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Unidade I
Prof.ª Me. Leticia Santos Pimentel
Prof. Dr. Romualdo Morandi Filho
Prof. Guilherme Bernardes Filho
Diretor Presidente
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes
Diretor Tesoureiro
Prof. Frederico Ribeiro Simões
Reitor
UNISEPE – EaD
Prof.ª M.ª Caroline das Neves Mendes Nunes
Prof. Danillo Yuzo Fujii Sakuma
Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos
Prof. Me. Igor Gabriel Lima
Prof. Dr. José Luís Izidoro
Prof. Dr. Jozeildo Kleberson Barbosa
Prof. Me. Leonardo José Tenório Mourão Torres
Prof. Me. Ricardo Nakamura
Equipe editorial:
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395
Isis Gabriel Alves
Laura Lemmi Di Natale
Pedro Ken-Iti Torres Omuro
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável
Apoio técnico:
Alexandre Meanda Neves
Anderson Francisco de Oliveira
Douglas Panta dos Santos Galdino
Fabiano de Oliveira Albers
Gustavo Batista Bardusco
Kelvin Komatsu de Andrade
Matheus Eduardo Souza Pedroso
Vinícius Capela de Souza
Revisão:
Isabela da Silva Pery
Diagramação:
Felipe Motta Miguel
SOBRE OS AUTORES
Formado em Biomedicina pela Universidade Presidente Antônio Carlos em 2010 e em Farmácia pela
Universidade do Triângulo em 2011. Especialista em Docência do Ensino Superior, Médio e Técnico
pelo Instituto Passo 1. Mestre em Biologia Celular e Estrutural Aplicadas e Doutor em Genética e
Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia em 2019. Já atuou em laboratório de análises
clínicas e drogarias e desde 2014 trabalha como docente no ensino superior, principalmente nos
cursos de biomedicina e farmácia.
SOBRE A DISCIPLINA
UNIDADE I ............................................................................... 05
1º Bioética ................................................................,......................... 05
2º Biotecnologia ................................................................................. 16
3º Epidemiologia ................................................................................. 30
4º Biomedicina Estética ....................................................................... 44
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 – BIOÉTICA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Ética x Moral;
✓ Conceito de Bioética;
✓ Fundamentação;
✓ Princípios básicos;
✓ Alguns dilemas bioéticos;
✓ Código de ética profissional.
Introdução
A bioética é um campo que estabelece uma ponte entre o conhecimento científico e o conhecimento
humanístico com o objetivo de auxiliar o enfrentamento de questões bioéticas e evitar que o avanço
das tecnologias não tenha impactos negativos sobre a vida humana e animal.
A fundamentação e os princípios da bioética devem ficar bem claros para todos nós para que
cumpram seus papéis, nos orientando em situações de enfrentamento e tomada de decisões quanto
a questões bioéticas. A bioética não impõe regras de comportamento, o que o faz são as leis. A
bioética oferece subsídios para que as pessoas tenham embasamento para refletir, se comportar e
tomar decisões em relação às diversas situações conflitantes que podem surgir na vida profissional.
Neste capítulo, nós iremos estudar a fundamentação da bioética, bem como seus princípios básicos.
Além disso, discutiremos acerca de alguns dilemas éticos em biotecnologia.
Os princípios da bioética possuem uma hierarquia e devem ser respeitados quanto a essa hierarquia. O
princípio da beneficência/não maleficência deve ser considerado em primeiro lugar, seguido do princípio da
autonomia e do princípio da justiça.
Ética e moral são dois termos confundidos com frequência e é fundamental que saibamos diferenciá-
los. Para isso, devemos entender, em primeiro lugar, a raiz etimológica dessas palavras. Ética vem
do grego “ethos”, que significa modo de ser, caráter. Já moral tem origem latina de “mores”, que
significa costumes. Os termos são muito semelhantes e ambos estão relacionados à conduta da
pessoa.
Entretanto, a ética está voltada para as ações e o comportamento da pessoa de acordo com os
valores morais, classificando essas ações como certas ou erradas, independente das práticas
culturais. Podemos dizer que a ética é a reflexão filosófica sobre a moral, possuindo caráter teórico.
Por outro lado, a moral corresponde aos hábitos, os costumes, as crenças e os tabus estabelecidos
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em uma sociedade, possuindo caráter prático. Sendo assim, podemos afirmar que a ética está
relacionada à questão individual, enquanto a moral está relacionada com questões coletivas.
A bioética surgiu no início da década de 1970 com a publicação de duas obras importantes pelo
pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia Van Rensselaer Potter. Van Potter,
preocupado com as implicações que os avanços da ciência poderiam trazer, principalmente no
âmbito da biotecnologia, propôs um novo campo do conhecimento. Esse novo campo seria
responsável por auxiliar e ajudar nas discussões quanto a possíveis implicações, sendo positivas ou
negativas, dos avanços da ciência sobre a vida humana e animal. Para que isso fosse possível,
sugeriu o estabelecimento da associação entre a ciência e a humanística, acrescentando: “Nem tudo
que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.
O termo bioética vem do grego “bio”, que significa vida, e “ethos”, que significa ética, e é definido
como o estudo interdisciplinar que integra biologia, filosofia (ética) e direito sobre condições
necessárias para a vida humana e animal adequadas, aplicando a ética à vida. Em outras palavras,
a bioética indica limites para a intervenção do homem sobre a vida, considerando os impactos que a
tecnologia pode ter sobre ela.
A bioética considera questões sociais que não possuem consenso moral, como a fertilização in
vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e as pesquisas com células-tronco. Além
disso, considera a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e aplicações, visto que
o emprego de descobertas científicas pode afetar positiva ou negativamente a sociedade e o
ambiente. A base da bioética consiste no respeito ao pluralismo moral, valorizando o desejo livre,
soberano e consciente dos indivíduos e da sociedade, desde que a liberdade e os direitos de outros
indivíduos e outras sociedades são sejam invalidados.
O avanço da ciência e os produtos que dele advém não devem ser vistos como um mal, entretanto o emprego
desses produtos deve ser pautado na ética.
1.3 Fundamentação
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➢ A pessoa humana é única. Cada indivíduo é diferente um do outro e possui suas
características, seus anseios, suas necessidades.
➢ A pessoa humana possui dignidade. O indivíduo possui valor pelo simples fato de ser
pessoa.
Essa identidade única merece e deve ser respeitada. Dessa forma, as pessoas não serão tratadas
apenas como números. Entretanto, nenhuma pessoa é melhor que a outra e, por isso, não deve ser
tratada como tal. A vida de uma pessoa não vale mais que a vida de outra e, quanto à dignidade,
somos todos iguais. Além disso, devemos nos relacionar a uma pessoa respeitando-a em todas as
suas dimensões, caso contrário ela se sentirá desrespeitada.
Reflexões, decisões e ações diante das pessoas devem ser guiadas pelo respeito à pessoa humana
como um ser único dotado de dignidade que é uma totalidade. Quando agimos considerando e
respeitando esse fundamento, estamos agindo de forma ética.
Outra definição importante é a da vida humana. Segundo o campo da Embriologia, a vida humana
inicia-se no momento da fecundação, quando há a junção do gameta masculino e do gameta
feminino. Sendo assim, a partir desse momento essa nova vida deverá ser respeitada. Além disso,
precisamos considerar que a vida é um processo que pode ser:
Infelizmente, o valor da vida de algumas pessoas não foi respeitado em diferentes épocas da história
e, atualmente, em muitos casos, ainda não é. Alguns exemplos: os escravizados no Brasil e atual
consequente discriminação dos afrodescendentes; os prisioneiros nos campos de concentração na
2ª Guerra Mundial; os pacientes com necessidades especiais (como portadores do vírus HIV); as
mulheres e os pobres em diversas sociedades (incluindo a nossa), etc.
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O primeiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de beneficência/não maleficência,
também conhecido como benefício/não malefício. Beneficência significa fazer o bem e não
maleficência significa evitar o mal. Sendo assim, quando um determinado procedimento for proposto
a uma pessoa, o profissional (médico, cientista, etc.) deverá considerar a pessoa como um ser único
dotado de dignidade em sua totalidade, visando sempre oferecer o melhor procedimento disponível.
O melhor procedimento é definido quanto à técnica e quanto ao reconhecimento das necessidades
físicas, psicológicas ou sociais da pessoa. O profissional deve sempre desejar o melhor para a
pessoa humana, visando sempre restabelecer e promover sua saúde ou prevenir um agravo.
Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas e determinou que as pessoas são livres. Para que a autonomia das pessoas seja
respeitada, existem duas condições fundamentais: a liberdade e a informação. Isso significa que a
pessoa deve ser livre para fazer suas decisões sem pressões externas. Qualquer tipo de pressão ou
subordinação impede que a autonomia da pessoa seja respeitada.
Entretanto, alguns grupos de pessoas possuem dificuldade de expressar sua liberdade, elas
possuem autonomia limitada. As crianças são um exemplo claro. Crianças possuem dificuldade de
decidir o que é melhor para a sua própria saúde, apresentando grande tendência em fugir de
qualquer procedimento que pareça desconfortável. Por esse motivo, são os responsáveis pela
criança que fazem as decisões por ela. Pacientes atendidos em clínicas públicas também podem
manifestar autonomia limitada, principalmente quando há fila de espera para o atendimento. A
pessoa geralmente tem medo de reclamar de alguma coisa e perder a vaga que levou tempo para
conseguir. A autonomia limitada também pode ser identificada em alguns casos de pesquisas
realizadas em países subdesenvolvidos. A população desses países (incluindo a do Brasil) são
consideradas vulneráveis.
Em alguns casos, a autonomia limitada pode ser atenuada com o fornecimento de informação
correta às pessoas, restabelecendo uma relação adequada e respeitosa com a pessoa. O
profissional deve explicar de forma clara a proposta de procedimento e confirmar o entendimento
das informações por parte do indivíduo. Esse processo de informação, compreensão e posterior
comprometimento com o procedimento é chamado de consentimento.
Nem sempre a pessoa terá condições de tomar decisões quanto ao tratamento proposto, como quando, por
exemplo, ela é leiga, ou seja, não tem conhecimento técnico sobre o procedimento. Alguns pacientes decidem
por recusar o tratamento prescrito para uma doença. Nesse caso, o profissional não pode simplesmente afirmar
que “o paciente é adulto, possui autonomia e faz o que ele quiser”.
O profissional, que possui conhecimento técnico e sabe que o tratamento é necessário, tem a responsabilidade
de se esforçar ao máximo para que o paciente entenda a importância do tratamento. O princípio da
beneficência deve ser respeitado em primeiro lugar, depois o princípio da autonomia.
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Em alguns casos, a autonomia de algumas pessoas não é respeitada para que o benefício de outras
seja respeitado. Um exemplo claro é a proibição de fumar em ambientes fechados. Nesse caso, a
autonomia daqueles que desejam fumar não é respeitada para que o benefício (ou não malefício)
daqueles que não desejam fumar seja respeitado.
Os três princípios possuem uma hierarquia entre eles e devem sempre ser considerados na ordem
em que foram apresentados aqui. Dessa forma, diante de uma questão bioética, a decisão deve ser
tomada considerando o primeiro fundamento, ou seja, o reconhecimento do valor da pessoa. Em
seguida, devemos decidir por fazer o bem para aquela pessoa, evitando um mal, depois, precisamos
respeitar sua autonomia de escolha, e, por fim, devemos ser justos.
Intervenções em células germinativas são transmitidas a seus descendentes e, por esse motivo,
ultrapassa os limites da autonomia pessoal. Além disso, a manipulação do genoma de células
germinativas como uma intervenção aperfeiçoadora, que meramente atende aos caprichos da
pessoa proprietária da célula, pode gerar danos irreparáveis para as gerações futuras. A terapia
gênica em células germinativas envolve riscos imprevisíveis a longo prazo tanto para a pessoa
proprietária das células como seus descendentes, dificultando sua justificação.
