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BIOLOGIA CELULAR
E MOLECULAR
IMUNOFARMACOLOGIA
Copyright © by Fiocruz, 2014
Todos os direitos desta edição reservados à Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Brasil, 4365
Proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo
Editores Revisores
Helene Santos Barbosa Adriana Lima Vallochi
Milton Ozorio Moraes Andre Miguel Japiassu
Rubem Figueiredo Sadok Menna-Barreto Christianne Bandeira de Melo
Claudia Lucia Martins Silva
Organizadores Emiliano de Oliveira Barreto
Patricia Machado Rodrigues e Silva José Carlos Alves Filho
Patricia Torres Bozza Luís Cristóvão de Moraes Sobrino Pôrto
Maria das Graças Muller de Oliveira Henriques
Autores
Miriam Bianchi de Frontin Werneck
Alessandra M. Siqueira
Rachel Novaes Gomes
Ana Caroline Costa Silva
Thereza Christina Barja Fidalgo
Bianca T. Ciambarella
Fábio P. M. dos Santos
Kelly G. Magalhães
Priscilla C. Olsen Projeto Gráfico, capa e diagramação
Rafael M. Cardoso Simone Oliveira
CDD 615.37
Alessandra M. Siqueira
Ana Caroline Costa Silva
Bianca T. Ciambarella
Fábio P. M. dos Santos
Kelly G. Magalhães
Priscilla C. Olsen
Rafael M. Cardoso
SÉRIE EM
BIOLOGIA CELULAR
E MOLECULAR
IMUNOFARMACOLOGIA
1ª edição
Rio de Janeiro
IOC - Instituto Oswaldo Cruz
Apresentação à coleção
Os cursos de férias no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) surgiram com o objetivo
de oferecer aos estudantes de graduação a oportunidade de estudar em uma Instituição
de Pesquisa de excelência, abordando em profundidade temas incomuns à grade curricu-
lar da universidade. Agregado a este objetivo principal, a formatação desse curso permi-
tiria o trânsito e vivência dos estudantes no ambientes científico dos diferentes labora-
tórios do IOC. Além disso, a possibilidade de estimular os estudantes de pós-graduação
do IOC a desenvolvem atividades didáticas teórico-práticas, preencheria também uma
lacuna importante na formação dos mestres e doutores da novssa instituição que não
possui cursos de graduação.
A ideia surgiu em 2007, e desde sua primeira edição, os cursos de férias do IOC ver-
sam sobre temas relevantes da área de pesquisa em saúde no Brasil. De 2007 a 2012,
foram realizadas 11 edições dos Cursos de Férias, nas versões verão e inverno, tendo sido
oferecidas as mais variadas disciplinas, corrdenadas por mais de 50 pesquisadores do
IOC, envolvendo centenas de mestrandos e doutorandos e mais de 1.000 alunos oriundos
de dezenas de universidades de todo o país.
Desde o início, um estímulo adicional aos professores do curso foi o desenvolvimento
de material didático original para servir de apoio às aulas teóricas e práticas. O resulta-
do desse esforço coletivo se traduz nesta coleção. Os textos foram desenvolvidos em
linguagem simples e objetiva e conteúdo inovador, abordando temas tranversais em bio-
ciências. Assim, desenvolvemos fascílulos para a formação de jovens cientistas na van-
guarda do conhecimento em áreas que apresentam hibridismo e multidisciplinaridades
absolutamente crusciais para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Estamos convencidos de que este material permitirá aos leitores acesso rápido e fá-
cil a conteúdos não abordados durante a graduação, além de possibilitar a integração de
atividades didáticas e o estímulo à redação científica entre pós-graduandos do IOC.
Boa leitura.
Helene S. Barbosa
Milton O. Moraes
Rubem F. S. Menna-Barreto
Nota dos organizadores
A criação dos Cursos de Férias foi uma importante iniciativa do Instituto Oswaldo
Cruz, cuja principal proposta foi minimizar deficiências de disciplinas oferecidas na gra-
duação, bem como estimular o desenvolvimento do pensamento científico em várias
áreas da Saúde no país, e possibilitar a experiência em aplicações práticas nos temas
abordados.
Esta apostila corresponde à compilação das duas primeiras edições do curso de Imu-
nofarmacologia. Sua estruturação foi voltada para o aprendizado de aspectos básicos
em Imunologia e a compreensão de processos patológicos relacionados ao sistema
immune, bem como o conhecimento de conceitos de Farmacologia necessários à com-
preensão das intervenções terapêuticas relevantes na prática clínica .
É o produto final de um extenso trabalho de pesquisa por parte dos professores (alu-
nos de pós-graduação), e também do exercício de discussão com os coordenadores,
resultando em um processo rico de troca de informações e amadurecimento mútuo.
Contamos, também, com a contribuição inestimável de um grupo de pesquisadores in-
ternos e externos à instituição, que realizou um trabalho de revisão bastante criterioso,
fazendo desta apostila uma ferramenta útil para consulta de bibliografia básica e didá-
tica complementar.
1.1. Introdução.......................................................................................................................................11
1.2. Origem do Sistema Imunológico............................................................................................................................. 13
1.3. A resposta imune inata................................................................................................................................................ 14
1.4. Células que participam do reconhecimento imunológico inato.............................................................15
1.5. A Fagocitose...................................................................................................................................................................... 18
1.6. Receptores de reconhecimento padrão............................................................................................................ 19
1.7. TLRs....................................................................................................................................................................................... 19
1.8. Os Inflamassomas...........................................................................................................................................................21
2. IMUNIDADE ADAPTATIVA............................................................................................................24
2.1. Definição.............................................................................................................................................................................25
2.2. Evolução.............................................................................................................................................................................25
2.3. Inata x adquirida............................................................................................................................................................ 26
2.4. Componentes celulares da imunidade adaptativa...................................................................................... 26
2.4.1. Linfócito T ........................................................................................................................................................... 26
2.4.1.1. MHC ..........................................................................................................................................................27
2.4.1.2. Linfócito T CD4 auxiliar ................................................................................................................ 28
2.4.1.3. Linfócito T CD8 citotóxico............................................................................................................ 29
2.4.1.4. Células NKT.......................................................................................................................................... 29
2.4.2. Linfócito B.......................................................................................................................................................... 30
2.4.2.1. Os anticorpos ..................................................................................................................................... 30
2.5. Resposta Celular............................................................................................................................................................ 31
2.5.1. Reconhecimento do Antígeno ................................................................................................................... 31
2.5.2. Ativação das células T ...................................................................................................................................32
2.5.3. Mecanismos efetores das células T .......................................................................................................33
2.5.3.1. Th1 ..............................................................................................................................................................33
2.5.3.2. Th2 ............................................................................................................................................................33
2.5.3.3. Linfócitos TCD8+ ............................................................................................................................. 34
2.5.3.4. Formação das células de memória ..........................................................................................35
2.6. Resposta humoral........................................................................................................................................................ 36
2.6.1. Reconhecimento dos antígenos............................................................................................................... 36
2.6.2. Ativação dos linfócitos B ............................................................................................................................37
2.6.3. Mecanismos efetores dos linfócitos B ............................................................................................... 39
2.7. Principais características da resposta imunológica adquirida.............................................................. 39
2.7.1. Especificidade e diversidade..................................................................................................................... 39
2.7.2. Geração da especificidade e diversidade ..........................................................................................40
2.7.2.1. Diversidade do MHC.........................................................................................................................40
2.7.2.2. Diversidade da Ig .............................................................................................................................. 41
2.7.2.3. Diversidade do TCR..........................................................................................................................44
2.7.3. Memória...............................................................................................................................................................44
2.7.4. Tolerância a antígenos próprios...............................................................................................................46
2.8. Regulação.........................................................................................................................................................................46
2.9. Falhas na resposta........................................................................................................................................................47
3. INFLAMAÇÃO AGUDA....................................................................................................................48
3.1. Bases da inflamação aguda......................................................................................................................................49
3.2. Sinais cardinais da inflamação aguda................................................................................................................. 50
3.3. Eventos da inflamação aguda..................................................................................................................................51
3.3.1. Alterações vasculares ....................................................................................................................................51
3.3.2. Edema....................................................................................................................................................................52
3.3.3. Infiltrado inflamatório...................................................................................................................................53
3.4. Mediadores químicos da inflamação aguda....................................................................................................55
3.5. Resolução da inflamação aguda.............................................................................................................................55
4. INFLAMAÇÃO CRÔNICA................................................................................................................56
4.1. Bases da inflamação crônica....................................................................................................................................57
4.2. Causas da inflamação crônica................................................................................................................................ 58
4.3. Classificação................................................................................................................................................................... 59
4.3.1. Inespecífica ........................................................................................................................................................ 59
4.3.2. Granulomatosa ................................................................................................................................................ 59
4.4. Reparo................................................................................................................................................................................. 61
4.4.1. Fases do Reparo/Cicatrização................................................................................................................. 62
4.5. Doenças inflamatórias crônicas........................................................................................................................... 63
4.5.1. Tuberculose.........................................................................................................................................................64
4.5.2. Esquistossomose...........................................................................................................................................66
4.5.3. Asma......................................................................................................................................................................69
4.5.4. Silicose...................................................................................................................................................................71
6. FARMACOLOGIA GERAL...............................................................................................................84
6.1. Introdução e Aspectos Históricos........................................................................................................................ 85
6.2. Princípios básicos de Farmacologia....................................................................................................................87
6.3. Vias de administração de fármacos....................................................................................................................88
6.4. Tipos de Receptores.................................................................................................................................................. 92
6.5. Introdução à Farmacocinética.............................................................................................................................. 92
6.6. Distribuição de fármacos........................................................................................................................................94
6.7. Metabolização de fármacos.................................................................................................................................... 95
6.8. Eliminação de Fármacos...........................................................................................................................................97
6.9. Tipos de interações estabelecidas entre o fármaco e seu alvo...........................................................98
KELLY G. MAGALHÃES
SISTEMA IMUNOLÓGICO | Cap. 1
1.1. Introdução
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
¾¾ BASÓFILOS: são células com núcleo volumoso, com forma retorcida e irregular.
A membrana plasmática dos basófilos, assim como a dos mastócitos, possui receptores
para a imunoglobulina E (IgE). Eles liberam seus grânulos para o meio extracelular, sob a
ação dos mesmos estímulos que promovem a expulsão dos grânulos dos mastócitos. No
entanto, apesar das semelhanças, basófilos e mastócitos não são formas diferentes do
mesmo tipo celular, pois se originam de precursores diferentes.
