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CIÊNCIAS SOCIAIS

PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA


Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Gestão Educacional:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não Diagramação:
vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Revisão Textual:
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica Felipe Veiga da Fonseca
e profissional, refletindo diretamente em nossa Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Luana Ramos Rocha
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente
e busca por tecnologia, informação e conheci- Produção Audiovisual:
mento advindos de profissionais que possuam Eudes Wilter Pitta Paião
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Márcio Alexandre Júnior Lara
cia no mercado de trabalho. Marcus Vinicius Pellegrini
Osmar da Conceição Calisto
De fato, a tecnologia e a comunicação
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas,
Gestão de Produção:
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
Kamila Ayumi Costa Yoshimura
nos proporcionando momentos inesquecíveis.
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino
Fotos:
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
Shutterstock
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
CIÊNCIAS SOCIAIS

FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................4
1 - CONTEXTO HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS.............................................................................................5
1.1. PARA COMPREENDER AS CIÊNCIAS SOCIAIS................................................................................................8
2 - ÉMILE DURKHEIM E O SUICÍDIO.....................................................................................................................10
3 - NÃO SOMOS IGUAIS: DIVERSIDADE CULTURAL.............................................................................................16
3.1. METODOLOGIA: IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA................................................................................................ 17
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................. 21

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INTRODUÇÃO
“De tudo que existe, nada é tão estranho como as relações humanas,
com suas mudanças, sua extraordinária irracionalidade” (Virginia
Woolf).

As “Ciências Sociais” revelam-se em toda parte, principalmente nas relações sociais que
estabelecemos com os outros seres humanos para garantir nossa sobrevivência. Afirmamos que
cada ser humano é produto e produtor da sua vida social, está inserido em uma determinada
realidade, influenciado por ela. E, embora não aceite, deve reconhecer que não é tão livre como
gostaria de ser.
As Ciências Sociais promovem a solidariedade e o entendimento entre todos os seres
humanos, baseada na compreensão, no respeito às diferenças e na liberdade de todas as pessoas.
Funciona como uma ferramenta reflexiva, que pode ser aplicada em nossa vida, representa um
corpo de conhecimentos e de práticas de investigação sobre as ações humanas, bem como revela
as evidências históricas e busca interpretá-las.
Assim, o exercício em pensar socialmente nos faz entender a vida de um modo mais
completo, influencia e oferece soluções para os problemas e conflitos sociais. O estudo das Ciências
Sociais é um bom guia na luta contra os preconceitos, contra o racismo e falta de diálogo entre

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os grupos culturais, enfim, pode ajudar a resgatar nossa humanidade e promover a construção de
uma sociedade ética e cidadã.
O objetivo da primeira unidade é aproximar os acadêmicos do estudo das Ciências Sociais
e dos primeiros pensadores, a fim de perceber suas contribuições para o entendimento das ações
humanas sobre o planeta terra...
A casa onde todos os seres humanos devem aprender a conviver de forma pacífica e
fraterna.

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1 - CONTEXTO HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


A arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade
prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível
diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação
(BAUMAN; MAY, 2010, p. 27).

As Ciências Sociais surgem no momento de transformação e ebulição dos acontecimentos


políticos, econômicos e culturais. No final do século XVIII e segunda metade do século XIX,
período histórico da crise do Feudalismo, o fim do Antigo Regime e nascimento do modo de
produção Capitalista.
Para entender os aspectos principais desse processo histórico é preciso contextualizar
e diferenciar os dois modelos: as comunidades antigas, em que a posse da terra era coletiva e o
senhor da terra estabelecia uma relação de suserania e vassalagem, característica dos códigos
de honra medievais, ou seja, pela coerção jurídica ou pela pura violência satisfazia seus desejos
e necessidades econômicas. O outro modelo é o modo de produção capitalista, que todos nós
conhecemos: voltado para o trabalho, a produção de mercadorias, a comercialização e o consumo
de bens.
O Feudalismo pode ser entendido como um regime de servidão, que resultava na
satisfação das exigências econômicas do senhor feudal:

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[...] uma obrigação, imposta ao produtor pela força e independentemente de
um seu ato de vontade, de satisfazer determinadas exigências econômicas de
um dominus, quer essas exigências assumam a forma de serviços a prestar, quer
de tributos a pagar em dinheiro ou em géneros [..] A força mediante a qual tem
lugar a coerção poderá ser a do domínio militar do senhor feudal, a da tradição,
apoiada num processo jurídico de qualquer tipo, ou finalmente, a força da lei
(CONTE, 1984, p. 15-16).

As mudanças na vida socioeconômica e a contribuição de alguns pensadores foram


fundamentais para a formação das Ciências Sociais, sobretudo na França, nos séculos XVII e
XVIII, que diante das péssimas condições de vida ocasionaram a Revolução Francesa, em 1789.
A sociedade francesa era fortemente aristocrática e hierarquizada, o poder gravitava em torno
da figura do rei, o “rei-sol”, mas com o agravamento da miséria da população, o conflito político
multiplicou o número de manifestações e de panfletos e livros contra o absolutismo monárquico.
O choque provocado por essas novas concepções foi ainda mais forte quando sua difusão
encontrou na Enciclopédia, um veículo adequado e revolucionário, ela teve início em 1751 e
alcançou “[...] 36 volumes, dos quais oito de ilustrações, num total de 71.818 verbetes, até o ano
de sua conclusão, em 1772” (GRESPAN, 2014, p. 49). Os pensadores da Enciclopédia propunham
um espaço de produção do saber, através do debate e da crítica e defendiam que todos deveriam
possuir os direitos básicos em igualdade de condições.

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Figura 1 - Revolução Francesa. Fonte: Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1830).

O mundo, em 1789, era muito diferente, a Europa era essencialmente rural, existia uma
linha divisória que separava as pessoas, separava o campo da cidade. A aparência das pessoas
que moravam nas cidades era fisicamente diferente dos homens do campo. Esses vestiam roupas
diferentes, as atividades eram bem marcadas e as pessoas do campo eram ridicularizadas pelos
moradores das cidades e tratadas como “caipiras da roça”.

Figura 2 - Pensadores do iluminismo. Fonte: Simple Theme (2018).

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O Iluminismo foi uma ideologia revolucionária, a convicção no progresso do conhecimento


humano, na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza. Denominado de “séculos das
luzes”, o Iluminismo visava a luta da razão contra o absolutismo monárquico. Foi um movimento
eclético, interpretado de forma prática e utilitarista, em que o sucesso das ciências experimentais
alimentava a ideia de que o método racional analítico poderia desenvolver o progresso em todas
as outras áreas da vida. Assim, o iluminista podia ser considerado como uma pessoa “esclarecida”,
um racionalista, um progressista que tinha confiança na capacidade do homem em progredir
para uma era melhor, um verdadeiro apaixonado pela

[...] crença no progresso que professava o típico pensador do iluminismo refletia


os aumentos visíveis no conhecimento e na técnica, na riqueza, no bem-estar e
na civilização que podia ver em toda a sua volta e que, com certa justiça, atribuía
ao avanço crescente de suas ideias. No começo do século, as bruxas ainda eram
queimadas; no final, os governos do iluminismo, como o austríaco, já tinham
abolido não só a tortura judicial, mas também a escravidão (HOBSBAWM,
2003, p. 37-38).

Observe que o pensamento liberal e o lema da Revolução Francesa – “liberdade,


igualdade e fraternidade” – está presente na Declaração dos Direitos Humanos e, hoje, é aceito
em muitos países como direitos pertencentes à natureza humana. O que significa que a felicidade
só deveria ser pensada como um projeto de sociedade para todos. Assim, “liberdade, igualdade
e fraternidade”, passaram a ser considerados como direitos do novo cidadão, frutos da revolução

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que promoveu profundas transformações e nos permite ler, no primeiro artigo da Declaração dos
Direitos dos Homens e Cidadãos, que todos os homens nascem livres e iguais em direitos.
A sociedade passou por um processo de transformação em todos os níveis em um curto
período de tempo, afetando toda organização social e provocando mudanças que nos colocaram
em um mundo extremamente tecnológico e interligado pelos meios de comunicação e redes sociais.
Diversos acontecimentos que marcaram a vida política e econômica mudaram profundamente
as relações sociais e o modo como produzimos a nossa sobrevivência. Segundo Martins (2010,
p. 10) “[...] as ciências sociais não são somente produto da reflexão de alguns pensadores, mas o
resultado de certas circunstâncias históricas e de algumas necessidades materiais e sociais”.
Após o período do Renascimento e da Revolução Francesa, a ciência foi dominando cada
vez mais a cultura e a história da humanidade, surgiu uma verdadeira Revolução Científica e a
sociedade se tornou cada vez mais racionalista e empirista, o que significou que a ciência passou
a ter “[...] com critérios a objetividade e a cientificidade, nos moldes da matemática, e não mais
da filosofia [...] a ciência buscou novos modelos e métodos” (CHINAZZO, 2013, p. 166).

Figura 3 - Charlie Chaplin: Tempos Modernos. Fonte: CineVest (2018).

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A Revolução Industrial não é um acontecimento histórico que podemos determinar


que tivesse princípio e fim, ela ainda prossegue, mas, com certeza, esse foi o acontecimento
mais importante na história do mundo. Na década de 1780, pela primeira vez na história da
humanidade foi intensificado o poder produtivo, agora os seres humanos eram capazes de
multiplicação rápida, constante e ilimitada, capazes de produzir mercadorias e serviços para toda
a sociedade, foi o salto para “o crescimento autossustentável”.

A ciência, hoje, tem um olhar mais específico para cada cultura, cada grupo e
cada indivíduo, rejeitando a antiga concepção de universalidade da história da
humanidade. Consequentemente, as soluções não serão as mesmas, nem mesmo
as soluções técnicas. Surge uma nova visão da história, um novo discurso
que origina outras formas de códigos e de mundo, admitindo uma grande
heterogeneidade (CHINAZZO, 2013, p. 170).

No início, todos os estudos e descobertas feitas pelas Ciências Sociais estavam concentrados
na Sociologia. Naquela época, era considerada uma “ciência enciclopédica, evolucionista e
positiva”, que se ocupava da totalidade da vida social e buscava formular as leis gerais da evolução
social da humanidade. Mas com o passar do tempo e devido à complexidade da sociedade
moderna, a Sociologia, Antropologia, Economia e Política vão desenvolvendo metodologias
próprias e estudos cada vez mais específicos (MARCELINO, 2013).

1.1. Para Compreender as Ciências Sociais

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Existem vários elementos que compõem a sociedade, estudar as Ciências Sociais é fazer
uma bricolagem (conjunto de teorias e conceitos para formatar uma ideia) de várias áreas para,
assim, termos condições de compreendê-las. Dentre as ramificações desta ciência apontamos
alguns conceitos e autores principais:

• ANTROPOLOGIA: a terminologia surgida no século XVIII e consolidada no século


XIX como ciência tem como estudo o comportamento do homem. Dentre esses estudos estão:
crenças, costumes, hábitos, aspectos físicos, ou seja, a cultura, de modo geral, de diferentes povos.
Os principais Antropólogos são:
➢ Bronislaw Malinowski (1884-1942).
➢ Franz Boas (1858-1942).
➢ Claude Levi-Strauss (1908-2009).

• CIÊNCIAS POLÍTICAS: a ideia de política está presente desde a Grécia Antiga, porém,
estaremos conceituando no viés da História Moderna. Podemos dizer que as Ciências Políticas
têm como prerrogativa se dedicar às ações políticas presentes nas organizações sociais, ou seja, ver
a política como poder, Estado, gestão pública, formas de governo, processos eleitorais, partidos
políticos, entre outros. Dentre os clássicos das políticas estão:
➢ Nicolau Maquiavel (1469-1527).
➢ Thomas Hobbes (1588-1679).
➢ John Locke (1632-1704).
➢ Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
➢ Immanuel Kant (1724-1804).
➢ Georg Wihlm Friedrich Hegel (1770-1831).
➢ Karl Marx (1818-1883).

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• CIÊNCIAS ECONÔMICAS: entendemos este conceito como processo do homem


inserido nos meios e modos de produção, consumo, bens e serviços, mercado, sistemas econômicos,
trocas ou escolhas, ou seja, toda e qualquer forma de relações sociais que condicionam fins e
meios de algum bem ou serviço. Principais pensadores das Ciências Econômicas:
➢ Adam Smith (1766-1834).
➢ Thomas Malthus (1766-1834).
➢ David Ricardo (1772-1823).
➢ John Stuart Mill (1806-1873).
➢ Alfred Marshall (1842-1924).
➢ John Maynard Keynes (1883-1946).

• SOCIOLOGIA: está relacionada a uma ciência que aprofunda os conceitos da vida


humana, grupos sociais, sociedades, indivíduos, relações sociais e estruturas sociais. Principais
pensadores da Sociologia:
➢ Augusto Comte (1798-1857).
➢ Émile Durkheim (1858-1917).
➢ Karl Marx (1818-1883).
➢ Max Weber (1864-1920).
➢ Zigmunt Bauman (1925-2017).

É comum no campo das Ciências Sociais um mesmo pensador estar em categorias

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diferentes, já que suas teorias podem ser utilizadas tanto em uma linha teórica como em outra.
Essas linhas que constituem as Ciências Sociais são fundamentais para compreender e analisar
a sociedade como um todo, ou seja, utilizar de todos os conceitos possíveis para chegar a uma
possível explicação.
A Sociologia pode ser considerada uma ciência da modernidade, uma resposta
intelectual às condições geradas pela Revolução Industrial, como a renúncia da visão sobrenatural
e aplicação da observação e experimentação, o emprego sistemático da razão, estabelecendo um
método científico para a explicação dos fenômenos da natureza e da cultura (MARTINS, 2010).

As consequências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo


sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento assustador da
prostituição, do suicídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de
tifo e cólera que dizimaram parte da população etc. É evidente que a situação de
miséria também atingia o campo, principalmente os trabalhadores assalariados,
mas o seu epicentro ficava, sem dúvida, nas cidades industriais (MARTINS,
2010, p. 13-14).

O primeiro pensador, Claude Henri de Rouvroy, mais conhecido como o Conde de


Saint-Simon (1760-1825), era oriundo da nobreza francesa. Ele descobriu muito tarde a carreira
de estudioso da física e da política, só aos 40 anos, dedicando os seus esforços na criação da
sociedade que ele chamou de “sistema industrial”.

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Figura 4 – Saint-Simon (1760-1825) Fonte: 123RF Royal Free (2019).

Saint-Simon (1760-1825) é considerado o iniciador do positivismo e o

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verdadeiro pai da Sociologia, tendo sido altamente influenciado pelas ideias
revolucionárias, principalmente dos filósofos iluministas. Vivenciou a sociedade
francesa pós-revolucionária, que se encontrava em estado de desorganização
geral, e acreditava que o industrialismo trazia consigo a possibilidade de
satisfazer as necessidades da população, e que a ordem e a paz, na nova
sociedade poderiam ser proporcionadas pelo progresso econômico. Para Saint-
Simon a elite, formada pelos industriais e cientistas, deveria fornecer melhores
condições de vida à classe trabalhadora, elaborar normas de comportamento
para atenuação dos conflitos existentes entre as classes sociais e propiciar a
“ordem, paz e progresso”, através de um processo de acomodação (MARCELNO,
2013, p. 28, grifo nosso).

Saint-Simon desenvolveu os estudos sobre a lei dos três estados e defendeu que o objetivo
político do Estado deveria garantir o desenvolvimento da industrialização. Para ele, a sociedade
era um sistema de elementos interdependentes, ideias que irão aparecer nos trabalhos dos seus
discípulos, em especial nas obras de Augusto Comte.

2 - ÉMILE DURKHEIM E O SUICÍDIO


“O maior obstáculo à descoberta não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”
(Daniel Boorstin).

Émile Durkheim nasceu em Épinal, Departamento de Vosges, que fica exatamente entre
a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril de 1858, e morreu em 1917. Ele foi indicado para ministrar
aulas de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902, onde
organizou o primeiro curso de Sociologia em uma universidade francesa. Mas foi só em 1910
que consegue transformá-la em cátedra de Sociologia. As suas aulas na Sorbonne exigiam um
grande anfiteatro para atender o grande número de alunos. Ele foi o primeiro sociólogo moderno
a explicar o comportamento humano baseado no contexto social das pessoas.

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Figura 5 - Émile Durkheim. Fonte: Abril Cultural (s/d).

