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RESUMO ESQUEMÁTICO DE DIREITO CIVIL

1. Pessoa natural ou pessoa humana surgem alguns conceitos básicos importantes:


É o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações. Para ser uma pessoa, basta existir, basta
nascer com vida, adquirindo personalidade.
O artigo 1. º do Código Civil dispõe que: “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. O
Código Civil de 1916 dizia "todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil".
Com a palavra “homem”, o legislador afastou toda e qualquer situação em que os animais fossem capazes
de direitos e obrigações (exemplo: um animal não poderá ser beneficiado por testamento).
Porém, note que a atual legislação substituiu a palavra "homem" por "pessoa", deixando mais técnica a
disposição, alterando ainda a palavra "obrigação" por "dever", tendo ambas a mesma conotação.

1.1) Capacidade de Direito – é a capacidade para ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º).
1.2) Capacidade de fato – é a capacidade para exercer direitos. Aqueles que não detêm capacidade de fato
são denominados incapazes.

CAPACIDADE CIVIL PLENA: capacidade de direito + capacidade de fato

2) Personalidade: é a soma de aptidões da pessoa natural

3) Incapazes:

São elencados nos arts. 3º e 4º do novo Código Civil, devendo ser representados e assistidos,
respectivamente:

Representados: absolutamente incapazes (Menores de 16 anos; enfermos e doentes mentais, sem


discernimento para a prática dos atos da vida civil; pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem
exprimir sua vontade).

Assistência: relativamente incapazes (Menores entre 16 e 18 anos 9 menores púberes; ébrios habituais,
toxicômanos e pessoas com discernimento mental reduzido; excepcionais sem desenvolvimento completo;
pródigos).

- Quanto aos silvícolas (índios), sua situação não é mais tratada pela nova codificação. Os ausentes não são
mais absolutamente incapazes. Ausência significa, na verdade, morte presumida, inexistência da pessoa (art. 22
e 39 do novo CC).

- Os atos e negócios praticados pelos absolutamente incapazes sem representação são nulos (nulidade
absoluta). Os celebrados pelos relativamente incapazes sem assistência são anuláveis (nulidade relativa).
OBS: Silvícolas
É vulgarmente chamado de índio e sujeito a regime tutelar estabelecido em leis e regulamentos especiais, o
qual cessará à medida que se adaptar a civilização do país. O artigo 4. º, parágrafo único, do Código Civil,
estabelece: "A capacidade dos índios será regulada por legislação especial". A incapacidade estabelecida por lei
especial não é uma restrição e sim uma proteção.
Há uma lei federal (Lei n. 6.001/73) que regulamenta a proteção dos silvícolas, que ficam sob a tutela da
União (tutela estatal). Na vigência da lei anterior à Lei n. 6.001/73, foi criado um órgão para tutelar os silvícolas em
nome do Estado: a FUNAI.
Os silvícolas não possuem registro de nascimento civil, sendo que seu registro é feito na própria FUNAI.
Se um silvícola se adaptar à civilização, poderá requerer sua emancipação, tornando-se, assim, pessoa
capaz. Para a emancipação, os silvícolas devem comprovar que já completaram 21 anos de idade, que já conhecem
a língua portuguesa e que já estão adaptados à civilização, podendo exercer uma atividade útil.
O Estatuto do Índio (Lei n. 6.001/73) dispõe que todo ato praticado por silvícola, sem a assistência da FUNAI,
é nulo. O próprio Estatuto, no entanto, dispõe que o juiz poderá considerar válido o ato se constatar que o silvícola
tinha plena consciência do que estava fazendo e que o ato não foi prejudicial a ele.

4) Emancipação: ato jurídico pelo qual se antecipa a maioridade e a correspondente capacidade para momento
anterior àquele em que a pessoa atinge a idade de 18 anos.

4.1) Emancipação voluntária: parental, ou seja, por concessão dos pais ou de um deles na falta do outro.
Para que ocorra a emancipação parental, o menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos.

4.2) Emancipação Judicial: por sentença do juiz, em casos, por exemplo, em que um dos pais não
concordar com a emancipação, contrariando um a vontade do outro.
4.3) Emancipação legal matrimonial, pelo casamento do menor. Interessante lembrar que a idade núbil
tanto do homem quanto a da mulher é, agora, de 16 anos (art. 1517 do CC), sendo possível o casamento do
menor se houver autorização dos pais ou dos seus representantes.

4.4) Emancipação legal: para exercício de cargo público efetivo; por colação de grau em curso superior
reconhecido; por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, obtendo o menor
as suas economias próprias, visando a sua subsistência. Necessário que o menor tenha ao menos 16 anos.

5. Diretos da Personalidade: são os direitos inerentes à pessoa e à sua dignidade> Mantêm relação direta com
os princípios do Direito Civil Constitucional: dignidade da pessoa humana, solidariedade social e isonomia ou
igualdade em sentido amplo. Os direitos da personalidade estão relacionados com cinco ícones principais:

5.1) Vida e integridade física: teoricamente o bem supremo da pessoa humana

5.2) Honra: subjetiva (auto-estima) ou objetiva 9 repercussão social da honra)

5.3) Nome: sinal que representa a pessoa no meio social, com todos os seus elementos;

5.4) Imagem: retrato (fisionomia) ou atributo (soma de qualificações)

5.5) Intimidade: a vida privada é inviolável

Os direitos da personalidade não podem ser concebidos conforme um rol taxativo, muito menos quanto às suas
características principais. Para fins didáticos, contudo, podemos afirmar que tais direitos são inatos, absolutos,
intransmissíveis, indisponíveis, irrenunciáveis, ilimitados, imprescritíveis, impenhoráveis e inexpropriáveis.

Diante disso é de se entender pela existência de uma claúsula geral de tutela da personalidade, pela qual deve
haver tanto a prevenção quanto a reparação de qualquer lesão à pessoa e à sua dignidade. Para nós, tanto o
nascituro quanto o morto possuem tais direitos.
OBS: Nome
O nome apresenta dois aspectos:
• aspecto individual: diz respeito ao direito que todas as pessoas têm ao nome;
• aspecto público: é o interesse que o Estado tem de que as pessoas possam se distinguir umas das
outras, por isso regulamentou a adoção de um nome por meio da Lei n. 6.015/73 (Lei dos Registros
Públicos).
O nome integra os direitos da personalidade (artigo 16 do Código Civil) e se compõe de três elementos:
• prenome ou nome;
• patronímico ou sobrenome;
• agnome.

a) Prenome
Pode ser simples ou composto e é escolhido pelos pais. A regra é de que o prenome é definitivo (artigo 58
da Lei n. 6.015/73). O prenome era imutável até o advento da lei 9708/98, passando não mais a ser adotado o
princípio da imutabilidade e sim o princípio da definitividade. O nome passou a ser substituível por um apelido
público notório.
Existem, além da hipótese acima, algumas outras exceções a regra da definitividade. São elas:
• Em caso de evidente erro gráfico: quando o escrivão escreveu o nome errado e necessita de uma
correção (exemplo: o nome deveria ser escrito com Ç e foi escrito com SS). A mudança pode ser feita
por requerimento simples ao próprio Cartório e será encaminhada para o Juiz-Corregedor do Cartório,
sendo ouvido o Ministério Público. Se o juiz verificar que realmente houve um erro, autorizará a sua
correção;
• Prenomes que exponham o seu portador ao ridículo: hoje é mais difícil alguém registrar o filho com
prenome que o exponha ao ridículo, visto que, com a Lei n. 6.015/73, o escrivão tem o dever de não
registrar tais prenomes. Os pais poderão requerer autorização ao juiz no caso de o escrivão não
registrar o nome escolhido. Caso haja necessidade da mudança do prenome por este motivo, deve-se
entrar com ação de retificação de registro e, se o juiz se convencer, autorizará a mudança. Em todos os
pedidos de retificação, o Ministério Público requer que o juiz exija do requerente a apresentação da
folha de antecedentes.
• Costumes – Além de apelidos públicos notórios que seriam outros nomes próprios substitutivos ao
que consta no registro, temos o apelido no seu sentido pejorativo, isto é, um nome sem significado certo
(exemplos: Pelé, Lula, Xuxa, Maguila etc.);
• Lei de Proteção às Testemunhas: as pessoas que entrarem no esquema de proteção à testemunha
podem mudar o prenome e, inclusive, o patronímico, a fim de permanecerem no anonimato;
• ECA: o Estatuto da Criança e do Adolescente criou nova exceção, no caso de sentença que
determina a adoção plena, em que se cancela o registro da criança, podendo os adotantes mudar tanto
o prenome quanto o patronímico;
• Pode-se, ainda, mudar o prenome para a tradução de prenome estrangeiro (Willian por Guilherme,
James por Thiago).

b) Patronímico
É o que designa a origem familiar da pessoa. Não é escolhido pelos pais, visto que a pessoa já nasce com o
patronímico deles. O patronímico também poderá ser mudado:
• Em caso de adoção plena.
• Com o casamento, visto que tanto a mulher quanto o homem poderão utilizar o patronímico um do
outro. Trata-se de uma faculdade do casal, visto que, se a mulher não quiser, não será obrigada a
utilizar-se do patronímico do marido, como era antigamente.
• A dissolução do casamento poderá mudar o patronímico, ou seja, a mulher que utilizou o patronímico
do marido, quando do casamento, com a dissolução poderá voltar a usar seu nome de solteira. A Lei
dos Registros Públicos dispôs que a companheira também pode utilizar o patronímico de seu
companheiro, mas se colocaram tantos obstáculos que raramente se vê um pedido deferido feito pela
companheira.

De acordo com o artigo 56 da Lei de Registros Públicos, qualquer pessoa poderá, no primeiro ano após
completar a maioridade, fazer mudanças no seu nome completo, desde que não modifique seu patronímico.
Combinando-se, no entanto, esse artigo com o artigo 58 da mesma lei (prenome imutável), admite-se somente a
inclusão de patronímico dos pais que não foram acrescentados, para se fugir dos homônimos. Se transcorrer o
período disposto no artigo 56, poderá, ainda, fazer a mudança pelos mesmos motivos (artigo 57). A diferença é que
no artigo 56 a mudança será administrativa e no caso do artigo 57 deve ser o pedido motivado e mediante ação
judicial.
c) Agnome
É a partícula que é acrescentada ao final do nome para diferenciar as pessoas da mesma família que têm o
mesmo nome (exemplos: Júnior, Neto etc.).

6. Domicílio da Pessoa Natural

Em sentido amplo, o domicílio engloba os seguintes conceitos:

6.1) Residência: é o local em que a pessoa se estabelece com o intuito de permanência.

