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Conceitos de circuitos elétricos e eletrônicos.

MATERIAL DE APOIO
Circuitos Eletrônicos 1

Esta aula busca que o(a) estudante aprenda os conceitos


corretos do seu dia-a-dia, sem decorar, e entenda como os
conceitos de física elétrica se relacionam com outras
modalidades da física e com circuitos.

Prof. Euler de Vilhena Garcia


Conceitos de circuitos elétricos e eletrônicos.

MAPA DESTA AULA

ONDE FICA O NORTE


Você consegue explicar o que é corrente de fuga e
como isso tem a ver com os diferentes tipos de
retorno de corrente. Apresente 2 exemplos de
situação que você tomou um choque inesperado,
i.e., uma corrente elétrica fluiu por você quando não
deveria.
Aspectos básicos de circuitos.

Circuitos elétricos e eletrônicos.

O termo circuito elétrico é rotineiramente utilizado para se referir tanto a um sistema elétrico real
quanto a um modelo elétrico de qualquer sistema físico. Usando as várias possíveis relações entre
tensão e corrente podemos fazer analogias com sistemas elásticos (e.g., conjunto mola-amortecedor
de uma suspensão), pneumáticos (i.e, qualquer sistema que envolva o uso de ar ou gás comprimido),
hidráulicos (e.g., sistema de distribuição de água em um prédio), ou biológicos (transmissão de sinais
entre nervos e músculos), para citar alguns exemplos.
Porém usando apenas circuitos elétricos não se consegue meios para representar duas funções
mecânicas: amplificação de potência e chaveamento. Para uma dada potência mecânica, amplificação
significa aumentar o torque, a velocidade ou ambos. Para uma dada potência elétrica, isso implicaria
aumentar a tensão e/ou a corrente a partir de componentes do próprio circuito. Da mesma forma,
chaveamento mecânico implica em acionar/desligar algo. A contrapartida elétrica seria ser capaz de
interromper/reiniciar o fluxo de corrente por meios puramente elétricos.
Ambas as funções são impossíveis de fazer com componentes elétricos. Antes da eletrônica, foram
inventados os componentes eletromecânicos, por exemplo, os relés.
Aspectos básicos de circuitos.

Estas funções só são capazes de serem executadas eletricamente com o uso de componentes
denominados eletrônicos, desenvolvidos a partir dos conceitos da física quântica: especificamente
diodos (para o chaveamento), válvulas e transistores (para ajustes de amplificação).

Mecânico Eletrônico

Amplificação
Hoje em dia há vários circuitos que
utilizam diferentes tipos de
diodos/transistores ou ainda novos
componentes derivados destes.
Todos estes circuitos são ditos

Chaveamento
eletrônicos, em distinção aos
puramente elétricos
Aplicações e limitações da teoria de circuitos.

O papel da Teoria de Circuitos

A teoria de circuitos deve ser vista como um caso particular da teoria eletromagnética: o estudo de
cargas elétricas estáticas ou em movimento. A teoria de circuitos permite a resolução de problemas
mais detalhados de forma muito menos complexa do que a sua resolução literal a partir de equações de
campo.
Não há como fugir do estudo do campo eletromagnético e da física quântica para se analisar em
detalhes o comportamento de qualquer componente eletroeletrônico, a propagação de energia no
espaço ou a interferência entre sistemas por radiação. Contudo, pode-se abrir mão destas e usar a
teoria de circuitos caso queria se analisar a interligação de componentes cujas características já são bem
conhecidas e não importaram as razões que motivam tais comportamentos dos componentes
individuais.
Formalmente falando, pode-se abrir mão do uso da teoria eletromagnética em favor da teoria de
circuitos para estudar qualquer sistema elétrico (ou qualquer sistema físico análogo a um sistema
elétrico) desde que 3 (três) premissas sejam atendidas:
Aplicações e limitações da teoria de circuitos.

