da molécula de DNA que altera a estrutura da
cromatina. A metilação do DNA ocorre nas bases de citosina e, de modo diferente da metilação de
histonas, reprime a transcrição do gene.

A técnica chamada de imunoprecipitação da cromatina (ChIP) tem papel essencial na evolução do


conhecimento no que diz respeito às mudanças na estrutura da cromatina associadas à expressão gênica.
Esse método torna possível a identificação de proteínas que se ligam a molécula de DNA e afetam a
transcrição, além da localização específica dentro do genoma a qual essas proteínas interagem com o DNA.

5.2 Regulação transcricional


A regulação da transcrição é realizada por meio da ligação de proteínas e elementos regulatórios a
sequências da molécula de DNA que influenciam o processo.

Fatores gerais de transcrição, a enzima RNA polimerase e outras proteínas formam um complexo responsável
pelo início do processo de transcrição.

O complexo que dá início a transcrição se liga ao promotor localizado imediatamente


upstream de um gene e ativa apenas níveis mínimos de transcrição. Proteínas que regulam a
transcrição se ligam ao promotor upstream e aos acentuadores localizados a alguma distância do
gene e promovem a estimulação ou a repressão da transcrição.

Proteínas ativadoras da transcrição são responsáveis por estimular e estabilizar o


complexo de transcrição no promotor do gene. Essas proteínas se ligam ao DNA em uma sequência
específica, geralmente em um promotor regulatório ou em acentuador e, ao mesmo tempo, interagem
com os componentes do complexo de transcrição, influenciando na taxa de transcrição (Figura 3).
Essa interação com o complexo de transcrição pode ocorrer de forma direta ou indireta por meio de
proteínas coativadoras. Dentro do promotor regulatório há várias sequências distintas especificas
para a ligação de diferentes ativadores da transcrição e cada promotor é regulado por uma
combinação única de ativadores.

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Figura 3. Ação de proteínas ativadoras

Fonte: Pierce, 2016

Proteínas repressoras da transcrição inibem a expressão de genes ao se ligarem em


sequências especificas no promotor regulatório ou em silenciadores (sequências distantes). A
inibição da transcrição ocorre não porque os repressores bloqueiam diretamente a RNA polimerase
(como em procariotos), mas sim por competição pelos sítios de ligação ao DNA entre moléculas
ativadoras e repressoras. Em outras palavras, a transcrição é ativada quando um sítio é ocupado por
um ativador e reprimida quando um repressor ocupa esse sítio. Além disso, outro mecanismo de
repressão importante ocorre quando um repressor se liga a sítios próximos de um sítio ativador e
impede que o ativador interaja com o complexo de transcrição, impedindo consequentemente a
transcrição. A molécula repressora pode ainda interferir diretamente na montagem do complexo de
transcrição, impedindo o início da transcrição.

Os acentuadores são sequências capazes de interferir no processo de transcrição ao


interagir com sequencias promotoras, induzindo a transcrição. Os acentuadores geralmente estão
localizados muito distantes do gene e variam em posição e orientação. Proteínas reguladoras se
ligam à sequência acentuadora e induzem a aproximação do acentuador e do promotor ao afrouxar
a moléculas de DNA. Dessa forma, outras proteínas reguladoras podem interagir diretamente com o
complexo de transcrição no promotor do gene. A aproximação entre acentuador e promotor também
pode ocorrer pela atração de proteínas que se ligam a sequências no promotor regulatório e
estabilizam o acentuador próximo do promotor do gene. Além disso, acentuadores também podem
influenciar o processo de transcrição ao alterar a estrutura da cromatina.

Os efeitos dos acentuadores são limitados pelos insuladores, também chamados de


elementos de fronteira, que são sequências capazes de impedir o efeito dos acentuadores. Esse

69
bloqueio no efeito dos acentuadores ocorre quando o insulador se encontra entre o acentuador e o
promotor do gene. Entretanto, o insulador não é capaz de bloquear o efeito do acentuador se não
estiver nessa região (Figura 4). A atividade bloqueadora dos insuladores ocorre somente quando
proteínas específicas se ligam a sua sequência. Alguns insuladores também são capazes de impedir
mudanças na estrutura da cromatina que influenciem no processo de transcrição.
Figura 4. Ação de acentuadores e insuladores

Fonte: Pierce, 2016

A regulação da recomposição alternativa do mRNA é um mecanismo importante do


controle da expressão gênica em células eucarióticas. Em Drosophilas (mosca da fruta), a
determinação do sexo é feita por meio de uma cascata de regulação gênica da recombinação
alternativa (Figura 5). Em embriões que possuem ambos cromossomos sexuais sendo XX, o
promotor do gene sexual letal (Sxl) é ativado no início do desenvolvimento, estimulando a produção
da proteína Sxl. Essa proteína regula o processo de recomposição do pré-mRNA transcrito a partir
do gene transformador (tra). Como resultado temos a produção da proteína Tra. Tra e uma outra
proteína (Tra-2), participam da recomposição do pré-mRNA transcrito a partir do gene sexo duplo
(dsx). A proteína Dsx produzida é responsável pelo desenvolvimento de características femininas no
embrião. Por outro lado, em embriões que possuem apenas um cromossomo sexual sendo X, o
promotor do gene Sxl permanece inativo. Dessa forma, não há produção da proteína Sxl, resultando
em um pré-mRNA tra recombinado de forma diferente. Essa recombinação sem a regulação da
proteína Sxl gera uma forma não funcional da proteína Tra. A proteína Tra não funcional resulta em
pré-mRNAs dsx recompostos de forma diferente do que nas fêmeas, gerando à produção de uma
proteína Dsx específica que leva ao desenvolvimento de traços específicos dos machos.
Figura 5. Determinação do sexo em Drosophila pela regulação da recombinação alternativa

Fonte: Pierce, 2016

70
A quantidade do produto final da tradução (proteína) depende diretamente da quantidade de
mRNA correspondente disponível para tradução pelos ribossomos. A quantidade de mRNA
disponível depende de dois fatores: (1) a taxa de síntese de mRNA e (2) a taxa de degradação do
mRNA. A estabilidade dos mRNAs eucarióticos é altamente variável e sua presença no citoplasma
por durar alguns minutos, algumas horas, dias ou até meses. O tempo de permanência de cada
mRNA nas células pode resultar em grandes diferenças na quantidade de proteína sintetizada.

