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Diplomacia 360 graus – Módulo Atena – Direito Internacional Público – Aula 03

Prof. Guilherme Bystronski – 14.08.2018

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL (continuação)

3a pergunta: como a responsabilidade internacional pode ser implementada? Que medidas de


coerção podem ser empregadas para mudar o comportamento do Estado violador?

A implementação voluntária das consequências jurídicas pelo Estado violador significa que não
será necessário mais preocupar-nos com essa questão. Porém, se o Estado violador não modifica
sua conduta, não prestando uma reparação completa, é necessário definir como a
responsabilidade internacional pode ser implementada.

QUAIS ATOS DE RETALIAÇÃO OU MEDIDAS DE COERÇÃO PODEM SER IMPLEMENTADAS?

→ Comparação com a implementação de normas jurídicas no Direito Interno:

Direito Interno – característica fundamental:

No Direito Interno, há um superior político que detém o monopólio no uso legitimo da força
física e que está autorizado a atuar para garantir o cumprimento das leis e dos julgamentos →
o próprio Estado → relação vertical, de subordinação, já que os particulares se submetem à
soberania do Estado em que se encontram.

No Direito Interno dos Estados, a implementação das normas jurídicas é centralizada. O próprio
Estado assegura o cumprimento de sua legislação, mesmo em controvérsias que envolvam
somente particulares.

Direito Internacional – característica fundamental:

No Direito Internacional, inexiste um ente hierarquicamente superior reconhecido


universalmente pelos Estados com o poder de garantir a implementação do Direito
Internacional.

Nesse contexto, podemos afirmar que as relações interestatais são relações horizontais, de
coordenação, reguladas pelo princípio da igualdade soberana. Estados são juridicamente iguais
e não reconhecem poder superior contra a sua vontade.

Na atual sociedade internacional, em sua essência anárquica, estamos mais próximos de um


Estado de natureza (ausência de um Leviatã). A consequência disso é que o Direito Internacional
se baseia na self-help (autoajuda). A regra no Direito Internacional é uma implementação
descentralizada das consequências da responsabilidade internacional.

Na prática, o Direito Internacional autoriza ao próprio Estado vitimado pela violação a


possibilidade de fazer uso de atos de retaliação ou de medidas de coerção para garantir o
respeito às normas internacionais. As medidas de coerção (ou atos de retaliação) atualmente
autorizadas pelo Direito Internacional não mais permitem ao Estado vitimado utilizar a força
militar contra o Estado violador. Essas retaliações podem ser unilaterais.
ATOS DE RETALIAÇÃO (ou medidas de coerção) autorizados pelo atual Direito Internacional para
modificar o comportamento do Estado violador.

→ Há 2 (duas) grandes categorias de atos de retaliação:

a) Retorsões: são atos que podem sempre ser empregados para buscar uma mudança de
comportamento mesmo quando não há violação anterior do Direito Internacional.

Ex.: rompimento de relações diplomáticas; suspensão quanto à concessão de vistos; suspensão


de ajuda voluntária;

Projeto da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas sobre Responsabilidade


Internacional dos Estados (2001) – não possui normas sobre retorsão.

b) Contramedidas: do inglês countermeasures, no passado se chamava de “represálias”. As


contramedidas exigem a verificação de um ilícito internacional anterior para que possam ser
utilizadas pelo Estado vitimado. Existe um perigo maior em sua utilização unilateral, pois, na
ausência de ilícito anterior, elas são proibidas.

→ O artigo 49 do Projeto de 2001 traz uma definição básica sobre as contramedidas:

Art. 49. Objeto e limites das contramedidas


1. Um Estado lesado somente pode adotar
contramedidas contra um Estado que seja
responsável por um ato internacionalmente ilícito
com o objetivo de induzi-lo a cumprir com suas
respectivas obrigações dispostas na Parte Dois.
2. As contramedidas são limitadas ao não
cumprimento temporal de obrigações
internacionais do Estado que adota as medidas em
relação ao Estado responsável.
3. As contramedidas deverão, na medida do
possível, ser tomadas de tal modo a permitir a
retomada da realização das obrigações em
questão.

→ O artigo 52 do Projeto de 2001 prevê contramedidas unilaterais:

Art. 52. Condições relativas a recorrer a


contramedidas
1. Antes de tomar as contramedidas, um Estado
lesado deverá:
a) requerer ao Estado responsável, de acordo com
o artigo 43, que cumpra com suas obrigações em
conformidade com a Parte Dois;
b) notificar o Estado responsável de qualquer
decisão para tomar as contramedidas e oferecer
para negociar com aquele Estado.

2. Sem desconsiderar o 1(b), o Estado lesado pode


tomar contramedidas urgentes que sejam
necessárias para preservar seus direitos.

3. As contramedidas não podem ser tomadas, e se


já tomadas devem ser suspensas sem atraso
injustificado caso:
a) o ato internacionalmente ilícito tenha cessado; e
b) a disputa esteja pendente perante uma corte ou
tribunal que tenha a autoridade para proferir
decisões vinculantes para as partes.