Para Durkheim, os fatos sociais devem ser estudados como coisas. Eles são fenômenos,
propriedades, são acessíveis pela observação e externos, que podem ser medidos de forma
objetiva.

A proposição segundo a qual os fatos sociais devem ser tratados como coisas –
proposição que está na base de nosso método – é das que mais têm provocado
contradições. Consideraram paradoxal e escandaloso que assimilássemos
às realidades do mundo exterior as do mundo social. Era equivocar-se
singularmente sobre o sentido e o alcance dessa assimilação, cujo objeto não

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é rebaixar as formas superiores do ser às formas inferiores, mas, ao contrário,
reivindicar para as primeiras um grau de realidade pelo menos igual ao que
todos reconhecem nas segundas. Não dizemos, com efeito, que os fatos sociais
são coisas materiais, e sim que são coisas tanto quanto as coisas materiais,
embora de outra maneira (DURKHEIM, 2007, p. 27).

Os fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir, com as três características seguintes:
exterioridade, coercitividade e generalidade.

• EXTERIORIDADE: são exteriores às consciências individuais, existe independente da


vontade do indivíduo.

• COERCITIVIDADE: os indivíduos são obrigados a seguir um comportamento pré-


determinado, independentemente de sua vontade. Há uma força coercitiva que faz com
que ele siga determinadas regras e que ele deve fazer se submeter.

• GENERALIDADE: é comum a todos os membros de um grupo ou a sua maioria. É o


consenso social e a vontade coletiva.

Em relação às condições de vida de cada grupo apresentar diferenças culturais, elas não
são de qualidade nem de nível, mas são próprias das condições de vida de cada sociedade. Ou seja,
não podem ser comparadas como superiores ou inferiores, todas são igualmente importantes,

Se certas sociedades não criaram o alfabeto e a linguagem gráfica, é porque o


modo de vida de tais indivíduos não lhes despertou tal necessidade, não porque
sua capacidade mental fosse “inferior”. A capacidade simbólica e os padrões
de todas as culturas humanas são igualmente abstratos, significativos e dão
respostas úteis aos problemas de compreensão do mundo (COSTA, 2005, p. 5).

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Durkheim era discípulo do pensador francês Auguste Comte (1798-1857), que inventou
a palavra sociologia, na perspectiva de desenvolver o estudo da sociedade sobre bases científicas.
Comte nasceu na França, era filho de uma família católica monarquista. Viveu a infância na época
da França napoleônica, estudou na Escola Politécnica e tornou-se discípulo de Saint-Simon,
sofrendo grande influência desse pensador. Desenvolveu os estudos da filosofia positivista,
considerada por ele uma religião e, segundo sua filosofia política, afirmava que a história do
desenvolvimento da humanidade passou por apenas três estágios.

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Figura 6 – Augusto Comte. Fonte: Lapham’s Quarterly (s/d).

A lei dos três estágios de Comte assinala que as tentativas humanas de entender
o mundo passam por estágios teológicos, metafísicos e positivos. No estágio
teológico, o pensamento era guiado por ideias religiosas e pela crença de que
a sociedade era expressão da vontade divina. No estágio metafísico, que tomou
frente por volta da época da Renascença, a sociedade passou a ser vista em termos
naturais, e não sobrenaturais. O estágio positivo, anunciado pelas descobertas e
realizações de Copérnico, Galileu e Newton, estimulou a aplicação de técnicas
científicas ao mundo social. De acordo com essa visão, Comte considerava a
sociologia como a última ciência a se desenvolver – com base na física, na química
e na biologia – mas também como a mais significativa e complexa de todas as
ciências. Comte queria desenvolver uma ciência da sociedade que pudesse
explicar as leis do mundo social, controlar e prever os acontecimentos sociais, e
assim, ajudar a moldar o nosso destino e melhorar o bem-estar da humanidade.
A visão de Comte para a sociologia era de que ela se tornasse uma “ciência
positiva”. Ele queria que a sociologia aplicasse os mesmos métodos científicos
rigorosos ao estudo da sociedade que os físicos e químicos usam para estudar
o mundo físico. O positivismo sustenta que a ciência deve se preocupar apenas
com entidades observáveis que sejam conhecidas pela experiência direta. Com
base em observações cuidadosas, pode-se inferir leis que expliquem a relação
entre os fenômenos observados. Compreendendo as relações causais entre os
fatos, os cientistas podem então prever como serão os acontecimentos futuros.
Uma abordagem positivista à sociologia visa a produção de conhecimento
sobre a sociedade com base em evidências empíricas obtidas com observação,
comparação e experimentação (GIDDENS, 2012, p. 24).

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Entretanto, apesar de Comte defender a aplicação de um método científico para o estudo da


sociedade, foi Durkheim que desenvolveu e aplicou em suas obras essa metodologia, defendendo
o princípio de avaliar os fatos sociais como coisas, utilizando o mesmo rigor científico aplicado
pelas outras ciências na sociologia.
A obra de Durkheim, Regras para o método sociológico (1895), foi à primeira obra
exclusivamente metodológica e voltada para a investigação sistemática. E foi na obra O Suicídio:
estudo de sociologia que Durkheim manipulou as variáveis e dados empíricos utilizando a
estatística como instrumento de análise, tornando sua obra um modelo no campo das ciências
sociais e uma demonstração científica de como fazer um estudo sociológico.
Para Durkheim, a principal preocupação intelectual da sociologia é o estudo dos
fatos sociais, os aspectos da vida social que moldam nossas ações como indivíduos, sendo que
cada sociedade têm uma realidade própria, um modo de agir, pensar ou sentir. Os fatos sociais
exercem um caráter condicionante sobre as pessoas, elas seguem os fatos sociais livremente e
acreditando que, desse modo, estão agindo por escolha própria.

O fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce ou é


suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença deste poder é reconhecível,
por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela
resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento individual que tenda
a violenta-lo. Todavia, podemos defini-lo também pela difusão que apresenta
no interior do grupo, desde que, de acordo com as precedentes observações,
se tenha o cuidado de acrescentar como característica segunda e essencial que
ele existe independentemente das formas individuais que toma ao se difundir.

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Nalguns casos, este último critério é até mesmo mais fácil de aplicar do que
o anterior. Com efeito, a coerção é fácil de constatar quando ela se traduz no
exterior por qualquer reação direta da sociedade, como é o caso em se tratando
do direito, da moral, das crenças, dos usos, e até das modas. Mas, quando não
é senão direta, como a que exerce uma organização econômica, não se deixa
observar com tanta facilidade (RODRIGUES, 2002, p. 49).

Para Durkheim os fatos sociais são difíceis de estudar, para tanto, é preciso abandonar os
preconceitos e ideologias, ter uma mente aberta às evidências e livre das ideias preconcebidas.
Para ele, deveríamos observar os fatos como eles realmente são, e buscar desenvolver os conceitos
e valores que expressam a natureza da vida social.
A obra de Durkheim, O suicídio: estudo de sociologia (1952), define o suicídio como
um fato social que só poderia ser explicado por outros fatos sociais. E, embora essas pessoas
sejam consideradas como indivíduos que estão exercendo o livre arbítrio, elas são influenciadas
e seguem os modelos e padrões sociais da sociedade em que estão inseridas.
O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, com um milhão de óbitos por
ano, cerca de 16 óbitos por 100.000 habitantes, tornando-se um importante problema de saúde
pública. Desde 1960, as taxas de suicídio no Brasil têm contribuído com a situação epidemiológica,
sendo registrada como a terceira causa de óbito por fatores externos identificados: homicídio
(36,4%), óbitos relacionados ao trânsito (29,3%) e suicídio (6,8%) (MACHADO; SANTOS, 2015).
No Brasil, o suicídio é um problema de saúde pública, as maiores causas de suicídio são
enforcamento, lesão por armas de fogo e autointoxicação intencional por pesticidas, equivalente
a 80% dos casos aproximadamente. A mortalidade mais elevada se encontra na região Sul e o
maior crescimento percentual da taxa se encontra na região Nordeste, seguindo a tendência
mundial de que os homens são três vezes mais propensos do que as mulheres a cometer suicídio
(MACHADO; SANTOS, 2015).

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Figura 7 – Suicídio no Brasil. Fonte: Fiocruz/MS (2016).

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TEORIA DO DESVIO DE DURKHEIM

Durkheim, nos seus estudos, argumentou que não existe nada inerentemente des-
viante ou criminoso em qualquer ato. Para entender como a sociedade responde
ao ato praticado: “Não podemos dizer que uma ação abala a consciência comum
porque é criminosa, e sim que é criminosa porque abala a consciência comum”.
Ou seja, nada é criminoso ou digno de condenação, a menos que decidamos que
é.
Assim, toda sociedade identifica os criminosos, em nome da ordem social. Sem-
pre haverá alguns que cruzam os limites e sofrerão sanções dentro do grupo, para
o bem da sociedade. Entretanto, Durkheim introduziu um novo conceito: anomia,
um estado de ausência de normas, que pode ocorrer em momentos de revolução
ou desordens sociais.
Sobre Anomia leia o texto e assista ao vídeo do professor das Neves Bodart, dou-
tor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), no link: <https://www.
cafecomsociologia.com/>.

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O estudo de Durkheim sobre as taxas de suicídio
Ao analisar as estatísticas oficiais de suicídio na França, Durkheim observou que
certas categorias de pessoas eram mais prováveis de cometer suicídio do que
outras. Ele descobriu, por exemplo, que havia mais suicídios entre os homens do
que entre as mulheres, mais protestantes do que católicos, mais ricos do que po-
bres e mais pessoas solteiras do que casadas. Durkheim também observou que
as taxas de suicídio tendiam a ser mais baixas em tempos de guerra e mais altas
em épocas de mudança ou instabilidade econômica. Por que isso ocorre?

A visão de Durkheim
Essas observações levaram Durkheim a concluir que existem forças sociais exter-
nas ao indivíduo que afetam as taxas de suicídio. Ele relacionou a sua explicação
à ideia de solidariedade social e a dois tipos de vínculos dentro da sociedade
– integração social e regulação social. Durkheim argumentava que as pessoas
que eram bastante integradas em grupos sociais e cujos desejos e aspirações
eram regulados por normas sociais, eram menos prováveis de cometer suicídio.
Ele identificou quatro tipos de suicídio, segundo a presença ou ausência relativas
de integração e regulação.
Os suicídios egoístas são marcados por pouca integração na sociedade e ocor-
rem quando o indivíduo está isolado ou quando seus laços com o grupo estão
enfraquecidos ou rompidos. Por exemplo, as baixas taxas de suicídio entre os
católicos podem ser explicadas pela força da sua comunidade social, ao passo
que a liberdade pessoal e moral dos protestantes significa que eles “estão sós”
perante Deus.

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O casamento protege contra o suicídio, integrando o indivíduo em uma relação so-


cial estável, enquanto as pessoas solteiras permanecem mais isoladas na socie-
dade. A baixa taxa de suicídio durante os períodos de guerra, segundo Durkheim,
pode ser considerada um sinal de maior integração social ante um inimigo exter-
no.
O suicídio anômico é causado pela falta de regulação social. Com isso, Durkheim
estava se referindo às condições sociais da anomia, quando as pessoas ficam
“sem normas” como resultado de mudanças rápidas ou instabilidade na socie-
dade. A perda de um ponto fixo de referência para normas e desejos – como em
épocas de turbulência econômica ou em disputas pessoais, como o divórcio –
pode desestabilizar todo o equilíbrio entre as circunstâncias das pessoas e seus
desejos.
O suicídio altruísta ocorre quando um indivíduo está “integrado demais” – os la-
ços sociais são fortes demais – e valoriza a sociedade mais do que a si mesmo.
Nesse caso, o suicídio se torna um sacrifício pelo “bem-maior”. Os pilotos kami-
kazes japoneses ou “homens-bomba” islâmicos são exemplos de suicídios altru-
ístas. Durkheim considerava isso característico de sociedades tradicionais, onde
prevalece a solidariedade mecânica.
O último tipo de suicídio é o suicídio fatalista. Embora Durkheim considerasse
esse tipo de pouca relevância contemporânea, ele acreditava que resulta quando
o indivíduo é regulado excessivamente pela sociedade. A opressão do indivíduo

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resulta em um sentimento de impotência ante o destino ou a sociedade. As taxas
de suicídio variam entre as sociedades, mas apresentam padrões regulares den-
tro das sociedades ao longo do tempo. Durkheim entendia isso como evidência
de que existem forças sociais consistentes que influenciam as taxas de suicídio.
Uma análise das taxas de suicídio revela como é possível detectar padrões so-
ciais gerais em atos individuais (GIDDENS, 2012, p. 27-28).

3 - NÃO SOMOS IGUAIS: DIVERSIDADE CULTURAL


“Sempre que você estiver no lado da maioria, é hora de parar e refletir” (Mark
Twain).

Você já parou para observar as pessoas que estão ao nosso redor? Na sala de aula ou
andando nas ruas, qual a primeira ideia que vem à cabeça? “Como elas são diferentes”. Cada
pessoa tem uma aparência única, um modo de falar, os seus gestos próprios, uma maneira de
vestir e andar, é um “tipo diferente de ser”.
Para entender a sociedade e as pessoas com quem convivemos, temos que estudar
Sociologia, uma ciência que pode fornecer preciosas informações, ajudar a desenvolver um novo
entendimento sobre a sociedade e as pessoas. Esta ciência tem por objetivo estudar a interação
social dos seres vivos e diferentes níveis de organização da vida.

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Para todos aqueles que acham que viver a vida de maneira mais consciente vale a
pena, a sociologia é um guia bem-vindo. Embora repouse em constante e intima
conversação com o senso comum, ela procura ultrapassar suas limitações abrindo
possibilidades que poderiam facilmente ser ignoradas. Quando aborda e desafia
nosso conhecimento partilhado, a sociologia nos incita e encoraja a reacessar
nossas experiências, a descobrir novas possibilidades e a nos tornar, afinal, mais
abertos e menos acomodados à ideia de que aprender sobre nós mesmos e os
outros leva a um ponto final, em lugar de constituir um processo dinâmico e
estimulante cujo objetivo é a maior compreensão. Pensar sociologicamente pode
nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade, daí decorrendo
sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências
imediatas, a fim de que possamos explorar condições humanas até então
relativamente invisíveis (BAUMANN; MAY, 2010, p. 25).

O primeiro passo é o mais desafiador: olhar as pessoas sem estabelecer rótulos,


preconceitos ou criar estereótipos. Para isso, a sociologia desenvolveu formas de investigação,
um guia para a imaginação sociológica que pode promover uma maior compreensão dos outros.
“Praticar a sociologia” é fazer um exercício de observação, uma reflexão sobre a vida, que pode
transformar as pessoas e torná-las mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade cultural.

3.1. Metodologia: Imaginação Sociológica


Como utilizar a imaginação sociológica? A imaginação sociológica é uma maneira de

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analisar a sociedade, foi desenvolvido pelo sociólogo norte americano Charles Wright Mills
(1916-1962). O ponto de partida desta “imaginação” é a ideia que o indivíduo só pode entender
sua própria experiência e avaliar o seu destino quando consegue se localizar no seu contexto
histórico e cultural. Isto significa desenvolver uma visão total da sociedade e de todos os elementos
que fazem parte do cotidiano.
Desta maneira, a imaginação sociológica obriga a olhar para as pessoas ou situações do
dia a dia de uma maneira diferente daquela sair do habitual e observar, precisamos constituir um
novo olhar, uma perspectiva mais ampla. Aprender a pensar de maneira sociológica, segundo
Giddens (2012), é se libertar das circunstâncias pessoais, o que exige o afastamento dos nossos
pensamentos e rotinas.

A imaginação sociológica nos permite ver que muitos fatos que parecem dizer
respeito apenas ao indivíduo na verdade refletem questões mais amplas. O
divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil para alguém que
passa por um - o que Mills chama de um “problema pessoal”. Porém, o divórcio
também é uma “questão pública” importante em muitas sociedades ao redor do
mundo. Na Grã-Bretanha, mais de um terço de todos os casamentos acaba em
divórcio dentro de 10 anos. O desemprego, para usar mais um exemplo, pode
ser uma tragédia pessoal para alguém que perde o emprego e não consegue
encontrar outro. Ainda assim, ele vai muito além da questão do desemprego
privado quando milhões de pessoas em uma sociedade se encontram na
mesma situação: é uma questão pública que expressa grandes tendências sociais
(GIDDENS, 2012, p. 21).