¾¾ CÉLULAS NK: são células peculiares que possuem um progenitor linfóide e foram
inicialmente caracterizadas como linfócitos, mas que participam da resposta imune ina-
ta. Estas células possuem atividade citotóxica rápida, induzindo diretamente a morte
de células tumorais e células infectadas por vírus. São grandes produtoras de citocinas
pró-inflamatórias como IFNg e TNF, bem como de citocinas imunossupressoras como a
IL-10, além de secretar diversos tipos de quimiocinas, como MCP-1, MIP1-a, MIP1-b, RAN-
TES e IL-8. Estas células possuem receptores de ativação e de inibição, os quais contro-
lam seus processos de ativação e desativação, respectivamente.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
as quais são muito eficientes em apresentar antígenos. São células especializadas em cap-
turar e apresentar antígenos aos linfócitos virgens, e são, portanto, consideradas a ponte
entre a imunidade inata e a imunidade adquirida. As células dendríticas residem no tecido
periférico, como pele, fígado e intestino onde capturam antígenos, tornam-se ativadas e
migram para os linfonodos regionais. Nestes locais ocorre o processamento e a apresen-
tação de antígenos proteicos ou lipídicos aos linfócitos T virgens. Elas possuem diferentes
moléculas co-estimulatórias em sua superfície expressas em maior densidade que outras
células apresentadoras de antígenos, como CD80, CD86 e CD40, as quais fazem destas
células as melhores apresentadoras de antígenos a linfócitos T virgens.
1.5. A Fagocitose
O processo de fagocitose foi primeiramente descrito com os importantes achados
de Elie Metchnikoff. Em 1871, Metchnikoff descobriu que larvas de estrelas do mar em
contato com espinhos de rosa, apresentavam um mecanismo celular, com a presença
de células com a capacidade de englobar patógenos invasores e induzir uma resposta
potente e protetora. Desde então, ficou cada vez mais claro que a fagocitose é um dos
mais importantes processos que medeiam e controlam as funções efetoras da respos-
ta imune inata.
Células especializadas como macrófagos, monócitos e neutrófilos, cuja principal
função é remover grandes patógenos – como bactérias e leveduras ou alternativamente
grandes debris celulares e/ou corpos apoptóticos –, utilizam-se primariamente da fa-
gocitose para realizar essa tarefa. Os eventos envolvidos na fagocitose são altamente
regulados e envolvem receptores específicos de membrana.
Em células fagocíticas, a captura de patógenos é conduzida pela associação de di-
versos tipos de moléculas (por exemplo, os anticorpos e as unidades do sistema com-
plemento) à superfície do patógeno (opsonização), seguida pelo reconhecimento destas
moléculas por receptores na superfície da célula e fundamentalmente da associação
destes receptores às moléculas aderidas ao patógeno (opsoninas). Esta associação pro-
move expansões da membrana celular, dependente de actina, que culmina com o englo-
bamento do patógeno e, conseqüentemente, sua internalização.
Uma vez internalizado, o patógeno é envolvido em uma vesícula (endossoma) que em
seguida é fundido com a outra vesícula contendo diversas enzimas, o lisossomo. A ativi-
dade enzimática da nova vesícula agora formada (fagolisossomo) destrói o patógeno. De
Fig. 1.1 Representação do processo de fagocitose de uma bactéria opsonizada, com a fu-
são do vacúolo parasitóforo com o lisossoma, formando o fagolisossoma. A ação
de enzimas no interior do fagolisossoma destrói a bactéria.
1.7. TLRs
Em 1996, foi descrito na mosca de frutas, Drosophila melanogaster, que o receptor Toll,
envolvido com sua polarização dorso-ventral, também era responsável pela resposta imune
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
na infecção contra fungos. Este estudo possibilitou que imunologistas percebessem que a
imunidade inata pode detectar a invasão por microrganismos. Subseqüentemente, foram
descritos diversos homólogos do receptor Toll de Drosophila em mamíferos, designados
agora como receptores do tipo Toll, pertencentes à classe de receptores de reconhecimento
de padrões moleculares .
Os TLRs têm a capacidade de reconhecer patógenos ou produtos derivados de pató-
genos e iniciar uma via de sinalização que leva a ativação da imunidade inata do hospedei-
ro. Todos os TLRs contém uma região extracelular rica em repetições de leucinas (LRRs)
e uma região intracelular similar ao receptor de interleucina-1 (TIR) que pode recrutar
proteínas adaptadoras, como por exemplo a MyD88, e ativar uma cascata de sinalização
celular, a qual culmina com a produção de citocinas, quimiocinas, eicosanóides e molécu-
las antimicrobianas. Portanto, a sinalização por TLRs ativa a resposta imune inata e pode
consequentemente modular a resposta imune adaptativa.
Existem atualmente 13 tipos de TLRs. Foram identificados em humanos 10 recepto-
res tipo toll (TLR1–10) e 12 TLRs em camundongos (TLR1–9, TLR11–13).
Sua localização celular varia conforme o tipo de receptor: TLR1, TLR2, TLR4 e TLR5,
por exemplo, estão localizados na superfície da membrana celular, enquanto TLR3, TLR7,
TLR8 e TLR9 são receptores intracelulares localizados na membrana de endossomos e
lisossomos.
Cada TLR é capaz de reconhecer diferentes padrões moleculares associados a pató-
genos (PAMP). TLR4, por exemplo, reconhece lipopolissacarídeo (LPS) derivado da pa-
rede de bactérias gram-negativas; TLR2 reconhece peptideoglicano, o qual é abundante
em bactérias gram-positivas, além de lipoproteínas e ácido lipoteicóico; TLR3 reconhece
fita dupla de RNA proveniente de vírus; TLR7 e TLR8 reconhecem fita simples de RNA
viral; TLR5 reconhece flagelina de bactérias; TLR9 reconhece regiões CpG de DNA não
metiladas encontradas abundantemente em genomas de procariotos e vírus; TLR11 re-
conhece profilina de protozoários, TLR13 reconhece RNA ribossomal 23S de bactérias
gram-positivas e gram-negativas.
1.8. Os Inflamassomas
Além dos TLRs , a imunidade inata também conta com a ação dos membros da família
dos receptores do tipo NOD ou NLR (NOD-like receptors). Atualmente, cerca de 23 genes
da família NLR foram descritos em humanos, enquanto 34 genes já foram identificados
em camundongos. A estrutura desses receptores é basicamente dividida em três regi-
ões, que consistem de uma porção C-terminal rica em leucina (LRRs) e uma porção N-ter-
minal de recrutamento de caspase (CARD) ou pirina (PYD); e um domínio central NACHT.
Análises filogenéticas revelaram três distintas subfamílias dentro da família NLR: a sub-
família dos NODs (NOD1-2, NOD3/NLRC3, NOD4/NLRC5, NOD5/NLRX1, CIITA), a subfa-
mília dos NLRPs (NLRP1-14, também chamados NALPs) e a subfamília do IPAF (NLRC4 e
NAIPs). Recentemente, vários estudos têm demonstrado a importância desses recepto-
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
res na imunidade contra patógenos intracelulares, pois eles são capazes de se oligomeri-
zar e participam na formação de um complexo multiprotéico denominado inflamassoma.
Este complexo é responsável pela clivagem e ativação de caspase-1, que exerce um papel
fundamental no processamento e secreção das interleucinas (IL) pró-inflamatórias IL-1β
e IL-18. Dois sinais são necessários para a produção de IL-1β e IL-18, um deles é a sinali-
zação por PRRs que leva à ativação do fator de transcrição NF-κB, induzindo a síntese
de pró-IL-1β e pró-IL-18. O segundo sinal consiste no processamento proteolítico desses
precursores em suas formas reativas via caspase-1, a qual é ativada pelo inflamassoma.
Além disso, a ativação de caspase-1 também leva à morte celular por piroptose.
Até o momento, 4 inflamassomas foram identificados: NLRP1, NLRP3, NLRC4 e AIM2.
A formação dos inflamassomas NLRP1, NLRC4 e AIM2 é promovida por estímulos espe-
cíficos. NLRP1, que foi o primeiro inflamassoma a ser descrito, é ativado principalmente
pela toxina letal proveniente do Bacillus anthracis. Já o inflamassoma AIM2 é ativado
por fitas duplas de DNA de vírus e bactérias, enquanto o inflamassoma NLRC4 responde
à proteína bacteriana flagelina e PrgJ, um componente do sistema de secreção tipo III. O
inflamassoma NLRP3 é atualmente o mais bem caracterizado inflamassoma, o qual res-
ponde a inúmeros estímulos físicos e químicos. Dentre estes estímulos, podemos desta-
car: glicose e ATP extracelulares, cristais de urato monossódico (MSU), colesterol, sílica,
asbestos, sais de alumínio, hemozoína malarial, depósitos amilóides e ácidos graxos.
Considerando a diversidade química e estrutural dos ativadores do inflamassoma
NLRP3, é mais provável que a ativação do inflamassoma NLRP3 não ocorra via a ligação
direta com seus ativadores, e sim através de sinais intracelulares intermediários induzi-
dos por estes ativadores. Podemos citar como exemplos destes sinais intracelulares in-
termediários: o efluxo de potássio, formação de poros na membrana celular, o dano lisos-
somal, a elevação da produção de espécies reativas de oxigênio e o dano mitocondrial.
A ativação dos inflamassomas deve ser firmemente controlada, caso contrário have-
rá o estabelecimento de doenças autoinflamatórias, como por exemplo a febre mediter-
rânea. Portanto, os inflamassomas devem ser rapidamente ativados e serem capazes de
exercer sua atividade efetora de forma eficiente, mas deve em seguida ser regulado ne-
gativamente para se evitar danos colaterais desnecessários. A regulação negativa dos
inflamassomas pode ser feita através da indução da autofagia, produção de interferons
do tipo I e linfócitos T, microRNAs e produção de óxido nítrico.
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2. IMUNIDADE
ADAPTATIVA
ALESSANDRA M. SIQUEIRA
PRISCILLA C. OLSEN
IMUNIDADE ADAPTATIVA | Cap. 2
2.1. Definição
A imunidade adaptativa ou adquirida, diferentemente da inata, apresenta reconheci-
mento específico de epítopos com distribuição mais restrita, podendo discernir porções
diferentes de uma mesma proteína, por exemplo. Além disso, a imunidade adaptativa
desenvolve memória de uma resposta ocorrida. Esta última característica viabiliza uma
resposta aumentada a cada exposição subsequente a uma determinada molécula. O sis-
tema imunológico adquirido é capaz de reconhecer e reagir a um grande número de subs-
tâncias, microbianas ou não, de forma mais específica que o sistema imunológico inato.
