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FACULDADE DE CIÊNCIAS EDUCACIONAIS CAPIM

GROSSO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

JOSEILMA PEREIRA DA SILVA


ROBERTA MIRELA SANTOS SOARES

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O DISCENTE SURDO NO ENSINO


REGULAR

Campo Formoso-Ba
2019

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FACULDADE DE CIÊNCIAS EDUCACIONAIS DE CAPIM
GROSSO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

JOSEILMA PEREIRA DA SILVA


ROBERTA MIRELA SANTOS SOARES

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O DISCENTE SURDO NO ENSINO


REGULAR.

Trabalho de conclusão de curso,


apresentado a Faculdade de Ciências
Educacionais de Capim Grosso, como
requisito avaliativo da disciplina de TCC I.
Orientador: Professor Marciano Carvalho da
Silva.

Campo Formoso-Ba

2019
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SUMÁRIO

RESUMO__________________________________________________________4

INTRODUÇÃO______________________________________________________5

1. SURDEZ_________________________________________________________6

1.1 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM__________________________________9

1.2 AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES


SURDAS_____________________________10
2. A LÍNGUA DE SINAIS E A LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA___________________14
2.1 CULTURA E IDENTIDADE SURDA__________________________________18
3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO DE ALUNOS
SURDOS___19
3.1 O PAPEL DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: A CRIANÇA
SURDA___21

CONSIDERAÇÕES________________________________________________________24

REFERÊNCIAS_____________________________________________________26

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RESUMO

Este artigo tem como objetivo realizar um estudo sobre a Educação Inclusiva:
O discente surdo no ensino regular. Entendendo que, para viabilizar a prática
inclusiva é necessário ir além do cumprimento da lei, que determina que as pessoas
portadoras de deficiência tenham os mesmos direitos humanos e liberdades
fundamentais que outras pessoas e, que esses direitos, inclusive o de não ser
submetido à discriminação com base nas deficiências, emanam da dignidade e
igualdade (LDBEN,1999). O amparo legal visa a assegurar a permanência do aluno
deficiente dentro da mesma realidade em que se encontram os alunos considerados
“normais”, sem levar em conta as suas limitações. A problematização do que a
escola e seus representantes entendem sobre a educação inclusiva e sobre os seus
alunos ditos e marcados como excluídos é fundamental para tornar a proposta da
Educação Inclusiva mais significativa.
Palavras-chave: Educação inclusiva. Educação especial. Rede regular.

SUMMARY

This article aims to conduct a study on Inclusive Education: The deaf student in
regular education. Understanding that, in order to enable inclusive practice, it is
necessary to go beyond compliance with the law, which requires that persons with
disabilities have the same human rights and fundamental freedoms as others, and
that these rights, including that of not being subjected to discrimination based on
disability, emanate from dignity and equality (LDBEN, 1999). The legal protection
aims to ensure the permanence of the disabled student within the same reality as the
students considered “normal”, without taking into account their limitations. The
questioning of what the school and its representatives understand about inclusive
education and about its students said and marked as excluded is fundamental to
make the proposal of Inclusive Education more meaningful.

Keywords: Inclusive education. Special education. Regular network

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INTRODUÇÃO

Este artigo foi realizado através de pesquisas bibliográficas de cunho


descritivo. Trata-se de uma pesquisa que tem por objetivo a importância sobre o
processo de inclusão do aluno surdo da educação básica na rede regular. Pois as
escolas de ensino regular têm recebidos vários alunos com necessidades especiais
e na maioria das vezes não estão preparadas para a chegada desses alunos,
principalmente no que diz respeito à organização deste espaço, quesito fundamental
para que o sujeito nele inserido seja estimulado a desenvolver suas competências,
reconhecer suas potencialidades garantindo sua cidadania. Neste trabalho abordara
desde a surdez e a importância da linguagem; a educação dos surdos, a legislação
referente à inclusão do educando surdo. De acordo com Vygotsky (1993: p. 18), é
" ... a vida da criança surda deve ser organizada de tal modo que a fala seja
necessária e interessante para ela, e a língua de sinais sem importância e
desnecessária"

Todas as pessoas têm o direito de estar na escola (Constituição Federal, Art.


205), a escola é um estabelecimento público onde se ministra o ensino de forma
coletiva. A educação inclusiva é uma ação educacional humanística, democrática,
amorosa, mas não piedosa, que percebe o sujeito em sua singularidade e que tem
como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. O
conceito de educação inclusiva surgiu a partir de 1994, com a Declaração de
Salamanca, a ideia é que as crianças com necessidades educativas especiais sejam
incluídas em escolas de ensino regular. O objetivo da inclusão demonstra uma
evolução da cultura ocidental, defendendo que nenhuma criança deve ser separada
das outras por apresentar alguma espécie de deficiência; do ponto de vista
pedagógico esta integração assume a vantagem de existir interação entre crianças,
procurando um desenvolvimento conjunto, no entanto, por vezes, surge uma imensa
dificuldade por parte das escolas em conseguirem integrar as crianças com
necessidades especiais devido à necessidade de criar as condições adequadas.

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Com a Declaração de Salamanca surgiu o termo necessidades educativas
especiais, que veio substituir o termo “criança especial”, termo anteriormente
utilizado para designar uma criança com deficiência, porém, este novo termo não se
refere apenas ás pessoas com deficiência, este englobadas e quaisquer
necessidades consideradas “diferentes” e que necessitem de algum tipo de
abordagem específica por parte de instituições. Num mundo cheio de incertezas, o
Homem está sempre à procura da sua identidade e, por vezes, chega mesmo a
procurar integrar-se na sociedade que o rodeia, pois fica um pouco “perdido”, a
educação inclusiva apoia os deficientes numa educação especial. A Educação
Especial é o ramo da educação, que se ocupa do atendimento e da educação de
pessoas deficientes, ou seja, de pessoas com necessidades educativas especiais. A
Educação Especial é uma educação organizada para atender especifica e
exclusivamente alunos com determinadas necessidades especiais, algumas escolas
dedicam-se apenas a um tipo de necessidade, enquanto que outras se dedicam a
vários.

