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CLARETIANO – CENTRO UNIVERSITÁRIO

ALUNO: WELLINGTON HENRIQUE DOS SANTOS BELO – RA: 8137778


CURSO: FILOSOFIA - BACHARELADO

PRÁTICAS FILOSÓFICAS
Ética e Bioética em Filosofia

DISCIPLINA: ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO


PROFESSORA: KELLY DOS REIS CANAVEZ

BATATAIS
2022
ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO

1. INTRODUÇÃO

O relatório a seguir tem por objetivo descrever as atividades realizadas no


estágio supervisionado obrigatório no curso de Bacharelado em Filosofia do
Centro Universitário Claretiano. O estágio foi realizado no Instituto do Câncer
Infantil do Agreste – ICIA, situado na cidade de Caruaru, no estado de
Pernambuco. O estágio que tem por temática a Filosofia Ética e Bioética, vai
apresentar inicialmente como fundamentação teórica os conceitos de
pensadores como Potter que é considerado o pai da Bioética, bem como
conceitos tradicionais da ética e da moral para posteriormente aplicá-los a
prática realizada. Posteriormente, o relatório fará uma breve descrição sobre o
lugar onde ocorreu a experiência de estágio, bem como o relato sobre esta
experiência.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ser humano é talvez o mais indefeso dos animais encontrados no planeta


terra, o mais necessitado de cuidados, atenção e regulamentação de seus
direitos em vista de uma vida digna. Assim, o presente estágio realizado em um
hospital que cuida do câncer infantil de tantas crianças cujas famílias não
possuem condições de arcar com o tratamento e ainda por ser uma instituição
sem fins lucrativos, nos remete a diversos primados básicos da ética, da
bioética e até mesmo da história da filosofia que fundamentam o presente
relatório.

De início, cumpre destacar os preceitos de um dos pais da bioética ao tratar


acerca da essência da ética como um todo, assim, afirmava Van Resselaer
Potter (1971):

[...] o que nós temos de enfrentar é o fato de que a ética


humana não pode estar separada de uma compreensão
realista da ecologia em um sentido amplo. Valores éticos não
podem estar separados de fatos biológicos [...]1
Ou seja, na afirmação acima já se destacava a importância de se pensar
uma ética vinculada com a realidade, com os aspectos socioculturais, com a
história e principalmente que acompanhasse também os avanços da ciência
que colocam em choque diversos preceitos morais das sociedades. Nesse
sentido surge a bioética que atualmente é tão estudada e tão falada, sendo um
dos ramos derivados da ética mais debatidos na atualidade.

Assim, apesar de ser um estudo relativamente recente, mas a bioética


ganhou forças com a promulgação do Relatório de Belmont do qual emanaram
grandes debates que deram origem aos quatro princípios da bioética que são
amplamente utilizados hoje. E foram vislumbrados também de forma bastante
clara na prática desse estágio realizado no Hospital do Câncer Infantil do
Agreste.

Em outras palavras, há a liberdade individual, há a


solidariedade e a “privaticidade”, a tolerância e o pluralismo
sociocultural, que precisam ser considerados em cada tomada
de decisão. A análise dos quatro princípios precisa ser feita
com base nesses pressupostos que acabamos de estudar. Por
exemplo: o princípio da autonomia baseia-se nos pressupostos
de que a sociedade seja democrática e que haja, de fato, a
igualdade de condições entre todos os indivíduos,
indistintamente.2
Assim como afirma o autor acima, é necessário considerar em cada
decisão os aspectos já mencionados acima e ainda a solidariedade, a liberdade
individual, a privaticidade e a tolerância. Tendo em vista todos esses aspectos,
surgem os princípios universais da bioética, um deles é o da autonomia, já
mencionado acima, mas também surgem o princípio de não maleficência que é
a obrigação de não causar prejuízo intencionalmente, o princípio de justiça que
tem a ver com o que é devido às pessoas, com aquilo que, de alguma maneira,
lhes pertence ou corresponde e o princípio de beneficência que significa
praticar atos positivos para promover o bem e a realização dos demais.

