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O DILEMA DA INSERÇÃO DO JOVEM NO MERCADO DE TRABALHO:

INFORMALIDADE OU PRECARIZAÇÃO

Modesto Cornélio Batista Neto


Ana Patrícia Dias

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Como citar:
BATISTA NETO, M. C.; DIAS, A. P. O dilema da inserção do jovem no mercado de trabalho: informalidade ou
precarização. Revista Juventude e Políticas Públicas, Brasília, v. 1, n. 2, p. 157-166, jul./dez. 2017.
DOI: 10.22477/rjpp.v1i2.34
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Resumo: O mercado de trabalho e a qualificação profissional do setor juvenil em Natal/RN, especificamente em


relação à população demandatária do Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego – PRONATEC,
tendo como polo a Escola Estadual Berilo Wanderley é o objeto da presente pesquisa que objetiva discutir a
dinâmica da relação entre o mercado de trabalho e qualificação, colocando em relevo falas dos beneficiários e
valendo-se da técnica de entrevista semiestruturada com questões abertas e fechadas para entender e construir o
perfil dessa juventude. Enxergar como o dilema da inserção do jovem no mercado de trabalho entre a
informalidade e a precarização denota o lugar social reservado a juventude no mundo do trabalho e nos permite
problematizar o papel do PRONATEC: qualificação ou reprodução/legitimação das desigualdades no mercado
de trabalho? Responder essa pergunta nos marcos do debate sobre trabalho e qualificação é o ponto de partida da
pesquisa que possibilita-nos estabelecer conexões entre os vários sujeitos do mundo do trabalho. O referencial
teórico foi constituído a partir de uma vasta bibliografia sobre o tema em tela.
Palavras-chave: Mercado de Trabalho. Juventude. Qualificação Profissional. Política Pública. Precarização.

INTRODUÇÃO
Este trabalho trata de uma proposta de pesquisa acerca do mercado de trabalho e a
qualificação profissional de segmentos juvenis, na cidade do Natal/RN, com vistas à inserção
deles no mercado de trabalho, via o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao
Emprego - PRONATEC, implementado pelo Governo Federal em 2011, com o objetivo de
ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.
O seu tema central está vinculado ao trabalho e à sua dinâmica frente aos processos
de reestruturação dos mecanismos do sistema produtivo vigente e às políticas de qualificação
para inserção da juventude no mercado de trabalho, como resposta às consequências desse
processo. Trata-se de uma pesquisa que contempla dois eixos temáticos, quais sejam: o
mercado de trabalho e as novas tendências das ocupações e a situação da inserção da
população juvenil no mercado de trabalho. Neste sentido, o estudo busca compreender a
relação entre o mercado de trabalho e à qualificação profissional, especificamente em relação
à população demandatária de cursos de curta duração na modalidade da Formação Inicial e
Continuada (FIC).
O presente trabalho teve como polo investigativo a Escola Estadual Berilo
Wanderley, localizada na cidade do Natal/RN onde são ofertados os cursos de Auxiliar
Administrativo, Recepcionista, Inglês Básico, Espanhol Básico, Vendas, Auxiliar de
Tesouraria e Libras. Neste estudo de caso, nos serviu de subsidio um levantamente entre 40

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jovens beneficiarios do programa com a aplicação do recurso téncico de entrevista-


semiestruturada que ocorreu em junho de 2014, contemplando a primeira etapa do projeto de
pesquisa “Trabalho e Qualificação: um estudo do PRONATEC” (PROPESQ-UFRN). Além
do público beneficiado, a pesquisa dialogou com colaboradores e professores e se valeu de
documentos secundários como relatórios e folhas de frequencia. O que se tornou claro com o
desenvolvimento da pesquisa é o programa para além de suas insuficiências, legitima a
simplificação do conhecimento e reintera a lógica do mercado precarizado como trataremos
em seguida junto a uma análise conjuntural.

