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DIREITOS DO ANIMAIS: O HOMEM COMO PROTETOR DA VIDA OU CAUSADOR


DOS DANOS?
ANIMAL RIGHTS: MAN AS A LIFE PROTECTIVE OR AS A DAMAGER?

RESUMO: O artigo possui como problemática central a insegurança jurídica no que tange a
proteção da vida dos animais em relação ao homem como defensor da vida e causador de
danos. Dessa forma, tem como objetivo geral mostrar o desenvolvimento da mentalidade
humana ao longo dos períodos históricos, ressaltando legislações e documentos, que
influenciaram diretamente na relação entre homens e animais. Metodologicamente trata-se de
uma pesquisa exploratória, utilizando a abordagem qualitativa, e pautada no método histórico.
Como conclusão, é possível indicar que o homem tem o poder de escolher sobre a vida dos
animais, e apesar do amparo dado pelas legislações, ainda há lacunas a serem preenchidas
para que todas as espécies estejam seguras.

Palavras-Chaves: direito animal; legislação; proteção; antropocentrismo, meio ambiente.

ABSTRACT: The article have as a central problem the juridical insecurity regarding the
protection about animal’s lives in reference of man as a defender of life and the cause of
damage. This way, the main objective is to show the development about man’s mentality
throughout the historical periods, emphasizing lesgislation and documents, which directly
influenced the relationship between humans and animals. Methodologically, it is na
exploratory research using the qualitative approach, and based on the historical method. As a
conclusion, it is possible to indicate that the man have the power above animal’s lives, and
despite the protection provided by legislation, there are still gaps to be filled so that all
species would be safe.

Keywords: animal right; legislation; protection; anthopocentrism; environment.


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INTRODUÇÃO

O trabalho possui como problemática central a insegurança no que tange a proteção da


vida dos animais em relação ao homem como defensor da vida e causador de danos.
Dessa forma, tem como objetivo geral mostrar o desenvolvimento da mentalidade
humana ao longo dos períodos históricos, ressaltando legislações e documentos, que
influenciaram diretamente na relação entre homens e animais.
Como objetivos específicos destacam-se expor os motivos que levaram o homem a
criar direitos para os animais; revelar a influência das ações do homem na vida dos animais;
salientar a necessidade do bem-estar animais partindo do pressuposto de que são seres capazes
de sentir; apresentar as legislações que amparam os animais em âmbito internacional e
nacional; mostrar as leis que punem crimes contra animais.
Metodologicamente trata-se de uma pesquisa exploratória, utilizando a abordagem
qualitativa, e pautada no método histórico. Como conclusão, é possível indicar que o homem
tem o poder de escolher sobre a vida dos animais, e apesar do amparo dado pelas legislações,
ainda há lacunas a serem preenchidas para que todas as espécies estejam seguras.

CAPÍTULO 1 – RESOLUÇÃO HISTÓRICA

1.1 MOTIVAÇÕES ACERCA DA CRIAÇÃO DO DIREITO ANIMAL

No período pós I Guerra Mundial, foi o momento em que a mentalidade a respeito do


meio ambiente e suas fontes de sustento, foram tomando mais força. A escassez de
mantimentos básicos ocasionada pela guerra fez com que surgisse uma reflexão em relação
aos cuidados com a natureza. O homem passou a analisar o seu papel em relação ao meio
ambiente.
Segundo Caroline Scandiuzzi, ao longo da história, o antropocentrismo instaurou raízes
no mundo. O pensamento filosófico coloca o ser humano no centro de tudo, como peça
fundamental do universo e tudo ao redor está no mundo para servi-lo. Todas as coisas
viveriam em função do homem, principalmente a natureza e os animais. Quando a falta de
recursos naturais essenciais se fortificou, foi necessária uma mobilização acerca do tema,
fazendo com que o pensamento antropocentrista desse lado à conscientização. O homem
percebeu que não pode viver sem a natureza e que os animais fazem parte do equilíbrio dela.
A busca pela defesa dos animais surgiu já na antiguidade, que ao longo dos anos foi passando
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por evoluções e se instaurando na sociedade, o que colaborou para a formação do pensamento