A regulação da expressão gênica pela interferência de RNAs, também chamada de


silenciamento por RNA ou silenciamento gênico pós-transcricional, está presente em cerca de 30%
dos genes humanos. Os RNAs que atuam na regulação de expressão de genes são os microRNAs
(miRNAs) e os pequenos RNAs de interferência (siRNAs) (Figura 6). A enzima Dicer é responsável
por cortar o RNA de fita dupla, gerando siRNAs de fita simples ou miRNAs contendo cerca de 22
nucleotídeos. Esses RNAs interagem com proteínas especificas e formam o complexo silenciador
induzido pelo RNA (RISC). Ao mesmo tempo, o RNA pareia complementarmente com moléculas de
mRNA. A regulação da expressão gênica é realizada por meio de quatro mecanismos conhecidos:
clivagem do mRNA, inibição da tradução e inibição da transcrição.
Figura 6. Regulação da expressão gênica por siRNAs e miRNAs

Fonte: Pierce, 2016

Na regulação por clivagem do mRNA os RISCs pareiam com as moléculas de mRNA e o


clivam com auxílio da enzima Slicer. Após a clivagem, o mRNA é degradado. Dessa forma a
degradação dos mRNA aumenta e a quantidade de proteína sintetizada diminui.

A regulação por inibição da tradução é realizada por miRNA combinados ao RISC que
interagem com mRNA complementares. Pouco se sabe sobre o mecanismo exato dessa via de
regulação, mas acredita-se que o miRNA seja responsável pela inibição do início da tradução, assim
como do alongamento e da tradução.

A regulação por inibição da transcrição ocorre por alterações na estrutura da cromatina


induzida por siRNAs. Esses RNAs interagem com proteínas específicas e formam o complexo
silenciador transcricional RNA (RITS) semelhante ao RISC. Ao mesmo tempo, o siRNA pareia
complementarmente ao DNA ou a uma molécula de mRNA em processo de transcrição e atrai
enzimas que metilam as caudas das histonas, inibindo a transcrição.

71
5.3 Regulação tradicional
Como já vimos, miRNAS associados ao RISC podem inibir o processo de tradução de proteínas.
Entretanto, outros mecanismos de regulação da tradução estão presentes em células eucarióticas.

Ribossomos, aminoacil tRNAs, fatores de iniciação e fatores de alongamento são essenciais


para o início e a continuidade do processo de tradução. A disponibilidade e a atividade desses
componentes afetam a taxa de tradução e, portanto, influenciam a expressão gênica. Um exemplo
claro da atividade desses componentes é a fosforilação (adição de grupo fosfato) do fator-2 de
iniciação eucariótica (eIF-2). Para que o processo de tradução se inicie, a proteína elF-2 deve se
ligar a subunidade menor do ribossomo. Essa ligação ocorre somente quando a elF-2 não está
fosforilada, o que chamamos de estado ligado. Quando a eIF-2 está fosforilado, ou seja, desligada,
sua estrutura se modifica e já não é mais capaz de desempenhar seu papel na iniciação da tradução.
A fosforilação e, consequentemente, a inativação de fatores de início da tradução podem ocorrer em
resposta a estresse celular: carência de aminoácidos, carência de glicose, infecção viral, entre
outros.

A maioria das proteínas recém-traduzidas são incapazes de exercer sua função biológica e
necessitam de alterações estruturais para que se tornem ativas. São diversas as alterações que
podem ocorrer: clivagem seletiva, retirada de aminoácidos das extremidades, fosforilação,
acetilação, alquilação, metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, formação de pontes dissulfeto
etc. A adição ou remoção de grupos químicos é responsável pela regulação da atividade proteica ou
o tempo em que a proteína permanece na célula antes de ser degradada. As modificações químicas
também determinam o direcionamento de proteínas para locais onde sua atividade é necessária, por
exemplo: no núcleo, no citoplasma, aderida à membrana plasmática etc.

A fosforilação é uma das modificações pós-tradicionais mais comuns nas quais um grupo
fosfato é ligado à proteína. As consequências da fosforilação variam de proteína para proteína:
algumas são ativadas pela fosforilação, outras são desativadas, enquanto outras alteram totalmente
seu comportamento, podendo interagir com moléculas diferentes ou se direcionando para outra
região da célula.

A ubiquitinação consiste na marcação da proteína com um marcador químico


chamado ubiquitina. As proteínas podem ser marcadas para degradação pela adição de um
marcador químico chamado ubiquitina. As proteínas marcadas dessa maneira são direcionadas ao
proteassoma, complexo enzimático responsável pela degradação de proteínas. A ubiquitinação
regula e controla permanência da proteína na célula.

Para saber um pouco mais sobre a regulação da expressão gênica em eucariotos e o que a difere da regulação
da expressão gênica em procariotos, acesse: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/gene-regulation>

72
5.4 Silenciamento gênero-específico de genes e cromossomos inteiros
O Imprinting genômico consiste no fenômeno de padrão de herança em que determinados genes
são expressos apenas por um alelo, enquanto o outro permanece metilado. Durante o
desenvolvimento dos gametas, grupos metil são adicionados a molécula de DNA em regiões
reguladoras de genes imprintados em apenas um sexo. Genes imprintados são expressos como se
apenas uma única cópia do gene estivesse presente na célula, embora existam duas (diploides).