6.2) Domicílio: significa qualquer local em que a pessoa pode ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil.
Por regra é o local de residência da pessoa. Eventualmente pode ser também o seu local de trabalho. Desse modo,
o novo Código Civil consolida dois domicílios para a pessoa natural: a residência e o local do trabalho. Quanto à
origem, o domicílio pode ser assim classificado.

6.2.a) Domicílio voluntário: aquele fixado pela vontade da pessoa.

6.2.b) Domicílio necessário ou legal: é aquele imposto pela lei, tendo em vista regras específicas que constam
no Código Civil, a saber: o domicílio dos absolutamente incapazes (art. 3º e 4º do novo Código Civil) é o mesmo dos
seus representantes; domicílio do servidor público é o local em que exercer, com caráter permanente, as suas
funções; o domicílio do militar é o do quartel onde servir ou do comando a que se encontrar subordinado; o domicílio
do marítimo ou marinheiro é o do local em que o navio estiver matriculado; o domicílio do preso é o local em que o
mesmo cumpre a pena.

6.2.c) Domicílio contratual ou convencional: é aquele previsto no art.78 no CC, pelo qual “nos contratos escritos,
poderão os contratantes especificar o domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles
resultantes.”.

Obs.: Habitação ou moradia - é o local e que a pessoa eventualmente é encontrada.

7. Morte: põe fim à personalidade, pode ser classificada da seguinte forma:

7.1) Morte Real: ocorre quando a pessoa tem morte encefálica. Provada por um laudo médico e pelo atestado
de óbito.

7.2) Morte presumida: ocorre quando não há corpo presente, ou seja, não há como se provar a morte real.
Presente nas seguintes hipóteses:

7.2.a) Morte presumida sem declaração de ausência: O art. 7º do novo CC prevê dois casos, a saber:

- Desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a morte de quem estava em perigo
de vida hipótese semelhante à justificação (art. 88 da Lei de Registros Públicos).
- Desaparecimento de pessoa envolvida em campanha militar ou feito prisioneiro, não sendo encontrado até
dois anos após o término da guerra.

- Morte presumida com declaração de ausência - ocorre nos casos em que a pessoa está em local incerto e
não sabido, não havendo indícios das razões do seu desaparecimento. Envolve três fases específicas, com
tratamento entre os arts 22 a 39 do Novo Código Civil:

a) A curadoria dos bens do ausente;


b) Sucessão provisória;
c) Sucessão definitiva

- Comoriência: leva-se em consideração o momento da morte. Se duas ou mais pessoas, parentes, ou não,
falecerem em uma mesma ocasião, não havendo prova efetiva de quem faleceu primeiro. Haverá presunção
relativa de que o falecimento ocorreu ao mesmo tempo.

8. Pessoa Jurídica: é o conjunto de pessoas ou bens arrecadados, com existência distinta dos membros que o
compõem. O novo código Civil adota a teoria da realidade técnica que seria uma conjunção da teoria da ficção
e da teoria da realidade orgânica.
8.2 Requisitos para a Constituição da Pessoa Jurídica
A doutrina aponta três requisitos para a constituição de uma pessoa jurídica, a saber:

8.2.a). Vontade humana criadora


É necessário que o grupo de pessoas, ao se reunir, tenha a intenção de criar uma pessoa jurídica. Quando
há vontade para a criação de uma pessoa jurídica, que exercerá atividade empresarial, esse requisito é denominado
affectio societatis.

8.2.b) Licitude de seus objetivos


É necessário que o objetivo da pessoa jurídica seja lícito. Se uma pessoa jurídica for constituída com fins
lícitos e, com o decorrer do tempo, passa a distorcer suas finalidades, praticando atos ilícitos, poderá ser extinta.
Registre-se que a expressão licitude de objetivos deve ser entendida de modo amplo, de forma a inserir em seu
conceito a moralidade dos atos e objetivos perseguidos.
8.2.c). Observância das condições legais
As condições que a lei impõe também devem ser observadas pelas pessoas jurídicas, até porque elas só
existem em razão de um expediente técnico criado pelo ordenamento, em razão das finalidades perseguidas. São
condições impostas pela lei:

a) Elaboração do ato constitutivo


Sendo uma associação, que tem por natureza a inexistência de fins lucrativos, deve-se elaborar um Estatuto
como ato constitutivo. Se a pessoa jurídica tiver fins lucrativos, seja uma sociedade civil ou comercial, elabora-se um
Contrato Social como ato constitutivo. As fundações possuem como ato constitutivo o testamento ou a escritura
pública.

b) Registro do ato constitutivo


Somente a partir do registro a pessoa jurídica passa a ter existência legal. O artigo 45 do Código Civil dispõe
que a existência legal da pessoa jurídica começa com o registro dos seus atos constitutivos. Esses atos deverão ser
registrados no Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No caso de sociedade comercial, porém, o contrato
social deverá ser registrado na Junta Comercial. Uma sociedade de advogados terá seu registro na subseção da
Ordem dos Advogados do Brasil mais próxima. Para a maioria das pessoas jurídicas basta o registro para que elas
tenham existência legal.
Enquanto o ato constitutivo não for registrado, a pessoa jurídica não passa de uma mera sociedade de fato.
O artigo 20, § 2. º, do Código Civil de 1916 dispunha que a sociedade de fato não tem legitimidade ativa, mas tem
legitimidade passiva. Tal disposição restou derrogada em razão do texto do artigo 12, inciso VII, do Código de
Processo Civil que deu legitimidade tanto ativa quanto passiva, no aspecto processual, às sociedades de fato.

c) Autorização do governo
Algumas sociedades necessitam dessa autorização para constituição e funcionamento válido (artigo 45,
última parte, do Código Civil). O artigo 20, § 1. º, do Código Civil de 1916 mencionava, exemplificativamente,
algumas das sociedades que precisam da autorização do governo, a exemplo das Cooperativas, Caixas Econômicas
etc. Esse rol é meramente exemplificativo, visto que hoje todas as instituições financeiras, consórcios e muitas outras
foram inseridas nessa relação por meio de lei, necessitando da autorização do governo. O Código Civil atual não
trouxe disposição paralela visto ser a matéria de direito público, não sendo da alçada do Código Civil.

9. Classificação da pessoa jurídica de direito privado:

9.1) Corporações: conjunto de pessoas, subclassificadas da seguinte forma:


- Associações: conjunto de pessoas sem que haja finalidade lucrativa instituída pelos seus membros.

- Sociedades: conjunto de pessoas em que há fim lucrativo determinado. Podem ser sociedades simples (sem
fins empresários) ou empresárias.

- Corporações sui generis – são organizações religiosas e partidos políticos. Há entendimento pelo qual
continuam sendo sociedades.

9.2) Fundações: conjuntos de bens arrecadados que devem ter finalidades morais, culturais, religiosas ou de
assistência. Sua formação, atuação e extinção devem ser fiscalizadas pelo Ministério Público, por meio da curadoria
das fundações.

10) Domicílio da Pessoa Jurídica: as regras estão previstas no art. 75 do novo CC, a saber:

- O domicílio dos Estados e Territórios são as respectivas capitais;


- Os Municípios têm domicílio no lugar onde funciona a sua administração
- As pessoas jurídicas de direito privado têm domicílio no lugar onde funcionam as respectivas diretorias e
administrações, ou onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos.

11) Desconsideração da Personalidade Jurídica: prevista no art. 50 do novo CC, quebra com a regra tradicional pela
qual a pessoa jurídica não se confunde com os seus membros. Assim, nos casos de desvio de finalidade ou de
confusão patrimonial, o sócio ou administrador que agir em abuso de direito pode ser responsabilizado. Mas a
desconsideração deve ser utilizada com responsabilidade. A Jurisprudência, muitas vezes, estende a
responsabilidade de uma empresa de uma empresa para outra, também em casos de abuso, teoria que é conhecida
como sucessão de empresas.

12) Entes ou grupos despersonalizados: não constituem pessoas jurídicas:

a) Família: seja decorrente de casamento, união estável ou entidade monoparental;


b) Espólio: conjunto de bens formado com a morte de alguém;
c) Herança jacente e vacante nos termos dos arts. 1819 e 1823, não deixando a pessoa sucessores, os
seus bens devem ser destinados ao Poder Público
d) Massa falida: conjunto de bens formado com a quebra ou decretação de falência de uma pessoa
jurídica
e) Sociedade de fato: grupos despersonalizados presentes nos casos envolvendo empresas que não
possuem sequer constituição, bem como a União de pessoas impedidas de casa, casos de
concubinato impuro.
f) Sociedade irregular: ente despersonalizado constituído por empresas que possuem estatuto que não
foi registrado, caso, por exemplo, de uma sociedade anônima não registrada na Junta Comercial
estadual.
g) Condomínio:conjunto de bens em co-propriedade, com tratamento específico no livro que trará do
direito das coisas.

13) Dos bens

13.1) Conceito: São coisas que proporcionam ao homem alguma utilidade, sendo suscetível de apropriação.

13.2) Classificação:

A) Quanto à tangibilidade:

- Bens corpóreos, materiais ou tangíveis: são aqueles bens que possuem existência corpórea,
podendo ser tocados. Exemplos: uma casa, um veículo, um animal.

- Bens incorpóreos, imateriais, intangíveis: são aqueles com existência abstrata e que não podem ser
tocados pela pessoa humana. Ex: direitos autorais, penhor, ar, sentimentos.

B) Quanto à mobilidade:

B.1) Bens imóveis: São aqueles que não podem ser removidos ou transportados sem a sua
deterioração ou destruição. Admitem a seguinte subclassificação:

- Bens imóveis por natureza ou essência: são formados pelo solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente (art. 79 do novo CC)
- Bens imóveis por acessão física industrial ou artificial: são formados por tudo o que o homem incorporar
permanentemente ao solo, não podendo removê-lo sem destruição ou deterioração. Tais bens imóveis têm origem
em construções e plantações, situações em que ocorre a intervenção humana.

- Bens imóveis por acessão física intelectual: conceito relacionado com tufo o que foi empregado intencionalmente
para exploração industrial, aformoseamento e comodidade.

- Bens imóveis por acessão física e intelectual: conceito relacionado com tudo que foi empregado intencionalmente
para a exploração industrial, aformoseamento e comodidade. São os bens móveis que foram imobilizados pelo
proprietário, constituindo uma ficção jurídica, sendo também denominados côo pertenças essenciais. Ex: Um trator
incorporado a uma fazenda, essencial para as atividades nela desenvolvidas.

