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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
ALFABETIZAÇÃO EM LIBRAS

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
ALFABETIZAÇÃO EM LIBRAS

MÓDULO II

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MÓDULO II

6 HISTÓRIA DO SURDO

Milhares de anos após o surgimento da espécie humana, o homem já se


organizava em grandes e complexas sociedades. Começou então a dar seus
primeiros passos na moral e na ética, a filosofar e a pensar em sua existência.
A análise do homem, de suas potencialidades e limitações não poderia ser
feita tendo-se como base simplesmente aquilo que se podia ver na natureza
“concreta” visível.
As pessoas diferentes eram consideradas “não humanas”. Eram seres
desqualificados e inferiores, pessoas com defeito de nascença e, portanto, tidos
como animais que precisavam competir pela sobrevivência. Sendo inferiores,
deveriam ser eliminados.
Desse modo os considerados “diferentes” enfrentariam os mesmos
problemas porque passam todas as minorias humanas: busca pela
existência/imposição de padrões.
A padronização leva atitudes que inferiorizam e que discriminam aqueles
que não se adéquam aos padrões estabelecidos e impostos. Nesse caso, políticas
de assassinatos de bebês e crianças portadoras de alguma característica
considerada anormal não era objeto de escândalo, pois, era uma conduta da cultura
daquela época.
Sabe-se que o “diferente” causa certo desconforto ao homem, que pode
desejar tentar entender o porquê, entretanto, a solução mais simples e rápida era,
simplesmente, eliminar.
Tanto preconceito deu origem a regras “criadas” até mesmo em nível
religioso em que os doentes ou diferentes eram considerados impuros e condenados
por Deus, além de ser considerado castigo o nascimento de descendentes doentes
ou diferentes.

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Há ainda a concepção de Aristóteles, que entendia a educação possível
somente por meio da audição. Desse modo, nenhum surdo seria capaz de aprender
nada.
Os dados históricos sobre a surdez são escassos nos primórdios da
humanidade. Somente no início da era Moderna (século XVI) começamos a ter
subsídios sobre a surdez.
Com o nascimento de Jesus, Filho de Deus para os cristãos, a teologia
ocidental no tratamento com o diferente mudou bruscamente. Eles, que quase
sempre eram considerados minorias linguísticas e culturais, não eram mais
considerados impuros e nem carregavam mais sobre si o castigo de seus pecados.
Segundo Jesus, todos seriam filhos de Deus, amados pelo Pai, não pelo que
poderiam ter, ser ou fazer, mas pelo que eram: seres humanos.
Não se pode dizer que a partir daí o problema tenha desaparecido e nem
que o preconceito tenha sido superado, entretanto, o que se sabe é que o homem
não conseguia mais anestesiar sua consciência, pois, a religião não endossava e a
moral exigia um tratamento de certo modo mais humano.
Mesmo assim as mudanças vieram gradativamente por meio da vivência e
não por normas impostas e sistematicamente cumpridas.
Segundo Santo Agostinho, filósofo e teólogo cristão, a fé somente seria
obtida por meio da “captação” do sermão. Para ele, surdos ou deficientes mentais
não poderiam crer, porque a fé vem pelo sermão, da palavra falada. Para os
defensores de Santo Agostinho a língua de sinais com que se comunicavam fazia às
vezes da palavra falada e dessa forma eles teriam acesso aos ensinamentos de
Jesus, tal e qual um ouvinte. Mas, seu pensamento sobre o assunto, talvez nunca
venhamos saber.
No final da Idade Média ocorreram avanços e retrocessos, porém, as
atrocidades contra surdos e pessoas diferentes continuaram a existir.
Até o século XV, os surdos eram considerados primitivos e sem
possibilidade de serem educados. A partir do século XVI surgem os primeiros
pedagogos para surdos, principalmente na França, Espanha, Inglaterra e Alemanha.
Podemos citar alguns: Rudolphus Agrícola, Girolano Cardano, Pedro Ponce
de Leon, Juan Pablo Bonet e Abade Charles-Michel de l'Épée.