atual, em relação a defesa das espécies. Porém, no início, as criaturas eram tratadas como
inferiores, seres incapazes de sentir dor e por isso tomavam posições dolorosas. O homem
possuía em mente que detinha posse sobre a vida deles, e tal relação de dominação permanece
até os dias atuais.
A Bíblia também trazia em seus versículos a ideia de que o homem deveria dominar o
mundo e todas as criaturas irracionais, e esse pensamento perdurou por bastante tempo, sendo
essa uma das primeiras motivações que levaram o homem a dominar as espécies e usá-las
como seu meio de sobrevivência, de oferta, de luta, defesa, de alimento e diversão.
De acordo com Gomes e Chalfun, a colisão entre o animal e o homem teve início quando
filósofos começaram a separar o homem do animal por conta da racionalidade que o homem
possuía e o animal não.
A maioria dos filósofos antigos entendia que o animal estava em uma escala inferior
de evolução em relação ao homem, e posteriormente muitos permanecem com tal
entendimento, adotando, porém, o entendimento de que era errado maltratar animais.
(GOMES; CHALFUN, 2010, p. 855)

Aristóteles considerava os animais seres que serviam ao homem como instrumento de


trabalho ou diversão.

O animal é como um escravo na sociedade, tendo como única finalidade servir ao


homem, é um bem útil para alimentação, matéria prima, uso diário, vestuário.
próprio do homem, com respeito aos demais animais é que só ele tem percepção do
bom e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades semelhantes.
(ARISTÓTELES, 2007 apud GOMES; CHALFUN, 2010, p. 855.)

Assim também o fez René Descartes, filósofo, que no século XVll em sua teoria,
afirmava que a consciência separava o homem das demais criaturas irracionais e o conectava
à consciência de Deus, e as criaturas, por não terem essa conexão estavam também
desprovidos das sensações desse mundo, bem como da sensação de sentir dor e sofrimento.
Em contrapartida a esses filósofos, Pitágoras e Jean Jacques Rousseau diziam que animais
também deveriam ser tratados com direito de não ser maltratado pelo homem, afinal homem
também era um animal dotado de racionalidade e liberdade.

1.1.1 Primeiras intervenções práticas de proteção aos animais

Na Irlanda, em 1685, foi a primeira vez que se defendeu os animais através de leis, e
na América em 1641 foi criado o primeiro código que estendia seus cuidados com os animais
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domésticos e na Inglaterra, durante a República Puritana, foram proibidas as brigas de galo,


de cachorros e as touradas por um período, mas depois voltaram a ser permitidas.
A Alemanha, em 1933, aprovou diversas leis para a proteção animal, sendo a
“Tierschutzgesetz” defendida por Hitler, afirmando que nenhuma maldade seria permitida aos
animais durante o terceiro Reith.
Segundo Natascha Christina Ferreira de Abreu um marco para a evolução
histórica desse pensamento se deu por meio de Jeremy Bethan, fundador do utilitarismo
moderno, que no século XVlll dizia que a falta de racionalidade do animal não devia ser
levada em consideração, mas sim, a capacidade de sofrer que possuíam, e assim citava bebês
e idosos que mesmo, de certa forma, sem racionalidade, não são tratados como objetos de
manejo do homem e passíveis de sofrimento como eram os animais
Danielle Tetu Rodrigues, a respeito do respeito à vida animal diz que:
Tanto a vida do homem quanto a do animal possuem valor. A vida é valiosa
independentemente das aptidões e pertinências do ser vivo. Não se trata de somente
evitar a morte dos animais, mas dar oportunidade para nascerem e permanecerem
protegidos. A gratidão e o sentimento de solidariedade para com os animais devem
ser valores relevantes na vida do ser humano. (RODRIGUES, 2006, p. 55 apud
GOMES; CHALFUN, 2010, p.852)