No entanto a aquisição da língua de sinais vai permitir à criança surda,


mediante relações sociais, o acesso aos conceitos formando assim uma maneira de
pensar e agir. É o acesso a uma língua que permitirá ao surdo pensar com todas as
complexidades necessárias disponíveis, para que a inclusão social e educacional do
surdo aconteça de fato, há necessidade de se montar uma infraestrutura adequada,
que atenda as diferenças, inerentes a cada ser humano, da criança surda. As
autoridades governamentais precisam refletir melhor sobre o assunto, adquirirem
novas práticas e nova maneira de lidar com o assunto antes de criarem impasses
quanto à identidade e o processo de aprendizagem das crianças surdas no Brasil,
através do que, erradamente, chamam de Inclusão, numa educação para todos que
acaba por excluir visto que incluir, no contexto do surdo, não significa apenas
colocá-lo numa sala de ensino comum, mas respeitar suas diferenças, atendendo
todas as suas especificidades e diversidades. Trata-se, portanto de um assunto
complexo e vasto, no qual se deve pensar como um todo até porque é preciso levar
em conta a realidade de cada local, isso requer um estudo mais aprofundado da
vivência do surdo, suas dificuldades quotidianas e discutir práticas e teorias partindo
de uma visão sociocultural e não apenas se atendo ao audiovisual, isso admite cada
ser humano como único, afinal quando falamos de inclusão é necessário levar em
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conta toda a bagagem cultural e social que o indivíduo já possui quando entra na
escola.

1.SURDEZ

A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo, e a comunicação


humana é um bem de valor inestimável; costuma-se não perceber a importância da
audição em nossas vidas a não ser quando começa a faltar a nós próprios. A
surdez, por ser um defeito invisível, não recebe da sociedade a mesma atenção que
é dada a portadores de outras deficiências, o deficiente auditivo tende a se separar
de outras pessoas, trazendo para si as consequências do isolamento, a dificuldade
maior ou menor que ele tem para ouvir e se comunicar depende do grau de surdez,
que pode ser leve, moderada, severa e profunda. 
Segundo Strobel, “Cultura surda é o jeito do sujeito surdo entender o mundo
e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-os com
suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades
surdas e das 'almas' das comunidades surdas. Isso significa que abrange a
língua, as ideias, as crenças, os costumes e hábitos do povo surdo.”
(Strobel, 2008, p.24).
No entanto para entender a cultura surda e a realidade do sujeito surdo é
necessário compreender que existem diferentes tipos e graus de surdez; há que se
desmitificar a concepção que se tem a respeito do surdo, para muitos só é
considerado surdo o sujeito que possui anacusia bilateral e o mesmo só é visto pela
sociedade como o portador de uma patologia médica, como deficiente e portanto um
incapaz. Existem dois tipos de surdez; a pré-linguística ou pré-lingual e a pós -
lingual ou pós-linguística. A primeira é congênita ou surgida em tenra idade, antes
da aquisição da fala, já a segunda é característica das pessoas ensurdecidas depois
de adquirir linguagem. Sacks (2000, apud QUADROS, 2006) afirma que:
Os surdos pré-linguísticos não têm imagens auditivas e experiências
mentais a que possam recorrer, por nunca terem ouvido, não têm
lembranças, imagens ou associações auditivas possíveis,” nunca terão a
ilusão do som”. São incapazes de ouvir seus pais e, como inconsequência
dessa impossibilidade, podem vir a ter acentuados atrasos linguísticos.
Contudo, conseguem ouvir vários tipos de ruídos e ser sensíveis a
vibrações de toda espécie. (QUADROS, 2006, p.189).

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Os tipos de surdez são determinados considerando o período em que se dá a
perda auditiva, ou seja, antes ou depois da aquisição da fala. Para saber melhor
sobre a surdez é necessário compreender como está constituído e como funciona o
aparelho auditivo. O órgão da audição pode ser dividido em três partes: O ouvido
externo é formado pelo pavilhão auricular e por um canal de mais ou menos 2,5 cm
de comprimento, chamado canal auditivo, que termina na membrana timpânica. A
função principal do ouvido externo é captar e amplificar os sons oriundos do exterior
e dirigi-los para o ouvido médio. O ouvido médio é uma cavidade cheia de ar que
começa no tímpano e que contém três ossículos articulados entre si: o martelo, a
bigorna, e o estribo. O tímpano é uma membrana rígida, muito resistente, que vibra
como a tampa de um tambor, em consonância com as ondas sonoras captadas pelo
ouvido externo e as transforma em vibrações que são levadas ao ouvido interno.
Nele se abre também a tuba auditiva, estrutura que comunica essa parte do
aparelho auditivo com as fossas nasais e que tem a função de equalizar a pressão
daquela cavidade. O ouvido interno ou labirinto é formado pelo aparelho vestibular,
pela cóclea e pelo nervo auditivo. O aparelho vestibular é constituído por canais
semicirculares, responsáveis em parte pelo equilíbrio e sem funções propriamente
auditivas. As ondas sonoras captadas pelo ouvido externo e tornadas vibrações
pelos ossículos do ouvido médio são transformadas posteriormente em impulsos
nervosos pelo ouvido interno, onde são recebidos pela cóclea e conduzidos pelo
nervo auditivo até as células sensoriais auditivas do cérebro.
A surdez pode se dar em virtude de dificuldades de condução dos estímulos
através das vias auditivas (surdez de condução) ou por transtornos das células
perceptivas da cóclea ou do centro cerebral auditivo (surdez de percepção). Ambos
os tipos de surdez podem ser uni ou bilateral; parcial ou total; progressiva ou súbita;
iniciarem na infância ou na idade adulta e serem de grau leve, moderado, severo ou
grave. As diferentes combinações desses fatores levam a déficits de audição que
podem ser classificados em quatro categorias: primeira por Condução: envolve
perturbação na transmissão mecânica de sons (ouvido externo ou médio), segunda
Neurossensorial: resulta de dano no ouvido interno e nas fibras nervosas
associadas. Terceira Mista: associação dos dois anteriores e quarta Central: devido
a lesões bilaterais do córtex auditivo ou do tronco cerebral.