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FIGURA 14

A B
FONTE: A) Disponível em: <ttp://deafkrause.de/deaf-history/alphabet/pedro-ponce-de-leon-1.html>.
B) Disponível em: <http://www.sul21.com.br>. Acesso em: 03/01/2013

No século XVIII houve a fundação de várias escolas para surdos, a


educação evolui em qualidade e o uso da língua de sinais possibilita o domínio de
diversos assuntos e a profissionalização.
Segundo Oliver Sacks (1989, p.37):

Esse período que agora parece uma espécie de época áurea na história dos
surdos testemunhou uma rápida criação de escolas para surdos em todo o
mundo civilizado; a saída dos surdos da negligência e da obscuridade; sua
emancipação e cidadania; a rápida conquista de posições de eminência e
responsabilidade – escritores, engenheiros, filósofos e intelectuais surdos
antes inconciliáveis tornaram-se subitamente possíveis.

Em consequência do famoso Congresso de Milão ocorrido em 1880 quando


se considerou que a melhor forma de educação do surdo seria pelo oralismo, as
escolas de surdos abandonaram a língua de sinais. O fato gerou sérias
controvérsias, já que os maiores interessados, os próprios surdos, sequer foram
consultados.

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Na filosofia oralista busca-se a integração da criança surda na comunidade
de ouvintes desenvolvendo a língua oral. Desse modo, a surdez passa a ser uma
deficiência que deve ser minimizada por meio da estimulação auditiva.
O surdo para viver em sociedade deveria “ouvir” e “falar” (com o uso de
aparelhos auditivos e com o uso de técnicas de leitura labial) por meio de exaustivos
exercícios, ficando a comunicação escrita por último recurso. Para que fosse aceito
pelo grupo social o surdo deveria então “superar” o defeito de nascença.
A oralização passou a ser então o principal objetivo da educação do surdo.
O ensino de outras disciplinas escolares ficou em segundo plano, gerando um
período de queda no nível de escolarização dos surdos.
O oralismo dominou o mundo até a década de 60, quando Willian Stokoe
publicou o artigo “Sign Language Structure: Na Outline Of the usual Communicaton
System of the American Deaf”, demonstrando que a língua de sinais usada pelos
americanos, é uma língua com todas as características das línguas orais.
A partir daí surgiram várias pesquisas sobre o assunto. Esse fato aliado à
insatisfação de vários educadores com o oralismo trouxe a língua de sinais de volta
às salas de aula.
Em 1968, Roy Holcon dá origem à Comunicação Total. Tal método trata dos
processos comunicativos ocorridos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes
e há a preocupação com a aprendizagem da língua oral. Enfatiza a necessidade de
se considerar aspectos cognitivos, emocionais e sociais que devem caminhar junto à
aprendizagem da língua oral.
Na década de 80, a filosofia do Bilinguismo surge trazendo a ideia de que o
surdo deve primeiramente adquirir a Língua de Sinais (considerada sua língua
materna e natural). Somente como segunda língua deveria ser ensinada a língua
oficial do país na forma escrita. A ótica do Bilinguismo é focar a surdez como uma
diferença linguística, e não como uma deficiência a ser normalizada por meio da
reabilitação (visão oralista).

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7 ABORDAGENS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO DA PESSOA COM SURDEZ

Na antiguidade e quase toda a Idade Média a ideia que se tinha era que os
indivíduos surdos não eram educáveis.
No início do século XVI começaram a admitir a possibilidade de que
procedimentos pedagógicos proporcionassem ao surdo o aprendizado, sem
considerar o fato um “milagre” ou algo sobrenatural.
Pedagogos que se dispuseram a trabalhar com surdos estavam
apresentando alguns resultados. O objetivo deles era desenvolver o pensamento de
seus alunos surdos para que eles adquirissem conhecimentos e pudessem
comunicar-se com o mundo ouvinte. Utilizavam a língua falada como estratégia, em
meio a outras, tentando com isso alcançar os objetivos. Também trabalhavam em
segredo, sem trocar experiências com outros pedagogos.
Na época, famílias nobres e influentes que tinham um filho surdo
contratavam os serviços de professores/preceptores para que ele não ficasse
privado da fala e consequentemente dos direitos legais, que eram subtraídos
daqueles que não falavam. O espanhol Pedro Ponce de Leon é reconhecido
historicamente como o primeiro professor de surdos.
Na tentativa de educar os surdos, além da atenção que se dava a fala, a
escrita também era considerada como papel fundamental. Alfabetos digitais eram
inventados pelos professores e utilizados para que o aluno, que não podia ouvir a
língua falada pudesse visualizar. O trabalho inicial era de leitura e escrita e evoluía
para leitura labial e articulação das palavras.
Evidentemente que os surdos que se beneficiavam desse atendimento
pedagógico eram aqueles que pertenciam às famílias abastadas, os demais em
geral não tinham nenhuma atenção especial e, é possível que vivessem em grupos
e que tenham desenvolvido algum tipo de língua de sinais para se comunicarem.
Por volta desse período começaram a surgir propostas educacionais.