4. O parágrafo 3º não se aplicará se o Estado


responsável falhar ao implementar os procedimentos
de solução da controvérsia de boa-fé.

→ Contramedidas não possuem natureza punitiva. A natureza delas é instrumental. Sua


finalidade é a de modificar o comportamento do Estado violador.

Punição demanda certa hierarquia, submissão. Por esse motivo, as contramedidas precisam ser
sempre proporcionais e removíveis (artigo 51 – Projeto de 2001). O Estado vitimado não pode
causar ao Estado violador um prejuízo maior do que aquele que ele está sofrendo.

Art. 50. Obrigações não afetadas pelas


contramedidas
1. As contramedidas não deverão afetar:
a) a obrigação de abster-se da ameaça ou uso de
força como disposto na Carta da ONU;
b) obrigações estabelecidas para a proteção de
direitos humanos fundamentais;
c) obrigações de caráter humanitário proibindo
represálias;
d) outras obrigações consoante as normas
imperativas de Direito Internacional geral.

2. Um Estado que realize as contramedidas não


está isento de cumprir com suas obrigações:
a) de acordo com qualquer procedimento de
solução de controvérsias aplicável a ele e ao Estado
responsável;
b) de respeitar a inviolabilidade de agentes
diplomáticos e consulares, locais, arquivos e
documentos.
Existem, no Direito Internacional, as sanções punitivas, na acepção normal do termo.
Demandam a existência de alguma espécie de subordinação, certa relação vertical. Devido à
aceitação, pelos Estados, de normas que permitem que órgãos de certas OIs possam punir seus
membros, há sanção punitiva para fins de Direito Internacional.

Ex. 1: cláusula democrática no Mercosul – suspensão do Estado violador.


Ex. 2: resoluções do CSNU, com base no capítulo VII da Carta da ONU.

→ Exemplos de atos que são autorizados como contramedidas em Direito Internacional:

I) Suspensão de tratados entre os Estados envolvidos.


II) Embargos comerciais.
III) Congelamento de bens de certas figuras públicas.

IMUNIDADES

Certas pessoas, segundo o Direito Internacional, desfrutam de proteção perante autoridades e


tribunais internos de outros países.

Obs.: não existe imunidade em relação a tribunais internacionais. Em certos casos em que
tribunais internacionais não podem julgar autoridades de um país, é provavelmente porque o
Estado não reconhece a jurisdição desse tribunal internacional para suas autoridades.

→ Imunidades não permitem, enquanto regra, a violação da legislação local.

MODALIDADES DE IMUNIDADE:

1) Imunidade soberana ou imunidade estatal:


Fonte: costume internacional.
Beneficiados: o próprio Estado, enquanto pessoa jurídica, assim como seus principais
representantes. Chefe de Estado / chefe de governo / ministro das relações exteriores. Outros
representantes de um Estado em missão no estrangeiro contam normalmente com essa
proteção.

2) Imunidade diplomática e imunidade consular:

→ Imunidade diplomática:
Fonte: Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas.
Beneficiados: membros de uma missão diplomática de um Estado no território de outro país.

→ Imunidade consular:
Fonte: Convenção de Viena de 1963 sobre Relações Consulares.
Beneficiados: membros de repartição consular de um Estado no estrangeiro.
3) Imunidade das Organizações Internacionais:
Fonte: tratados tanto bilaterais quanto multilaterais que especificam as funções
desempenhadas pela OI e os direitos decorrentes em favor dessa organização.
Beneficiados: a própria OI, enquanto pessoa jurídica, seus funcionários e os representantes dos
Estados perante essa OI.

Ex. 1: tratado multilateral – Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades da ONU de 1946.

Ex. 2: tratado bilateral – Acordo de Sede entre a ONU e os EUA de 1947.


IMUNIDADE SOBERANA OU ESTATAL

As regras e princípios que autorizam os Estados e seus principais representantes a invocar essa
modalidade de imunidade perante autoridades ou tribunais internos de outros países podem
ser encontradas no atual costume internacional.

Existe, todavia, uma Convenção da ONU de 2004 sobre as Imunidades Jurisdicionais dos Estados
e seus Bens (ou sua Propriedade). Entretanto, essa convenção ainda não está em vigor. Somente
aquelas normas que já refletem o costume internacional podem ser utilizadas.

Questões que envolvem a imunidade soberana ou estatal são questões que precisam ser
examinadas quanto aos seus 2 (dois) momentos distintos. Em primeiro lugar, a imunidade
soberana proíbe, em diversos casos, que um Estado e seus principais representantes sejam
julgados por autoridades e tribunais internos de outros países.

1) Em um primeiro momento, a imunidade soberana ou estatal é, na prática, também uma


imunidade de jurisdição.

2) Em segundo lugar, a imunidade soberana ou estatal torna impossível, em diversas situações


que os bens de um Estado e de seus principais representantes possam ser objeto de medidas de
execução ordenadas por tribunais internos de outros países → também é uma imunidade de
execução.

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