Um exemplo claro são os genes Igf2 e H19 de camundongo. O alelo Igf2 é expresso no animal
apenas se ele for herdado do pai, o que chamamos de imprinting materno, visto que a cópia do
gene derivada da mãe é inativa. O alelo H19 é expresso apenas se for herdado da mãe, o que
chamamos de imprinting paterno, visto que a cópia paterna é inativa.

Os genes Igf2 e H19 fazem parte de um grupo de genes imprintados no cromossomo 7 de camundongo.
Estima-se que cerca de 100 genes são imprintados no genoma de camundongos. Os seres humanos
compartilham a maior parte dos mesmos genes imprintados de camundongos.

Existe uma região específica do DNA localizada entre os genes Igf2-H19 metilada em células
germinativas masculinas e não metilada em células germinativas femininas. Chamamos essa região
de região de controle de imprinting (ICR). (Figura 7). A metilação da ICR resulta em ativação de Igf2
e em inativação de H19, enquanto a ausência de metilação leva ao contrário. A ICR não metilada
(materna) interage com uma proteína reguladora chamada de CTCF, que impede a ativação da
transcrição de Igf2 pelo acentuador. No entanto, o acentuador ainda é capaz de ativar a transcrição
de H19. No alelo paterno, a CTCF não consegue se ligar à ICR devido à metilação da região, então
o acentuador é capaz de ativar a transcrição de Igf2. Entretanto, a transcrição de H19 não ocorre
visto que a região metilada se estende até o promotor H19, impedindo a ligação de proteínas
necessárias para o início da transcrição.
Figura 7. Mecanismo de imprinting genômico

Fonte: Griffiths et al., 2016

73
Indivíduos de espécies haploides produzem aproximadamente a mesma quantidade de
transcritos em relação a cada gene que os compõem. Se ambos os cromossomos X fossem
expressos no sexo feminino, os indivíduos não produziriam o mesmo número de transcritos de genes
localizados nos cromossomos sexuais, visto que o número de cromossomos sexuais X e Y difere
entre os sexos (XX e XY). Fêmeas apresentariam o dobro de cópias dos genes ligados ao X e,
consequentemente, expressariam o dobro de transcritos desses genes do que os machos. A
ausência de um cromossomo Y nas fêmeas não é um problema, pois esse cromossomo possui
pouquíssimos genes, necessários apenas para o desenvolvimento da masculinidade.

Esse desequilíbrio na dosagem de transcritos não ocorre pois é corrigido por meio de um
processo chamado compensação de dose, que torna a quantidade da maior parte dos transcritos
do cromossomo X no sexo feminino equivalente à dose única do cromossomo X no sexo masculino.
Essa equivalência de doses é alcançada por meio da inativação aleatória de um dos dois
cromossomos X de células femininas no estágio inicial do desenvolvimento. O cromossomo X
inativado (Xi), também chamado de corpúsculo de Barr, pode ser observado no núcleo das células
somáticas como uma estrutura heterocromática altamente condensada e fortemente corada. A maior
parte dos genes no cromossomo Xi é silenciada por mecanismos que incluem H3K9me,
hipoacetilação de histonas e hipermetilação do DNA.

O processo de conversão de um cromossomo X totalmente funcional em heterocromatina em humanos ainda


está sob investigações. Entretanto, em camundongos, o mecanismo é bem caracterizado. Investigue como se
dá a inativação do cromossomo X em fêmeas de camundongos.

Considerações finais
A regulação da expressão gênica consiste em um conjunto de mecanismos responsáveis pelo
controle do fluxo de informação que sai da molécula de DNA, passa pela molécula de RNA e chega
ao produto final, a proteína. O controle desse processo é de extrema importância para as células.
Um organismo multicelular, como nós, humanos, contém tipos celulares distintos (celular epiteliais,
hepáticas, neurônios etc.) e cada tipo celular expressa conjuntos de genes diferentes apesar de
possuírem o mesmo DNA. Esse conjunto de genes expressos determina quais proteínas e RNAs
funcionais e em qual quantidade a célula irá apresentar cada uma delas, conferindo-lhe suas
características únicas.

Graças a regulação gênica, cada tipo de célula possui um conjunto distinto de genes ativados,
permitindo a presença de conjuntos diferentes de proteínas e tornando cada célula exclusivamente
especializada em uma função. Além disso, esse conjunto de genes ativados também se altera
durante o processo de desenvolvimento desde o zigoto, passando pela adolescência e chegando ao
envelhecimento.