Tal pensamento influenciou o surgimento de diversas sociedades com o intuito de


preservar a integridade dos animais como a “Society for the Prevention of Cruelty to Animals
– SPCA”. Também se tornou um marco e um dos principais defensores dos direitos dos
animais em 1975, o professor Peter Singer que escreveu o livro “Libertação animal”. Tom
Regan também foi um grande defensor dos animais ao dizer que todos os seres devem ser
tratados com dignidade e sua integridade deve ser respeitada. Peter Singer e Tom Regan estão
entre os mais conhecidos defensores do respeito aos animais e após seus discursos, diversas
mudanças se deram acerca do tema e são citados até os dias atuais.
Para Gomes e Chalfun:
Na verdade, há um crescente discurso filosófico, ético, repleto de princípios morais
a nortearem a conduta humana em prol da dignidade e respeito da vida animal,
impondo aos humanos, os direitos dos animais bem como deveres em relação a
estes, obrigações moral e jurídica de se absterem de práticas abusivas, violenta,
cruel, degradante para com estes seres vivos. (GOMES, 2010, p. 858)

Todas essas ações ao longo dos anos foram sinais de que uma conscientização estava
ocorrendo em diversos lugares do mundo, trazendo o direito dos animais como um ramo do
direito ambiental.

1.2 A AÇÃO HUMANA NA VIDA DOS ANIMAIS


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O ser humano é o responsável pelo desiquilíbrio do meio ambiente e foi principal


autor na extinção de inúmeras espécies devido à caça, devido ao lixo despejado nos mares, e
devido a comercialização de peles, dentes, chifres que também foi e ainda é motivo de grande
impacto no âmbito animal.
No Brasil, dificilmente encontra-se pessoas que não possuam algum animal de
estimação, principalmente cachorros, gatos e aves. Porém diariamente são noticiados casos de
maus tratos. Animais que morrem de fome, passam o tempo todo acorrentados, sem água,
doentes, sofrem violência, e são mortos pelas mãos dos donos. Também casos de caça e pesca
proibida e a morte de animais que estão em extinção, a extração de pele, dentes e chifres para
comercializar e a falta de cuidados com o meio ambiente, deixando que muitas espécies
morram nos mares e rios devido ao lixo e ao óleo derramado.
No ramo do direito, o assunto vem sendo discutido e recebendo apoio para que cada
vez mais os animais sejam defendidos pela legislação. Inúmeros movimentos vêm surgindo na
defesa dos direitos de todas as espécies como, por exemplo, grupos de incentivo ao
veganismo. Diversos pensadores influenciaram para que hoje os animais possuíssem alguma
defesa perante os homens, mas isso pode variar de país para país, a depender de sua história e
cultura. Para Rodrigues (2010) o direito, como instrumento responsável por regularizar as
ações humanas perante à sociedade, deve reconhecer o animal como sujeito de direito para
que, assim, possam de fato existir a devida proteção aos direitos dos mesmos.
O maior marco ocorrido a nível internacional que foi de suma importância e que teve
papel efetivo na defesa dos animais foi a Declaração Universal dos Direitos dos Animais,
criada pela UNESCO no ano de 1978, que visou o reconhecimento e valorização da vida de
todos os seres vivos, que são portadores de direito à dignidade, integridade e respeito.
A Constituição Federal de 1988, no Brasil, também explicitou em seu texto, especificamente
no artigo 225, a defesa pela vida dos animais, proibindo atos de crueldade.