- Bens imóveis por disposição legal: tais bens são considerados como imóveis, para que possam receber melhor
proteção jurídica. Exemplo: Hipoteca

B.2) Bens móveis: os bens móveis são aqueles que podem ser transportados, por força própria ou de
terceiro, sem deterioração ou destruição. Os bens móveis podem ser assim subclassificados:

- Bens móveis por natureza: são bens corpóreos que se podem transportar sem qualquer dano, por força própria ou
alheia. Quando o bem móvel puder se mover de um local para outro, por força própria, será denominado bem móvel
semovente, como é o caso dos animais.

- Bens móveis por antecipação: são os bens que eram imóveis, mas que foram mobilizados por uma atividade
humana. Ex: árvore removida do solo, lenha cortada.

- Bens móveis por determinação legal: surgem situações em que a lei determina que o bem é móvel. Ex: Direitos
autorais e energias.

14) Classificação quanto à fungibilidade:

- Bens infungíveis: são aqueles que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e
qualidade.

- Bens fungíveis: nos termos do art. 85 do novo CC, são os bens móveis que podem ser substituídos por outras da
mesma espécie, qualidade e quantidade.

15) Classificação quanto à consuntibilidade:

15.1)Dois parâmetros de classificação são utilizados pelo Código Civil:

- Se o consumo do bem implica em destruição- consuntibilidade física ou fática

- Se o bem pode ser ou não objeto de consumo, ou seja, se pode ser alienado – consuntibilidade jurídica
ou de direito.

Para fins jurídicos, entendemos que merece maior pertinências o primeiro critério (consuntibilidade física), eis
que as regras quanto à possibilidade de alienação serão estudadas oportunamente, pela visualização de casos
específicos. Desse modo, vejamos a classificação em questão:

15.2) Bens consumíveis: são bens móveis, cujo uso importa na destruição imediata da própria coisa (art. 86 do
novo CC)

15.3) Bens inconsumíveis: são aqueles que proporcionam reiteradas utilizações, permitindo que se retire a sua
utilidade, sem deterioração. O Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 26, traz a classificação muito próxima
da relacionada com a consuntibilidade física. Pela Lei 8.078/1990, os produtos ou bens podem ser classificados em
duráveis e não duráveis. Os bens duráveis desaparecem facilmente com o consumo, ao contrário dos bens não
duráveis. Esse critério de consuntibilidade adotado pelo Código de Defesa do Consumidor.

16) Classificação quanto à divisibilidade:


16.1) Bens divisíveis – São os que podem se partir em partes reais e ideais, formado cada qual um bem
individualizado autônomo e distinto.

16.2) Bens indivisíveis – são os bens que não podem ser partilhados, pois deixariam de formar um todo perfeito,
gerando desvalorização, na grande maioria das vezes. A indivisibilidade pode decorrer da natureza do bem, de
imposição legal ou da vontade de seu proprietário.

16.3) Classificação quanto à individualidade:


- Bens singulares ou individuais: são bens singulares aqueles que, embora reunidos, possam ser considerados
independentes em relação aos demais (art. 89 do novo CC)

- Bens coletivos ou universais: são os bens que se encontram agregados em um todo. Os bens coletivos são
constituídos por várias coisas singulares, consideradas em conjunto e formando um todo individualizado. Os Bens
podem decorrer de uma universalidade fática ou jurídica.

16.4) Classificação quanto à dependência em relação a outro bem (bens reciprocamente considerados)

a) Bens principais e bens independentes: são os bens que existem de maneira autônoma e independente, de
forma concreta ou abstrata, conforme o art. 92 do novo código civil.
b) Bens acessórios de dependentes: são os bens cuja existência e finalidade pressupõem a um outro bem,
denominado bem principal. Por essa razão, quem for o proprietário do bem principal será também do bem
acessório; a natureza jurídica do acessório será a mesma do principal. São bens acessório, previstos no
ordenamento jurídico brasileiro:

- Frutos: são bens acessórios que têm sua origem, que nascem do bem principal, mantendo a integridade
desse último, sem diminuição da quantidade ou da substância.

- Produtos: são bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a quantidade e substância dessa
última.

- Pertenças: são bens destinados a servir um outro bem principal, por vontade do trabalho intelectual do
proprietário. A pertença pode ser essencial ou não.

- Partes integrantes: são bens acessórios que estão unidos ao bem principal, formando com este último um
todo independente.

- Benfeitorias: são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou
melhora da sua utilidade.

• Necessárias: são essenciais ao bem principal, são as que têm por fim conservar ou evitar que o bem
se deteriore
• Úteis: são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa, tornando-a mais útil.
• Voluptuárias: são as de mero deleite, de mero luxo, que não facilitam a utilidade da coisa, mas
apenas tornam mais agradável o uso.

17) Classificação em relação ao titular do domínio:

17.1) Bens particulares e privados: são os que pertencem às pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

17.2) Bens Públicos ou do Estado: são os que pertencem a uma entidade de direito público interno, como o caso da
União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entre outros. Podem ser classificados como:

• Bens de uso geral e comum: são bens destinados à utilização do público em geral, sem necessidade
de permissão especial, caso, por exemplo, das praças, jardins, ruas, estradas, mares, rios, praias,
golfos, entre outros.
• Bens de uso especial: são os edifícios e os terrenos utilizados pelo próprio Estado para a execução
de serviço público especial, havendo uma destinação especial, denominada afetação
• Bens dominicais ou dominiais: são os bens públicos que constituem o patrimônio disponível e
alienável da pessoa jurídica de direito público, abrangendo tanto móveis quanto imóveis.

18) Dos fatos

1.1. Fatos Naturais


Podem ser:
• Ordinários: são aqueles que normalmente acontecem e produzem efeitos relevantes para o direito
(exemplos.: nascimento, morte etc.);
• Extraordinários: são aqueles que chamamos de caso fortuito e força maior, tendo importância para o
direito porque excluem qualquer responsabilidade (exemplo: tempestade, etc.).

1.2. Fatos Humanos


Também chamados de atos jurídicos em sentido amplo, podendo ser:
• Ilícitos: é a conduta voluntária ou involuntários que está em desacordo com o ordenamento jurídico.
• Lícitos: a conseqüência da prática de um ato lícito é a obtenção do direito. O Código Civil trata do ato
jurídico em sentido estrito e do negócio jurídico como sendo ambos os negócios jurídicos:
• Ato jurídico em sentido estrito (meramente lícito): configura-se quando houver objetivo de mera
realização da vontade do titular de um determinado direito. Ex: reconhecimento de um filho, pagamento
de uma obrigação.
• Negócio Jurídico: é mais amplo porque permite a obtenção de múltiplos efeitos não necessariamente
previstos em lei. Quando se fala em negócio jurídico, sempre se lembra de contrato. Quando um ato
qualquer tem por finalidade modificar ou criar direitos, não será apenas um ato jurídico, mas sim um
Negócio Jurídico. Então, pode-se dizer que o negócio jurídico possibilita a obtenção de múltiplos direitos
e é bilateral, tendo por finalidade criar, modificar ou extinguir direitos.

2. REQUISITOS DE EXISTÊNCIA DOS ATOS JURÍDICOS

A teoria dos atos de inexistência surgiu no Direito de Família para resolver os problemas dos casamentos
inexistentes, visto que o Código Civil dispunha somente sobre casamentos nulos e anuláveis. Como o rol do artigo
183 do Código Civil de 1916 era taxativo, os doutrinadores passaram a adotar a teoria dos atos inexistentes, tendo
em vista haver o problema de ser considerado válido um casamento entre pessoas do mesmo sexo.
18.1) Elementos essenciais do negócio jurídico

Presente os requisitos de existência, dever-se-á observar se o contrato é válido ou não. Os requisitos de


validade estão dispostos no artigo 104 do Código Civil, quais sejam:

a) Agente Capaz
Para que um contrato seja válido, o agente deverá ser capaz. No caso de incapacidade, esta deverá ser
suprida pelos meios legais. A incapacidade absoluta será suprida pela representação e a incapacidade relativa será
suprida pela assistência.

b) Objeto Lícito
O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. A redação do artigo 104, inciso II, do Código
Civil. É mais perfeita que a do artigo 82 do Código Civil de 1916, que falava apenas em objeto lícito. O artigo 166,
inciso II, do Código Civil, diz que é nulo o negócio jurídico, quando o objeto for ilícito, impossível ou indeterminável.
A impossibilidade do objeto pode ser física ou jurídica. Impossibilidade física ocorre quando a prestação não
pode ser cumprida por nenhum humano. Impossibilidade jurídica ocorre quando a prestação esbarra numa proibição
expressa da lei (exemplo: o artigo 426 do Código Civil, que proíbe herança de pessoa viva).

c) Forma Prescrita e Não Defesa em Lei


Nos casos em que a lei dispõe sobre a forma que o ato deverá ser realizado, esta forma será considerada
requisito de validade (exemplo: venda de imóveis – a lei dispõe que será válido somente por escritura pública).
O ato nulo é aquele que vem inquinado com defeito irremediável, estando ausente um elemento substancial
para que o negócio jurídico ganhe validade. O artigo 166 do Código Civil determina que o negócio nulo é aquele
celebrado por pessoa absolutamente incapaz; o negócio que tem objeto ilícito; o motivo determinante também ilícito;
o negócio jurídico que tenha por finalidade fraudar a lei; o negócio jurídico sem forma prescrita em lei ou que venha
preterir alguma solenidade formal ou ainda qualquer outra hipótese em que a lei taxativamente declarar nulo.
Inovou o Código Civil ao determinar que a simulação é uma hipótese de negócio jurídico nulo (artigo 167). A
simulação é uma declaração enganosa da vontade que visa produzir efeito diferente do ostensivamente indicado.
Oferece uma aparência diferente do efetivo querer das partes. As partes fingem o negócio que de forma alguma
querem ou desejam. É uma burla intencional, um conluio das partes que almejam disfarçar a realidade enganando
terceiro.
Temos duas espécies de simulação, a absoluta e a relativa. Na simulação absoluta não há qualquer negócio
jurídico a ser encoberto, enquanto na simulação relativa existe um negócio jurídico a ser encoberto. Quando o
proprietário de um imóvel, para motivar uma ação de despejo contra o inquilino, finge vender o imóvel a terceiro,
temos uma simulação absoluta, pois não existe venda alguma por trás do ato fraudulento. Já na hipótese da venda
do imóvel consignando preço inferior para ser pago menos imposto, temos uma simulação relativa, pois temos um
negócio real e um negócio aparente.
O ato nulo, por ser de ordem pública, possui um defeito irremediável, viola o interesse público e deve ser
fulminado através de uma ação declaratória. Por tais razões, a eficácia é retroativa, para que não produza qualquer
efeito válido. O ato nulo pode ser alegado por qualquer pessoa, pelo Órgão do Ministério Público e até pelo Juiz de
ofício. O ato nulo não pode se ratificado e o defeito não convalesce, sendo um ato imprescritível.