O emprego de algumas técnicas na reprodução assistida também traz grande preocupação quanto
à bioética dessas atividades. No Brasil, em 1992, o Conselho Federal de Medicina (CFM), através
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da Resolução CFM 1358/92, instituiu as Normas Éticas para a Utilização das Técnicas de
Reprodução Assistida. Dessa forma, foram definidos os aspectos éticos mais importantes quanto às
seguintes questões de reprodução humana: o consentimento informado, a seleção de sexo, a
seleção de embriões com base na evidência de doenças ou problemas associados, a doação de
gametas e embriões, a criopreservação de gametas e embriões, a gestação substitutiva, a
reprodução assistida post-mortem e a pesquisa com embriões. Todas as normas éticas definidas
pelo CFM consideram os princípios de autonomia, de beneficência/não-maleficência e de justiça
da bioética.
Quanto à clonagem, no Brasil apenas a clonagem animal é permitida. A lei nº 8.974 proíbe a
clonagem humana, assim como a produção, o armazenamento e a manipulação de embriões
humanos destinados a esse procedimento. Além da redução da diversidade genética, a clonagem
humana não respeita a autonomia do embrião e futura pessoa. Apesar de gêmeos univitelinos serem
considerados clones, visto que são geneticamente idênticos, esses indivíduos dividem uma
identidade genética determinada ao acaso. Ao contrário da identidade genética do clone produzido
em laboratório, que seria escolhida pela pessoa doadora do DNA, anulando a autonomia do indivíduo
gerado. Além disso, há grande risco de indivíduos mal-intencionados buscarem a eugenia, ou seja,
o aperfeiçoamento da raça pela seleção genética.
O profissional de saúde envolvido com os procedimentos da reprodução humana assistida deve agir
eticamente, respeitando a autonomia e o direito reprodutivo dos casais, assim como não desrespeitar
o embrião e preocupar-se com os interesses da criança.
A experimentação animal é outra atividade que possui muitas preocupações bioéticas. As questões
bioéticas dessa atividade estão no conflito entre justificativas para o uso de animais em benefício da
humanidade e a ação de não causar dor e sofrimento aos animais. Por muito anos, animais foram
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utilizados na alimentação, no esporte, no lazer, na religião e no transporte, e seu bem-estar foi
negligenciado.
No Brasil, a lei federal n°11.994 de 2008, conhecida como lei Arouca, regulamentou as Comissões
de Ética para o Uso de Animais (CEUAs) e criou o Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA). O decreto nº 6.899/2009 regulamentou a lei Arouca e criou o
Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (CIUCA). Para que uma instituição seja
legalmente estabelecida em território nacional, é exigido que ela possua ou esteja vinculada a uma
CEUA.
A CEUA é composta por cidadãos de notório saber responsáveis por revisar e analisar o teor ético e
legal de todo e qualquer protocolo experimental proposto para atividade cientifica ou educacional que
envolva a utilização de animais vivos não-humanos e busque compatibilidade com a legislação.
O não cumprimento das normas impostas pelo CONCEA resulta em penalidades que podem variar
entre advertências, multas e interdições. O uso de modelos animais, infelizmente, é indispensável
em atividades científicas em virtude da complexidade dos organismos biológicos. Além disso, não
podemos negar a importância de modelos animais no progresso da saúde pública animal e humana.
Dessa forma, atividades científicas que exigem a utilização de animais devem ser realizadas
baseadas em princípios bioéticos, minimizando a dor e o sofrimento animal. Atualmente, grande parte
dos cientistas envolvidos com experimentação animal demonstra respeito pela vida animal e
preocupação em conduzir seus experimentos da melhor forma possível, evitando causar dor e
sofrimento aos animais e seguindo os princípios éticos da experimentação animal.
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1.6 Código de ética profissional
A ética profissional orienta os profissionais ao cumprimento de todas as atividades de sua profissão
de forma ética e responsável. Cada profissão possui seu próprio código de ética. Alguns elementos
da ética profissional que são universais: a honestidade, a competência, a responsabilidade com a
profissão, com colegas e com a sociedade. Entretanto, há algumas variações devido às diferentes
áreas de atuação.
O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas, as quais devem ser seguidas
obrigatoriamente pelos profissionais no exercício de suas atividades. Esse código é elaborado pelo
Conselho Federal de cada profissão. Cada Conselho tem a responsabilidade de representar e
fiscalizar o exercício da profissão.
O Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) publicou em 5 de novembro de 2020 a resolução nº
330, que dispõe sobre o novo Código de Ética do Profissional Biomédico. Essa resolução substitui
o Código de Ética de 2011 (Resolução CFBM nº 198). O Código de Ética do Biomédico regula os
direitos e deveres desses profissionais e das empresas jurídicas inscritos nos Conselhos Regionais
de Biomedicina (CRBM). As normas éticas incluídas no Código devem ser seguidas e respeitadas
por todos os profissionais biomédicos no exercício da profissão, independente da função e do cargo
que ocupem.
O Código de Ética é fundamental na proteção do profissional no exercício da profissão, assim como
na proteção daqueles que utilizam os serviços prestados por esses profissionais.
Considerações finais
A Bioética contribui para que haja uma integração entre o conhecimento científico e o conhecimento
humanístico, evitando possíveis impactos negativos da tecnologia sobre a vida humana e animal.
Quando nos deparamos com questões bioéticas, nossas decisões devem sempre ser tomadas
considerando a fundamentação e os princípios da bioética. O fundamento (base) que devemos
considerar na tomada de decisão é o reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Em outras
palavras, devemos considerar a pessoa como um ser único, dotado de dignidade, que é uma
totalidade (aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais).
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A obra “Bioética, pessoa e vida: Uma abordagem personalista” do autor Dalton Ramos traz a fundamentação
e os princípios bioéticos, assim como aspectos éticos em questões da biotecnologia.
Neste capítulo, nós aprendemos que bioética é definida como o estudo interdisciplinar que integra biologia,
filosofia (ética) e direito sobre condições necessárias para a vida humana e animal adequadas, aplicando a
ética à vida. Em outras palavras, a bioética indica limites para a intervenção do homem sobre a vida,
considerando os impactos que a tecnologia pode ter sobre ela. A bioética considera questões sociais que não
possuem consenso moral, como a fertilização in vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e
as pesquisas com células-tronco.
Um dos fundamentos importantes é o respeito pelo valor da pessoa humana. Nós conhecemos bem a pessoa
humana, visto que somos humanos. Entretanto, existem alguns conceitos na realidade da pessoa dos quais
devemos sempre nos lembrar durante o enfrentamento de questões bioéticas: (1) A pessoa humana é única.
Cada indivíduo é diferente um do outro e possui suas características, seus anseios, suas necessidades. (2) A
pessoa humana possui dignidade. O indivíduo possui valor pelo simples fato de ser pessoa. (3) A pessoa
humana possui diversas dimensões. Devemos sempre consideras a dimensão biológica, a dimensão
psicológica, a dimensão social ou moral e a dimensão espiritual. Todas as dimensões unidas compõem a
pessoa, por isso devemos considerar a pessoa como uma totalidade.
A compreensão de alguns princípios básicos da bioética é de grande importância no estudo e no processo de
decisão quanto aos diversos temas dentro da Bioética.
O primeiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de beneficência/não maleficência, também
conhecido como benefício/não malefício. Beneficência significa fazer o bem e não maleficência significa evitar
o mal. O segundo princípio a ser considerado no enfrentamento de questões éticas é o da autonomia. A
autonomia é a capacidade de autodeterminação que uma pessoa possui, o quanto ela é capaz de coordenar
sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas. Cada pessoa possui liberdade de decidir questões
sobre sua vida. O terceiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de justiça. Diferentes pessoas
devem ser tratadas de forma igual e justa. Devemos respeitar com imparcialidade o direito de cada uma.
A biotecnologia e a ciência possuem alguns dilemas bioéticos, como a aplicação de tecnologias genéticas, o
emprego de algumas técnicas na reprodução assistida, a utilização de modelos animais em pesquisa, entre
outros. Todas essas atividades devem ser realizadas de maneira ética, tomando por base cada princípio ético.
A ética profissional orienta os profissionais ao cumprimento de todas as atividades de sua profissão de forma
ética e responsável. Cada profissão possui seu próprio código. Alguns elementos da ética profissional que são
universais: a honestidade, a competência, a responsabilidade com a profissão, com colegas e com a
sociedade. Entretanto, há algumas variações devido às diferentes áreas de atuação.
O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas, as quais devem ser seguidas obrigatoriamente
pelos profissionais no exercício de suas atividades. Esse código é elaborado pelo Conselho Federal de cada
profissão. Cada Conselho tem a responsabilidade de representar e fiscalizar o exercício da profissão.
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(ENADE, 2016) Desenvolvida recentemente, a técnica de edição de genoma denominada CRISPR/Cas9
mostra-se bastante promissora nas áreas de Biotecnologia e Medicina. Por engenharia genética, é possível
direcionar o sistema CRISPR/Cas9 para clivar o DNA em um ponto específico dos genomas de vírus, de
plantas, de fungos e de animais, inclusive de embriões humanos, o que tem gerado discussões a respeito dos
aspectos éticos de sua utilização.
YANAGUI, K. Novas tecnologias, novos desafios. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 68, n. 3, set. 2016 (adaptado).
III. Em alguns países, inclusive no Brasil, são permitidas por lei a manipulação e a modificação genética
de embriões humanos para fins de pesquisa, entretanto, esses embriões devem ser descartados
dentro do prazo de duas semanas.
Questão Objetiva
Qual é o princípio da bioética que deve ser considerado e respeitado em primeiro lugar?
a) Respeito pelo valor da pessoa humana
b) Autonomia
c) Beneficência/não maleficência
d) Justiça
e) Beneficência
Questão Discursiva
Em que tipo de questões a bioética é requerida?
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RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C
Questão Discursiva
Resposta Padrão: A bioética considera questões sociais que não possuem consenso moral, como a
fertilização in vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e as pesquisas com células -tronco.
Além disso, considera a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e aplicações, visto que o
emprego de descobertas científicas pode afetar positiva ou negativamente a sociedade e o ambiente.
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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 – BIOTECNOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Definição da Biotecnologia;
✓ História da Biotecnologia;
✓ Biotecnologia atual;
✓ Engenharia Genética;
✓ Ciências Ômicas.
Introdução
A biotecnologia envolve um conjunto de técnicas que utilizam organismos vivos (microrganismos e
células) podendo ser geneticamente modificados, sendo uma área de estudo que apresenta grandes
avanços tecnológicos, sendo de grande importância em todo o mundo.
Desde os primórdios, o homem emprega a biotecnologia, mesmo sem conhecer o termo, em suas
tarefas diárias. Existem relatos de que em 6000 a.C. os povos sumérios e babilônicos já utilizavam
a fermentação na alimentação. A domesticação de animais e o cruzamento de espécies na obtenção
de características desejáveis também compreendem atividades do ser humano da antiguidade.
Entretanto, naquela época não havia compreensão sobre como os processos ocorriam, eram
realizados às cegas. O conhecimento sobre as técnicas e processos foi sendo obtido de forma
gradual por meio do desenvolvimento de áreas da ciência, como a microbiologia, a genética, a
bioquímica e outras. Atualmente, a biotecnologia possibilita aplicações em diversas áreas, como na
agricultura, no meio ambiente, na saúde, etc.
É impossível negar que a biotecnologia trouxe grande avanço no cotidiano da sociedade. Entretanto, o
surgimento de técnicas de manipulação do DNA tem trazido críticas a essa área de estudo. É preciso estar
ciente que todo produto biotecnológico incluído no mercado é severamente testado e, por isso, altamente
seguro.
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2.1 Definição da biotecnologia
A palavra biotecnologia tem origem grega, bio significa vida, tecno significa técnica e logia significa
conhecimento ou estudos. O termo biotecnologia foi introduzido em 1917 pelo engenheiro húngaro
Karl Ereky (1878 - 1952), sendo definido em 1992 pela Organização das Nações Unidas como:
“Biotecnologia engloba todas as técnicas que utilizam organismos vivos, em particular animais,
plantas ou microrganismos ou qualquer tipo de material biológico que pode ser assimilado aos
microrganismos ou parte dos mesmos, para provocar neles mudanças orgânicas”.
