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eEuropaCentralnaépoca
moderna (séculos XIX.XIX)
f'rédéricllarbier
1 0 ano de 2002 foi, por exemplo, o 'Ano húngaro' na ltália e o 'Ano tcheco' na trança,
e foi tambémo ano do bicentenárioda fundação do MuseuNacional da Hungria, com a sua
biblioteca.
ESPAÇOS
Como cidade portuária sobre o Danúbio, Roustschouk tinha uma certa importância
no passado. O porto atraía gente de todos os lugares, falava-se sempre clo Danúbio
[...]. Quando a]guém subia o Danúbio indo para Viena, dizia-se: vai à Europa; a
Europacomeçava lá onde temlinava, em outros tempos,o Imperio Otomano...3
extremamente
heterogênea.
A declinaçãoem latitude vai de 70' de latitude
Norte (costa norte da Finlândia) a 35' aproximadamente, na altura de Creta.
As condições climáticas são aquelas de um país continental; ao Norte, com
o Báltico, mar fechado e frio e, ao Sul, reforçadas pela disposição do relevo,
especialmente em volta do Mediterrâneo e do Egeu. O sistema fluvial é orien-
tado em quatro direções diferentes.
. Para o Oeste e para o mar do Norte, é a bacia do Elba e seus afluentes, espe-
cialmente o Moldau (Vlatava).Toda a geografia da Boêmia faz, de fato, parte da
geografia ocidental e, além disso, o reino constitui o principal eleitorado laico
do Santo Império.
9 Parao Norte, é o sistemado Báltico principalmente com o Oder oVístula (em
Varsóvia e Cracóvía) e o Niémen. Estamos aqui no interior das cidades hanseá-
ticas da costa báltica (com Danzíg) ou, ainda mais no interior das grandes rotas
comerciais por terra, de Frankíurte Nuremberga Leipzi& Cracóvia, Lemberg
(Lvov)e a planície russo-ucraniana(Kiev).
e O sistema principal da Europa central é, com toda evidência, o do mar Negro:
o Dniepr drenaas imensasplaníciesda Ucrâniae da Rússia(Kiev.Smolensk),o
gigantesco sistema do Danúbio designa de fato um conjunto geográfico próprio
--a Europadanubiana.'
' E, para terminal. um certo número de cursosd'água. de menor importância,
que desembocamno Mediterrâneoou no mar Egeu.
6 Nos títulos das obras, como por exemplo: BÉRANGER,Jean. [ex/que hístor/que de /'furope
danubfenne. Pãris;Armand Colin, 1976; MAGRAS,Claudio. Danube. Trad. fr. fhris: L'Arpenteur,
1988
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aquisições.1648.89
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aquisições.t772-180S
fronteira militar
Alias da História do Mundo. São Pau\o. folha de São nulo/ The Tomes,1995,
P.193.
Em geral, as viagens no Levante não podem deixar de ser cada vez mais confor-
táveis e é de se prever que algum especulador, estrangeiro ou indígena, terá a
idéia de estabelecer ali boas pousadas. Mas haveremos de esperar mais algum
tempo para termos estudas para carruagens...õ
Imaginem uma cidade maior que Constantinopla, com 800.000 habitantes, uma
multidão de academias diversas, uma quantidade enorme de bibliotecas públi-
cas, todas as ciências e as artes na perfeição, uma multidão de homens eruditos
espalhadospor toda a cidade, nas praças públicas, nos mercados, nos cafés,
onde encontramos todas as novidades políticas e literárias, jornais em alemão,
inglês, francês, numa só palavra, em todas as línguas [...]. Acrescentem a isso
uma multidão de transeuntes, outra multidão de carros e correndo por todos os
lados [...], ta] é a cidade de Pãris]...