19) DA REPRESENTAÇÃO

Inovou o Código Civil de 2002 ao introduzir um Capítulo exclusivamente para tratar da representação. O
Anteprojeto de 1972 na Parte Geral, com colaboração do Ministro Moreira Alves já tratava desse Capítulo.
De acordo com o artigo 115 do Código Civil, os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo
interessado. Temos então uma representação legal e outra convencional, decorrendo uma da norma, como a do pai
que representa o filho, e outra da vontade das partes, como no caso do mandato.
O limite da representação é exatamente o limite de poderes que vincula o representante com o representado
(artigo 116 do Código Civil).
Hoje o artigo 117 do Código Civil autoriza o contrato consigo mesmo, isto é, a convenção em que um só
sujeito de direito, está revestido de duas qualidades jurídicas diferentes, atuando simultaneamente em seu próprio
nome, bem como no nome de outrem. Temos como exemplo, a possibilidade da pessoa vender um bem a si mesmo,
através de um contrato de mandato. O Código Civil de 1916 rechaçava a hipótese (artigo 1.133).
O representante que pratica um negócio jurídico contra o interesse do representado, na hipótese do fato ser
do conhecimento do terceiro ou no fato do mesmo ter a obrigação de ter a ciência gera anulabilidade (artigo 119 do
Código Civil). Portanto, o terceiro de boa-fé jamais pode alegá-la se obrou com desídia.

20) CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO

20.1) Condição
* Conceito e Elementos
É a cláusula acessória, que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. Prescreve o
artigo 121 do Código Civil: "Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes,
subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto".
A condição tem dois elementos fundamentais: a) Futuridade e b) Incerteza. Exemplo: Compro uma escultura
se esta ganhar prêmio.
A condição afeta sempre a eficácia do negócio, nunca a sua existência, uma vez que a vontade foi legítima.
20.2. Condições Possíveis e Impossíveis
A condição é possível quando realizável física ou juridicamente.
A condição é impossível quando não realizável física ou juridicamente. Exemplo: Doação de dinheiro pela
captura de mula-sem-cabeça. A impossibilidade deve alcançar todas as pessoas. A condição não é impossível se
atingir apenas uma pessoa ou pequeno grupo.
A condição juridicamente impossível fere a lei, a moral e os bons costumes. Exemplo: Vendo um carro e faço
doação se beneficiário provocar a morte de alguém. Exemplo: Condição baseada na prostituição.

20.2.a) Condições Lícitas e Ilícitas


Condições lícitas são aquelas que estão de acordo com a lei e os bons costumes.
Condições ilícitas são as contrárias às leis e aos bons costumes.

20.2.b) Quanto à origem da condição


Causais – são aquelas que têm origem em eventos naturais. Ex: Alguém se compromete a vender um bem a
outrem caso chova.
Potestativas - são as condições em geral, isto é, um acréscimo aposto ao ato jurídico pela vontade das
partes.
* simplesmente ou meramente potestativas: dependem da vontade intercaladas de duas partes, sendo
totalmente lícitas: Ex: Alguém institui uma liberalidade a favor de outrem, dependente de um desempenho artístico
(cantar num espetáculo)
* puramente potestativas: dependem de uma vontade unilateral, sujeitando-se ao puro arbítrio de uma das
partes. São ilícitas, segundo esse mesmo dispositivo. Ex: Dou-lhe um veículo, se eu quiser.
* Mistas: são aquelas que dependem, ao mesmo tempo, de uma vontade somado a um evento natural. Ex:
dou-lhe um veículo se você cantar amanhã, devendo estar chovendo durante o espetáculo.
20.2.b) Condições Suspensivas e Resolutivas
Condições suspensivas são aquelas cuja eficácia do ato fica protelada até a realização do evento futuro e
incerto. Exemplo: A doação do imóvel só vai ocorrer com o casamento.
Condições resolutivas são aquelas cuja eficácia do ato opera desde logo (entabulamento) e se resolve com a
ocorrência do evento futuro e incerto. Exemplo: Empresto o quadro enquanto você morar em São Paulo.
Na condição suspensiva há uma expectativa de direitos. Exemplo: Compro o carro se não sair modelo novo.
O negócio se aperfeiçoa desde logo, sujeitando-se ao desfazimento com a ocorrência de evento futuro e
incerto no acordo. Se frustrar a condição, o negócio se desfaz. Exemplo. Vendo um pesqueiro sob a condição dos
peixes se reproduzirem em cativeiro em dois anos.
20.2.d) Negócios Jurídicos Que Não Admitem Condição
São os negócios que depende de norma cogente. Estão presentes no Direito de Família e Sucessão. Traria
incerteza aos institutos públicos. Exemplo: Ninguém pode se casar sob condição; ninguém pode aceitar ou renunciar
a herança sob condição (artigo 1808 do Código Civil).

20.3 Termo
É o dia em que nasce e se extingue o negócio jurídico. É a cláusula que subordina a eficácia de um negócio
jurídico a um evento futuro e certo.
A diferença entre a condição e o termo é que na condição, o evento é futuro e incerto. Já no termo, o evento
é futuro e certo.

21. PRAZO
21. 1 Conceito
É o lapso de tempo entre a manifestação válida de vontade e a superveniência do tempo.
É o lapso de tempo entre dois termos, o inicial e o final. Isso porque a manifestação de vontade pode estar
subordinada a uma condição.
Os prazos são contados por unidade de tempo - hora - dia - mês - ano.
Desde o Direito Romano - Exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento.
ANO - Lei 810/49 - Período de doze meses do início ao dia e mês correspondente ao ano seguinte. Exemplo:
8 de março de 1989 a 8 de março de 1990.
MÊS - (artigo 132, § 3.º) – os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência. Por exemplo: período de um mês – 30 de janeiro e deveria recair no dia 30
de fevereiro. Por não haver tal dia, recai no dia 1.º de março.
MEADO - (artigo 132, § 2.º) – 15.º dia de cada mês.
FERIADOS - São datas festivas em que, em princípio, não se trabalha. Não inclui "ponto facultativo" e "dia
santo".

21.2 Contagem
Art. 132, "caput", do Código Civil - Exclui o dia do começo incluindo-se o do vencimento. Esse princípio é
adotado em todos os ramos do direito, afora o Direito Penal. O tempo de pena inclui o dia do começo. Utiliza-se o
calendário comum. Não se computam frações de dia.
Contagem da hora – artigo 132, § 4.º, do Código Civil - Minuto a minuto. Exemplo: 13h30min às 14h30min h.
Se o prazo cair no feriado - prorroga-se até dia útil seguinte.
Artigos 133 e 134 - Prazo em favor do herdeiro e do devedor.

22. ENCARGO OU MODO DO ATO JURÍDICO


22.1 Conceito
É uma limitação trazida a uma liberalidade. É uma restrição a uma vantagem para o beneficiário de um
negócio jurídico.
O encargo é diferente da condição porque é coercitivo, isto é, a parte não pode se eximir de cumprir o
encargo.
O encargo vai aparecer em doações ou legados, não precisando ser exclusivamente gratuito.

22.2 Espécies
1.º - Encargo propriamente dito – é aquele estabelecido no artigo 136 do Código Civil, não ocorrendo a
suspensão do direito enquanto não cumprido o encargo. Temos como exemplo a doação de um terreno para a
construção de um hospital. O terreno é automaticamente doado antes mesmo do início das obras.
2.º - É uma variedade de condição, não sendo encargo. É uma condição cujo evento apresenta como
elemento de fato certa modificação de alguma vantagem auferida pela parte. (artigo 136, fine, do Código Civil).
3.º - É aquele que se apresenta como mero conselho ou recomendação. Não há encargo por não obrigar
juridicamente.
4.º - É aquele que a modificação da vantagem auferida implica numa prestação impossível física ou
juridicamente - Ou a modificação é não escrita ou invalida o ato (juridicamente impossível) (artigo 137, do Código
Civil).

23. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

São aqueles defeitos que decorrem, em geral, da manifestação de vontade. São seis as hipóteses de vícios,
se subdividindo em vícios do consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) e o vício social da fraude
contra credores. Foi retirada a simulação dos vícios, sendo inserida a hipótese entre os atos nulos.
Nos vícios do consentimento, há uma contradição entre aquilo que a pessoa deseja e o que ela faz, ou seja,
o que a pessoa manifesta não é o que ela realmente desejaria fazer. A vontade declarada não corresponde com a
intenção do agente. Nos vícios sociais, a vontade declarada corresponde exatamente à intenção do agente,
entretanto uma intenção de prejudicar terceiros ou fraudar a lei.
Nos seis casos, o contrato será anulável, havendo um prazo decadencial de 4 (quatro) anos para
requerer a anulação. Caso não seja respeitado esse prazo, o contrato não poderá mais ser anulado. O decurso
do prazo decadencial vem a sanar o defeito do negócio jurídico (artigo 178, incisos I e II, do Código Civil).

23.a) Vícios do Consentimento


* Erro e ignorância
No erro, a pessoa se engana sozinha a respeito de uma circunstância importante que, se ela conhecesse,
não faria o negócio. O erro é de difícil prova, tendo em vista o que se passa na mente da pessoa; existe um
elemento subjetivo. O fato de o legislador estabelecer algumas exigências (artigo 138 do Código Civil), torna as
ações baseadas no erro muito raras. O erro deverá ser substancial, escusável e real para que o contrato seja
anulável.
O erro é substancial quando diz respeito a aspectos relevantes do negócio, ou seja, só se pode falar em erro
se a pessoa se engana a respeito de algo que, se ela soubesse, jamais faria o negócio. Se há um engano a respeito
de um aspecto irrelevante, não será considerado um erro substancial, mas sim erro acidental, que não vicia a
vontade.
Escusável é o erro aceitável, desculpável, o erro que a maioria das pessoas cometeria.
Real é o erro que causa um efetivo prejuízo. Há dois critérios para se saber se um erro é escusável ou não:
• Homo medi us: toma-se por base a média das pessoas. Se um homem médio também cometeria o
engano, o erro seria escusável. Não foi esse, entretanto, o critério aplicado pelos tribunais.
• Caso concreto: é o critério aplicado pelos tribunais.