Figura 1 – Karl Ereky (1878 - 1952)
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A biotecnologia é classificada em clássica e moderna. A Biotecnologia Clássica está relacionada à
manipulação de organismos vivos como são encontrados na natureza. Nesse sentido, a
biotecnologia clássica envolve o cruzamento de espécies e a utilização da fermentação na produção
de alimentos. A Biotecnologia Moderna está relacionada ao emprego de técnicas de engenharia
genética (DNA recombinante) no melhoramento de plantas (alimentos transgênicos), na produção
de biofármacos, etc.
Além disso, a biotecnologia busca o desenvolvimento de novas tecnologias baseadas em outros
ramos da biologia. Atualmente, os principais alvos de estudo da biotecnologia são o melhoramento
genético, tecidos e órgãos de seres vivos, Terapia Gênica, Terapia Celular, Novas Terapias
Moleculares, Ciências Ômicas, Bioprocessos Industriais, cuidados com a biodiversidade e meio
ambiente, Biomateriais e Biomimética.
Em 1796, o médico inglês Edward Jenner (1749 - 1823), após observações, conduziu sua primeira
experiência com imunização e demonstrou que a inoculação de varíola bovina em humanos era
capaz de proteger o indivíduo contra a varíola humana.
Entre os anos 1863 e 1889, o cientista francês Louis Pasteur (1822 - 1895) fez contribuições valiosas
para a biotecnologia e para a ciência. Em 1863, desenvolveu a pasteurização, processo para
conservar alimentos sem alterar suas propriedades organolépticas. Em 1864, derrubou a teoria da
abiogênese, demonstrando, a partir de experimentos, que seres vivos são gerados somente a partir
de outros seres vivos e não da geração espontânea. Nesse mesmo período, provou que
microrganismos vivos são os responsáveis pela fermentação e identificou Mycoderma aceti como
responsável pela transformação do vinho em vinagre. Em 1885, desenvolveu uma vacina antirrábica
e, em 1889, uma vacina contra cólera em galinhas.
O monge austríaco Gregor Mendel (1822 - 1884) foi capaz de descrever os princípios da
hereditariedade em 1866, período em que ainda não se tinha conhecimento sobre os genes. Seu
trabalho foi reconhecido somente em 1900 graças aos esforços do biólogo britânico William Bateson
e do trabalho de biólogos da Alemanha, da Holanda e da Áustria, que reproduziram os experimentos
de Mendel e reafirmaram seus resultados. A partir daí, houve um imenso progresso na área da
genética. Na área da saúde, a biotecnologia vem sendo aplicada ao longo da história no
desenvolvimento de vacinas, terapia gênica e celular, desenvolvimento e uso de células-tronco
embrionárias e desenvolvimento de biofármacos, os quais consistem em medicamentos obtidos a
partir de uma fonte ou processo biológico.
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Em 1928, o escocês Alexander Fleming (1881 - 1955) descobriu de forma acidental a penicilina,
substância bactericida produzida pelo fungo do gênero Penicillium, a qual começou a ser produzida
e utilizada como antibiótico na década de 40. Essa descoberta é considerada um grande marco na
biotecnologia, o qual abriu caminho para a descoberta e a produção de novos antibióticos. A partir
do ano de 1973, com o desenvolvimento da técnica do DNA recombinante pelos cientistas Stanley
Cohen e Herbert Boyer, se tornou possível a modificação genética de microrganismos e células.
Essa técnica permite a introdução de um gene de qualquer organismo em um microrganismo ou
célula, de forma que passe a expressar o gene de interesse.
Para entender um pouco mais sobre transgenia e seus impactos, acesse: https://www.embrapa.br/tema-
transgenicos/sobre-o-tema
O Brasil está entre os países que mais produzem e mais exportam soja geneticamente modificada.
Além da soja, o Brasil também produz extensivamente milho, algodão e cana-de-açúcar transgênica.
Há 20 anos os alimentos transgênicos estão presentes nos mercados em todo o mundo e nenhum
impacto negativo no meio ambiente ou na saúde humana e animal foi identificado. Antes de ser
aprovado para consumo, todo alimento transgênico é rigidamente analisado por meio de testes
laboratoriais e de campo que levam aproximadamente 10 anos de pesquisa, garantindo assim a
segurança alimentar e ambiental. No Brasil, a Lei de Biossegurança 11.105/05, que regula as
atividades com transgênicos, é considerada umas das leis mais rigorosas do mundo.
Além dos transgênicos, a biotecnologia está presente na agricultura por meio do desenvolvimento
de biofertilizantes (adubos orgânicos submetidos ao processo de fermentação) e biopesticidas
(substâncias produzidas a partir de microrganismos naturais ou derivadas de plantas geneticamente
modificadas capazes de realizar o controle de pestes).
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Na pecuária, a biotecnologia é essencial no processo de melhoramento genético, o qual visa o
aumento de genes favoráveis economicamente em linhagens animais. O melhoramento genético
pode ser obtido por estratégias de seleção artificial ou de cruzamentos planejados entre raças. Por
meio da biotecnologia é possível realizar mudanças na base alimentar (pasto x grãos), redução do
teor de gordura, redução do espaço físico requerido, etc.
Animais sadios e bem alimentados produzem mais. A biotecnologia permite o aumento da produção
pecuária por meio do desenvolvimento de vacinas, medicamentos, suplementos e métodos
diagnósticos rápidos e eficientes. A tecnologia do DNA recombinante pode ser empregada no
desenvolvimento de novas vacinas, novos medicamentos e novos suplementos. A somatrotofina
bovina (BST) é um hormônio que desempenha papel importante no crescimento de bezerros e na
produção de leite em vacas e foi um dos primeiros suplementos animais produzidos por bactérias
recombinantes.
Investigue o que é biomassa, seus tipos e como ela pode gerar bioenergia.
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No mercado brasileiro, podemos encontrar mandiocas biofortificadas, as quais foram modificadas e
perdem menos nutrientes durante o cozimento do que as não biofortificadas. Quando cozidas, as
mandiocas modificadas retêm cerca de 80% do caroteno, provando ser um alimento mais rico em
vitaminas. Além das mandiocas, cientistas estão trabalhando na biofortificação do feijão e do milho.
Além disso, estratégias de terapia gênica, terapia celular e manipulação de células-tronco estão
sendo estudadas e desenvolvidas graças à biotecnologia.
DNA recombinante é o termo utilizado para moléculas de DNA que possuem regiões derivadas de
duas ou mais fontes, geralmente essas fontes são de espécies diferentes. As moléculas de DNA que
contêm o gene de interesse são chamadas de DNA doador e, na maioria das vezes, é um genoma
inteiro. Esse DNA doador é cortado de forma específica por enzimas de restrição em centenas ou
milhares de fragmentos. Os fragmentos de interesse do DNA doador são inseridos em cromossomos
vetores, resultando em moléculas de DNA recombinante (Figura 3).
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Figura 3 – Obtenção do DNA recombinante
O DNA doador é obtido a partir do cromossomo por meio de processos de extração e purificação do
DNA. As longas moléculas de DNA extraídas devem ser cortadas em pequenos fragmentos para que
possam ser inseridas em um DNA vetor. O corte nessas moléculas é realizado por enzimas de
restrição, as quais reconhecem sequências de nucleotídeos específicas, chamadas de sítios de
restrição, e clivam ligações fosfodiéster entre os nucleotídeos. Essa propriedade torna as enzimas
de restrição essenciais no processo de manipulação do DNA.
Os sítios de restrição são distribuídos ao acaso nas moléculas de DNA de qualquer organismo.
Dessa forma, a ação de uma enzima de restrição resultará em um conjunto de fragmentos de
restrição.
A enzima de restrição EcoRI (obtida da E. coli) reconhece uma sequência de seis pares de
nucleotídeos (5′-GAATTC-3′) presentes no DNA de qualquer organismo (Figura 1). Chamamos esse
tipo de sequência de palíndromo de DNA, ou seja, ambos os filamentos da molécula de DNA
possuem a mesma sequência de nucleotídeos, porém em orientação antiparalela. Ao reconhecer
essas regiões, a EcoRI cliva entre os nucleotídeos G e A, produzindo fragmentos de extremidades
unifilamentares de quatro bases (AATT). Essas extremidades são chamadas de “coesivas”, visto que
são unifilamentares e podem parear de forma complementar com outros filamentos. O pareamento
de filamentos coesivos complementares é chamado de hibridização (Figura 3).
O DNA genômico humano, quando digerido pela enzima EcoRI, gera aproximadamente 500.000 fragmentos.
Encontrar um ou dois fragmentos de interesse dentre desse total é como encontrar uma agulha no palheiro,
entretanto, cientistas foram capazes de encontrar o gene da insulina humana, permitindo a expressão desse
gene em bactérias.
22
Para a formação de moléculas de DNA recombinante, ambos os DNA, doador e vetor, devem ser
digeridos pela enzima de restrição (Figura 4 A). Os fragmentos resultantes da digestão são então
encubados juntos sob condições adequadas, permitindo que as extremidades coesivas dos
fragmentos do DNA doador e do vetor hibridizem entre si e formem moléculas recombinantes (Figura
4 B). As moléculas hibridizadas se mantém unidas por ligação fracas, não apresentando arcabouços
açúcar-fosfato unidos covalentemente. Se essa união se manter assim, provavelmente as ligações
serão facilmente destruídas. Dessa forma, é de extrema importância a ação da enzima DNA ligase,
a qual liga covalentemente os arcabouços por meio da criação de ligações fosfodiéster (Figura 4 C).
A hibridização entre as extremidades coesivas dos fragmentos do DNA doador e do vetor não ocorre
em 100% das moléculas. É possível que as extremidades coesivas do vetor se hibridizem entre si,
impedindo a inserção do DNA doador. Por esse motivo, métodos de seleção de vetores que
contenham fragmentos do DNA doador devem ser aplicados (discutiremos posteriormente).
Figura 4 – Processo de inserção de um gene no vetor
23
As moléculas de DNA recombinantes são inseridas em células de interesse (bactéria, levedura, etc.)
e, no interior dessas células, utiliza toda a maquinaria de replicação da célula para sua amplificação
(multiplicação). A amplificação das moléculas de DNA recombinante nas células em conjunto com a
divisão celular gera um grande número de clones da célula inicial e, por isso, esse processo recebe
o nome de clonagem gênica. Em outras palavras, após a amplificação, teremos uma colônia de
bactérias contendo bilhões de cópias do DNA recombinante inserido.
Figura 5 – Processo de Clonagem Gênica
24
2.5 Ciências ômicas
Ômica é um neologismo da língua inglesa (omics) e refere-se a uma área de estudo da ciência que
busca a caracterização e quantificação completa dos sistemas biológicos em nível molecular
unicelular, permitindo estabelecer a estrutura, a função e a dinâmica de um organismo. Em outras
palavras, as Ciências Ômicas estão voltadas para a análise global dos sistemas biológicos,
identificando, quantificando e caracterizando os componentes moleculares dos sistemas celulares
levando em consideração tempo e espaço, focando no entendimento das vias intracelulares.
As ciências ômicas mais conhecidas atualmente são: a Genômica, que estuda o genoma, a
Transcriptômica, que estuda o transcriptoma, a Proteômica, que estuda o proteoma, a Interatômica,
que estuda o interatoma e a Metabolômica, que estuda o metaboloma.
Na agricultura e na pecuária as Ciências Ômicas também trazem grandes avanços, permitindo maior
conhecimento sobre vias metabólicas e genes importantes para obtenção de plantas tolerantes a
diferentes tipos de condições ambientais (seca, a salinidade do solo, calor, frio, doenças, etc.). Além
disso, são importantes na obtenção de animais com características úteis para o aumento da
qualidade e da produtividade.
A Genômica é um campo da genética dedicado ao estudo dos genomas em sua totalidade, visando
a compreensão do conteúdo, da organização, da função e da evolução da informação genética
contida em genomas inteiros. O conhecimento obtido pelo campo da genômica contribuiu
significativamente para a saúde humana, agricultura e várias outras áreas, fornecendo sequências
gênicas necessárias para a produção de proteínas por meio da tecnologia do DNA recombinante.
Além disso, comparações entre sequências genômicas de diferentes organismos permitem uma
melhor compreensão da evolução das espécies.
25
2000 (157 milhões pb). Graças ao Projeto Genoma Humano, a sequência do genoma humano foi
esboçada pela primeira vez em 2000, sendo completa em 2001 e contendo cerca de 3 bilhões pb.
