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15/03/2021 Classificação das Constituições - Resumo de Direito - DireitoNet

RESUMOS

Classificação das Constituições


Conteúdo (materiais, formais e mista), forma (escrita e não
escrita), modo de elaboração (dogmáticas, históricas),
origem (democráticas, outorgadas, cesarista e pactuada),
estabilidade (imutáveis, rígidas, exíveis, semi-rígidas e
super rígida), extensão (sintéticas e analíticas) e outras.

DIREITO CONSTITUCIONAL | 22/MAR/2002

Revisão geral. Este material não sofreu alterações até esta data. (09/out/2020)

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As constituições são classi cadas sob vários enfoques. Veremos os principais


bem como os mais modernos, que a doutrina mais recente elenca.

Quanto ao conteúdo

1 - Material: materialmente, identi ca-se como as normas que regulam a


estrutura do Estado, a sua organização e os direitos fundamentais. Só os temas
atinentes a esse escopo são constitucionais. Desta forma, as regras que fossem
materialmente constitucionais, codi cadas ou não em um mesmo documento,
seriam essencialmente constitucionais. Tudo o mais que constar da
Constituição e que a isso não se re ra não será matéria constitucional. A
Constituição brasileira de 1824 dispunha, no seu artigo 178, que só a matéria
constitucional seria objeto, em caso de modi cação do processo especí co
para tal requerido. Aquilo que não atinasse materialmente com tema
constitucional poderia ser reformado pela legislatura ordinária.

2 - Formal: formalmente, constituição é o modo de ser do Estado, estabelecido


em documento escrito. Não se há de pesquisar qual o conteúdo da matéria.
Tudo o que estiver na constituição é matéria constitucional. Essa distinção
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hoje perde o sentido, carreando toda a doutrina no sentido de considerar


materialmente constitucional tudo o que formalmente nela se contiver. Isso
porquanto com o alargamento das responsabilidades, funções e atuação do
Estado, as constituições passaram a tratar de vários outros assuntos que
ortodoxamente não seriam objeto dela.

3 - Mista: essa classi cação ainda é polêmica, não sendo adotada por alguns
doutrinadores. De acordo com ela, nos termos do art. 5º, § 3º, da Constituição
Federal, os Tratados e as Convenções de direitos humanos, aprovados em cada
casa do Congresso, em dois turnos, com voto de 3/5 de seus membros
equivalerão a uma Emenda Constitucional, ou seja, um documento de
natureza constitucional que está fora da Constituição, sendo adotado tanto o
critério material como o formal. É a Teoria do Bloco da Constitucionalidade,
através da qual não é constitucional apenas o que está na CF, mas toda e
qualquer regra de natureza constitucional. Portanto, para alguns, nosso
sistema é o misto.

Quanto à forma

1 - Escrita: é constituição consistente num código, num documento único


sistematizado. É o sistema usual no continente europeu e, consequentemente,
em toda a América Latina.

2 - Costumeira\não escrita\consuetudinária: é a constituição consistente em


normas esparsas, não aglutinadas em um texto solene, centrada nos usos e
costumes, na prática política e judicial. Seu grande exemplo é a constituição
inglesa que não tem um documento escrito, um código. Ao contrário o seu
direito constitucional decorre da identi cação dos chamados direitos
imemoriais do povo inglês. O sistema parlamentarista, que é o grande modelo
para todo o mundo civilizado, não está estruturado em qualquer norma escrita.

Quanto ao modo de elaboração

1 - Dogmáticas: são as constituições escritas, elaboradas por um órgão


especialmente designado para esse m, normalmente designado Assembleia
Nacional Constituinte. Adota expressamente a ideia de direito prevalente num
momento dado.

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2 - Históricas: são as constituições consuetudinárias, fruto de uma lenta e


contínua síntese da história e da tradição de um povo.

Quanto à origem

1 - Democráticas\populares\promulgadas: são as constituições elaboradas por


um órgão constituinte previamente escolhido pelo povo para o m de elaborar
a constituição. No Brasil, foram democráticas as constituições de 1.891, 1934,
1946 e 1988, porquanto resultaram do trabalho de assembleias constituintes
originárias.

2 - Outorgadas: são impostas unilateralmente por quem detenha, no


momento da imposição, o poder político, a força su ciente para tanto, sem
participação popular. As constituições de 1.824, 1.937 , 1967 e a emenda nº 01,
de 1.969 foram outorgadas. Em 1824, D. Pedro I dissolveu a assembleia
constituinte e outorgou a constituição constante do projeto a ele enviado; em
1937, com o golpe que instaurou o Estado Novo, Getúlio Vargas impôs a
constituição que cou conhecida como "POLACA", por que inspirada na
constituição polonesa.