É aplicado, por analogia, a cada caso concreto o critério do artigo 152 do Código Civil (que trata da
coação), que determina que o juiz leve em conta as condições pessoais da vítima (deve-se levar em conta a
idade, a saúde, o sexo, temperamento, e outras condições). O juiz deve levar em conta as condições pessoais
para saber se ela seria levada ao erro (exemplo: uma pessoa semi-analfabeta seria mais facilmente levada ao
erro do que alguém que possui curso superior).
O Código Civil dispõe, no artigo 139, incisos I a III, quando haverá erro substancial, quando haverá aspecto
relevando o negócio. Será relevante, então, o erro que diz respeito à natureza do negócio (a pessoa se engana a
respeito da espécie do contrato que celebrou); ao objeto principal da declaração (a pessoa adquire coisa diferente
daquela que imaginava estar adquirindo); às qualidades essenciais do objeto (a pessoa adquire o objeto que
imaginava, mas engana-se quanto às suas qualidades); e à pessoa (nos casos de contratos personalíssimos ou no
caso de se contratar um profissional que se acreditava ser bom e não era).
Em princípio, não se pode alegar erro de direito, ou seja, alegar que não se conhecia a lei. A ignorância da
lei, entretanto, só não poderá ser alegada em caso de descumprimento da lei (artigo 3.º da Lei de Introdução ao
Código Civil). O desconhecimento da lei poderá ser alegada para justificar a boa-fé (ex.: firma-se um contrato de
importação de uma mercadoria e logo após descobre-se que existia uma lei que proibia a importação de tal
mercadoria. Poder-se-á alegar ignorância da lei para anular o contrato). O artigo 139, inciso III, do Código Civil,
expressamente adite o erro de direito e anulação do negócio jurídico, desde que não implique em recusa à aplicação
da lei e desde que seja o único ou principal motivo do negócio.

Deve-se distinguir o erro quanto às qualidades essenciais do objeto e vício redibitório, que possuem ações e
prazos distintos.
Vício redibitório é o defeito oculto (não aparece facilmente) que torna a coisa imprestável ao uso a que se
destina. É de natureza objetiva. As ações cabíveis são chamadas de Edilícias e são de duas espécies: ação
redibitória (para rescindir contrato); e ação quanta minoris (pedido de abatimento no preço). O prazo dessa ação é
decadencial de trinta (30) dias para bem móvel e um (1) ano para bem imóvel (artigo 445 do Código Civil). No
Código de Defesa do Consumidor o prazo é de 30 dias para bem não durável e 90 dias para bem durável.
Erro quanto às qualidades essenciais é de natureza subjetiva e a ação cabível é a anulatória, com prazo
decadencial de 4 anos.
O artigo 141 do Código Civil fala do erro em caso de mensagem “truncada”, ou seja, pode haver erro no
negócio quando há algum defeito na mensagem devido ao instrumento ou à pessoa intermediária. Quando a
mensagem é transmitida erroneamente por meio de instrumento ou de intermediário, poderá ser considerado vício
do consentimento, sendo o contrato anulável.
O artigo 140 do Código Civil dispõe sobre o falso motivo (falsa causa) como razão determinante do contrato.
Se a causa do contrato, desde que seja colocada expressamente como razão determinante do negócio, for
declarada falsa, o contrato poderá ser anulado (exemplo: uma pessoa fica sabendo por terceiros que tem um filho;
tentando ajudar, faz uma doação, mas dispõe expressamente na escritura que está fazendo a doação porque foi
informada que o donatário é seu filho; caso seja comprovado que o donatário não é filho, a doação poderá ser
anulada).

*Dolo
A pessoa é induzida em erro pelo outro contratante ou por terceiro. Existe um elemento objetivo de
induzimento, sendo mais fácil a sua prova, tendo visto poder haver testemunhas. Dolo é o induzimento malicioso
à prática de um ato que é prejudicial ao agente.
Segundo o disposto no artigo 146 do Código Civil, o dolo pode ser:
• Principal: aquele que é a causa do negócio, ou seja, é o dolo que foi responsável pelo negócio. Se não
houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio.
• Acidental: aquele que a seu despeito o negócio teria sido realizado, mas em condições melhores para a
vítima. Como não é a causa do negócio, o dolo acidental não anula o mesmo, mas dá direito a perdas e
danos.
Há uma segunda classificação doutrinária, que divide o dolo em:
• Dolus bonus (dolo bom): é o dolo tolerável nos negócios em geral, ou seja, as pessoas não se sentem
enganadas porque já esperam esse tipo de dolo; é normal, fazendo parte do comércio, e não causa
nulidade do negócio.
• Dolus malus (dolo mau): é aquele exercido com a intenção de prejudicar e, se for provado, causa
nulidade do negócio.

O dolo pode ser exercido por ação ou por omissão. Geralmente o dolo é praticado por ação. O artigo 147,
no entanto, prevê um dolo por omissão, situação em que um dos contratantes omite uma circunstância relevante
que, se fosse conhecida pelo outro contratante, não haveria o negócio. O legislador quis, com isso, proteger a
boa-fé nos negócios. Essa omissão dolosa pode ser chamada de reticência.
O dolo pode ser da parte ou de terceiro. O Código Civil tem uma regra especial sobre o dolo de terceiro. Em
geral, o dolo de terceiro não anula o ato, visto que o terceiro não é parte no negócio, salvo se a outra parte souber do
dolo. Então, no caso de o terceiro agir por si só, não tendo o outro contratante conhecimento do dolo, só caberá à
vítima ação de perdas e danos contra o terceiro que agiu de má-fé. Dispõe o artigo 148: "Pode também ser anulado
o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em
caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a
quem ludibriou".
Ainda, o dolo pode ser unilateral e bilateral. O dolo bilateral é quando os dois contratantes tentam enganar-se
um ao outro, ou seja, há dolo de ambas as partes. Neste caso, não há ação cabível para nenhuma das partes, visto
terem ambas agido de má-fé.
* Coação
Ocorre quando alguém força uma pessoa para que ela faça ou deixe de fazer alguma coisa. A coação
pode ser:
• Absoluta: quando o coator usa força física e a vítima não chega a manifestar a sua vontade, agindo
mecanicamente. Neste caso, o ato é inexistente, visto que não houve um dos requisitos de existência do
negócio jurídico, que é a manifestação de vontade. Não é um vício do consentimento, visto que sequer
houve o consentimento;
• Relativa: também chamada de coação moral, ocorre quando o coator faz uma grave ameaça à vítima,
que terá a opção de ceder ou de resistir à ela. Neste caso, existe um vício do consentimento, visto que
houve a manifestação da vontade, embora sob pressão.

Nos casos de negócio jurídico, o artigo 151 do Código Civil faz uma série de exigências para que se
caracterize a coação que vicie o negócio. São requisitos da coação:
• a coação deve ser a causa do negócio, ou seja, se não houvesse a coação não haveria o negócio;
• a coação deve ser grave, ou seja, quando causa um fundado temor, um receio na vítima. O artigo 153 do
Código Civil não considera coação o simples temor reverencial, visto que não tem gravidade suficiente;
• a coação deve ser injusta, ou seja, coação ilegal. O artigo 153, na 2.ª parte, não considera coação o
exercício normal de um direito;
• a coação deve ser proporcional, ou seja, o legislador exige que haja uma certa proporção entre os
prováveis prejuízos que a vítima possa ter. Deve-se levar em consideração que essa proporcionalidade é
relativa, visto que existem coisas que possuem grande valor estimativo;
• a coação deve recair sobre a pessoa do contratante, alguém de sua família ou seus bens. A doutrina
entende que a palavra “família” descrita na lei deve ser entendida no seu mais amplo sentido, devendo
ser incluídas todas as pessoas que possuem uma relação de intimidade com o contratante que está
sendo coagido.

O artigo 152 do Código Civil dispõe que, ao apreciar a gravidade da coação, o Juiz deve levar em conta
as condições pessoais da vítima, ou seja, a idade, a saúde, o temperamento, o sexo e outras circunstâncias que
possam influir na gravidade da coação.
A coação pode ser da própria parte ou de terceiro. O legislador entendeu que a coação é mais grave que o
dolo e, por conseqüência, a coação exercida por terceiro sempre viciará o ato, ainda que o outro contratante não
tenha sabido que houve coação por parte de terceiro.

* Estado de Perigo
Dispõe o artigo 156 do Código Civil: "Configura-se estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação
excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz
decidirá segundo as circunstâncias".
É, portanto, a hipótese de alguém, ameaçado por perigo iminente, anui em pagar preço desproporcional para
o seu livramento. Temos o exemplo do náufrago que oferece ao seu salvador recompensa exagerada ou o caso do
doente que se dispõe a pagar alta cifra para obter a cura pelo médico.
Nas hipóteses acima mencionadas não é nem justo que o salvador fique sem remuneração e nem justo que
o obrigado empobreça. O ato calamitoso não foi provocado por ninguém, apenas o contrato foi efetuado de maneira
desvantajosa. O perigo não é provocado por qualquer contratante, por isso o problema não é simples.
Diante da contraposição de interesses, em que ambas as partes obram de boa-fé, a mera anulação do
negócio jurídico, exonerando o declarante de cumprir sua obrigação conduz a um resultado injusto. O autor da
promessa anulada enriqueceu indevidamente. Nesses casos, o juiz deve apenas invalidar o negócio jurídico no que
exorbite como determinou o parágrafo único do artigo 156 do Código Civil.

* Lesão
Disciplina o artigo 157 do Código Civil: "Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou
por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1.º
Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
jurídico. § 2.º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito".
Portanto, a lesão é o prejuízo que um contratante experimenta quando, em contrato comutativo, deixa de
receber valor correspondente ao da prestação que forneceu. É uma instituição fundada na eqüidade e se inspira na
idéia de equivalência das prestações.
Apresenta como principais requisitos:
1.º) Comutatividade contratual. Deve haver presunção de equivalência das prestações, tendo ambas as
partes pré-ciência de suas prestações;
2.º) Desequilíbrio entre as prestações no momento da celebração do contrato;
3.º) Grande desproporção, gerando enriquecimento para uma das partes e empobrecimento para outra;
4.º) decisão judicial. Só o juiz pode rescindir ou modificar o contrato;
5.º) Possibilidade da parte reequilibrar o contrato.

23. d) Vício Social


No vício social embora a vontade se manifeste de acordo com o desejo dos contratantes, a intenção é
sempre de prejudicar um terceiro.