74
Neste capítulo, vimos que em células eucarióticas, a estrutura da cromatina em seu estado natural inibe a
expressão gênica. Para que o processo de transcrição se inicie, a estrutura da cromatina precisa ser alterada
para que o DNA se torne mais acessível para a complexa maquinaria de transcrição. Essa alteração pode
ocorrer pelo reposicionamento dos nucleossomos e pela modificação das proteínas histonas, incluindo
acetilação, fosforilação, metilação e ubiquitinação. Além disso, a metilação do DNA também é capaz de alterar
a estrutura da cromatina e assim interferir no processo de transcrição.
O início da transcrição em células eucarióticas é controlado por fatores de transcrição gerais que se associam,
formando o complexo de iniciação da transcrição e por proteínas reguladoras de transcrição que se ligam a
promotores regulatórios e acentuadores, estimulando ou reprimindo o processo de transcrição.
Acentuadores são sequências no DNA que estimulam a transcrição de genes distantes quando proteínas se
ligam a elas. Insuladores são sequências no DNA que limitam a ação dos acentuadores, bloqueando sua ação
de modo dependente da localização.
A expressão de genes nas células eucarióticas ainda pode ser influenciada pelo processamento (recomposição
alternativa) e degradação da molécula de RNA.
Além das proteínas, pequenos RNAs também podem interferir na expressão gênica, interagindo com o mRNA
por meio de quatro mecanismos conhecidos: clivagem do mRNA, inibição da tradução e inibição da transcrição.
A maioria das proteínas recém-traduzidas são incapazes de exercer sua função biológica, necessitando de
alterações estruturais para que se tornem ativas, como: clivagem seletiva, retirada de aminoácidos das
extremidades, fosforilação, acetilação, alquilação, metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, formação de
pontes dissulfeto etc. Essas alterações também são consideradas formas de regulação da expressão gênicas.
O silenciamento gênero-específico de genes e cromossomos inteiros também é um fenômeno epigenético que
controla a expressão de determinados genes, temos como exemplos o imprinting genômico e a inativação
aleatória do cromossomo X.

Considerando o papel de acentuadores e insuladores na regulação da expressão gênica, assinale a alternativa


correta.

A) Acentuadores são moléculas que interferem na tradução


B) Acentuadores interagem com sequencias promotoras e induzem a transcrição
C) Acentuadores estão localizados próximo ao gene
D) Insuladores são moléculas que interferem na tradução
E) Insuladores estimulam a ação de acentuadores

Resposta: B

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Considerando o Silenciamento gênero-específico de genes, assinale a alternativa correta.

A) Imprinting genômico superativa a transcrição de genes


B) Imprinting genômico ocorre pela acetilação do DNA
C) Genes imprintados são expressos como se houvesse apenas uma única cópia do gene
D) Genes imprintados são expressos como se houvesse três cópias do gene
E) Genes imprintados são expressos como se houvesse quatro cópias do gene

Resposta: C

A modificação de histonas consiste na modificação química das caudas das proteínas histonas pertencentes
ao octâmero de histonas do nucleossomo. Cite e explique dois tipos de modificação de histonas.

Resposta: A adição de grupos metila às caudas das proteínas histona é chamada de metilação de histonas.
Essas alterações provocam a ativação ou a repressão da transcrição do gene em questão, dependendo de
quais aminoácidos na cauda da histona são metilados.
A adição de grupos acetila às caudas das histonas é chamada de acetilação de histonas. A acetilação das
histonas na maioria das vezes desestabiliza a estrutura da cromatina e estimula a transcrição dos genes.

O livro “Fundamentos de genética”, dos autores Snustad e Simmons, descreve a regulação gênica em
procariotos e eucariotos de forma simples. Por esse motivo, é uma ótima referência complementar ao capítulo
que acabamos de estudar.

76
UNIDADE III
CAPÍTULO 6 - MUTAÇÃO E REPARO

No término deste capítulo, você deverá saber:


✓ Alterações do DNA
✓ Alterações cromossômicas
✓ Mecanismos de reparo do DNA

Introdução
Apesar de a molécula de DNA ser altamente estável, erros na replicação e mudanças da sua
estrutura podem ocorrer. Definimos mutação como uma alteração na informação genética, sendo
herdada por células ou organismos. Essa alteração varia desde uma simples troca de um par de
bases por outro até o desaparecimento de um cromossomo inteiro.

Podemos classificar as mutações em dois tipos considerando o tipo de célula em que elas
ocorrem. As mutações somáticas ocorrem em células somáticas, ou seja, todas as células de um
organismo exceto os gametas. Nesse tipo de célula, a mutação é transmitida para suas células-filhas
(mitose), resultando um uma população limitada de células contendo a alteração. As mutações
germinativas ocorrem em células germinativas (gametas). Esse tipo de mutação pode ser
transmitido para as futuras gerações, resultando em organismos que contenham a alteração em
todas as suas células.

Mutações têm papel fundamental na evolução das espécies, sendo a sua matéria-prima a
fonte de todas as variações genéticas. A capacidade de as espécies se adaptarem à mudança
ambiental depende diretamente da variação genética na população. Novos alelos são produzidos
por mutações de forma espontânea ou resultantes da exposição à radiação ou substâncias químicas
do ambiente. Mutações também são úteis no estudo de processos biológicos. Quando cientistas
encontram ou induzem mutações que afetam diferentes elementos de um sistema biológico, o estudo
dos seus efeitos pode levar à compreensão do sistema. Por outro lado, mutações podem resultar em
características prejudiciais não desejáveis, podendo ser a causa de muitas doenças e distúrbios.

Para saber um pouco mais sobre a relação entre mutações e o desenvolvimento de canceres, acesse: <
https://www.abrale.org.br/revista-online/mutacao-genetica-e-cancer/ >

As células apresentam sistemas de identificação e reparo do DNA alterado, impedindo que a


maioria das mutações se estabeleçam. Entretanto, nem todas as mutações podem ser evitadas e
isso, de certa forma, é algo desejável nas células, visto que variações genéticas são importantes
para a evoluções dos organismos. Um baixo nível de mutações deve ser tolerado.

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Neste capítulo, estudaremos os tipos de alterações que ocorrem nos genes e no cromossomo
inteiro (vários genes), além de estudar os mecanismos de reparo das células a essas mutações.

6.1 Alterações do DNA


As alterações na molécula de DNA são chamadas de mutação de ponto e se refere a mudança em
um único ou um pequeno número de pares de bases do DNA. As mutações de ponto são
classificadas quanto às alterações moleculares e quanto aos seus efeitos sobre a função proteica
(Figura 1). Os dois principais tipos de mutação de ponto no DNA são as substituições, as inserções
também conhecidas deleções de bases.