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7.1 ORALISMO

Surgiu por volta do século XVIII e a partir das resoluções do Congresso de


Milão (1880). Na época a língua de sinais foi oficialmente proibida nas escolas e a
comunidade surda foi excluída da política e instituições de ensino.
Essa proposta pretendia que os surdos fossem reabilitados, ou
“normalizados”, pois, a surdez era considerada uma patologia, uma anormalidade.
Eles deveriam comportar-se como se ouvissem, ou seja, deveriam aprender a falar.
A oralização foi imposta a fim de que eles fossem aceitos socialmente.
Como nem todos eram capazes de desenvolver a oralidade, muitos eram excluídos
da possibilidade educativa e do meio social. Portanto, a maioria dos surdos vivia de
forma clandestina.
Para os oralistas, a linguagem falada é prioritária como forma de
comunicação dos surdos, sendo indispensável para o desenvolvimento integral das
crianças.

FIGURA 15

Escola na Grécia - oralismo – “espelho” para treinamento labial. FONTE: Disponível em:
<http://www.notisurdo.com.br/noticias/antonio21.html>. Acesso em: 03/01/2013

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Sinais e alfabeto digitais são proibidos, recomenda-se que a comunicação
seja feita pela via auditiva e pela leitura orofacial.
Por quase um século essa abordagem não foi questionada, embora a
maioria dos surdos profundos não desenvolvesse a fala satisfatoriamente, conforme
era exigido pelos ouvintes.
Essa filosofia educacional desencadeava um atraso global no desenvolvido,
que resultava em falta de estímulo e evasão escolar. Os alunos frequentavam a
escola mais para aprender a falar do que propriamente para receber os conteúdos
escolares.
Houve o incremento do uso de próteses, mesmo assim, os métodos eram
basicamente treinamentos de fala, desvinculados de contextos dialógicos
propriamente ditos.
Por volta de 1960, surgiram alguns estudos sobre a língua de sinais utilizada
pelas comunidades surdas. Apesar da proibição, era natural encontrarem em
escolas ou instituições de surdos a comunicação por sinais de modo velado.
O pioneiro trabalho de William C. Stokoe (1919 – 2000) revelou que as
línguas de sinais eram verdadeiras línguas, preenchendo em grande parte os
requisitos das línguas orais.

7.2 COMUNICAÇÃO TOTAL

O insucesso do Oralismo deu origem a novas propostas em relação a


educação da pessoa surda. A abordagem que surgiu por volta de 1970 foi chamada
de Comunicação Total.

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FIGURA 16

FONTE: Disponível em: <http://librasnaeducacaoinfantil.blogspot.com.br/>. Acesso em: 03/01/2013