CAPÍTULO 2 – LEGISLAÇÃO

2.1 BEM ESTAR ANIMAL E DIREITO DOS ANIMAIS

Se tratando do bem-estar animal e dos direitos dos animais, ambos são


correspondentes a garantias de vida do animal. Entretanto, evidenciam-se certas diferenças
entre essas duas áreas.
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Ao que diz respeito do bem-estar do animal, se trata de uma ciência que estuda a parte
física e psicológica dos bichos, estando intimamente ligadas ao modo como eles se
comportam, suas reações e o que precisam para terem a devida correspondência às suas
necessidades fisiológicas e particulares, e consequentemente determinada qualidade de vida.
Deste modo, os seres humanos, quando responsáveis por eles, devem oferecê-los condições
para que vivam naturalmente e consigam se adaptar de forma adequada ao meio. Muitos
pesquisadores da área, acreditam que o bem-estar é inerente ao animal e não uma contribuição
humana para que assim vivam descentemente.
Os animais são considerados seres sencientes ou seja, possuem capacidade de perceber
através dos sentidos e terem sensações. São também dotados de capacidades, cada qual
referente a sua espécie, entretanto possuem semelhanças, inclusive com as dos seres humanos.
“Na medida em que os seres sencientes são conscientes, eles têm interesses em experimentar
tanto prazer e tão pouco sofrimento quanto possível. A condição de senciente basta para que
um ser seja colocado dentro da esfera da igual consideração de interesses [...]” (SINGER,
2010, p. 18 apud VITAL; JÚNIOR, 2015, p. 146). É na capacidade de o animal sentir a dor e
o prazer que se encontra o respaldo para assemelhar aos humanos (dotados de direitos e
garantias) e dar-lhes direitos pautados nessas sensações, tal como ter como argumento, por
analogia, nos casos em que esses direitos são violados,
De acordo com Richard Ryder, a ciência da dor é o “único argumento convincente
para a atribuição de direitos, ou melhor, interesses pelos outros”. O autor utilizava a
expressão“dorismo” para sua abordagem moral da dor, e afirmava que a importância
da dor estava no indivíduo e não na raça, nação ou espécie. (VITAL; JÚNIOR, 2015,
p. 145)

Tais questões provocam discussão no âmbito do direito dos animais e diante da


consciência animal, compreendendo que eles percebem o mundo ao seu redor, se expressam,
interagem, convivem, têm necessidades a serem supridas, mesmo que de modo relativamente
diferente do ser humano, o direito dos animais vem de encontro a eles, com regras, para os
assegura-los que são sujeitos de uma vida, de uma integridade, também que é direito deles
terem suas necessidades básicas sanadas.

2.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi oficializada pela ONU em
parceria com a Unesco no dia 27 de janeiro de 1978, em Bruxelas na Bélgica, segundo
informações contidas no próprio documento, entretanto pode estar equivocada, levando em
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consideração que há outras evidencias a respeito de sua origem. Em se tratando da sua


nomenclatura, pode-se dizer que não tem a relevância que mostra dentro do direito
internacional público, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois é de ordem
ética e moral que guia o relacionamento humano para com os animais, desta forma não possui
valor normativo, assim sendo há uma ONG, a World Animal Protection, que busca a
aprovação de uma outra declaração, intitulada “Declaração Universal de Bem-Estar animal”,
que teria então essa força de lei no âmbito internacional e seria mais tarde embasamento na
criação de leis a favor dos animais, tanto quanto propagação do pensamento de proteção e
respeito aos animais.
Em seu preâmbulo é pontuado algumas considerações para que fosse criado tal
documento, levantado questões como o desprezo dos direitos dos animais que gera a violência
contra os mesmos; fundamento da coexistência entre as várias espécies do mundo; as mortes
em massa realizadas pelo homem contra os animais; o respeito para com seus semelhantes; o
ensino para as crianças que desde cedo devem aprender tais considerações.
Em seus artigos são proclamados aos animais respectivamente a igualdade de
existência e direito a vida; o direito ao respeito; direito de não serem explorados ou
exterminados pelos homens, enquanto também espécie animal; direito a consideração, cura e
à proteção do homem; proteção contra maus-tratos e atos cruéis; direito a eutanásia
instantânea em casos de necessidade; direito aos animais selvagens de liberdade nos seus
habitats naturais e de reprodução, proibindo atos contrários que privem esse direito; liberdade
de viver segundo sua espécie, mesmo vivendo no mesmo ambiente que o homem, e a
proibição da venda deles de modo a privar tal direito; direito a duração de vida natural,
mesmo em face de tutela dada pelo homem; condena o ato de abandono como cruel e
degradante; aos animais que são usados pela sua força de trabalho é assegurado um limite de
tempo e intensidade, tal como alimentação e descanso; em casos de experimentos não pode
haver sofrimento físico, pois é incompatível com os outros direitos; direito a não serem
criados para servirem de alimento em más condições que cause ansiedade ou dor; assegura a
dignidade do animal, proibindo quaisquer situação com a única finalidade de divertimento do
homem; condena o ato de biocídio, morte animal sem necessidade, incumbindo em crime
contra vida dele; a morte dos animais selvagens em grande quantidade é um genocídio, delito
contra a espécie, assim como a destruição do meio ambiente; direito ao respeito mesmo
quando morto o animal; prevê proibição de cenas de violência contra os animais sem
justificativa plausível; respeito as associações de proteção e salvaguarda aos animais a nível
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de governo; assim como os direitos dos homens, os dos animais também merecem proteção
defendidas em lei.