No final de 2013, já se tinha conhecimento sobre as sequências completas do genoma de quase
27.000 bactérias e de mais de 6.600 espécies eucarióticas (incluindo fungos, plantas e animais).
A Genômica Funcional estuda a função dos genes por meio da identificação das moléculas de RNA
transcritas a partir de um genoma. Abordagens experimentais laboratoriais (hibridização in situ,
mutagênese experimental e o uso de animais transgênicos e knockouts) e bioinformática são
utilizadas para definir a função das sequências de DNA.
26
Considerações finais
A Biotecnologia é uma área de estudo e desenvolvimento que possibilita inúmeras descobertas
tecnológicas em diversos setores da sociedade, proporcionando melhorias e inovações. No Brasil, a
biotecnologia é fundamental no desenvolvimento do país, trazendo novas técnicas e processos para
os setores da indústria, agricultura, pecuária, meio ambiente e saúde. Por esse motivo, possibilita o
crescimento econômico sustentável.
A obra “Biotecnologia”, escrita por Maria Antonia Malajovich, traz a história detalhada da biotecnologia, além
de seus produtos aplicados em diversos setores da sociedade.
Neste capítulo, nós vimos que a biotecnologia compreende uma área de estudo e desenvolvimento de produtos
e de processos a partir da manipulação de agentes biológicos (microrganismos, células, moléculas, plantas,
animais, etc.) visando melhorias na saúde e no bem-estar da sociedade. Apesar de ainda não conhecer
técnicas e métodos avançados, na antiguidade o homem já utilizava técnicas simples da biotecnologia em seu
cotidiano, como a fermentação.
A partir do ano de 1973, com o desenvolvimento da técnica do DNA recombinante pelos cientistas Stanley
Cohen e Herbert Boyer, se tornou possível a modificação genética de microrganismos e células. Essa técnica
permite a introdução de um gene de qualquer organismo em um microrganismo ou célula, de forma que passe
a expressar o gene de interesse. Atualmente, os produtos e serviços obtidos a partir da biotecnologia estão
presentes em diferentes setores da sociedade: na agricultura, na pecuária, no meio ambiente, na indústria, na
área da saúde, entre outros.
A tecnologia do DNA recombinante consiste em um método desenvolvido pela biotecnologia de suma
importância para a ciência. Essa tecnologia permite localizar, isolar e manipular fragmentos de DNA
27
específicos. DNA recombinante é o termo utilizado para moléculas de DNA que possuem regiões derivadas de
duas ou mais fontes, geralmente essas fontes são de espécies diferentes.
As moléculas de DNA que contêm o gene de interesse são chamadas de DNA doador e, na maioria das vezes,
é um genoma inteiro. Esse DNA doador é cortado de forma específica por enzimas de restrição em centenas
ou milhares de fragmentos. Os fragmentos de interesse do DNA doador são inseridos em cromossomos
vetores, resultando em moléculas de DNA recombinante. As moléculas recombinantes são transferidas para
células bacterianas e, então, amplificadas juntamente com o vetor pela maquinaria de replicação durante a
divisão celular. Cada célula amplificada resulta em clones de células idênticas, cada um contendo a molécula
de DNA recombinante e, por isso, esse processo é chamado de clonagem de DNA.
As ciências ômicas estão voltadas para a análise global dos sistemas biológicos, identificando, quantificando
e caracterizando os componentes moleculares dos sistemas celulares levando em consideração tempo e
espaço, focando no entendimento das vias intracelulares. As ciências ômicas mais conhecidas atualmente são:
a genômica, que estuda o genoma, a transcriptômica, que estuda o transcriptoma, a proteômica, que estuda o
proteoma, a interatômica, que estuda o interatoma e a metabolômica, que estuda o metaboloma.
(ENADE, 2013) Embora os transgênicos sejam muito discutidos na perspectiva das políticas de produção
agrícola, as aplicações biotecnológicas de organismos geneticamente modificados (OGM) são inúmeras e vêm
sendo utilizadas há cerca de duas décadas na produção industrial. Um exemplo do uso da tecnologia associada
aos OGMs é a quimosina, uma enzima importante na coagulação de lacticínios, pioneira entre os produtos
gerados por OGM e que está no mercado desde os anos 1990. Essa enzima era tradicionalmente extraída do
estômago de mamíferos. Nos anos 1990, foram criadas bactérias geneticamente modificadas contendo DNA
de células estomacais de animais. Essas bactérias passaram a ser utilizadas, em larga escala, em um processo
de fermentação para a síntese da referida enzima. A quimosina produzida desse modo tem estrutura molecular
idêntica àquela que era obtida da forma tradicional.
Disponível em: http://www.afolhatorres.com.br. Acesso em: 30 jul. 2013 (adaptado).
Com base no texto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
I. A produção de queijos com uso da quimosina sintetizada por bactérias geneticamente modificadas é
considerada segura para o consumidor do alimento e os queijos assim produzidos não podem ser
classificados como alimentos transgênicos.
PORQUE
II. II. A quimosina utilizada na fabricação de queijos, embora seja um OGM, é eliminada no final do
processo produtivo.
28
Questão Objetiva
Medicamentos obtidos pela biotecnologia por meio da utilização industrial de microrganismos ou células
modificadas geneticamente são chamados de:
a) Biomedicamentos
b) Biorremédios
c) Biofármacos
d) Biodrogas
e) Biomoléculas
Questão Discursiva
Defina em poucas palavras o que é Interatoma.
RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C
Questão Discursiva
Resposta Padrão: A interatômica se dedica ao estudo do conjunto completo de interações físicas entre
proteínas e entre proteínas e outras moléculas dentro de uma célula (DNA e RNA) e suas consequências. Esse
conjunto de interações que ocorre dentro de uma célula é chamado de interatoma.
29
UNIDADE I
CAPÍTULO 3 – EPIDEMIOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Medidas de ocorrência de doenças;
✓ Incidência e prevalência;
✓ Mortalidade e expectativa de vida;
✓ Letalidade;
✓ Causas das doenças;
✓ Epidemiologia descritiva;
✓ Padronização por idade.
Introdução
A epidemiologia é uma antiga disciplina científica que remonta a meados do século XIX. É uma
disciplina que visa identificar os determinantes de doenças e saúde nas populações. Utiliza uma
abordagem populacional como a demografia, talvez a disciplina científica que mais se assemelha à
epidemiologia. A epidemiologia é definida pelo objeto de pesquisa: “determinantes de identidade que
alteram a ocorrência de fenômenos de saúde em populações humanas”.
Agora todas as doenças ou eventos de saúde são estudados por meio de métodos epidemiológicos,
que mudam constantemente para atender a essas novas necessidades. Até o termo "epidemia" é
usado para descrever um aumento inesperado na frequência de qualquer doença, como infarto do
miocárdio, obesidade ou asma.
Hoje, a disciplina é usada para estudar causas genéticas, comportamentais e ambientais de doenças
infecciosas e não infecciosas. É usada para avaliar o efeito de tratamentos ou triagem e é a principal
disciplina do movimento que pode ter sido vendida em excesso com o título "medicina baseada em
evidências".
A epidemiologia da saúde pública usa a população "saudável" para estudar a transição do ser
saudável a ser doente. A epidemiologia clínica usa a população de pacientes para estudar preditores
de cura ou alterações no estado da doença. Ambas as disciplinas usam métodos experimentais e
não experimentais. Os métodos experimentais, no entanto, geralmente não são aplicáveis por razões
éticas na pesquisa em saúde pública, uma vez que não podemos induzir exposições possivelmente
prejudiciais a tipos de saúde em hipóteses científicas.
30
Os epidemiologistas usam o mesmo conjunto de ferramentas e o mesmo conjunto de conceitos,
estudando a etiologia ou o prognóstico da doença, embora os problemas metodológicos possam
refletir diferentes circunstâncias. É importante dar prioridade ao estudo de mecanismos causais
passíveis de intervenção, afetando a prevenção ou o tratamento.
A epidemiologia está entre as ciências médicas básicas, mas ainda não é reconhecida como tal em
muitos países.
O processo de avaliação de novos medicamentos foi deixado quase inteiramente para a indústria
farmacêutica, não apenas para patrocinar esses estudos, mas também para conduzir e analisar os
resultados. Os profissionais de saúde precisam decidir sobre os tratamentos, executar
procedimentos de diagnóstico e aconselhar sobre prevenção. Isso não pode ser feito sem ficar de
olho na literatura científica e, atualmente, grande parte do que é publicado em revistas médicas se
baseia em pesquisas epidemiológicas. O mesmo vale para muitas das informações provenientes das
indústrias farmacêuticas.
A medicina clínica pode ter uma tendência a se concentrar em doenças raras, mas interessantes,
enquanto a saúde pública deve concentrar-se na frequência da doença. Quais são as possibilidades
de salvar muitas vidas, prevenir problemas de saúde e sociais com nossos recursos disponíveis e
como usamos esses recursos da melhor maneira? Várias medidas são usadas para descrever a
frequência de uma doença, mas, para começar, podemos contar o número de pessoas com a doença
na população (a prevalência da doença). Também gostaríamos de saber quantos casos novos
aparecem mais ou menos por um período, como uma estimativa do risco de se ter determinada
doença durante um período da vida, definindo uma nova unidade de risco por tempo (incidência
cumulativa ou taxa de incidência). Temos que aceitar que apenas estimamos a força da morbidade
ou mortalidade na população. Não medimos com exatidão esses parâmetros, mas a qualidade de
nossas estimativas depende de quão próximos chegamos dos parâmetros verdadeiros.
Quando você inicia uma investigação, deseja saber quem são os doentes, quando eles pegaram a
doença e onde vivem. Perguntas sobre "quem, quando e onde" são as primeiras perguntas que você
deve fazer. São necessárias estimativas de incidência (novos casos) para estudar a etiologia da
doença e monitorar os esforços preventivos. Programas de monitoramento da incidência de câncer,
por exemplo, foram criados em muitas partes do mundo e estão sendo relatados pela IARC (Agência
Internacional de Pesquisa sobre Câncer) em monografias como “Incidência de Câncer nos Cinco
Continentes”. Nenhuma outra doença possui monitoramento de alta qualidade semelhante sobre a
incidência em todo o mundo, mas existem vários sistemas de registro de rotina para incidência de
doenças em várias partes do planeta, seja para o total da população ou para segmentos dela.
31
Muitos países monitoram, por exemplo, incidências (novos casos) de doenças infecciosas. Tais
sistemas de monitoramento raramente identificam todos os casos com a infecção e não precisam
cobrir todos os casos para detectar epidemias (partem das taxas médias de incidência que ocorrem
em períodos mais curtos para definir epidemias). Se uma porcentagem estável estiver presente
durante algum período de tempo, poderão ser demonstradas grandes flutuações na incidência da
doença na população. Se forem necessários marcadores muito precoces de uma epidemia, medidas
substitutas, como dados de vendas de certos medicamentos ou a frequência de certos tipos de
perguntas endereçadas a determinados sites, podem até ser úteis. A mortalidade materna e infantil
tem sido monitorada em muitas partes do mundo e são frequentemente consideradas fortes
indicadores de saúde geral. Dados sobre mortalidade são geralmente de boa qualidade.
A mortalidade é bem definida e não é prejudicada pelo diagnóstico ambíguo que influencia muitos
registros de doenças nas quais é medida a mortalidade por causas específicas (mortalidade por
doenças específicas ou doenças que foram causas próximas da morte). Os dados de prevalência
(casos existentes em um determinado momento) são essenciais no planejamento da saúde. Quantas
pessoas temos em nossa população com diabetes, esclerose múltipla, esquizofrenia, etc.? Quantas
e que tipo de instalações de tratamento são necessárias para servir essas pessoas? Embora os
dados de incidência possam, em princípio, ser medidos, se formos capazes de definir um conjunto
de critérios de diagnóstico operacional, às vezes pode ser mais difícil definir a prevalência (o número
de doenças em um determinado momento). Por exemplo, qual é a prevalência de câncer? As
pessoas que são tratadas com sucesso contra o câncer não pertencem ao grupo prioritário de
doentes, mas apenas uma vez dizem se o tratamento curou a doença ou não. Da mesma maneira,
as pessoas com asma têm a doença pelo resto da vida? Ou pessoas com epilepsia? Ou pessoas
com diabetes tipo 2 ou enxaqueca? E se não, quando eles serão curados? Se não tivermos dados
empíricos para identificar pessoas que abandonam o conjunto de casos prevalentes, nossa
estimativa de prevalência é difícil de interpretar e usar. É mais fácil com doenças como o sarampo.