Todos esses princípios foram contemplados no estudo, nas entrevistas e


nas práticas realizadas no presente estágio com os demais profissionais de

1
POTTER, Van Rensselaer. Bioética: uma ponte para o futuro. São Paulo: Edições Loyola,
1971.
2
SEHNEM, M. A. Caderno de Bioética (CRC). Batatais: Claretiano, 2013.
saúde. Cumpre destacar que referidos princípios surgem no intuito de
resguardar o direito das pessoas enquanto vulneráveis frente aos avanços
exacerbados da ciência e também diante de suas condições sociais e
existenciais de vulneráveis. Sobre a ideia de vulnerabilidade na ética e na
bioética afirmam Garrafa e Pessini (2003):

Além dessa vulnerabilidade básica intrínseca à existência


humana, alguns indivíduos são afetados por circunstâncias
desfavoráveis nas quais a pobreza, a falta de educação, as
dificuldades geográficas, as doenças crônicas e endêmicas ou
outros infortúnios os tornam ainda mais vulneráveis. O
florescimento humano depende além disso da aquisição de
algumas virtudes intelectuais e morais, empreendimento que
pode ser perturbado por deficiências biológicas, educacionais
ou outras de cunho social que constituem então
vulnerabilidades adicionais. Para os fins desta discussão,
podemos conceber a vulnerabilidade existencial do homem
como primária, enquanto as deficiências circunstanciais geram
uma forma secundária. Todos estão sujeitos à forma primária,
mas só os infelizes padecem da segunda.3
Tendo em vista toda essa reflexão acerca da vulnerabilidade, no
presente estágio essa vulnerabilidade torna-se ainda mais presente. Primeiro
pelos fatores socioeconômicos da região e dos pacientes assistidos pela
instituição, bem como pela idade, pois por se tratarem de crianças, torna-se
ainda mais evidente e necessidade de um arcabouço principiológico que deve
assisti-los garantindo a sua dignidade e o direito à vida. Se tornou cada vez
mais evidente a cada entrevista realizada e a cada atividade do estágio o
cuidado desempenhado pelos profissionais em garantir condições iguais a
todos os pacientes dentro de suas limitações e dificuldades.

Destaca-se ainda que foi necessário recorrer aos princípios éticos e


bioéticos para também lidar com questões controversas que são próprias da
bioética, pois ela se propõe a tratar e tentar responder grandes dilemas
envolvendo os maiores avanços científicos. Acerca desses dilemas:

Como recorda David J. Roy, "algumas das primeiras


controvérsias na bioética diziam respeito aos recém-nascidos
portadores de más-formações graves, à manutenção do
respirador artificial para as pessoas em estado de coma e à
reanimação de pacientes em estados avançados de uma
doença ou daqueles cujo prognóstico era muito incerto. Devia-
se ou não salvar todos esses recém-nascidos, manter o
3
GARRAFA, Volnei; PESSINI, Leo. Bioética: poder e injustiça. São Paulo: Centro Universitário
São Camilo: Loyola, 2003.
respirador artificial nesses doentes, reanimar esses
pacientes?". A prática médica e paramédica apresenta muitas
outras situações em que é difícil tomar uma decisão: uma
testemunha de Jeová pode recusar um tratamento que a
manteria viva? Como a enfermeira pode proteger a
confidencialidade de um paciente vitimado pela aids? Pode-se
conter um doente que incomoda as outras pessoas? De um
modo mais geral, deve-se dizer a verdade ao doente, à família?
Que atitude global se deve ter diante dos doentes?4
Pude observar no estágio, vários desses dilemas mencionados pelo
autor acima como os dilemas das enfermeiras diante de alguns casos, a
questão da recusa de receber transfusão de sangue por parte dos
Testemunhas de Jeová e as reflexões biológicas multidisciplinares da bioética
foram fundamentais para melhor compreender como cada caso era
solucionado. Assim como também foi interessante observar como cada
profissional também e utiliza dos parâmetros bioéticos em sua prática.

3. CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO

3.1. Breve histórico

O ICIA – Instituto do Câncer Infantil do Agreste foi idealizado pelo Dr.


Luiz Henrique Soares, nascido e criado na cidade de Caruaru, logo após uma
experiência de estudo do sul do país onde entrou em contato com outra
instituição de oncologia dedicada exclusivamente para a realidade pediátrica.
Percebendo a necessidade de uma instituição parecida em sua terra, buscou
implantar aqui esse projeto.

O ICIA surge de um grupo de médicos que instruídos pelo Dr. Luiz, se


voluntariaram para atender as crianças numa pequena propriedade na cidade.
Todavia, em 2004, após campanhas e uma doação de um terreno por parte da
prefeitura municipal, o Instituto iniciava uma nova fase em seu sonho, agora no
seu atual espaço.

4
DURAND, Guy. Introdução Geral à Bioética: história, conceitos e instrumentos.. 5. ed. São
Paulo: Centro Universitário São Camilo: Loyola, 2014. p.220
3.2. Área de atuação, características e peculiaridades sobre o campo

O Instituto do Câncer Infantil do Agreste tem por missão propiciar


gratuitamente o tratamento de crianças e adolescentes com doenças
oncológicas residentes no interior do estado. Todavia, o tratamento não se
resume somente a questão de saúde física do paciente, mas também a
questões sociais, econômicas, psicológicas e espirituais.

Diferentemente de outros institutos e tratamentos, o ICIA tem o


diferencial de buscar um tratamento integral, que zela pela integração do
círculo familiar e a tentativa do paciente não ser tirado de seu mundo e das
coisas que lhe são caras.

3.3. Organograma, número de funcionários e como funciona

O Instituto do Câncer Infantil do Agreste tem com diretor o Dr. Luiz


Henrique Soares e a Psicóloga Elys Ramos como chefe de ambulatório, com
uma equipe de mais de 80 funcionários. Atualmente o ICIA possui mais de
2000 crianças cadastradas em algum tipo de tratamento, com uma frequência
de mais de 500 tratamentos por mês. Os tratamentos e toda a manutenção do
instituto advêm de sua arrecadação, por doações diretas e pessoais e também
captação de recursos de fontes exteriores, para manter com sua missão de um
tratamento humanizado e gratuito.

3.4. Importância do campo para a comunidade em que se insere

O ICIA já recebeu inúmeras homenagens importantes para a sociedade


como o prêmio de administração mais transparente e também de ser
considerada uma das 100 mais importantes ONGs do país. O Instituto do
Câncer Infantil do Agreste é ainda importantíssimo no contexto que se insere,
por ser uma opção bem mais viável de tratamento para as pessoas que estão
longe dos grandes centros urbanos, como a capital. Assim o tratamento se
torna mais humanizado e muito menos invasivo.
3.5. Breve descrição do setor onde foi realizado o estágio;

O estágio foi realizado no próprio prédio do Instituto do Câncer Infantil do


Agreste e realizado com a supervisão da chefe de ambulatório Elys Ramos,
que teve o cuidado de nos ceder salas para as entrevistas e nos permitir um
tour por todo prédio. Onde foi realizado observações e reflexões.

4. O Estágio (Desenvolvimento)

A) desenvolvimento das atividades

A.1. Conhecendo o Campo

Nos primeiros encontros do estágio, realizamos diversas consultas aos


estatutos de criação do instituto, a história do hospital, também códigos éticos
da medicina, aos códigos que regem as profissões dos diversos profissionais.
Pudemos observar a grande importância e também o longo planejamento que
passou para que a instituição pudesse ser o que se tornou hoje.

Interessante observar a visão de um grupo de pessoas e a forma


organizada que precisam lidar para construir um hospital que faz um bem
enorme a toda a região do agreste pernambucano e a centenas de vidas que
passam por lá todas as semanas. Sempre respeitando os limites éticos e o que
é permitido em cada área de atuação.