Já viram alguma vez um operário trabalhar sem suas ferramentas?E pensam que
os quatrocentos ou quinhentos volumes que mal existem em Esmirna (e ainda
em grego) me podem ser suficientes para obter a matéria necessáriapara meu
livro? Aqui, além da biblioteca do juiz IClavierl onde vivo, tenho tambémVillos-
son e dois outros eruditos, cujas bibliotecas têm oito ou dez mil volumes cada
uma. E se em tudo isso não encontrar o livro que preciso, tenho a permissão de
consultar na Biblioteca Real que possui 350.000 volumes...s
9 lettres de Cbray au profopsa/le de 5myrne Dim/trios latos... Ed. Mis de Queux de Saint-Hilai-
re. Pâris:Firmin-Didot,1880.
10 BARBIER,Frédéric. L'impérialismecommunicationnel: le commercce culturel des nations
autour de la Méditerranée aux époques moderne et contemporaine. Posfácio em vias de edição
nos Áctes do colóquio de Montpellier ([e Gommerce cu/fure/ en Médíterranée aux époques mo-
derna et contempora/ne, dir. Henri Michel).
A imprensa é uma bela coisa. Ela tornou os livros mais baratos, de modo que o
homem comum pode também compra-]os [...]. A ]eitura abre os o]hos do feitor
e faz dele um homem consciente...ti
Às margensda romaneidade
Abordemos agora a problemática propriamente histórica. Sob este ponto
de vista também dois conjuntos radicalmente diferentesse opõem na nossa
geografia, reagrupando em boa parte a oposição precedentemente assinalada:
dum lado, encontramosos territórios onde se desenvolveramas grandescivi-
lizações da Antigüidade greco-romana. O espaço é o da própria Grécia, no
sentido geográfico do termo (Grécia continental, ilhas do Egeu, cidades gregas
da Ásia menor), mas também toda uma plêiade de feitorias e de colónias atra-
vés do Mediterrâneo e do mar Negro: ou seja, uma geografia ao mesmo tempo
comercial, linguística e cultural, cujo sistema será, em certa medida, retomado
por Veneza e suas "escalas". Estageografia grega antiga cobre parte do Impé-
rio Bizantino, como cobre também uma parte da cristandade primitiva.'2 A
dominação romana alarga e estrutura este conjunto orientando-o mais para o
interior das terras. Uma das grandes vias do Império Romano é a v/a Egnatla,
que, ligando Durazzo/Durrês (Dyrrachium) a Salõnica, constitui um segmento
do grande itinerário por terra entre ltália e Constantinopla: de maneira lógica,
esta rota assisteao nascimento de algumas das comunidades cristãs mais anti-
gas, como, por exemplo, ao redor d'Ohrid (Ochrida).''
O outro bloco espacial se situa mais além do//mes(zona fronteira de uma
província do Império Romano), ou seja, às margens ou fora da romaneidade
-- da Remam/a.Durante o período de sua maior extensão, o império se fixou
sobre o Reno e o Danúbio, com as cidades de Vindobona (Viena), Aquincum
(Obuda), Sirmium etc. -- só a província da Dácia foi ocupada por um tempo
durável, em bloco. Mais além, entramos no mundo dos povos nâmades, vindos
sucessivamentedo Leste,e que são ao mesmo tempo povos não cristianizados
e sem escrita, dito de outra maneira, povos da pré-história. Trata-se primeira-
mente de diferentes tribos germânicas (especialmente os godos, mas também,
mais ao Oeste, os burgondes, os marcomanos etc.), depois os eslavos, as tribos
fino-húngaras, os hunos e os mongóis, sem esquecer os turcos.