Figura 1. Tipos de mutações nos genes e suas consequências

Fonte: Griffiths et al., 2016

As substituições de bases ocorrem quando um par de bases é substituído por outro. Esse
tipo de mutação é subdividido em: transições e transversões. A transição é a substituição de uma
base por outra base da mesma categoria química, ou seja, uma purina é substituída por outra purina
ou uma pirimidina é substituída por outra pirimidina. A transversão é a substituição de uma base por
outra de uma categoria química diferente, ou seja, uma purina é substituída por uma pirimidina ou
uma pirimidina é substituída por uma purina.

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Em nível funcional, quando esse tipo de mutação ocorre em uma parte codificadora de um
gene, existem diversos desfechos possíveis. Quando a substituição altera o códon, mas o
aminoácido traduzido continua sendo o mesmo (código degenerado), chamamos de mutação
sinônima ou silenciosa. Esse tipo de mutação nunca altera a sequência de aminoácidos da
proteína. Quando a substituição altera o códon e o aminoácido traduzido, chamamos de mutação
de sentido trocado ou não sinônimas. Esse tipo de mutação pode substituir um aminoácido por
outro quimicamente semelhante, sendo chamada de substituição conservativa. Dessa forma,
apresenta menor probabilidade de alterar de forma grave a estrutura e a função da proteína
traduzida. Por outro lado, a substituição pode ser feita por um aminoácido quimicamente distinto,
sendo chamada de substituição não conservativa. Dessa forma, apresenta maior probabilidade
de alterar de forma grave a estrutura e a função da proteína traduzida. Quando a substituição
transforma o códon de um aminoácido para o um códon de parada, chamamos de mutação sem
sentido. Esse tipo de mutação antecipará o término da tradução, podendo alterar gravemente a
estrutura e a função da proteína.

As inserções ou deleções, também chamadas de mutações indel, ocorrem quando um par


de base é inserido ou deletado da sequência de nucleotídeos respectivamente.

A nível funcional, quando esse tipo de mutação ocorre em uma parte codificadora de um
gene, há alteração da matriz de leitura do restante dos códons e alteração da sequência de
aminoácidos da proteína. Por esse motivo, são chamadas de mudança de matriz de leitura
(frameshift mutations). A alteração da sequência de aminoácidos na proteína muitas vezes é
responsável pela perda completa da estrutura e da função proteica original.

A mutações, sendo elas substituições, inserções ou deleções, podem ocorrer em regiões não
codificadoras. Regiões de um gene que não codificam diretamente uma proteína podem conter
diversos sítios de ligação cruciais para que a proteína produzida seja funcional. As consequências
funcionais irão depender do fato de a mutação anular ou criar um sítio de ligação. Mutações que
comprometem sítios de ligação irão alterar o padrão de expressão de um gene, ou seja, irão alterar
a quantidade de produto proteico produzido e não a estrutura da proteína.

No ano de 1974, Bruce Ames desenvolveu o teste de Ames para avaliar o potencial de substâncias químicas
de induzir ao surgimento de câncer. O teste é simples e se baseia no princípio de que o câncer e as mutações
surgem devido a danos na molécula de DNA. Bruce demonstrou com ajuda de seus experimentos que 90%
dos carcinógenos (substâncias capazes de induzir câncer) conhecidos também são mutágenos (substâncias
capazes de induzir dano ao DNA).

Mutações nos genes podem ocorrer de forma espontânea ou induzida. As mutações


espontâneas são aquelas que ocorrem naturalmente. Esse tipo de mutação pode ocorrer durante o
processo de replicação do DNA que produz erros na cópia de milhões de pares de bases em um
genoma. Além disso, lesões espontâneas podem ocorrer devido à fragilidade da molécula de DNA,
e o próprio meio celular pode danificá-lo, além da ação de radiações e mutágenos. As mutações

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induzidas são realizadas intencionalmente em laboratório por meio da ação de agentes mutágenos
ou radiações.

6.2 Alterações cromossômicas


Cada espécie apresenta um conjunto característico de cromossomos presente em todas as células
de um organismo (exceto os gametas). Cada um destes cromossomos apresenta estrutura e número
específicos. Variações na estrutura e no número dos cromossomos são chamadas mutações
cromossômicas. As mutações cromossômicas podem ser divididas em três categorias: rearranjos
cromossômicos, aneuploides e poliploides (Figura 2).

Figura 2. Alterações cromossômicas

Fonte: Griffiths et al., 2016

Rearranjos cromossômicos são mutações que alteram a estrutura dos cromossomos.


Muitas dessas alterações surgem quando ocorrem quebras bifilamentares nas moléculas de DNA
encontradas em um cromossomo, as quais podem ser letais se não forem reparadas. As células
possuem sistemas de reparo, reconectando as extremidades rompidas do DNA. Se as duas
extremidades da mesma quebra forem reunidas corretamente, o cromossomo original é restaurado
e nenhuma dano é causado ao organismo. No entanto, se duas extremidades diferentes forem
unidas, teremos como resultado um rearranjo cromossômico. Os rearranjos cromossômicos são
divididos em quatro tipos principais: duplicações, deleções, inversões e translocações.

A duplicação cromossômica ocorre quando uma região do cromossomo é duplicada (Figura


3). Essas regiões duplicadas podem estar localizadas adjacentes entre si, também chamadas de
duplicação em tandem, ou podem estar localizadas em diferentes locais no genoma, também
chamadas de duplicação insercional. Duplicações estão relacionadas a anormalidades causadas
por um desbalanço da expressão gênica devido à cópia extra da região. Temos como exemplos a
síndrome DiGeorge (DGS), a síndrome velocardiofacial (VCFC) etc.