 A carga líquida em cada componente do sistema é sempre zero. Isso quer dizer que nenhum
componente pode acumular um excesso de carga positiva ou negativa. Existem componentes que
acumulam carga em circuitos, mas a carga total sempre é nula: isto é, sempre acumulam
quantidades iguais de cargas opostas.
 Não há nenhum acoplamento magnético entre os componentes de um sistema. Isso
obrigatoriamente envolveria a existência de radiação eletromagnética entre os componentes, e
teria de ser usada a teoria eletromagnética. Contudo, acoplamentos magnéticos restritos ao interior
de um componente em si são permitidos e utilizados na teoria de circuitos.
 Efeitos elétricos acontecem instantaneamente em todo o sistema. Neste caso, este sistema é
definido como um sistema de parâmetros concentrados. (O oposto seria um sistema de parâmetros
distribuídos.)

É importante que fique claro quando se pode considerar um sistema como sendo de parâmetros
concentrados. De fato, mesmo que os sinais elétricos se propaguem com velocidades bem próxima a da
luz, esta é finita! Logo, nada a rigor seria instantâneo. Em que condições pode-se pressupor esta
instantaneidade?
Aplicações e limitações da teoria de circuitos.

Sinais elétricos se propagam como ondas eletromagnéticas e qualquer onda é definida em termos do
seu comprimento de onda l, proporcional a sua frequência de oscilação f e a sua velocidade de
propagação no meio v (c é o símbolo consagrado para velocidade da luz no vácuo, apenas).
𝑣
l=
𝑓
Neste caso, um sistema é dito de parâmetros concentrados se o comprimento de onda do sinal for
grande em comparação às dimensões físicas do sistema envolvido. Quantitativamente, é costume
(regra prática, não é definição científica!) se considerar isso quando o comprimento de onda for igual
ou maior a 10 vezes a dimensão do sistema. Assim, um mesmo sistema pode ser de parâmetros
concentrados ou distribuídos conforme sua frequência de operação!

Exemplos de sistemas Frequência de operação l Parâmetros concentrados (PC) ou distribuídos (PD) ?


Transmissão de PC:  50km (e.g., circuitos em geral);
50 – 60Hz 5.105 m
energia elétrica PD: > 50km (e.g., linhas de transmissão)
PD: > 3cm
Telefonia celular Faixa de GHz 3.10-1 m
PC:  3cm
Aplicações e limitações da teoria de circuitos.

Circuitos deste curso

As restrições listadas anteriormente parecem bastante amplas. Ainda assim, permitem que a teoria de
circuitos seja usada em muitas situações, tantas que neste curso inicial de circuitos precisamos limitar
ainda um pouco mais. Os circuitos analisados neste curso serão ainda invariantes no tempo e lineares.

Um sistema é invariante no tempo se sua relação entrada-saída independe do tempo. Se sua entrada for
retardada de 𝑡0 segundos, sua saída também será pelo mesmo tempo sem afetar sua forma e
amplitude.

Um sistema variante no tempo, por sua vez, tem suas características alteradas com o tempo: a massa de
um foguete varia à medida que seu combustível vai sendo queimado; as propriedades de um circuito
podem se alterar caso a temperatura em torno dele varie significativamente. Nesses casos, a resposta
de saída depende da entrada em si e de quando esta foi aplicada ao sistema.
Aplicações e limitações da teoria de circuitos.

Um sistema é linear se atende simultaneamente aos princípios da superposição e da homogeneidade.

SUPERPOSIÇÃO: Se duas entradas forem aplicadas simultaneamente (no mesmo ou em diferentes


pontos do sistema) a resposta total será a soma das respostas individuais a cada uma das entradas
separadamente.
HOMOGENEIDADE: Quando a entrada é aumentada por um fator multiplicativo K, a saída também é
multiplicada por K.
Podemos resumir estes dois princípios em uma única frase, que nos permite testar matematicamente se
cada sistema é linear ou não apenas comparando suas entradas e saídas:

𝑆𝑒 𝑦1 𝑡 𝑒 𝑦2 𝑡 são as saídas correspondentes, respectivamente, às entradas 𝑥1 𝑡 𝑒 𝑥2 𝑡 ,


então um componente ou sistema será linear se, e somente se, a resposta a
𝑥(𝑡) = 𝐾1 𝑥1 𝑡 + 𝐾2 𝑥2 𝑡
for
𝑦(𝑡) = 𝐾1 𝑦1 𝑡 + 𝐾2 𝑦2 𝑡
Elementos de circuitos.

ELEMENTOS ATIVOS: podem entregar (i.e., fornecer) energia ao sistema.