Povos,línguas,religiões
A diversidade etnolingüística é uma das principais características dum es-
paço que não foi inteiramente reestruturado pela ocupação romana -- contra-
riamente ao que aconteceu mais a Oeste. Logo, o pertencimento a uma ou outra
etnia torna-se o desafia maior e os mapas especializados povoam os atlas desde
o século XIX: no antigo reino da Hungria, tende-se a identificar e localizar preci-
samente os próprios húngaros, mas também os alemães, os romenos, os croatas,
os servos, os vendes, os eslovacos, os rutenes e os ciganos, sem esquecer os
judeus... A descrição de Routschouk feita por Canetti nas vésperasda Guerra de
191 4 é das mais esclarecedoras-- lembre-se que Canetti faz parte de uma famí-
lia de judeus antigamente emigrados da Espanha depois da Reconquista(1492):
Gente de origens diversas viviam lá, e podia-se ouvir falar sete ou oito línguas
diferentes no mesmo dia. Com exceção dos búlgaros, o mais íreqiiente, vindos
do campo, havia muitos turcos, que viviam num bairro próprio, e, bem ao lado,
o bairro dos sefarditas espanhóis, o nosso. Encontrávamos gregos, albaneses,
armênios, ciganos. Os romenos vinham do outro dado do Danúbio ]...]. Havia
também russos,embora muito poucos...t'
14 0P. cit., P. 9
IX, para o mundo eslavo: fundação dos bispados de missão, em Pâssaue Mag-
deburgo, e, mais tarde, o desenvolvimento das igrejas nacionais em torno das
novasmetrópoles de Praga,Gniezno/Gnesen (Polõnia)no ano 1000, de Eszter-
gom/Strigonia(Hungria)em 1001 e de Zagreb/Agram(Croácia)em 1093.tsA
criação das igrejas nacionais será logicamente interpretada, nos séculos XVll
e XVlll, como um elemento de demonstração de independência em relação à
antiga geografiado cristianismo: como o jesuíta Melchior Inchofer (caca 1585-
1648), que redige uma história da Igreja húngaraaliando-a ao próprio Santo
Estevão.A publicação da obra é, durante muito tempo, retardadapela Áus-
tria,'' assim como a vontade de criar uma Proa/nc/a hangar/ca independente
da Proa/nc/a austr/aca também não pôde se concretizar.
De imediato, com o cristianismo, é todo um complexo político-cultural
que se instala, segundoo modelo dos reinos ou principados da Europaociden-
tal: os príncipes são coroados pelo primaz, criam uma administração, mais tar'
de fundarão uma universidade, etc. Enfim. o historiador do livro deve destacar
o fato de que as diferentes escolhas religiosas são acompanhadas de escolhas
também diferentes de escrita: os latinos desenvolvem escrituras derivadas do
alfabeto romano, enquanto os ortodoxos adotam os alfabetos derivados do
grego e do primeiro alfabeto cirílico. A fronteira passa,principalmente, entre a
Croáciacatólica e a Sérviaortodoxa.
O avanço secular dos turcos muçulmanos transtorna essasprimeiras rela-
ções. O sultão esmagao imperador de Bizâncio em Manzikert, perto do lago
Van (1071) e apodera-se da maior parte da Ária Menor. Progressivamente,
os otomanos entram na Europa onde estabelecem sua capital em Andrinople
(Édirne),depois se apoderam de Constantinopla (1453), conquistam a Rou-
mélía (Grécia) e a Bulgária, submetem a Moldávia e a Valáquia, como prin-
cipados vassalos, e avançam nos Balkans, na Sérvia e na Bósnia, e, também,
no Mediterrâneo. Depois dos búlgaros, os húngaros são vencidos em Mohács
(1526), Buda torna-sesede dum paxá turco e o exército turco assediráViena
em 1683... As primeiras instituições culturais autónomas são destruídas,na
Hungria e na Transilvânia;seja como conseqüência da ocupação otomana,
seja, mais tarde, devido ao progresso da Reforma.i'
A sensibilidade religiosa reforça ainda a extrema complexidade de nossa
geografia: ao lado dos católicos'' e dos ortodoxos estão os hussitas na Boêmia,
] 5 furopas Milfe um l IOa. Ed.Alfred Wieczorek, Hans Martin Hinz. Stuttgart: Konrad üeiss
Verlag,2000.2 v.
] 6 INCHOFER, Melchior, S. 1. Ánna/es ecc/es/astic/rega/ Hangar/ae, /. Romã, 1644.