Nessa abordagem educacional foi permitida a prática de uma série de


recursos: língua de sinais, leitura orofacial, utilização de aparelhos de amplificação
sonora, alfabeto digital. Os estudantes surdos poderiam então expressar-se como
achassem mais conveniente.
O objetivo era que a criança pudesse se comunicar com todos: familiares,
professores, surdos, ouvintes, e assim não sofresse consequências do isolamento
que a surdez proporciona. A surdez então não era entendida como patologia, mas
como um fenômeno com significações sociais.
Poderiam ser utilizados os sinais da língua de sinais da comunidade surda,
assim como sinais gramaticais modificados. Igualmente, tudo que era falado poderia
ser acompanhado de elementos visuais. A intenção também era facilitar a aquisição
da língua oral e da leitura e escrita.
Os alunos então utilizavam os sinais em contato com outros surdos fluentes.
Nos ambientes escolares o uso dos sinais ocorria, porém, obedecendo à estrutura
da Língua Portuguesa. Eles chamavam essa estratégia de “português sinalizado”.
Mesmo com a pretensão de facilitar a aprendizagem, o português sinalizado
produzia certa confusão para o aluno surdo.
Em relação ao Oralismo, a Comunicação Total trouxe benefícios, fazendo
com que houvesse melhora na comunicação dos surdos. Entretanto, verificaram-se
alguns problemas em relação à comunicação fora da escola. As dificuldades

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escolares continuaram. Alguns casos bem-sucedidos, mas a maioria com resultados
acadêmicos muito abaixo do esperado.
Entre os surdos era possível desenvolver a língua de sinais propriamente
dita, e nos ambientes escolares havia um misto de sinais e língua oral.
Então, estudos sobre a língua de sinais foram cada vez mais apontando
para propostas educacionais alternativas que orientavam para uma educação
bilíngue.

7.3 BILINGUISMO

A abordagem bilíngue contrapõe-se ao Oralismo, considerando a língua de


sinais a língua natural dos surdos, uma comunicação que eles aprendem com
rapidez e que é eficiente e completa. Acreditam que por meio do seu aprendizado
precocemente, é possível que o desenvolvimento cognitivo e social das crianças
surdas seja compatível com o das ouvintes de mesma faixa etária.

FIGURA 17

FONTE: Disponível em:


<http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/portal/index.php?id=noticias&cod=2176>.
Acesso em: 03/01/2013

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Nesse modelo a língua de sinais deve ser introduzida o mais cedo possível e
prioritariamente à criança surda, ou seja, é desejável que ela tenha contato com
pessoas da comunidade surda para que seja aprendida.
A língua oficial do país será considerada a segunda língua (L2) e língua de
instrução, na modalidade oral e quando possível na modalidade escrita.
Nessa abordagem identificam-se duas vertentes:

 Na primeira a criança surda deve adquirir a língua de sinais e a


modalidade oral da língua, o mais cedo possível, separadamente.
Posteriormente ela deverá ser alfabetizada na língua oficial do país.
 Na segunda vertente deve-se oferecer apenas a língua de sinais e
posteriormente somente à modalidade escrita da língua. A língua oral
seria então descartada.

Considera-se a abordagem bilíngue muito recente, há poucas experiências


pelo mundo. Em poucos países o sistema está em funcionamento por cerca de dez
anos. É um sistema que exige cuidados: formação de professores habilitados,
professores surdos ou que, embora ouvintes tenham competência em língua de
sinais.
Segundo Quadros (1997), o Bilinguismo é uma proposta de ensino usada
por escolas que se propõem a tornar acessível às crianças duas línguas no contexto
escolar.
No Brasil ainda é uma proposta recente, porém, há várias escolas que
adotam essa filosofia educacional.

8 ESTIMULAÇÃO

Primeiramente é importante considerar que a criança surda independente de


sua condição, em seus primeiros meses de vida é um bebê com necessidades
peculiares. Por conta da ausência da audição terá dificuldades na aquisição da
linguagem, que interferirão na maneira de compreender e conhecer o mundo. Ela