ELEMENTOS PASSIVOS: apenas consomem (i.e., absorvem, dissipam) energia do sistema.

DOIS GRANDES TIPOS


Fontes.

Fontes de tensão ou de corrente


Fonte elétrica é um dispositivo capaz de fornecer de tensão ou corrente elétricas a um circuito.

Uma fonte ideal de tensão é um elemento de circuito capaz de manter uma tensão prescrita nos seus
terminais (a tensão nominal) independentemente da corrente que flui entre eles. Da mesma forma, uma fonte ideal
de corrente é capaz de manter uma corrente prescrita nos seus terminais (a corrente nominal) independentemente
da tensão entre eles. Isto quer dizer que não há como calcular a corrente de uma fonte ideal de tensão ou a tensão de
uma fonte ideal de corrente sem o conhecimento do restante do circuito que ela alimenta.
Fontes ideais independentes, por sua vez, estabelecem seus valores nominais de tensão ou corrente sem
depender de tensões ou correntes existentes em outros pontos do circuito. São geralmente representadas por um
círculo. Fontes independentes de tensão incluem as polaridades da tensão na sua representação; fontes
independentes de corrente possuem uma seta indicando o sentido do fluxo. Alguns exemplos:

Em ambos estes casos, não há nenhuma expressão


matemática associada às fontes. Logo, ambas são fontes de
tensão e corrente contínuas. Fontes de tensão (ou corrente)
Fonte ideal e Fonte ideal e alternada devem ter especificadas a expressão de sua
independente de independente de variação além do seu valor nominal.
tensão de 5V. corrente de 2A.
Fontes.

Os tipos de fontes ideais mais comum possuem símbolos próprios. Os mais comuns são a bateria e tensão alternada (a.c.
ou c.a.) senoidal.

+
Fonte ideal de ou
tensão AC
senoidal
CA
-
Símbolos usuais para uma bateria.
O terminal positivo é sempre o traço longo.

Fontes ideais (de tensão ou corrente) também podem ser dependentes ou controladas. Nestes casos, sua
representação é por losangos em vez de círculos, com a especificação da relação de controle. Tanto a fonte de
corrente dependente ou a fonte de tensão dependente podem ser controladas por uma tensão ou corrente existente
em outro lugar do circuito, o que resulta num total de 4 possibilidades:
Fontes.

a) Fonte de tensão controlada por tensão: A relação m entre a tensão de controle 𝑉𝑥 e a tensão nominal m𝑉𝑥 é
adimensional.
b) Fonte de tensão controlada por corrente: A relação 𝑟𝑚 entre a corrente de controle e a tensão nominal tem a
dimensão volt por ampère.
Fontes.

c) Fonte de corrente controlada por tensão: A relação 𝑔𝑚 entre a tensão de controle e a corrente nominal tem a
dimensão ampère por volt.
d) Fonte de corrente controlada por corrente: A relação b entre a corrente de controle 𝑖𝑥 e a tensão nominal b𝑖𝑥 é
adimensional.
Resistências.

Lei de Ohm

Resistividade elétrica (r) é a propriedade que um dado material possui de resistir ao fluxo de cargas. Resistência (R),
por sua vez, é a propriedade de um sistema ou elemento do circuito de impedir o fluxo de corrente por ele. Sua
unidade é o Ohm (W), em homenagem a Georg Simon Ohm. A Lei de Ohm expressa resistência como sendo a
proporção entre a tensão e corrente nos terminais de um elemento puramente condutor.

𝑣
𝑅=
𝑖

O inverso da resistência em um elemento puramente condutor é denominado condutância (G) e é


medida em Siemens (S). Ou seja, a condutância é a propriedade de um sistema ou elemento do circuito de facilitar o
fluxo de corrente por ele.
Todos os fios e conexões, terminais e conectores, e elementos de circuito em geral apresentam algum
grau de resistência. Contudo, em um modelo de parâmetros concentrados como é a teoria de circuitos, considera-se
que as resistências de fios, trilhas, conectores, terminais e demais dispositivos do circuito são desprezíveis em relação
ao componente resistor.
Resistências.

