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As cartas do pai de Hitler caídas no esquecimento em

sótão austríaco
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Agência France Presse

postado em 12/03/2021 12:09

(crédito: ALEX HALADA / AFP)

A primeira vez que uma mulher entrou em contato para lhe dizer que havia descoberto
cartas centenárias escritas pelo pai de Adolf Hitler em seu sótão, o historiador austríaco
Roman Sandgruber foi cauteloso. "No início, eu estava um tanto cético: sabemos muito
pouco sobre a juventude" do Führer, "e menos ainda sobre seu pai", disse à AFP este
especialista, que esperava encontrar um achado maluco.

No entanto, a correspondência amarelada se revelou autêntica: caligrafia elegante, selos


antigos, assinatura tristemente famosa e até selos de cera intactos. Todas as 31 cartas
eram de Alois Hitler.

Isso permitiu ao professor universitário de 74 anos escrever a primeira biografia do


patriarca, nascido em 1837 e falecido em 1903, quando Adolf tinha 14 anos. O livro foi
publicado em alemão em 22 de fevereiro. Um acontecimento e tanto: hoje, essas cartas
são umas das poucas conhecidas do pai do ditador, que teve oito filhos de três
casamentos.

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Ele as escreveu durante o Império Austro-Húngaro para um certo Josef Radlegger, um
funcionário da Pontes e Calçadas. Ele queria comprar uma fazenda em uma cidade na Alta
Áustria (norte) em 1895, seis anos após o nascimento de Adolf.

Mãe "emancipada"

"Há um clima muito familiar entre os dois, muita fofoca é contada", explica Sandgruber
na biblioteca universitária da cidade de Linz. Nascido fora do casamento, Alois era
conhecido por ser um "chefe de família tirânico", mas a correspondência expõe "uma vida
familiar nem sempre desagradável".

As cartas também mostram uma imagem diferente da mãe Klara, que Adolf Hitler
descreveu como uma "dona de casa" tranquila em seu livro "Minha luta" ("Mein Kampf",
no original). "Minha esposa gosta de ser ativa e mostra certo entusiasmo, bem como um
bom conhecimento das coisas econômicas", escreveu Alois Hitler a seu sócio.

Klara, uma das poucas pessoas que não sofreu a ira de Alois, aparece em suas cartas como
"uma mulher profundamente emancipada, como diríamos hoje", segundo Roman
Sandgruber. As pegadas deixadas pelo funcionário da Alfândega também atestam sua
ascensão social e sua vontade de ganhar respeito no nível local, o que passa pela posse de
terras.

O pesquisador evita comparar Alois com seu filho, mas vê algo em comum: eles são
autodidatas. "Ambos desprezavam aqueles que haviam recebido uma educação formal:
acadêmicos, notários, juízes e depois até oficiais militares", afirma, e se consideravam
"gênios".

Roman Sandgruber é mais cauteloso sobre as raízes do antissemitismo de Adolf Hitler:


comentários de ódio do pai em relação aos judeus foram encontrados mais tarde em sua
vida, mas o historiador menciona a influência sobre o futuro ditador nazista do racismo
generalizado na sociedade austríaca.

Tudo isso nunca teria sido descoberto sem obras de isolamento térmico. Há alguns anos,
uma austríaca, longe de suspeitar do que havia sob seu teto, decidiu isolar o sótão e
esvaziá-lo para isso. Annelise Smigielski sabia que seu trisavô, Josef Radlegger, havia
vendido mercadorias para Alois Hitler, mas não achava que encontraria sua caligrafia, em
meio a uma pilha de cartas esquecidas décadas atrás.

Logo ficou claro que o pai de Hitler "se zangava com tudo", disse à AFP, acrescentando
que a caligrafia era difícil de decifrar. Como tinha conhecimento das investigações de
Roman Sandgruber, considerou que seria melhor lhe confiar estes arquivos em 2017.

Ambos estão surpresos com a atenção internacional que o livro desperta, do Peru à
China. Smigielski diz que está sobrecarregada com os pedidos dos jornalistas. Tem a
impressão de ser "um coelho cego pelos faróis". "Mas isso vai se acalmar," espera.

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