*Fraude contra credores


Baseia-se no princípio da responsabilidade patrimonial: “é o patrimônio do devedor que responde por suas
obrigações”. Ocorre a fraude contra credores quando um devedor pratica negócios que o torne insolvente. Ainda que
o devedor venda algum bem, se restarem bens suficientes para pagar as dívidas, não será considerado insolvente.
O Código Civil dispõe quatro situações em que podem ocorrer fraudes contra credores, as quais
passamos a analisar:
a) Alienações onerosas (artigo 159 do Código Civil)
É a situação mais comum de fraude contra credores. Se o devedor vende seus bens, tornando-se
insolvente, caracteriza-se fraude contra credores. O terceiro adquirente poderá estar de boa-fé (quando não sabe
da situação real do devedor) ou de má-fé (quando sabe da situação real do devedor). Havendo boa-fé do terceiro
adquirente, os bens não retornam ao devedor para o pagamento dos credores.
São dois os requisitos exigidos para que os credores tenham sucesso na ação contra o devedor que
vende seus bens para fraudar os credores:
• eventus damni: o credor deve provar que, com a venda, o devedor se tornou insolvente, não mais
possuindo bens suficientes para o pagamento de suas dívidas;
• consilium fraudis (má-fé do terceiro adquirente): não há necessidade de se provar que o terceiro
adquirente estava combinado com o devedor, bastando a prova de que ele estava ciente da situação
financeira do devedor.
• artigo 159 do Código Civil prevê duas presunções de má-fé do terceiro adquirente:
quando era notória a insolvência do devedor;
• quando o terceiro adquirente tinha motivos para conhecer a má situação financeira do devedor. Os
tribunais estabeleceram quando o terceiro teria motivos (parentes próximos, amizade íntima, negócios
feitos anteriormente etc.). Essa presunção não é absoluta, visto que o legislador deixou meio vago
quanto aos motivos.

b) Alienações à título gratuito e remissões de dívidas (artigo 158 do Código Civil)


Quando o devedor faz doações de seus bens. Quando se trata de doações, o único requisito que os
credores devem provar é a insolvência do devedor. Não há necessidade de prova da má-fé do terceiro
adquirente. Ocorre fraude na remissão de dívidas quando o devedor é credor de terceiro e deixa de cobrar o seu
crédito, perdoando o terceiro devedor.

c) Pagamento de dívida ainda não vencida, estando o devedor insolvente (artigo 162 do Código
Civil)
Quando o devedor já está insolvente e privilegia o pagamento a um credor que tem uma dívida ainda não
vencida. Se isso ocorrer, os outros devedores poderão ingressar com uma ação contra o credor que recebeu.
Havendo o pagamento de dívida não vencida, a presunção de fraude se torna absoluta.

d) Concessão de garantia real a um credor quirografário, estando o devedor insolvente (artigo 163
do Código Civil)
Quando o devedor, já insolvente, resolve privilegiar um dos credores quirografários, dando-lhe uma
garantia real (exemplo: hipoteca de um imóvel). Neste caso, os outros credores podem ingressar com uma ação
para anular essa garantia.

Remédio Jurídico: AÇÃO PAULIANA

* ATOS ILÍCITOS

As disposições sobre os atos ilícitos, no Código Civil, são encontradas nos artigos 1861 a 188. Dispõe o
artigo 186 do diploma civil que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. A verificação da culpa e a avaliação da
responsabilidade regulam-se pelo disposto nesse código, nos artigos 927 a 943 e 944 a 954.
Ato ilícito é, portanto, a infração ao dever de não lesar outrem. A lesão abarcada pelos dispositivos legais
trata-se daquela que cause dano, tanto de natureza patrimonial quanto de natureza moral.
O referido artigo impõe a todas as pessoas o dever de não lesar outrem (neminen laedere). Todo aquele que
causa um dano deve repará-lo, desde que a vítima prove que o causador do dano agiu com culpa. Assim, o diploma
civil pátrio adotou, como regra, a teoria subjetiva, segundo a qual se deve proceder na análise da existência de culpa
do agente.
A “culpa” pelos atos ilícitos, a que se refere o artigo 186, tem sentido amplo, abrangendo tanto o dolo quanto
a culpa em sentido estrito (imprudência, negligência ou imperícia) e recebe a denominação de culpa aquiliana, em
decorrência de sua origem (Lex Aquilia).
Em alguns casos, o ato poderá ser ilícito tanto na esfera civil quanto na penal, podendo, ainda, ser somente
um ilícito penal. Entretanto, deve-se salientar que, na maioria das vezes, o ilícito penal é também ilícito civil, pois
este sempre, ou quase sempre, gera um prejuízo à vítima.
As implicações decorrentes de um ilícito civil são diferentes daquelas que decorrem de um ilícito penal, uma
vez que aquele tem como conseqüência tornar o agente responsável pela reparação do dano, a teor do que dispõe o
artigo 186 do Código Civil (responsabilidade civil) sendo tal responsabilidade de cunho patrimonial. Com relação aos
ilícitos penais, ao agente é imputado castigo corporal, sendo a responsabilidade de cunho pessoal, não se
transferindo a terceiros como é possível de ocorrer na responsabilidade civil. A título de exemplo, temos a
responsabilidade civil do pai que responde pelo ato do filho, do patrão que responde por ato de seu empregado, do
Estado que responde pelos atos do servidor.

* DANO

Dano é o efetivo prejuízo sofrido pela vítima de um ato.


Este pode ser:
• patrimonial (material): atinge os bens da pessoa;
• extrapatrimonial (moral): atinge a dignidade, a honra, ou seja, ofende os direitos da personalidade.

Há possibilidade de cumulação das duas “modalidades” de dano.


Ao tratar do dano patrimonial, cabe ao prejudicado pleitear o “ressarcimento” do prejuízo. Quanto ao dano
moral, pleiteia-se a “reparação”.
O dano pode ser:
• direto;
• indireto: chamado de dano em ricochete, que é aquele que atinge uma pessoa, mas, indiretamente,
atinge um terceiro. Exemplo: matar o marido que paga pensão à esposa.

Todo prejuízo deve ser indenizado. Para se calcular o valor do dano, não se leva em conta o grau de culpa.
O cálculo da indenização é feito com base na extensão do prejuízo. Todo prejuízo que a vítima puder provar será
indenizado.
O dano deve ser certo e atual, ou seja, não se pode indenizar o dano futuro e meramente hipotético. Em
casos de lesões corporais, tem-se admitido o reexame das lesões.
O dano material segue, para sua apuração, a regra do artigo 402 do diploma civil (perdas e danos). Esse
artigo explica em que consistem as perdas e danos: o que a pessoa efetivamente perdeu (dano emergente) e o que
ela razoavelmente deixou de lucrar (lucro cessante). A prova do lucro cessante é mais difícil, pois é sempre baseada
no pretérito, ou seja, no quanto vinha rendendo em determinado período.
Além das perdas e danos, outras verbas costumam ser acrescidas, tais como a correção monetária, que
incide desde a data em que a pessoa sofreu o prejuízo, assim como os juros, que podem ser simples ou compostos.
Os juros legais são da ordem de 0,5% ao mês.
Juros simples são contados sempre sobre o montante inicial do prejuízo e incidem desde a data do fato,
conforme se verifica na Súmula n. 54 do Superior Tribunal de Justiça: “Mesmo quando o fato é mero ilícito civil,
sobre o valor do prejuízo incidem os juros moratórios desde a data do fato”.
Na indenização podem incidir outras verbas, como no caso de morte do chefe de família, em que cabe a
título de exemplo, o pagamento de 13.º salário. Quando o falecido se trata de arrimo de família, esta passa a receber
2/3 (dois terços) dos rendimentos mensais que o falecido ganhava, assim, considera-se que o restante (um terço)
era gasto pelo próprio do falecido.
O dano moral é aquele que afeta não o patrimônio, mas os direitos da personalidade (honra, dignidade,
intimidade etc.), e podem, conforme anteriormente mencionado, ser indenizado. O dano moral tem o sentido de
compensação, sem preocupação de encontrar um valor que corresponda exatamente ao valor que supra a dor
experimentada pela vítima. Trata-se de “consolo” à vítima.
As pessoas legitimadas a ingressar com ação pleiteando indenização por danos morais são as diretamente
prejudicadas, que também teriam direito à compensação do dano material.
A cumulação de pedidos de dano moral e dano material é possível, conforme se verifica na Súmula n. 37 do
Superior Tribunal de Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo
fato”. Assim, Permite-se a cumulação do ressarcimento do dano moral com a indenização do dano material.
A Constituição Federal/88 acolheu o princípio de que o dano moral é indenizável. O artigo 1.º da Constituição
assegura certos direitos básicos, dentre eles, o direito à dignidade. Além disso, determina o artigo 5.º, incisos V e X,
da Constituição Federal que é assegurada a reparação do dano moral junto com o material quando ocorre ofensa à
honra, à imagem ou à intimidade.
O dano moral atinge também a honra objetiva, que se trata daquilo que outras pessoas pensam sobre o
indivíduo. Tanto é que as pessoas jurídicas podem pleitear o ressarcimento pelo dano moral. As pessoas jurídicas
têm honra objetiva (bom nome, conceito na sociedade).
Surge o problema de como calcular o dano moral. Hoje, fala-se em buscar o valor como forma de
compensação. Esta compensação tem duplo caráter, pois visa ao ressarcimento e à sanção, não deixando
de observar o princípio da reserva legal (não há pena sem prévia cominação legal), posto que se trata de
princípio aplicável a todo o ordenamento jurídico, e não apenas no Direito Penal.
No Brasil não é seguido o sistema do tarifamento para apuração do prejuízo sofrido em decorrência do dano
moral. Aqui, utiliza-se o sistema aberto, ou seja, arbitramento pelo juiz a cada caso (artigos 944 a 946 do Código
Civil).
O Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962, que foi revogado pela Lei de Imprensa de 1967, trazia
alguns critérios para apuração do dano moral (situação econômica do ofendido e do ofensor etc.) Essas leis
estabelecem os valores mínimo e o máximo, que podem variar de 5 a 200 salários mínimos.
O Supremo Tribunal Federal diz que esse limite máximo estaria revogado tacitamente pela Constituição
Federal, que não estabeleceu limite, o que impede que haja interpretação restritiva.
Por esse motivo, a jurisprudência entende que devem ser levados em conta alguns critérios, como a situação
econômica do ofensor e do ofendido (“a dor do pobre vale menos que a dor do rico”).
Como falamos acima, o Novo Código Civil além de diferenciar já no artigo 186 o dano moral do dano
material, outorgou absoluta liberdade ao juiz para fixar o montante da indenização por danos morais, no mesmo
pensamento já adotado tanto pelo Supremo Tribunal Federal quanto pelo Superior Tribunal de Justiça. Além da
norma acima citada, temos o disposto no artigo 944: "A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo
único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente
a indenização".

24. Contratos

24.1. Conceito de Contrato


Contrato é um negócio jurídico bilateral, um acordo de vontades, com a finalidade de produzir efeitos no
âmbito do Direito.