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enfrentará obstáculos sérios para adquirir as informações desde o ambiente familiar,
escolar e social para o resto da vida.
O momento de protetizar o bebê, ou seja, de fazer adaptação dos aparelhos
de amplificação sonora individual (AASI) é sempre um período de angústia e
incerteza para os pais. Não basta que seja indicado e adquirido o melhor aparelho. É
necessário que os pais sejam ouvidos em suas expectativas e medos e orientados
em relação ao que poderão esperar em termos de resultados. Por conta de uma
falta de preparo e de atenção dos profissionais, muitos pais acreditam que a
colocação do aparelho irá realizar um verdadeiro milagre. Que a sua criança deixará
de ser surda e se transformará em ouvinte.
Quando esses pais não são devidamente orientados poderão passar por
momentos de decepção e frustração diante dos resultados observados. Isso trará
prejuízos ao desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.
É necessário que se entenda que é um equipamento fundamental para a
criança surda Ele amplificará os sons do ambiente, possibilitando que a criança
perceba os sons, mas isso não irá modificar sua condição de pessoa surda na
sociedade. Ela precisará de atendimentos especializados, de empenho dos pais
para que percebam os sons que começará a emitir, assim como a linguagem que
estará desenvolvendo.
Será um trabalho incessante dos pais, porém, prazeroso, se esses se
posicionarem de forma receptiva, conscientes da importância e conhecendo a
realidade de sua criança.

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FIGURA 18

FONTE: Disponível em:


<http://familia.sapo.pt/crianca/saude_e_seguranca/bebe_saude/995624.html>.
Acesso em: 03/01/2013

A partir dos dois ou três anos de idade a criança buscará cada vez mais
conhecer sobre o mundo, necessitará do convívio de crianças e adultos. Utilizando
sinais espontâneos, expressões faciais e que, mesmo não tendo desenvolvido a fala
significarão formas de comunicação.
Tendo iniciado a escolarização em creches ou instituições de educação
infantil ela começará a partilhar brincadeiras, conversas e o convívio com os
professores.
Os educadores, em contato com alunos nessa condição devem
compreender que a linguagem é adquirida naturalmente por meio da interação, a
fala é uma das manifestações de linguagem, assim como os sinais. A escrita, o
desenho, são formas de estabelecer a comunicação e possibilitar a representação
do pensamento.
Estimulação Precoce é um conjunto de atividades voltadas para a criança
surda com idade de zero a três anos e para sua família. Visa criar situações de
comunicação, que favoreçam a expressão e interação contínua da criança com
outras crianças e com o adulto. Um dos objetivos desse trabalho é estimular de

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forma global a criança a fim de que possa desenvolver-se de acordo com os padrões
e ritmos de qualquer criança.
Faz parte também desse momento a orientação aos familiares para que
atuem ativamente no processo de estimulação. Os fonoaudiólogos, professores e
demais profissionais que atendem a criança devem orientar os pais sobre as
atividades a serem realizadas e os objetivos a serem alcançados. Deverão sempre
ter como base do trabalho a afetividade, ludicidade, naturalidade, buscando em
situações cotidianas (atividades de vida diária) criar as possibilidades de interação
em que sejam adotadas estratégias que motivem a criança, sem forçá-la e nem
cansá-la. Trata-se de um trabalho contínuo e, portanto deve ser feito de modo a
proporcionar prazer à criança.

8.1 ESTIMULAÇÃO AUDITIVA

Entre as abordagens existentes temos a estimulação auditiva. Nunca


devemos considerar que uma criança é totalmente surda, qualquer resíduo auditivo
deve ser aproveitado. Sabemos que nem todas têm a mesma capacidade auditiva,
por isso deve ser feito um trabalho de percepção do som, interpretação, busca de
fontes sonoras, em que ela deverá aprender a perceber, por exemplo: o som e o
silêncio.

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FIGURA 19

FONTE: Disponível em: <http://blog.chegoubebe.com.br/>. Acesso em: 03/01/2013

Estimulação Auditiva destina-se a aumentar a quantidade de informações de


uma pessoa por meio da audição, contribuindo para sua percepção total.
O trabalho de estimulação auditiva objetiva então que a criança:

 Perceba a ausência/presença do som;


 Adquiria atenção ao mundo sonoro;
 Desenvolva sua audição residual;
 Aprenda a localizar a fonte sonora;
 Reconheça sons ambientais, instrumentais e da fala;
 Desenvolva memória auditiva.

