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VIGAS SOBRE APOIOS ELÁSTICOS

Fernanda Calado Mendonça


Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
Mecânica das Estruturas

1. INTRODUÇÃO

O cálculo de vigas é um dos tópicos mais importantes na engenharia estrutural. Entretanto, os


apoios que trabalham para sua estabilidade nem sempre podem ser definidos totalmente como
sendo do primeiro, segundo ou terceiro gênero, sem que se façam necessárias considerações
adicionais. Para os casos em que tais apoios não se enquadram nestas categorias, o uso da
teoria de estruturas sobre apoios elásticos é essencial.

A modelagem de estruturas para a engenharia ganhou uma grande aliada desde que foi
possível o uso da hipótese de vigas sobre apoios elásticos. Essa ferramenta permite que o solo
ou outras estruturas que estejam apoiando uma viga sejam considerados de acordo com suas
características elásticas, isto é, suas deformações não são desprezadas e, desta forma, os
modelos podem representar situações reais com precisão satisfatória. Da elaboração de
projetos estruturais muitos exemplos de vigas sobre apoios elásticos podem ser extraídos,
como: trilhos de ferrovias que são suportados pelos dormentes (os quais apresentam
deformação por estarem diretamente sobre o solo), estacas de fundação confinadas no solo
que estejam sob a ação de cargas horizontais em seu topo e cintas ou vigas apoiadas
diretamente sobre o solo, que suportem ou não a carga de outras vigas.

O objetivo geral do presente estudo é apresentar parte da teoria sobre vigas com apoios
elásticos e o objetivo específico é realizar um estudo de caso para uma cinta apoiada sobre o
solo que esteja sobre a ação de uma carga concentrada.

2. CONCEITOS

Os apoios elásticos considerados na teoria podem ser divididos em dois grupos: os apoios
elásticos discretos e os apoios elásticos contínuos (Sussekind, 1994). Os apoios discretos tem
essa denominação porque se concentram em pontos definidos da estrutura, geralmente em
suas extremidades (como ocorre com os apoios de primeiro, segundo e terceiro gêneros). Os
apoios contínuos são caracterizados por se distribuírem ao longo de todo o comprimento da
viga ou parte dele.

Os apoios discretos podem ser classificados em dois tipos: apoio em mola ou engaste elástico.
O primeiro equivale estaticamente a um apoio do primeiro gênero com a diferença de
absorver a reação de apoio através de uma deformação na direção desta força absorvida.
Enquanto o segundo tipo de apoio discreto – como o próprio nome indica – é equivalente a
um engaste perfeito, que produz uma rotação associada a reação de momento resultante do
engaste.

Segundo Sussekind (1994), a teoria para os apoios elásticos é dividida por três métodos: vigas
de comprimento infinito, vigas de comprimento semi-finito e vigas de comprimento finito.
Em todos os métodos é possível determinar o deslocamento, a rotação, o momento fletor e o
esforço cortantes nos pontos onde as cargas estão aplicadas, sempre de acordo com o tipo de
carregamento e de bordo da viga estudada. Para o presente estudo de caso, a parte da teoria
contemplada envolve o estudo de uma viga finita, com bordos engastados e carga
concentrada.

Para a resolução de uma viga finita sobre base elástica com bordos engastados e carga P será
utilizada inicialmente duas vigas infinitas com a aplicação de carga concentradas, cargas-
momento, e as parcelas simétrica e anti-simétrica do carregamento P à direita e à esquerda das
seções pré-definidas A e B (Figura 1) de forma que os esforços causados pelas cargas
(momentos fletores, esforços cortantes e parcelas de P) sejam de sinal contrário e mesmo
módulo dos esforços resultantes da carga aplicada P. Assim, os resultados obtidos entre os
ponto A e B da viga infinita representarão corretamente o comportamento de uma viga finita
(Sussekind, 1994).
P0S P/2 P/2 P0S
     
M0S   M0S

 
A  B 

P0a P/2 P/2 P0a


       
M0a
M0a  

A  B 
Figura 1 - Vigas infinitas utilizadas no problema com a aplicação de cargas-momento, cargas concentradas e as
parcelas de carregamento simétrica e anti-simétrica, respectivamente.

Em seguida, é aplicada a condição de contorno para o engaste: deslocamento e rotação nulos


nos pontos A e B.