Conforme os dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE, 2014), o divórcio cresceu mais de 160% em 10 anos no Brasil. Isto gera uma temática de
investigação em que os sociólogos buscam entender e dar respostas sobre esse fenômeno social,
que atinge as famílias e a organização social brasileira.

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Figura 8 – Divórcio no Brasil. Fonte: IBGE (2010).

Os casamentos diminuem e os divórcios aumentam, o que acaba contribuindo para a


redução nacional de nascimentos. Os dados do censo do IBGE informam que os registros de
nascimento caíram pela primeira vez desde 2010.

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Figura 9 – Nascimentos no Brasil. Fonte: AGÊNCIAIBGE (2017).

Mills (1975) alerta que as nossas escolhas são moldadas pela nossa vivência cotidiana
com os familiares e amigos. Somos influenciados pelas nossas rotinas e, muitas vezes, temos
a sensação de estarmos aprisionados a elas. Por isso utilizarmos as ferramentas das Ciências
Sociais, a sociologia para entendermos as transformações sociais e responder às perguntas sobre
a sociedade em que vivemos. A partir dos questionamentos e investigações propostas pelas
Ciências Sociais desenvolveremos uma reflexão crítica e um olhar plural em relação à sociedade
em que vivemos. Não temos todas as respostas, nos faltam muitas informações e, conforme
os resultados apresentados pelos sociólogos, somos influenciados por nossa cultura e valores
pessoais, como afirma Mills:

É por isso, em suma, que por meio da imaginação sociológica os homens


esperam, hoje, perceber o que está acontecendo no mundo, e compreender o que
está acontecendo com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia
e da história, dentro da sociedade. Em grande parte, a visão autoconsciente
que o homem contemporâneo tem de si, considerando-se pelo menos um
forasteiro, quando não um estrangeiro permanente, baseia-se na compreensão
da relatividade social e da capacidade transformadora da história. A imaginação
sociológica é a forma mais frutífera dessa consciência. Usando-a, homens cujas
mentalidades descreviam apenas uma série de órbitas limitadas passam a sentir-
se como se subitamente acordassem numa casa que apenas aparentemente
conheciam. Certo ou não, com frequência passam a sentir que não podem
proporcionar-se súmulas adequadas, análises coesas, orientações gerais. As
decisões anteriores, que pareciam sólidas, passam a ser, então, como produtos de
uma mente inexplicavelmente fechada. Sua capacidade de surpresa volta a existir.
Adquirem uma nova forma de pensar, experimentam uma transavaliação de
valores: numa palavra, pela sua reflexão e pela sua sensibilidade, compreendem
o sentido cultural das Ciências Sociais (MILLS, 1975, p. 14).

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A compreensão da realidade social e dos conflitos que enfrentamos é a condição necessária


para se situar e entender também a humanidade. Para isso, precisamos estudar a história do
desenvolvimento do pensamento sociológico, desde o seu início e, assim, conferir sentido aos
fatos sociais que observamos. Na prática, é aplicar a imaginação sociológica, perguntando: quais
foram às primeiras perguntas e temas investigados pelos sociólogos? O que eles descobriram e
qual foi o impacto social das suas investigações na transformação ou melhorias alcançadas pela
sociedade?

A VIDA É MUITO MAIS QUE A CIÊNCIA

O professor entrou em sala, primeira aula de química, e escreveu no quadro “H2O”.


E perguntou “O que é isso?”. A meninada respondeu, ansiosa por mostrar o que
sabia: “É água”. Aí o professor escreveu a mesma fórmula numa folha de papel,
colocou dentro de um copo e lhes ofereceu, dizendo: “Então bebam...”.
Não, ciência não é vida. Da mesma forma que H2O não é água. Na ciência a gente
só lida com coisas faladas e escritas, hipóteses, teorias, modelos, que a nossa ra-
zão inventou. A vida, ela mesma, fica um pouco mais além das coisas que falamos
sobre elas.
A vida é muito mais que a ciência. Ciência é uma coisa entre outras, que empre-

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gamos na aventura de viver, que é a única coisa que importa. É por isso que, além
da ciência, é preciso a sapiência, ciência saborosa, sabedoria, que tem a ver com
a arte de viver. Porque toda ciência seria inútil se, por detrás de tudo aquilo que
faz os homens conhecerem, eles não se tornassem mais sábios, mais tolerantes,
mais mansos, mais felizes, mais bonitos... Ciência: brincadeira que pode dar pra-
zer, que pode dar saber, que pode dar poder.

Fonte: MARCELINO, N. C. (org.). Introdução às Ciências Sociais. São Paulo, Cam-


pinas: Papirus, 2013, p. 15.

SOCIOLOGIA CLÍNICA
A sociologia aplicada visa produzir mudanças práticas na organização social e
no comportamento humano, ela busca encontrar soluções para os problemas so-
ciais, como a violência urbana e a criminalidade. O que levou os sociólogos a cria-
rem a especialidade da Sociologia Clínica. Que procura escutar as pessoas con-
siderando as dimensões afetiva e existencial, se propõe a intervir em situações
para promover melhorias na qualidade de vida e transformar a maneira como os
sujeitos se relacionam com as condições objetivas e com o peso de suas histórias
pessoais.
Para saber mais acesse o artigo: A sociologia clínica no Brasil
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.20336/rbs.239>.

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O filme retrata como era a vida na sociedade ame-


ricana, após a crise econômica de 1929. Chaplin
faz uma crítica aos modos de produção da socie-
dade industrial, em que as máquinas começam
a substituir a força humana. Momento que não
existia identificação do trabalhador com o seu
trabalho ou com a mercadoria que ele produzia,
fazendo que os homens tivessem que se ajustar
ao novo ritmo, trabalhando mais horas a uma ve-
locidade cada vez maior.
O personagem de Carlitos vive a condição do ope-
rário que tenta se adaptar, ele se depara com a
esteira de produção que aumenta o ritmo de pro-
dução constantemente. Tornando conflituosa a
relação de produção entre homem-máquina, ele
acaba sendo engolido pela máquina e, quando
volta, é na condição de insanidade, sabotando a Figura 10 - Cartaz do Filme: Tem-

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produção e insurgindo contra o patrão, até ser in- pos Modernos. Fonte: Adorocine-
ternado e considerado um louco. ma (2018).

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Ciências Socias precisam continuar a serem éticas e desenvolverem pesquisas voltadas
às necessidades da humanidade, privilegiando o diálogo e a comunicação. Nossa responsabilidade
moral é não fechar os olhos para as situações conflituosas, mas, sim, buscar soluções para todos os
conflitos. Por isso, o estudo das Ciências Sociais é fundamental para o entendimento e a solução
de todas as contendas.
Ela é uma contribuição à civilização, oferecendo orientação nas nossas escolhas, na
nossa jornada. Para isso, precisamos estar prontos para o diálogo permanente, saber aplicar a
imaginação sociológica com as experiências e contatos que estabelecemos no nosso cotidiano,
sempre olhar os “outros” de forma respeitosa e amigável. A sua função principal é continuar
estabelecendo o diálogo, manter o intercâmbio contínuo entre as experiências humanas, o senso
comum e as pesquisas desenvolvidas. Temas que serão melhor abordados na próxima unidade.
Bons estudos!

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02
DISCIPLINA:
CIÊNCIAS SOCIAIS

SOCIEDADE E CULTURA
PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................23
1 - SOCIEDADE E CULTURA.....................................................................................................................................24
2 - O ETNOCENTRISMO...........................................................................................................................................26
2.1. PRECONCEITO E RACISMO NO BRASIL.........................................................................................................27
3 - OS DIREITOS HUMANOS...................................................................................................................................30
4 - CONSIDERAÇÕES ..............................................................................................................................................35

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INTRODUÇÃO
“A função da sociologia, como de todas as ciências, é revelar o que está oculto”
(Pierre Bourdieu).

Hoje, existem vários significados e conceitos sobre cultura, a nossa reflexão principal,
nesta unidade, é entender a diversidade cultural, algo que não passa só pela aparência. Ao
olharmos para a cultura do “outro”, o que identifico como diferente pode chamar a minha atenção
e causar “estranhamento”, não possibilitando a compreensão da cultura do “outro” que aparenta
ser tão diferente da minha!
Quando questionamos os elementos culturais de uma determinada sociedade,
descobrimos que não existe um padrão único que define o que é certo ou errado, melhor ou pior
para cada grupo, como Rocha (1993) esclarece: a verdade está mais no olhar de quem observa,
do que a cultura que está sendo observada.
Isso porque cada grupo tem elementos intrínsecos à sua formação, escolhendo e
organizando variados formatos para a vida social. Assim, a cultura pode ser apresentada como
“[...] uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes
diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas” (LARAIA, 2015, p. 67).
Dependendo da cultura na qual estamos inseridos, aprendendo e nos adaptando, essa

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será a maneira de nos comportarmos, o modo de vida, a forma de comunicação, os alimentos
que utilizamos no dia a dia e até a forma que expressamos os nossos sentimentos e valores, tudo
será normal e natural.
Pouco a pouco, passamos por um processo de socialização, ajustando cada vez mais o
nosso comportamento aos padrões culturais da sociedade em que estamos inseridos. Desde a
nossa origem e por toda a vida, incorporamos os elementos culturais do nosso grupo e assumindo
como válidos para nossa sobrevivência.

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1 - SOCIEDADE E CULTURA
“Não pode haver paz enquanto houver pobreza opressiva, injustiça social,
desigualdade, opressão, degradação ambiental e enquanto os fracos e os
pequenos continuam a ser pisoteados pelos fortes e poderosos” (Dalai Lama).

Quando nascemos, não somos nós que escolhemos os valores culturais que incorporamos.
A partir do momento que crescemos, aprendemos o idioma, a alimentação e, sozinhos, tomamos
conta da nossa higiene. Estamos agindo conforme as regras e valores estabelecidos como válidos
para nosso grupo. A criança recebe a educação dos pais, ela é moldada conforme as características
culturais do grupo que vive, na família, na escola, e acontece o processo de endoculturação, que
pode ser muito lento, mas se estende por toda a vida (MELLO, 2000).
Pensar o nosso dia a dia, a nossa atitude mais simples, é descobrir que desde o momento
em que acordamos, os nossos gestos e comportamentos são os reflexos, a verdade do nosso
grupo: nós tomamos banho e escovamos os dentes, nos vestimos e tomamos o café e saímos para
trabalhar ou estudar... Todos esses elementos culturais fazem parte da nossa vida, mas podem ser
considerados muito estranhos para o grupo dos “outros”.
Ocorre um processo de aprendizagem, desde o nascimento sofremos os impactos da
endoculturação, veja o exemplo:

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Tomemos um bebê francês, nascido na França, de pais franceses, descendentes
estes, através de numerosas gerações, de ancestrais que falavam francês.
Confiemos esse bebê, imediatamente depois de nascer, a uma pajem muda, com
instruções para que não permita que ninguém fale com a criança ou mesmo veja
durante a viagem que a levará pelo caminho mais direto ao interior da China, Lá
chegando, entrega ela o bebê a um casal de chineses, que o adotam legalmente,
e o criam como seu próprio filho. Suponhamos agora que se passem três, dez ou
trinta anos. Será necessário debater sobre que língua falará o jovem ou adulto
francês? Nem uma só palavra de francês, mas o puro chinês, sem um vestígio de
sotaque, e com fluência chinesa e nada mais (KROEBER, 1949, apud LARAIA,
2015, p. 43).

Ao refletir sobre a diversidade cultural, Laraia (2015) chama a nossa atenção para o
determinismo biológico (ou genético) e o determinismo geográfico (ou ambiental). Ainda hoje é
comum encontrar, na sociedade, pessoas que atribuem capacidades inatas aos grupos humanos,
sendo que, o que descobrimos é que qualquer criança normal pode ser educada em qualquer
sociedade, se for colocada desde o início, como o exemplo que foi apresentado, no caso da criança
francesa.
Sobre o determinismo biológico (ou genético) ele afirma que “[...] um menino e uma
menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma
educação diferenciada” (LARAIA, 2015, p. 20). Isso é perceptível logo no início da vida, no caso
dos brinquedos já separados entre aqueles que são de meninas, como bonecas e casinhas, e
aqueles que são para os meninos, como a bola e o carrinho.
No período das grandes navegações e conquista das Américas, foi o determinismo
geográfico (ou ambiental) que fundamentou as observações sobre a diversidade cultural, eles
explicavam que as diferenças do ambiente físico condicionavam a semelhança ou diversidade
cultural. Teoria esta que foi abandonada a partir do trabalho de campo dos estudiosos, pois
descobriram que era possível existir diferenças culturais entre grupos, os quais compartilhavam
o mesmo ambiente físico.

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O exemplo de diferença cultural existe entre os grupos humanos dos esquimós e dos
lapões, os dois vivem na calota polar e enfrentam o inverno rigoroso. Entretanto, cada grupo vive
de forma distinta, enquanto os esquimós constroem suas casas com iglus, cortando blocos de neve
em formato de colmeia, os lapões vivem em tendas de peles de rena e quando desejam mudar,
levam todos seus pertences junto com suas casas. E os esquimós quando mudam abandonam
suas casas, os iglus, levando apenas os seus pertences pessoais (LARAIA, 2015).

uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento,


instituições, jogos profundamente diversos: pois se há algo natural nessa
espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural
(LAPLANTINE, 2005, p. 22).

Outra característica importante dos seres humanos é a capacidade de adaptação nas mais
diversas regiões, o que podemos chamar de aptidão a variação cultural, ou seja, qualquer pessoa
pode mudar de uma região para outra e conseguir se adaptar a outra cultura, diferente da sua,
passando por um processo de socialização.
Nós precisamos da cultura para sobreviver. É a cultura compartilhada que faz a mediação
entre os indivíduos e a natureza e nos permite trabalhar juntos,

[...] consiste em tudo o que nós, seres humanos, criamos ao estabelecer nossas
relações com a natureza e os outros. Ela inclui linguagem, conhecimento,
criações materiais e regras de comportamento. Em outras palavras, ela engloba
tudo o que dizemos, sabemos, produzimos e fazemos em nossos esforços para

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sobreviver e prosperar (WITT, 2016, p. 48).

É importante destacar que a sociedade normalmente estabelece um padrão de


comportamento e interação social, o que significa que ela restringe o tipo de cultura que
construímos. Na prática, verificamos que algumas maneiras de agir são mais aceitáveis do que
outras, a sociedade estabelece uma regra como válida, a ponto de ser aceita por uma maioria e
poder ser imposta como uma lei, uma regra válida para todos os membros do grupo social.
Outra forma de perceber a diversidade cultural é quando viajamos e nos defrontamos
com a cultura de outro país. Pode ser considerada exótica e muito diferente da nossa. O que nos
leva a perceber que as escolhas culturais variam muito, entre cada sociedade.

Métodos de ensino, cerimônias de casamento, doutrinas religiosas e outros


aspectos da cultura são aprendidos e transmitidos pela interação humana
dentro de sociedades específicas. Na Índia, os pais estão acostumados a arranjar
o casamento para seus filhos; no Brasil, eles normalmente deixam as decisões
conjugais para os filhos. Quem morou a vida inteira no Cairo considera natural
falar árabe; quem morou em Bueno Aires se sente da mesma forma com relação
ao espanhol (WITT, 2016, p. 49).

Devemos valorizar a diversidade, respeitar e interagir com as outras culturas abertamente,


para que todas as pessoas na sociedade tenham os seus direitos respeitados. O que só será possível
se garantirmos o debate e o diálogo aberto, entre todos os diferentes grupos culturais, evitando,
assim, a atitude etnocêntrica, o agir de forma intolerante e preconceituosa.

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Resumidamente, isso significa que cada homem possui uma concepção e desen-
volve respostas diferentes sobre a sociedade e o mundo onde habita. Uma visão
diferente, sobre todas as coisas e o seu próprio futuro. Não é mais aceita uma
explicação única ou “verdade acabada” sobre os acontecimentos e fatos sociais.
Agora, o que existe são várias formas de representação ou tentativas de explicar
a nossa realidade. O que obriga a ciência a desenvolver um olhar mais específico
sobre cada cultura, cada grupo e cada indivíduo, e obriga todos nós a questionar-
mos cada vez mais aquela “explicação universal e europeia” que aprendemos na
escola sobre à história da humanidade.

2 - O ETNOCENTRISMO
“Você nunca entende realmente uma pessoa até considerar as coisas do ponto de
vista dela... até entrar na pele dela e andar por aí nessa pele” (Harper Lee).