\ 7 Leschemins de I'edil: bouleversement de I'Est européen et migrations vensI'ouest à la fin du
MoyenÁge.Pãris:ArmandColin, 1992
18 CEVINS, Made-Madeleine de. ['Ég/]se dons/es v///©s congro/ses à /a #n c/u Moyen Áge (wrs
1320-vens
1490). Budapest/Ihris:Szeged/InstitutHongrois de Ihris, 2003 ('Dissertationes").
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Szécllé;
)decurou
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Ó
Cicero
Cidades,reinos e impérios
As identidades coletivas se apóiam primeiro sobre o duplo paradigma da
língua e da confissão. Várias construções mais ambiciosas tentam se impor
entretanto, de um período a outro, como elemento dominante. Limita-me a
mencionar o reino da Hungria, que domina a Europadanubiana no século
Xv. em concorrência, sobre as margens ocidentais, com a Boêmia. Mathias
Hunyadyi apossou-sede Viena e governa um conjunto reagrupandoa Hungria
atual, a Eslováquia, a Croácia, a Bósnia e a Transilvânia. Estaconstrução desa-
ba no começo do século XVI sob o avanço otomano e, desde então, a Hungria
é dividida em três blocos: no centro, a Hungria otomana, governada de Buda;
o Oeste, a Hungria dita "real", em torno de sua capital Pozsony/Presburg(Bra-
tislava), e que permanece nas mãos dos Habsburgo; para o Leste, a província
da Transilvânia, colocada sob a autoridade de um príncipe praticamente inde-
pendente que reside em Kronstadt (Bra;ov).:o É evidente que a tendência cada
vez mais sensívelserá,com a retirada dos otomanos,a subida ao poder dos
Habsburgo de Viena, que avançam progressivamente sobre o eixo do Danúbio
e nos Balkans -- até que o Congresso de Berlim, em 1878, lhes confie a "ad-
ministração provisória" da Bósnia-Herzégovina.2t
Ao Norte, duas outras concorrentes galgam o poder a partir da segunda
metade do século XVll, depois do fracassoda Suécia:de um lado, o Brande-
burgo-Prússia, do outro, o Império russo, simbolicamente aberto sol)re o Oci-
dente com a fundação de São Petersburgo por Pedro o Grande. É de ressaltar
que a Prússiaé sobretudo assimilada aos interessesprotestantes,Viena ao cato-
licismo da Contra-Reforma e São Petersburgo, evidentemente. à ortodoxia. No
século XVlll, a Polõnia desaparece, e a partir de então a partida se desenvolve
de-se além da Hungria str/cfo senso,o rei é também rei de Polõnia, e possui
as terras compreendidas entre a Moldávia e a Valáquia, a Sérvia, a Croácia e
a Eslovênia, sem esquecer o reino de Nápoles. A biblioteca real é assinalada,
desde então, pela sua grande riqueza.
Depois da queda dos Anjou, a luta com os otomanos se intensifica no
flanco sul do reino, luta conduzida por um chefe de guerra originário da atu-
al Romênia, JánosHumyadi. Esteganha em Nándorfehérvár(Belgrado),em
1456, uma vitória que assegurapor 50 anos a tranqüilidade da fronteira. Com
a morte de Hunyadi, o rei faz executar seu prímogênito e foge a Viena e Praga
com seu filho mais novo, Mátyás (Mathias), antes de morrer de peste. Mas
Mathias é eleito rei pela nobreza (1458-1490) em Pest, e fará do seu caste-
lo de Buda um dos centros da Renascençaeuropéia,ali reunindo a célebre
B/b//ofbecaCora/n;ana,assegurandoa posição da Hungria, não só face aos
turcos, mas também ao Império -- se apodera, durante um tempo, de Viena e
carrega os títulos de rei da Boêmia e duque da Áustria. Conhecemos o rei sob
sua alcunha de Mathias Corvin, sobrenome inspirado do pássaroemblemático
dos Hunyadi.24
Sabe-se pouco sobre as origens da /i/b#ofheca Córv'/n/ana:2s o primeiro
volume foi oferecido ao rei pelo potestadode Cesena,SigismondoMalatesta
em 1465,2ómesmo ano em que Janus Ihnnonius, bispo de Pécs,27chega a
Romã, de onde traz igualmente manuscritos. Seja através desse ou daquele
intermediário, seja diretamente, o rei passa a encomendar manuscritos em
Florência, sem dúvida ao grande livreiro Vespasianoda Bisticci. Outros espe-
cialistas também trabalham para ele, notadamente os Attavanti, mas também
os irmãos Gherardo e Monte di Giovanni. Progressivamenteuma ou várias
oficinas especializadas são organizadas em Buda, ao serviço da corte. A Bi-
blioteca compreende manuscritos de textos clássicos e científicos, mas poucos
textos religiosos.zõA primeira característica dos volumes reside na sua suntu-
osidade: beleza da caligrafia e da sua apresentação, perfeição da decoração e
qual trabalha Andréas Hess. Karai leva-o a Buda e o ajuda a abrir a primeira
oficina tipográfica húngara, em 1473.3' A nova técnica se implantará em Viena
somente em 1482, com a oficina de Stefan Koblinger." A oposição de Viena
parece se degradar, em certa medida, por volta do ano 1500, quando a derrota
da Hungria faz da capital dos Habsburgo quase uma cidade fronteira.