As substâncias que induzem uma resposta imunológica específica são chamadas de
antígenos, os quais são definidos como qualquer molécula que se liga a um anticorpo ou
a um receptor de célula T (TCR). O anticorpo liga-se a antígenos proteicos, lipídicos e po-
lissacarídeos, já o TCR liga-se somente a antígenos de origem proteica. O antígeno que
induz a resposta imunológica é denominado de imunógeno. Um imunógeno ou patógeno
pode ser formado por vários antígenos e cada antígeno pode conter vários epítopos, a
qual é uma porção específica do antígeno reconhecida pelos receptores da imunidade
adaptativa. Antígenos que contém apenas um epítopo, frequentemente, não são capa-
zes de promover uma resposta, a menos que estejam ligados a macromoléculas.
2.2. Evolução
Como vimos anteriormente, a imunidade inata é o mecanismo de defesa filogeneti-
camente mais antigo, existindo em todos os organismos multicelulares. Diferentemente
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
2.4.1. Linfócito T
Os linfócitos T são as células que medeiam a resposta imune celular. Origi-
nam-se na medula óssea e amadurecem no timo, onde são selecionados com
base na sua habilidade de distinguir o que é próprio ou não próprio no hospedei-
ro. Os linfócitos T são células da imunidade adquirida que possuem receptores
membranares denominados TCR capazes de reconhecer peptídeos associados
à proteína de membrana denominada complexo principal de histocompatibi-
lidade (MHC) de uma célula (descrito posteriormente). Diferentemente dos
anticorpos, estas células não reconhecem antígenos solúveis. Cada linfócito
expressa um receptor de antígeno com especificidade diferente, o que pos-
2.4.1.1. MHC
O MHC é uma proteína heterodimérica expressa na membrana celular de todas as cé-
lulas nucleadas. Essas proteínas ligam-se aos antígenos proteicos presentes nas células
e os apresentam na membrana plasmática. O complexo MHC associado ao antígeno pode
ser reconhecido pelos receptores TCR das células T. Os MHCs são altamente variáveis,
ou seja, possuem grande polimorfismo. As moléculas de MHC podem ser do tipo clássico
ou não-clássico. Como as moléculas de MHC não-clássicas estão, em sua maioria, asso-
ciadas a função de células do sistema imune inato, neste capítulo abordaremos apenas
as moléculas de MHC clássicas. Há duas classes de MHC do tipo clássico: MHC de classe
I, que são reconhecidos pelos TCD8+, e são expressos em todas as células nucleadas, e o
MHC de classe II que são reconhecidos pelos TCD4+, e são expressos apenas nas células
apresentadoras de antígenos especializadas como as células dendríticas, os macrófa-
gos e os linfócitos B. Os MHC de classe II também podem ser encontrados em outros
tipos celulares, como células endoteliais e epiteliais do timo. Os detalhes sobre a forma-
ção da diversidade do MHC serão abordados posteriormente.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
2.4.2. Linfócito B
Os linfócitos B originam-se e diferenciam-se na medula óssea. Estas
células são responsáveis pela resposta imune mediada por anticorpos,
também chamada de resposta imune humoral. Estas células reconhecem
o antígeno através de seu receptor específico denominado BCR ou imuno-
globulina (Ig) e, após a ativação são capazes de secretar estas imunoglo-
bulinas. As Ig secretadas terão diversas funções na resposta imunológica,
como neutralização, opsonização de antígenos, citotoxicidade celular de-
pendente de anticorpo e ativação do sistema complemento. Após intera-
ção específica via Ig com um antígeno, as células B podem fagocitá-lo e
apresentá-lo via MHC para as células T auxiliares, as quais irão liberar ci-
tocinas específicas que induzirão a ativação destas células. Após a ativa-
ção, estas células irão diferenciar-se em plasmócitos, células secretoras
de anticorpos. Além da recombinação somática do BCR, durante a matu-
ração do linfócito B ocorre, também, a mudança de isotipo e a maturação
da afinidade do anticorpo. Estes processos são induzidos pela interação
entre CD40L nas células T e CD40 nas células B e orquestrados por cito-
cinas produzidas pelas células Th e são uma característica específica da
resposta humoral.
2.4.2.1. Os anticorpos
Os anticorpos ou imunoglobulinas são constituídos de cadeia
leve e cadeia pesada. As cadeias pesadas são nomeadas pelas cin-
co letras gregas: α, δ, ε, γ e μ que correspondem aos cinco tipos de
anticorpos: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, respectivamente. Estes isotipos
ainda podem apresentar subtipos. Cada cadeia pesada possui dois
tipos de regiões: a constante que é semelhante em todos os anti-
corpos do mesmo isotipo e a variável, que é responsável pelo reco-
nhecimento dos antígenos. A cadeia leve também possui uma região
variável e constante. A região Fab é a região de ligação ao antígeno,
enquanto a região Fc, liga-se a receptores encontrados em diversas
células da resposta imune, permitindo a ativação das mesmas. Mais
detalhes sobre os anticorpos serão abordados posteriormente.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
2.5.3.1. Th1
Estimuladas por produtos microbianos, as APCs secretam citocinas,
tais como, a IL-12 e IFN-γ, que estimulam a diferenciação das células Th
em Th1. Os efetores Th1 produzem a citocina IFN- γ e passam a expres-
sar o ligante de CD40 (CD40L). O CD40L liga-se no CD40 presente nos
macrófagos. O IFN- γ ativa os macrófagos induzindo suas funções micro-
bicidas e aumentando sua produção de IL-12. A IL-12 estimula a produ-
ção de IL-2 pelo Th1. A IL-2 aumenta a proliferação das Th1, estimulando,
ainda mais os macrófagos a exercerem suas atividades microbicidas.
Outros mediadores derivados de macrófagos, tal como a IL-18, também
estimulam a produção do IFN- γ. Os macrófagos ativados fagocitam os
microrganismos ou células e sintetizam espécies reativas de oxigênio e
de óxido nítrico que destroem os microrganismos. Essas espécies reati-
vas podem ser liberadas eliminando os microrganismos extracelulares,
podendo causar lesão aos tecidos. Os macrófagos também participam
da manutenção da inflamação aguda atuando através da secreção de ou-
tras citocinas, principalmente IL-1, TNF, quimiocinas e mediadores lipídi-
cos. Estes mediadores inflamatórios auxiliam no recrutamento de mais
células inflamatórias e consequente exacerbação da resposta.
2.5.3.2. Th2
As células Th2 são as responsáveis pelas reações alérgicas e pelo
combate a infecções helmínticas, atuando através da liberação de ci-
tocinas como IL-4 e a IL-13, liberadas pelas células Th2, que induzem
a produção de anticorpos IgE para antígenos específicos, enquanto
a IL-5 leva à ativação e o recrutamento dos eosinófilos para o local
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Fig. 2.1 Desenho esquemático das fases da resposta mediada por células.
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Fig. 2.3 Esquema representativo da estrutura das moléculas de MHC de classe I e de classe II.
2.7.2.2. Diversidade da Ig
As características estruturais básicas dos anticorpos são semelhan-
tes, já que os anticorpos são formados por duas cadeias leves e duas
cadeias pesadas que se associam de forma simétrica. Uma cadeia pe-
sada se liga a outra pesada por pontes dissulfeto e as cadeias leves se
ligam cada uma em uma cadeia pesada da mesma forma. As Ig secreta-
das podem se polimerizar formando dímeros (IgA) ou pentâmeros (IgM),
aumentando os sítios de interação com antígenos polivalentes (apre-
sentam epítopos repetitivos). Tanto as cadeias pesadas quanto as leves
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2.7.3. Memória
As células da imunidade adquirida possuem a vantagem de armazenar uma
“memória” do peptídeo que foi reconhecido. Esse processo ocorre porque cada
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
2.8. Regulação
Até então retratamos como é disparada a resposta imunológica contra um antígeno e
como ocorre um processo inflamatório, resumidamente podemos dizer que ocorre o re-
conhecimento específico do antígeno, a ativação e proliferação de células inflamatórias,
a migração direcionada ao sítio inflamatório e a função efetora das células da imunidade
adaptativa. Mas, o que ocorre com essas células após a eliminação do antígeno?! Exis-
tem mecanismos de regulação que impedem a proliferação descontrolada das células in-
flamatórias, dentre eles podemos citar o mais importante que seria a atividade da célula
T regulatória, mais conhecida como Treg. Há duas populações mais estudadas de células
Treg: as Treg originadas no timo durante a maturação dos linfócitos são chamadas de
Treg naturais ou nTreg e as Treg diferenciadas na periferia através de estímulo antigê-
nico são denominadas induzidas ou iTreg. As nTreg se diferenciam a partir de timócitos
que reconhecem um auto-antígeno com grande afinidade, sendo capazes de controlar
respostas autoimunes na periferia. Já as iTreg se diferenciam na periferia dependendo
do microambiente e são importantes também na tolerância a antígenos não-próprios.
Outras células que produzem citocinas inibitórias podem agir como regulatórias, incluin-
do alguns subtipos de células T CD8, células NK, células T gδ, células B, mastócitos e al-
gumas APCs.
Trabalhos recentes divergem quanto ao modo de ação dessas células, alguns suge-
rem que a ação seja promovida pelo contato com a célula efetora através de moléculas
inibitórias como CTLA-4 e PD-1. Outros propõem que a ação seja mediada pela liberação
de citocinas anti-inflamatórias como a IL-10 e o TGF-β. No entanto, sabe-se que elas par-
ticipam ativamente da resolução da resposta inflamatória. Inibindo de diferentes for-
mas a função de células T efetoras, APCs e células da imunidade inata.
É importante ressaltar que além de reduzir a resposta inflamatória, as células
regulatórias têm relevante papel na manutenção da tolerância periférica, impedindo
reações exacerbadas contra moléculas inócuas (ex: ácaro, poeira, alimentos que passam
pelo trato digestivo) e também no controle na autoimunidade, impedindo a resposta
imunológica contra antígenos próprios.
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3. INFLAMAÇÃO
AGUDA
KELLY G. MAGALHÃES
INFLAMAÇÃO AGUDA | Cap. 3
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
4) A dor, por sua vez, é originada de mecanismos mais complexos que incluem es-
timulação das fibras nervosas locais por mediadores derivados do exsudato
plasmático e de células. Portanto, engloba pelo menos três fases da inflamação
(irritativa, vascular e exsudativa). Alguns dos mediadores químicos da inflama-
ção aguda, incluindo bradicinina, prostaglandinas e serotonina, são conhecidos
indutores de dor.
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3.3.2. Edema
Consiste no acúmulo de líquido rico em proteínas plasmáticas no interstí-
cio ou nas cavidades do corpo. O aumento da permeabilidade vascular leva à
constituição de edema (presença de líquido no espaço extravascular). O edema
é originado pelo desequilíbrio entre os fatores que atuam na dinâmica entre o
líquido intersticial e o ambiente intravascular. Esses fatores compreendem a
pressão hidrostática (sanguínea e intersticial), a pressão oncótica (sanguínea e
intersticial) e os vasos linfáticos (Fig. 3.1).