Em 1969, a Junta Militar que assumiu a presidência da República, com a


doença de Costa e Silva, impôs uma nova constituição, titulada emenda n.º1 à
constituição de 1.967. A constituição de 1967 tem uma história interessante: o
Congresso Nacional foi convocado pela ditadura (Presidente Castelo Branco)
para votar uma nova constituição, sendo a ele remetido um projeto. Essa
constituição deveria ser votada em prazo determinado que venceria a 24 de
março de 1.967, podendo os congressistas modi car, como razoável, o texto
original. Caso não se lograsse a votação no prazo, seria aprovado aquele texto
do projeto.

No dia nal do prazo, pelas 23:00 horas, o presidente do Congresso, Senador


Auro Moura Andrade decidiu que o tempo, o calendário seria xado pelo
relógio do Parlamento e mandou pará-lo. Assim, a votação estendeu-se pela
madrugada, mas, com o relógio parado, considerou-se votada no prazo. Claro
que o ditador aceitou a solução, porquanto se quisesse efetivamente aprovar o
texto original tinha condições de fechar o congresso e não tomar
conhecimento do estratagema. Na medida em que, na verdade, foi imposta,

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utilizando-se o detentor da força de interpostos órgãos, no caso o Congresso


submetido, essa constituição é, rigorosamente, do tipo outorgada, ditatorial.

3 - Cesarista: são outorgadas mas dependem de rati cação popular através do


referendo. Um exemplo é a constituição napoleônica que, embora aparente ser
promulgada, tem núcleo de outorgada. São feitas pelo governador sem
observância da capacidade popular, como fez Rinochet, no Chile.

4 - Pactuada: decorre de um acordo entre dois grupos sociais, havendo mais de


um titular do poder constituinte. Um exemplo é a Carta Magna de 1215, que
decorreu de um acordo entre o rei e a nobreza.

Quanto à extensão

1 - Sintéticas: preveem somente princípios e normas gerais, organizando e


limitando o poder do Estado apenas com diretrizes gerais, mínimas, rmando
princípios, não detalhes. É concisa, breve, sucinta, também chamada de
Constituição Federal negativa.

2 - Analíticas: abrangem todos assuntos que entende relevantes. São amplas,


extensas, prolixas, detalhas, como a nossa Constituição de 1988, por exemplo.

Quanto à estabilidade

1 - Imutáveis: Constituições nas quais é vedada qualquer alteração. Essa


imutabilidade pode ser relativa, como nos casos em que há uma limitação
temporal em que não podem ocorrer mudanças.

2 - Rígidas: dá-se quando a própria constituição estabelece um processo mais


oneroso e solene, diferente da legislação ordinária, para a sua reforma. Toda
constituição tem pretensão de permanência, porquanto documento
fundamental do sistema jurídico de um Estado, não pode estar sujeita a
mutações ao sabor das di culdades passageiras. Essa permanência,
entretanto, não quer dizer imutabilidade. Os próprios conceitos da ciência
política estão sujeitos a um processo evolutivo. Tome-se o conceito de
Democracia.

Hoje, não se tem a mesma ideia a respeito daquela dos constituintes franceses
de 1781, nem da revolução de 1789. Ali a revolução foi promovida pela

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burguesia, contra o clero e a nobreza. O só reconhecimento da qualidade de


cidadãos realizava o então ideal democrático de igualdade e liberdade. A ideia
evoluiu, de modo que hoje não se concebe a liberdade política, sem o
atendimento de necessidades básicas e muito menos a igualdade formal tão-
somente. Cumpre ao Estado intervir na atividade econômica de sorte a fazer
prevalecer a igualdade material.

A Constituição brasileira é do modelo rígido, porquanto para a sua alteração


demanda-se um processo bem diferente do adotado para a edição das leis.
Esse processo de rigidez se apresenta quanto à iniciativa, ao procedimento e
ao quorum. O art. 60, da CF, traz os requisitos para a alteração constitucional.
A iniciativa da proposta precisa ser subscrita por um terço, pelo menos, de
deputados ou senadores, pelo Presidente da República ou mais da metade das
assembleias legislativas estaduais.

Só esses órgãos, assim, podem ter a iniciativa de alteração constitucional.


Compare-se com a capacidade de iniciativa para a edição de leis ordinárias ou
complementares, no art. 61. As leis são de iniciativa do Presidente da
República, de qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal ou do Congresso Nacional, dos tribunais superiores e do
Supremo Tribunal Federal, do Ministério Público e do cidadão, preenchendo-
se os requisitos do § 2º (iniciativa popular). Veja-se o grande número de
órgãos capazes de iniciar o processo legislativo e quão restrito é esse número
quanto à emenda constitucional.

Com referência ao procedimento, tem-se que os projetos de lei são discutidos


e votados em cada casa do Congresso, sendo que a câmara revisora o apreciará
em único turno de votação. O seu andamento dependerá do regimento interno
de cada uma das casas.

Para a emenda constitucional é necessário que a proposta seja votada em cada


uma das casas duas vezes, em dois turnos. Na aprovação da lei é necessária a
maioria simples, exigindo-se maioria absoluta para as leis complementares. O
quorum de votação, entretanto, da emenda constitucional é de 3/5 dos
membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Vê-se que a emenda
constitucional é muito mais difícil de ser aprovada do que a lei ordinária e
mesmo a complementar.