Atuando sempre dentro dos que é permitido por lei, realizando todos os
registros e buscando auxílio até mesmo de instituições do exterior que até hoje
abraçam essa causa tão nobre desenvolvida pelo ICIA. Foi bastante importante
essa etapa para compreender melhor a dimensão o trabalho da instituição.

A.2. Entrevistas

Depois foi dado início a parte mais longa do estágio que foram as
entrevistas realizadas. Etapa crucial, pois foram nas entrevistas que pude
observar como a bioética e as reflexões filosóficas empregadas pela ética
podem ser utilizadas na prática e também são tão necessárias na vida
profissional. Não somente por ser um estágio na área de saúde, mas
lembrando que são questões morais aplicáveis a qualquer área da vida.
Nas entrevistas dentro do setor administrativo, pude contemplar os
grandes dilemas e questões enfrentados para administrar algo tão grande e tão
crucial na vida das pessoas. Com os profissionais de saúde, em seus relatos,
pude observar como existem de fato grandes dilemas bioéticos que eles
precisam lidar todos os dias, desde questões entre respeitar a liberdade
individual de cada paciente e resguardar o seu direito a vida, até mesmo
questões que vão de encontro diretamente com crenças religiosas, tanto dos
pacientes como dos médicos.

Também pude contemplar relatos de várias pessoas que mudaram sua


concepção de vida e da forma de se relacionar com o mundo diante da
realidade tão difícil que enfrentam diariamente. A grande maioria tenta levar a
rotina na maior alegria possível, especialmente pelos pacientes, mas
justamente também pelos pacientes precisam lidar com o luto e com a finitude
da existência.

A.3. Momentos

Tive a oportunidade de participar de diversos momentos marcantes da


vida do instituto, pude observar como se dá a seleção dos voluntários que
ajudam todos os dias no hospital sob a supervisão da responsável pelo estágio
que também é uma das psicólogas da instituição. Pude auxiliar também na
organização de um evento em comemoração ao dia das crianças, onde pude
ter contato com a família de diversos pacientes e nesse momento também
alegrar um pouco a rotina tão difícil daquelas crianças.

Também realizei visitas em diversos dos setores do hospital, pude


compreender como funciona a sistemática de cada etapa do tratamento
oncológico pediátrico e bem como os desafios enfrentados em cada uma delas,
não somente desafios estruturais, mas também éticos e bioéticos. Tive muito
contato também com o setor do atendimento ao público e pude ouvir relatos
impressionantes de muitas histórias de pacientes que venceram o câncer e até
mesmo outros que foram verdadeiros milagres que mudaram completamente a
visão filosófica de mundo de diversos dos profissionais do instituto.

B) Ilustrações
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente experiência de estágio muito contribuiu para a minha formação


acadêmica e profissional, especialmente no tocante ao bacharelado de
filosofia, onde pude ver muitos dos conceitos que aprendemos apenas nos
livros e na teoria sendo utilizados na prática e uma prática tão importante que
salva a vida das pessoas. Pude operacionalizar muitos dos conceitos da ética e
da bioética e agora consigo aplica-los de forma mais eficaz e direcionada.

Também diversas outras questões filosóficas existenciais contempladas no


decorrer da história da filosofia pude observar na prática do presente estágio.
Questões envolvendo pessoas que mudaram completamente sua concepção
de mundo e sua forma de se relacionar com o mundo material e com o
transcendente em suas vidas. Algo que observamos bastante nos relatos dos
filósofos que foram estudados em diversas épocas durante o curso.

Por fim, é incomparável a grande contribuição que a presente experiência


trouxe pra minha formação humana, o exercício da escuta e da compreensão
dessa realidade de pessoas que lidam com processos tão difíceis muito me
ajudou a amadurecer e aprofundar ainda mais a visão da realidade que irei
lidar futuramente no acolhimento e na escuta pastoral e sacramental

6. REFERÊNCIAS

(No final do relatório, os autores citados dentro dele, devem ser listados de
forma integral num item independente, o qual é denominado “Referências
bibliográficas”, ou “Bibliografia”. Sugerimos que a ABNT NBR 6023/ago. 2002
seja consultada, pois versa sobre a referida temática.)

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