1) Pressão hidrostática sanguínea: quando essa pressão aumenta, ocorre
saída excessiva de líquido do vaso, situação comum em estados de hipertensão
e drenagem venosa defeituosa (por exemplo, em casos de varizes, insuficiência
cardíaca).
2) Pressão hidrostática intersticial: se diminuída essa força, o líquido não re-
torna para o meio intravascular, acumulando-se no tecido.
3) Pressão oncótica sanguínea: a redução da pressão oncótica impede o
deslocamento do líquido do meio intersticial para o interior do vaso.
4) Pressão oncótica intersticial: um aumento da quantidade de proteínas no
interstício favorece a retenção de líquido nesse local. Além disso, o aumento
dessa força contribui para a dificuldade de drenagem linfática na região.
Fig. 3.1 Esquema demonstrando os fatores que induzem a formação do edema e vasodila-
tação.
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4. INFLAMAÇÃO
CRÔNICA
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
Fig. 4.1 Células principais componentes do granuloma. (A) Macrófagos; (B) Células gigan-
tes; (C) Linfócitos; (D) Fibroblastos.
• Rejeição a enxerto.
4.3. Classificação
As inflamações crônicas podem ser classificadas de acordo com os seus elementos
constituintes, incluindo dois principais tipos: inespecífica e granulomatosa.
4.3.1. Inespecífica
Não apresenta um padrão característico, sendo composta por células mo-
nonucleares associadas a outros tipos celulares, sem predominância específi-
ca, sendo, em geral, observados linfócitos, plasmócitos e macrófagos.
4.3.2. Granulomatosa
Caracterizada pela presença de granulomas que são estruturas arredon-
dadas compostas por macrófagos, células epitelióides organizadas concen-
tricamente associadas com uma matriz extracelular, linfócitos e granulócitos
na porção mais externa (Fig. 4.2). Os macrófagos sofrem modificações estru-
turais e funcionais para aumentar a eficiência do processo de fagocitose. Es-
ses macrófagos transformam-se em células maiores que possuem aspecto
morfológico semelhante a células epiteliais e/ou em células gigantes, que são
multinucleadas tendo sua origem a partir da fusão de macrófagos, associando-
se também a fibroblastos. Essas células ocupam inicialmente, a porção central
do granuloma. As interações entre linfócitos e macrófagos sustentam a pro-
dução de fatores de crescimento, enzimas proteolíticas e citocinas, que juntas
estimulam a deposição de elementos do tecido conectivo. Células Th2 parecem
participar dos granulomas juntamente com células Th1, atuando possivelmen-
te na regulação da sua atividade e evitando lesões tissulares disseminadas.
Perifericamente, proliferam fibroblastos que dão suporte à estrutura granu-
lomatosa, formando uma parede fibrótica, além de vasos sanguíneos que são
responsáveis pela nutrição do granuloma. Em algumas doenças, com o decor-
rer do tempo há o crescimento do granuloma, com a porção central sofrendo
necrose caseosa devido à inexistência de vasos nesta região, o que determina
a carência nutricional e consequente formação de um centro necrótico. Essa é
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
• Granuloma imune: Produzidos por partículas insolúveis que são capazes de in-
duzir uma resposta imune mediada por células. Nessa resposta os macrófagos
fagocitam o agente patogênico, processam e apresentam parte dele para lin-
fócitos T, ativando-os. As células T ativadas produzem citocinas que estimulam
outras células T que atuam perpetuando a resposta. Uma citocina importante é o
INF-g que participa na diferenciação do macrófago em células epitelióides e em
células gigantes multinucleadas.
Além desses dois tipos principais de inflamação crônica podem ocorrer ainda as in-
flamações crônicas produtivas e exsudativas, caracterizadas pelo predomínio de grande
quantidade de fibras colágenas e de células e pela presença de pus, respectivamente.
4.4. Reparo
Quando há o desaparecimento do agente causador da inflamação, esta evolui para
cura, podendo ocorrer dois tipos de reparo dependendo do estado de destruição do te-
cido e do grau de transformação sofrido por este durante a inflamação: regeneração,
que ocorre quando há reposição de tecido idêntico ao que foi lesionado; ou cicatrização,
quando há a substituição do tecido lesionado por tecido conjuntivo fibroso, formando
uma cicatriz. Esse processo de reparo ocorre de forma concomitante à inflamação, sen-
do considerado como finalizado quando há restituição da morfologia e homeostase teci-
dual. É um mecanismo complexo que envolve os efeitos recíprocos das interações entre
as células epiteliais, estromais e inflamatórias.
Mesmo quando ocorre com alta eficiência, o reparo de uma ferida na maioria dos or-
ganismos vertebrados, é dominada por uma resposta fibroproliferativa que produz uma
cicatriz fibrosa quando ocorre perda importante de tecidos. Apenas em um número bem
restrito de espécies de vertebrados e tecidos, por exemplo, o ósseo, a fase inicial do re-
paro é seguida por uma perfeita restauração ou regeneração do órgão tanto estrutural-
mente quanto funcionalmente. A taxa de cura é influenciada por diversos fatores como
localização da lesão, o tipo de tecido, a característica da eventual infecção, a má circula-
ção sanguínea ou o eventual uso de esteroides, sendo este último utilizado em procedi-
mentos cirúrgicos, principalmente em cirurgias plásticas, de forma a tornar as cicatrizes
imperceptíveis na pele.
Uma característica marcante que irá ditar a capacidade de regeneração do tecido
consiste nos tipos celulares que o compõe. Nos processos regenerativos, em geral, quan-
to mais diferenciada for uma célula menor é o grau de multiplicação e regeneração. As
células podem ser classificadas segundo sua capacidade proliferativa em:
• Células Lábeis – Possuem alta capacidade proliferativa, estando, portanto, em
constante processo de mitose.
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4.5.1. Tuberculose
O Mycobacterium tuberculosis (Mtb) é o agente etiológico da tuberculo-
se (TB) e a Organização Mundial de Saúde estima que um terço da população
mundial esteja infectada com Mtb, com aproximadamente 8 milhões de casos
novos e 2-3 milhões de mortes descritas anualmente. A incidência global da
TB está aumentando aproximadamente 0,4% ao ano, direcionada por fatores
como a epidemia da AIDS, a pobreza e o aumento da densidade populacional.
Apesar da existência de tratamentos efetivos, o controle da TB é complicado
devido à natureza crônica da doença. Somente 5 a 10% dos indivíduos expostos
ao Mtb desenvolvem TB ativa nos primeiros dois anos após a exposição. Um
elevado percentual de indivíduos expostos se torna infectado e não são capa-
zes de eliminar a micobactéria, apresentando uma infecção latente.
O principal sítio de infecção e desenvolvimento da doença são os pulmões,
sendo que as formas extrapulmonares da pleura, linfonodos, ossos, sistema
genito-urinário, meninges, peritôneo ou pele ocorrem em 15% dos pacientes.
Mais raramente, pode-se desenvolver a tuberculose disseminada (miliar). A
transmissão ocorre geralmente pela inalação de partículas com bacilos em sus-
pensão no ar, emitidos por pacientes com tuberculose pulmonar ativa, após a
fala, o espirro e, principalmente a tosse. Os sintomas mais evidentes são: tosse
crônica, febre, persistência de suores noturnos intensos, perda de peso e fácil
cansaço, dores no tórax e falta de apetite.
Sabe-se que a susceptibilidade à doença é multifatorial. Acredita-se que
além de fatores sócio-econômicos, a evolução dependa também do indiví-
duo estar sendo infectado pela primeira vez (primo-infecção) ou reinfectado
(reinfecção exógena). A probabilidade de adoecer em uma primo-infecção de-
pende da virulência do bacilo, da fonte infectante e das características gené-
ticas dos indivíduos infectados. Em novo contato, após uma infecção natural
ou induzida pela BCG, a resistência dependerá da resposta imunológica. De-
pendendo de fatores individuais relacionados à imunidade, a resposta inicial
do hospedeiro pode ser efetiva e eliminar o bacilo, ou, este pode permanecer
latente durante toda a vida do indivíduo infectado. Se a resposta imunológica
inicial não controlar a progressão da infecção, o bacilo se multiplica e causa
doença clínica. É o crescimento lento do Mtb que condiciona um decurso clí-
nico crônico da infecção.
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4.5.2. Esquistossomose
A esquistossomose, também conhecida como bilharziose, é uma doen-
ça parasitária tropical causada por trematódeos do gênero Schistosoma. Três
espécies principais são responsáveis pela infecção em humanos: S. mansoni
(América do Sul e África Subsaariana), S. haematobum (África Subsaariana)
e S. japonicum (Ásia Oriental). Essa doença acomete aproximadamente 200
milhões de pessoas mundialmente, principalmente nos países em desenvol-
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4.5.3. Asma
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas que acomete
cerca de 300 milhões de pessoas mundialmente, principalmente crianças. Sua
prevalência tem aumentado significativamente, atingindo proporções epidê-
micas. Esse aumento tem sido relacionado à urbanização e desenvolvimento
econômico, tendo relatos de maiores taxas de prevalência em países econo-
micamente desenvolvidos. Uma hipótese que tem sido bastante considerada -
hipótese da higiene – indica que o aumento na prevalência de asma nos últimos
100 anos está relacionado a mudanças nos padrões de higiene e estilo de vida
em vários países, além da diminuição da exposição a microrganismos durante
a infância. Acredita-se que crianças vivendo em uma sociedade mais moderna,
com menores níveis de infecção, apresentam direcionamento da resposta do
sistema imune para o fenótipo Th2 ao invés de Th1, aumentando, portanto, o ris-
co de uma doença alérgica.
Além dos fatores ambientais, estariam também relacionados com o desen-
volvimento da asma, os fatores genéticos. Estudos de polimorfismo identifi-
caram alguns dos genes que poderiam estar envolvidos, sendo esses basica-
mente relacionados ao reconhecimento do alergeno e elaboração da resposta
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imune, como será discutido posteriormente. Como exemplos, podem ser cita-
dos genes relacionados ao desenvolvimento da resposta do tipo Th2, como as
IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13, além dos genes que codificam o TNF-a, o MHC, a subuni-
dade b do receptor de alta afinidade de IgE, entre outros. É de grande interesse
estudar como esses genes que predispõem o indivíduo a ter asma interagem
com fatores ambientais para que ocorra o desenvolvimento da doença.
Apesar das causas fundamentais da asma não terem sido complemente elu-
cidadas, os fatores de risco mais associados com seu desenvolvimento envol-
vem a exposição de pacientes sensíveis a alérgenos inalados como os situados
dentro de casa (pequenas quantidades de poeira caseira em roupas de cama,
móveis, carpetes, pelos de animais de estimação), os situados ao ar livre (pólen
e mofo), fumaça de cigarro, exercícios, irritantes químicos presentes no local
de trabalho, dentre outros.