2.3 NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Na Legislação brasileira, a primeira evidencia de proteção aos animais, surgiu com o


decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, proclamou a tutela a todos os animais por parte do
Estado; previu multas contra aqueles que maltratavam os animais, elencando as definições
atribuídas ao que se consideraria maus tratos; impôs limites aos trabalhos realizados por
animais e quais seriam permitidos com geração de pena aos que ultrapassassem tais
limitações; definiu o que a palavra animal compreenderia, depois dele vierem outros vários
decretos e revogando o anterior.
Surgiu então a lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, regulamentando o uso dos animais
para fins de caráter didático-científico, garantindo que os animais não seriam torturados ou
fariam parte de práticas que causassem sofrimento e dor a eles, durante o processo a ser
realizado. Já em 1998, foi sancionada a lei n° 9.605 que previu sansões penais e
administrativas àqueles que lesionarem o meio ambiente, seja contra fauna ou flora, condena
atos de maus tratos, abuso, morte dolorida e qualquer violência, tanto quanto a degradação,
mesmo em casos de fins científicos.
Em 2008, foi promulgada a lei Auroca de n° 11.794, que vigora até os dias atuais,
estabeleceu maior especificidade em relação ao que já fora previsto na Constituição Federal,
em seu art. 225 § 1°, inciso VII. Regulamenta a criação do CONCEA (Concelho Nacional de
Controle de Experimentação Animal) e suas competências; exige para as atividades
educacionais e pesquisa integrar previamente membros parte de CEUAs (Comissões de Ética
no Uso de Animais), e quem serão tais integrantes, prevê também suas determinadas
competências; conjectura as condições necessárias para criação e uso de animais para ensino e
pesquisa científica; determina as penalidades em cada caso que venha ferir as regras postas
por tal lei, do CONCEA e CEUAs; por fim suas disposições gerais e transitórias.

2.3.1 Princípios e Direitos Fundamentais no âmbito constitucional

A Constituição Federal de 1988 teve espaço para preocupação com o meio ambiente,
desta forma o art. 225 é um capítulo que discorre inteiramente a respeito desse tema. O § 1°,
inciso VII deste artigo, dispõe a respeito da fauna e flora, prevendo proteção contra possíveis
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ações que as coloque em risco, provoquem extinção ou submetam animais a crueldade. É


possível visualizar que mesmo de forma mais enxuta, que tal inciso considera o animal como
ser senciente, que merece ser compreendido como integro, o considera digno de vida e das
condições necessárias para garanti-la, bem como a liberdade de estar em seu meio natural
exercendo funções próprias de sua espécie, sem a interferência do ser humano ou sob
cuidados dele, resultado até mesmo numa situação daquilo que é conceituado como o bem-
estar animal.
Embora tenha se atentado em incumbir o poder público de proteção aos animais e ao
meio ambiente, acaba por ser um texto prolixo, como é a característica da Constituição
Federal brasileira, e de certa forma vago no que tange os significados de crueldade e quais
tipos de práticas colocam em risco a função ecológica do animal, deixando para outras leis
menores na hierarquia se posicionarem, ou mesmo os juristas em suas interpretações.