O MERCADO DE TRABALHO DO SEGMENTO JUVENIL


Sob os marcos do capitalismo, o desemprego estrutural é uma constante e não é
preciso um profundo esforço interpretativo para perceber o que é óbvio: o mundo do trabalho
na sociedade capitalista é sinônimo de crises, exploração e desigualdade. O desenvolvimento
histórico desse sistema sustenta a lógica da exploração e, sobretudo do lucro, onde o capital se
coloca acima do homem. Não sem razão “o capital é a potência econômica da sociedade
burguesa, que domina tudo” como define Marx (2008, p. 267). Nas décadas recentes do
século não houve modificações nesta ordem, apenas o aprofundamento da dimensão
dominadora do capital e as inevitáveis consequências na pretérita relação entre capital e
trabalho.
Se o capitalismo é um sistema de crises ou é a crise em si, este é um dilema ainda
sem respostas definitivas, mas o certo é que as crises capitalistas têm como efeito prático o
desemprego. E como as crises capitalistas são cíclicas, o aumento dos desempregados no
mundo é uma constante.
O mundo ocidental na atualidade vive uma crise, mas ela não é fruto apenas de
movimentos recentes da economia internacional, ela deriva de outros processos como a
recente crise que explodiu no epicentro do capitalismo global, no EUA, que inaugurou em
2008 mais um período das cíclicas crises do capital. Essa crise começou pelo setor imobiliário
norte-americano resultando inicialmente em um contingente significativo de desempregados
no setor da construção civil e consequentemente comprometendo outros setores da economia.
Muitos foram os economistas que atestavam que a crise que se iniciava em 2008 seria a crise
mais grave desde o crash na bolsa de valores de Nova York em 24 de outubro de 1929.
Dentre os resultados dessa crise o aumento do desemprego foi um dos dividendos deste novo
período.

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Em 2006, segundo os dados da OIT1, 196 milhões de pessoas estavam


desempregadas no mundo, desse assustador contingente, 44% eram jovens entre 15 e 24 anos,
o que revela uma nova problemática: o desemprego entre a juventude. Segundo Navarro e
Padilha (2009) a terrível marca de desemprego aqui referenciada demonstrava um fato sem
precedentes na histórica.
No relatório2 elaborado pela OIT intitulado "World of Work Report 2014:
Developing with Jobs”3 e divulgado recentemente pela agência das Nações Unidas, estima-se
que neste ano de 2014 tenhamos 203 milhões de desempregados, o que revela um aumento de
7 milhões de desempregados no período de oito anos de 2006 à 2014. Neste mesmo
documento estimasse que em 2019 tenhamos um total de 213 milhões de desempregados ao
redor do mundo.
O certo é que na nova formatação do mercado de trabalho com forte fluidez de
capitais e os avanços tecnológicos faz crescer o desemprego e o trabalho precarizado que não
confere seguridade ao trabalhador como apresenta David Harvey (1992, p. 144) quando diz
que a “atual tendência dos mercados de trabalho é reduzir o número de trabalhadores centrais
e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos
quando as coisas ficam ruins”.
A tendência histórica que se confirma na atualidade do avanço do capitalismo
moderno-competitivo na constituição de um mercado global de ações com “acelerada
mobilidade geográfica de fundos” e consequentemente de empresas com nos fala Harvey
(1992, p. 152) tem formatado o mercado tornando-o ainda mais precarizado e mudado o
padrão ocupacional do trabalhador. Esta tendência confirma a concepção de Marx (1997, 13)
que “a relação oficial entre o capitalista e o assalariado é de caráter puramente mercantil”.
Neste processo de reorganização do mundo do trabalho, a juventude tem ocupado
espaços cada vez mais precarizados no mercado. O barateamento da força de trabalho juvenil
e o desemprego entre os jovens são características intrínsecas do atual mercado de trabalho. A
ampliação do desemprego no mundo entre a juventude hoje é uma tendência mundial. Na
Europa essa tendência se acentua com destaque para a Espanha onde a taxa de desemprego
bate os 26%, chegando aos 55% entre os jovens com menos de 25 anos4.