Para simplificação do método são dadas as seguintes equações:


k
λ 4=
4 EI
A( λx)=e− λx (cosλx + senλx)
B( λx )=e− λx senλx
C (λx)=e−λx (cosλx−senλx )
D( λx )=e− λx cosλx

Onde k: constante de mola [N/m2]


E: módulo de elasticidade do material [N/m2]
I: momento de inércia da seção da viga [m4]
Resolvendo o sistema de equações resultante das condições de contorno é possível determinar
os valores das cargas aplicadas ao problema:
e λl
E s=
2(senh λl + senλl)
e λl
Ea =
2( senh λl−senλl)
P0=8 λ2 EI E s ( λl ) { φsA B ( λl ) −λ y sA [ 1−C ( λl ) ] }
s

M s0=−4 λ EI E s ( λl ) { φsA [ 1− A ( λl ) ] −2 λ y sA B ( λl ) }
Pa0=−8 λ2 EI Ea ( λl ) {φaA B ( λl )+ λ y aA [ 1+C ( λl ) ] }
M a0=−4 λ EI E a ( λl ) {φ aA [ 1− A ( λl ) ]+ 2 λ y aA B ( λl ) }
Onde y sA e y aA : deslocamentos verticais das vigas infinitas em A [m]
φ sA e φ aA: rotações da tangente à linha elástica das vigas infinitas em A [rad]

3. ESTUDO DE CASO

Considerando uma cinta de fundação que não suporta carga de piso (e, portanto não sofre a
ação de carga distribuída), mas recebe a carga P=50kN de outra cinta que se apoia exatamente
em seu ponto médio. A cinta é biengastada e está apoiada sobre areia seca média que tem
coeficiente de recalque de valor k=4,5x107N/m3. O comprimento da viga (l) é de 4m. As suas
características geométricas são: E=28GPa , b=0,30m e h=0,60m.
Para a cinta considerada (Figura 2) podemos determinar o deslocamento vertical, a rotação, o
momento fletor e o esforço cortante no ponto C de aplicação da carga P, por meio da
metodologia apresentada anteriormente.

P
 

A  C  B 
Figura 2 - Cinta de fundação estudada.

Neste caso, de cinta biengastada com carga simétrica, apenas a parcela simétrica aplicada ao
problema será calculada (Figura 3).
P0S P P0S
   
M0S   M0S
 

A  C  B 

Inicialmente, é calculado o parâmetro λ:


λ=0,54663 m−1
Em seguida, são determinados parâmetros adicionais que auxiliam na resolução do problema:
E s=0,85415
A( λl /2)=0,45165
B( λl /2)=0,29763
C ( λl /2 )=−0,14361
D( λl /2)=0,15402
y sA =0,00045 m
φ sA=0,00033 rad
A( λl)=0,02682
B( λl )=0,09168
C ( λl )=−0,15654
D ( λl )=−0,06486

Então, é possível determinar os valores das cargas aplicadas ao problema na parcela de


simetria:
Ps0=−70394,5 N
M s0=−17958,9 Nm

Com o emprego do princípio de superposição dos efeitos (Timoshenko e Gere, 1983) é


possível determinar o momento fletor, o esforço cortante, o deslocamento vertical e a rotação
da tangente à linha elástica no ponto C de aplicação da carga P. Desta forma, tem-se:
M C =0,00092+0,00037−2765,98=−2765,98 Nm
QC =−25000+ 21683,94+ 4433,80=1117,74 N
y C =0,00101−0,00129−0,00024=−0,00051m
φ C =0+0,00093−0,00006=0,000865 rad

Os valores de momento fletor e deslocamento vertical no ponto C e das cargas aplicadas Ps0 e
M s0 que apresentaram sinal negativo como resultado tem o sentido contrário ao que foi
arbitrado inicialmente no problema.

4. CONCLUSÕES

O caso de vigas sobre apoios elásticos demonstrado neste estudo pode ser utilizado para
qualquer tipo de carregamento aplicado na viga. Para carregamentos distribuídos é feita uma
aproximação considerando que o carregamento pode ser substituído, de forma satisfatória, por
um grupo de cargas aplicadas em diversos pontos ao longo da viga. Os esforços (cortante e
deformações) e as deformações (deslocamento vertical e rotação da tangente à linha elástica)
podem ser calculados para tantos pontos quantos forem necessários para a solução do
problema.

Para o caso em que as vigas finitas não têm apoios simétricos é possível manter o mesmo
procedimento realizado acima, aplicando condições de contorno diferentes aos pontos A e B.

A solução das vigas sobre apoios elásticos é possível e sua aplicação tem contribuído de
forma muito positiva para o avanço da engenharia estrutural, especialmente das estruturas em
contato direto com o solo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sussekind, J. C. (1994) Curso de Análise Estrutural (11a ed.). v.2. Editora Globo, São Paulo.
Timoshenko, S. P. e Gere, J. E. (1983) Mecânica dos Sólidos. v.1. Editora LTC, Rio de
Janeiro.

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