Em termos patológicos, a asma é caracterizada por várias mudanças nas
vias aéreas que incluem a presença de infiltrado inflamatório, com predomínio
de eosinófilos, hiperresponsividade brônquica, hipersecreção de muco e com-
prometimento da função pulmonar. Os principais sintomas associados são epi-
sódios recorrentes de tosse, dificuldade de respirar, chiado e aperto no peito.
As características imunológicas da asma resumem-se em uma reação in-
flamatória modulada por diferentes tipos de células, como mastócitos, que
quanto ativados secretam vários mediadores vasoativos e pró-inflamatórios, e
também linfócitos, eosinófilos, macrófagos e, em menor grau, neutrófilos, além
de elementos mesenquimais como fibroblastos, células endoteliais e muscu-
lares. É controlada por células do tipo Th2 secretoras de IL-4, IL-5 e IL-13, que
vão mediar o aumento na expressão de moléculas de adesão e secreção de
quimiocinas, recrutamento das células imunes efetoras, degranulação de eo-
sinófilos, síntese de IgE, e hiperreatividade do músculo liso. Nesse contexto,
as células dendríticas têm sido descritas como elementos chaves na sensibili-
zação a alérgenos inalados e também na iniciação e manutenção da inflamação
eosinofílica.
A exposição constante ao estímulo alergênico promove o desenvolvimento
da inflamação e dano das vias aéreas, levando a consequências severas aos in-
divíduos portadores de asma brônquica.
4.5.4. Silicose
A silicose é uma doença pulmonar crônica resultante da exposição constan-
te à partículas de sílica cristalina. É a doença de caráter ocupacional que, ainda
leva à morte centenas de pessoas todos os anos. Acredita-se que aproximada-
mente 20 milhões de habitantes estejam expostos a poeira contendo partícu-
las de sílica em todo o mundo. No Brasil, a silicose é uma das pneumoconioses
de maior prevalência e estima-se que mais de seis milhões de trabalhadores
sejam expostos ao pó contendo partículas de sílica.
A sílica é composta por 1 átomo de silício e 2 átomos de oxigênio (dióxido de si-
lício) e forma-se em condições de aumento de temperatura e pressão. Existe em
duas formas, cristalina e amorfa, mas apenas a primeira é tóxica. A sílica livre é
encontrada mais facilmente na forma de quartzo, sendo abundante na maioria dos
tipos de rochas, principalmente em granitos, arenitos, areia e também no solo.
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5. RESPOSTA IMUNE
A PATÓGENOS
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
Desde organismos muito simples, como os vírus, até organismos multicelulares como
os parasitos multicelulares, existe uma grande diversidade de microrganismos capazes
de promover patogenias no organismo humano. Esses patógenos pertencem a quatro ti-
pos principais: vírus, bactérias, fungos e parasitos. Em relação aos mecanismos de defe-
sa, o organismo vai responder de maneira diferente em função da biologia do patógeno,
ou seja, a resposta será diferente se o agente patogênico for intracelular ou extracelular.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
morte das células infectadas. Isso ocorre pois os linfócitos T CD8+ são capazes
de reconhecer antígenos virais que estão presentes no citosol ou associados
com MHC de classe I. Para esse processo de reconhecimento são necessárias
citocinas produzidas por células T CD4+ ou outros fatores co-estimulatórios
expressos pelas células infectadas.
No entanto, em algumas infecções virais, como na infecção pelo vírus da co-
riomeningite linfocítica (LCMV) a resposta do organismo pode ser responsável
por causar a lesão, o que caracteriza a patologia.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
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6. FARMACOLOGIA
GERAL
BIANCA T. CIAMBARELLA
RAFAEL M. CARDOSO
FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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86 SÉRIE EM BI O LO G IA C E LULA R E M O LE C UL AR – I O C / F i o c r u z
FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
Para uma determinada molécula exercer efeito, ela deve ser capaz de interagir de for-
ma satisfatória com seus alvos biológicos. Se tais interações dependessem do encontro
ao acaso entre as partes envolvidas em tal processo de interação, a chance da ocorrência
do efeito pretendido seria, no mínimo, muito reduzida. Desta forma, para exercer efeito
farmacológico, é necessário que o fármaco se distribua de forma conveniente pelos com-
partimentos corporais e, principalmente, que haja uma concentração efetiva do fármaco
no local de ação. Assim, uma série de eventos deve ocorrer desde a administração de um
fármaco por determinada via até seu local de ação, que dependem de fatores diversos,
dentre os quais as características físico-químicas do fármaco, aspectos fisiológicos e
conceitos básicos de biologia celular e molecular. O estudo do processamento dos fár-
macos no organismo é alvo da farmacocinética, sendo a farmacodinâmica responsável
pela compreensão dos efeitos gerados no organismo.
Discutiremos a seguir alguns aspectos farmacocinéticos:
88 SÉRIE EM BI O LO G IA C E LULA R E M O LE C UL AR – I O C / F i o c r u z
FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
apresenta grande extensão, sendo um importante local para a absorção de fármacos por
via oral. Assim, o grau de ionização da molécula não é o único fator capaz de determinar a
extensão de sua absorção, mas sim o conjunto de fatores acima descritos.
Outra característica importante da administração de fármacos pela via oral é o efeito
de eliminação pré-sistêmica (efeito de primeira passagem). Após o processo de absor-
ção através do epitélio intestinal, o fármaco é conduzido pelo sistema porta ao fígado
antes de atingir circulação sistêmica. Embora uma fração do metabolismo possa ocorrer
na própria parede do intestino, o fígado é o principal local responsável pelas reações de
metabolização. Para alguns fármacos o metabolismo de primeira passagem é muito sig-
nificativo no que tange a biodisponibilidade do fármaco e pode decretar a necessidade
de ajuste da dose administrada visando alcançar concentrações necessárias à sua ação
(em torno de 65% da morfina sofre metabolização hepática antes de atingir a circulação
sistêmica quando administrada pela via oral).
A absorção pela via sublingual é de extrema importância para administração de de-
terminados fármacos em situações especiais. Apesar de sua reduzida superfície de
absorção, a mucosa oral é altamente vascularizada, e a drenagem venosa do plexo su-
blingual é deslocada diretamente até veia cava superior, evitando desta forma efeito de
primeira passagem hepático (que serão discutidos posteriormente) e atingindo a circu-
lação sistêmica de forma excepcionalmente rápida. Os exemplos mais clássicos de sua
utilização como via de escolha estão relacionados a urgências hipertensivas e crises de
angina, nas quais fármacos vasodilatadores agem de forma mais rápida no controle do
aumento agudo de pressão e alívio dos sintomas. Esta via também pode ser usada para
fármacos que sofrem extenso efeito de primeira passagem hepático.
A via retal é escolhida quando o objetivo é ação local do fármaco (anti-inflamatórios
na colite ulcerativa) ou quando a administração oral não é possível (paciente desacorda-
do ou no pós-cirúrgico). Apresenta efeito de primeira passagem menor que na via oral, já
que parte do fármaco é drenada pelo plexo hemorroidal à veia cava, evitando o efeito de
pré-eliminação sistêmica hepática.
A via tópica é amplamente utilizada, por exemplo, para controle de alterações locais
na pele. Todavia, dependendo das características químicas da molécula (lipossolubilida-
de) e da condição da superfície epitelial (íntegra, queimada, lesionada por cortes) pode
haver algum grau de absorção sistêmica. Este evento deve ter especial atenção, sobre-
tudo para fármacos que apresentam efeitos adversos significativos, sendo evitada a
aplicação destes em mucosas e pele não-íntegras.
90 SÉRIE EM BI O LO G IA C E LULA R E M O LE C UL AR – I O C / F i o c r u z
FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
92 SÉRIE EM BI O LO G IA C E LULA R E M O LE C UL AR – I O C / F i o c r u z
FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
Tabela 6.2 Relação entre formas ionizada/não-ionizada de fármacos com características áci-
do-base diferentes.
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FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
fármaco” que estabelece um equilíbrio dinâmico entre fração ligada e fração livre no
plasma, promovendo redução da concentração de fármaco livre para exercer ação
biológica e, eventualmente, aumento do tempo de meia-vida do fármaco (uma vez
que ocorre redução da taxa de metabolização deste). Desta forma, vários fármacos
diferentes podem competir pelos sítios de ligação da albumina, alterando padrões
normais de ligação quando os fármacos são administrados isoladamente, necessi-
tando inclusive de ajuste de doses de fármaco quando administrado com outro que
também se liga a proteínas plasmáticas.
Alguns fármacos apresentam características de acúmulo em determinados teci-
dos, como ocorre, por exemplo, com a quinacrina (antimalárico) no fígado e gentami-
cina (antibiótico) nos rins e sistema vestibular (inclusive levando à toxicidade local).
Um tecido com grande importância no acúmulo diferenciado de fármacos é o tecido
adiposo. O tiopental (anestésico), por exemplo, apresenta elevada partição pelo te-
cido adiposo, criando um depósito de fármaco, aumentando o tempo de ação. A afini-
dade de fármacos pelo tecido adiposo deve ser levada em conta na escolha da dose,
sobretudo em pacientes idosos ou obesos em que o percentual de gordura corporal
atinge níveis significativamente mais elevados, podendo desencadear bioacúmulo
do fármaco no organismo.
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
(devido ao seu espectro de absorção em 450 nm) que conjuntamente e com níveis dife-
renciados de seletividade e especificidade atuam sobre os mais diferentes fármacos.
Conforme discutido anteriormente, uma das características que confere acesso dos
fármacos até seus locais de ação é a lipofilicidade, característica importante para o
transporte através de membranas biológicas. Entretanto, a principal via de eliminação
de substâncias do organismo é a via renal através da urina. Assim, para muitos fármacos
há a necessidade de biotransformá-los em substâncias de maior caráter hidrofílico.
Essas reações são em geral divididas em reações de fase I e de fase II. Esta divisão
é por vezes, muito mais didática que fisiológica já que várias moléculas passam por so-
mente uma das etapas, ou ainda pela fase II antes da fase I.
Em linhas gerais, as reações de fase I determinam o fim da ação farmacológica das
substâncias (com exceções, já citadas). São vários os tipos de reações químicas que po-
dem ocorrer, dentre elas: oxidação, hidroxilação, dealquilação, deaminação e hidrólise.
Em geral, esta fase torna as moléculas mais reativas quimicamente (em alguns casos,
mais tóxicas também), além de mais polares. Esta etapa de biotranformação é passível
de sofrer indução ou inibição em função de interações medicamentosas que alterem a
função e/ou expressão enzimática, com redução ou aumento, respectivamente, do tem-
po de meia-vida do fármaco que está sendo metabolizado.