1
Organização Internacional do Trabalho – OIT. Para mais informações consulte o escritório virtual da OIT no
Brasil.
2
World of Work Report 2014: Developing with Jobs. Disponível em:
<http://www.os.org.br/site/sites/default/files/wcms_243961.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014.
3
O mundo do Trabalho 2014: Desenvolvimento com Empregos.
4
Taxa de desemprego volta a subir na Espanha a 25,93%. Disponível em:
<www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/04/29/interna_internacional,523545/taxa-de-desemprego-
volta-a-subir-na-espanha-a-25-93.shtml>. Acesso em: 10 ago. 2014.

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No Brasil a possibilidade do crescimento do desemprego entre a juventude é uma


tendência. Menezes e Uchoa (2013, p. 106) afirmam que “as taxas de desemprego são sempre
mais elevadas para as mulheres e para os jovens com até 24 anos”. Contudo, vale destacar que
a taxa de desemprego no Brasil no corrente ano tem se mantido baixa, em torno de 5%. O que
é evidente é que embora a economia brasileira tenha dado sinais repetitivos de desaceleração,
as políticas sociais, especialmente na área de educação com a expansão do acesso à
universidade pública, tem garantido que as taxas de desemprego permaneçam abaixo do
esperado já que hoje existe um maior número de brasileiros que dedicam-se ao ensino
superior e não estão procurando trabalho como informa os principais jornais do país.
A importância das políticas sociais apresenta uma dimensão positiva ao assegurar
minimamente as condições de sobrevivência e cidadania, contudo, são insuficientes. Vale
destacar dois pontos essenciais da conjuntura atual brasileira sob o mundo do trabalho: o
contingente juvenil em vulnerabilidade social é enorme; e esse contingente tem servido de
força de trabalho no mercado de trabalho precarizado e informal. Os postos de trabalho
ocupados por essa juventude têm sido essencialmente no setor de serviços, pois, nele
concentra-se com maior evidência a lógica da precarização, sendo também o setor que mais
cresce e emprega como uma tendência já demonstrada com o balanço do PNAD-2009 que trás
dados de 2004 a 2009, não muito distinto dos atuais.

Esses dados nos permitem introduzir o debate sobre a qualidade do emprego ocupado
pela juventude, em especial da juventude pobre. O que constatamos é que essa massa de
jovens pobres cristaliza-se como o fulcro que abastece a necessidade de força de trabalho do

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mercado informal e precarizado. É tautológico fazermos essa reiteração, mas essa perversa
realidade é o que temos desenhado no Brasil por séculos de desigualdades.
Neste sentido, se retomarmos as mudanças técnicas e organizacionais apontadas por
Harvey (1992) no mercado de trabalho, ressaltamos o caráter mercantil apontado por Marx
(1997) na relação capital e trabalho podemos perceber sob a perspectiva do capital, a
juventude como uma força de trabalho vulnerável a ser explorada, é lógico, aparentemente um
silogismo, que as condições de pobreza da juventude serve estrategicamente com perfeição as
engrenagens do capitalismo e suas necessidades no processo econômico. Discutindo essa
relação entre a juventude e o processo econômico, Menezes e Uchoa (2013, p. 106-107)
fazem os seguintes apontamentos:

O aumento do trabalho juvenil acompanha as necessidades do processo


econômico tanto no que concerne ao crescimento como em termos de suas
transformações técnicas e organizacionais que condicionam formas
diferentes de absorção de mão de obra. (...) a entrada no mercado de trabalho
de crianças e jovens na faixa etária de 10 a 17 anos se relacionam com o
nível de renda das respectivas famílias (...). Esse quadro aponta uma forte
precarização do trabalho juvenil, a qual é acompanhada por um processo que
amplia a quantidade de jovens de periferia em torno do mercado de trabalho
secundária.