Quando os sinais de infecção desaparecem e o vírus não pode mais ser detectado no organismo, a
pessoa não tem mais sarampo.
Por esse motivo, esperamos muito mais casos de câncer nos países em desenvolvimento se a
expectativa de vida continuar aumentando para essas populações. O risco de contrair uma
enfermidade geralmente é uma função do tempo e essas probabilidades são estimadas a partir da
observação das populações. Observando a ocorrência de doenças em populações ao longo do
tempo, podemos estimar a incidência e a prevalência de certas enfermidades. Usamos essas
estimativas para comparar a ocorrência de doenças entre populações, acompanhar sua ocorrência
ao longo do tempo e também para ter uma ideia dos riscos de doenças para indivíduos da população.
Para fazer isso, tentaremos pensar na população da qual a pessoa faz parte. Levaremos em
consideração gênero, idade, tempo, grupo étnico, condições sociais, local de residência e
32
informações de outros fatores de risco quando fornecermos nossa estimativa. Mas observe que é
um indicador de risco, não um destino. É uma previsão com incerteza. No final, a pessoa terá a
doença ou não. Se dissermos que ela tem um risco de 25% de chance de contrair a doença nos
próximos 10 anos, isso não significa que ela ficará 25% doente. Isso significa que, entre, digamos,
1.000 pessoas com suas características, esperaremos que cerca de 250 desenvolvam a doença. A
pessoa em questão gostaria de saber se está entre as 250 ou não, mas nunca poderemos fornecer
essas informações. Contudo, pode-se fazer suas previsões mais informativas, para aproximá-las de
0 ou 100%. Muitos esperavam que o mapeamento do genoma humano nos aproximasse mais da
previsão da ocorrência de doenças do que realmente aproximou, exceto por algumas doenças
específicas. Para estimar a incidência e a prevalência em uma determinada população, precisamos
identificar a população e examinar todas as pessoas nela, ou uma amostra delas, em um
determinado momento (para estimar a prevalência) ou durante um período de acompanhamento
(para estimar a incidência).
Suponha que desejemos estimar a prevalência de diabetes tipo 1 em uma cidade com 100.000
habitantes. Podemos convocar todos eles para um exame médico ou basear nossa estimativa em
uma amostra selecionada aleatoriamente nessa população. A seleção aleatória implica, em sua
forma mais simples, que todos os membros da comunidade tenham a mesma probabilidade de serem
amostrados. Poderíamos, por exemplo, enumerar todos os habitantes com um número de execução
entre 1 e 100.000. Podemos selecionar os primeiros 10.000 números aleatórios e chamá-los para
exame. Ou podemos desenhar um número aleatoriamente de 0 a 9. Supondo que o número seja 7,
poderíamos examinar todos na população que tinham um número em execução terminando com 7
(7, 17, 27, ..., 99.997), o que também geraria uma amostra de 10%. Ou podemos selecionar todos
os que nasceram em três dias selecionados aleatoriamente no mês (digamos 3, 12, 28) e examinar
cada pessoa nascida nesses dias, o que geraria uma amostra sistemática de aproximadamente 10%.
Se for permitido assumir que a ocorrência da doença é independente dos dias de nascimento, esta
amostra produzirá resultados semelhantes aos encontrados em uma amostra aleatória, exceto pela
variação aleatória que é uma parte inevitável do processo de seleção. Suponha que examinemos
10.000 na amostra e encontremos 50 com diabetes tipo 1, uma doença caracterizada por uma
deficiência nas células beta do pâncreas endócrino, levando a um distúrbio na homeostase da
glicose.
Primeiro, teríamos que desenvolver um conjunto de critérios que definissem o diabetes tipo 1 a partir
do exame de saúde. Diríamos então que a prevalência (P) nessa população é 50 e a proporção de
prevalência (PP) é 50 / 10.000 ou 0,005 ou 0,5%. Se estimarmos a proporção de prevalência na
cidade em geral, nossa melhor estimativa ainda seria 0,005, mas saberíamos que outra amostra
aleatória pode levar a um resultado ligeiramente diferente devido à variação amostral e levaríamos
essa variação amostral em consideração ao relatar. Na realidade, haveria muitas outras fontes de
incerteza além da amostragem aleatória, como erros de medição e viés de seleção relacionados a
pessoas convidadas que não compareceram ao exame. Todas essas incertezas devem ser incluídas
em nosso intervalo de incerteza. Infelizmente, no momento não temos boas ferramentas para isso.
A estimativa estatística de um limite de confiança de 95% produzirá o seguinte resultado:
Pl, u = 0,0048,0,006
A interpretação exata dos limites de confiança (CLs) pode ser debatida, mas uma
interpretação é que 95 dos 100 CLs incluirão a prevalência verdadeira, assumindo que todas
as condições de amostragem sejam cumpridas. Em resumo, nossa estimativa da proporção
de prevalência (PP) é:
33
Figura 1 – Fórmula para proporção de prevalência
Em pesquisas etiológicas, a identificação de fatores de risco é comum e, em nossa busca por esses
fatores de risco, normalmente nos interessamos por novos casos (incidentes). Podemos, por
exemplo, gostar de saber se a incidência de diabetes está aumentando ao longo do tempo ou quanto
a incidência é maior em obesos do que em não-obesos. Para estimar a incidência, precisamos
observar a população que estudaremos ao longo do tempo. Suponha que, como ponto de partida,
usamos a população estudada antes; depois da triagem inicial, teríamos 10.000 - 50 = 9.950 pessoas
sem diabetes tipo 1. Essa é nossa população em risco, eles correm o risco de se tornarem casos
(novos) incidentes de diabetes tipo 1 durante o acompanhamento.
Estar em risco de ser diagnosticado com diabetes pela primeira vez significa apenas que o risco não
é 0 (como seria nos casos prevalentes). Naquele momento, identificávamos todos os novos casos
de diabetes tipo 1 durante a nossa população de 9.950 pessoas. Idealmente, examinaríamos todos
os diabéticos em intervalos regulares e curtos, mas isso não é realmente uma opção em estudos
maiores. No entanto, poderíamos examinar todos no final do acompanhamento e identificar todos os
novos casos. Se não houver perda para acompanhamento (ninguém morreu por outras causas além
do diabetes e ninguém deixou nosso grupo de estudo), poderíamos estimar a incidência cumulativa
(uma estimativa do risco de doença para um determinado seguimento de tempo de atividade).
Uma ferramenta muito utilizada em saúde pública é o Estudo Transversal. Em um estudo transversal, todos
em uma determinada população ou numa amostra aleatória dela definem a população de origem. A doença e
seus possíveis determinantes são todos registrados em um determinado momento. Isso introduz uma
ambiguidade temporal na possível associação causa-efeito e, por esse motivo, a maioria dos estudos
transversais possui objetivos de pesquisa que são apenas descritivos. Utilizamos estudos transversais para
estimar, por exemplo, a prevalência de depressão em uma determinada atividade laboral.
A mortalidade específica da doença também é uma medida de incidência, mas, em vez de calcular
todas as mortes no numerador, apenas calculamos as mortes por doenças específicas. Aqueles que
morrem de outras causas são censurados, eles são removidos da população em risco. Algumas
34
dessas mortes censuradas podem surgir de eventos não independentes. A morte de um acidente
vascular cerebral pode, por exemplo, compartilhar causas com a morte por doença cardíaca
coronária. Se temos observações censuradas (o que significa que temos eventos concorrentes que
encerram a observação antes do início da doença), geralmente usamos o método Kaplan-Meier para
produzir uma curva de sobrevivência, ou seja, as probabilidades de morrer ou sobreviver em função
de Tempo. Digamos que tivemos uma população de 10 pessoas expostas a um vírus mortal. Seis
deles morrem do vírus e um morre por outras causas (censurado).
Quando é possível estratificar todos os eventos nos momentos em que esses eventos ocorreram, a
probabilidade de morte é 1 dividida pela população em risco no momento em que ocorre uma morte.
A probabilidade de sobrevivência é 1 menos a probabilidade de morrer e a sobrevivência cumulativa
é o produto dessas probabilidades de sobrevivência. A probabilidade de sobreviver até o dia 20 é a
probabilidade de sobreviver até o dia 7 × dia 8 × dia 9 × dia 10, etc. (1,0 × 0,90 × 0,89 × 0,86 × 0,83
× 0,80 × 0,75) = 0,34.
Observe que esse método de estimativa de riscos também pode ser usado para eventos que não
sejam a morte. Se estudássemos pacientes com herpes zoster que tomam um novo analgésico,
poderíamos estimar a probabilidade de permanecer com dor ao longo do tempo - sobrevivência
cumulativa com dor. Podemos então calcular a probabilidade de alívio da dor em função do tempo
no grupo de pacientes que recebem um tipo de tratamento versus outro tipo de tratamento.
3.4 Letalidade
A taxa de letalidade, também chamada taxa de letalidade de casos, é a proporção de pessoas que
morrem de uma doença especificada entre todos os indivíduos diagnosticados com a doença durante
um certo período de tempo. A letalidade é usada como uma medida da gravidade da doença e é
frequentemente usada para prognóstico (previsão do curso ou resultado da doença), onde taxas
comparativamente altas são indicativas de resultados relativamente ruins. Também pode ser usado
para avaliar o efeito de novos tratamentos, com as medidas diminuindo à medida que eles melhoram.
A letalidade não é constante, podendo variar entre populações e ao longo do tempo, dependendo da
interação entre o agente causador da doença, o hospedeiro e o ambiente, bem como os tratamentos
disponíveis e a qualidade do atendimento ao paciente.
A taxa de letalidade é calculada dividindo-se o número de mortes por uma doença especificada
durante um período de tempo definido pelo número de indivíduos diagnosticados com a doença
durante esse período; a proporção resultante é então multiplicada por 100 para gerar uma
porcentagem. Esse cálculo difere daquele utilizado para a taxa de mortalidade. Embora o número de
mortes sirva como numerador para ambas as medidas, a taxa de mortalidade é calculada dividindo-
35
se o número de mortes pela população em risco durante um determinado período de tempo. Portanto,
as duas medidas fornecem informações diferentes.
Para se ter uma ideia dos danos que uma determinada doença causa a uma população, normalmente são
avaliadas não só sua incidência ou prevalência, mas também sua letalidade, uma doença com incidência e
letalidade moderada pode ser mais prejudicial do que uma com alta letalidade, mas baixa incidência, ou uma
com alta incidência, mas de baixíssima letalidade.
Se fizéssemos isso retirando apenas exposições de que as pessoas gostam, muitos sentiriam que a
vida foi apenas prolongada, mesmo que não fosse e esse não é o nosso objetivo. Na saúde pública
e na medicina clínica, tentamos adicionar qualidade de vida, e não apenas mais anos a vida.
Uma forma de estudo bastante utilizada em epidemiologia é o Estudo Randomizado Controlado, pesquise
sobre o que se trata e exemplos desse estudo.
Se conhecemos as causas de uma doença, por que não podemos ter certeza do tempo de início?
As respostas a essa pergunta são importantes e foram objeto de muito debate, mas em resumo:
mesmo que conheçamos todas as causas de doenças, o que não conhecemos, não sabemos se
essas causas estarão presentes no futuro e, mesmo se soubéssemos as causas, não haveria um
vínculo determinístico entre a causa e o efeito, o que está em conflito com o conceito de causalidade
no senso comum. Se pressionarmos o interruptor, a luz está acesa. Caso isso não aconteça,
verificaremos se a fonte de alimentação está funcionando, se a lâmpada está intacta, etc. Não
acreditamos que a luz tenha falhado por causa do acaso, mas o acaso é uma explicação em que
frequentemente nos deparamos na epidemiologia.