No Mediterrâneo,
a ltália desempenha
a funçãode interntediária,
en-
quanto o avanço otomano, marcado pela queda de Constantinopla(1453),
introduz por vários séculos uma barreira atravésde toda a Europa. Na costa
do Adriático, a imprensa aparece, num primeiro momento, apenasde maneira
muito esporádica, com oficinas ligadas a diferentes entidades religiosas: a pri-
meira oficina se estabelece em Kosinje em 1471 , a mais importante em Zengg
(Sem) em 1494,as mas trata-se de tentativas isoladas, consideravelmente atra-
palhados pela dificuldade de se obter as fontes topográficas necessáriaspara
a impressão da língua eslava: são utilizadas fontes gla8olíticas, sem dúvida
depois de terem sido desenhadas e gravadas cm Veneza (o primeiro 23rev/ár/o
de Zagreb, em caracteres cirílicos, é impresso por Ratdolt em Veneza em 1484,
sob encomenda do bispo Osvát).w
Quando o príncipe Steían Crnojevié, antigo aliado de Skanderbergcon-
tra Veneza, se estabeleceu em Cetinje, perto do lago de Scutari, o primeiro
principado de Montenegro (Crna Gora) começa a ser organizado. Conforme a
tradição, Crnojevié teria enviado o monge Makarius a Venera para aprender
a arte da impressãoe se abastecerde fontes. Goerg, filho de lvan, se casou
na família do patriciado veneziano, e faz imprimir. em 1494, um missal gla-
golítico, talvez um segundo missal no mesmo ano e um saltério em 1495. En-
tretanto, em 1496, o príncipe deve abandonar definitivamente o Montenegro
para se refugiar em Venera. No começo do século XVI, Makarius ganhou a
Valáquía (1508-1 51 0), onde trabalha sob a proteção do voivoda Barraca e de
onde os livros eslavânios, e depois também os gregos, serão difundidos através
dos Balkans. Os prelos são progressivamente instalados nos meios relaciona-
37 Chron/c.] Hungararuno. Pref. E. So]tész. Budapest, ] 992 Ifac-sim. da edição [iuda, Andréas
Hess, t 473); KOKAY,Gyõrgy. Ceschfchle des l?ucbhande/s /rl Un8arn. Wiesl)éden: Otto Harras-
sowitz, 1990 (dá a bibliografia complementar); Konrad Haebler, op. cit., p. 280 e seguintes.
38 Koblinger, que tem prováveis origens vienenses, traball)a em Vicence em 1479 e 1480, ar\tes
de voltar para Viena (Konrad Hael)ler, op cit., p. 164 e 294-5). O segundo impressor llieronymus
Vietor, que vem da Cracóvia, se estabelecerá na cidade só em 1510, e o seu irmão tomará scu
lugar quando ele regressarà Cracóvia.