80
Figura 3. Duplicação cromossômica

Fonte: Pierce, 2016

A deleção cromossômica ocorre quando há a perda de uma região do cromossomo (Figura


4). O surgimento de uma deleção exige duas quebras cromossômicas para que um segmento seja
cortado. A deleção em uma pequena região dentro de um gene, também chamada de deleção
intragênica, inativa o gene. As deleções intragênicas se diferem de alterações em um único
nucleotídeo, visto que os genes com as deleções nunca revertem para o original. A deleção em uma
extensa região englobando muitos genes, também chamada de deleção multigênica, pode causar
graves consequências. Se a deleção ocorrer em ambos os cromossomos homólogos, o resultado
será sempre letal. Temos somo exemplo a síndrome cri du chat, da síndrome de Williams etc.

Figura 4. Deleção cromossômica

Fonte: Pierce, 2016

A inversão cromossômica ocorre quando há duas quebras, giro e reinserção da região


cromossômica (Figura 5). Quando a região da inversão envolve apenas o braço do cromossomo,
ocorre inversão paracêntrica (Figura 5A). Quando a região de inversão envolve o centrômero, ocorre
inversão pericêntrica (Figura 5B). Esse tipo de alteração cromossômica não causa desbalanço na
expressão gênica, é viável e não causa alteração fenotípica.

81
Figura 5. Inversão cromossômica.

Fonte: Adaptado de Pierce, 2016

A translocação cromossômica ocorre quando uma região de um cromossomo se insere em


um outro cromossomo não homólogo. Essa alteração cromossômica pode afetar o fenótipo de
diferentes formas. Por exemplo, a nova inserção pode afetar a expressão do gene devido a sua
posição. Em outras palavras, a expressão do gene translocado podem ficar sob o controle de
diferentes sequências regulatórias ou de outros genes que afetam sua expressão.

A aneuploidia é a mutação que altera o número de cromossomos, aumentando ou reduzindo.


Esse tipo de alteração pode surgir de várias formas. Uma delas é a perda de um cromossomo por
não conter seu centrômero durante a mitose ou meiose. Outra forma é a não disjunção dos
cromossomos homólogos durante a meiose ou mitose (Figura 6).

82
Figura 6. Aneuploidias resultantes da não disjunção na meiose e na mitose

Fonte: Pierce, 2016

Em indivíduos diploides, podemos encontrar quatro tipo de aneuploidias: nulissomia,


monossomia, trissomia e tetrassomia.

A nulissomia ocorre quando há a perda de ambos cromossomos homólogos (2n – 2). Um


zigoto humano nulissômico apresenta 44 cromossomos.

A monossomia ocorre quando há a perda de um único cromossomo (2n – 1). Um zigoto


humano monossômico apresenta 45 cromossomos. Em seres humanos, a monossomia em qualquer
um dos cromossomos autossomos é letal, assim como a maioria das monossomias do cromossomo
X. Entretanto, alguns são viáveis e resultam na síndrome de Turner (XO).

Investigue as alterações fenotípicas a síndrome de Turner.

83
A trissomia ocorre quando há ganho de um único cromossomo (2 n + 1). Um zigoto humano
trissômico tem 47 cromossomos. Temos como exemplos a síndrome de Down (trissomia do
cromossomo 21), a síndrome de Edward (trissomia do cromossomo 18), a síndrome de Patau
(trissomia do cromossomo 13), etc.

A tetrassomia ocorre quando há ganho de dois cromossomos homólogos (2n + 2). Um zigoto
humano tetrassômico tem 48 cromossomos.

Como já aprendemos, cada espécie tem um conjunto característico de cromossomos.


Organismos que contêm um único conjunto são denominados haploides (n), e organismos que
contêm dois conjuntos de cromossomos são denominados diploides (2n). Tanto a haploidia quanto
a diploidia são casos de euploidia normal. Organismos que contêm mais ou menos do que a
quantidade característica de cromossomos de sua espécie são chamados de euploides aberrantes.
Poliploides são organismos que contêm mais de dois conjuntos de cromossomos, podendo ser
triploides (3n), tetraploides (4n), pentaploides (5n), hexaploides (6n) e assim por diante.
Monoploides são os organismos de uma espécie normalmente diploide que apresenta apenas um
conjunto de cromossomos (n). O aumento no número de cromossomos em organismos poliploides
está relacionado ao aumento do volume do núcleo e, assim, ao aumento do tamanho da célula.
Dessa forma, muitos poliploides são maiores que os diploides. Em plantas, células maiores podem
resultar em folhas, flores, frutas e sementes maiores, sendo uma característica desejável nestes
organismos. Em animais, a poliploidia é menos comum do que em plantas.

6.3 Mecanismos de reparo do DNA


A células contêm diversas vias complexas de reparo da molécula de DNA e empregam cerca de 100
proteínas conhecidas. A maioria dessas vias requer duas fitas de DNA, utilizando uma como molde
para a substituição do nucleotídeo errado. Além disso, mais de uma via é responsável pelo reparo
de um mesmo tipo de dano; portanto, se um erro escapar de uma via de reparo, é provável que outra
via o repare, garantindo que a maioria dos erros sejam corrigidos. Aqui, vamos analisar algumas das
principais vias de reparo do DNA: reparo de pareamento errado, reparo direto, reparo por excisão de
base, reparo por excisão de nucleotídeo e reparo de quebras bifilamentares.