36
Nosso conceito de causalidade do senso comum nos dirá que, dadas todas essas condições, a luz
acenderá quando pressionarmos o interruptor. Embora exista uma sequência de causas, a sequência
é determinística. Se o eletricista que pedimos para reparar a luz dissesse que a luz não funcionava
por causa do azar, chamaríamos outro eletricista. Na causalidade da doença, não temos muitos
exemplos de sequências de um vínculo determinístico entre as exposições e a doença. Se existe ou
não um elemento aleatório na causa da doença, não se sabe e pode-se nunca saber, porque a
maioria das doenças tem muitas causas. O que sabemos é que as associações parecem ser
probabilísticas.
Ficaríamos muito desapontados se o eletricista que ligamos para consertar a luz aparecesse com
uma afirmação como: “se você pressionar o interruptor algumas vezes a luz acenderá, mas outras
vezes não, e pode levar anos para acender, e às vezes a luz acenderá mesmo que ninguém tenha
ligado o interruptor”. Esse é, no entanto, o tipo de explicação que muitas vezes temos para oferecer
na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Portanto, precisamos ser mais precisos ao
explicar o que estamos falando quando falamos sobre causas de doenças, porque estamos em
conflito com os conceitos do senso comum. Nossa previsão será sempre incerta, porque as doenças
têm muitas causas e essas causas podem interagir em ambientes que podem ou não estar presentes
no momento em que podem ativar um não uma doença. Nosso entendimento atual ilustra uma
complexidade substancial na causa de muitas doenças.
Mackie ilustrou elegantemente como podemos entender essa incerteza, enquanto mantemos nosso
conceito comum de causalidade, em seus trabalhos das décadas de 1960 e 1970 e em seu livro
histórico de 1974. Ele mostrou como as causas às vezes podem ativar um efeito e às vezes não,
porque as causas parecem sofrer efeito probabilístico.
Seja E a causa e D seu efeito, a doença, o caminho E → D ilustra que, quando temos uma exposição,
E, temos uma doença, D, e se temos D, ela sempre foi precedida por E. Não há muitos exemplos de
causalidade na medicina que seguem esse padrão. A parte necessária dessa definição é definida
por este diagrama, uma causa necessária:
Figura 2 – Diagrama de causalidade
Se você tem a doença, a causa E estava presente em algum momento antes do início da doença,
mas a causa não precisa levar à doença. Os exemplos que conhecemos da literatura médica que
seguem esse padrão geralmente se originam de doenças nas quais definimos a doença para incluir
a(s) causa(s). A AIDS inclui infecções por HIV na definição, a SAF (síndrome do álcool fetal) inclui a
exposição pré-natal ao álcool na definição, etc. A exposição ao HIV e ao álcool tornam-se causas
necessárias de acordo com esse método de definição de uma doença. Usamos um argumento
circular para defender nosso argumento. Isso não é o mesmo que dizer que estamos errados, mas
apenas afirma que isso pode estar errado e ainda poderíamos ter gerado um vínculo que atenderia
aos critérios causais. Se você definir uma depressão pós-natal como uma depressão que se segue
duas semanas após o parto, isso não significa que o parto está causando depressão (embora possa
ser o caso). Ele seguiria o diagrama, porque ilustra apenas uma sequência de eventos. Depressões
ocorrem em vários momentos da vida e algumas acontecerão nas 2 semanas seguintes ao parto,
devido apenas ao acaso. Se incluirmos uma certa mutação genética em nossa definição de uma
37
determinada doença, a mutação se tornará uma "causa" necessária da doença, independentemente
de ter ou não algo a ver com ela.
Uma causa suficiente é uma causa que é sempre seguida pela doença, mas a doença também pode
ter outras causas:
Figura 3 – Diagrama de causa suficiente
Temos apenas alguns exemplos, mas a falta de ferro ou vitamina B na dieta (E) e anemia (D) podem
ser essas causas. Uma causa necessária e suficiente é ilustrada por E → D e aqui são poucos os
exemplos, se houver. Uma exceção pode ser as desordens de um único gene, onde a doença quase
sempre segue a presença da “mutação”, como na PKU, fibrose cística ou doença das células
falciformes.
De fato, a maioria das causas que estudamos parece seguir um padrão como este:
Figura 4 – Diagrama de causalidade mais comum
Às vezes D segue E, mas nem sempre, e às vezes D é visto para pessoas não expostas a E. Mackie
mostrou que, se imaginarmos causas agindo em conjunto (no que ele chamou de campos causais),
as causas individuais seguiriam um padrão probabilístico em populações caracterizadas pela
frequência de outras causas no campo causal (chamadas causas componentes). São necessárias
pelo menos quatro causas para gerar um padrão em que nenhuma dessas quatro (E1 – E4) é
necessária ou suficiente no sentido global “forte”.
Em conclusão, os modelos causais dos componentes explicam algumas das anomalias que estão
em conflito com os conceitos de senso comum, tais como: (1) Por que as causas não ocasionam
efeitos totais? O motivo é que os eventos têm mais de uma causa e o campo causal deve ser
concluído para iniciar um evento. (2) Por que vemos efeitos atrasados? Os efeitos retardados vêm
do tempo que leva desde o início da exposição até que os outros componentes no campo causal
estejam em vigor (tempo de indução) e o tempo que leva para concluir o campo causal até que a
doença atinja um estágio em que está detectável (tempo de latência). (3) Como podemos entender
a força da associação? A força da associação depende mais da ocorrência de outras causas
componentes que levam a uma doença. Se essas outras causas componentes são frequentes na
população, a força da associação é alta; se eles são raros, a força da associação é baixa.
38
pública precisa ter um diagnóstico da comunidade para definir prioridades. A chave para esse
diagnóstico é a incidência e prevalência de doenças e a ocorrência de fatores de risco na população.
Precisamos monitorar os dados de incidência ao longo do tempo para identificar alterações em sua
ocorrência. Se a incidência está aumentando e sabemos as causas e como evitá-las, estratégias de
prevenção podem ser aplicadas.
Uma doença cuja prevalência seja significativa, mas constante ao longo do tempo é considerada Endêmica,
se a prevalência de uma doença aumentar ao longo do tempo acima do valor esperado ela é considerada
Epidêmica.
As comparações de incidências entre diferentes áreas têm sido usadas com grande sucesso para
gerar hipóteses sobre a etiologia das doenças. As taxas de câncer variam, por exemplo, em grande
parte entre diferentes áreas geográficas. Parte do motivo de uma variação pode ser uma diferença
nas causas genéticas, mas os estudos também mostram uma grande variação entre grupos étnicos
semelhantes ou dentro de um grupo étnico em que uma parte migra de um país para outro. Por
exemplo, os japoneses têm baixas taxas de incidência de câncer de cólon no Japão, mas essas
taxas aumentam após algum tempo para as novas áreas de alto risco, como os EUA. Mudanças
rápidas ao longo do tempo na mesma população geralmente não são motivadas por fatores
genéticos, embora possam ter um componente genético, como expressões gênicas, dependendo
das exposições ambientais. Várias observações indicam que a associação entre obesidade e
diabetes difere amplamente entre grupos étnicos, provavelmente devido a fatores genéticos que são
ativados sob certas condições de estilo de vida.
Dados descritivos também são usados para demonstrar diferenças sociais em doenças e
mortalidade. No Reino Unido, por exemplo, as tabelas de mortalidade ocupacional foram produzidas
por mais de um século. Nos escritórios do Censo Demográfico e nas Pesquisas, as causas de morte
são exibidas de acordo com grupos ocupacionais e sociais.
Existe uma incidência cumulativa de sintomas de intoxicação alimentar 24 horas após a ingestão dos
itens alimentares suspeitos. Devido à tradição, essas proporções (riscos) cumulativas de incidência
são chamadas taxas de ataque. Diferenças nessas taxas são usadas para gerar hipóteses de itens
alimentares específicos que devem ser mais investigados (por exemplo, frango grelhado).
A Organização Mundial da Saúde produziu documentos sobre a carga global de doenças para nos
lembrar de como a saúde é desigualmente distribuída no mundo e de quão estreitamente muitos de
nossos indicadores de saúde se correlacionam com a pobreza.
39
O profissional de saúde pública precisa estar familiarizado com mais medidas de ocorrência de
doenças e com a relação entre essas medidas. Muitas vezes eles terão que trabalhar com dados
secundários que apenas aproximam as informações necessárias para fazer cálculos exatos. Eles
devem saber quando essas aproximações são boas o suficiente para o objetivo em questão e quando
não são.
Além disso, na saúde pública, muitas vezes é útil estimar a proporção de doenças que poderia ser
evitada se eliminarmos a exposição, a fração atribuível. Se a exposição for uma causa necessária
"forte" para a doença, o cálculo é simples, pois não haverá casos se eliminarmos a exposição.
Não temos casos de varíola porque o vírus da varíola foi erradicado, pelo menos fora de alguns
laboratórios. Na maioria dos outros casos, a situação é mais complicada.
A taxa de mortalidade geral bruta é maior na Dinamarca do que na Groenlândia (11 e 6 por 1.000),
apesar de todas as taxas de mortalidade específicas por idade serem mais altas na Groenlândia (de
1,1 a 5,0 vezes mais). A explicação para isso é que a população da Groenlândia é muito mais jovem
que a da Dinamarca e as taxas de mortalidade aumentam com a idade, logo a comparação é confusa
com a idade. A taxa bruta de mortalidade relativa 6/11 = 0,55 reflete tanto as diferenças nas taxas
de mortalidade quanto as diferenças na estrutura etária. Nesse caso, as diferenças na estrutura etária
e nas taxas de mortalidade específicas são tão grandes que até a direção da associação está errada.
No entanto, é fato que apenas 6 homens por 1.000 na Groenlândia morreram em 1975, enquanto 11
por 1.000 morreram na Dinamarca. O risco de morrer era maior na Dinamarca porque a população
era muito mais velha que na Groenlândia, não porque a expectativa de vida era menor na Dinamarca
do que na Groenlândia; de fato, a expectativa de vida foi e é maior na Dinamarca do que na
Groenlândia para homens e mulheres. A taxa de mortalidade bruta é uma média ponderada das
taxas de mortalidade específicas por idade. Os pesos são as proporções de pessoas nas categorias
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de idade. A comparação das taxas brutas é confusa com a idade, porque esses pesos específicos
da idade diferem nas duas populações.
Quando envelhecemos a padronização, devemos usar o mesmo conjunto de pesos específicos para
a idade na comparação e usá-la como nossa definição de padronização de idade. Se usarmos um
conjunto externo de pesos - semelhante ao uso de uma distribuição etária em uma população modelo
fiel - a padronização é chamada de padronização direta.
Se usarmos um dos dois conjuntos de pesos para as populações que queremos comparar,
chamamos a padronização de indireta, embora essa terminologia não seja muito informativa. O
importante é que os dados sejam padronizados por idade se as taxas de mortalidade específicas por
idade que comparamos forem ponderadas pelo mesmo conjunto de pesos. Existem diferentes pesos
para selecionar e essa escolha deve ser feita com cuidado. A menos que as taxas de mortalidade
relativa sejam as mesmas em todas as faixas etárias, a seleção do peso afetará o resultado obtido.
Considerações finais
A epidemiologia identifica a distribuição de doenças, fatores subjacentes à sua fonte e causa e
métodos para seu controle. Isso requer uma compreensão de como fatores políticos, sociais e
científicos se cruzam para agravar o risco de doença, o que torna a epidemiologia uma ciência única.
A epidemiologia remonta à Era de Péricles no século V a.C., mas sua posição como uma ciência
'verdadeira' no século XXI é frequentemente questionada. Isso é inesperado, dado que a
epidemiologia afeta diretamente vidas e nossa dependência somente aumentará em um mundo em
mudança.
É inquestionável que a disciplina salvou milhões de vidas, tanto de doenças infecciosas quanto não
transmissíveis, por meio de intervenções e programas preventivos que foram implementados como
resultado dos resultados do estudo.
No livro “Epidemiologia”, do autor Roberto A. Medronho, o leitor vai encontrar de forma mais aprofundada todos
os conceitos chaves para o entendimento da epidemiologia de forma clara.
As prioridades de saúde pública devem ser definidas pela combinação de quão graves são as doenças e nossa
capacidade de alterar sua frequência ou gravidade. Essa intervenção requer conhecimento de como tratar e
prevenir a doença.