Para Everardo Rocha (1993), o etnocentrismo é uma visão de mundo em que o nosso

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próprio grupo, o grupo do “EU”, é tomado como centro de tudo, e todos os outros, que são
diferentes do nosso grupo, acabam sendo pensados e sentidos através dos nossos valores, modelos
e definições do que valorizamos para a nossa existência.
A atitude etnocêntrica é uma constatação da nossa dificuldade, tanto emocional como
intelectual, de pensarmos as nossas diferenças, causando uma reação de estranheza, medo e
hostilidade entre os grupos que possuem culturas e valores muitos diferentes.

Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência


de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso”
grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas
do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo,
distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e
procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então de repente, nos
deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz
coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos
como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira,
gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Este
choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças.
Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque
fere nossa própria identidade cultural (ROCHA, 1993, p. 8-9).

Ocorre um julgamento pré-concebido do valor da cultura do “outro” nos termos da cultura


do grupo do “eu”, o que significa que o “outro” é humilhado e ridicularizado por ser diferente.
Apesar das grandes diferenças culturais entre os grupos humanos, hoje em dia, a maioria dos
cientistas defendem a existência de uma única espécie humana, em que estão agrupados todos
os seres humanos.

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Figura 1 – O olhar etnocêntrico do “outro”. Fonte: Learning Journal (2012).

Apesar dos conflitos que separam as pessoas, nós devemos optar sempre por buscar

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elementos que possam contribuir para a tolerância, respeitar os outros e evitar julgar e rotular as
pessoas. Para contrapor a atitude etnocêntrica podemos utilizar a ideia da relativização, significa
compreender a cultura do outro a partir dos seus próprios valores e não os nossos. “Relativizar
é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas
vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença” (ROCHA, 1993, p. 20).
Estas mudanças começam através do nosso modo de olhar o mundo e as outras pessoas,
enxergar os outros de forma respeitosa, eliminando todas as rixas e preconceitos. Não podemos
acreditar que a nossa cultura é o centro do universo, o único pensamento válido. Essa crença
impede o contato e afasta os outros, para entendermos a nossa cultura precisamos nos espiar,
fazer o exercício de enxergar os nossos gestos mais comuns.

Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós
mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa
inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente
reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única
(LAPLANTINE, 1988, p. 21).

O que significa que não existe uma cultura melhor ou pior que a outra, uma superior e
outra inferior, mas simplesmente que elas são diferentes umas das outras. Essa “revolução do
olhar” (LAPLANTINE, 1988, p. 22) nos faz entender que as diferenças não são apenas diferenças,
mas uma escolha de viver de certa maneira.

2.1. Preconceito e Racismo no Brasil


Como diz o provérbio popular: “há um pouco de navio negreiro em cada camburão”. É
só lembrar a história do Brasil e resgatar as informações sobre as formas de violência e punições
aplicadas no tratamento aos indígenas e negros, a partir do século XV na época da colonização
portuguesa, isso deveria nos fazer refletir sobre o preconceito e o racismo no Brasil.

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Entretanto, ainda hoje, muitos acreditam que “não existe racismo no Brasil”. A temática
racial, no Brasil, apresenta uma grande complexidade, ocorre de forma velada, onde os indígenas
e os negros aparecem de forma delimitada na história, apenas no período colonial da conquista
portuguesa e escravidão do Brasil.

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Figura 2 - Atlas da violência 2018. Fonte: SOS Corpo (2018).

Não é possível imaginar que ainda existem pessoas que acreditam que o lugar de negro
é só no samba e no futebol. Isso é uma atitude etnocêntrica, quando desqualificamos o grupo
dos “outros” por causa da sua aparência ou das diferenças culturais. O racismo “à brasileira” está
repleto de ambiguidades, podemos verificar que ele se afirma na negação. “Em outras palavras:
uma estratégia de dominação racial que foi hegemônica no Brasil era a afirmação de que não
existiria racismo no país” (SILVA; ARAÚJO, 2011, p. 489).
As representações sobre a formação cultural brasileira se cristalizaram no imaginário
popular, reproduzindo imagens falsas sobre os grupos humanos, atribuindo valores a alguns e
desqualificando outros.

São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a


“raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos
são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para
a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos
são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores
e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que
os ciganos são nômades por instinto; e, finalmente, que os brasileiros herdaram
a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses
(LARAIA, 2015, p. 17).

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Esse pensamento já foi superado pela ciência há muito tempo. Os pesquisadores afirmam
que o comportamento dos indivíduos depende do aprendizado, de um processo que podemos
chamar de endoculturação. Não é pela cor da pele ou pela cor do cabelo que podemos explicar
as diferenças de comportamento ou a capacidade intelectual das pessoas. Como exemplo, na
televisão é comum as piadas e quadros humorísticos que apresentam o estereótipo da mulher
como “loira burra”.

As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em


termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo
seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com
suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física,
dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores.
Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os
mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui
cultura (LARAIA, 2015, p. 24).

Quando usamos o termo “raça” para definir grupos de indivíduos que são diferentes entre
si, estamos partindo da tradição científica influenciada pela biologia e não pelas ciências sociais.
Foi no século XIX que os cientistas começaram investigar a ideia de que haveria deferentes “raças
humanas” por causa das aparências diferentes: da corda pele, do tipo de cabelo, cor dos olhos e
da estatura. Entretanto, essa teoria evolucionista foi sendo questionada e desconstruída com o
passar do tempo,

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Tais traços só têm significado no interior de uma ideologia preexistente (para
ser preciso: de uma ideologia que cria os fatos, ao relacioná-los uns aos outros),
e apenas por causa disso funcionam como critérios e marcas classificatórios. Em
suma, alguém só pode ter cor e ser classificada num grupo de cor se existir uma
ideologia em que a cor das pessoas tenha algum significado. Isto é, as pessoas
têm cor apenas no interior das ideologias raciais (GUIMARÃES, 2009, p. 47.
Grifo nosso).

No Brasil, essa construção ideológica ficou conhecida como o “mito da democracia


racial”, transmitida nas salas de aula e que faz parte da educação brasileira, prática que procura
amenizar e ocultar a violência do preconceito e das desigualdades sociais. Passando à ideia que
os três grupos étnico-raciais (indígenas, negros e brancos) se miscigenaram e convivem de forma
pacífica e harmoniosa, desde a época da colonização até hoje.
O princípio que embasa os Direitos Humanos é aquele em que todos os indivíduos nascem
livres e iguais em dignidade e em direitos. O contrário é a discriminação e perseguição pautadas
na raça ou na etnia, que são violações desse princípio. Cada indivíduo é único e exclusivo, não
possui valor de substituição ou preço, o que significa que a noção de igualdade construída pela
sociedade brasileira é abstrata e deve ser superada.

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SER NEGRO NO BRASIL: ALCANCES E LIMITES


O artigo apresenta breves considerações sobre os conceitos de raça e de etnia
no Brasil. Esclarece que ser negro é quem se autodeclara preto ou pardo e, para
fins políticos, negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se
identifique.
OLIVEIRA, F. Ser negro no Brasil: alcances e limites, estudos avançados. vol.18. n.
50, São Paulo, jan./abr., 2004.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-


d=S0103-40142004000100006>.

3 - OS DIREITOS HUMANOS
“Não quero que a minha casa seja cercada de muros por todos os lados, nem que
as minhas janelas sejam tapadas. Quero que as culturas de todas as terras sejam
sopradas para dentro da minha casa, o mais livremente possível. Mas recuso-me

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a ser desapossado da minha por qualquer outra” (Mahatma Gandhi).

Como verificamos anteriormente, as relações entre os grupos sociais podem ser de


aceitação e tolerância ou de conflito e rejeição. Vivemos em um mundo marcado por uma
globalização excludente, resultado não de uma fatalidade econômica, mas de uma política
consciente e proposital que busca liberar os determinismos econômicos de todo controle e
submeter governos e cidadãos às forças assim liberadas. Esse processo constitui

[...] a máscara justificadora de uma política que visa universalizar os interesses


e a tradição particulares das potências econômicas e politicamente dominantes,
sobretudo os Estados Unidos, e estender ao conjunto do mundo o modelo
econômico e cultural mais favorável a essas potências, apresentando-o ao mesmo
tempo como norma, um tem-que ser e um fatalismo, destino universal, de modo
a obter adesão ou, pelo menos resignação universais (BOURDIEU, 2001, p. 90).

Para Bobbio (2004) pode haver direito sem democracia, mas não há democracia sem
direito. Os homens não nascem livres nem iguais, a liberdade e a igualdade não são um dado de
fato, mas um ideal a conquistar. Por isso, ele alerta que o problema dos direitos humanos

[...] não é filosófico, mas jurídico e, num sentido mais amplo, político. Não se
trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu
fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas
sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das
solenes declarações, eles sejam continuamente violados (BOBBIO, 2004, p. 25).

Os direitos humanos pertencem a todos os seres humanos, não importa se mulher ou


homem. Na lei brasileira existe o princípio da igualdade, garantindo os direitos das mulheres,
não permitindo que ocorra qualquer tipo de diferenciação entre as mulheres e os homens.
Entretanto não é o que acontece no dia a dia, existe uma discriminação oculta contra as mulheres.

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Na história da humanidade, em várias partes do mundo, as mulheres chegaram a ser vista


como coisa e instrumento de deleite masculino. No Brasil, em passado não muito distante,

[...] a mulher não possuía sequer capacidade jurídica plena, tampouco o


reconhecimento da igualdade para com os homens. Isso porque, até pouco
tempo atrás, a ordem jurídica brasileira não reconhecia a mulher como sujeito
de direito plenamente capaz, fato que somente ocorreu com a Lei n. 4.121, de 27
de agosto de 1962. O “Estatuto da Mulher Casada” estabeleceu na época algumas
conquistas para a mulher, tais como: a determinação de que ela não precisava
mais de autorização do marido para trabalhar fora de casa; que poderia receber
herança; comprar ou vender imóveis; assinar documentos e mesmo viajar
(GUERRA, 2013, p. 228).

Pensar os Direitos Humanos e dizer que tudo gira, assim, em torno do homem e sua
eminente posição no mundo. O que foi fundamentado pela justificativa científica da dignidade
humana, ela sobreveio com a descoberta do processo de evolução dos seres vivos, na obra de
Charles Darwin,

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Figura 4 - Direitos Humanos. Fonte: Ziraldo (2008).

O primeiro regime de seguro social surgiu no final do século XIX, na Alemanha do


período Bismark, para proteger os funcionários do Estado, porém, contava com a participação
contributiva de trabalhadores, empregadores e do próprio Estado. Já na primeira metade do
século XX, a reforma social inglesa, baseada no Relatório Beveridge de 1942, “[...] estabeleceu
políticas integradas de proteção sociais públicas e universais, isto é, financiadas pelo Estado
e aplicáveis a todos os cidadãos, independentemente da sua inserção profissional ou laboral”
(CASTRO; RIBEIRO, 2006, p. 21).

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Em A Era Dos Direitos, Bobbio (2004, p. 25) assinala a importância de se tratar os direitos
humanos como construções históricas, que nascem em determinadas circunstâncias e, por isso,
não surgem “todos de uma vez e nem de uma vez por todas”. Coadunando-se às ideias de Silva
(2009, p. 6), também é necessário que haja um equilíbrio entre o estudo dos direitos humanos nos
âmbitos nacional e internacional, ao invés de dar primazia à ótica do direito internacional, “[...]
porque o sistema internacional de proteção carece de sistemas nacionais eficazes e adequados, até
como uma das estratégias de prevenção de violação destes direitos”. Logo, os direitos humanos
necessitam reformular suas teorias e conceitos, constantemente, para acompanhar as mudanças
que a sociedade impõe. Bobbio (2004, p. 88-89) afirma que

[...] a doutrina dos direitos do homem nasceu da filosofia jusnaturalista, a qual


– para justificar a existência de direitos pertencentes ao homem enquanto tal,
independente do Estado – partira da hipótese de um estado de natureza, onde os
direitos do homem são poucos e essenciais: o direito à vida e à sobrevivência, que
inclui também o direito à propriedade; e o direito à liberdade, que compreende
algumas liberdades essencialmente negativas. [...] A hipótese do estado de
natureza era uma tentativa de justificar racionalmente, ou de racionalizar,
determinadas exigências que se iam ampliando cada vez mais; num primeiro
momento, durante as guerras de religião, surgiu a exigência da liberdade de
consciência contra toda forma de imposição de uma crença; e, num segundo
momento, na época que vai da Revolução Inglesa à Norte Americana e à
Francesa, houve a demanda de liberdades civis contra toda forma de despotismo.
O estado de natureza era uma ficção doutrinária, que devia servir para justificar,

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como direitos inerentes à própria natureza do homem, exigências de liberdade
provenientes dos que lutavam contra o dogmatismo das Igrejas e contra o
autoritarismo dos Estados.

Os direitos sociais, na categoria de direitos humanos, é ideia que se desenvolveu em torno


da noção de responsabilidade do Estado, somado ao princípio de solidariedade, que resulta nas
políticas públicas, entre elas as políticas sociais. Desta forma, os Direitos Humanos são criações
humanas e históricas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos trouxe para o âmbito oficial
a necessidade de se pensar sempre nos menos afortunados, o que influenciou a legislação de
vários países.
O Welfare State, ou Estado de Bem-Estar Social, foi o modelo econômico que mais expandiu
no momento pós Segunda Guerra Mundial (pós-1945) sendo, porém, mais efetivo em países
desenvolvidos. Incentivado pela industrialização, marcado pela forte capacidade redistributiva
e compensatória, capacidade esta que possibilitou o Estado a responder às demandas da classe
trabalhadora. O número de políticas sociais neste período aumentou, porém, eram mais voltadas
para a “proteção” dos trabalhadores, de forma que estes estivessem adequados para corresponder
às exigências do mercado emergente (CARINHATO, 2008).

[...] Estado de bem-estar significaria, então, uma proposta institucional nova de


um Estado que pudesse implementar e financiar programas e planos de ação
destinados a promover os interesses sociais coletivos dos membros de uma
determinada sociedade (GOMES, 2006, p. 204).

Bauman (1998, p. 51) diz que o Estado de Bem-Estar foi criado como instrumento do
Estado para arcar com as responsabilidades que o sistema capitalista não assumia durante sua
corrida pelo lucro e “[...] não era concebido como uma caridade, mas como um direito do cidadão,
e não como o fornecimento de donativos individuais, mas como uma forma de seguro coletivo”.

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Com a crise do capital, iniciada nos anos 1970, este modelo econômico entrou em declínio
com a reação burguesa que fazia pressões para reconfigurar o papel do Estado capitalista, nos
anos 1980 e 1990, tendo impacto direto nas políticas sociais.
O sistema brasileiro de proteção social foi radicalmente redesenhado com a Constituição
de 1988. No campo das políticas sociais, a nova Constituição trouxe, no Art. 194, o conceito
de Seguridade Social, oferecendo uma rede de proteção aos riscos sociais referentes ao ciclo
da vida, à trajetória laboral e à insuficiência de renda. Tendo como base o tripé das políticas de
saúde, previdência e assistência social com amplas bases de financiamento (CASTRO; RIBEIRO,
2006, p. 28).
Porém, não basta constar na Constituição para que um direito seja efetivado de fato, mas
é necessário a sua regulamentação por meio de leis que possibilitem o acesso a tais direitos. Em
um contexto de crise econômica, agravamento do quadro de pobreza e desigualdade, e propostas
no cenário internacional hegemonicamente contrárias ao “[…] formato social-democrata com
mais de 40 anos de atraso […]”, a Constituição Cidadã enfrentou e ainda enfrenta várias barreiras
para sua efetivação. (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 147).

GARANTIR OS DIREITOS DE CADA CRIANÇA E ADOLESCENTE

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Criado em 1946, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tem como
missão assegurar que cada criança e cada adolescente tenham seus direitos cum-
pridos, respeitados e protegidos. Hoje, o UNICEF está presente em 155 países.
No Brasil, o objetivo do trabalho do UNICEF no tema da equidade étnico-racial é
assegurar que cada criança e cada adolescente negro e indígena tenham todos
os seus direitos protegidos e garantidos nas políticas públicas. Esse objetivo tem
como referência nacional e internacional os marcos jurídico-legais do Estatuto da
Criança e do Adolescente, da Convenção sobre os Direitos da Criança, da Conven-
ção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e da Decla-
ração e do Programa de Ação de Durban.