39 0 primeiro livro impresso na Croácia aludi é o Af/ssa/e g/ago//l/cu/n feito por Bla2 Baromié
e seusassociadosem Zengg(Senj)cm 1494 : ver les 3 /!/ois/ révo/uf/onsdu /fure lcatalogue
d'exposition]. Pãris:CNAM/]mprimeric nationa]e, 20(]2, p. 236. Baromiécolaborou na impressão
de um breviário eslavo em Venera em 1493 e é sem dúvida ele que está na origem do estabele-
cimento da tipologia em Senj.
4Q SCHM\'TZ. Werner. Südslawischer Buchdruck ül Venedig ( 16.- 18. Jt.): Untersuchungen und
B/b//oBraR/)/e.Giellen: Wilhelm Schmitz, 1977.
SCHEDEL Hartmann. Cbronk/e of the wor/cí, 1493. New York: Taschen, 2001,
P.cxxXlx.
P
J
'x
Debrecen
\ SKnAtçC, \os\p. lugoslavica usque ad annum 1600: bit)liogrphic der südslawischen Friih-
drucAe. Baden baden; Heitz, 1959; PLAV$tC,Lacar. Srpske Jtampar#e o(/ kiala /5 do sre(#ne
19 veda IA imprensa serva do século XV ao XIXI. Beograd, 19S9. Dois exemplares do Brevür/urn
Zagrabense são conservados hoje, o })romeiro em Budapeste (Biblioteca Nacional da Hungria), o
segundo em Rama (Biblioteca Vaticana).
42 RHODES, Dinnis H. /cunabu/a /n Grei'ce /.../; d #rsl censo/s.München: Kraus, 1980; DROU-
LIA, Loukia et al. Te M.ítvtKê Ptl3À.oo.Athànes: BanclueNational de Gràce, 1986; DROULIA,
Loukia. L'imprimerie grecque: naissanceet retards. In: l.e //vre et /'h/slorlen: Mélanges H.-J. Mai'
tin. Genebra, 1997, p. 327-41 (dá uma bibliografia complementar); BARBIER,Frédéric (Dir.). Le
livre grec et I'Europe, du modõle à la diífusion des Lumiêres. Recuetrança/se d'Nisto/re du LJv/e.
n. 98-9. '199t3.Sobrevenera e os IFegosver Le edizioni di testagreci (JaAmo Manunzio e le prime
t4mgra#c grechc df Venezla.Arenas, 1993.
43 Vilnius e Leontopolis (Lvov/Lvív), desde a sc8un(Ja metade do século XVI.
44 No Oriente-Médio, com exceção de Constantinopla, a primeira imprensa funciona em Safed
IZefat)em 1563, no interior de Saint-Jeand'Acre, centro religiososefaraditamuito ativo no século
XVI (oficina tios irmãosAshkenazi).
não somente como a "Genebra húngara", mas também como centro de estu-
dos moderno, copiado do modelo pedagógico saxão de Melanchton: o ensino
dado é particularmente inovador nas áreas da filologia e das ciências naturais
e, mais tarde, também das matemáticas, ao mesmo tempo que as relações com
a universidade de Wittenberg são regularmente continuadas. O coração do
colégio é constituído de uma biblioteca extremamente rica e conta, hoje, com
mais de 5.000 livros antigos, sendo a mais importante coleção confessional da
Hungria.
Outras instituições têm um papel comparável, do lado católico: citemos a
biblioteca beneditina de Pãnnonhalma, a biblioteca da catedral de Esztergom
ou ainda a do bispado de Eger (Erlau). Erlau é ocupada pelos turcos, de 1596
a 1687, de modo qt.ie o "renascimento" só pode se desenvolverno século
XVlll, especialmente sob o reinado dos bispos-condes Ferenc Barkóczy (171 0-
1765) e Károly Eszterházy(1725-1 799): o primeiro cria, em 1754, a imprensa
episcopal e começa a desenvolver, em Erlau, instituições de ensino modernas.