Para estimar a incidência e a prevalência de uma doença em uma determinada população, precisamos
identificar a população e examinar todas as pessoas nela ou uma amostra delas em um determinado momento
(para estimar a prevalência) ou durante um período de acompanhamento (para estimar a incidência). Então,
teremos ideia de quanto aquela doença aflige aquela determinada população.
41
Provavelmente a medida epidemiológica mais conhecida é a mortalidade. As taxas de mortalidade são o
número de mortes em uma determinada população dividido pelo período de tempo em que tivemos essa
população sob observação.
Outra medida epidemiológica é a expectativa de vida. A expectativa de vida é baseada na experiência atual de
mortalidade e, portanto, nas exposições passadas para se ter uma ideia da média das idades em que os
membros da população entram em óbito.
Uma medida epidemiológica para se avaliar a gravidade de uma doença é a taxa de letalidade, que é a
proporção de pessoas que morrem de uma doença especificada entre todos os indivíduos diagnosticados com
a doença durante um certo período de tempo. A letalidade é frequentemente usada para prognóstico.
As medidas epidemiológicas nos lembram que as doenças não são eventos aleatórios, mas resultados da
interação entre genes e fatores ambientais. Portanto, somos capazes de prevenir várias doenças ou, pelo
menos, atrasar seu tempo de início, reduzindo as causas que são reduzíveis.
Embora tenhamos estabelecido um grande número de determinantes da doença, nossas previsões de sua
ocorrência no futuro são incertas.
Dados descritivos também são usados para demonstrar diferenças sociais em doenças e mortalidade. A
Organização Mundial da Saúde produziu documentos sobre a carga global de doenças para nos lembrar de
como a saúde é desigualmente distribuída no mundo e de quão estreitamente muitos de nossos indicadores
de saúde se correlacionam com a pobreza.
A maioria das doenças e causas de morte variam com a idade e o sexo, assim, as taxas brutas de incidência
e mortalidade geralmente não devem ser comparadas, a menos que a estrutura subjacente de idade e sexo
nas populações seja semelhante. A idade é um relógio de ponto que começa no nascimento e se correlaciona
com alterações biológicas ao longo do tempo e exposições ambientais cumulativas. Portanto, a maioria das
doenças depende fortemente da idade.
Em uma determinada população de 5 mil habitantes, em um determinado ano, o número de mortes por doenças
cardiovasculares foi de 5 habitantes, o número de mortes por câncer foi de 5% e o número de mortes por outras
causas foi de 50 habitantes. Qual a mortalidade geral nessa população em porcentagem?
a) 50%
b) 10,1%
c) 10%
d) 15%
e) 11%
Questão Objetiva
O Sarampo é uma doença viral aguda que estava erradicada no Brasil, porém, com os movimentos antivacina
e a consequente redução de criança vacinadas contra o sarampo, a doença voltou a apresentar casos no país.
Sabe-se que, em média, a cada 100 pessoas que se contagiam com o sarampo, 15 vão a óbito. Baseado
nesses dados, qual a letalidade do sarampo?
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a) 15 óbitos por mil habitantes.
b) 1,5%
c) 15%
d) 15‰
e) 150%
Questão Discursiva
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV),
demonstrando assim uma causalidade linear, ou seja, para se ter a doença, precisa estar infectado com o
vírus. Podemos dizer, portanto, que toda doença tem uma causa linear?
RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa D
Questão Discursiva
Resposta Padrão: Não. A maioria das doenças que atingem os humanos são multicausais, formando um
panorama probabilístico, em que cada causa pode ou não desencadear a doença, ou que várias causas podem
de modo sinergético levar à maior probabilidade do surgimento da doença.
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UNIDADE I
CAPÍTULO 4 – BIOMEDICINA ESTÉTICA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ História e introdução à estética;
✓ Procedimentos minimamente invasivos;
✓ Laserterapia;
✓ Eletroterapia;
✓ Peelings.
Introdução
A Biomedicina Estética é uma recente especialidade da biomedicina reconhecida pelo Conselho
Federal de Biomedicina (CFBM). Essa especialidade é voltada para o tratamento estético do paciente
saudável, cuidando da saúde, bem-estar e beleza do paciente através da utilização dos melhores
produtos e equipamentos da saúde no tratamento e na recuperação dos tecidos e do organismo
como um todo.
O biomédico esteta é um profissional da saúde bem preparado que possui vasto conhecimento
dermatofisiológico, ou seja, possui conhecimento acerca das características da derme, seus anexos,
demais tecidos (incluindo tecido adiposo), metabolismo e patologias. O conhecimento adquirido
durante a formação do profissional biomédico permite a realização de terapias para disfunções
estéticas corporais, faciais e envelhecimento fisiológico relacionados à derme e seus anexos, tecido
adiposo e metabolismo, promovendo melhor qualidade de vida ao paciente.
Durante os anos, a medicina, por meio de dois atos médicos, tentou limitar sem sucesso a atuação dos
biomédicos e demais profissionais da saúde no campo da estética. A biomedicina estética é reconhecida pelo
CFBM e o biomédico habilitado em estética é totalmente capacitado em realizar os procedimentos que a ele
são permitidos legalmente.
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Figura 1 – Dr.ª Ana Carolina Puga, idealizadora da Biomedicina Estética e Presidente Fundadora da
Sociedade Brasileira de Biomedicina Estética (SBBME)
Fonte: SBBME
Desde então, a Dra. Ana Carolina Puga se encontra envolvida em diversos projetos relacionados à
Biomedicina Estética, permitindo que o biomédico esteta possa realizar cada vez mais
procedimentos estéticos e que o exercício da Biomedicina na área da estética seja expandido, além
de fornecer segurança à especialidade.
Em 1946, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como: “um estado de completo
bem estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade”. Esse
conceito de saúde foi universalmente aceito e ainda é até os dias de hoje. O principal objetivo da
saúde estética é proporcionar saúde aos pacientes por meio da beleza, proporcionando melhores
condições de bem estar físico, mental e social, além de prevenir doenças, promover
rejuvenescimento fisiológico, melhorar a autoestima e os hábitos de vida. Considerando esse
conceito e sabendo que o biomédico é um profissional da saúde que domina o conhecimento sobre
recursos medicamentosos, laboratoriais e tecnológicos, não podemos negar o papel da biomedicina
e dos biomédicos em atividades da área da saúde estética.
É preciso estar ciente que os profissionais biomédicos não diagnosticam ou tratam doenças de
quaisquer naturezas, incluindo as dermatológicas. A atuação do biomédico esteta na área da saúde
estética está voltada para procedimentos puramente estéticos e não cirúrgicos.
O campo da estética vem se mostrando promissor para o biomédico, que pode atuar em consultórios
e clínicas de tratamentos estéticos. O biomédico ainda pode atuar em conjunto com dermatologistas
ou cirurgiões plásticos em alguns tratamentos preventivos e no acompanhamento pós-cirúrgico.
45
Além disso, o biomédico esteta pode atuar na área da pesquisa em biomedicina estética e no
desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos. É permitido também que ele atue como
docente em cursos profissionalizantes, de graduação e pós-graduação na biomedicina estética.
O Brasil é um dos países que apresenta grande mercado consumidor de produtos estéticos e
cosméticos, com alta busca por métodos alternativos menos invasivos de tratamento, favorecendo o
desenvolvimento da área e do profissional.
Para se aprofundar um pouco mais na biomedicina estética, acesse o site da Sociedade Brasileira de
Biomedicina Estética: https://sbbme.org.br/
Inicialmente, durante a consulta estética, o biomédico esteta faz anamnese corporal e facial, a qual
consiste em uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao paciente e possui a intenção de
ser um ponto inicial na identificação das condições do paciente. Dessa forma, é possível classificar
o tipo de pele do paciente e identificar disfunções estéticas (dermatofisiológicas).
A pele pode ser classificada quanto ao biotipo e ao fototipo. A classificação quanto ao biotipo
cutâneo está relacionada à quantidade de oleosidade e de hidratação que a pele possui. Existem
quatro tipos de biotipos cutâneos: a pele normal (eudérmica), a pele oleosa (lipídica), a pele seca
(alipítica) e a pele mista (combinada). A classificação quanto ao fototipo está relacionada à reação
da pele quando exposta ao sol, possuindo 6 fototipos.
As disfunções estéticas são alterações orgânicas que possuem diferentes causas. As disfunções
mais comuns são: a Lipodistrofia, conhecida como gordura localizada, lipodistrofia ginoide,
conhecida como celulite, as estrias e a flacidez tissular (da pele) e muscular. A Síndrome de
Desarmonia Corporal consiste em um conjunto de sintomas associados: alterações da gordura
corporal, presença de celulite e alterações musculares. Cada um desses sintomas pode se
apresentar em intensidades diferentes e, por esse motivo, o tratamento deve ser individualizado.
46
4.3 Procedimentos minimamente invasivos
Procedimentos minimamente invasivos são procedimentos injetáveis, perfurocortantes ou
escarificantes, realizados com agulhas e injeções hipodérmicas. Esse tipo de procedimento invade
epiderme, derme, a gordura subcutânea e o músculo (Figura 2) sem atingir órgãos internos e, por
esse motivo, são considerados como não cirúrgicos. Dos procedimentos minimamente invasivos
realizados pelo biomédico esteta, temos a carboxiterapia, microagulhamento, toxina botulínica,
preenchimento, fio de sustentação, intradermoterapia, intramuscular e procedimento para
microvasos.
Figura 2 – Injeções minimamente invasivas
Fonte: biomedicinaestetica.com.br
Sob hipótese alguma o biomédico pode realizar procedimentos invasivos, como cirurgias e outros
procedimentos que possam atingir órgãos internos.
47
arranhaduras. Além disso, a formação de colágeno e elastina pode contribuir para a melhora no
aspecto da flacidez e das rugas. Quando à carboxiterapia, ela é aplicada no couro cabelo, sendo
capaz de fortalecer e produzir novos folículos capilares por meio do aumento da irrigação sanguínea,
resultando em redução da queda de cabelo. Na região de olheiras, a formação de novos vasos
sanguíneos estimulada pela carboxiterapia pode amenizar a aparência escurecida.
A realização da carboxiterapia pode causar um pouco de desconforto devido ao gás injetado na pele,
entretanto, esse desconforto pode variar em cada pessoa.
O microagulhamento, também conhecido como dermaroller, é uma das técnicas indicadas para o
tratamento da pele, capaz de reduzir os efeitos do envelhecimento, minimizar manchas, cicatrizes e
outras lesões cutâneas, como acnes e estrias. O procedimento consiste na utilização de um rolo com
microagulhas estéreis e inoxidáveis de comprimento variando entre 0,25mm a 2,5mm. As
microagulhas provocam microlesões no local, promovendo nele processo inflamatório de
cicatrização. Durante esse processo de se recompor, ocorre estimulação da produção de colágeno,
melhorando a aparência da pele. Em outras palavras, esse tratamento ocorre em três fases: injúria,
cicatrização e maturação. Antes do procedimento, um creme anestésico é aplicado na região a ser
tratada. A ocorrência de sangramento leve é normal, visto que a derme (região vascularizada) é
atingida. O rolo com microagulhas é descartável, portanto, não deve ser reutilizado de forma alguma.
Áreas da pele onde houve perda de gordura são preenchidas geralmente com ácido hialurônico. O
ácido hialurônico está presente naturalmente no organismo e se encontra em maior quantidade na
pele, onde tem papel importante no preenchimento dos espaços que as células não ocupam,
promovendo a sua firmeza. Dessa forma, aplicações de ácido hialurônico melhoram a estrutura e a
elasticidade da pele, suavizam ou removem as rugas, restauram e realçam o volume da face, além
de permitir a correção de sulcos na pele, remodelação e sustentação facial.
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O polimetilmetacrilato (PMMA) é uma substância plástica e o preenchimento realizado com ela não é indicado
para fins estéticos, visto que é um material que pode trazer diversas complicações a longo prazo.