Mesmo com a adaptação de aparelhos de amplificação sonora e seu uso


habitual é fundamental o trabalho de estimulação. Por meio da estimulação ela
passará a reconhecer os sons (ruídos) e posteriormente, a medida que irá evoluindo
e passando para estágios mais avançados do trabalho irá começar a reconhecer

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sons da voz que irão possibilitar futuramente a compreensão de conversas
rotineiras.
Esse trabalho deve ser iniciado o mais cedo possível, mesmo que a criança
não utilize prótese auditiva. O desenvolvimento da função auditiva, pela maturação
das fibras nervosas se dá nos primeiros anos de vida.
Deve-se considerar o grau de deficiência auditiva da criança. Somente o
médico, por meio de exames irá diagnosticar o grau de perda e indicar o tipo de
aparelho a ser adaptado juntamente com a fonoaudióloga. Essa última deverá, além
de indicar acompanhar a adaptação, ajuste, confecção de moldes, enfim, dar todas
as orientações à família que irá ajudar a criança nessa fase.
É no lar que a criança poderá vivenciar melhor estas experiências,
relacionando o ruído com a fonte sonora e à situação em que ele se apresenta. Será
um trabalho gradativo, sendo modificado à medida que a criança apresentar
respostas aos estímulos recebidos (mais altos, mais baixos, sons próximos, se
distanciando, graves, agudos, etc.).

8.2 ESTIMULAÇÃO PARA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Aprender desde tenra idade a LIBRAS possibilita à criança surda maior


rapidez e naturalidade na exposição de seus sentimentos desejos e necessidades.
Possibilita a estruturação do pensamento e da cognição e fluente interação social,
ativando o desenvolvimento da linguagem.
Os pais deverão se preparar, aprendendo a língua de sinais. Com isso
estarão possibilitando o desenvolvimento espontâneo da Língua Brasileira de Sinais
- LIBRAS como forma de expressão linguística, de comunicação interpessoal e
como suporte do pensamento e do desenvolvimento cognitivo de seu filho.

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FIGURA 20

FONTE: Disponível em: <http://liliacamposmartins.blogspot.com.br>. Acesso em: 03/01/2013

A estimulação precoce de uma criança que nasce ou torna-se surda no


período que vai do nascimento até os três anos de idade é fator vital para a
aquisição da linguagem, uma vez que é considerado um período crítico, porém
ideal, devido ao que denominam plasticidade neuronal.
Quando a surdez é congênita ou adquirida no período de zero a três anos a
criança, geralmente, utiliza o sistema motor para comunicar-se. Esse sistema
possibilita a aquisição de Língua Brasileira de Sinais, cuja estrutura é distinta
daquela apresentada pela Língua Portuguesa. No entanto é possível que a criança
desenvolva sua linguagem em Língua Portuguesa, desde que seja exposta a um
ambiente linguístico adequado, com profissionais competentes e com família
envolvida.
Os pais devem estar tranquilos e informados sobre as possibilidades de sua
criança e sobre as filosofias educacionais existentes.

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8.3 ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM

Na estimulação da linguagem recomenda-se que:

 A atmosfera seja calma e agradável para a criança;


 As frases sejam curtas, simples, mas completas;
 Criar situações ricas, partindo sempre do conhecimento da criança;
 Apresentar sempre que possível às palavras concretamente;
 Limitar-se a um ou dois conceitos para que a criança não fique confusa;
 Introduzir novas palavras aos poucos;
 A colaboração familiar é fundamental: pais e irmãos devem dar
continuidade ao processo de estimulação;
 No processo de aprendizagem devem-se introduzir conceitos de cor,
tamanho, quantidade, além de noções de tempo e espaço.

9 O PAPEL DA FAMÍLIA

Este capítulo retrata os problemas pelos quais as famílias passam com a


descoberta da surdez de seus filhos.
Podemos considerar o diagnóstico da surdez como sendo o marco inicial
para o surgimento de situações conflitantes.
As mães quando esperam o nascimento de seus filhos criam uma imagem
“ideal” de como será o filho ou filha que está para nascer. Nessa imagem, a
possibilidade de uma anormalidade qualquer geralmente é descartada.

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FIGURA 21

FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/biologia/gravidez.htm>.