A precarização do trabalho juvenil não é um fenômeno novo, mas, certamente tem


chegado a patamares consideráveis com o avanço do capitalismo moderno-competitivo nos
tempos atuais. Esta é uma tendência que não se circunscreve apenas a em países de
capitalismo desenvolvido, mas que pode ser encontrado em estados brasileiros periféricos,
como o Rio Grande do Norte, onde os índices de pobreza entre a juventude é claramente
acentuado.

O PRONATEC E O MERCADO DE TRABALHO: a juventude de Natal-RN


Se o Brasil está na periferia do capitalismo é razoável afirmar que o Rio Grande do
Norte – RN é a periferia da periferia nos marcos do capital. No RN, o turismo é a principal
atividade econômica do Estado seguida pela produção de petróleo em terra, produção de sal
que abastece 90% do que é consumido no Brasil e a fruticultura. Nem o mais otimista
estudioso da economia enxergaria a consolidação de uma forte economia no Rio Grande do
Norte que tem como mote econômico o setor de serviços.
O RN não tem só uma economia frágil, mas serviços públicos precários,
desenvolvimento tecnológico inexistente, um setor educacional que figura entre os piores do
país e infraestrutura como um problema crônico. 55% das famílias potiguares vivem com até

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dois salários mínimos e segundo o PNAD-20115 o Estado tem a maior taxa de desemprego no
Nordeste e a segunda maior do Brasil. Como não poderia ser diferente, o desemprego entre a
juventude e a precarização do mundo do trabalho juvenil são elementos constitutivos do
panorama social potiguar.
O Rio Grande do Norte como outras unidades da federação carecem de programas
governamentais que forneçam formação de qualidade, levando em consideração as
potencialidades econômicas de cada região. Dinamizar a economia potiguar também é uma
necessidade estratégica frente os desafios do século XXI, que exige inovação tecnológica e
diversificação da economia para a constituição de outros espaços de ampliação no mercado de
trabalho.
Frente ao problema da qualificação para o mercado de trabalho o Governo Federal
instituiu em 2011 o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego –
PRONATEC, que busca oferecer condições para que a população em situação de
vulnerabilidade se insira no mercado de trabalho.
Nossa pesquisa como já referenciamos nas considerações iniciais deste trabalho
detém-se especificamente a Formação Inicial e Continuada (FIC), que é uma das modalides
do PRONATEC e oferta cursos de curta duração que tem o limite de três meses de duração
para serem concluidos. Perseguir a indagação se o programa fornece suporte básico necessário
para que os beneficiários possam não somente buscar uma vaga no mercado de trabalho, mas
se inserirem nele nos fornece um ponto de partida, embora estejamos atentos também à
qualidade do emprego ocupado por esse jovem.
Nossa investigação sobre a população demandatária do PRONATEC, em sua
essencia jovens, na Escola Estadual Berilo Wanderley, localizada na cidade do Natal/RN
fornece um perfil de uma juventude carente que ainda não tem definições claras sobre o
mercado de trabalho.
Indagando um dos benefeiciários sobre sua expectativa de inserção no mercado de
trabalho, este nos falou: “Não sei ainda. Não sei onde quero trabalhar. Quero trabalhar depois
de terminar a faculdade” (Beneficiário 1, 2014). Contudo, este tipo de fala, embora recorrente
sobre o interesse em ingressar no ensino superior, não é a mesma sobre a necessidade de
ingressar no mercado de trabalho, ou se manter nele, mesmo precarizado.
Alguns desses jovens já trabalham e enfrentam um mercado precarizado como única
alternativa de sobrevivência. “Olhe, eu trabalho há um ano e seis meses numa pizzaria e o
dono ainda não assinou minha carteira. Mas, o que eu vou fazer se tenho que ajudar em casa
5
PNAD: RN tem a maior taxa de desempregados no Nordeste e a segunda mais elevada no país. Disponível em:
<http://blogdobg.com.br/pnad-rn-tem-a-maior-taxa-de-desempregados-no-nordeste-e-a-segunda-mais-elevada-
no-pais/>. Acesso em: 10 ago. 2014.