Durante o processo de replicação do DNA, bases pareadas de forma errada são incorporadas
à nova fita de DNA em uma frequência de cerca de 10−5. A maioria desses erros é corrigida
rapidamente por revisões realizadas pelas enzimas DNA polimerases I e III, reduzindo a taxa de erro
para menos de 10–7. Erros que escapam a detecção feita por essas enzimas são submetidos ao
reparo de pareamento errado ou também chamado de reparo pós replicação. Enzimas
especializadas identificam pareamentos errados e pequenas alças causadas pela inserção ou pela
deleção de nucleotídios (indels) e os substituem pelos nucleotídeos corretos, reduzindo a taxa de
erro para menos de 10–9.

O reparo direto é o mecanismo da célula que não substitui nucleotídeos, mas os modificam
para que voltem as suas estruturas originais. Um exemplo de reparo direto é a fotorreativação dos
dímeros de pirimidina induzidos pelo UV (Figura 7). A enzima fotoliase se liga ao fotodímero e utiliza
a energia da luz do comprimento de onda maior que 300 nm para quebrar as ligações covalentes
que unem as pirimidinas como um dímero.

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Figura 7. Fotorreativação pela enzima fotoliase

Fonte: Griffiths et al., 2016

O reparo por excisão de base é o mecanismo que remove bases incorretas ou danificadas
em regiões não volumosas do DNA (Figura 8). A enzima DNA glicosilase é responsável por clivar as
ligações base-açúcar e liberar as bases alteradas, gerando sítios apurínicos ou apirimidínicos (AP).
Em seguida, a enzima endonuclease AP corta a fita danificada upstream do sítio AP e a enzima
desoxirribofosfodiesterase (dRpase) remove resíduos de açúcar-fosfato. Por fim, uma DNA
polimerase adiciona nucleotídeos corretos na região removida e DNA ligase sela o novo nucleotídeo
na fita de DNA.

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Figura 8. Processo de reparo por excisão de base

Fonte: Griffiths et al., 2016

O reparo por excisão de nucleotídeo é o mecanismo que corrige adições volumosas que
distorcem a hélice do DNA, como dímeros de pirimidina (Figura 9). Um complexo de enzimas é
responsável pela identificação dessas distorções da configuração tridimensional da molécula de
DNA. Em seguida, enzimas adicionais separam as duas fitas do DNA na região danificada e
proteínas chamadas de proteínas ligadoras de fita única estabilizam as fitas únicas. Então, a região
danificada é clivada enzimaticamente em ambos os lados. A remoção da região clivada é feita pelas
enzimas helicases e, por fim, a DNA polimerase adiciona nucleotídeos corretos na região removida
e a DNA ligase sela o novo segmento de nucleotídeos na fita de DNA.

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Figura 9. Processo de reparo por excisão de nucleotídeos

Fonte: Pierce, 2016

87
As doenças autossômicas recessivas xeroderma pigmentoso (XP) e síndrome de Cockayne são causadas por
defeitos na via do reparo por excisão de nucleotídeo. Os pacientes de ambas as síndromes são
excepcionalmente sensíveis à luz UV. Entretanto, outros sintomas são muito diferentes: o XP é caracterizado
pelo desenvolvimento precoce de cânceres e, em alguns casos, ocorrem defeitos neurológicos e os pacientes
da síndrome de Cockayne apresentam diversos sintomas de distúrbios do desenvolvimento, incluindo nanismo,
surdez e retardo.

A quebra bifilamentar, ou seja, a quebra da dupla fita do DNA, é um dano muito comum,
sendo causada por radiação ionizante, espécies reativas de oxigênio e outros agentes que possam
danificar a molécula. Esse tipo de dano pode causar rearranjos cromossômicos e até resultar em
morte celular ou em estado pré-canceroso. Os principais mecanismos de reparo de quebras
bifilamentares envolvem a recombinação homóloga e a junção de extremidades não homólogas.

A exposição frequente aos raios X pode causar a quebra bifilamentar da molécula de DNA e, possivelmente,
o desenvolvimento de forma cancerosas.

A recombinação homóloga realiza o reparo de uma molécula de DNA utilizando a


informação genética contida na molécula de DNA de um cromossomo homólogo (cromátide-irmã)
(Figura 10). O processo inicia com a remoção de alguns nucleotídeos nas extremidades 5’ rompidas
por uma endonuclease e, em seguida, as fitas quebradas invadem a cromátide-irmã não danificada
em busca da sequência complementar que será utilizada como molde. Uma alça D (deslocamento)
se forma quando a extremidade 3′ do filamento invasor desloca uma das cromátides-irmãs não
danificada e então a síntese do novo segmento é iniciada até que ambas as fitas se desenrolem de
seus moldes e se pareiem. As extremidades são então seladas.

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Figura 10. Recombinação homóloga

Fonte: Griffiths et al., 2016

89
A via de junção de extremidades não homólogas se inicia quando as proteínas KU70 e
KU80 se ligam às extremidades quebradas da molécula de DNA, formando um heterodímero (Figura
11). O heterodímero formado previne leões adicionais às extremidades quebradas e recruta
proteínas responsáveis pelo corte das extremidades da fita, gerando as extremidades 5′-P e 3′-OH
necessárias para a ligação. Por fim, a enzima DNA ligase IV une as duas extremidades.

Figura 11. Junção de extremidades não homólogas

Fonte: Griffiths et al., 2016

90
Considerações finais
A dupla fita do DNA faz com que a molécula seja altamente estável, entretanto erros na replicação e
alterações na sua estrutura podem ocorrer. Chamamos essas alterações na informação genética de
mutações, sendo herdada por células ou organismos.