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Portanto as causas da surdez de uma criança que nasce surda (surdez
congênita), a causa pode ser genética (hereditária) ou embrionária (adquirida no
útero). As principais causas da deficiência congênita são: hereditariedade, viroses
maternas durante a gravidez (rubéola, sarampo, por exemplo), doenças tóxicas da
gestante (sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose, por exemplo), e ingestão pela
gestante de medicamentos tóxicos que lesam o nervo auditivo do feto e consumo de
álcool ou drogas pela grávida. A deficiência auditiva pode ser adquirida
posteriormente, quando ocorrem: doenças infecciosas bacterianas ou virais,
tumores, ingestão de remédios tóxicos para os ouvidos, exposição a sons
impactantes (como os de uma explosão) ou a sons contínuos muito altos (acima de
75 decibéis), por exemplo nos idosos, a perda de audição é devida aos desgastes
próprios da idade.
Nem sempre nosso conhecimento é capaz de discernir e identificar todas essas
causas e por isso em cerca de 50% dos casos a origem da deficiência é atribuída a”
causas desconhecidas”. Talvez seja mais fácil reconhecer as causas de perdas
auditivas súbitas (unilaterais ou bilaterais). Entre elas, encontram-se: formação de
coágulos nos vasos que irrigam a cóclea, processos infecciosos (sarampo, rubéola,
herpes, etc.), ou mesmo gripe comum, alergias (reação a soros, vacinas, picadas de
abelha ou comidas), tumores entre outras causas da surdez, na qual deixa a pessoa
na maioria das vezes se sentindo diferente as outras, sento um mito a ser
desmistificado por que perante a lei somos seres iguais diante de todos os direitos
garantidos.

1.1 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM

Para atuar como integrante e participativo de um universo no qual a linguagem


é a mediadora o ser humano se vale da comunicação e para tal utiliza-se a fala.
Mas, há casos em que é impossível desenvolver essa habilidade e com a falta de
comunicação torna-se um obstáculo nas relações humanas. Segundo Finau (apud
QUADROS, 2007, p.218 e 219) A linguagem é um dos principais meios pelos quais
o homem adquire conhecimento de mundo, fator que tem participação definitiva na
organização da própria linguagem. Por isso, hoje, os estudos de aquisição de
linguagem por pessoas surdas realçam a ideia de que toda criança surda deveria
crescer em um ambiente bilíngue.
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“No caso do aluno surdo, a educação bilíngue vai apresentar diferentes
contextos dependendo das ações de cada munícipio e de cada estado
brasileiro. Em alguns estados, há escolas bilíngues para surdos em que a
língua de instrução é a língua de sinais e a língua portuguesa é ensinada
como 2ª língua.[...] Há, ainda, estados em que professores desconhecem
libras e a escola não tem estrutura ou recursos humanos para garantir aos
alunos surdos o direito à educação, à comunicação e à informação.
Independentemente do contexto de cada estado, a educação bilíngue
depende da presença de professores bilíngues. Assim, pensar em ensinar
uma segunda língua, pressupõe a existência de uma primeira língua. O
professor que assumir esta tarefa estará imbuído da necessidade de
aprender a língua brasileira de sinais.” (Quadros, 2006, p. 19).

Pois os estudos indicam que, deste modo, as crianças conseguiriam


desenvolver melhor suas capacidades cognitivas, linguísticas e sociais. A
comunicação humana é essencialmente diferente e superior a toda outra forma de
comunicação conhecida. Segundo (Sánchez, 1990, p.17) Todos os seres humanos
nascem com os mecanismos da linguagem específicos da espécie, e todos os
desenvolvem naturalmente, independente de qualquer fator racial, social ou cultural.
A linguagem permite ao homem estruturar seu pensamento, traduzir o que sente
registrar o que conhece e comunicar-se com outros homens.

Ela marca o ingresso do homem na cultura, construindo-o como sujeito capaz


de produzir transformações nunca antes imaginadas. (BRASIL, 2006, p.33). Devido
à constituição de seus cérebros, os seres humanos têm uma capacidade inata de
adquirir linguagem, seja a fala, seja o Sinal. Se aos cinco ou seis anos a criança já
tiver desenvolvido a fluência em linguagem quer seja a fala ou o sinal, ela pode
esperar ter uma vida rica de comunicação e de intercambio comunitário, e
desenvolver fluência em leitura e escrita mas se ela não tiver tido desenvolvido a
linguagem a essa altura, ela pode esperar ter uma vida de restrições e
empobrecimento cultural, e de incapacidade de ler e escrever. Naturalmente, para
as pessoas que nascem surdas, é muito mais fácil adquirir uma linguagem visual
como sua primeira língua; e, dada uma firme fundação nessa linguagem, elas
podem aprender a ler e escrever e, talvez, ou seja, a tornar-se bilíngues e bi
culturais, o que é o ideal para elas.

Se o papel da linguagem humana é proporcionar ao indivíduo meios para


estruturar seu pensamento transformando a si e seu entorno, deve-se
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considerar para tal toda e qualquer possibilidade para que a transformação
aconteça. Segundo (SACKS IN CAPOVILLA; RAPHAEL,2001)

Assim o seu meio social será mais confortável diante de alguma necessidade
que venha a vivenciar, proporcionando qualidade de vida da pessoa com deficiência
auditiva, podendo interagir no mundo social e familiar em vive.