As reações de fase II envolvem conjugação (processo passível de saturação) com a
molécula produzida pelas reações de fase I com resíduos de ácido glicurônico, sulfato,
glutationa, aminoácidos ou ainda acetato. Os conjugados produzidos são altamente po-
lares e capacitados para os mecanismos de excreção, sejam eles via urina ou nas fezes.
A Fig. 6.3 a seguir exemplifica a via de metabolização do ácido acetilsalicílico (AAS)
que gera o principal metabólito eliminado pela urina (ácido saliúrico) através de reação
de conjugação com glicina:
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FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
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FARMACOLOGIA GERAL | Cap. 6
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Vol. 2 | IMUNOFARMACOLOGIA
¾¾ Químico: uso de quelantes para ligação a metais pesados reduzindo sua toxicida-
de, anticorpos neutralizantes para citocinas; cátions divalentes que quelam o antibiótico
tetraciclina;
BIANCA T. CIAMBARELLA
MEDIADORES INFLAMATÓRIOS | Cap. 7
7.1.1.1. Histamina
Os principais estudos sobre a ação da histamina se deram por Dale
e Laidlaw quando eles observaram que após a estimulação do músculo
liso com histamina ocorria uma intensa vasodilatação. A histamina é uma
molécula hidrofílica formada por um anel imidazólico e um grupamento
amina ligada a uma cadeia etílica.
Fig. 7.2 Ação da α-histidina descarboxilase sobre a histidina. Ela retira o grupamento car-
boxila da histidina dando histamina e gás carbônico (CO2).
7.1.1.2. Serotonina
Isolada em 1948 por Maurice M. Rapport, Arda Green e Irvine Page,
a serotonina também é chamada de 5-Hidroxitriptamina (5-HT) e é for-
mada através da transformação do aminoácido triptofano em 5-hidroxi-
triptofano pela triptofano hidroxilase e desse em 5-HT pela L-aromático
aminoácido descarboxilase (Fig. 7.4).
É formada pelo sistema nervoso central e pelas células
enterocromafins, mas também pode ser encontrada no sangue
armazenada em grânulos nas plaquetas. Possui 14 tipos de
receptores classificados em: 5-HT 1 (5-HT 1A, 5-HT 1B, 5-HT 1D, 5-HT 1E e
5-HT 1F), 5-HT 2 (5-HT 2A, 5-HT 2B e 5-HT 2C), 5-HT 3, 5-HT 4, 5-HT 5A, 5-HT 5B,
5-HT 6 e 5-HT 7. Sendo estes receptores metabotrópicos acoplados à
proteína G com exceção de 5-HT3 que é inotrópico. O receptor 5-HT1
inibe a adenilato ciclase e pelo menos a 5-HT 1A também ativa canais
de K + e inibe canais de Ca +2. ele é encontrado no núcleo da Rafe. Ela
também está amplamente distribuída pelo o organismo, principal-
mente nos receptores somatodendríticos no corpo de neurônios
Fig. 7.3 A ligação do antígeno a IgE, leva à ativação da proteína G, que ativa fosfolipase C, esta
transforma PI-4,5-b fosfato (PIP2) da membrana em diacilglicerol (DAG) e inositol 1, 4, 5
trifosfato (IP3) que são responsáveis pelo aumento de ácido lisofosfatídico e lisofosfa-
tidil colina, respectivamente, os quais levam à fusão dos grânulos com a membrana dos
mastócitos e basófilos.
7.1.2.1. Eicosanóides
Os eicosanóides são formados a partir de um ácido carboxílico po-
liinsaturado essencial chamado ácido aracdônico (Fig. 7.5). Sua estru-
tura inclui 20 carbonos e 4 ligações duplas cis iniciando em ômega-6
nas posições 5, 8, 11 e 14, recebendo assim a denominação química de
ácido eicosatetraenóico ou ácido 20;4 (5, 8, 11, 14). No organismo, a re-
serva de ácido araquidônico é mantida nas membranas celulares es-
tocadas na forma de fosfolipídeos. Sendo assim, o ácido araquidônico
é liberado dos seus fosfolipídeos de origem através de reação direta
catalisada pela fosfolipase A2 ou por reações seqüenciais catalisadas
pela fosfolipase C e a seguir pela diacilglicerol-lipase. A partir daí ele
pode sofrer ação da ciclooxigenase, que levará à formação da prosta-
glandina G2 (PGG2), esta sofrerá ação de uma peroxidase e será con-
vertida em PGH2 que por sua vez poderá ser convertida em PGE2, PGF2,
PGD2. A PGH2 também poderá sofrer ação da prostaciclina sintase
levando à formação de PGI2 e PGF1α. Por outro lado, a PGH2 poderá
sofrer ação da tromboxano sintase levando à formação de tromboxa-
no A2 (TXA2). O ácido aracdônico pode ser metabolizado pela 5-lipoxi-
genase associada à FLAP que levará à síntese de 5-HEPET. Esta por
sua vez poderá formar o ácido hidroxieicosatetraeinóico (5-HETE) ou
os leucotrienos, começando pela formação de LTA4 que pode sofrer
ação de duas enzimas: LTA4 hidrolase que o transformará em LTB4 ou
LTC4 sintase que o transformará em LTC4; este perderá uma molécula
de glutamina, formando o LTD4 que por sua vez perderá uma molécula
de glutamina e formará LTE4. LTC4, LTD4 e LTE4 são chamados de Cis-
leucotrienos, devido aos resíduos de cisteína.
As prostaglandinas atuam em diferentes sistemas, dentre eles o
sistema cardiovascular, onde a PGE2, PGD2 e PGI2 causam vasodilata-
ção, entretanto, o PGF2α, assim como o TXA2, são vasoconstritores.
Este também é um potente agregante plaquetário; na musculatura lisa,
dependendo do órgão, um mesmo eicosanóide pode levar a diferentes
processos. Por exemplo, nos brônquios a PGE2 atua como broncocons-
Fig. 7.5 Esquema das vias de síntese de prostaglandinas, tromboxano, leucotrienos e lipo-
xinas. O ácido aracdônico pode sofrer ação de diversas enzimas e gerar diferentes
estruturas que atuarão durante o processo inflamatório.
O PAF é produzido por diferentes tipos celulares, como neutrófilos, monócitos, mas-
tócitos, eosinófilos, plaquetas, células endoteliais, dentre outras. Moléculas semelhan-
tes ao PAF podem ser produzidas através de fragmentos de lipídeos oxidados da mem-
brana celular, estas também são capazes de se ligar aos receptores do PAF e produzir
ações semelhantes, como: vasodilatação, diminuição do fluxo sanguíneo, broncoconstri-
ção, quimiotaxia, dentre outras.
O receptor de PAF está acoplado a uma proteína G. A ligação do PAF ao seu receptor
leva à ativação de uma cascata de sinalização mediada pela fosfolipase C, IP3 e Ca+2, as-
sim como, pela fosfolipase A2, fosfolipase D e ácido aracdônico levando à formação de
PGs, TXA2 e LTs. O PAF possui ação no sistema cardiovascular, promovendo redução da
resistência vascular periférica, vasodilatação e queda da pressão arterial. No rim, pro-
move diminuição do fluxo sanguíneo, redução da filtração glomerular e excreção de água
e sódio. No estômago, causa contração de fundo e úlcera. No músculo liso, leva à con-
tração, seja gastrointestinal, uterina ou brônquica; nos leucócitos, leva à agregação de
polimorfonucleares, monócitos, estimula degranulação de eosinófilos e liberação de leu-
cotrienos e enzimas lisossomais. Apresenta ainda função quimiotática para eosinófilos,
monócitos e neutrófilos e adesão deste último ao endotélio vascular, facilitando eventos
de diapedese. Estimula a liberação LTs e geração de superóxidos. Ainda promove edema,
sendo mil vezes mais potente que histamina ou bradicinina em induzir extravasamento
vascular pela contração das células endoteliais venulares. Nas plaquetas, o PAF estimu-
la agregação plaquetária.
7.1.4.1. Citocinas
As citocinas são polipeptídeos com peso molecular de aproxima-
damente 8 a 80 kDa sendo produzidas e secretadas por diversos ti-
pos celulares em resposta a antígenos que geram uma resposta infla-
matória. Essas podem atuar de forma autócrina, ou seja, agindo sobre
a célula que a produziu ou parácrina, agindo sobre outras células pró-
ximas à célula produtora.
Dentre as citocinas podemos incluir:
¾¾ Interleucinas (IL) – são assim denominadas, pois se pensava que
essas citocinas eram produzidas por leucócitos e agiam sobre
outros leucócitos. Possuem como principais funções mediar e re-
gular a resposta imunológica e inflamatória, como, por exemplo, a
IL-1α que é capaz de iniciar uma cascata de mediadores inflama-
tórios. IL-1β é também uma citocina pró-inflamatória e é derivada
predominantemente de macrófagos ativados, apesar de ser pro-
duzida também por células B e células vasculares endoteliais. Esta
induz uma resposta inflamatória caracterizada por um infiltrado
polimorfo e mononuclear. Já a IL-10 é uma citocina essencialmente
anti-inflamatória produzida primariamente por células T e por
macrófagos ativados. Essa citocina foi caracterizada inicialmente
pela sua habilidade em inibir a ativação e função efetora de
células T, monócitos e macrófagos. A IL-10 regula crescimento,
7.1.4.2. Quimiocinas
São citocinas de menor peso molecular (aproximadamente 8 a 10
kDa) e possuem como característica principal a presença de resíduos de
cisteína em sítios conservados. Elas possuem como principal função a
indução de recrutamento de leucócitos sendo classificadas em quatro
tipos (Fig. 7.8):
7.2.1. Bradicinina
Resultante da clivagem do cininogênio pela calicreína, a bradicinina (BK) foi
descoberta em 1949 por Maurício Rocha e Silva, Wilson Teixeira Beraldo e Gas-
tão Rosenfeld, pesquisadores brasileiros do Instituto Biológico da USP quando
descreveram sua ação hipotensora. Ela também é capaz de provocar vasodila-
tação, aumento da permeabilidade vascular, recrutamento leucocitário e dor.
Sua ação é consequência de sua ligação aos seus receptores B1 e B2, ambos re-
ceptores metabotrópicos acoplados à proteína G.
O receptor B2 é expresso constitutivamente e quando ligado a BK ativa fos-
folipase A2 que leva à produção de mediadores derivados do ácido aracdônico
como as prostaciclinas. Ativa fosfolipase C, ativando a via de IP3 e Ca+2 com con-
seqüente ativação de PKC e aumento de síntese e liberação de NO. Também é
capaz de ativar MAPK e o fator de transcrição NF-κB aumentando a transcrição
de mediadores inflamatórios. O receptor B1 não está expresso na membrana
celular e é induzido após uma resposta inflamatória por citocinas, endotoxinas
e fatores de crescimento. Ao contrário de B2, ele não se liga a BK e sim aos me-
tabólitos da mesma, gerados pela ação da carboxipeptidase N ou M.