Esterházy,com a ajuda do cónego lgnáz !3atthyáni,tenta fazer da cidade uma
cidade universitária, sem o conseguir devido à oposição de Joseph 11:faz então
construir um prédio para acolher a sua fundação e cria uma biblioteca que
conta, hoje, uns 150 mil volumes, um extraordinário marco barroco que exalta
a Contra-Reforma.4z
Do lacJodos nobres e das grandes personalidades, magnates etc., a imita-
ção da figura clo soberano conduz à constituição de bil)liotecas particularmen-
te importantes,sob o modelo da Hofbibliothek de Viena. Na Hungria, depois
da queda da monarquia, uma série de cortes senhoriais retoma o papel da cor-
te real de Buda, enquanto que, desde o século XVI, as grandes famílias nobres
são alfabetizadas, à semelhança dos Apafíi, Teleki, Bethlen, Nádaszdy,'l"hurzó
etc. Numerosos são os jovens aristocratas que viajam "à Europa", seja para
um "grand tour", seja como estudantes numa ou noutra universidade. Progres-
sivamente, são os representantes da mais alta aristocracia os que se ocupam
da problemática das Luzes: na família Batthyány,o conde Adam Batthyány
(1697-1782) possui uma grande coleção de livros em francêsou traduzidos
em francês. O príncipe Károly József Batthyány (1698-1 772) tem também vá-
rias bibliotecas, notadamente a da sua residência de Viena (boa literatura em
alemão e em francês, livros de história e títulos jansenistas,ao todo cerca de
3.000 volumes). lgnáz Batthyány,cónego de Erlau,é o promotor da instituição
do Bafthyaneum de Gyulafehérvár (Alba Juba): bibliotecário em Romã, ele tem
excelentes relações com a ltália eViena e retoma a antiga biblioteca da cidade
de Lócse, assim como a coleção privada de Anton Christoph Migazzi, bispo de
Vác e depois arcebispo de Viena...
NACIONALIDADESE MODERNIDADE
Redesdolivro e bibliotecas
QÜ. N
d
f.l!!j-tvb. + +' -& +.«
Bologne
A língua nacional
Dois outros elementos têm um papel central na construção das iclenti(Ja-
des coletivas e das nacionalidades: a língua e a "livraria nacional"
O século XVlll e ainda fetaiso XIX testemunham o aumento da impor-
tância cla problemática linguística, sob a influência elostrai)alhos de filólogos
alemãese reflexõessobreo papel da língua, articulado com a definição de
iclentidadccoletiva.s3Na Boêmia, embora a tradição literária seja muito anti-
ga,s' sendo a Bíblia traduzida e impressaem checo desde o período incuná-
bulo (Pilsen/Plzeto,1476), a era moderna é marcada por uma certa ressaca,
sob a dupla pressão da Contra-Reforma católica e da volta dos Habsburgo ao
poder. A restauraçãodo emÍ)rego clo checo como língua de edição data do
primeiro terço do século XVlll, e o movimento se acentua no XIX.ssNo reino
multinacional da }-lungria. a língua oficial até meados do século XIX é o latim,
à exceção clo grão-ducado de Transilvânia, onde é o húngaro. Sabe-secomo a
vontade de Joseph ll de impor o alemão como língua de administração choca-
se com a oposição de toda a "nação", onde os trabalhos de filólogos e escri-
tores como Ferenc Kazinczy (1759-1831) aspiram a fixar a língua Itúngara e a
desenvolvê-la como língua literária. O mesmo fenómeno se ol)serva até numa
Nação sem Estado,ou ainda sem geografia nacional reconhecida, como é o
caso, nessetempo, da Grécia: é em 1805 que Adamantos Coral (174é3-1833)
faz o elogio dc um.l história naturalmente "nacional", sublinhando sua urgente
necessidadepara a Grécia, e começa em Parisa publicação de uma Biblioteca
Helénica, cluando, no ano seguinte,é lançada a primeira edição de nucydide
cm grego moderno...sóA publicação de colcções de l)íl)liografia retrospectiva,
de bil)liografia corrente e de "monumentos", segun(Joo modelo dos õ/onti-
mer?faGerrna/7/e/"//flor/ca, se inscrevem na mesma lógica.s'
53 Herdei et les l.un iàres: L'Europede la plurallté culturelle et linguistique. [d. P]erre Pét\\sson,
Norbert Waszek. Paris, 2000 (Rev/sfaGerntzin;ca/n(ernaciona/, 20, 2003).