1.2 AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES SURDAS

Segundo a autora Gladis Perlin: “As diferentes identidades surdas são


bastante complexas, diversificadas. Isto pode ser constatado nesta divisão por
identidades onde se tem ocasião para identificar outras muitas identidades surdas,
ex: Surdos filhos de pais surdos; surdos que não têm nenhum contato com surdos,
surdos que nasceram na cidade ou que tiveram contato com a Língua de Sinais
desde a infância e etc. A identidade surda não é estável, está em continua mudança,
portanto os surdos não podem ser um grupo de identidade homogênea, há que se
respeitar as diferentes identidades." Em todo caso, para a construção destas
identidades impera sempre a identidade cultural, ou seja, a identidade surda como
ponto de partida para identificar as outras identidades surdas, esta identidade se
caracteriza também como identidade política, pois está no centro das produções
culturais.
Identidade Surdas Política
Na maioria das vezes trata-se de uma identidade fortemente marcada pela
política surda, são mais presentes em surdos que pertencem à comunidade surda e
apresentam características culturais que determinam suas formas de
comportamento.
São usuários da língua de sinais como língua natural, ou seja, a captação da
mensagem é viso espacial e não oral-auditiva; assumem uma posição de
resistência, uma posição que avança em busca de delineação da identidade cultural
e passam aos outros surdos sua cultura, sua forma de ser diferente, assimilam
pouco a forma de comunicação oral-auditiva ou não conseguem assimilar a ordem
da língua falada, a escrita obedece à estrutura da Libras, têm suas comunidades,
associações, e/ou órgãos representativos e compartilham entre si suas dificuldades
e aspirações, utilizam tecnologia diferenciada como legenda e interpretação de

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Libras na TV ou vídeos, telefone especial para surdos (TDD), campainha luminosa e
etc.
Identidades Surdas Hibridas
São os surdos que nasceram ouvintes e, por algum motivo ou doença, ficaram
sem audição, usam a língua oral ou língua de sinais, mas aceitam-se como surdos,
sua escrita segue a estrutura da Libra e usam tecnologia diferenciada. São
considerados bilíngues, visto que se utilizam tanto da Libra como do português,
assimilam um pouco mais que os outros surdos a ordem da língua falada, no entanto
possuem certa dificuldade de entendê-la; participam das comunidades, associações,
e/ou órgãos representativos e compartilham as suas dificuldades, políticas e
aspirações.
Identidades Surdas Flutuantes
São aqueles que não tiveram contato ou conhecimento da surdez como cultura
e têm uma visão preconceituosa a respeito da comunidade surda, não participam de
associações e lutas políticas e desconhecem ou rejeitam a presença de interprete de
Língua de Sinais criando certa resistência em relação a Libra e a cultura surda visto
que isto, para eles, representa estereótipo. Na maioria das vezes são vítimas da
ideologia oralista, da educação clínica e do preconceito da surdez.
Identidades Surdas Embaraçadas
É a representação estereotipada da surdez ou o desconhecimento da surdez
como os surdos que não tem contato com a comunidade surda. Para Karol Paden
são outra categoria de surdos visto de não contarem com os benefícios da cultura
surda. Eles também têm algumas características particulares, seguem a
representação da identidade ouvinte. Estão em dependência no mundo dos ouvintes
seguem os seus princípios, respeitam-nos colocam-nos acima dos princípios da
comunidade surda, às vezes competem com ouvintes, pois que são induzidos no
modelo da identidade ouvinte; não participam da comunidade surda, associações e
lutas políticas; desconhecem ou rejeitam a presença do intérprete de língua de
sinais, orgulham-se de saber falar "corretamente" demonstram resistências a língua
de sinais, cultura surda visto que isto, para eles, representa estereotipo.

Identidades Surdas Embaraçadas

As identidades surdas embaraçadas são outros tipos que podemos encontrar


diante da representação estereotipada da surdez ou desconhecimento da surdez
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como questão cultural. Esta identidade não consegue captar a representação da
identidade surda, nem da identidade ouvinte como fazem os flutuantes; sua
comunicação é por alguns sinais incompreensíveis às vezes; não tem condição de
dizer onde moram, seu nome, sua idade, etc. Não tem condições de usar Língua de
Sinais, não lhe foi ensinada, nem teve contato com a mesma; são pessoas vistas
como incapacitadas; neste ponto, ouvintes determinam seus comportamentos, vida
e aprendizados, é uma situação de deficiência, de incapacidade, de inércia, de
revolta; existem casos de aprisionamento de surdos na família, seja pelo estereotipo
ou pelo preconceito, fazendo com que alguns Surdos se tornem embaraçados.

 Identidades Surdas de Transição

Estão presentes na situação dos surdos que devido a sua condição social
viveram em ambientes sem contato com a identidade surda ou que se afastaram da
identidade surda, vivem no memento de transito entre uma identidade para outra; se
a aquisição da cultura surda não se dá na infância, normalmente a maioria dos
surdos precisa passar por este momento de transição, visto que grande parte deles
são filhos de pais ouvintes, no momento em que esses surdos conseguem contato
com a comunidade surda, a situação muda e eles passam pela desouvintização, ou
seja, rejeição da representação da identidade ouvinte; embora passando por essa
desouvintização, os surdos ficam com sequelas da representação, o que fica
evidenciado em sua identidade em construção; há uma passagem da comunicação
visual/oral para a comunicação visual/sinalizada.  Para os surdos em transição para
a representação ouvinte, ou seja, a identidade flutuante se dá o contrário.

Identidades Surdas de Diáspora

As identidades de diáspora divergem das identidades de transição, estão


presentes entre os surdos que passam de um pais a outro ou, inclusive passam de
um estado brasileiro a outro, ou ainda de um grupo surdo a outro, ela pode ser
identificada como o surdo carioca, o surdo brasileiro, o surdo norte-americano, é
uma identidade muito presente e marcada.

Identidades Surdas Intermediarias

O que vai determinar a identidade surda é sempre a experiência visual, neste


caso, em vista desta característica diferente distinguimos a identidade ouvinte da

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identidade surda, temos também a identidade intermediaria, geralmente está
identidade é identificada como sendo surda, essas pessoas têm outra identidade,
pois tem uma característica que não lhes permite a identidade surda isto é a sua
captação de mensagens não é totalmente na experiência visual que determina a
identidade surda, apresentam alguma porcentagem de surdez, mas levam uma vida
de ouvintes, para estes são de importância os aparelhos de audição, de aumento de
som, assume importância para eles o treinamento do oral, o resgate dos restos
auditivos, busca de amplificadores de som, não uso de intérpretes de cultura surda,
de língua de sinais etc. (alguns adoram língua de sinais por hobby); quando
presente na comunidade surda, geralmente se posiciona contra o uso de intérpretes
ou considera o surdo como menos dotado e não entende a necessidade de língua
de sinais de intérpretes, tem dificuldade de encontrar sua identidade visto que não é
surdo nem ouvinte, ele vive como pendulo, ora entre surdos, ora entre ouvintes, daí
seu conflito com esta diferença.