CAPÍTULO 3 – DOS CRIMES E DAS PENAS

3.1 NEGLIGÊNCIA ANIMAL

Animais selvagens ou de estimação se encontram vulneráveis às situações de


negligência, essa vulnerabilidade propicia situações recorrentes ou pontuais, como por
exemplo de uma vivissecção até a sua extinção. O mau trato, é configurado como uma ação
omissa em atender os deveres que uma situação requer, afetando o bem-estar psicológico e
físico de qualquer ser vivo.
A negligência animal, carrega um fardo histórico que vem das caças pré-históricas, das
guerras mundiais entre outros episódios que deixaram expostos a rinha entre a humanidade e
o animal. A conscientização animal, com o passar dos anos, ganhou espaço devido a um maior
interesse científico e a mobilização social que atinge o mundo todo, até a década atual. Uma
relação entre a negligência humana e a negligência animal, que se tornou visível ao que é
conhecido por “Teoria do Elo”. Identificar o descuido aos animais é um aspecto que deve ser
avaliado através do seu bem-estar, por meio das chamadas “5 liberdades” (livre de fome e
sede, livre de doenças e lesões, livre de frio e instalações precárias, livre para expressar seu
comportamento natural e livre de dor, de estresse e medo), como exposto na campanha
lançada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Diante dados da organização não
governamental Proteção Animal Mundial, o Brasil se encontra em vantagem legislativa, uma
vez que evidencia como crime, os abusos, maus-tratos e a mutilação em animais silvestres ou
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doméstico. A lei federal 9.605/1998, é um exemplo disso, dispondo penalidades a ações


lesivas em desfavor ao meio ambiente.
O Brasil, segundo a organização, é um dos maiores produtores e exportadores globais
de carne, sendo mais de 50 bilhões abatimentos anualmente no mundo, dados que devem ser
fiscalizados para implementação das boas práticas na cadeia produtiva, minimizando a aflição
animal. Com algumas espécies silvestres, é necessário cuidado especial, visto que são
inapropriados e inaptos a domesticação. No Brasil, ter animais silvestres como bichos de
estimação é crime ambiental, previsto na Lei nº 9.605/98, sendo vedado a utilização,
destruição, perseguição e caça de animais silvestres.

3.1.1 Vivissecção

A vivissecção é a prática de utilizar animal vivo com o propósito de analisar uma


alteração fisiológica. Os primeiros experimentos científicos com animais, ocorreram no
século V a.C com funções didáticas. De acordo com Felipe apud Úrsula Salcedo, René
Descartes, foi um dos impulsionadores a desvalorização animal, defendendo sua visão
mecanicista, ao associar os animais a máquinas, incapazes de sentirem dor.
Anualmente, milhões de animais estão sendo cobaias nos experimentos que os expõe a
radiação, vícios em drogas, envenenamento entre outros efeitos ambulatoriais, com a
finalidade de remediar/curar as doenças da humanidade, como também, com o objetivo de
aprimorar o conhecimento científico e seus avanços. Angélica H. de Rezende, Maria do C. G.
Peluzio e Céphora M. Sabarense afirmam que, no Brasil, os experimentos são previstos pela
Lei nº 11.794. Embora haja uma lei regulamentando a vivissecção, a tendência brasileira entre
empresas de medicamentos é extinguir o uso dos animais em experiências, buscando novas
alternativas. Com essa substituição, acarretaria benefício humanitário, bem como, ético.