Resistor
O resistor ideal é o elemento de circuito que apresenta apenas resistência como propriedade elétrica.
Logo, a tensão em seus terminais é diretamente proporcional à corrente elétrica que flui por ele.
Também é assumido que o valor de sua resistência é constante e invariante no tempo. A potência em
um resistor é sempre positiva, caracterizando-o como um elemento passivo (pois p > 0 implica em
potência dissipada pelo elemento).
𝑝 = 𝑣𝑖

𝑣 𝑣2
𝑝 = 𝑅𝑖 𝑖 = 𝑅𝑖 2 𝑝=𝑣 =
𝑅 𝑅

IMPORTANTE: Potência em resistores.


RESISTORES REAIS QUEIMAM. A resistência à passagem da corrente elétrica resulta na transformação da energia elétrica em energia
térmica, pelo choque dos elétrons em passagem com a estrutura atômica do elemento. Isto se manifesta no aquecimento do resistor,
que deve ser mantido dentro de limites aceitáveis. Para fins de análise de circuitos, isso não interfere com o dimensionamento do
resistor ideal nos cálculos. Esta geração de calor em resistores, contudo, é importante para o dimensionamento correto da potência
em resistores reais.
Resistências.

Resistores e fontes: casos especiais

Resistores extremos Fontes em repouso

Fonte ideal de tensão em repouso,


Resistor com resistência nula, i.e. é não oferece
Curto-circuito i.e., fonte ideal de tensão com valor
qualquer oposição à passagem de corrente
nominal de 0V.
Fonte ideal de corrente em repouso,
Resistor com resistência infinita, i.e., impede
Circuito aberto i.e., fonte ideal de corrente com valor
toda a passagem de corrente
nominal de 0 A.
Chaves e acionadores.

Tipos de chaves
Chaves são classificadas pela quantidade de contatos que fazem, particularmente quantos polos (poles) e quantas
posições de conexão (throws). Alguns exemplos:
 SPST (single pole, single throw): 1 polo, 1 posição;
 SPDT (single pole, double throw): 1 polo, 2 posições;
 DPDT (double pole, double throw): 2 polos, 2 posições;
 3P6T (three poles, six throws): 3 polos, 6 posições

Caso uma chave apenas ligue/desligue um circuito é denominada interruptor. Caso esta chave ligue um circuito ao
mesmo tempo que desliga outra, é denominada de comutador ou chave comutadora.

Em alguns casos a ação de contato deve ser momentânea, no que são usados os interruptores push-button (i.e.,
botões de pressão), de 2 tipos:
 Normalmente Aberto (NA, normally open – NO): funciona como um circuito aberto se não apertado. Ao apertá-
lo, fecha-se o circuito;
 Normalmente Fechado (NF, normally closed – NC): funcionam como um circuito fechado se não apertado. Ao
apertá-lo, abre-se o circuito.
Chaves e acionadores.

Chaves mais comuns INTERRUPTOR COMUTADOR

BOTÃO DE PRESSÃO
(push-button)

CHAVE
DESLIZANTE

INTERRUPTOR DE BALANCIM
(Alavanca oculta que necessita
ser levada de uma a outra
posição indexada)
CHAVE LIGA-DESLIGA
(Com ou sem center-off, i.e.,
ponto neutro em que todas as
posições estão desconectadas)
Chaves e acionadores.

Notações

Outros tipos de interruptores

A – Disjuntor
B - Fusível
Construindo modelos.

Por que construir modelos?


Todo projeto de engenharia começa com a percepção de um problema a ser resolvido. Este problema é
então detalhado nos seus aspectos relevantes e irrelevantes ao contexto desejado. Esse detalhamento
converge para um conjunto de requisitos mínimos mensuráveis que devem ser atendidos para que o
problema pode ser considerado resolvido satisfatoriamente – as especificações. A partir destas são
realizadas as soluções possíveis e, então, obtidos os resultados.

Soluções
Problema Definição das realizadas Resultados
inicial especificações (modelos obtidos
implementados)
Construindo modelos.

VERIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES


 Atestar que as soluções realizadas atendem às
respectivas especificações.
 “Construiu-se corretamente o projeto?”

VALIDAÇÃO DAS SOLUÇÕES


 Atestar que os resultados obtidos atendem os
aspectos relevantes do problema inicial.
 “Construiu-se o projeto correto?”
Construindo modelos.