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A par da rigidez referente à iniciativa, ao processo e ao quorum, há outras


limitações, como a do art. 60, § 1º, segundo o qual não poderá ser votada
emenda durante estado de defesa, estado de sítio ou intervenção federal em
algum Estado, pela União. São limitações circunstanciais à emenda
constitucional.

Nesse tema, sobreleva ainda o que se refere às cláusulas pétreas que são
núcleos das constituições insusceptíveis de modi cação. Elas estão no § 4º do
art. 60. Não pode ser objeto de deliberação a proposta de emenda que tendente
a abolir:

I – a forma federativa de Estado;


II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
III – a separação dos Poderes;
IV – os direitos e garantias individuais.

Assim:

são limitações quanto ao processo de emenda a votação em dois turnos


em cada uma das casas do Congresso;
são limitações quanto ao quórum de aprovação, a exigência de 3/5 dos
membros de cada uma das casas do Congresso em cada um dos turnos de
votação;
são limitações circunstanciais as referidas no art. 60, § 1º;
são cláusulas pétreas as referidas no art. 60, § 4º.

3 - Flexíveis: são as constituições que não exigem, para sua atualização ou


modi cação, processo distinto daquele referente à elaboração das leis. Podem
ser alteradas por procedimento legislativo ordinário, razão pela qual também
são chamadas de plásticas.

4 - Semi-rígida ou semi- exível: algumas regras previstas na Constituição


podem ser alteradas por procedimento legislativo ordinário ao passo que
outras exigem o procedimento especial, que é mais di cultoso. Como
exemplo, podemos citar a CF de 1824.

5 - Super-rígida: alguns pontos são imutáveis (núcleo intangível, petri cado,


clausulas pétreas) ao passo que outros depende de um procedimento
legislativo especial.

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Outras classi cações

1 - Dualista\Pactuadas: quando existe um compromisso entre o rei e o


Legislativo, convivendo os princípios monárquicos e democráticos.

2 - Critério Ontológico: Kal Locwenstein - refere-se a correspondência da CF


com a realidade. Pode ser:

a) Normativa: o processo de poder está disciplinado de modo que as relações


políticas e os agentes do poder subordinam-se a elas, ou seja, o processo
político domina e todos devem cumprir, controlando e disciplinando os
agentes do poder.

b) Nominalista\Nominal: contém limites ao poder, porém sua concretização é


insu ciente, é meramente educativa, embora vise ser normativa. Traz
discricionariedade para solução dos problemas, cabendo apenas sua
interpretação gramatical.

c) Semântica: re ete apenas a vontade dos detentores de poder, sendo feita


por eles sem qualquer limitação.

3 - Manuel G. Filho: para ele outra classi cação divide as Constituições


Federais em:

a) Garantia: quando ela estabelece garantias para limitar o poder.

b) Balanço: Lasalle, na URSS, com sua visão sociológica da Constituição


Federal

c) Dirigente: a Constituição traz metas para o Estado como um ideal a ser


concretizado. É de inspiração marxista. Demonstra a tendência pelo dirigismo
comunitário, de Canotilho, que busca normas a serem cumpridas, e não meras
promessas.

4 - Peter Haberle e Konrad Meese: para eles a Constituição Federal é aberta,


visando evitar seu "engessamento", de forma com que possa adequar-se a
realidade.

5 - Critério Sistemático: divide a Constituição Federal em:

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a) Reduzida: quando é condensada em um único documento.

b) Variado: quando é espalhada em vários documentos.

6 - Critério Ideológico:

a) Ortodoxa: quando propaga uma única e mesma ideologia.

b) Eclética: quando concilia diferentes loso as.

7 - Raul M. Horta: para ele a Constituição é expansiva, com conteúdo


anatômico  estrutural (dividida em títulos, capítulos, seções), comparando-a
com a Constituição interna e com as externas.

8 - Lassale: traz uma visão sociológica da Constituição Federal. Segundo ele a


constituição é "uma folha de papel que deve ser criada pelos fatores reais de
poder que devem re etir a força social, caso contrário será ilegítima".

9 - Karl Smith: traz uma visão política da Constituição Federal. Para ele a
Constituição é uma decisão política fundamental, sendo suas demais normas
meras leis constitucionais.

10 - Hans Kelsen: traz uma visão jurídica da Constituição Federal. Para ele a
Constituição é "uma norma pura do dever ser sem ingerência sociológica ou
jurídica". Desta forma teria a Constituição dois diferentes sentidos, o lógico-
jurídico (no qual a CF é a norma hipotética fundamental) e o jurídico-
fundamental (no qual a CF é a norma suprema).

Referências Bibliográ cas

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Ed.
Malheiros, 1999.

MORAES, Alexadre de. Direito Constitucional. 23ª edição. São Paulo: Editora
Atlas, 2008.

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