Acesso em: 03/01/2013

Entretanto, com a notícia da surdez, qual será a reação dos pais desta
criança?
Em geral um turbilhão de sentimentos se forma ao redor da nova realidade.
Sentimentos de pena, vulnerabilidade, ódio, confusão, rejeição e superproteção, que
podem ser divididos em:

 Negação;
 Resistência;
 Afirmação;
 Aceitação.

A sociedade costuma ter preconceito contra o que não conhece e que foge
aos padrões de normalidade impostos por ela mesma. A falta de conhecimento das
capacidades e potencialidades da pessoa surda gera preconceito na sociedade e
nos próprios pais, que agem de forma a discriminar a criança, com atitudes de
rejeição ou de superproteção.
Quando a criança é filha de pais ouvintes a comunicação não é estabelecida
de imediato, o que irá refletir em seu desenvolvimento. Os pais ouvintes em geral
esperam que seus filhos comecem a falar e que a língua de sinais não seja

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necessária. Por descobrir a surdez precocemente esperam que um tratamento seja
feito e que não haja comprometimentos linguísticos e cognitivos. Esperam ainda que
com a adaptação de aparelhos auditivos ele se torne um “ouvinte”.
A reação dos pais nunca é a mesma e depende de vários fatores:

 Do que a criança significa para eles;


 Da maturidade dos pais;
 Das expectativas e ambições que eles têm em relação à criança;
 Do relacionamento que o casal tem;
 Da ausência de um dos pais;
 Da situação socioeconômica da família;
 Do desenvolvimento intelectual;
 Das experiências vivenciadas pela família.

FIGURA 22

FONTE: Disponível em: <http://anekids.blogspot.com.br/2011/03/sentimento-de-culpa-por-que.html>.


Acesso em: 03/01/2013

Com a notícia a família se desorganiza emocionalmente. A falta de


conhecimento deixa os pais inseguros diante do futuro.
Eles deverão replanejar sua vida em função da nova realidade.

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Somente com a assistência de profissionais competentes em diversas áreas
e de outras famílias, que tendo o mesmo problema possam dar apoio, transmitindo
experiências e prestando solidariedade é que esses pais poderão encontrar a
melhor forma de atender as necessidades de seu filho.
Os pais deverão buscar apoio psicológico e orientação para que se
descubram capazes de auxiliar e com disponibilidade para o aprendizado.
Em geral, pais que recebem orientação e demonstram alcançar
conhecimento e compreensão de si e de seus filhos surdos se mostram mais
preparados para encontrar soluções para esse desafio que se apresenta em suas
vidas.
A família será o agente modificador da realidade da criança, portanto, caberá
a ela:

 Transmitir segurança, acreditando em suas potencialidades;


 Demonstrar carinho para que ela desenvolva uma capacidade de contato
afetivo adequado;
 Estabelecer comunicação com seu filho surdo, do mesmo modo que faz
com seus filhos ouvintes, sem bloqueios: conversando, olhando,
demonstrando, facilitando o entendimento.

O desenvolvimento da linguagem da criança deve começar no lar e deverá


ser uma preocupação permanente:

 Deve-se estimular o olhar nos olhos;


 Ensinar a criança a perceber as vibrações produzidas pelos sons emitidos
pelos pais ou por ela mesma;
 Fazê-la notar os movimentos labiais, as expressões faciais que a
ajudarão na compreensão da comunicação;
 Estimular a criança a emitir sons;
 Aprender a língua de sinais e utilizar com a criança;
 Os pais deverão utilizar voz normal, sempre indicando a ação que
realizam, sempre com frases curtas e completas.

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FIGURA 23

FONTE: Disponível em: <http://www.minhavida.com.br/familia/materias/11243-mudancas-praticas-


que-tornaram-a-maternidade-mais-facil>. Acesso em: 03/01/2013

Embora a colocação de limites se torne algo difícil para alguns pais, que têm
atitudes de superproteção com aquele filho que tem uma deficiência, aconselha-se a
dar a ele um tratamento normal, para que ele desenvolva um comportamento
adequado socialmente. Isso evitará sentimentos de ciúmes dos irmãos e fará com
que a criança seja mais segura em suas decisões, pois, vivenciará mais
experiências necessárias ao seu processo evolutivo.