A resposta celular gerada por esses mediadores tem como objetivo a resolução do
processo inflamatório, entretanto, em alguns casos onde há persistência do patógeno,
esses mediadores podem levar a uma exacerbação da resposta imunológica e conse-
quente perda da função do tecido lesado.
8.1. Glicocorticóides
Os glicocorticóides são sintetizados na zona fasciculada, da região da córtex adre-
nal, por conta da ação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Nas demais regiões da
glândula – as zonas glomerulosa e reticular – não há produção de glicocorticóides por
conta da ausência das enzimas CYP17 e CYP11B1, respectivamente.
Esse grupo tem como principal representante o cortisol, que é sintetizado a partir do
colesterol, que pode ter origem endógena ou exógena. No entanto, alterações na fórmu-
la estrutural desse corticóide levam a alteração na sua potência biológica, pois resulta
em mudanças na sua absorção, na sua capacidade de ligação proteica, na taxa de bio-
transformação, na taxa de excreção, na permeabilidade a membranas e no próprio poder
de ação no local desejado. Em suma, esses hormônios apresentam semelhanças na sua
estrutura química, mas as diferenças estão na presença de grupos polares, hidroxilas ou
cetonas conjugadas a molécula do cortisol, o que irá caracterizar um novo glicocorticói-
de. Para exemplificar essa característica dos glicocorticóides, a Fig. 8.1 compara as es-
truturas químicas do cortisol e da dexametasona. As setas apontam os sítios que apre-
sentam grupamentos diferentes, entre o cortisol e dexametasona.
Citocinas (IL-1, -2, -3, -4, -5, -6, -8, -11, -12, -13, TNFα, GM-CSF, RANTES, MIP-1α, SCF)
Óxido nítrico sintase induzida (iNOS)
Ciclooxigenase induzida (COX-2)
Fosfolipase induzida (cPLA2)
Endotelina-1
Moléculas de adesão (ICAM-1, VCAM-1)
8.4.4. Contra-indicações
Deve ser feito o monitoramento dos pacientes que receberem tratamen-
to com esses fármacos devido ao risco de desenvolvimento de hiperglicemia,
glicosúria, hipertensão, úlcera péptica, osteoporose e infecções ocultas. Além
disso, esses agentes terapêuticos devem ser utilizados com cautela em pacien-
tes com úlcera péptica, cardiopatia ou hipertensão, dentre outras patologias.
RAFAEL M. CARDOSO
ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO-ESTEROIDAIS | Cap. 9
9.1. Introdução
O processo inflamatório é uma resposta natural de defesa do sistema imune inato que
estabelece elo com a resposta adaptativa. Como visto nos capítulos anteriores, vários
mediadores são responsáveis por significativas alterações nos parâmetros fisiopatoló-
gicos nos mais variados sistemas orgânicos. Dentre as modificações, estão a elevação
da temperatura corporal (promove inibição de crescimento de patógenos agressores),
estimulação para multiplicação e maturação de precursores relacionados às linhagens
mieloide e linfoide, aumento da permeabilidade vascular (gerando edema local pela tran-
sudação de material da circulação e viabilizando chegada ao foco inflamatório de células
polimorfonucleares, monócitos e linfócitos), além de alterações hemodinâmicas globais
(afetam pressão arterial e perfusão renal) e pronunciada redução do limiar nocicepti-
vo, com consequente potencialização do estímulo álgico. Os mediadores são capazes
de modular a ativação de células do sistema imune, conduzindo-as à realização de suas
funções efetoras cujo objetivo é eliminar o agente desencadeador do processo lesivo
permitindo retorno à condição homeostática.
Todavia, em alguns casos, a resposta inflamatória torna-se prejudicial ao organismo,
comprometendo o funcionamento fisiológico de vários tecidos e órgãos.
Várias classes de fármacos foram desenvolvidas e são clinicamente utilizadas pelo
seu potencial de interferência na formação ou ação de vários mediadores do processo
inflamatório. Neste capítulo, focaremos naqueles que são diretamente relacionados
com os produtos da cascata do ácido araquidônico, ou seja, fármacos que atuam sobre
os eicosanoides.
• Anti-inflamatórios Não-Esteroidais:
¾¾ Inibidores Não-Seletivos de Ciclooxigenase
¾¾ Inibidores Seletivos de Ciclooxigenase-2
¾¾ Inibidor da Lipoxigenase
¾¾ Antagonistas dos Receptores de Leucotrienos
fluencia padrões de absorção destes fármacos quando administrados via oral. Quase a
totalidade dos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) age por mecanismos de com-
petição reversível do sítio catalítico das ciclooxigenases, impedindo a metabolização do
ácido araquidônico. Como exceção, temos o ácido acetilsalicílico, que modifica covalen-
temente o sítio de catálise das COXs, sendo essa alteração irreversível.
Apesar de pertencerem a uma mesma classe farmacológica, apresentam diferenças
significativas em suas estruturas, levando a parâmetros farmacocinéticos muito variados.
São, em geral, bem absorvidos pela via oral e metabolizados no tecido hepático através de
reações de fase I (sobretudo pelas CYPs 3A e 2C) e fase II, enquanto alguns sofrem conjuga-
ção (reação de fase II) com ácido glicurônico diretamente. A via de eliminação majoritária é
a excreção renal, com graus de importância variados para a excreção biliar (dependendo da
estrutura molecular do fármaco). Outro parâmetro farmacocinético importante é o fato de
se conjugarem, também em graus variados com proteínas plasmáticas, sobretudo albumina,
o que pode formar reservatórios do fármaco, alterando cinética de ação e meia-vida destes.
Os principais AINEs estão organizados de acordo com a classificação química:
Ibuprofeno
Ácido Propiônico Cetoprofeno
Naproxifeno
Ácido acetilsalicílico
Diflunisal
Ácido Salicílico
Flufenisal
Ácidos Carboxílicos Salicilamida
Ácido Mefenâmico
Ácido Fenâmico Ácido Tolfenâmico
Ácido Flufenâmico
Indometacina
Ácido Indol Acético
Ácido Acético Sulindac
Ácido Fenilacético Dicoflenaco
Butasona
Pirazolônicos Fenilbutasona
Dipirona
Piroxican
Ácidos Fenólicos
Oxicans Meloxicam
Tenoxicam
Nimesulida
Sulfamídico
Coxibes
Compostos Não-Ácidos Butanona Nabumetona
saltar que a inibição não seletiva de ambas isoformas da enzima COX também
abole efeitos protetores fisiológicos das prostaglandinas, como manutenção
da perfusão renal, vasodilatação e proteção da mucosa gástrica.
Os principais e mais prevalentes efeitos adversos estão sumarizados abai-
xo e separados pela seletividade pela isoforma de ciclooxigenase:
A) Distúrbios Gastrintestinais:
Os AINEs, particularmente os que atuam preferencialmente sobre a COX-1,
reduzem o efeito protetor fisiológico das prostaglandinas no trato gastrintes-
tinal, especialmente PGE2 e PGI2. Os efeitos adversos incluem desde vômitos,
náusea, anorexia, diarreia, até formação de úlceras e perfurações estomacais.
Este efeito é proporcionalmente reduzido quão mais seletivo para COX-2 for o
fármaco, como será discutido adiante.
C) Efeitos Respiratórios:
A inibição das ciclooxigenases faz com que todo o “pool” de ácido araqui-
dônico disponibilizado da membrana celular possa ser utilizado na síntese de
leucotrienos. Como descrito nos capítulos anteriores, essas substâncias são
os principais responsáveis por broncoconstrição e aumento na produção de
muco, causando aumento da resistência de vias aéreas e comprometendo a ca-
pacidade respiratória.
D) Função Plaquetária:
A cascata do ácido araquidônico tem como um de seus produtos o trombo-
xano A2 (TXA2), que atua como agregante plaquetário e potencializa os efeitos
de outros pró-coagulantes, como a trombina. Como a isoforma do ciclooxige-
nase presente nas plaquetas é a COX-1, os inibidores não-seletivos de COX po-
dem promover redução na capacidade de agregação plaquetária, propiciando
aumento no risco de hemorragias.
E) Outros Efeitos:
Apesar de menos comum, alguns AINEs são capazes de promover distúrbios
de medula óssea (anemia e neutropenia) e hepatotoxicidade (principalmente
aumento de transaminases), além de reações de hipersensibilidade aos mais
variados componentes desta classe de fármacos.
A) Eventos Cardiovasculares:
Inibidores seletivos de COX-2 suprimem a produção de PGI2 (vasodilatador
e anti-agregante plaquetário) pelo endotélio vascular sem, no entanto, reprimir
a produção de TXA2 (vasoconstritor, agregante plaquetário) pelas plaquetas (já
que essa é produzida pela COX-1). Desta forma, há aumento no risco de incidên-
cia de eventos tromboembólicos, aumentando a chance de isquemia coronaria-
na, além de elevação na pressão arterial.
B) Gravidez e Lactação:
Momentos antes do parto, há indução de COX-2 e produção de PGE2 e PGF2α.
Essas prostaglandinas exercem função de estímulo da contração da muscula-
tura lisa uterina e indução de trabalho de parto. Há trabalhos demonstrando
prolongamento da gestação pelo uso de AINEs. A indometacina, por esta razão,
foi aprovada para uso clínico quando da necessidade de se evitar trabalho de
partos pré-termo. Todavia, o uso de AINEs pode promover estenose do ductus
arteriosus (causa de hipertensão arterial pulmonar congênita), além de aumen-
tar a possibilidade de hemorragia pós-parto, motivo pelo qual o uso destes fár-
macos é contraindicado em mulheres em períodos gestacionais avançados.
Lumiracoxib
120 1,2 100
Etoricoxib
Valdecoxib
22 0,7 31,4
Rofecoxib
9.7.3. Ouro
A utilização terapêutica de ouro já foi considerada para uma série de patolo-
gias, sobretudo na artrite reumatóide, não sendo mais frequentemente usados
na atualidade.
O mecanismo de ação, ainda não esclarecido, parece estar relacionado
com as alterações morfofisiológicas dos macrófagos, neutralização de fa-
tores de transcrição (com consequente minimização da síntese de citocinas,
10.2.1. Conceito
A citometria de fluxo consiste em um método multiparamétrico de análise
fenotípica de células ou outras partículas biológicas em suspensão, previamen-
te marcadas com fluorocromos.
Diversas partículas podem estar sujeitas à análise por citometria de fluxo
como célula eucariótica, organelas citoplasmáticas, cromossomos, células
agregadas (ex: células tumorais), bactérias, fungos, protozoários, complexos
imunes, dentre outros.