Erros de verificação

ERRO #1: ERROS DE SOLUÇÃO. Todos os erros devidos aos cálculos numéricos computacionais executados
(problemas de convergência dos algoritmos, de arredondamento de variáveis, de discretização). São avaliados pela
verificação de cálculos (calculation verification).

ERRO #2: ERROS DE ALGORITMOS E CÓDIGO. Todos os erros devidos às diferenças entre a solução exata do
problema e a solução obtida por cálculos da simulação, geralmente interativos (e.g., algoritmos inadequados, erros
de programação). São avaliados pela verificação de código (code verification).

IMPORTANTE: Simuladores de circuitos


ERROS DE VERIFICAÇÃO são indicadores de que simuladores de circuitos não são perfeitos. Em simuladores
comercialmente disponíveis, ERROS DE SOLUÇÃO podem ser ajustados em algum grau nas configurações do
sistema.

ERROS DE ALGORTIMOS E CÓDIGO, em geral, não são passíveis de ajustes em simuladores comerciais de circuitos
pois, geralmente não são de código aberto. Tais ajustes são factíveis nos programas em que o próprio engenheiro
escreve o código.
Construindo modelos.

Erros de validação

ERRO #3: ERROS DE FORMA DO MODELO. Todos os erros devidos às diferenças entre a solução exata do modelo
matemático e as medições realizadas nos experimentos com os modelos físicos.

ERRO #4: ERROS DE MEDIÇÕES EXPERIMENTAIS. Todos os erros devidos às diferenças entre os valores reais e o
valores medidos experimentalmente de grandezas físicas ou respostas do sistema.

IMPORTANTE: Modelos em Engenharia.


Verificação é um processo matemático. Testes de verificação atestam se os resultados da simulação são consistentes.

Validação é um processo físico. Testes de validação atestam se os resultados obtidos com o modelo realmente
atendem ao problema que deveriam solucionar.
Construindo modelos.

Trabalhando com modelos

Um modelo pode, então, ser definido como uma representação simplificada de um sistema complexo
capaz de reproduzir os aspectos considerados relevantes do sistema original no contexto particular de
interesse.
Sem a modelagem de sistemas, todos os projetos de engenharia seriam processos de tentativa-e-erro
ou simples repetições de técnicas consagradas pelo tempo de uso, não necessariamente pela sua
adequação ao contexto do problema.
Um modelo sempre começa como um conceito. Especificamente em Engenharia, um modelo
conceitual engloba:
 O sistema físico, sua vizinhança e os aspectos de interesse de análise;
 O ambiente de operação do sistema e seu uso pretendido;
 As considerações físicas que permitem simplificar o sistema e os fenômenos de interesse;
 As respostas do sistema que precisam obtidas quantitativamente;
 A exatidão necessária nestas respostas quantitativas.
Construindo modelos.

O MODELO MATEMÁTICO é o conjunto de relações lógico-matemáticas que representam o sistema


de interesse e suas respostas ao ambiente e às condições iniciais.
O MODELO FÍSICO engloba o protótipo físico real e os protocolos de medições a serem realizadas
em laboratório (em condições controladas ou não).

A Teoria de Circuitos possui uma das melhores relações custo-benefício para construção de modelos.

 Seus modelos conceituais são os mais indicados para sistemas eletroeletrônicos, ao mesmo tempo
que englobam vários outros possíveis sistemas físicos.
 Os modelos matemáticos resultantes podem ser resolvidos analiticamente ou
computacionalmente, permitindo testar diferentes abordagens sem ter de construir protótipos.
 Por último, todos os modelos matemáticos podem ser implementados em protótipos físicos de
pequenas dimensões, baixo peso e custo aceitável a partir dos vários componentes
eletroeletrônicos comercialmente disponíveis.
Componentes reais.

