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DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE

SEXUAL

ESTUPRO
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei
nº 12.015, de 2009)
§ 1 o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a
vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze)
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)
§ 2 o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)

Atentado violento ao pudor (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)


  Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da
conjunção carnal: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Revogado pela Lei nº
12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de seis a dez anos. (Redação dada pela Lei nº
8.072, de 25.7.1990)             (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)

I. OBJETO JURÍDICO
A dignidade sexual da pessoa, incluindo a sua integridade física/psíquica.
Crime pluriofensivo.

II. OBJETO MATERIAL


a pessoa atingida pelo abuso

III. SUJEITO ATIVO


qualquer pessoa, homem ou mulher, contra quem se dirige a conduta. Na
forma de conjunção carnal continua crime próprio, relação heterossexual. Nada,
entretanto, impede a coautoria ou participação criminosa. É possível a coautoria até
por omissão daquele que devia e podia agir para evitar o resultado típico (mãe que
permite o estupro da filha).
Estupro – Marido e Mulher: havia divergência na doutrina, mas é pacífico o
entendimento de sua possibilidade, inclusive da mulher contra o marido.

IV. SUJEITO PASSIVO


Irrelevante a condição da pessoa. Na conjunção carnal, qualquer pessoa do
sexo oposto. Nos demais atos libidinosos, qualquer pessoa.
 Idade da vítima: ver qualificadora e 217-A. Falha em relação ao dia em
que completa 14 anos. Se 14 anos ou mais e é consensual, não há
crime.

 Transexual – reversão genital - neovagina - pode ser sujeito passivo


hoje.
 Prostitutas: sim
 Índio: causa de aumento de pena – art. 59 da Lei 6001/73 – 1/3 – não
integrado à civilização.

V. TIPO OBJETIVO
Constranger – coagir; obrigar.
Dissenso da vítima: elementar implícita – sério e firme durante toda a atividade.
Revogação do artigo 224 do CP – artigo 217-A – estupro de vulnerável
Sadismo e masoquismo: como o consentimento da vítima, maior e capaz, e
lesão leve não há crime algum.
Caso Mike Tyson x Desiree Washington (1991) - Slogan “não é não” e
quando o não é um sim – jogo de sedução – erro de tipo – se houver dúvida
segue o não.
Síndrome da mulher de Potifar
Conjunção carnal – coito normal, que é a penetração do membro viril do
homem no órgão sexual da mulher.
Atos libidinosos - conotação sexual. O beijo lascivo pode ser considerado ato
libidinoso.
Violência - força física (lesão leve e vias de fato são absorvidas). Grave
ameaça - não possível de suportar, não importando se justa ou não, pelo agente.
É importante, para a prova do estupro, o exame pericial, especialmente no
caso de conjunção carnal, mas não é indispensável.
A violência moral pode ser demonstrada por outras provas.
Constranger a presenciar ou assistir não é estupro, é 146. Mas se menor de 14
anos a vítima – 218-A
São três as hipóteses de condutas
1) ter conjunção carnal- a vítima tem que suportar a introdução do pênis
em sua vagina ou a vagina no pênis;
2) praticar outro ato libidinoso – a vítima tem papel ativo, seja praticando
ato libidinoso no agente ou nela própria, como por ex. a masturbação;
3) permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso – neste caso o
papel da vítima é passivo. Nas hipóteses 2 e 3 não é necessário o
contato físico entre sujeito ativo e passivo, mas não há o crime em fazer
presenciar.
Pluralidade de condutas típicas: 1ª.posição – crime único – tipo misto
alternativo - 6ª. Turma do STJ; 2ª. Posição: concurso de crimes – tipo misto
cumulativo – 5ª. Turma do STJ. O STF até pouco tempo não tinha posição definida,
mas já o Ministro Cezar Peluso, em 02/03/10 havia entendido que se tratava de misto
cumulativo no julgamento do HC 86110. Ocorre que em 15/08/19, o STF, em relatoria
do Min. Alexandre de Morais, no HC 100181/RS, entendeu que se trata mesmo de tipo
misto cumulativo.
VI. TIPO SUBJETIVO
Admite-se apenas o dolo, exigindo o elemento subjetivo do tipo que é o intuito
de manter conjunção carnal ou atos libidinosos a vítima. Sem essa finalidade é
constrangimento ilegal (art. 146).

VII. CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime material. Consuma-se o crime de estupro, na forma de
conjunção carnal, com a introdução completa ou incompleta do pênis na vagina da
mulher, ou vice-versa, independentemente de orgasmo, ejaculação, rompimento da
membrana himenal, gravidez etc. – Nos atos libidinosos, com a conduta do agente, ou
do comportamento da vítima. Inseminação artificial forçada não a gera o crime de
estupro por falta de conjunção carnal. Nesse caso é artigo 146 do CP.