Mutações desempenham um papel importante na evolução das espécies, sendo a fonte de


todas as variações genéticas. Como já discutimos, a capacidade de as espécies se adaptarem à
mudança ambiental depende diretamente da variação genética na população. Por outro lado,
mutações estão associadas a diversas doenças e distúrbios genéticos, tais como xeroderma
pigmentoso, síndrome de Down etc. Além disso, quando mutações ocorrem em células somáticas,
se não reparadas, podem ser a fonte de muitos cânceres humanos. Dessa forma, é importante que
as células façam o reparo de grande parte das alterações que surgem na informação genética contida
na molécula de DNA.

Neste capítulo, estudamos as alterações que ocorrem em genes ou em cromossomos inteiros. Essas
alterações são chamadas de mutações, sendo herdadas por células (mutações somáticas) ou organismos
(mutações germinativas).
Alterações na molécula de DNA são chamadas de mutação de ponto e se referem a mudanças em um único
ou um pequeno número de pares de bases do DNA. O tipo mais simples é uma substituição de base, na qual
transições são substituições de purinas por purinas, ou pirimidinas são substituídas por pirimidinas, e
transversões são substituições de purinas por pirimidinas ou pirimidinas por purina. Outros tipos de mutação
de ponte são as inserções e deleções (indel), sendo inserções a adição de nucleotídeos, e deleções, a remoção
dos nucleotídios.
Mutações em cromossomos inteiros também podem ocorrer e variam em estrutura e número. Os três tipos de
mutações cromossômicas são: rearranjos cromossômicos, aneuploidia e poliploidia. Os rearranjos
cromossômicos são mudanças nas estruturas dos cromossomos, podendo ser duplicações, deleções,
inversões ou translocações. A aneuploidia é o aumento ou a redução no número de cromossomos, podendo
ser nulissomia (perda de dois cromossomos homólogos), monossomia (perda de um cromossomo homólogo),
a trissomia (adição de um cromossomo homólogo) ou tetrassomia (adição de dois cromossomos homólogos).
A poliploidia consiste no aumento de conjuntos inteiros de cromossomos.
Em células saudáveis, a maioria desses danos a molécula de DNA é corrigida por mecanismos de reparo, que
incluem reparo de pareamento errado, reparo direto, reparo por excisão de bases, reparo por excisão de
nucleotídeo e mecanismos de reparo da quebra bifilamentar. As quebras de fita dupla são reparadas pela
recombinação homóloga e junção de extremidades não homólogas. Danos ao DNA que não são reparados
são a causa principal de várias doenças genéticas.

(ENADE, 2019) A Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR) pode ser utilizada em diagnóstico
molecular de doenças genéticas, detecção de patógenos, identificação humana e de espécies virais ou
bacterianas, níveis de expressão gênica, resistência a antimicrobianos, entre outras aplicações.

91
PEREIRA, T. C. Introdução às técnicas de PCR convencional em tempo real e digital. Ribeirão Preto:
SBG, 2018 (adaptado).
O gráfico a seguir representa em A os ciclos de amplificação do qPCR (escala log) do gene ACTB (B-actina,
constituinte do esqueleto celular), e em B, os do gene COL1A1 (colágeno1, associado a osteogênese
imperfeita). O Ct (ciclo threshold) de ACTB é 18 e o de COL1A1 é 22.

Disponível em: <https://www.thermofisher.com/content/dam/LifeTech/Documents/PDFs/PG1503-PJ9169-


CO019879-Re-brand-Real-Time-PCR-Understanding-Ct-Value-Americas-FHR.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2019
(adaptado).

Considerando as informações apresentadas, avalie as afirmações a seguir.


I. O valor do Ct de COL1A1 indica que a expressão desse gene é 16 vezes maior do que a do gene ACTB.
II. A linha do threshold indica o limiar de falsos positivos quando as amostras de DNA estão contaminadas.
III. A inclinação horizontal no fim da curva de amplificação indica que a reação chegou na fase de estabilização
da amplificação ou na fase platô.

É correto o que se afirma em


A) I, apenas.
B) III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.

Resposta: B

92
Questão Objetiva
(ENADE 2017) Os alimentos transgênicos resultam de um processo de modificação molecular por meio das
técnicas de engenharia genética. A obtenção de plantas transgênicas passa por três etapas: obtenção do gene
que deve ser incorporado em um vetor para se processar a transformação; introdução do gene na planta
receptora; e regeneração da célula em uma nova planta, por meio da cultura de tecidos.
Disponível em: <http://www.fruticultura.iciag.ufu.br>. Acesso em: 9 jul. 2016 (adaptado).

A respeito dos vetores utilizados na engenharia genética, avalie as afirmações a seguir.

I. Os plasmídeos bacterianos são utilizados como vetores de clonagem do gene de interesse para a
transformação genética em plantas.
II. Os plasmídeos são dependentes do DNA cromossômico para replicação, sendo frequentemente
manipulados no processo de transformação gênica.
III. Para ser um bom vetor de clonagem, um plasmídeo deve possuir origem de replicação, sítios de clivagem
para endonucleases de restrição e um gene que codifique resistência a um antibiótico.

É correto o que se afirma em


A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.

Resposta: C

Questão Discursiva
Diferencie poliploidia de monoploidia.

Resposta: Poliploides são organismos que contêm mais de dois conjuntos de cromossomos, podendo ser
triploides (3n), tetraploides (4n), pentaploides (5n), hexaploides (6n) e assim por diante. Monoploides são os
organismos de uma espécie normalmente diploide que apresenta apenas um conjunto de cromossomos (n).

93
O livro “Genética – Um enfoque conceitual” escrito por Benjamin A. Pierce traz diversos conceitos em
genética e descreve de forma didática os mecanismos de mutação e reparo do DNA, além das alterações
cromossômicas. Pode ser utilizado como uma ótima referência complementar ao capítulo que acabamos de
estudar.

94

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