A discriminação e o racismo têm levado à exclusão cerca de 30 milhões de crian-


ças e adolescentes negros e indígenas (51% do total de brasileiros com menos
de 18 anos) e remontam a um cenário de profundas desigualdades raciais e de
gênero historicamente determinadas no país. Cerca de 47% das crianças e dos
adolescentes no Brasil são pobres, mas, quando analisado por raça/cor, crianças
e adolescentes indígenas e negros são mais pobres (63% e 59%, respectivamente)
do que os brancos e asiáticos (34% e 25%, respectivamente).

No setor educacional, crianças negras, na idade de frequentar o ensino fundamen-


tal (7 a 14), têm o dobro de chances de estar fora da escola se comparadas às
crianças brancas e quatro vezes mais de não estudar que as crianças indígenas.
Adolescentes indígenas e negros também estão vulneráveis à violência. No caso
dos indígenas, a tragédia vem com o suicídio. Entre os adolescentes negros com o
homicídio: de cada três adolescentes de 15 a 18 anos que são assassinados, dois
são negros e um, branco.

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O UNICEF, desde 2003, trabalha com os diferentes atores na área da infância, dos
movimentos negro e indígena e setor privado, para dar voz a essas crianças e visi-
bilidade aos desafios a ser superados.

Para isso, o UNICEF desenvolveu três estratégias: priorizar as dimensões raciais


e de gênero em todas as áreas programáticas da cooperação; produzir conheci-
mentos sobre a realidade especifica da infância e adolescência indígena e quilom-
bola, gerando produtos concretos, como os programas de educação bilíngue para
crianças indígenas; e contribuir para alterar práticas e comportamentos discrimi-
natórios na escola e na mídia que tenham impacto na autoestima e na identidade
da criança.

ONU: Combatendo o racismo, promovendo o desenvolvimento. GARANTIR OS DI-


REITOS DE CADA CRIANÇA E ADOLESCENTE. p. 20.
Disponível em: <https://brazil.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/onu.pdf>.

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DISTRITO 9

A história é simples. Os alienígenas vivem


em nosso planeta há 20 anos, num regime
de confinamento próximo de uma grande
metrópole e é objeto de profundo preconcei-
to. Diante da situação, os humanos que de-
têm o poder resolvem promover uma ação
de despejo em massa para uma região mais
distante. Contudo, um acidente durante a
operação provoca uma reviravolta, transfor-
mando o algoz em vítima do próprio siste-
ma. A espinha dorsal do filme é costurada
com uma narrativa em tom de documentá-
rio com imagens de uma reportagem (estilo
câmera nas mãos) e diversos depoimen-
Figura 5 – Filme Distrito 9. Fonte: Adoro
tos de personalidades sobre a presença de
Cinema (2019).
alienígenas no planeta Terra. Daí em diante
você entra em contato com uma realidade
há anos imaginada pelo homem, mas nunca
vivenciada, diga-se de passagem, com se-
res de outro planeta. Porque com humanos,
a experiência já existiu, existe e – infeliz-
mente – continuará existindo.

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SANTOS, J. R. O Que É Racismo? 15. ed.


São Paulo: Brasiliense, 1998.

“A raça negra tem comportamento psico-


lógico instável e, por isso, não cria civiliza-
ção”. Alguns tentam provar que as diferen-
ças sociais são determinadas por fatores
biológicos. Outros explicam que o racismo
surgiu da necessidade de justificar a agres-
são. Seria verdade? Faria o racismo parte
da natureza humana? Neste livro, os pri-
meiros passos para a compreensão deste
fenômeno universal, suas modalidades e
suas implicações sociais.

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Figura 6 – Livro O que é racismo. Fonte:
Editora Brasiliense (2019).

4 - CONSIDERAÇÕES
Essa unidade procurou desenvolver a reflexão crítica sobre “sociedade e cultura”. Para isso,
aplicou-se a desnaturalização do olhar, acompanhada pela atitude do estranhamento desenvolvida
pela Antropologia Cultural. Foram apresentados os principais enfoques nas Ciências Sociais
sobre as relações étnico raciais e os fenômenos do preconceito e racismo no Brasil
A partir dessa reflexão podemos perceber o papel de destaque da Sociologia e
Antropologia, como permite desenvolver um novo olhar sobre o racismo e as desigualdades
sociais, considerando que nossas opiniões e ações. Nossos hábitos e costumes são construções
sociais, que nos fazem enxergar que tudo depende do nosso “lugar de fala”, da nossa educação, da
cultura que nós assumimos como válida do nosso grupo.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
CIÊNCIAS SOCIAIS

SOCIEDADE DO TRABALHO E
POLÍTICAS PÚBLICAS
PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................37
1. KARL MARX E A TEORIA DO CONFLITO.............................................................................................................38
2. MAX WEBER E A CIÊNCIA INTERPRETATIVA...................................................................................................43
3. POLÍTICAS PÚBLICAS.........................................................................................................................................47
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................................................49

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INTRODUÇÃO
A mudança do pensamento teocêntrico para o antropocêntrico provocou transformações
na filosofia, na política e na economia do mundo moderno. Os pesquisadores das Ciências
Sociais discutem, cada vez mais, temas sobre a exclusão social, violência, desemprego e todos os
fenômenos presentes na sociedade capitalista.
Entre os pensadores, Karl Marx (1818-1883), pensador revolucionário da Teoria do
Conflito, critica o trabalho humano produtor das mercadorias, resultado de uma relação
coisificada, de luta pela sobrevivência que se esconde sobre a aparência das coisas. Na sua análise,
ele utilizou o método do materialismo histórico e dialético. Leva os trabalhadores a perderem o
controle sobre o processo de produção, que vivem alienados, não produzem para si, mas para o
capital. Assim, as relações sociais são marcadas pelos antagonismos das classes, pela dominação
e interesses divergentes.
Para Max Weber (1864-1920), os conflitos nascem da contraposição dos interesses
econômicos, das relações estabelecidas no mercado e na dinâmica da oferta e demanda das
mercadorias. Entretanto, as explicações dos conflitos sociais e da luta de classe não se esgotam
apenas pela análise econômica, sendo necessário tratar dos temas ligados à política, ao direito, à
religião. Para ele, o estudo dos conflitos e classes sociais é complexo e caótico e foge ao controle. A

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 3


Sociologia é uma ciência interpretativa da sociedade, por isso propõe o método da compreensão.
Os resultados obtidos pelas investigações das Ciências Sociais balizam as ações propostas
pelos governos, as políticas públicas procuram modificar os efeitos nocivos da sociedade
capitalista, preservando os direitos e promovendo o diálogo entre as populações em situação de
vulnerabilidade social e que precisa das ações estatais para amenizar os seus sofrimentos.

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1. KARL MARX E A TEORIA DO CONFLITO


“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a
fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (Karl Marx).

A sociedade capitalista está assentada na propriedade privada dos meios de produção,


como algumas classes sociais se apropriam e geram riquezas, e outras não, e são atingidas pela
desigualdade social. Indivíduos que acabam ficando à margem da sociedade e do consumo dos
bens, serviços e direitos oferecidos pela sociedade capitalista.
Na segunda metade do século XVIII, na Grã-Bretanha temos o início de uma grande
transformação social e econômica que atingiu toda a humanidade, ela ficou conhecida como
Revolução Industrial. Diversas mudanças foram ocorrendo, inclusive na própria sociologia.

À medida que a sociedade se complexifica, o campo de conhecimento da


sociologia se amplia e novos objetivos de estudos vão se delineando. São frutos
da multiplicação de paradigmas e das diversas abordagens metodológicas; eis
algumas sociologias: do consumo, do desenvolvimento, do trabalho, política,
das organizações, urbana, rural, do meio ambiente, do gênero, do direito, da
educação, do lazer, da saúde, da religião, do conhecimento, da comunicação,
da cultura, econômica, da linguagem, das relações étnicas e raciais. Essa

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 3


fragmentação em sociologias não as impede de terem sua autonomia e sua
própria história e ainda se manterem entrelaçados (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM,
2009, p. 38).

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier na Renânia, região da Alemanha. Sua família
era de origem judaica convertida ao protestantismo, o pai era advogado e Marx estudou direito,
filosofia e história em Berlim, tornou-se jornalista e depois foi redator chefe da Gazeta Renana.
Emigrou para Paris, onde frequentou os círculos operários socialistas, era considerado militante
e erudito, sendo um dos fundadores, em 1864, da Associação Internacional dos Trabalhadores.

Figura 1 - Karl Marx (1818-1883). Fonte: Burke (2000).

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Na sua obra o trabalho humano é um dos temas principais, que depois vai dar origem
ao campo da sociologia do trabalho, significa a mediação entre o homem e a natureza, em
que, por meio do trabalho, o homem domestica e domina a natureza para, assim, garantir sua
sobrevivência.

Em sua busca por dominar a natureza, os homens se organizam, encetam


relações particulares. Essa organização do trabalho para a dominação da
natureza baseia-se fundamentalmente na divisão do trabalho. Historicamente,
esta foi antes técnica (caça, pesca, colheita...), depois social, com o lento
surgimento da propriedade privada. Na história, a divisão do trabalho, o
recurso a novas técnicas e a evolução das formas de propriedade se consolida.
A divisão do trabalho participa da desagregação e da constituição dos grupos
sociais, das classes e frações de classes. Em outras palavras, sendo o trabalho
mediação entre os homens e natureza, os homens se organizam e se constituem
em classes em sua tentativa de dominar a natureza. Assim, o trabalho humano,
além de produzir efeitos sobre a natureza (e sobre o desenvolvimento do próprio
homem), também está no cerne das transformações do social (DURAND, 2016,
p. 48).

Na sociedade capitalista o trabalhador, agora, é livre para vender a sua força de trabalho
e estabelecer uma relação mercantil considerada legal e legítima. Uma relação de compra e
venda, ou de troca, em que uns compram a força de trabalho e outros vendem, o que passa a ser
considerado necessário e “natural” na produção capitalista. Marx procurou explicar as mudanças
que aconteceram na Revolução Industrial, ele foi testemunha direta tanto do crescimento das

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 3


fábricas, como do empobrecimento dos trabalhadores assalariados.

Marx argumentava que aqueles que possuem o capital – capitalistas – formam


uma classe dominante, ao passo que a massa da população forma uma classe
de trabalhadores assalariados – uma classe trabalhadora. À medida que
a industrialização avançava, grandes quantidades de camponeses que se
sustentavam trabalhando na terra se mudaram para as cidades em processo de
expansão ajudaram a formar uma classe trabalhadora industrial urbana. Essa
classe trabalhadora também costumava ser chamada de proletariado. Marx
acreditava que o capitalismo era um sistema inerentemente classista, no qual
as relações de classe se caracterizavam pelo conflito. Embora os donos do
capital e trabalhadores dependam uns dos outros – os capitalistas precisam da
mão de obra e os trabalhadores precisam do salário – a dependência é muito
desequilibrada. A relação entre as classes é de exploração, pois os trabalhadores
têm pouco ou nenhum controle sobre o seu trabalho, e os empregadores podem
obter lucro apropriando-se do produto da mão de obra dos trabalhadores. Marx
enxergou que o conflito de classe quanto aos recursos econômicos se tornaria
mais agudo com o passar do tempo (GIDDENS, 2012, p. 26).

A sociedade capitalista foi o campo de lutas e investigações mais frutífero da Sociologia.


Buscou respostas para as perguntas sobre as causas da desigualdade social, das tensões e conflitos
sociais. Para Marx estava claro que as desigualdades sociais sempre existiram ao longo da
história, entretanto, ele não aceitava a justificativa dos iluministas, que defendiam que a pobreza
era resultado das ações humanas e não uma vontade de Deus.
A Sociologia contribuiu para desnaturalizar os fenômenos da sociedade, a desigualdade
social até aquele período histórico era concebida pelos homens como algo tão natural quanto os
fenômenos da natureza – chuva, calor, terremotos. “Ela mostrou a existência de uma natureza
social produzida no convívio entre os homens, ao explicar que as condições sociais, econômicas
e políticas estão na origem das diferenças entre os indivíduos e grupos” (ARAÚJO, BRIDI;
MOTIM, 2009, p. 83).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Para a Sociologia, os indivíduos ocupam lugares distintos na sociedade, conforme os


critérios sociais desenvolvidos em cada época, sendo a desigualdade uma característica estrutural
da sociedade.

Uma estrutura social é justamente a manifestação de relações entre os homens,


uma estrutura é o efeito das relações entre as partes. Mesmo uma moderna
estrutura de uma edificação feita em concreto armado (ferro, cimento, brita, areia)
é mais uma relação de sustentação entre as partes calculadas proporcionalmente
em termos de vigas, lajes, pilares, do que a rigidez que aparenta. A estrutura das
classes é essa relação de dependência das classes entre si, é o fundamento oculto
da estrutura social do capitalismo. E estrutura social de classes emerge com a
propriedade privada, a divisão social do trabalho e o Estado moderno, e só neste
contexto pode ser compreendida (ARAÚJO, BRIDI; MOTIM, 2009, p. 84).

Marx e Engels (2001) escrevem o “Manifesto Comunista”, em 1848. Neste, afirmavam que
os conflitos entre as classes é o que move a história da humanidade e causam as mudanças sociais.
Propôs uma teoria revolucionária. Para ele, os trabalhadores iriam derrubar o sistema capitalista
e iniciariam uma nova forma de governo, em que não haveria mais classes sociais e divisão entre
ricos e pobres.

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 3

Figura 2 - Manifesto do partido comunista. Fonte: Martinclaret (2014).

Na tradição teórica da sociologia a obra de Marx inaugura a Teoria do Conflito. Utilizando


o método dialético ele defende que o capitalismo é o produtor da miséria e da desigualdade social.
E somente os trabalhadores unidos poderiam tomar o poder do Estado e criar uma sociedade
sem classes, voltada à produção para as necessidades humanas e não mais para a busca incessante
do lucro.

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ENSINO A DISTÂNCIA

A teoria do conflito mostra como os principais padrões de desigualdade na


sociedade produzem estabilidade social em certas circunstâncias e mudanças
sociais em outras. A teoria do conflito enfatiza como os membros de grupos
privilegiados tentam manter suas vantagens, enquanto grupos subordinados
lutam para aumentar as suas. Desse ponto de vista, as condições sociais em um
dado período de tempo são a expressão de uma luta de poder contínua entre
grupos privilegiados e grupos subordinados. A teoria do conflito tipicamente
sugere que a eliminação dos privilégios diminuirá o grau de conflito e aumentará
o bem-estar humano total (BRYM, et. al., 2015, p. 16).

A palavra em destaque na linguagem política de Marx é ideologia, como uma falsa


representação, uma crença que encobre e mascara os interesses dos detentores do poder,
conservando as vantagens e privilégios, impedindo as transformações e mantendo as relações entre
os agentes sociais como estáveis e permanentes. Sendo a ideologia a expressão da dominação, em
outras palavras, os homens encontram “[...] na ideologia representações prontas, já constituídas,
de sua relação com o mundo real. Ora, essas representações, enquanto construções imaginárias
são deformadas e aceitas (como verdadeiras)” (DURAND, 2016, p. 115).
A alienação no pensamento marxista aparece relacionada ao mundo do trabalho, na
manipulação através dos meios de comunicação, da publicidade, que despersonaliza o trabalhador
e produz a alienação. O trabalho que aliena é um trabalho de sacrifício, de mortificação de si
mesmo, como um mero meio de sobrevivência e estranho a sua natureza.
O trabalhador depende da venda da força de trabalho e do desenvolvimento das forças
produtivas, considerada como parte natural do processo de produção. Assim, é a força de

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 3


trabalho que transforma matéria prima em mercadoria. Para o trabalhador, a riqueza produzida
é proveniente do capital e não do trabalho. É essa alienação que Marx quer denunciar, o valor da
força de trabalho e o valor que ela cria no processo de trabalho são duas equações distintas, sendo
a parte do trabalhador ínfima.

Figura 3 - O Capital. Fonte: Geopoliticaleconomy (2017).