VIII. TENTATIVA
A tentativa de estupro é possível teoricamente quando, havendo
constrangimento para a prática da conjunção carnal, esta não ocorrer por
circunstâncias alheias à vontade do agente. Na prática difícil é a sua ocorrência, pois
os atos libidinosos já consumam o crime, de modo que é preciso ficar evidenciada a
intenção da conjunção carnal apenas. A tentativa, porém, se evidencia sem dúvidas
quando o agente emprega violência ou grave ameaça com o propósito dos atos
sexuais, mas não consegue iniciá-los.
Desistência voluntária? Se não praticou qualquer ato libidinoso, responde por
constrangimento ilegal. Por outro lado, se pretendendo praticar a conjunção carnal
desistiu depois de já ter praticado outros atos libidinosos, não seria punido por
tentativa de estupro, mas restaria esse crime consumado pela prática dos outros atos
libidinosos.
Ejaculação precoce e disfunção erétil – tentativa, consumada ou crime
impossível? A ejaculação precoce, se impedir a conjunção carnal é estupro tentado
porque é meio relativamente impróprio. O mesmo se dá com a disfunção erétil,
impotência coeundi, que somente gera crime impossível em relação ao estupro por
conjunção carnal se for absoluta a impossibilidade do coito – ineficácia absoluta do
meio – responderá pelo art. 129 ou 147.

IX. FORMAS QUALIFICADAS


Parágrafos 1º. e 2º.: Pena de 08 a 12 (lesão grave ou se a vítima tem menos
de 18 anos e mais de 14 anos.) e 12 a 30 (morte);
Se da conduta – pode ser qualquer ato, portanto, seja lesão ou ameaça.
Lesão leve e vias de fato são absorvidas
A lesão e a morte é contra a vítima do estupro. Se recair em outra pessoa (pai,
namorado) será também lesão corporal grave ou homicídio em concurso material
Quanto à idade, o fundamento é a maior facilidade para a execução do crime
porque reduzida a capacidade de resistência. Prova – documento hábil
Se a vítima tem menos de 18 e mais de 14 anos e morre, a qualificadora é
somente do parágrafo 2º.
As qualificadoras da lesão grave e morte são formas preterdolosas.
Tecnicamente é admissível a tentativa nas formas qualificadas, mesmo sendo
crime preterdoloso, gerando aí uma suposta incompatibilidade.

X. CONCURSO DE CRIMES
Ocorrerá sempre que satisfeitas as disposições contidas nos artigos 69, 70 e
71. Situação peculiar é a “curra”, quando dois ou mais agentes se revezam nas
práticas sexuais contra a vítima. Nesse caso o agente responderá pelo seu ato sexual
e também do comparsa, sendo responsabilizado por dois crimes, seja na forma de
concurso material ou crime continuado.
CRIME CONTINUADO: Nada impede a continuação no crime de estupro
contra a mesma vítima, como os atos praticados contra vítimas diversas, desde que
preenchidos os pressupostos previstos no Art.71.
Antes da Lei 12015/09, embora se negasse, predominantemente, na
jurisprudência, a continuidade entre estupro e atentado violento ao pudor, sob o
argumento de que tais crimes não eram da mesma espécie, agora, estando tudo
concentrado no mesmo tipo, as condições em concurso material devem ser
transformadas em crime continuado ou mesmo crime único, dependendo do
entendimento (tipo misto alternativo ou cumulativo).

XI. DISPOSIÇÕES DA LEI 8.072/90 – CRIME HEDIONDO


O estupro é hediondo em qualquer forma (artigo 1º. Inciso V)
Implicações: insuscetível de anistia, graça, indulto e fiança; progressão de
regime exasperada; livramento condicional com 2/3 e prisão temporária de 30 + 30
dias

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 (catorze) anos:           
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.           
§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.             
§ 2o  (VETADO)               
§ 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:           
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.            
§ 4o  Se da conduta resulta morte:             
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.           
§ 5º  As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo
aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato
de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.  (Incluído
pela Lei nº 13.718, de 2018)

XII. OBJETO JURÍDICO


Dignidade sexual dos vulneráveis. Vulnerabilidade – substituto da presunção
de violência (artigo 224 revogado). Implica na invalidade do consentimento.
Tutela jurídica: proteção de indivíduos fragilizados em face da pouca idade ou
de condições específicas, resguardando-as do inicio antecipado ou abusivo na vida
sexual

XIII. SUJEITO ATIVO


Qualquer pessoa, admitindo-se coautoria e participação. Na forma de
conjunção carnal pressupõe-se relação heterossexual.

XIV. SUJEITO PASSIVO


É a pessoa em situação de vulnerabilidade.