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se minha mãe ‘tá’ desempregada” (Beneficiário 2, 2014). O que é recorrente e que pode ser
percebido é que geralmente os pais desses jovens enfrentam condições de trabalho
desgastantes e precárias, muitas vezes enfrentadas por eles mesmos. “Eu ajudo meu pai na
oficina. Estudo de noite ‘pra’ ficar lá manhã e tarde. É muito trabalho” (Beneficiário 3, 2014).
Desenhando um breve quadro do perfil destes estudantes e verificamos que todos são
oriundos da escola pública com faixa etária entre 14 a 29 anos, sendo alguns já senhores e
senhoras, que não somam um número expressivo: 4 de 40, ou 10% do total. Deste total de 20
entrevistados, 72% deles concluíram ou estão concluindo o ensino médio neste ano de 2014.
Em relação ao gênero esta composição é relativamente paritária entre os gêneros feminino e
masculino, sendo 55 % homens e 45% mulheres.
Jovens pobres que muitas vezes cumprem jornadas duplas de atividades, englobando
o trabalho e os estudos, todos oritundos da escola pública e majoritariamente moradores da
periferia da cidade de Natal. Nos trabalhos que desenvolvem o predominio do mercado onde
estão é o informal e precarizado, muitas vezes para complementar a renda familiar.
Em relação ao quadro social das familias que são orifundas essa juventude,
percebemos que metade vive com uma renda entre 1,5 a 3 salários mínimos mensais,
enquanto que 40% ganha até 1,5 salário mínimo apenas, o que denota que o programa tem
atendido um publico de baixa renda, como demonstra o gráfico produzido pela pesquisa que
segue abaixo.

Renda familiar dos estudantes que


frequentam o Pronatec em Natal

Sem renda - 5%
Até 1,5 SM - 40%
Entre 1,5 e 3 SM - 50%
Entre 3 e 4 SM - 5%

Como já haviamos feito referência da reprodução das relações de trabalho


precarizado e informal das famílias herdadas à juventude como necessidade, percebemos que
44% dos jovens que acompanhamos trabalham, enquanto que 56% dedica-se somente aos
estudos e tarefas domesticas. “Eu só estudo, mas quando minha mãe sai para trabalhar eu sou

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responsavel por cuidar da minha irmã pequena e deixar meu irmão menor na escola”
(Beneficiário 4, 2014).
Já os jovens que trabalham, estão inseridos essencialmente em um mercado de
trabalho informal e sua grande maioria não tem carteira de trabalho assinada, o que resulta na
negação da seguridade social. 78% nao tem carteira de trabalho assinada e apenas uma
minoria de 22% têm os direitos trabalhistas assegurados.
O PRONATEC fornece uma bolsa no valor de R$ 350,00 que varia de acordo com a
frequência do aluno, ou seja, esta é a política de permanência do programa. Frente o problema
da vulnerabilidade social é evidente que a bolsa é insuficiente e tem um carater marcadamente
efemero, pois, dura no máximo três meses referente a duração dos cursos de curta duração. O
destino dado ao valor das bolsas é essencialmente dois: complementação da renda familiar e
gastos pessoais.
O que deve ter atenção especial é o elemento que é possível constatar quando
observamos que embora o programa forneça as referidas bolsas, a somatória de jovens que
procuram trabalho soma 60% dos jovens inseridos no programa. Isso denota duas dimensões:
a necessidade de complementar a renda familiar e a procura pela liberdade financeira. “Estou
procurando trabalho, todos meus amigos estão. Se eu conseguir vou ajudar lá em casa até
‘mainha’ conseeguir emprego, ai depois que ela tiver trabalhando, eu vou ser independente,
vou trabalhar só pra mim” (Beneficiário 5, 2014).
Os cursos ofertados para que este jovem consiga ingressar no mercado de trabalho
são, a saber: Auxiliar Administrativo, Recepcionista, Inglês Básico, Espanhol Básico, Vendas,
Auxiliar de Tesouraria e Libras. Sendo todos de curta duração, levam no máximo três meses
para serem conclusos.
Levando-se em consideração as limitações do programa e os espaços destinos ao
jovem no mercado de trabalho atual, algumas considerações precisam ser feitas no sentido de
apontar as percepções desse processo de (des)qualificação e legitimação do mercado de
trabalho juvenil marcadamente informal e precarizado. Primeiro, em relação ao programa é
preciso dizer os cursos de curta duração constituem uma formação completamente
insuficiente para a inserção do jovem no mercado de trabalho. Um segundo ponto importante
é perceber que um jovem formado em Auxiliar de Tesouraria que se insere no mercado, está
no mercado informal, trabalhando em uma oficina e não em um escritório de contabilidade. O
jovem de 17 anos formado em Auxiliar Administrativo pelo programa, vende CD’s em um
bairro de periferia da cidade, enquanto que aquele que é formado em Libras cumpre uma
jornada de trabalho de oito horas numa pizzaria onde trabalho há um ano e seis meses sem
carteira assinada. Permanecer neste mercado não é opção, é necessidade. O programa reintera