24.2. Requisitos de Validade do Contrato


São os seguintes os requisitos de validade do contrato:
agente capaz;
objeto lícito, possível e determinado, ou pelo menos determinável, como, por exemplo, a
compra de uma safra futura;
forma prescrita ou não defesa em lei.
O contrato ilícito é gênero, do qual o contrato juridicamente impossível é espécie. O contrato
juridicamente impossível só ofende a lei. Já os contratos ilícitos ofendem a lei, a moral e os bons costumes.
O contrato de prostituição é um contrato juridicamente possível, mas ilícito.
Forma prescrita é a forma que a lei impõe, sendo de observação necessária se exigida.

24.3 Requisito especial dos contratos


É o consentimento, podendo ser expresso ou tácito.
O consentimento tácito ocorre quando se pratica ato incompatível com o desejo de recusa.
Há contratos em que a lei exige o consentimento expresso, não valendo o silêncio como aceitação. Aqui não
se aplica o brocado: quem cala consente. Nada obsta que a lei determine, em casos excepcionais, que o silêncio
valha como aceitação tácita.

24.4. Princípios do Direito Contratual


* Princípio da autonomia da vontade e princípio da supremacia da ordem pública
Esses dois princípios devem ser vistos harmonicamente.
Autonomia da vontade é a liberdade de contratar. Os contratantes podem acordar o que quiserem,
respeitando os requisitos de validade do contrato.
Quando o Estado intervém nas relações contratuais, mitiga o princípio da autonomia da vontade e faz
prevalecer o princípio da supremacia da ordem pública. Exemplos: Consolidação das Leis do Trabalho, Lei de
Locações, Código de Defesa do Consumidor etc.

*Princípio do consensualismo
O contrato considera-se celebrado com o acordo de vontades. A compra e venda de bem móvel, por
exemplo, é um acordo de vontades, sendo a tradição apenas o meio de transferência da propriedade.
Há alguns contratos, no entanto, que exigem, para se aperfeiçoarem, além do acordo de vontades, a
tradição. São chamados contratos reais. Exemplos: mútuo (empréstimo de coisa fungível), comodato (empréstimo
de coisa infungível), depósito, doação de bens móveis de pequeno valor (também chamada doação manual).
* Princípio da relatividade
O contrato é celebrado entre pessoas determinadas, vinculando as partes contratantes. É possível, entretanto, a
alguém que não seja contratante exigir o cumprimento de um contrato. O princípio da relatividade ocorre nas
estipulações em favor de terceiro (exemplo: seguro de vida, em que o beneficiário é terceira pessoa).

* Princípio da obrigatoriedade e princípio da revisão dos contratos


Os contratos de execução prolongada no tempo continuam obrigatórios se não ocorrer nenhuma mudança -
Princípio rebus sic stantibus.
Opõe-se ao Princípio pacta sunt servanda - o contrato faz lei entre as partes.
A nossa legislação acolhe em parte a regra rebus sic stantibus, trazida pela Teoria da Imprevisão, que tem
os seguintes requisitos:
• contratos de execução prolongada;.
• fato imprevisível e geral;
• onerosidade excessiva.

A primeira atitude a ser tomada deve ser a revisão do contrato com a tentativa de se restaurar as
condições anteriores. Não sendo possível, rescinde-se o contrato.

*Princípio da boa-fé
Até prova em contrário (presunção iuris tantum), presume-se que todo contratante está de boa-fé.

24.5 Fases da Formação do Contrato


Os contratos começam com as negociações preliminares. Quanto maior o valor dos bens, maiores serão as
negociações preliminares.
Essas negociações não obrigam e não vinculam os contratantes, pois ainda não passam de especulação de
valores e condições.
É possível que, após essa fase, surja, de um dos contratantes, uma proposta, a qual vinculará o
proponente. Essa proposta também é chamada policitação ou oblação. Quem faz a proposta deve sustentá-la.
O Código Civil faz distinção entre proposta feita a pessoa presente e proposta feita a pessoa ausente.
Se a proposta é feita a uma pessoa presente e contém prazo de validade, esse deve ser obedecido; se
não contém prazo, a proposta deve ser aceita de imediato. É o famoso “pegar ou largar”.
Se a proposta é feita à pessoa ausente, por carta ou mensagem, com prazo para resposta, esta deverá ser
expedida no prazo estipulado. Se a proposta não fixar prazo para resposta, o Código Civil dispõe que deve ser
mantida por tempo razoável (que varia de acordo com o caso concreto). Núncio é o nome que se dá ao mensageiro.
A proposta feita por telefone é considerada "entre presentes". A proposta feita pela Internet é considerada
"entre ausentes".
A proposta ainda não é o contrato: este só estará aperfeiçoado quando houver a aceitação.
A aceitação da proposta "entre ausentes" pode ser feita por carta ou telegrama, aperfeiçoando-se o contrato
quando da expedição daqueles.
Existem outras teorias a respeito da aceitação da policitação entre ausentes, teorias da Declaração, da
Recepção e da Cognição, porém não foram adotadas pelo nosso sistema.
É possível arrepender-se da aceitação feita por carta, bastando para isso que a retratação chegue ao
conhecimento da outra parte antes ou concomitante à aceitação (artigo 433 do Código Civil).
O Decreto-lei n. 58/37 dispõe que os contratos de compromisso de compra e venda de imóveis loteados são
irretratáveis e irrevogáveis, salvo previsão em contrário.
Segundo a Súmula n. 166 do Supremo Tribunal Federal, é inadmissível o arrependimento no
compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Dec.-lei n. 58 de 10.12.1937. O compromisso de compra e
venda de imóvel loteado é sempre irretratável e irrevogável.
O compromisso de compra e venda de imóvel não-loteado é irretratável e irrevogável, salvo previsão em
contrário. Há, portanto, a possibilidade de o contrato ter cláusula de retratação.
Se o vendedor se recusa a passar a escritura, o comprador pode requerer a sua adjudicação compulsória.

24.6 Peculiaridades dos Contratos Bilaterais


Os contratos bilaterais são aqueles que geram obrigações recíprocas para os contratantes.

* Contratos bilaterais com prestações simultâneas


Nesses contratos, nenhum dos contratantes pode exigir judicialmente a prestação do outro enquanto não
tiver cumprido a sua (artigo 476 do Código Civil). A parte contrária defende-se alegando a exceção do contrato
não cumprido – exceptio non adimpleti contractus.
Deve ser argüida na contestação. É uma exceção e não uma objeção, pois o juiz não pode conhecê-la de
ofício.
Há quem diga que a exceção do contrato não cumprido configura falta de interesse de agir, devendo o
processo ser extinto sem exame do mérito. Há vozes no sentido de existir, na hipótese, julgamento de mérito.
Em ambos os casos é permitida a repropositura da ação, desde que a parte cumpra primeiro sua obrigação.
É possível argüi-la tanto se o autor não cumpriu sua parte no contrato como se a cumpriu incorretamente.
Se o contrato não for cumprido corretamente, a defesa se chama exceptio non rite adimpleti contractus.
Também gera a extinção da ação.

*. Arras
Arras é o sinal depositado por um dos contratantes no momento em que o contrato é celebrado.
Tem natureza de contrato real, só se aperfeiçoa com a efetiva entrega do valor ao outro contratante.
As arras não se confundem com a cláusula penal, que tem natureza de multa.
Há dois tipos de arras: penitenciais e confirmatórias. O ponto em comum que existe entre as arras
penitenciais e as arras confirmatórias é a simultaneidade à celebração do contrato, devendo haver a efetiva entrega
da quantia.
As arras penitenciais aparecem se no contrato constar cláusula de arrependimento. Caso contrário, as arras
serão sempre confirmatórias.
a) Arras penitenciais
Previstas no artigo 420 do Código Civil, atuam como pena convencional quando as partes estipularem o
direito de arrependimento, prefixando as perdas e danos.
Se quem desistir do contrato for quem deu as arras, perdê-las-á; se quem desistir for aquele que as recebeu,
deverá devolvê-las em dobro.
Não gera direito de exigir perdas e danos, pois estas funcionam como prefixação daquelas. Não há
possibilidade de desistir das arras para pedir perdas e danos.

b) Arras confirmatórias
De acordo com o artigo 417 do Código Civil, as arras confirmatórias têm a função de confirmar o contrato e
torná-lo obrigatório.Não se confundem com prefixação de perdas e danos. Se houver rescisão do contrato, aquele
que deu causa responderá por perdas e danos, nos termos do artigo 396 do Código Civil.
Se quem inadimpliu o contrato foi quem recebeu as arras, cabe ao outro contratante pedir rescisão do
contrato mais perdas e danos e a devolução das arras. Se o inadimplemento for de quem deu as arras, o valor
das perdas e danos será abatido desse montante.

24.7 Classificação dos Contratos


* Unilateral e bilateral
O critério diferencial é o número de obrigações. Os contratos unilaterais geram obrigação apenas para um
dos contratantes. Os contratos bilaterais geram obrigações recíprocas, são chamados contratos sinalagmáticos.

*. Gratuito e oneroso
Diferenciam-se no que diz respeito à vantagem patrimonial. Os contratos gratuitos trazem vantagens
econômicas e patrimoniais somente para um dos contratantes (exemplo: doação pura); os onerosos, para ambos
(exemplos: compra e venda; seguro de vida etc.).
Via de regra, o contrato bilateral é oneroso, e o unilateral, gratuito.
No Brasil só existe um contrato unilateral e gratuito: é o contrato de mútuo feneratício (empréstimo de
dinheiro a juros).
É contrato unilateral porque se aperfeiçoa com a entrega do numerário ao mutuário, não bastando o
acordo de vontades. Feita a entrega, o mutuante exime-se de sua obrigação, restando apenas deveres ao
mutuário.
Os contratos onerosos subdividem-se em:
• comutativos: aqueles de prestações certas e determinadas; no momento da celebração, as
partes já conhecem suas vantagens e desvantagens;
• aleatórios: aqueles que, no momento da celebração, as partes não conhecem as suas
vantagens e desvantagens. Há sempre um elemento de risco neles. Exemplo: compra e venda da
safra de arroz do ano seguinte.