Hipóteses de vulnerabilidade
a) menores de 14 anos – critério etário – critério objetivo, portanto, não
cabe discussão sobre ser ou não incompleto o desenvolvimento físico,
mental e moral dos menores nessa idade. Não se trata de presunção,
mas sim de proibição (Rogério Greco). Prova da idade: documento
hábil. Crítica: não uniformizou com o ECA;
b) aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não têm o
necessário discernimento para a prática do ato: Pode ser permanente
ou temporário, congênita ou adquirida. Sistema biopsicológico. Exige-
se perícia médica. Ë necessário o conhecimento do agente. O
legislador não colocou como condição o aproveitamento da situação
pelo agente, configurando falha.
c) aqueles que, por qualquer outra causa, não podem oferecer resistência.
Vítima em situação de incapacidade de resistência como: sono
profundo; anestesiadas ou sedadas; pessoas portadoras de deficiências
físicas (tetraplégico); embriaguez; desmaio;
Erro de tipo: erro sobre a idade da vítima – exclui o dolo e como o crime não
tem forma culposa, a conduta é atípica.

XV. TIPO OBJETIVO


Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso – idem ao artigo 213 do
CP.
É irrelevante o dissenso da vítima. Se houver lesão grave ou morte, é
qualificadora.

XVI. TIPO SUBJETIVO


É o dolo específico, consistente na intenção de ter com a vítima conjunção
carnal ou com ela praticar outro ato libidinoso.

XVII. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


Idem ao artigo 213 do CP.

XVIII. FORMAS QUALIFICADAS


Idem ao artigo 213, em relação à lesão corporal grave e morte.
XIX. DISTINÇÃO ENTRE VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE E
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Neste a vítima é privada de sua capacidade de resistência – vítima
anestesiada abusada pelo médico. Naquele, há a capacidade de resistência, mas
viciada pela fraude. Vitima consciente que é abusada pelo médico no exame.

Lei 8.072/90 – Crime Hediondo


o estupro de vulnerável é hediondo (artigo 1º. Inciso VI).
Em razão da revogação do artigo 224 do CP, consequentemente está
revogada a causa de aumento do artigo 9º. da referida lei.

Implicações: insuscetível de anistia, graça, indulto e fiança; progressão de


regime diferenciado 2/5 e 3/5; livramento condicional com 2/3 e prisão temporária de
30 + 30 dias.
Segundo a Súmula 593 do STJ, o crime de estupro de vulnerável se configura
“com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo
irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência
sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”.

DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título,
procede-se mediante ação penal pública incondicionada.  (Redação
dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
Parágrafo único. (Revogado).    (Redação dada pela Lei nº 13.718, de
2018)
Art. 226. A pena é aumentada:                
I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas)
ou mais pessoas;               
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade
sobre ela;            (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela;  (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:  
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Estupro coletivo   (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;   (Incluído pela Lei
nº 13.718, de 2018)
Estupro corretivo   (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. 
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

O estupro coletivo consiste na prática do crime em concurso de agentes, ou


seja, por mais de uma pessoa. Todavia, antes mesmo da edição dessa nova Lei, o art.
226, em seu inciso I, já previa como causa de aumento de pena de 1/4 o fato de haver
concurso de dois ou mais agentes para a prática do crime. Atualmente tem-se,
portanto, dois dispositivos que abordam a mesma circunstância fática como causa de
aumento de pena, mas cada um deles com um quantum de aumento diferente. Como
conciliá-los? O novo inciso IV introduzido pela nova Lei passa a ser a causa de
aumento de pena aplicável exclusivamente ao delito de estupro, enquanto o inciso I,
que já previa causa de aumento de pena de 1/4 aos crimes praticados em concurso de
pessoas, permanece aplicável a qualquer outro delito dos capítulos I e II, do Título VI,
dos crimes contra a dignidade sexual, com exceção ao delito de estupro. Resumindo,
se o agente pratica um estupro em concurso de 2 ou mais agentes, sofrerá aumento
de pena de 1/3 a 2/3. Entretanto, se pratica, por exemplo, assédio sexual, violação
sexual mediante fraude (ou outro delito dos capítulos I e II do título dos crimes contra a
dignidade sexual), sofrerá aumento de pena de 1/4.
O estupro corretivo se dá no momento em que o autor do crime, querendo
controlar o comportamento sexual ou social da vítima, pratica conjunção carnal ou
qualquer ato libidinoso sem que haja o consentimento dela. Um clássico exemplo é o
agente que estupra uma mulher homossexual para que forçá-la “se tornar
heterossexual”. Em regra é praticado contra transexuais, mulheres homossexuais ou
bissexuais, em que o criminoso pretende redirecionar a orientação sexual ou o gênero
da vítima.
É importante destacar que, para configurar o estupro coletivo, basta que haja
mais de uma pessoa na prática do crime. Já no caso do estupro corretivo, é
necessária a comprovação de dolo específico, ou seja, é preciso demonstrar que o
agente praticou o estupro com a finalidade de controlar o comportamento sexual ou
social da vítima.

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