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O argumento filosófico contra o casamento civil gay

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Gabriel Klautau 10 de março de 2018

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Você já se perguntou qual é a razão do Estado possuir um contrato de casamento? Qual o
seu interesse em proteger contratualmente um consórcio que, em si, pertence a foro privado?
Certamente não se trata de um contingente “contrato de reconhecimento afetivo” já que a
afetividade é algo deveras subjetivo para ser contratualizado (por isso que, por exemplo, não
existe algo como um “contrato civil de amizade”). O Estado protege as uniões
heterossexuais com um contrato de casamento, pois, em sua essência, estas uniões são
teleologicamente ordenadas a fins que beneficiam toda a sociedade, sendo, portanto, de
interesse público a sua proteção e preservação. Tais fins, intrínsecos à própria natureza das
uniões conjugais, são: a procriação e a formação integral de novos seres-humanos.

Acerca de sua finalidade procriativa, sem a qual sequer poderíamos falar em Estado ou em
sociedade, entende-se que toda união heterossexual é teleologicamente ordenada à geração
de novos indivíduos, uma vez que esta é a própria razão biológica para a chamada
diferenciação sexual existir em nossa espécie. Por se tratar de um conceito ontológico, tal
propriedade independe de seu sucesso, incluindo assim também aquelas uniões que não
obtiveram sucesso na realização de seu fim, seja por motivos médicos, seja por motivos de
escolha pessoal (i.e. casais estéreis e egoístas, respectivamente) [1].

Acerca de sua finalidade formativa, sem a qual não seria possível existir sociedades sadias,
entende-se que toda união heterossexual é teleologicamente ordenada à formação integral de
novos indivíduos já que apenas elas possuem as figuras essenciais para o desenvolvimento
humano (isto é, a figura paterna e a figura materna). Assim como no fim procriativo, o fim
formativo também abrange aquelas uniões que não obtiveram sucesso na realização de seu
fim, seja por motivos associados à dedicação paterna (como pais que não tiveram tempo
para seus filhos), seja por motivos associados a escolhas que lhes desvinculam de suas
obrigações familiares (como por exemplo, abandono, aborto, etc).

Sem tais fins qualquer sociedade entraria em colapso. Daí surge a necessidade de não só se
proteger contratualmente a instituição que lhes resulta, isto é, a união conjugal entre um
homem e uma mulher, como também lhe promover enquanto um bem imanente que deve ser
perpetuado.

Diante de tudo o que foi exposto, fica claro que as uniões homossexuais não podem ser
equiparadas juridicamente às uniões heterossexuais. Seu ato sexual, por exemplo, não é
teleologicamente ordenado para a procriação, mas unicamente para a auto-satisfação
pessoal (algo que é acidental no coito[2]). Sua educação, da mesma forma, priva a criança
de uma das figuras essenciais para o seu desenvolvimento (seja o pai ou a mãe),
comprometendo assim a sua saúde psicológica[3]. Não tendo nenhum destes fins, as uniões
homossexuais carecem de qualquer relevância social para serem institucionalizadas.

Uma vez excluída a finalidade procriativa do casamento, tal contrato perderia


completamente a sua essência e se tornaria um mero contrato de reconhecimento afetivo.
Nada impediria que os cartórios registrassem também, por exemplo, as uniões
poliafetivas[4], incestuosas[5], e não sexuais[6] (como as amizades, por exemplo), já que
elas também entrariam no perfil de “uniões afetivas consensuais”.

CONCLUSÃO

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Em síntese, com o reconhecimento do casamento civil gay, o contrato de casamento perderia
totalmente o seu significado de existir e tornar-se-ia uma instituição juridicamente
contingente. Não obstante, uma vez que um dos benefícios do casamento é a adoção,
inúmeras crianças teriam seu direito a um desenvolvimento integral negligenciado pelo
Estado (que arbitrariamente as privaria da figura paterna ou da figura materna, essenciais
para seu desenvolvimento[7]).

Com o intuito de cooperar para o bem-comum, também o Vaticano nos exorta: “Se todos os
fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais, os
políticos católicos são-no de modo especial, na linha da responsabilidade que lhes é
própria.” [8]. O mesmo afirma o Papa Francisco[9].

NOTAS

[1] Alguns ativistas LGBT tentam erroneamente fazer uma analogia entre as uniões
homossexuais e as uniões heterossexuais estéreis, dissociando assim o casamento de sua
finalidade procriativa. Não obstante, sob o ponto de vista filosófico, tal analogia incorre em
um erro fundamental: O fim procriativo do matrimônio não está, de forma alguma,
associado ao seu sucesso. Toda relação heterossexual tem por finalidade a geração de novos
seres-humanos, pois esta é a sua razão biológica de existir. Se ela obterá sucesso ou não,
trata-se certamente de um acidente. Por outro lado, a razão pela qual as relações
homossexuais existem tem por fim único o gozo sexual, carecendo, portanto, de qualquer
possível analogia com as relações heterossexuais. O argumento conservador não afirma que
para que uma união seja considerada casamento, ela sempre deverá obter sucesso em atingir
seus fins, mas que para que uma união seja considerada casamento ela deve pelo menos
apresentar uma essência ordenada para tais fins. Este é o motivo pelo qual as legislações de
várias nações e o próprio Direito Canônico nunca admitiram o casamento de impotentes,
embora sempre tivessem admitido o casamento de pessoas inférteis. Se os ativistas querem
fazer uma analogia, devem comparar-se aos impotentes, não aos estéreis.

[2] O coito (isto é, a relação sexual entre um homem e uma mulher) existiria mesmo sem a
auto-satisfação pessoal (i.e. “orgasmo”), o que prova que o mesmo não faz parte da essência
deste fenômeno, mas antes, um de seus acidentes.

[3] Cf. Para uma análise de todas as pesquisas recentes sobre o assunto, ler REILLY, Robert,
“Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior Is Changing Everything”,
143-153.

[4] No casamento, o número binário está associado ao seu fim procriativo. “Uma vez que
você reduzir o propósito do casamento ao apoio amoroso mútuo daqueles que entram no
casamento, “dois” se torna o que os filósofos chamam de “acidente” de algo, algo que não é
necessário para a essência. É como insistir que uma bola sempre seja vermelha. A
vermelhidão é um acidente da bola, não faz parte da sua essência porque uma bola azul ou
amarela ainda mantém toda a essência do que é uma bola. Da mesma forma, 19 homens e 5
mulheres que se reúnem voluntariamente em apoio amoroso mútuo cumprem
completamente sua essência inventada e seu ponto final inventado: o que é um casamento e
seu propósito.” (FITZGIBBONS, Richard, “Marriage, essentially”).

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[5] A finalidade pela qual o casamento entre pais e filhos ou irmãos e irmãs é proibido
baseia-se unicamente na essência procriativa do matrimônio (já que se entende todos os
problemas que podem surgir desta união nas crianças).

[6] Só tem sentido se exigir sexo no matrimônio se a sua finalidade for a procriação. Caso
contrário o sexo se torna o que chamamos em filosofia de “acidente” já que não faz parte da
“essência” do objeto em questão.

[7] Cf. Para uma análise de todas as pesquisas recentes sobre o assunto, ler REILLY, Robert,
“Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior Is Changing Everything”,
143-153.

[8] CONGREGAÇÃO PARA DOUTRINA DA FÉ, Considerações sobre os projectos De


reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 10, disponível em:
«http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20
030731_homosexual-unions_po.html»

[9] «http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/03/130315_bergoglio_kirchner_pai».

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