A técnica é baseada na passagem forçada de partículas, envoltas e centrali-
zadas em um fluxo contínuo de líquido condutor (sheath fluid) por uma câmara
de células (flow cell), de forma que as mesmas permaneçam enfileiradas, sendo
interceptadas por um laser, uma de cada vez. A interceptação pelo laser forne-
ce informações acerca dessas partículas, baseada em dois tipos de fenômenos
físicos. O primeiro consiste no espalhamento de luz (scatter) de acordo com
as características morfológicas e estruturais da célula. Inicialmente, o desvio
Tabela 10.1 Comprimento de onda de excitação e emissão dos fluorocromos que são usual-
mente empregados.
Tabela 10.2 Alguns traçadores fluorescentes para análise da fisiologia de células vivas.
Fig. 10.2 Tipos de marcação. (A) Marcação direta; (B) Marcação indireta. Ac 1º- anticorpo pri-
mário; Ac 2º - anticorpo secundário; Ag – antígeno.
A marcação pode ainda ser simples, com o uso de apenas um fluorocromo, ou múlti-
pla, onde as partículas são marcadas com dois ou mais tipos de fluorocromo para análise
de mais de uma característica (Fig. 10.3).
Fig. 10.3 Tipos de marcação. (A) marcação simples; (B) marcação dupla; (C) marcação múlti-
pla.
Fig. 10.4 (A) Representação de um dot plot para análise morfológica de células; (B) Repre-
sentação de um histograma biparamétrico, tendo como base a Fig. 10.4A; (C) repre-
sentação de um histograma monoparamétrico para análise de fluorescência.
10.2.4. Aplicações
Os avanços na ciência e tecnologia têm contribuído muito para o uso da cito-
metria de fluxo em muitas áreas como na hematologia, farmacologia, microbio-
logia, genética, oncologia, e principalmente, na imunologia.
Uma lista extensa e crescente de características fenotípicas podem ser me-
didas através da técnica de citometria de fluxo como o tamanho e complexida-
de morfológica das células, conteúdo de DNA e RNA, receptores de superfície
celular, apoptose (quantificação, medidas de degradação do DNA e RNA, po-
tencial de membrana mitocondrial, atividade de caspase), viabilidade celular,
produção intracelular de citocinas, dentre outros.
As aplicações são diversas, podendo ser realizados experimentos de imuno-
fenotipagem e caracterização de subpopulações celulares, análise de graus de
maturação e ativação celular, análise de quimiotaxia, degranulação e catabolis-
mo em resposta a estímulos, medida de conteúdo de DNA para estudo de ploi-
dia, ciclo celular; caracterização de cromossomos e detecção de morte celular;
diagnóstico de doenças como leucemias e linfomas, monitoração laboratorial
da infecção por HIV, testes de citotoxicidade analisando-se o efeito de drogas
sobre células, dentre outras aplicações.
10.2.5. Sorting
Além da análise multiparamétrica, alguns citômetros também são capazes
de separar (sorting) uma determinada população celular ou outras partículas
biológicas de acordo com parâmetros pré-estabelecidos. Esta separação pode
ser baseada em propriedades morfológicas, bioquímicas ou funcionais dessas
partículas.
A técnica de sorting baseia-se no uso da eletrostática para carregar e defle-
tir uma gota contendo a partícula a ser analisada após sua passagem através
de um campo elétrico. Esta gota forma-se, no filete único que passa pela flow
cell, através de vibrações ultrassônicas que ocasionam perturbações no fluxo,
de forma que uma única célula se encontre em seu interior. Através de critérios
pré-estabelecidos essas gotas receberão ou não, cargas positivas ou negati-
vas, que serão defletidas para a direita ou para a esquerda, caindo em tubos
coletores (Fig. 10.5).
Como essas células não sofrem nenhum dano durante o processo, elas po-
dem ser reutilizadas para cultura, ou até mesmo para clonagem, onde uma única
partícula é dispensada em um poço de uma placa de microtitulação (autoclone).
Com isso, essa técnica pode ser utilizada para diversos fins: produção de anticor-
pos monoclonais através do clone de uma única célula de hibridoma; seleção de
células progenitoras na busca de células totipotentes; purificação de diferentes
linhagens de amostras de medula óssea; sorting de células transfectadas com
um marcador de expressão, tipo proteína fluorescente verde (GFP); isolamento
multiparamétrico de células de uma população mista; dentre outras.
Fig. 10.5 Representação esquemática do princípio da técnica de cell sorting. As células fo-
ram marcadas com anticorpos específicos de interesse conjugados a fluorocromos
verde e vermelho. As células após passarem por um fluxo contínuo são intercepta-
das por um laser e este é detectado por PMTs que levam a informação da fluores-
cência para o computador e este emite então uma carga elétrica correspondente a
cada cor, positiva ou negativa. As gotas eletricamente carregadas são então defle-
tidas de acordo com sua carga, sendo dispensadas em tubos coletores específicos.
As gotas não carregadas eletricamente ou com partículas não marcadas passam
diretamente pelos defletores.
10.3. Imunofluorescência
A técnica de imunofluorescência possui muitas características em comum
com a técnica de citometria de fluxo, excetuando-se principalmente o fato de
que a primeira pode ser usada para detectar estruturas, moléculas ou proteí-
nas em uma célula fixada em um substrato (lamínulas), assim como tipos es-
pecíficos de célula em um tecido, entre outras possibilidades que não o uso de
células em suspensão. Uma das grandes vantagens da imunofluorescência é
que esta permite detectar a localização e distribuição relativamente precisa
do antígeno.
A imunofluorescência, assim como a citometria de fluxo, pode ser tanto di-
reta como indireta. A primeira é usada na detecção de antígenos em preparos
de amostras clínicas como urina, fezes, sangue ou mesmo em cortes de teci-
dos, como no caso de doenças dermatológicas. A imunofluorescência direta
também é utilizada na fenotipagem de células e tecidos, através da análise
de marcadores específicos. Já a imunofluorescência indireta é empregada no
diagnóstico sorológico de várias doenças infecciosas como a doença de Cha-
gas, a SIDA/AIDS, as hepatites e complexos em doenças autoimunes.
A técnica de imunofluorescência, assim como a de citometria, também pode
ser baseada no uso de anticorpos marcados com fluorocromos, uso de moléculas
fluorescentes que por si próprias já atuam como marcadores diretos ou sondas
para estruturas específicas, ou ainda pode haver o uso de proteínas de fusão, na
qual a proteína de interesse é ligada geneticamente a uma proteína fluorescen-
te. A primeira proteína fluorescente a ser descrita foi a GFP, mas recentemente,
outras proteínas fluorescentes já foram identificadas, tendo como exemplos a
proteína fluorescente amarela (abreviatura do inglês: YFP), a vermelha (RFP),
entre outras. A observação das amostras marcadas é feita através do uso de um
microscópio de fluorescência, que pode ser tanto de luz transmitida (microscó-
10.4.1. Conceito
O ELISA é um ensaio imunoenzimático que visa a análise qualitati-
va ou quantitativa da ligação antígeno-anticorpo. Dependendo do seu
uso, pode detectar antígenos (hormônios, citocinas, enzimas, antígenos
microbianos, drogas ilícitas) ou anticorpos (anti-HIV, por exemplo) em
fluidos corporais ou sobrenadantes de culturas. É um método simples,
específico, altamente reproduzível e que é baseado no uso de anticorpos
acoplados a enzimas que serão responsáveis pela conversão colorimé-
trica do substrato enzimático incolor em um produto colorido que será
lido por um espectrofotômetro. As enzimas marcadoras mais utilizadas
são a catalase, a glucose-oxidase, α-galactosidase, a fosfatase alcalina e
a peroxidase. A reação de ELISA ocorre em placas de 96 poços cobertas
com antígeno purificado (se for para detecção ou quantificação de anti-
corpo) ou anticorpo purificado (se for para detecção ou quantificação de
antígeno).
Há dois tipos principais de ELISA: o indireto e o direto (ou de captura,
ou sanduíche).
a) ELISA indireto
É o método mais simples usado para a detecção de um anticorpo es-
pecífico em um anti-soro desconhecido. Como mostrado na Fig. 10.7, as
placas são cobertas com antígeno purificado ( que se ligam não-covalen-
temente) seguido de lavagem para retirada dos antígenos em excesso. A
realização da etapa de bloqueio com proteínas inertes para impedir que
ocorram ligações inespecíficas na placa é essencial. O anti-soro a ser
testado é então adicionado sendo feita uma nova lavagem para retirada
do excesso. Em seguida, há a adição de anticorpos anti-imunoglobulinas,
que se ligarão ao anticorpo específico para o antígeno. Nova lavagem é
realizada, com posterior adição do substrato. Esse, pela ação da enzima
acoplada ao anticorpo secundário, será convertido em um produto colo-
rido, cuja absorbância será lida em um espectrofotômetro.
Fig. 10.7 ELISA indireto. (A) placa coberta com antígenos e bloqueada; (B) adição da amostra
a ser testada; (C) adição de anticorpo acoplado a enzima; (D) adição do substrato
(S) e mensuração da cor.
Fig. 10.8 ELISA direto. (A) placa coberta com anticorpos específicos e bloqueada; (B) adição
da amostra a ser testada; (C) adição de anticorpo acoplado a enzima; (D) adição do
substrato (S) e mensuração da cor.
Fig. 10.9 Curva padrão obtida de um do programa “SOFTmax Pro” . No eixo Y encontram-se
os valores da absorbância das amostras e no X os valores da concentração
B E
A C D
G
F
Fig. 10.10 Representação esquemática do princípio da técnica de Western blotting. (A) Uma
célula representativa de uma amostra de cultura celular com as respectivas pro-
teínas da membrana celular ( ), do citoplasma ( ), da membrana nuclear ( ) e
do núcleo ( ); (B) Extrato celular; (C) Separação protéica por eletroforese em gel
de poliacril amida; (D) Transferência das proteínas para uma membrana de nitro-
celulose; (E) Marcação com anticorpo específico para uma proteína do núcleo; (F)
Marcação com anticorpo secundário acoplado à uma enzima ou radioisótopo (E/R);
(G) Revelação da proteína de interesse.
É indicado que o experimento seja realizado também para uma proteína estrutural,
como actina ou tubulina, que não devem ser moduladas entre as amostras. Dessa forma,
é possível a normalização dos dados em sua função.
O western blotting tem diversas aplicações em diagnóstico clínico e pesquisa básica,
exemplificando-se a confirmação do diagnóstico de HIV através da detecção do anti-
corpo anti-HIV em amostra de soro humano e fenotipagem celular e tecidual, através da
identificação de vários marcadores.
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