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FIGURA 24

FONTE: Disponível em: <http://www.consul.com.br/Consulevoce/BlogdaConsul/EntryId/478/Como-


escolher-a-melhor-escola-para-seu-filho>. Acesso em: 03/01/2013

O momento de encaminhar o filho para a escola pode ser um dos mais


angustiantes. Em geral muitos desconhecem seus direitos e a possibilidade de
verem seus filhos rejeitados por alguma instituição de ensino é algo realmente
insuportável.
Nos grandes centros urbanos há diversas modalidades: escolas especiais,
classes especiais, inclusão em classes regulares, geralmente essa última com
acompanhamento especializado em salas de recursos.
Nas escolas especiais há a possibilidade de que a criança surda possa
relacionar-se com outras iguais a ela. Nas escolas comuns ela estará inserida junto
a um grupo diferente dela.
O importante é que esse processo seja feito com apoio dos profissionais
envolvidos com a criança, que os pais possam refletir com tranquilidade e que a
instituição escolhida possa atender a criança em suas necessidades, tendo um
contato constante com os pais e a equipe multidisciplinar.
Os pais devem sentir-se seguros ao encaminhar seu filho e esse processo
deve ser constantemente revisto. Pode ser que em determinado momento os pais
decidam fazer mudanças em função de melhorias para seu filho.

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10 O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR

FIGURA 25

FONTE: Disponível em: <http://primeirafonte.blogspot.com.br/2010/11/teoria-da-hierarquia-em-sala-


de-aula.html>. Acesso em: 03/01/2013

Escolher uma escola que acolha a criança e lhe proporcione o necessário


para seu aprendizado tendo em vista suas particularidades nem sempre é tarefa
fácil.

10.1 O PAPEL DA ESCOLA

Crianças com surdez moderada, com adaptação de aparelhos, têm melhores


perspectivas em escolas regulares. Quando as crianças têm surdez severa/profunda
e necessitam de uma educação bilíngue a escolha da escola ideal pode ser um
pouco mais difícil. Alguns fatores devem ser avaliados:

 Estrutura física;
 Capacitação dos professores;
 Recursos pedagógicos e tecnológicos;
 Disposição da equipe em receber o aluno;
 Currículo adequado;

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 Adaptações necessárias;
 Professor que domine a língua de sinais;
 Intérprete de Libras.

Alguns pais optam pela escola para surdos e outros acreditam no trabalho
feito na escola regular. Seja qual for a escolha, é importante que:

 A escola proporcione ao aluno um ambiente estimulante, acolhedor e


solidário;
 A equipe escolar dê assessoria ao professor para buscar os recursos e
informações necessárias ao cumprimento de seu trabalho;
 A coordenação pedagógica oriente e auxilie os pais do aluno;
 A escola receba os profissionais que atuam junto ao aluno para reuniões
periódicas;
 A escola crie cursos de Libras na escola para os pais, alunos e equipe
escolar.

FIGURA 26

FONTE: Disponível em: <http://ejadifcdeaprendizagem.blogspot.com.br/>. Acesso em: 03/01/2013

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10.2 O PAPEL DO PROFESSOR

Com relação ao papel do professor, podemos citar como fundamental:

 Obedecer às normas da escola e fazer o trabalho proposto da melhor


maneira possível;
 Buscar aperfeiçoamento para melhorar a qualidade de seu trabalho;
 Aprender a língua de sinais;
 Respeitar seu aluno e recebê-lo de forma humana e acolhedora;
 Buscar estratégias e métodos diferenciados que auxiliem no aprendizado;
 Incentivar atitudes de respeito, amizade e solidariedade entre todos os
alunos;
 Manter com a família da criança um canal aberto ao diálogo na solução
dos problemas da criança e em seu benefício;
 Caso perceba algum problema com a criança, procurar ajuda com a
direção, coordenação e solicitar a presença dos pais para buscar
soluções ou fazer encaminhamentos profissionais, se necessário;
 Buscar conhecimento sobre a deficiência auditiva e possibilidades
educacionais, buscando sempre a melhor qualidade no ensino.

FIM DO MÓDULO II

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