A obra mais significativa de Marx, sem dúvida nenhuma, é O Capital, dividida em três
volumes. No primeiro volume apresenta o processo de produção do capital, publicado em 1867;
no segundo volume versa sobre o processo de circulação do capital, publicado em 1885; e o
terceiro livro versa sobre o processo global da produção capitalista, publicado em 1894.
Marx viveu apenas para ver o primeiro livro publicado, os outros dois foram publicados
por Friedrich Engels, seu amigo e colaborador, publicação que inaugurou uma nova compreensão
do ciclo histórico.Considerada uma obra científica, mas ao mesmo tempo revolucionária, ela foi
escrita para a classe trabalhadora como suporte teórico da luta do proletariado contra a ordem
burguesa.

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ENSINO A DISTÂNCIA

A ALIENAÇÃO

O trabalho não produz apenas mercadorias; produz a si mesmo e produz o operá-


rio como mercadoria, e isso na medida em que produz mercadorias em geral.
Esse fato nada mais expressa do que o seguinte: o objeto que o trabalho produz,
seu produto, afronta-o como um ser estranho, como um poder independente do
produtor. O produto do trabalho é o trabalho que se fixou, se concretizou num ob-
jeto, é a objetivação do trabalho. A atualização do trabalho é sua objetivação. No
nível da economia, essa atualização do trabalho aparece como uma perda, para o
operário, de sua realidade; a objetivação como a perda do objeto ou a subordina-
ção a ele; a apropriação como alienação, o desapossamento.
[...] Tanto a objetivação revela-se perda do objeto que o operário é espoliado, não
apenas dos objetos mais necessários à vida, mas também dos objetos do traba-
lho [...]. Tanto a apropriação revela-se uma alienação que, quando mais objetos o
operário produz, menos ele pode possuir e mais ele cai sob a dominação de seu
produto, o capital.
Todas essas consequências encontram-se nessa determinação: o operário tem
com o produto do seu trabalho a mesma relação que com um objeto estranho. [...]
O operário põe sua vida no objeto. Mas então está já não lhe pertence, pertence ao

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objeto. Portanto, quanto maior a atividade, mais desprovido de objeto é o operário.
Ele não é o que é o produto de seu trabalho. Portanto, quanto maior é esse produ-
to, menos ele é ele mesmo. A alienação do operário em seu produto significa não
apenas que seu trabalho se torna um objeto, uma existência exterior, mas que seu
trabalho existe fora dele, independentemente dele, estranho nele, e torna-se um
poder autônomo com relação a ele, que a vida que ele deu ao objeto opõe-se a ele,
hostil e estranha (KARL MARX, manuscrito de 1844, p. 57-58).

O Emprego (El empleo)

Curta-metragem de animação argentino produzido no ano de 2008, dirigido por


Santiago Grasso, ganhador de 103 prêmios internacionais. O curta faz uma crítica
sobre o destino do trabalho sob o Capitalismo. Ele apresenta uma sociedade que,
para criar novos “empregos”, se canibaliza em absurdas ofertas novas de servi-
ços, coisifica os seres humanos, e eles ocupam o lugar de objetos como novos e
surreais serviços – cabides de roupas, carros, abajur, sinal de trânsito, capachos
(aqui um tragicômico trocadilho das relações de poder no trabalho).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CmOkJuhA678>.

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Para Marx, a classe proletária é a classe dos verdadeiros revolucionários, pois as classes
restantes vão se degenerando e afundam sob a indústria, sendo o proletariado o seu produto mais
genuíno. Para o autor, toda a sociedade, até hoje, viveu no antagonismo de classes opressoras versus
oprimidas. A sociedade antiga explorava os escravos, no feudalismo os senhores exploravam os
servos, e na sociedade capitalista a classe trabalhadora é explorada.
No pensamento marxista a luta de classes, o conflito, é um aspecto normal e desejável
da transformação social, e é só assim que a desigualdade social poderá ser eliminada. Para que
isso aconteça as pessoas precisariam assumir o controle do processo histórico e conquistar a sua
liberdade.

IDEIA DA FELIDADE

A partir do século XVIII, a ideia da felicidade nasce não como conquista individual,
mas como uma meta a ser alcançada pela coletividade. O homem só pode pensar
na felicidade como um projeto de sociedade, isto é, como uma possibilidade para
todos os que nela vivem. Quando criou os meios de fazer com que a educação, a
produção de alimentos, a fabricação das coisas que precisava – tecidos, roupas,
máquinas etc. – aumentassem a tal nível que deixassem de ser um privilégio de
poucos para ser uma possibilidade de todos. Imagine uma organização política

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da sociedade construída tendo por alicerce esse desejo. A ideia de felicidade
representa uma grande conquista humana e, ainda hoje, orienta todo esforço da
humanidade de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Fonte: PINSKY, J.; PINSKY, B. História da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010. (ODALIA, p.
160-161).

2. MAX WEBER E A CIÊNCIA INTERPRETATIVA


“O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”
(Max Weber).

Max Weber nasceu em Erfurt na Alemanha, numa família de burgueses liberais. Estudou
direito, história e sociologia, iniciando sua carreira de professor em Berlim, e em 1895, tornou-se
catedrático na Universidade de Heidelberg. Na política, defendeu fortemente seu ponto de vista
liberal e parlamentarista e participou da comissão redatora da República de Weimar. Sua grande
influência na Sociologia se deu nos estudos das religiões, estabelecendo ligações entre formações
políticas e crenças religiosas. Suas principais obras são: Artigos reunidos de teoria da ciência:
economia e sociedade (obra póstuma) e A ética protestante e o espírito do capitalismo.
A obra de Weber se baseia em artigos publicados em diversas revistas, a maioria reunida
depois de sua morte, grande parte da obra weberiana é constituída por uma sociologia das
religiões, “[...] gênero pouco em voga durante as décadas de 1960-1980 (onde a concepção
dominante era de que as religiões haviam definitivamente deixado de ser um agente histórico)”
(COLLIOT-THÉLÈNE, 2016, p. 8).

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Para Weber a realidade social é complexa, caótica e foge ao controle humano, as


construções conceituais Weber denomina de tipos ideais.
Entre os tipos ideais que elaborou estão a burocracia, típica dos Estados
modernos; a dominação, como um fenômeno social complexo e berço do poder;
o capitalismo ocidental, que se distingue por sua racionalidade presente nas ações
sociais mais simples. A construção de tipos ideais é um recurso metodológico
weberiano e está em referência ao conjunto de valores significativos de uma
cultura em determinado tempo, captado pelo cientista, em seu traço de
individualidade histórica, isto é, aquilo que o fenômeno tem de particular, de
singular, que lhe é próprio. Weber concede a Sociologia como uma ciência
interpretativa, cujo objetivo é a ação social, a qual deve ser compreendida pelo
sentido que lhe atribuem os atores sociais (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2009, p.
24-25).

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Figura 4 - Max Weber (1864-1920). Fonte: Roteiros Literários (2015).

Weber acreditava que para que o sociólogo analise uma determinada situação social,
tratando-se de generalizações, é necessário criar um “tipo ideal”, um instrumento orientador
da investigação da ação do ator, uma espécie de parâmetro. A ação social é entendida por
Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em um meio social que possua um sentido
determinado por seu autor. Ela constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor quanto à
resposta que deseja de seu interlocutor.

A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros,


que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por
ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de
ataques futuros). Os “outros” podem ser individualizados e conhecidos ou então
uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos
(o “dinheiro”, por exemplo, significa um bem – de troca – que o agente admite no
comércio porque sua ação está orientada pela expectativa de que outros muitos,
embora determinados e desconhecidos, estarão dispostos também a aceitá-lo,
por sua vez, numa troca futura) (WEBER, 1977, p. 139).

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Weber estipula quatro tipos de ações sociais:

• Ação tradicional: tem por base a tradição familiar, firmadas em hábitos e costumes
arraigados do sujeito. Age-se de determinada forma, pois sempre se agiu assim. É um
tipo de ação que se adota quase automaticamente, pela força do hábito. A maior parte das
ações no nosso cotidiano é desse tipo, ao dar bom-dia ao acordar ou pedir a benção aos
pais, pode ser exemplo dessa ação.

• Ação afetiva: é uma ação realizada com base nas emoções do indivíduo, em seus
sentimentos. “[...] O afeto dirigido a uma pessoa que se quer bem e a ira direcionada a
um agressor são exemplos de ação efetiva” (LIMA; SILVA, 2012, p. 94).

• Ação racional com relação a valores: fundamenta-se em convicções e valores pessoais


(éticos, estéticos, religiosos, políticos etc.). O indivíduo age de acordo com aquilo que
acredita ser correto, independentemente de suas consequências. Como exemplo dessa
ação, o pacifista que se coloca diante de um tanque de guerra, em comparação aos outros
tipos de ações anteriores, esse apresenta “[...] um grau de racionalidade maior no que
se refere à forma como o indivíduo orienta sua ação, embora seja marcado por uma
irracionalidade no que se refere às consequências do agir” (LIMA; SILVA, 2012, p. 95).

• Ação racional com relação a fins: é uma ação orientada, tendo um objetivo

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racionalmente estabelecido, em que o indivíduo age de acordo com suas metas e utiliza os
meios necessários para que sejam alcançadas. Um exemplo é o general que precisa vencer
“[...] o inimigo na guerra, calculando os meios necessários para tal fim, age racionalmente
com relação àquele objetivo” (LIMA; SILVA, 2012, p. 96).

Um dos trabalhos mais importantes de Max Weber é A ética protestante e o espírito do


capitalismo, em que ele relaciona o papel do protestantismo na formação comportamental do
capitalismo ocidental moderno típico.

Figura 5 - A ética protestante e o espírito do Capitalismo. Fonte: Martinclaret (2016).

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Weber, utilizando os dados estatísticos, percebe que grande parte dos homens de negócios
bem-sucedidos é protestante e, a partir disto, procura estabelecer conexões entre a prática
protestante e a sua influência sobre o capitalismo ocidental.
Para Weber, o poder é a capacidade de alguém exercer sua vontade sobre os outros,
mesmo que estes resistam, de modo que as relações de poder podem estar presentes em diversos
ambientes, nas grandes empresas, nos pequenos grupos sociais ou nas relações intimas dos casais.
Diferenças metodológicas entre Marx e Weber sobre a realidade social apresentada no
quadro abaixo:

KARL MARX MAX WEBER


Método dialético Método compreensivo
É concebido como o método de apreensão Cabe à Sociologia interpretar o sentido da
que permite ir à raiz da realidade. Ao mesmo ação social. Essa compreensão ocorre por
tempo em que procura entendê-la, o método meio da razão, a partir dos significados e
procede a transformação da realidade social. valores de quem investiga. Dessa forma, os
A compreensão da realidade passa pelas valores devem ser incorporados e fazer parte
condições materiais da vida da época da investigação social. Não há recomendação
analisada. O seu pressuposto é que o modo para suprimir toda prenoção e juízos de valor,
de produção da vida material condiciona o e sim integrá-los de modo consciente na
processo da vida social, política e espiritual pesquisa.
em geral. O método é comparativo, porque busca,
Busca na história, enquanto processo de fatos na história, valores e culturas explicativas
concatenados, a chave para o desvelamento das ações sociais. É também um método

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das relações sociais, sua relação recíproca compreensivo, por permitir a apreensão
e a interação existente entre os fatos, as interpretativa do significado ou da conexão de
estruturas e os acontecimentos. sentido da ação social.
Sua análise propõe partir de noções simples
e ampliá-las para categorias mais gerais.
Noções simples, como trabalho, divisão do
trabalho, valor de troca, se elevam a categorias
como Estado, trocas internacionais, mercado
mundial.

Quadro 1 - Métodos de investigação da realidade social nos clássicos. Fonte: adaptado de Araújo, Bridi e Motim
(2009, p. 30).

O Estado aparece na história com o papel de estabelecer um contrato social entre os


membros da sociedade, para evitar a desagregação e promover a prosperidade de todos, vai regular
as relações impondo como custo aos homens cederem parte de sua liberdade submetendo-se as
leis e pagando os impostos.

O Estado moderno, que teve início no século XVI, trouxe a organização em torno
da racionalidade, do “Estado de direito”, que são as leis nacionais negociadas num
grande acordo social, a Constituição. O Estado é uma estrutura que se “destaca”
da sociedade: os cidadãos dão o voto para a formação de uma superestrutura
política; o Estado moderno é uma grande máquina política que se estrutura com
base na sociedade, com o objetivo de gerenciá-la dentro de uma estrutura legal
(QUEIROZ, 2012, p. 28).

A partir da década de 70, o Estado de bem-estar social passa por uma reforma. O Estado
estava em crise e deixam a produção direta de bens e serviços para a sociedade, e se “[...] fortalecem
como reguladores e indutores do processo de desenvolvimento nacional por meio de políticas
governamentais compensatórias para determinados segmentos sociais” (QUEIROZ, 2012, p. 31).

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3. POLÍTICAS PÚBLICAS
“Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo
motivo” (Eça de Queirós).

O estudo das Políticas Públicas faz parte das pesquisas relacionadas às Ciências Sociais,
elas são ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir os direitos e buscar soluções
para os problemas sociais, garantir a segurança e a ordem, que estão previstos na Constituição
Federal de 1988 (CF1988) e em outras leis brasileiras. O estudo das políticas públicas revela
como acontecem as relações entre o Estado e a sociedade civil organizada. A CF1988 indica
como princípio normatizador a participação direta da sociedade na elaboração e fiscalização das
políticas por meio dos conselhos.
O artigo 1º da Constituição afirma que todo poder emana do povo e ele deve ser exercido
por meio de representantes eleitos ou diretamente, o que significa que cabe a todo cidadão
despertar a consciência e incentivar a participação de todos, fazer valer o modelo da Democracia
Representativa e a atuação dos atores sociais no controle social do Estado e das ações políticas.
Agir como protagonista das políticas públicas é escutar as demandas da população e executar a
solução dos problemas, aplicando os recursos do modo mais eficaz.
Para isso, os representantes dos setores sociais precisam participar das audiências públicas,
para negociar e planejar as ações/projetos de intervenção, dialogar com os representantes das

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forças sociais, ter acesso e voto nos Conselhos Municipais dos Idosos, da saúde, da habitação, da
mulher, das crianças e adolescentes.
Existem formas regulares ou não de influência e participação na tomada de
decisão sobre política pública, desde modalidades institucionalizadas em
grupos de interesse, lobby, conferências e conselhos, passando por mecanismos
institucionais ou não de participação de organizações da sociedade civil,
como sindicatos e federações empresariais e trabalhistas, organizações não
governamentais e grupos de pressão, até a sociedade civil organizada em
movimentos sociais e assemelhados. De qualquer maneira, isso denota
capacidade para mobilizar recursos de organização, riqueza, prestígio, coerção
ou sanção, entre outros (KAUCHAKJE; SCHEFFER, 2017, p. 31).

O objetivo principal das ações governamentais é criar uma rede de proteção social
assegurando os grupos em situação de maior vulnerabilidade social. A legislação social prevê
que as políticas públicas devem ser universais e focalizadas, priorizando os grupos baseados
em critérios etários (as crianças, adolescentes e jovens e os idosos), em situações de deficiência,
pobreza, gênero e discriminação étnica. Não existem políticas públicas isoladas, elas são resultado
de interação dos agentes políticos e diversos atores sociais, do Estado, da sociedade civil e do
mercado, fruto do esforço conjunto de todos os setores da sociedade na construção da cidadania
e de uma sociedade melhor e mais justa.
É necessário organizar redes de proteção social e promover as práticas inclusivas, fazer
a junção dos diferentes programas sociais para aplicar os recursos em projetos que melhorem as
condições de vida dos brasileiros, principalmente dos mais pobres. Articular os diversos setores
envolvidos nas políticas públicas, desde o planejamento, execução e avaliação, para garantir o
atendimento das necessidades dos usuários na sua integridade, organizado como um guarda-
chuva que abriga as três políticas de proteção social: a saúde, a previdência e a assistência social.

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O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), implantado em 2005, é um sistema


constituído com direção única, caracterizado pela gestão compartilhada e cofinanciamento das
ações pelos três entes federados e pelo controle social exercido pelos Conselhos de Assistência
Social dos municípios, Estados e União.
O SUAS permite, especialmente, a articulação de serviços, programas, projetos
e benefícios socioassistenciais, a universalização de acessos territorializados e a
hierarquização de serviços por níveis de complexidade e porte de município, com
repactuação de responsabilidades entre os entes federados. Sua regulamentação,
por meio de base legal, [...] jurídico-normativos necessários para a unificação
pretendida, tem impulsionado o reordenamento das redes socioassistenciais
para os atendimentos dos sujeitos de direitos, na direção da superação de
ações segmentadas, fragmentadas, pontuais, sobrepostas e assistencialistas,
para a garantia de um sistema unificado, continuado e afiançador de direitos,
no enfrentamento das perversas formas de opressão, violência e pauperização
vivenciadas pela maioria da população (SILVEIRA, 2007, p. 61-62).