2. A LÍNGUA DE SINAIS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma modalidade de comunicação que


tem adquirido maior visibilidade na sociedade, na medida em que se expandem os
movimentos surdos a favor de seus direitos, conforme a cultura e a língua própria do
povo surdo, mediante a opressão de uma sociedade, que ao longo dos anos, impôs
uma espécie de “modelo ouvintista” de viver. A legislação que dispõe sobre esta
língua é bastante recente, porém a luta pelos direitos dos surdos é longa; dessa
forma, ao esboçarmos um breve histórico sobre a educação surda, assim como
sobre as filosofias educacionais neste campo, podemos compreender aspectos
importantes na relação entre surdos e ouvintes, o choque entre culturas e
especificidades e metodologias de ensino. A referida língua visual possui todos os
elementos classificatórios identificáveis numa língua e demanda prática para seu
aprendizado, sendo uma língua viva e autônoma, da mesma forma que as línguas
orais-auditivas não são iguais, variando de lugar para lugar, de comunidade para
comunidade, a língua de sinais também varia, existindo em vários países, a língua
não é de um país, mas de um povo que se autodenomina povo surdo, isto é,
pessoas que se reconhecem culturalmente não pela ótica medicalizada, e possuem

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organização política e habilidades, nas quais a habilidade visual é a principal,
constituindo o cerne da expressão linguística.
A educação do surdo no Brasil, surgiu na década de 50, sob a Lei nº 839 de 26
de janeiro, assinada por D. Pedro I quando aconteceu a fundação do Imperial
Instituto dos Surdos. A fundação deste instituto deve-se ao surdo chamado Ernesto
Huet, francês, professor e diretor do Instituto, quando chegou ao nosso país, foi
apresentado ao imperador, que facilitou a fundação do Instituto Santa Terezinha em
15 de abril de 1829, oferecendo atendimento sócio pedagógico.
Na década de 80 surge uma nova proposta para a educação de surdos,
o bilinguismo. Maneira pela qual a pessoa surda pode ser atendida nas suas
necessidades comunicativas desde a idade precoce até a idade adulta, no mundo
ouvinte e no mundo surdo (BITTENCOURT, 2005). É o bilinguismo que possibilita ao
surdo aprender e desenvolver a língua própria de sua comunidade, todavia, para
isso o surdo deve ter contato com as duas comunidades linguísticas e deve também
sentir a necessidade de aprender a usar ambas as línguas.
Na filosofia educacional bilíngue aplicada à Educação de Surdos a língua
falada no país é ensinada como segunda língua na modalidade escrita e, caso o
aluno quiser, na modalidade oral. Em 24 de abril de 2002, a lei nº10.436 foi
sancionada a lei reconhecendo a libras como meio legal de comunicação e
expressão no país, cada pais possui sua própria língua de sinais, ela não é
universal. A referida lei foi regulamentada em 22 de dezembro de 2005, pelo decreto
n º 5626 que estabelece a inserção da Libras como disciplina curricular no ensino
público e privado, e sistemas de ensino federais, estaduais e municipais, nos cursos
de formação de professores, como o magistério, nos cursos de licenciatura, e nos
cursos de Fonoaudiologia. Este decreto no capitulo VI, art. 22, incisos I e II,
estabelece uma educação inclusiva para as pessoas surdas, uma perspectiva
bilíngue em sua escolarização básica, garantindo a esses alunos, educadores
capazes de trabalhar com as suas especificidades.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB Lei Federal de nº 9.394, 20
de Dezembro de 1996, Art. 24 do Decreto nº 3.298/99 e a Lei nº 7.853/89, declara
que “a pessoa com deficiência tem direito à educação pública e gratuita
preferencialmente na rede regular de ensino e, ainda, à educação adaptada às suas
necessidades educacionais especiais”. (BRASIL, 1996). Mesmo diante deste quadro

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percebeu-se que o direito da pessoa com surdez foi violado e não lhes garantiram o
direito à aprendizagem, ocasionando um prejuízo na formação do cidadão, não
basta que o aluno surdo esteja matriculado e incluso na sala comum do ensino
regular, mas também participando e interagindo com os outros, desenvolvendo seu
aprendizado, mas para tanto são necessário seguir algumas recomendações como
aponta o texto da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Especial (2008).

“Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a educação


bilíngue - Língua Portuguesa/LIBRAS, desenvolve o ensino escolar na
Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa
como segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços
de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras
para os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado
é ofertado, tanto na modalidade oral e escrita, quanto na língua de sinais.
Devido à diferença linguística, na medida do possível, o aluno surdo deve
estar com outros pares surdos em turmas comuns na escola regular.”
(Brasil, 2008, p.17)
As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas
surdas, acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos,
nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis,
etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até a superior. Deve
ainda prover as escolas com professor de Libras ou instrutor de Libras, tradutor e
intérprete de Libras, professor de Língua Portuguesa, para o ensino de Língua
Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas e professor regente de
classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos
alunos surdos, bem como garantir o atendimento às necessidades educacionais
especiais de alunos surdos, em turno contrário ao da escolarização. A lei 10.436
reconhece a legitimidade da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS trazendo com isso
seu uso pelas comunidades surdas na busca da participação em políticas públicas
ou seja serviços públicos prestados. A busca é por uma educação inclusiva para os
surdos, com uma modalidade especificadamente bilíngue na escolarização básica
dando garantias aos alunos de uma boa qualidade de ensino com educadores
qualificados.

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A Língua Brasileira de Sinais – Libras foi decretada pelo Congresso Nacional e
sancionada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA . Promovendo a promoção do
aprendizado e o atendimento às pessoas com necessidades especiais surdas
tiveram um grande avanço a partir da Lei nº 10.436/2002, de 24 de abril de 2002 e o
Artigo 18 da Lei no 10.098/2000 de 19 de dezembro de 2000 do qual termos:
“Artigo 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a
Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela
associados.

Parágrafo Único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a


forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de
natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um
sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Artigo 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e


empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas
de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio
de comunicação objetiva e de utilização corrente de comunidades surdas do
Brasil.

Artigo 3º As instituições públicas e concessionárias de serviços públicos de


assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos
portadores de deficiência auditivas, de acordo com as normas legais em
vigor.