Fontes reais de tensão


Uma fonte ideal de tensão é definida como sendo capaz de fornecer
tanta corrente quanto necessária para que a tensão entre seus terminais VS, fonte ideal
seja mantida. É uma simplificação poderosa. Se esta fonte alimenta uma de tensão
resistência R, pela Lei de Ohm esta corrente 𝑖 seria quase infinita quando
esta resistência tender a zero, i.e., com seus terminais curto-circuitados.
Toda a estrutura em cinza,
Uma fonte real de tensão tem um limite máximo de corrente
fonte real de tensão
que consegue prover. Um modelo disto pode ser conseguido ao
incluir uma pequena resistência em série a uma fonte ideal, no
papel de limitador de corrente quando esta fosse curto-
circuitada. É um modelo suficiente exato pois fontes reais
possuem de fato uma resistência interna devida à resistividade
presente nos seus materiais constituintes. A consequência de se
conectar um circuito a uma fonte real é uma pequena queda de
tensão em relação a sua f.e.m. Esta queda de tensão é
diretamente proporcional à corrente drenada da fonte.

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Componentes reais.

Fontes reais de corrente

IS, fonte ideal


Uma fonte ideal de corrente é definida como sendo capaz de de corrente
fornecer tanta tensão quanto necessária para que a corrente
entre seus terminais seja mantida. Esta tensão seria quase
infinita quando a resistência entre seus terminais fosse muito
alta, i.e., com seus terminais em circuito aberto. Toda a estrutura em cinza,
fonte real de corrente
Fontes reais de corrente, por sua vez, têm um limite máximo
de tensão que consegue prover em razão de sua resistência
interna shunt (i.e., em paralelo) muito alta. Tal qual acontece
com a tensão nos terminais de uma fonte real de tensão, esta
resistência reduz a magnitude da corrente efetivamente
fornecida ao circuito. Esta queda de corrente é diretamente
proporcional à tensão demandada pela carga.

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Componentes reais.

Baterias reais

O principal gráfico descritor de uma bateria real é a


variação da tensão no tempo (tempo de descarga ou
horas de serviço). Algumas baterias possuem tal curva
bastante plana (e.g., baterias de óxido de mercúrio ou
óxido de prata) ao longo de toda sua faixa de uso.
Outras, nem tanto (e.g., pilhas alcalinas comuns,
gráfico ao lado). Em um datasheet típico tais curvas de
descarga podem ser obtidas para corrente, potência
ou resistência constantes.

(SITE) DURACELL. Produt datasheets. Disponível em http://ww2.duracell.com/en-US/Global-Technical-Content-Library/Product-Data-Sheets.jspx.


Componentes reais.

Baterias reais
𝑡 𝑡
1
𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐴ℎ = 𝑖 𝑑𝑡 = 𝑣 𝑑𝑡
0 𝑅 0 A capacidade da bateria, i.e., quanta
carga elétrica a bateria pode prover
antes de se descarregar (fornecida pelos
fabricantes em Ampères-hora, Ah) pode
ser estimada a partir da determinação
da área sob a curva de do gráfico de
tensão versus tempo de uma bateria
descarregada com um resistor R dividida
pelo valor deste resistor.
Componentes reais.

Resistores reais: Simbologia

Notação ANSI
Notação IEC
Valor fixo Variável Variável Variável
Figuras adaptadas a partir de:
(tipo comum) (reostato) (potenciômetro) (trimpot)
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Componentes reais.

Resistores reais: Simbologia

Fusistor Fusível rearmável


(pico fusível) (polyswitch)

Potenciômetro Variável com Variável com Matrizes ou Redes


digital temperatura luminosidade de resistores
Figuras adaptadas a partir de:
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors. (termistor) (fotoresistor)
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Componentes reais.

Resistores reais: Características comuns

RESISTÊNCIA ELÉTRICA
Valor em ohms. Geralmente, indicado no corpo por anéis coloridos ou números.
TOLERÂNCIA
Indicada em %, é a maior diferença entre o valor indicado e o valor real da peça.
POTÊNCIA DISSIPADA
Taxa temporal real da energia dissipada pela peça durante sua operação.
Potência nominal: Máximo de calor suportado pela peça, proporcional ao tamanho da peça.
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO COM A TEMPERATURA
Variação do valor nominal de resistência com a temperatura. Pode ser positivo (quando a resistência aumenta
com a temperatura), ou negativo (quando esta diminui com a temperatura). Indicada em ppm/°C
RESISTÊNCIA TÉRMICA (THERMAL RESISTANCE)
Grau de dificuldade de dissipação do calor gerado pelo resistor para o ambiente ao seu redor. Indicada em K/W.
Define a temperatura na superfície do resistor em relação à temperatura ambiente e a potência consumida
(carga). Varia com a condutividade térmica dos materiais utilizados (incluindo a placa); as dimensões do
resistor; e o tipo de montagem
Componentes reais.