3.1.2 O tráfico de animais e sua extinção

Segundo Gabriela Cabral, a destruição do habitat, a crescente ocupação humana, a


exploração econômica e o tráfico, são alguns dos principais fatores de ameaça para a fauna
silvestre. A posse clandestina de espécies ameaçadas de extinção, compromete o infrator
perante a Lei nº 9.605/98, agravando a posse que envolve espécie ameaçada. Em meados de
setembro, com o início da primavera é que se inicia o período de reprodução, principalmente
das aves. Para Leonardo Barros Ribeiro e Melissa Gogliath Silva, é no período reprodutivo
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que o tráfico ilegal acontece em massa. O tráfico de animais, é o terceiro maior comércio do
mundo, movimentando bilhões de dólares por ano, motivo por tanta participação nesse
mercado ilegal.
Não há agência especializada em ações contra o tráfico, razão pela imprecisão em
dados estatísticos, todavia, instituições estimam o desaparecimento de cerca de 12 milhões de
espécies. É válido ressaltar que ao capturar um animal, suas reações imunológicas e
psicológicas podem resultar em morte no percurso.
Para completar, esse mercado clandestino atinge principalmente a biodiversidade, uma vez
que rompe com o ciclo entre as espécies e provoca um desiquilíbrio ecológico.

3.2 EFICÁCIA DA APLICAÇÃO DA LEI

Na configuração documental e normativa, como descreve Rosangela Maria A. Gomes


e Mery Chalfun, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela
UNESCO em 1978, teve seu reconhecimento notável quanto à proteção animal. A lei vigente,
tutela situações de negligência animal, teoricamente. Na prática, no Brasil a reclusão por
maus-tratos é de três meses a um ano, e multa, expresso no artigo 32 da Lei nº 9.605/98.
Ainda, existem os inúmeros casos que não são registrados. A reclusão poderá ser convertida
em pena restritiva ou pagamento da multa, com isso, se tem a legislação e sua lacuna. Sendo
assim, o valor maior se torna ético e de responsabilidade civil, visto que o caráter inibidor da
legislação, deixa resquícios de insatisfação social. Juridicamente, os animais são considerados
objeto de direito, porém, em ações públicas pelo Ministério Público, em tendência atual,
considera-se como sujeito de direito

CONCLUSÃO:

O estudo teve como objetivo principal detectar os motivos que resultaram na criação
do direito animal, bem como, analisar os impactos deixados pelo homem no meio ambiente. O
ser humano sempre acreditou ter a posse dos animais, podendo assim, controlar suas vidas, o
que em grande parte é prejudicial aos mesmos, pois muitos são retirados do seu habitat
natural, caçados, torturados, mortos por esporte, etc. O que resulta em um desequilíbrio
ambiental.
No que tange ao aspecto histórico da proteção ambiental e do animal, no período pós I
Guerra Mundial, já era possível observar uma mudança de pensamento em relação à posição
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do homem perante a natureza, deixando este de ser o centro, passando a preocupar-se com a
preservação ambiental.
Em 1865, foi a primeira vez em que a proteção aos animais se deu no âmbito legal.
Posteriormente, outras leis surgiram, garantindo que algumas práticas cometidas a alguns
animais tornassem proibidas. Após Jeremy Bethan tratar dos animais como seres capazes de
sofrer, muitas sociedades nasceram com objetivo de lutar por direitos e proteção. A
Declaração Universal dos Direitos dos Animais oficializada pela ONU em parceria com a
Unesco em 1978 foi um grande marco para o direito animal. Seu texto é repleto de garantias,
visando o bem-estar animal e o equilíbrio ambiental. No Brasil, a primeira legislação de
proteção animal surgiu em 1934.
Desta forma, é possível concluir que, apesar da existência de legislação, observa-se
atualmente o resultado do descuido humano para com a natureza. Presenciamos um
desequilíbrio ambiental imenso e muito prejudicial. Também se nota que o direito ambiental,
na prática, ainda não se faz totalmente eficaz, visto que a problemática de maus tratos aos
animais ainda não se tornou parte da consciência ética e moral da sociedade.
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