Artigo 4º O sistema educacional federal e os sistemas estaduais,


municipais e do Distrito Federal deve garantir a inclusão nos cursos de
formação educação especial, de fonoaudiologia e de magistério em seus
níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras,
como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs,
conforme legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá


substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.”
No Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a
formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio,
deve ser realizada por meio de:

17
I - cursos de educação profissional;

II - cursos de extensão universitária;

III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e


instituições credenciadas por secretarias de educação.

Portanto foi então que no final dos anos 90 que escolas de surdos em todo o
Brasil incorporaram a Libras como meio de instrução e as universidades passaram a
contratar intérpretes dessa língua para acompanhar acadêmicos surdos em
cumprimento à portaria n.º 1.679 de 2 de dezembro de 1999. O reconhecimento
científico e político da Língua de Sinais no Brasil como língua natural foi fundamental
para a construção de projetos de implementação de educação bilíngue para surdos.

O instrumental linguístico que é utilizado no meio em que a pessoa surda vive


não se apresenta como uma alternativa eficaz e eficiente para facilitar o seu
intercâmbio com o mundo, mas uma barreira árdua que é preciso transpor para
conquistar o mundo social de modo efetivo. Se a pessoa surda é excluída da
comunicação verbal por não ouvir, deixa de possuir formas de reflexão em torno da
realidade que se produz graças à linguagem verbal, assim, a linguagem é o fator
fundamental de formação de consciência.

2.1 CULTURA E IDENTIDADE SURDA


Entende-se por cultura os esquemas perceptivos e interpretativos segundo os
quais um grupo realiza o discurso de sua interação com o mundo e com o
conhecimento, ou qualquer outra proposição equivalente. Ao longo dos séculos, os
surdos foram formando uma cultura própria centrada principalmente em sua forma
sinalizada de comunicação, com modelo cultural diferente dos ouvintes. Entende-se
cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define
enquanto grupo diferente de outros grupos.
A importância da cultura surda se verifica na construção da identidade, na
constituição do sujeito surdo, expressos pelas manifestações próprias culturais,
devido à marginalização sofrida por ser um grupo de minoria, e por isso, eles não
podem ser oprimido pela cultura dominante nem ser absorvido ou inferiorizado. É
preciso olhar com outra perspectiva esse grupo social e é fundamental que eles se
reconheçam como sujeitos e se identifiquem enquanto uma comunidade na busca
18
de objetivos comuns. Segundo a professora Nídia Limeira de Sá (2002), Cultura é
definida como um campo de forças subjetivas que dá sentido(s) ao grupo. É através
das interpretações baseadas na cultura majoritária que, na construção social da
surdez, ocorre a valorização do modelo ouvinte, principalmente no processo
educativo dos surdos. Trata-se de uma imposição subjetiva (às vezes até objetiva)
sobre as identidades dos surdos, sobre sua subjetividade, sobre sua autoimagem,
ou seja, poderes são exercidos para influenciar os surdos a perderem sua identidade
de surdo, para que sua diferença seja assimilada, disfarçada, torne-se invisível.
Quando se reflete sobre a cultura surda, surge primeiramente como ponto central a
discussão sobre a Libras, sua relevância enquanto fator de integração,
reconhecimento e unidade, com a utilização da língua de sinais, o surdo passa a
interagir com o outro e com o mundo, ele se constitui como sujeito.
A língua é o ponto de partida para a inclusão e interação, mas é apenas um
início de um longo processo de transformação e compreensão das diferenças. a
importância da Libras se fundamenta no aspecto de ser o fio condutor e unificador
de toda a comunidade surda; na comunidade surda, há o fortalecimento do grupo, a
integração, essa unidade que se cria é fundamental para a noção de cultura e
identidade. O surdo não vive somente dentro de sua própria cultura, mas que este
está inserido em uma determinada sociedade que também possui sua cultura com
aspectos próprios, este fato faz com que os surdos se tornem indivíduos
multiculturais, porém muitos consideram a cultura surda como uma subcultura, ou
seja, subordinada a cultura majoritária ouvinte.

3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO DE ALUNOS SURDOS


A formação do professor para educação de surdos vem ganhando destaque
nos últimos anos, devido à necessidade de discutir sobre a disciplina de Libras nos
cursos de licenciatura e consequentemente influi no processo ensino-aprendizagem.
Nos dias atuais, a crescente inserção de surdos nos espaços escolares requer que a
escola os conceba não como meros indivíduos presentes nestes ambientes, mas,
como sujeitos constituídos de direitos, que possuem especificidades próprias na
maneira de conceber o mundo, de se comunicarem e, principalmente, nas formas de
serem ensinados e de adquirirem o conhecimento. Portanto, dessa forma, faz-se
necessário urgente uma ampla discussão sobre a formação inicial e continuada dos

19
professores, sob a égide da educação inclusiva, a fim de diminuir o abismo entre os
seus propósitos e a sua efetivação, já que sem o engajamento do professor não há
como efetivar de maneira qualitativa essa nova filosofia de se olhar a diferença.
Vislumbra-se um novo perfil de professor, na visão e defendido por Ferreira (2000),
que afirma:

“Espera-se hoje que a professora seja capaz de compreender e praticar o


acolhimento à diversidade e esteja aberta a práticas inovadoras na sala de
aula. No novo perfil, a professora deve adquirir conhecimento sobre como
conhecer as características individuais (habilidades, necessidades,
interesses, experiências, etc...) de cada um dos estudantes, a fim de poder
planejar aulas que levem em conta tais informações.” (2006, p. 231).

Portanto o primeiro professor de surdos que deu início a essa história, foi Pedro
Ponce de León (1510 – 1584), um monge beneditino espanhol, que criou, com dois
surdos que foram morar com ele no mosteiro, o primeiro alfabeto manual que temos
conhecimento na história. Segundo Honora (2014, p. 51) a criação desse alfabeto
parece dar a impressão que tinha-se o objetivo de suprir uma lacuna que havia na
comunicação oral. Ponce de León criou o alfabeto manual como um meio de acesso
a escrita e à leitura para só então se enfatizar a fala. Através do decreto nº 5.696
(2005) prevê a formação de profissionais que trabalhem no ensino e tradução dessa
língua em cursos de letras-libras e em cursos de especialização em Libras. A
Educação Bilíngue é garantida e a Libras reconhecida como língua materna e língua
de instrução na educação, a Libras torna-se matéria de ensino desde Educação
Infantil, Ensino fundamental, em cursos livres e em disciplinas nas Instituições de
Ensino Superior.