Desenvolver uma cultura política participativa, em que todos sejam protagonistas e


possam intervir nas tarefas governamentais exercendo a cidadania ativa em prol do bem de todos.

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O grande desafio para o sociólogo é muito semelhante ao de um pintor. Ao tentar
reproduzir uma paisagem que observa, o pintor se defronta com alguns desafios:
o limite de sua visão para enxergar toda a paisagem em seus detalhes; a mu-
dança, mesmo que sutil, na tonalidade das cores da paisagem vista conforme a
alteração da luminosidade do local que observa – a luz solar muda de intensidade
conforme o passar do dia. Além disso, as cores de que dispõe o pintor dificilmen-
te reproduzirão na íntegra as cores que observa. Portanto, por mais perspicaz e
talentoso que seja, o retrato que pinta nunca reproduzirá fielmente a realidade
observada; será apenas a seleção do que lhe foi mais captado pela sensibilidade
de sua retina, de seu olhar, e pelo material que tinha disponível para realizar a sua
arte. O quadro pintado será uma síntese do que conseguiu perceber daquela reali-
dade, jamais uma reprodução idêntica ao que fora observado (LIMA; SILVA, 2012,
p. 78-79).

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ESCRITORES DA LIBERDADE

O filme é baseado em fatos reais, retratando o


contexto histórico de 1992 da cidade de Los An-
geles. Uma professora idealista chega a uma es-
cola de um bairro pobre, que está corrompida pela
agressividade e violência. Os alunos se mostram
rebeldes e sem vontade de aprender e há entre
eles uma constante tensão racial. Assim, para
fazer com que os alunos aprendam, a professora
lança mão de métodos diferentes de ensino.
A leitura do livro “O Diário de Anne Frank” foi uma
das metodologias utilizadas pela professora, im-
pactando os alunos com histórias que eles se
identificaram e depois eles foram convidados a
escreverem suas próprias histórias de vida.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ética constitui o conjunto de valores ou princípios morais que definem o que é certo
ou errado para uma pessoa, grupo ou organização. Ser cidadão significa ter direitos e deveres,
a cidadania só existe se houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços. Por isso a
cidadania e a felicidade precisam ser construídas coletivamente, não só em termos do atendimento
às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência.
Viver em sociedade faz com que as pessoas sofram um processo de massificação, os seres
humanos são tratados como meras mercadorias, manipulados e controlados, estimulados ao
consumismo. A cultura atual é uma criação e não um produto que se adquire, por isso, o Estado
precisa desenvolver políticas públicas eficazes como forma de garantir a “proteção social” aos
“fracos” do sistema.
As pessoas tendem a pensar a cidadania apenas em termos dos direitos a receber,
negligenciando o fato de que elas próprias podem ser o agente da existência desses direitos, elas
podem adotar políticas e assumir decisões e ações que beneficiam a sociedade.

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Como dizem Ivan Lins e Vitor Martins (2007), “depende de nós...”

Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo pra um mundo melhor

Depende de nós
Que o circo esteja armado
Que o palhaço esteja engraçado
Que o riso esteja no ar
Sem que a gente precise sonhar
Que os ventos cantem nos galhos
Que as folhas bebam orvalho
Que o sol descortine mais as manhãs

Depende de nós
Se esse mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
CIÊNCIAS SOCIAIS

O CAPITALISMO PARASITÁRIO
PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................52
1. INDÚSTRIA CULTURAL E GLOBALIZAÇÃO.........................................................................................................53
2. ZYGMUNT BAUMAN E A MODERNIDADE LÍQUIDA..........................................................................................58
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................................................63

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INTRODUÇÃO
A globalização exige um melhor entendimento entre os diversos povos. Quando as
pessoas se entendem melhor, elas se tornam mais tolerantes diminuindo o conflito e a luta.
A globalização possui aspectos positivos e negativos que influenciam na vida humana,
trouxe o progresso e eliminou as barreiras físicas, rompeu as fronteiras, possibilitou a expansão
dos meios de comunicação, melhorou a formação e a tecnologia em todo o mundo. As fronteiras
entre as pessoas também estão mais próximas devido às facilidades dos meios de transporte e
comunicação, além da difusão da cultura que se espalha entre as sociedades e grupos.
Na sociedade globalizada temos acesso a elementos culturais diferentes dos nossos.
Contudo a mídia deturpa as informações para garantir o próprio sistema, manter o poder do
capital e a cultura do consumo. Nesta sociedade de consumo o consumidor é manipulado,
consome muito mais do que necessário, levando a humanidade ao esgotamento dos recursos
naturais.
Gera consequências extremamente prejudiciais nas esferas econômica, social e ambiental
e fica cada vez mais endividado.

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 4

Figura 1 - 8 jeitos de mudar o mundo. Fonte: Google imagens (2019).

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ENSINO A DISTÂNCIA

1. INDÚSTRIA CULTURAL E GLOBALIZAÇÃO


“Vivemos num mundo globalizado. Isso significa que todos nós, conscientemente
ou não, dependemos uns dos outros. O que quer que façamos ou nos abstenhamos
de fazer afeta a vida das pessoas que vivem em lugares que nunca iremos visitar”
(Zygmunt Bauman).

O termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez em 1947, por Max Horkheimer
(1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969), como resultado da oportunidade de expansão e
lógica do capitalismo sobre a cultura. Significou o poder de dominação e difusão de uma cultura
de subserviência e transformou os indivíduos da sociedade em objetos. Na hierarquia das culturas,
hoje não se pode mais “[...] estabelecer a distinção entre a elite cultural e aqueles que estão abaixo
dela a partir dos antigos signos, por aquilo que é visto como ‘grande arte’” (BAUMAN, 2013, p. 7).

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Figura 2 - Pierre Félix Bourdieu (1930-2002). Fonte: Lo Inborrable (2013).

O sociólogo Pierre Félix Bourdieu nasceu na França, na cidade de Denguin, em primeiro


de agosto de 1930. Formou-se em Filosofia em 1954, e em 1960 tornou-se membro do Centro de
Sociologia Europeia, contribuindo significativamente para as pesquisas da Sociologia. Durante
a década de 1970, publicou dois dos seus principais livros: A reprodução (1970) e A distinção
(1979). Faleceu no dia 23 de janeiro de 2002, aos 71 anos, em Paris, mas sua obra permanece viva.
Bourdieu introduziu o conceito de capital cultural, afirmando que as pessoas de classes
sociais diferentes, possuem diferentes tipos de capital cultural. Ou seja, o capital cultural está
enraizado na percepção da realidade, são os gostos, conhecimentos, atitudes, linguagens e formas
de pensar, que trocamos quando interagimos com os outros, sendo valorizado de forma diferente
por cada grupo ou classe social.

Ao interagirmos com os outros, nos baseamos nos recursos de capital cultural


que possuímos. Essa interação é bastante fácil com pessoas que compartilham
o mesmo conjunto básico e recursos. No caso da interação com outras pessoas
que possuem um estoque diferente de capital cultural, no entanto, isso é mais
complexo. Vemos esse tipo de dificuldade quando os executivos tentam interagir
informalmente com os trabalhadores nas fábricas ou quando nos encontramos
jantando em um lugar onde não temos certeza de quais são as regras.

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Se fosse apenas uma questão de diferença social entre várias subculturas, poderia
não ser muito importante, mas o capital cultural da elite também está ligado a
seu controle sobre os recursos econômicos e sociais. Como resultado, o capital
cultural pode ser usado como forma de exclusão em relação a postos de trabalho,
organizações e oportunidades (WITT, 2016, p. 246).

A indústria cultural é fruto da sociedade industrializada, do período marcado pelo


consumismo, acumulação flexível e sociedade globalizada. Entre as consequências imediatamente
visíveis da globalização, pode-se mencionar: o aumento das desigualdades econômicas entre os
países e, no interior de cada um deles, o desemprego crescente, o desaparecimento progressivo
de universos autônomos de produção cultural pela imposição de valores comerciais, assim como
a destruição das instâncias coletivas, capazes de fazer frente aos efeitos do que Bourdieu (2001)
denomina de máquina infernal.
Ao publicar La distinction, em 1979, Bourdieu virou de cabeça para baixo o conceito
iluminista de cultura, ela funcionava como um dispositivo útil, destinado conscientemente
para assinalar as diferenças entre as classes e salvaguardá-las, uma tecnologia inventada para a
proteção e criação das hierarquias e divisões de classes sociais.
Segundo o conceito original, a “cultura” seria um agente de mudança do
status quo, e não de sua preservação; ou, mais precisamente, um instrumento
de navegação para orientar a evolução social rumo a uma condição humana
universal. O propósito inicial do conceito de “cultura” não era servir como
registro de descrições, inventários e codificações da situação corrente, mas

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 4


apontar um objetivo e uma direção para futuros esforços. O nome “cultura” foi
atribuído a uma missão proselitista, planejada e empreendida sob a forma de
tentativas de educar as massas a refinar os seus costumes, e assim melhorar na
sociedade e aproximar “o povo”, ou seja, os que estão na “base da sociedade”,
daqueles quer estão no topo. A “cultura” era associada a um “feixe de luz” capaz
de “ultrapassar os telhados” das residências rurais e urbanas para atingir os
recessos sombrios do preconceito e da superstição que, como tantos vampiros
(acreditava-se), não sobreviveriam quando expostos à luz do sol (BAUMAN,
2013, p. 12).

Figura 3 - La Distinction: Bourdieu – 1979. Fonte: Rakuten (2019).

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O conceito de cultura passou a ser visto como uma declaração de intenções, uma
missão a ser cumprida, ela deveria moldar uma nova ordem social e, por meio da educação,
forjar o “esclarecimento do povo” e construir um novo Estado-nação. Em suma, “[...] a cultura
foi transformada de estimulante em tranquilizante; de arsenal de uma revolução moderna em
repositório para a conservação de produtos” (BAUMAN, 2013, p. 15).
Para Bourdieu, hoje, a cultura consiste em ofertas e não em proibições; em proposições,
não em normas, em semear e plantar novos desejos e necessidades, ela não está mais relacionada
ao cumprimento do dever, “[...] a cultura agora está engajada em fixar tentações e estabelecer
estímulos, em atrair e seduzir, não em produzir uma regulamentação normativa” (BAUMAN,
2013, p. 18). Na sociedade de consumidores, a cultura assemelha-se a uma gigantesca loja de
departamentos, sua função básica não é satisfazer as necessidades dos consumidores, mas criar
outras.

Tal como nas outras seções desse megastore, as prateleiras estão lotadas de atrações
trocadas todos os dias, e os balcões são enfeitados com as últimas promoções, as
quais irão desaparecer tão instantaneamente quando as novidades em processo
de envelhecimento que eles anunciam. Esses produtos exibidos nas prateleiras,
assim como os anúncios nos balcões, são calculados para despertar fantasias
irreprimíveis, embora, por sua própria natureza, momentâneas (BAUMAN,
2013, p. 20-21).

A partir dos anos 70 houve uma aceleração do processo de internacionalização da


economia ou globalização, as grandes empresas dos países desenvolvidos se espalharam pelo

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 4


mundo, fenômeno que pode ser caracterizado como o processo de mundialização do capital.

Desde os anos 1980 o capital financeiro, internacional e internacionalizado,


tem marcado o capitalismo, em decorrência das políticas de liberalização e de
desregulamentação das forças de trabalho e das finanças, adotadas principalmente
pelos governos dos países industriais. Novos países industrializados ganham
importância como centros de acumulação e outros são considerados emergentes,
como o Brasil, por se inserirem na lógica de mundialização do capital, neste
início de milênio. É grande o contraste entre os países (ARAÚJO; BRIDI;
MOTIM, 2009, p. 71).

A globalização está associada à evolução tecnológica, o acesso ao computador e internet


tornou-se universal. O começo da internet está ligado ao interesse dos militares. Foi em 1962,
período da Guerra Fria pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos em manterem a
comunicação e evitar ataques dos inimigos. E, hoje, a internet é uma rede global de redes
interconectadas, é como “[...] uma fonte de água para os seres humanos. Buscamos acesso fácil,
barato e rápido às informações digitais e entretenimento, e ela, por sua vez, transforma indivíduos,
empresas, economias e sociedades” (STRAUSS; FROST, 2012, p. 5).
O processo de globalização reforçou a crescente homogeneização das experiências
culturais a partir das redes de televisão e os novos padrões de conduta e consumo.
Com o uso de um computador e uma conexão com a rede (internet), é
possível viajar a qualquer parte do planeta, realizar negócios virtuais, descobrir
novidades. Tudo isso ainda é muito novo, mas já permite questionamentos: se as
novelas contribuem para a alienação dos indivíduos, porque permitem uma fuga
passageira da vida real, a vivência de maneira interativa num mundo imaginário
e idealizado pode provocar alterações nas relações entre os homens, nas maneiras
de aprender e ensinar. Qual é o alcance social e político desse fenômeno?

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ENSINO A DISTÂNCIA

A revolução das tecnologias da informação e da comunicação transformou-nos


numa sociedade da informação – a partir da Terceira Revolução Tecnológica,
com a disseminação do uso do computador, que ampliou extraordinariamente
a capacidade de armazenamento e processamento de informação, estamos
vivendo a era da sociedade da informação (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2009,
p. 124).

Entre as consequências sociais das transformações da informação, segundo Araújo, Bridi e


Motim (2009, p. 125), esta deificação do mercado significa que o mercado tornou-se um deus e os
homens foram substituídos pelas máquinas, “[...] o que era considerado essencialmente humano:
a capacidade de armazenar, produzir e transmitir conhecimento”. A mídia não é neutra, ela afeta
o comportamento e a consciência, produzindo manifestações culturais, artísticas e modelando a
linguagem da comunicação social.
O termo “rede social” começou a ser usado para designar um conjunto complexo de
relações entre membros de um sistema social. Como um novo paradigma das ciências sociais
ele surgiu na Sociologia e Antropologia Social, no final do século XX, as redes são compostas
por pessoas e organizações, reunidas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e
objetivos comuns.

As Redes Sociais Virtuais são grupos ou espaços específicos na internet, que


permitem os indivíduos partilhem dados e informações de caráter geral ou
específico nas mais diversas formas (textos, arquivos, imagens fotos, vídeos, etc.).
Existe também a formação de grupos por afinidade e a formação de comunidades

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virtuais para socialização que se conectam para possíveis discussões, debates,
divulgações e apresentação de temas variados (KING; NARDI; CARDOSO,
2014, p. 180).

As redes sociais são como vitrines de exposições e estão promovendo mudanças no


comportamento da sociedade, todos estão sempre conectados e buscando atualizações de
conteúdo, para aproveitar todas as possibilidades para postar as experiências profissionais que
deram certo, afinal, ninguém posta o que não deu certo, só as vitórias e fotos que ficaram boas.
Mudanças significativas nos comportamentos e costumes das pessoas aconteceram
com a utilização dos computadores e telefones celulares, ocorrem ganhos e perdas com uso e
abuso das novas tecnologias. Uma convivência abusiva pode produzir um comportamento de
apego patológico ao computador ou ao telefone celular, dando origem ao termo nomofobia, para
designar o desconforto ou angústias causadas pelo medo de não conseguir acessar os meios de
comunicação e ficar off-line.
Os nomofóbios são os indivíduos que não conseguem se conectar ou fazer ligações pelo
telefone celular. Sem dúvida, as novas tecnologias facilitam o nosso dia a dia, contudo é preciso
ter cuidado com o uso abusivo. Os benefícios e prejuízos dessas tecnologias permanecem sendo
foco de atenção de todos os profissionais que lidam com as questões da saúde e urgem novas
legislações a respeito.

A nomofobia segue o mesmo princípio de qualquer outra fobia. O indivíduo


com um transtorno ansioso como diagnóstico primário costuma desenvolver
dependência patológica de uma tecnologia (computador ou telefone celular)
como forma de minimizar as suas dificuldades. Esses dispositivos costumam
trazer a sensação de segurança, bem-estar e confiança, e, sendo assim, reduzem
o estresse. No caso da nomofobia, o indivíduo, quando se vê impossibilitado de
se comunicar por algum desses veículos, ao invés da segurança e confiança que
poderia adquirir, sente-se ameaçado como se estivesse em perigo, mesmo não
estando.