Resistores reais: valores comerciais e código de cores


Componentes reais.

Séries comerciais são um


conjunto tabelado de
valores disponíveis a cada
múltiplo de 10 (década).

SÉRIE E-24
24 valores por década.
SÉRIE E-96
96 valores por década.
SÉRIE E-192
192 valores por década.

Exemplo de valores de
resistores de 5% entre
1kW e 10kW (série E-24):
1,0 – 1,2 – 1,3 – 1,5 – 1,6 –
1,8 – 2,0 – 2,2 – 2,4 – 2,7 –
3,0 – 3,3 – 3,6 – 3,9 – 4,2 –
4,7 – 5,1 – 5,6 – 6,2 – 6,8 –
7,5 – 8,2 – 9,1 – 10,0kW
Componentes reais.

Resistores reais de valor fixo: construção típica

1. Um pedaço de cilindro de carbono é cortado OU uma película


fina de carbono OU um filme metálico é enrolado sobre um
pequeno tubo de cerâmica até que a resistência entre os dois
extremos fique tão próxima quanto possível do valor
desejado.
2. São acrescentados terminais (tampa e fio) em cada extremo.
3. O resistor é recoberto com uma camada isolante.
4. Pintura de faixas coloridas transversais para indicar o valor da
resistência.
Componentes reais.

Resistores variáveis  Potenciômetros (figura à esquerda) – resistores


cuja resistência pode ser alterada girando um
eixo que move um cursor de metal sobre uma
Principais cuidados ao usar resistores variáveis: pista de grafite. Pode ser linear ou logarítmico.
 Trimpot OU trimmers (figura ao meio)–
 Tomar cuidado com choques mecânicos
potenciômetros sem eixo.
 Quando o ajuste é crítico, colocar em série um resistor
de valor fixo apropriado.  Multivoltas (figura à direita) – potenciômetros de
 Nunca sintonizar em um valor próximo dos extremos, eixo do tipo sem fim. Varia a resistência bem
mas sim próximo do meio da faixa dinâmica. devagar ao girar o eixo. Resistor de precisão,
quando usado corretamente.
Componentes reais.

Resistores reais: Potências típicas


Componentes reais.

Resistores reais: Cuidado com a potência!


Valores nominais de resistência e potência são referidos a 25°C, apesar de resistores tradicionalmente serem feitos
para operar entre -55 e +155°C. A seguir estão curvas típicas de compensação da potência dissipada (‘derating’). Esta
curva indica que para temperaturas ambientes (i.e., ambiente onde o resistor opera) acima de certo valor, a potência
dissipada não pode ser 100% da potência nominal, mas deve ser limitada a uma fração desta.

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Referência de tensão

Referência de 0V
Tensão elétrica é uma medida relativa em relação a um
referencial. Não à toa, também é conhecida como diferença de
potencial (d.d.p.) . É importante que todos os potenciais em
um circuito sejam referidos em relação à mesma referência
elétrica, denominada referência de 0V ou referência de tensão.

Esta referência de 0V pode Potencial relativo à referência


de tensão (terra do circuito)
eventualmente ser conectada à
infraestrutura de aterramento físico,
mas tal conexão não é obrigatória a
todos os casos. Isso gera confusão
inicial entre os alunos pois, conectada Tensão Referência de 0V
ou não ao sistema de aterramento, entre os (terra do circuito)
terminais
esta referência de 0V é comumente
denominada de “o terra do circuito”. Referência de 0V
(terra do circuito)
Figuras adaptadas a partir de:
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Referência de tensão

Referência de 0V Em circuitos com alimentação puramente positiva, esta referência é


a conexão do terminal negativo de alguma das fontes ou a conexão
dos terminais negativos de várias fontes diferentes.

Em circuitos com alimentação


positiva e negativa, esta referência
de 0V é um terceiro terminal.

Referência de 0V
(terra do circuito)

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
Referência de 0V
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
(terra do circuito)
Caminho de retorno.