A educação de profissionais da educação, mais especificamente de


professores, também é influenciada pelas mudanças ocorridas na sociedade, no
mundo do trabalho e na economia do país; a educação especial é fruto da mudança
de concepção de sociedade, do avanço das políticas públicas e dos movimentos
sociais que pressionam o Estado na consolidação de seus direitos como sujeitos
sociais. Pois para acontecer de fato, faz-se necessário desmistificar o conceito de
uma sociedade homogênea, que o docente busque capacitação para atender a
demanda social, buscar meios eficazes para uma aprendizagem comum a todos, o
MEC (2005, p.21) chama atenção para:

20
A formação do professor deve ser um processo contínuo, que perpassa sua
prática com os alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe
permanente de apoio. É fundamental valorizar o saber de todos os
profissionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de
incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de
Educação esses profissionais têm se dedicado. 2111 Trata-se de
desencadear um processo coletivo que busque compreender os motivos
pelos quais muitas crianças e adolescentes também não conseguem um
“lugar” na escola. MEC (2005, p.21).

O professor que não identifica as peculiaridades dos alunos, como também as


potencialidades dos mesmos, consequentemente não apresenta um currículo
flexível a necessidade dos educandos; é de responsabilidade do Estado,
proporcionar capacitação para os professores, mas na prática encontramos alguns
problemas para continuidade da formação profissional, a falta de recursos humanos
ou materiais, e quando acontece falta acompanhamento da relação teoria e prática.
Neste contexto educacional é necessário que os professores estejam devidamente
instruídos e especializados para trabalhar com esses alunos. Segundo Mazzotta
(1993. p. 02)

"Com relação ao professor de educação especial, deve ser formado


mediante um preparo básico de professor primário, complementado por uma
especialização a nível de segundo grau para uma dás áreas específicas da
educação especial, deve também ser habilitado em curso superior de
pedagogia ou especializado através de cursos de pós-graduação." Segundo
Mazzotta (1993. p. 02).

 Porém, o Estado, como um dos principais reguladores das práticas educativas,


sempre criou normas para a escola no sentido de que fosse garantida a educação
desses sujeitos de acordo com o pensamento vigente. Com isso, os programas de
formação dos professores de surdos acabam por acompanhar o próprio
pensamento, pois esses professores é quem são ou serão os agentes da norma
mais importantes nesse processo discursivo. A busca pela forma política e cultural
de representação dos surdos sempre foi intensa e é parte dos movimentos sociais

21
das pessoas surdas, o Estado, como regulador dessas políticas, hoje une ao seu
governo reivindicações dos movimentos sociais dos surdos.

Portanto o profissional não deve ser um mero aplicador de métodos e técnicas


do ensino, ao contrário, ele precisa ter sempre postura de busca, de análise da sua
prática pedagógica, para reformulá-la quando necessário e quando as circunstâncias
o exigirem. Como educador e importante formador de opinião, cabe ao professor um
olhar sem preconceito, a tentativa de não acepção de alunos, independentemente
de suas dificuldades e limitações pessoais.

3.1 O PAPEL DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: A CRIANÇA SURDA

A família é a primeira instancia social da qual a criança faz parte, ela é o ponto
de apoio e sustentação do ser humano. Crianças surdas, quando inseridas em
famílias ouvintes que não dominam a língua de sinais, necessitam de um apoio
maior tanto da família como dos serviços de saúde, para se desenvolverem
adequadamente.

A família de uma forma única e deve estabelecer o seu papel na formação dos
indivíduos. Os primeiros passos para o desenvolvimento natural e social do ser
humano são dados dentro da família, pois ela constitui o primeiro grupo no qual a
criança é inserida e tem suas primeiras experiências e relacionamentos
interpessoais. As crianças que não tiveram ou não têm uma boa relação com as
figuras parentais poderão ter dificuldades na socialização, pois o contato primário
com o mundo das pessoas não lhes deixou marcas agradáveis, portanto necessitar
de outras agora poderá ser fonte de novos sofrimentos. O desenvolvimento sócio
emocional está na dependência direta do relacionamento dos pais entre si, e destes
com a criança, principalmente durante o primeiro ano de vida.

As primeiras relações de afeto dos filhos são provenientes dos pais, e esse
convívio será responsável por futuros comportamentos no meio social, permitindo ou
não a sua adaptação. Esse papel da família contribuirá para que o filho tenha uma
aprendizagem mais humana, forme uma personalidade única, desenvolva sua
autoimagem e se relacione com a sociedade.ba forma e o estilo de comunicação

22
que os pais utilizam com a criança surda tem uma grande importância para o
desenvolvimento da mesma. Por isso é fundamental que haja uma estreita relação
entre o modo de comunicação que se emprega na escola. Quando a criança surda
nasce em uma família de ouvintes, provavelmente num primeiro momento ela vai
viver um contexto oralista, a comunicação entre ambos será, geralmente, pela língua
oral, repercutindo em uma limitação linguística, diferente da criança surda que nasce
de pais surdos, pois esta tem a informação visual garantida pela língua de sinais.

A principal satisfação dos filhos é ter uma boa relação entre os membros da
família, pois essa relação exerce importante papel para o desempenho psíquico e,
consequentemente, nas demais fases da vida. No processo de relação familiar, a
comunicação favorece a compreensão das dúvidas, a demonstração de carinho e
amor, entre outras coisas, uma vez que para adquirir essas informações é
necessário estabelecer-se uma mesma linguagem (QUADROS, 2002).

Os pais são os interlocutores principais da criança, privilegiados em relação ao


cuidado que exercem com a criança, à ligação social que com ela formam o papel
exercido no seu desenvolvimento sócio emocional (Traci e Koester, 2003:198). Por
mais que a escola e os profissionais envolvidos com a criança proporcionem
contextos comunicativos e situações interacionais que possam sociabilizar e
consequentemente oferecer oportunidades de aquisição de linguagem e
desenvolvimento, os pais são privilegiados por vivenciar com os filhos as situações
do cotidiano.