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Essa interpretação equivocada do sujeito faz com que a impossibilidade de


se comunicar seja considerada ameaçadora, e isso é o bastante para disparar
os sintomas indesejados. Geralmente as pessoas que tendem a desenvolver
nomofobia são aquelas que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro
e com uma predisposição característica aos transtornos de ansiedade. Indivíduos
com esse perfil costumam, em função das próprias condições do seu quadro
original, nunca desligar o telefone celular, seja em que local for. E, quando não
é possível permanecer com o aparelho ligado, o transferem para o módulo
vibrador, deixando-o sempre por perto, visível e disponível. Chegam a dormir
com o telefone ligado ao lado da cama. A insegurança e a baixa autoestima
contribuem para que se sintam rejeitados quando não recebem ligações ou
quando verificam que seus amigos recebem mais ligações do que eles (KING;
NARDI; CARDOSO, 2014, p. 8).

O processo de globalização dos mercados tem contribuído para intensificar as mudanças


no setor microempresarial, provocado muitas alterações nas políticas econômicas, diminuição
das barreiras comerciais e acelerado os processos de fusões e de aquisições de empresas.

[...] a globalização dos mercados, que estreitou as relações entre empresas


e contribuiu para aumentar a concorrência em nível internacional, [...] e o
desenvolvimento da Tecnologia da Informação (TI), que alterou as relações de
mercado, promoveu modificações no processo produtivo e colocou a informação
como essencial na elaboração de políticas gerenciais e mercadológicas para as
empresas (PREVIDELLI; MEURER, 2005, p. 30).

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Os consumidores estão cada vez mais exigentes e se interessam mais do que apenas
no preço dos produtos, fazendo perguntas sobre as práticas corporativas, o que existe por trás
dos produtos e das marcas que consomem. Devido a essa mudança de comportamento dos
consumidores, muitas corporações se preocupam com estas questões e procuram fazer a coisa
certa. Nos anos 70, a responsabilidade social era considerada algo secundário e marginal e, hoje,
a cidadania corporativa tem permeado as salas de conselhos e os chãos de fábricas.

A cidadania corporativa diz respeito ao relacionamento entre empresas e


sociedade – tanto a comunidade local que cerca uma empresa e cujos membros
interagem com seus funcionários, quanto à comunidade mundial mais
ampla, que atinge todas as empresas através de seus produtos, sua cadeia de
suprimentos, sua rede de revendedores, sua propaganda e assim por diante. [...]
Ao falarmos de cidadania corporativa estamos desenhando um paralelo entre
o cidadão individual e suas responsabilidades e direitos como membro de uma
comunidade e uma empresa que, embora seja constituída de muitas pessoas, age
como se fosse um indivíduo (MCINTOSH, 2001, p. 16).

O interesse na cidadania corporativa e na responsabilidade social está crescendo,


considerando que as piores falhas noticiadas nos últimos anos envolveram estas questões
de cidadania corporativa, bem como os desastres ambientais e os escândalos de corrupções,
obrigando as empresas e o Estado a mudarem suas práticas e transformando-se em organizações
que aprendem. Não se aceita que estas empresas e o Estado não tenham uma política e senso de
responsabilidade social para lidarem com as situações e tragédias enfrentadas nos dias atuais.
Como parte do resultado da globalização dos mercados, em muitos países existe uma lista
de tarefas a ser cumprida, entre elas, a de promover a desregulamentação e privatização contínua,
profunda e aparentemente irreversível. Excluindo, assim, os governos da responsabilidade de
serviços essenciais na área da educação, saúde e assistência social, entre outras, transferindo ou
terceirizando para a sociedade civil e o setor produtivo essas obrigações.

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O mercado de trabalho é um dos muitos mercados de produtos em que se


inscrevem as vidas dos indivíduos; o preço de mercado da mão-de-obra é apenas
um dos muitos que precisam ser acompanhados, observados e calculados nas
atividades da vida individual. Mas em todos os mercados valem as mesmas
regras. Primeira: o destino final de toda mercadoria colocada à venda é ser
consumida por compradores. Segunda: os compradores desejarão obter
mercadorias para consumo se, e apenas se, consumi-las for algo que prometa
satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que o potencial consumidor em busca
de satisfação está preparado para pagar pelas mercadorias em oferta dependerá
da credibilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos (BAUMAN,
2008, p. 18).

Para Bauman (2008, p. 22) quando estamos em uma sociedade de consumidores, “[...]
tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os
contos de fada”. Ter fama é a meta a ser atingida, ou seja, na era da informação a invisibilidade,
para muitos, equivale à morte, ser notado pelos outros é essencial para manter a autoestima e
sobreviver.

2. ZYGMUNT BAUMAN E A MODERNIDADE LÍQUIDA

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“Bulimia e anorexia são as reações patológicas mais comuns para as contradições
e os desafios típicos de nosso modo de vida, em particular, dos aspectos
egocêntricos e consumistas” (Zygmunt Bauman).

Para Bauman (2009), o consumismo é uma economia do logro, do excesso e do lixo, o


caminho da loja à lata de lixo deve ser curto e a passagem, muito rápida. O que significa que todos
os seres humanos são consumidores e entre as preocupações humanas a política da vida pode
ser caracterizada por uma constante “síndrome consumista”. A sociedade de consumo consegue
tornar permanente a insatisfação, ou seja, toda promessa deve ser enganosa, “[...] sem a repetida
frustação dos desejos, a demanda pelo consumo se esvaziaria rapidamente, e a economia voltada
para o consumidor perderia o gás” (BAUMAN, 2009, p. 107).

[...] em linguagem simples, é que os líquidos, diferentemente dos sólidos, não


mantêm sua forma com facilidade. Os fluidos, por assim dizer, não fixam o
espaço nem prendem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais
claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do
tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não
se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a
mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes
toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um momento”. Em certo
sentido, os sólidos suprimem o tempo; para os líquidos, ao contrário, o tempo é
o que importa. Ao descrever os sólidos, podemos ignorar inteiramente o tempo;
ao descrever os fluidos, deixar o tempo de fora seria um grave erro. Descrições
de líquidos são fotos instantâneas, que precisam ser datadas (BAUMAN, 2001,
p. 8).

De acordo com Bauman, a sociedade está em um ritmo que não se permite viver de forma
estática. Fixar conceitos e rotinas, não estando passiveis as mudanças, prejudica os indivíduos.
Estar presente neste meio social é viver sem garantias, em constantes incertezas, reiniciar a todo
o momento é uma forma de manter-se vivo nos dias de hoje.

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Bauman, em suas pesquisas, não vê com bons olhos essas incertezas, em que os sujeitos,
para sobreviverem e pertencerem dentro do sistema globalizado tem que estar constantemente
passíveis às mudanças. Isso faz com que uma pequena parcela da população consiga acompanhar.
Quanto mais rápido você mudar suas ideias e comportamentos e eles estiverem aptos às mudanças
do mercado, maior a sobrevivência, já que a “[...] velocidade e não duração, é o que importa. Com
a velocidade certa, pode-se consumir toda a eternidade do presente contínuo da vida terrena”
(BAUMAN, 2009, p.15).

Em suma: a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza


constante. As preocupações mais intensas e obstinadas que assombram esse
tipo de vida são os temores de ser pego tirando uma soneca, não conseguir
acompanhar a rapidez dos eventos, ficar para trás, deixar passar as datas de
vencimento, ficar sobrecarregado de bens agora indesejáveis, perder o momento
que pede mudança e mudar de rumo antes de tomar um caminho sem volta.
A vida líquida é uma sucessão de reinícios, e precisamente por isso é que os
finais rápidos e indolores, sem os quais reiniciar seria inimaginável, tendem a
ser os momentos mais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes. Entre
as artes da vida líquido-moderna e as habilidades necessárias para praticá-las,
livrar-se das coisas tem prioridade sobre adquiri-las (BAUMAN, 2009, p. 8).

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Figura 4 - Zygmunt Bauman (1925-2017). Fonte: Terra Notícias Mundo (2017).

A FLUIDEZ DO ‘MUNDO LÍQUIDO’ DO ZYGMUNT BAUMAN

Em uma das passagens pelo Brasil, Bauman conversou com o programa Milênio,
da GLOBONEWS. Você pode assistir a entrevista concedida ao jornalista Marcelo
Lins, no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=7P1MAZXFVG0>.
Bauman reflete sobre vários temas, entre eles as relações humanas. Ele acredita
que os laços de uma sociedade se dão em rede, não mais em comunidade. Dessa
forma, os relacionamentos passam a ser chamados de conexões, que podem ser
feitas, desfeitas e refeitas.

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Zygmunt Bauman nasceu na Polônia, (1925-2017) sociólogo, filósofo e escritor. Sofreu a


perseguição nazista e sua familia foi obrigada a emigrar para a União Soviética, em 1939, depois
que a Polônia foi invadida pelo exército de Hitler. Tornou-se vítima dos expurgos antisemitas. Em
1968 ele emigrou para Grã-Bretanha, onde foi professor das universidades de Varsóvia e Leeds.
Dono de uma vasta obra sobre as transformações socioculturais em nosso tempo, dedicava-
se a diagnosticar os males da sociedade, mostrando a enfermidade das relações sociais e das
coisas. Entre os livros mais lidos no mundo: Modernidade Líquida, Amor Líquido, Vida Líquida e
Capitalismo Parasitário.
O “derretimento dos sólidos” significa eliminar as obrigações irrelevantes que impediam
libertar a empresa de negócios dos grilhões dos deveres para com a família, com o lar e das
obrigações éticas, deixar apenas o “nexo dinheiro”.

O derretimento dos sólidos levou à progressiva libertação da economia de


seus tradicionais embaraços políticos, éticos e culturais. Sedimentou uma nova
ordem, definida principalmente em termos económicos. Essa nova ordem
deveria ser mais “sólida” que as ordens que substituía, porque, diferentemente
delas, era imune a desafios por qualquer ação que não fosse econômica. A
maioria das alavancas políticas ou morais capazes de mudar ou reformar a nova
ordem foram quebradas ou feitas curtas ou fracas demais, ou de alguma outra
forma inadequadas para a tarefa (BAUMAN, 2001, p. 10-11).

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Figura 5 - Modernidade Líquida. Fonte: Livraria Martinsfontes (2019).

Por fim, devemos levar em consideração que Zygmunt Bauman tem por prerrogativa
apresentar como a sociedade “pós-moderna” está sempre em construção e em busca de algo
que, tudo indica, nunca iremos alcançar. Trazer o autor para a Introdução das Ciências Sociais
e comprovar que as mudanças aconteceram, acontecem e acontecerão. Os grupos sociais estão
agindo e se comportando de várias formas e por todo o mundo, com o rompimento dos limites
territoriais que a globalização nos trouxe, as mudanças continuarão acontecendo com mais
frequência, possibilitando, assim, o fim do enraizamento das relações sociais.

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Viver em sociedade, trabalhar e estudar é viver sempre estressado. Miyamoto et. al.
(1999) definem o estresse como um conjunto de reações e modificações do organismo de caráter
adaptativo químico e fisiológico, com objetivo de manter a homeostase. Quando os estímulos
estressantes, internos e externos, ultrapassarem os limites de adaptação e defesa do organismo,
torna-se suscetível a danos na saúde física e psicológica. Referindo-se ainda à denominação do
termo estresse, o autor Andrews (2003) traz a definição do nome estresse vindo transportado
da física, utilizado para denominar a movimentação de uma mola ao ser pressionada e esticada.
Associando às mudanças aceleradas no mundo do trabalho e aos grandes avanços na automação
e na informática. Isso não diminuiu o “estado de estresse” na vida do trabalhador, ele trabalha
cada vez mais, ficando mais estressado, pressionado a esticar e aproveitar melhor o tempo, tal
qual uma mola.

[...] estar estressado é um estado do organismo, após o esforço de adaptação,


que pode produzir deformações na capacidade de resposta atingindo o
comportamento mental e afetivo, o estado físico e o relacionamento com as
pessoas (FRANÇA; RODRIGUES, 2005, p. 30).

França e Rodrigues (2005) citam que a todo momento estamos em movimentos de


adaptação, uma tentativa de ajustamento diante das diversas exigências impostas por este mundo
de ideias, estamos vivendo em um ambiente vasto de sentimentos, desejos, expectativas, imagens,
exigências internas e externas, e que cada atividade ocupacional acaba por tornar um agente
estressor, pois o indivíduo tem prazos a cumprir, resultados a serem apresentados, estando em

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meio à adaptação para tantas reações.

SOCIOLOGIA DOS SENTIDOS

Georg Simmel (1858-1918), sociólogo ale-


mão, defendia que o conflito era algo bené-
fico para todos, porque era um momento de
desenvolvimento e tomada de consciência
individual. Teria, assim, uma função positiva
para a sociedade, principalmente à medida
da superação das divergências por meio dos
acordos e diálogos.
Contudo Simmel também observou que o
olhar que dirijo inadvertidamente a outra
pessoa revela meu próprio eu. O olhar que
dirijo na esperança de obter um lampejo de
seu estado mental e/ou de seu coração ten-
de a ser expressivo, e as emoções mais ínti-
mas mostradas dessa maneira não podem
ser refreadas ou camufladas com facilidade
– a menos que eu seja um ator profissional
bastante treinado.

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Faz sentido, portanto, imitar o suposto hábito do avestruz de enterrar a cabeça na


areia e desviar ou baixar os olhos. Não olhando o outro nos olhos, torno meu eu
interior (para ser mais exato, meus pensamentos e emoções mais íntimos) invi-
sível, inescrutável... Agora, na era dos desktops, laptops, dispositivos eletrônicos
e celulares que cabem na palma da mão, a maioria de nós tem uma quantidade
mais que suficiente de areia para enterrar a cabeça (BAUMAN, 2008, p. 27).

Ao longo da história a cidadania foi sendo ampliada e estimulada pela própria luta por
direitos e pelo exercício dos direitos já conquistados. Na atualidade, o conceito de cidadania
se traduz na expressão de “ter direito a ter direitos”. Que, na interpretação clássica de Marshall
(1967), poderiam ser representados como os direitos civis e políticos ou considerados direitos
de primeira geração, conquistados no século XVIII, que se referem ao direito à vida, à liberdade,
igualdade, propriedade, a participação política e o direito ao voto, entre outros.
Os direitos sociais e econômicos ou direitos de segunda geração conquistados nas lutas do
movimento operário e sindical, como o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à aposentadoria
e ao seguro desemprego. E os direitos considerados de terceira geração, voltados não ao direito
do indivíduo, mas de forma ampla, direcionado às coletividades étnicas e à própria humanidade.
Marshall (1967) destaca que a cidadania exige um elo de natureza diferente do parentesco
ou descendência, requer um sentimento direto de participação numa comunidade baseada na
lealdade a uma determinada civilização. Assim, a cidadania na sua proposta mais funda afirma

CIÊNCIAS SOCIAIS | UNIDADE 4


que todos os homens são iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. Devem ter
o domínio sobre seu corpo e sua vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer. Enfim,
o direito de ter uma vida digna como ser humano.

O que podemos fazer para os direitos humanos e políticas públicas serem efeti-
vados?

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CAPITALISMO UMA HISTÓRIA DE AMOR

O polêmico documentarista norte-americano, Mi-


chel Moore, investiga o sistema financeiro, ban-
queiros, corretores e as práticas parasitárias dos
especuladores que levaram os EUA a maior crise
econômica desde o Crack de 1929, o colapso do sis-
tema financeiro em 2008. Para entender as origens
do colapso da economia, o diretor conversa com
pais de família afundados em hipotecas, questiona
os congressistas, persegue executivos das gran-
des corporações em Wall Street e, com seu estilo
rocambolesco e o humor cáustico de sempre, até
tenta dar voz de prisão aos diretores da empresa
de seguros AIG, a primeira gigante a cair em 2008.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agradeço o contato e a participação ao longo deste componente curricular do seu curso,
as Ciências Sociais. E espero que você tenha exercitado seu senso crítico sobre estas grandes
ciências que buscam entender cada vez mais a humanidade, tenha refletido sobre os fenômenos
sociais, a desigualdade e a exclusão social.
Espero que todo esforço possa ter contribuído para o seu crescimento pessoal e
profissional, desenvolvendo uma nova percepção da sociedade vigente e promovendo uma nova
atitude na busca contínua de conquistarmos uma sociedade voltada para a cidadania e justiça
social.

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ENSINO A DISTÂNCIA

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