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essa lógica ao não propiciar a mobilidade de um mercado precarizado para um mercado


formal.

CONCLUSÕES
Dentre as conclusões que podemos tirar é que os cursos profissionalizantes de curta
duração são ofertados majoritariamente aos filhos de trabalhadores que estão no mercado
informal e precarizado. Isto não caracteriza-se como uma novidade, mas como a continuação
de um processo histórico onde o Estado a serviço do capital institui um apartheid na arena da
educação.
Nascimento, Moraes e Melo (2013, p. 263) expõe esse perfil excludente da educação
que “por esse caráter discriminatório e dualista o ensino secundário continuou destinado à
formação das elites dirigentes, enquanto que o ensino profissional era destinado ao operariado
e seus filhos”. Embora o acesso ensino médio no Brasil esteja muito próximo de ser
universalizado, o PRONATEC continua a destinar o ensino profissionalizante aos
seguimentos vulneráveis.
Os cursos ofertados legitima a desqualificação da formação ao se caracterizarem pela
simplificação do conhecimento. Além disso, os alunos pouco conseguem se inserirem no
mercado de trabalho por meio do curso adquirido e, quando se inserem, assumem postos de
trabalhos precarizados ou informais, reproduzindo, em sua maioria, o lugar que os pais
ocupam no mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

BLOGDOBG. PNAD: RN tem a maior taxa de desempregados no Nordeste e a segunda mais


elevada no país. Disponível em: <http://blogdobg.com.br/pnad-rn-tem-a-maior-taxa-de-
desempregados-no-nordeste-e-a-segunda-mais-elevada-no-pais/>. Acessado em: 10 ago.
2014.

FOLHA DE SÃO PAULO. Mais de 200 milhões ficarão desempregados no mundo em


2014, diz OIT. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/05/1460601-
desemprego-no-mundo-aumentara-em-32-milhoes-de-pessoas-em-2014.shtml>. Acesso em
18 set. 2014.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da Mudança


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<http://www.os.org.br/site/sites/default/files/wcms_243961.pdf>. Acesso em: 10 de nov.
2014.

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MARX, Karl. A origem do capital: a acumulação primitiva. 2. ed. Coleção Bases 3. São
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Popular, 2008.

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NASCIMENTO, Ilma Vieira do; MORAES, Lélia Cristina Silveira de; MELO, Maria Alice.
A qualificação profissional no contexto das políticas para a juventude: em foco o Projovem.
In: Trabalho e formação profissional: juventudes em transição. Organizadores: Júnior
Macambira e Francisca Rejane Bezerra Andrade. Fortaleza: IDT, UECE, BNB, 2013.

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