As experiências para a socialização da criança no contexto da família, assim


como as redes de relações sociais como a escola, são consideradas importantes
para o seu desenvolvimento linguístico, discursivo, cognitivo, emocional e social.
Mães que interagem linguisticamente com seus filhos, através de relações
dialógicas, favorecem seu desenvolvimento (Golfeld, 1997:160):

“Os pais e profissionais devem sempre informar a criança sobre os eventos


que ela participa, as situações vividas, lembrar de fatos ocorridos e também
falar sobre assuntos referentes ao futuro. Não basta que a criança surda
aprenda a língua de sinais na escola ou na clínica de reabilitação. Esta
língua deve estar sempre presente e, assim como para crianças ouvintes,
os assuntos abordados devem ser cada vez mais complexos e abstratos”
(Goldfeld, 1997:162).

23
Os pais são construtores da linguagem da criança, sendo os principais
mediadores do desenvolvimento infantil e as práticas comunicativas dos pais serão
determinantes para o desenvolvimento linguístico e discursivo das crianças diante
da sociedade. A forma como a pessoa surda é tratada em casa irá determinar a
imagem que ela terá de si mesma (STELLING, 1999), porque é na família que
muitos valores, crenças e costumes são transmitidos de geração para geração, por
meio da linguagem. A família é a primeira referência de uma criança, é através dela
que a criança se relaciona com o mundo que está inserido.

Para isso, os adultos também tem de se adaptar à sua realidade, visto que ela
precisará de ajuda nesse processo, quando pais ou cuidadores aprendem a língua
de sinais e a transmitem desde cedo as crianças, a qualidade dos vínculos, das
interações e da forma como eles conseguirão circular pelo mundo compartilhando
será de muito maior qualidade. Mas para que isto ocorra faz-se necessário o
estabelecimento de uma interação efetiva, o que é favorecido pelo estabelecimento
do diagnóstico precoce da surdez e consequentemente da adoção, o mais cedo
possível, de um correto processo de comunicação entre a família e a criança surda.

CONSIDERAÇÕES

Conclui-se que atualmente, no Brasil a inclusão dos indivíduos portadores de


necessidades educativas especiais é um desafio, nesse grupo, enquadram-se os
sujeitos surdos. Várias são as dificuldades ou problemas que dificultam o processo
que tenta facilitar a inclusão dos deficientes auditivos do ponto de vista educacional
e social no ensino regular, nesse ponto, destacam-se como variáveis a falta de
comunicação oral, que prejudica sensivelmente o aprendizado, e a aplicação de
metodologias não contextualizadas relacionadas à realidade sociocultural do aluno.
Além disso, podemos destacar ainda a falta de preparo da maioria dos educadores
que atuam nessa área, as dificuldades ocorrem devido ao despreparo dos
educadores atuantes em classes de ensino regular, grande parcela da população de
pessoas com necessidades especiais vive ainda no contexto da segregação, a
barreira humana e social impõe milhões de restrições ao exercício da cidadania
plena, de uma vida digna, participativa.

 Portanto a inclusão do aluno deficiente auditivo no ensino regular deve iniciar-


se desde a educação infantil (precoce) até o ensino superior, tendo a garantia,
24
desde então, o uso de recursos necessários para superar as dificuldades no
processo educacional e desfrutar seus direitos como discente. Entretanto, pode-se
relatar que grande maioria do corpo docente, apesar de muito boa vontade de
receber alunos surdos em suas classes de ouvintes, ainda não estão aptos para
exercer tal tarefa. Essa realidade demanda esforços do poder público, das
associações e da sociedade em geral, no sentido de promover a melhoria de vida de
toda uma coletividade de forma igualitária e democrática, o reconhecimento de uma
sociedade, cuja base está assentada no multiculturalismo, exige que suas instâncias
sejam capazes de identificar a diversidade do seu contexto e de dar respostas aos
diferentes interesses, desejos e necessidades de seus sujeitos.

Esses aluno como qualquer outro requer atenção as suas necessidades


educacionais, tendo em vista que a sua inclusão só acontecerá de fato e terá
resultado se ele for respeitado em suas diferenças potencialidades, o sistema de
ensino regular não está preparado para receber e lidar com os alunos com
necessidades especiais auditivas, pois a escola é carente de recursos básicos
necessários ao processo de inclusão e os professores não estão preparados para
recebê-los, como consequência, não desenvolvem práticas e estratégias
pedagógicas que atendam às necessidades educacionais desses alunos, por não
terem qualificação adequada para lhe dá com alunos surdos no ensino regular, seja
municipal ou estadual, os governantes não dão suportes em múltiplas situações para
atender essas crianças, garantindo assim direitos conquistados mais não
executados por parte dos docentes, não por falta de vontade mais por falta de
recursos adequados; deve-se propor políticas públicas que modifiquem esse
contexto educacional, possibilitando o direitos de todos a educação por igual, sem
preconceito e sem dificuldades, pois e direito garantido pela Constituição Federal
como direito de todas as crianças a educação.

Diante de qualquer atitude que as escolas possam tomar em relação a inclusão


de alunos surdo deve, sem dúvida estar acompanhada do diálogo com os
movimentos surdos, que apesar de insatisfatórios, estão interessados no sucesso da
proposta. O projeto político pedagógico de educação de surdos está inserido em
uma comunidade escolar, incluindo os pais que acham que não sabem quase nada
ou sabem muito pouco sobre a língua de sinais, esse público não deve ser deixado
em segundo plano porque são fundamental para o desenvolvimento da criança. O
25
processo de interação na família, na vizinhança, na comunidade, participando de
atividades sócio recreativa, culturais ou religiosas com crianças e adultos ouvintes
dar continuidade a esse processo na escola especial ou regular, de acordo com
suas necessidade, formando desta forma uma identidade cultural onde se reconheça
como um cidadão ciente de seus direitos e deveres e seguro de seu potencial, visto
que todos temos nossas limitações e diferentes formas de supera-las.

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