54 0 primeiro livro impresso em tcheco é a Kronika trofankó (Crónica troiana) em Pilsen, em
1468
55 KÓLLNER, plena. Buchtvesen /n Praz, Von Vác/av A{. Kramcr/us b/s /ar7 Olho. Wien: Edition
Praesens,2000 ("Beitrãge ztim Buchwesen in õsterreich", l ).
56 [)IMARAS, C. Th. NcocJ,ÀrlwZóv õ]ap i/ióu. Arenas: Ermis, 1993, espccia]mente <<'O Ko
paq{ Zczi f;xoXPÍTQv>>,p. 3 1 5 e seguintes.Mais antigo, do mesmo autor. [a Grêce au ter»ps des
Lumiàres. Gene\)ra: Díoz, '1969. VeT \ambém Flellénisme et hippocratisme dons I'Eurape tnéditer-
ranéen/le; at/tour de D, Corar. Ed. Rolar(J Anclréani, Henri Michel, Élie Péla(luier. Montpellier:
Univcrsité de Mpntpellier 111,2000.
57 ///slolre ( f naffon en fl/rode centra/e ef or/ent.a/e,X/X''.XX'siêc/es.Dir. Made-Élisabeth Du-
creux. I'ans:INRP.2000.
h.4atetia+
com direlios autorais
Fréderic Barbier 207
1.material
com direitos autoras
Fréderic Barbier 209
62 0P. cit.,P.416-7.
b3 Geschichte der bõhmischen Sprachc und ãltern Literatur
'Hssot
1) Primeiro, ela põe em evidência as tendências a muito longo prazo, as dos rit-
mos mais amplos. Não somente a vários séculos passados,a Europa dos PECO
permanece, ainda em 2004, sendo aquela dos "recém chegados", mas a ques-
tão é ainda atual, em certos aspectos, como saber reduzir as distâncias entre os
diferentes grupos que constituem nosso subcontinente.
2) Emseguida, ela permite insistir na eloqüência de indicadores tais como a reli-
gião e a língua e definir certas filiações intelectuais: no decorrer do século XIX, a
nacionalidade não aparece como um dado a pr/orl, mas como uma construção
intelectual ({ue articula uma experiência quotidiana, segundo categorias e es-
quemas que esclarecem (ortemente a problemática das transferências culturais
e a relação (Jasforças políticas.
3) A escassezde redesde relaçõesdesenvolvidasdificulta por muito tempo a
penetração do impresso no interior de espaços geográficos tão extensos, mas
substitutos são quase imediatamente implantados: são as redes de negociantes
"de generalidades", que percorrem a Europa sul-oriental, são também os viajan-
tes, os estudantesetc., são as práticas de cópia manuscrita e de circulação sob
forma de correspondência.
Por tudo isso, o trabalho fica ainda por ser feito, o que permitiria melhorar
o quadro algo impressionista aqui apresentado: a aproximação serial se apoia-
ria notadamente na prosopografia dos impressores, livreiros e outros profissio-
nais da "livraria" e, também, nas estatísticas da produção impressa e no estudo
das redes e dos sistemas da difusão. Outras perspectivas, sem dúvida mais
distanciadas, se abrem também pelo lado dos autores e autores secundários
(tradutores, adaptadores etc.), assim como a circulação e recepção de livros
e textos, devendo, a perspectiva comparatista sempre e em todo lugar, ser sis-
tematicamente privilegiada. No começo do terceiro milênio, a construção da
Europa passa também, e sempre mais, pelo trabalho dos historiadores, e dos
historiadores do livro, já quc as problemáticas de ordem cultural são cada vez
mais reconhecidas e relevantes na formulação de projetos políticos, o que era,
durante muito tempo, negligenciado.