* Paritários e de adesão
No contrato paritário as partes têm possibilidade de discutir, estabelecer cláusulas, modificá-las.
O contrato de adesão é o contrato redigido inteiramente por uma das partes; a outra apenas adere a ele.
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) regulamenta e conceitua essa espécie de contrato no seu
artigo 54.
A interpretação dos contratos de adesão, quando de cláusulas obscuras, deve ser em favor do aderente.
Exemplos: contrato de cláusulas abusivas (artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor):
• eleição de foro, só vale se não trouxer prejuízo ao aderente;
• cláusula que impõe a perda das parcelas pagas;
• cláusula de plano de saúde que restringe cobertura de doenças epidêmicas e AIDS.
24.8 EFEITOS DOS CONTRATOS

*Vícios Redibitórios (artigos 441 a 446 do Código Civil)


Vícios redibitórios são os defeitos ocultos que existem em um determinado bem, tornando-o impróprio ao uso
a que se destina, ou diminuindo-lhe o valor.
A coisa já é adquirida com um defeito oculto. Se o defeito é aparente, presume-se que o comprador o
conheça.
No presente texto serão estudados os vícios previstos no Código Civil.

* Diferença entre vício redibitório e erro


• Erro é a falta de percepção da realidade. No erro a pessoa adquire uma coisa que não é a que
desejava. Vale o brocardo popular: a pessoa compra “gato por lebre”.
• No vício redibitório a pessoa compra exatamente o que queria, porém a coisa vem com defeito oculto.
• No erro, a coisa não tem nenhum defeito; apenas não corresponde ao desejo íntimo da pessoa. É
subjetivo.
• No vício redibitório o erro recai na coisa. Daí dizer-se que é objetivo.

* Fundamento jurídico
Ensina o Prof. Carlos Roberto Gonçalves que “o fundamento da responsabilidade pelos vícios
redibitórios encontra-se no princípio de garantia, segundo o qual todo alienante deve assegurar ao
adquirente, a título oneroso, o uso da coisa por ele adquirida e para os fins a que é destinada. A ignorância
dos vícios pelo alienante não o exime da responsabilidade, salvo se esta foi expressamente excluída, de
comum acordo (CC, art. 443)”.

* Requisitos do vício redibitório

a) Só existe em contrato comutativo


É subespécie de contrato oneroso. É aquele contrato em que, no momento da celebração, os contratantes já
sabem quais são suas vantagens e desvantagens.

b) O vício tem de ser oculto


Vício oculto é aquele que não é percebido quando um homem normal examina a coisa.

c) A existência do vício deve ser anterior ao contrato

d) O vício deve tornar a coisa imprópria ao uso a que se destina, ou lhe reduzir o valor

* Remédio Jurídico: Ações edilícias


Havendo vício redibitório cabem ações edilícias.Essas ações podem ser:
• Ação redibitória: objetiva rescindir o contrato;
• Ação quanti minoris ou estimatória: o comprador fica com a coisa, mas com o valor reduzido, ou seja,
com abatimento no preço. A opção cabe ao adquirente.
Pode-se mover a ação edilícia esteja o vendedor de má-fé ou boa-fé. Se o vendedor agiu de má-fé, pode-se pedir
a restituição do que o mesmo recebeu, ou a redução do valor, cumulada com pedido de perdas e danos. Se
estava de boa-fé, cabe ao adquirente pedir somente a rescisão do contrato ou o abatimento no preço.

Observações:
Quando ocorre erro, a ação cabível é a ação anulatória, que tem prazo prescricional de quatro anos, contados da
efetivação do negócio.
Não pode reclamar por vício redibitório quem adquirir a coisa em hasta pública, pois se trata de uma venda
forçada, sendo injusto permitir essa ação contra o expropriado do bem.
O Código Civil, sensível à necessidade de alterar prazos, estabeleceu no artigo 445 que o direito de obter a
redibição ou abatimento no preço decai no prazo de 30 dias se a coisa for móvel ou de um (1) de for imóvel. O
prazo é contado da entrega efetiva, e da alienação reduzido à metade se quando o negócio jurídico o comprador
já estava na posse do bem. Para o vício oculto o prazo só conta do momento em que ele se exterioriza,
estabelecendo-se um prazo máximo de 180 dias para exteriorizar nos bens móveis, e em um ano se foram
imóveis.

*Evicção (artigos 447 a 457 do Código Civil)


Segundo o Prof. Carlos Roberto Gonçalves: “Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença judicial, que
a atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato”. Exemplo: quando o agente compra um carro furtado e
a Polícia o apreende o adquirente ficará sem o carro e sem o dinheiro. “O art. 447 do Código Civil prescreve que, nos
últimos contratos onerosos, o alienante será obrigado a resguardar o adquirente dos riscos da perda da coisa para
terceiro, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquele não era o legítimo titular do direito que
convencionou transmitir”.

- Requisitos da evicção
a) Somente existe em contrato oneroso
Se ocorre em contrato gratuito, o adquirente não está sofrendo prejuízo.
b) Perda da propriedade, posse ou uso do bem
c) A causa da evicção deve ser anterior ao contrato
De acordo com o Prof. Carlos Roberto Gonçalves: “O alienante só responde pela perda decorrente de causa
já existente ao tempo da alienação”.
Exemplo: A é dono de um terreno. A celebra um contrato de compra e venda com B. Ocorre que C habitava
o terreno. C move ação de usucapião contra B. B tem ação de evicção contra A? Depende, se os requisitos do
usucapião tiverem sido preenchidos antes da venda, B terá ação contra evicção sofrida por causa de A. Se os
requisitos não estavam preenchidos na época da venda, B não tem direitos e deverá arcar com os prejuízos.
d) Sentença que atribua o bem a terceira pessoa
A apreensão administrativa também gera a evicção. Deve ser ato de autoridade judiciária ou administrativa.
e) Denunciação da lide (artigo 70, inciso I, do Código de Processo Civil)
Para grande parte da doutrina é a única hipótese em que a denunciação da lide é obrigatória.
Exemplo: C vende a B um imóvel, mas A acha que o imóvel é seu. Se A move uma ação reivindicatória
contra B e essa é julgada procedente, B sofrerá evicção. Para B resguardar-se da evicção, deve promover a
denunciação da lide de C. O denunciante é o comprador que corre risco de sofrer a evicção. O denunciado é o
vendedor. Se B não denuncia, perderá o direito ao ressarcimento dos prejuízos sofridos com a evicção.
A denunciação da lide é decorrente da evicção; portanto, deve ser obrigatória quando for possível; não o
sendo, os prejuízos da evicção são requeridos por meio de ação autônoma.
A pessoa que sofre a evicção tem direito de cobrar do vendedor os seguintes valores:
• restituição integral do preço pago;
• se o vendedor vendeu o bem de má-fé, o comprador pode requerer perdas e danos;
• custas e honorários; a pessoa que deu causa à evicção poderá ser condenada nos honorários da
denunciação da lide e a ressarcir o comprador dos honorários advocatícios que despendeu com a ação
principal; o comprador não sofrerá nenhum prejuízo.

24.8 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS (artigos 472 a 480 do Código Civil)


A classificação e delimitação das formas de extinção dos contratos é controvertida. Seguindo a
orientação mais completa e didática trazida pelos Professores Carlos Roberto Gonçalves, Maria Helena Diniz
e Orlando Gomes, tem-se o seguinte gráfico:

instantânea
FORMA NORMAL DE EXTINÇÃO – execução diferida
continuada

absoluta
– nulidade
relativa
– Anteriores ou
contemporâneas expressa
ao contrato – condição
resolutiva tácita

– direito de arrependimento
FORMA
ANORMAL
DE – inadimplemento voluntário
EXTINÇÃO – Resolução inadimplemento involuntário
– onerosidade excessiva

– Supervenientes – bilateral
à formação – Resilição
do contrato – unilateral

– Morte de um dos contratantes


– Rescisão

* Forma Normal de Extinção dos Contratos


O contrato extingue-se, em regra, com o cumprimento do seu objeto. A execução pode ser
instantânea (pagamento à vista, entrega imediata de um bem etc.), diferida (entrega do bem no mês
seguinte), ou continuada (pagamento em prestações).
O cumprimento do contrato é provado pela quitação, feita pelo credor de acordo com o artigo 320 do Código
Civil.

* Forma Anormal de Extinção dos Contratos


Ocorre com a inexecução do contrato por fatores anteriores, concomitantes ou supervenientes a ele.

- Causas anteriores ou contemporâneas ao contrato


a) Nulidade
O não-preenchimento dos requisitos necessários à perfeição do contrato gera sua nulidade. As
condições a serem observadas para validade do acordo são: capacidade das partes e livre consentimento
(subjetivos); objeto lícito e possível (objetivos); forma prescrita em lei (formal).
A nulidade decorrente da não-observação dessas exigências pode ser absoluta – quando ferir norma de
ordem pública, ou relativa – quando o vício contido for passível de convalidação.
b) Condição resolutiva
Deve ser verificada judicialmente e pode ser tácita – os artigos 475 a 477, do Código Civil, permitem à parte
lesada pelo inadimplemento requerer a rescisão do contrato com perdas e danos, ou expressa – quando
convencionadas pelas partes as conseqüências da inexecução do contrato.
Todo contrato bilateral possui, implicitamente, cláusula resolutiva tácita.
c) Direito de arrependimento
As partes podem ajustar, expressamente, o direito de arrependimento, que possibilita a extinção do contrato sem
que seja cumprido. Os efeitos do arrependimento estão previstos no artigo 420 do Código Civil.

- Causas supervenientes ao contrato


a) Resolução
− Por inadimplemento voluntário: sucede da culpa de uma das partes, que não cumpre o avençado,
causando prejuízo ao outro contratante. As conseqüências estão previstas nos artigos 476 e 477,
do Código Civil, sujeitando ainda o inadimplente à cláusula penal (arts. 409 e seguintes do Código
Civil).
− Por inadimplemento involuntário: origina-se no caso fortuito ou força maior, de acordo com o artigo
393 do Código Civil; o devedor não responde pelos prejuízos ocasionados, salvo na hipótese do
artigo 399 do Código Civil – se estiver em mora e não conseguir demonstrar que o dano sobreviria
mesmo que a obrigação fosse cumprida a seu tempo.
− Por onerosidade excessiva: deve decorrer de fato extraordinário; extingue o contrato pela aplicação
da teoria da imprevisão, que impõe a regra rebus sic stantibus.

b) Resilição (artigos 472 e 473 do Código Civil)


Deriva da manifestação de uma ou ambas as partes. A manifestação bilateral verifica-se no distrato, e a unilateral
é vista como exceção, porque, em regra, apenas um contratante não pode romper o avençado.
c) Morte de um dos contratantes
É forma de extinção anormal dos contratos personalíssimos, que não permitem a execução pelos sucessores
do de cujus.
d) Rescisão
Utilizado como sinônimo de resolução e resilição trata-se de modo específico de extinção de certos contratos
celebrados em estado de perigo (quando uma parte tem a intenção de prejudicar a outra com o contrato), ou
decorrentes de lesão (quando uma parte aproveita-se da inexperiência ou necessidade da outra para auferir
vantagem).

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