Os fios de sustentação PDO, também conhecidos como sutura Silhouette, são fios de
polidioxanona capazes de eliminar rugas e linhas de expressão, levantar as maçãs do rosto, eliminar
o excesso de pele abaixo do queixo (conhecido como papada) e ainda estimular a produção de
colágeno. A aplicação dos fios é feita separadamente em cada região com o auxílio de uma agulha
apropriada e, em seguida, os tecidos faciais do paciente saudável são reposicionados. O
procedimento é realizado com o paciente acordado e sob anestesia local. A melhora na condição do
paciente pode ser notada imediatamente após o procedimento, porém, os melhores resultados
surgem entre 60 a 90 dias após a aplicação, sendo absorvidos ao longo do tempo. A recuperação é
tranquila e após 2 ou 3 dias o paciente pode retornar às suas atividades normais. Os fios de
sustentação possuem efeito rejuvenescedor, estimulando a produção de colágeno e de sustentação,
reposicionado a musculatura facial.
O Procedimento Estético Injetável para Microvasos (PEIM) é a técnica em estética indicada para
o tratamento de microvasos, conhecidos popularmente como “vasinhos”. Os microvasos são vasos
muito finos de cor avermelhada ou arroxeada, visíveis na superfície da pele. Microvasos não são
varizes: microvasos são veias que possuem entre 1 e 2 milímetros de diâmetro e as varizes possuem
diâmetro superior a 3 milímetros. O procedimento para microvasos consiste na aplicação de uma
49
substância esclerosante no interior deles por meio de uma agulha bem fina. A substância
esclerosante injetada é capaz de promover uma contração do microvaso, fazendo com que se feche
e impeça a passagem sanguínea. A substância é biocompatível, sendo posteriormente metabolizada
e excretada pelo organismo.
4.4 Laserterapia
A Laserterapia consiste no tratamento com feixe eletromagnético em uma área do corpo para fins
estéticos. Existem diversos tipos de laser com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia
garantidos. Temos como exemplo o laser de CO2 fracionado, laser de rubi, laser Q-Switch, laser
diodo, laser de luz intensa pulsada, a fototerapia, entre outros tipos de laser.
O Laser CO2 fracionado é um dos mais indicados para o rejuvenescimento facial. Ao entrar em
contato com a pele, o laser atua fazendo microperfurações no tecido, as quais promovem
regeneração, estimulando a produção de colágeno e elastina na pele. Durante o procedimento, o
paciente saudável pode sentir um pouco de dor. Nas primeiras 24 horas após o procedimento, a dor
pode continuar diminuindo de forma gradativa, e vermelhidão e inchaço local podem ser observados.
Esse tipo de laser é indicado para o rejuvenescimento, diminuição de cicatrizes de acnes, flacidez
da pele e estrias.
O Laser Q-Switch, assim como o Laser de Rubi, é um laser de despigmentação utilizado na remoção
de tatuagens. Esse laser fornece alta energia em um espaço de tempo extremamente curto,
provocando uma onda de choque capaz de fragmentar o pigmento em partículas muito pequenas
que serão eliminadas pelo sistema linfático.
O Laser Diodo é o mais recomendado para a remoção permanente de pelos (depilação a laser). O
laser emitido é capaz de queimar os pelos até o bulbo, promovendo a eliminação progressiva dos
pelos na região tratada. Durante o procedimento, o paciente saudável pode sentir um pouco de dor
e calor na região tratada. O número de sessões é determinado durante a avaliação realizada pelo
biomédico esteta e varia entre 04 a 06 sessões.
O Laser Luz Intensa Pulsada (LIP) pode ser utilizado em diferentes tipos de tratamento: remoção
de pelos (fotodepilação), rejuvenescimento, cauterização de vasos, eliminação de manchas
causadas pelos raios solares. Esse laser atua liberando raios de maneira difusa, sendo uma fonte
de energia luminosa que gera calor para a pele. Durante o procedimento, o paciente saudável pode
sentir um pouco de dor e calor na região tratada. O número de sessões é determinado durante a
avaliação realizada pelo biomédico esteta e varia de acordo com o objetivo do tratamento e o tipo de
pele do paciente saudável.
A fototerapia utiliza Luz Emitida por Diodo (LED), a qual faz parte do espectro eletromagnético
luminoso visível e/ou invisível. A aplicação da LED promove o aumento da síntese de ATP
(adenosina trifosfato), redução do pH intracelular, estimula macrófagos e atividade fagocitária, ativa
fibroblastos, induz a angiogênese (formação de novos capilares sanguíneos), entre outros efeitos.
Esse procedimento é indicado no tratamento de flacidez, linhas de expressão, manchas e cicatrizes.
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4.5 Eletroterapia
A eletroterapia consiste no tratamento com correntes elétricas de baixa intensidade em uma área
do corpo para fins estéticos. Existem diversas técnicas com diferentes finalidades, todas com
segurança e eficácia garantidas. Temos como exemplo: a radiofrequência, criolipólise, a
ultracaviração, correntes elétricas (microcorrentes, corrente galvânica), entre outros tratamentos.
A corrente galvânica é uma corrente contínua e constante. Na estética são utilizados dois eletrodos,
um positivo e outro negativo, que entram em contato com a pele, fazendo com que a corrente de
baixa frequência caminhe em um único sentido. Quando a pele é tratada previamente com
medicamentos, a corrente galvânica é capaz de estimular uma penetração mais profunda dos
componentes do medicamento. Além disso, a aplicação favorece a vasodilatação, aumenta a
temperatura e diminui a dor. O procedimento é indicado para o tratamento de acne, estrias, olheiras,
rugas, linhas de expressão e eliminação do excesso de sebo na pele.
4.6 Peelings
O peeling é o procedimento estético onde é feita a remoção de camadas mais superficiais da pele.
É considerado um dos tratamentos mais eficientes para manchas de acne ou de sol, olheiras, rugas,
51
flacidez e envelhecimento precoce. Existem variados tipos de peeling e a indicação de cada técnica
varia conforme as necessidades do paciente saudável.
O peeling químico consiste na utilização de ácidos sobre a pele. Existem diferentes tipos de ácidos
que podem ser utilizados em um peeling químico, como o ácido retinóico, o ácido glicólico, o ácido
salicílico, etc. De forma geral, os ácidos promovem a descamação e a remoção de células mortas,
resultando em regeneração da pele. Quanto mais agressiva for a técnica, mais profunda será sua
atuação. O peeling químico pode ser muito superficial a profundo e cada um possui uma indicação:
➢ Muito superficial: indicado para o tratamento da pele seca, sem brilho, cansada ou
maltratada.
➢ Superficial: indicado para o tratamento da pele áspera, com manchas superficiais, rugas
finas ou acne ativa.
➢ Médio: indicado para o tratamento da pele com manchas, rugas, sulcos, cicatrizes de acne
e marcas de expressão.
O peeling mecânico, também chamados de físico, consiste na esfoliação profunda da pele de forma
mecânica por meio da utilização de produtos e equipamentos apropriados. O procedimento estimula
a renovação celular e o rejuvenescimento da pele. Existem dois tipos de peelings mecânicos: os de
microdermoabrasão e os de hidrodermoabrasão.
O peeling de cristal é feito por microdermoabrasão e consiste em uma esfoliação na pele por meio
de microcristais de óxido de alumínio. O procedimento promove esfoliação apenas superficial do
tecido, estimulando a renovação do colágeno sem danificar o tecido. Além disso, não traz risco de
alergias como o peeling químico. Esse tipo de peeling é indicado para o tratamento de cicatrizes,
acnes, rugas finas e manchas, além de melhorar o aspecto (aparência e textura) da pele e ser eficaz
no rejuvenescimento.
O peeling de água é feito por hidrodermoabrasão e consiste na esfoliação suave da pele por meio
da utilização de um jateamento de água em alta velocidade, associada à pressão negativa da
ponteira. A água quando combinada ao vácuo ou à caneta diamantada, é capaz de reduzir a
abrasividade e minimizar o ressecamento da pele, principalmente em comparação às técnicas
tradicionais.
52
Investigue novas técnicas de peeling desenvolvidas recentemente.
Considerações finais
A Biomedicina Estética, recente especialidade da biomedicina, é a especialidade voltada para o
tratamento estético do paciente saudável, cuidando da saúde, bem-estar e beleza através da
utilização dos melhores produtos e equipamentos de saúde no tratamento e na recuperação dos
tecidos e do organismo como um todo.
O projeto para a criação da especialidade de Biomedicina estética foi desenvolvido em 2006 pela Dra. Ana
Carolina Puga. Somente no dia 10 de outubro de 2010, Puga apresentou o projeto em plenária perante
membros do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), onde foi votado e aprovado por unanimidade pelos
membros do CFBM e dos Conselhos Regionais de Biomedicina (CRBMs). A Resolução nº 197, publicada em
21 de fevereiro de 2011, estabeleceu a Biomedicina Estética como a 36ª especialidade da Biomedicina e a
primeira especialidade do biomédico voltada para a Saúde Estética.
O principal objetivo da saúde estética é proporcionar saúde aos pacientes por meio da beleza, proporcionando
melhores condições de bem estar físico, mental e social, além de prevenir doenças, promover
rejuvenescimento fisiológico, melhorar a autoestima e os hábitos de vida. Considerando esse conceito e
sabendo que o biomédico é um profissional da saúde que domina o conhecimento sobre recursos
medicamentosos, laboratoriais e tecnológicos, não podemos negar o papel da biomedicina e dos biomédicos
em atividades da área da saúde estética.
Na prática da biomedicina estética, ao profissional é permitida a consulta estética, onde é realizada a avaliação
do paciente e determinada a estratégia de tratamento estético que deverá ser realizada. O biomédico esteta é
capacitado a prescrever substâncias, medicamentos e terapias de fins estéticos, bem como realizar
procedimentos minimamente invasivos (não cirúrgicos). Além disso, pode atuar como responsável técnico em
clínicas e consultórios que ofereçam atividades no campo estético. O biomédico esteta tem total competência
para identificar disfunções de pele e encaminhar o paciente para um médico especialista.
Procedimentos minimamente invasivos são procedimentos injetáveis, perfurocortantes ou escarificantes,
realizados com agulhas e injeções hipodérmicas. Esse tipo de procedimento invade epiderme, derme, a
gordura subcutânea e o músculo (Figura 2) sem atingir órgãos internos e, por esse motivo, são considerados
como não cirúrgicos. Dos procedimentos minimamente invasivos realizados pelo biomédico esteta temos a
carboxiterapia, microagulhamento, toxina botulínica, preenchimento, fio de sustentação, intradermoterapia,
intramuscular e procedimento para microvasos.
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Laserterapia consiste no tratamento com feixe eletromagnético em uma área do corpo para fins estéticos.
Existem diversos tipos de laser com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia garantidas. Temos
como exemplo: o laser de CO2 fracionado, laser de rubi, laser Q-Switch, laser diodo, laser de luz intensa
pulsada, a fototerapia, entre outros tipos de laser.
A eletroterapia consiste no tratamento com correntes elétricas de baixa intensidade em uma área do corpo
para fins estéticos. Existem diversas técnicas com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia
garantidas. Temos como exemplo: a radiofrequência, criolipólise, a ultracaviração, correntes elétricas
(microcorrentes, corrente galvânica e microgalvânica), entre outros tratamentos.
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Questão Objetiva
Procedimento que consiste na utilização de um vácuo, que promove a sucção da pele, e, em seguida, um
resfriamento intenso (-5 a -10 ºC) do local tratado:
a) Ultracapitação
b) Criolipólise
c) Peeling mecânico
d) Carboxiterapia
e) Laser fracionado
Questão Discursiva
Descreva como ocorre a consulta estética realizada pelo biomédico esteta.
RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa B
Questão Discursiva
Resposta Padrão: Inicialmente, durante a consulta estética, o biomédico esteta faz anamnese corporal e
facial, a qual consiste em uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao paciente e possui a intenção
de ser um ponto inicial na identificação das condições do paciente. Dessa forma, é possível classificar o tipo
de pele do paciente e identificar disfunções estéticas (dermatofisiológicas). Assim que as condições do paciente
são analisadas, é definida a estratégia de tratamento. O biomédico esteta é capacitado a prescrever
substâncias e medicamentos de fins estéticos, como cosméticos, cosmecêuticos e nutricosméticos,
medicamentos biológicos, correlatos, livres e manipulados não controlados, terapias de longevidade,
antienvelhecimento e envelhecimento saudável.
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