Caminho de retorno

Corrente elétrica precisa de um circuito fechado entre os terminais de alimentação para circular. Afinal, circuito
aberto não possui corrente. Este caminho de retorno, portanto é fundamental para funcionamento do circuito.

Retorno comum Retorno pelo chassi Retorno pelo terra (ou


ou Retorno flutuante ou Retorno pelo quadro aterramento)

Em esquemáticos complexos possui símbolos


dentro do triângulo: algarismos (1,2,...) para
indicar de que trecho do circuito ele é a
referência ou letras para indicar o plano de
terra: A – analógico; D - digital

Em placas de circuito impresso e em sistemas elétricos complexos, o caminho de retorno deve ser cuidadosamente
planejado a fim de garantir o funcionamento correto. São comuns vários caminhos distintos, e estes caminhos são todos
chamados de terra, mesmo que nem todos estejam de fato aterrados. Por isso que é comum expressões que circuitos
complexos têm ‘vários terras’: terra digital, terra analógico, terra de alta potência, entre outros.
Caminho de retorno

Fiação real Representação em esquemático

Fonte Carga
RETORNO COMUM OU
RETORNO FLUTUANTE.
O caminho de retorno se dá
ao se fechar diretamente a Fonte Carga OU Fonte Carga
conexão com o polo negativo
da fonte, não conectada à
retorno flutuante nenhuma estrutura adicional.

Fonte Carga RETORNO PELO CHASSI.


O caminho de retorno se dá por alguma
estrutura metálica separada do circuito.
Fonte Carga
Por exemplo: o negativo da bateria de
um automóvel ligado à estrutura do
carro.

retorno pelo chassi


Figuras de fiação real adaptadas a partir de: Esquemáticos desenhados com FIDOCADJ 0.24.7
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Caminho de retorno

Fiação real Representação em esquemático

Fonte Carga
RETORNO ATERRADO.
O caminho de retorno acontece por uma das duas
alternativas anteriores (conexão direta ao terminal Fonte Carga
negativo da fonte ou conexão por estrutura de
metal) com o potencial mais negativo conectado à
infraestrutura de aterramento da instalação.

(estaca de aterramento)
Grande parte das interferências entre circuitos reais ocorrem por caminhos de
retorno planejados e mal dimensionados, bem como por caminhos de retorno
imprevistos, gerados por fenômenos eletromagnéticos de acoplamento radiativo.
Figuras adaptadas a partir de:
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.

Esquemáticos desenhados com FIDOCADJ 0.24.7


Exemplo.

Lanterna (NILSSON)

Ao considerar a lanterna como um sistema elétrico e modelá-la


como um circuito, os componentes de interesse são as pilhas, a
lâmpada, o conector (mola), o invólucro e o interruptor.

Caso as pilhas estejam funcionando dentro dos limites


estabelecidos pelo fabricante, pode-se modelá-las como uma
fonte ideal de tensão cujo valor é igual à soma dos valores das
duas pilhas.

A lâmpada emite energia luminosa obtida pelo aquecimento


do seu filamento a altas temperaturas. Por converter energia
elétrica principalmente em energia térmica, podemos modelar
a lâmpada por um resistor 𝑅𝑙 .
Exemplo.

O conector faz o caminho de retorno da corrente, unindo o invólucro às pilhas. Também é responsável por manter o
contato elétrico entre pilhas e lâmpada mediante a aplicação da mola (que pode esquentar ou variar sua pressão
mecânica). Logo, não é um condutor perfeito, sendo modelado por um resistor 𝑅1 . Raciocínio semelhante pode ser
feito pelo invólucro, modelado por um resistor𝑅𝑐 . O interruptor é do tipo SPST, sendo utilizado o símbolo
correspondente. O modelo conceitual final resultante está abaixo.

Repare que três componentes físicos bem diferentes foram modelados pelo mesmo componente elétrico porque o
fenômeno elétrico que ocorre neles, após as simplificações devidas aos aspectos de interesse, é o mesmo.
A necessidade de outras aspectos de interesse resultaria em outras simplificações e, consequentemente, outros
modelos. Por isso, um mesmo sistema físico pode ter vários modelos distintos, de complexidades diferentes
Turma D
2013/2

Avisos finais

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