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RIO POMBA
MINAS GERAIS - BRASIL
2019
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RIO POMBA
MINAS GERAIS - BRASIL
2019
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RIO POMBA
MINAS GERAIS - BRASIL
2019
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CDD: 370.7
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__________________________ __________________________
Profa. Dra. Maria Adélia da Costa Profa. Dra. Joana D’Arc Germano
Centro Federal de Educação Tecnológica Hollerbach
de Minas Gerais Universidade Federal de Viçosa
___________________________ __________________________
Profa. Dra. Beatriz Gonçalves Brasileiro Profa. Dra. Paula Reis de Miranda
Orientadora Coorientadora
Instituto Federal do Sudeste de Instituto Federal do Sudeste de
Minas Gerais Minas Gerais
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__________________________ __________________________
Profa. Dra. Maria Adélia da Costa Profa. Dra. Joana D’Arc Germano
Centro Federal de Educação Tecnológica Hollerbach
de Minas Gerais Universidade Federal de Viçosa
__________________________ _________________________
Profa. Dra. Beatriz Gonçalves Brasileiro Profa. Dra. Paula Reis de Miranda
Orientadora Coorientadora
Instituto Federal do Sudeste de Instituto Federal do Sudeste de
Minas Gerais Minas Gerais
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
From the concern that the public politics of teacher education in Professional and
Technological Education (PTE) do not developed in the same way in which occurred
the expansion of the modality for all 2000s, the present study, mediated by research-
action, has the aim to analyze how docents, acting on the modality, realize the
conceptual bases which north, categorized in the research like polytechnic, work how
educative principle and omnilateral training. The results obtained by evaluative
investigation identified that as the concepts have become more specifics in the
theory field of the area, they also have become less known by docents who have
been taking part in the research. Faced with the gaps found, was developed an
educational product in a website format, entitled Conceptual Bases in PTE: a
proposal of conceptual alignment for docents. In it were collected theoretical
materials with the categories which guide the formative aims of the modality, in a
perspective of an emancipatory educational project, as a tool of self-training for
docents. The professionals that took part in the research could navigate by the
website, to promote their conceptual alignment and still to evaluate the way how the
information was available. With the evaluation they showed that there were changes
of perception of the Conceptual Bases in PTE in relation to the available categories.
Besides that, they approved the way like the material was offered and the issue of
accessibility. We know, therefore, that the website can be used as tool for self-
training of the docents in an efficient way, covering the theoretical field of the area in
which they operate. It provides flexibility of access, contributing to the association of
its process of permanent formation with other daily activities.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 16
1 INTRODUÇÃO
O quadro foi ainda mais agravado para a escola pública, uma vez que o
“acentuado movimento dos filhos da classe média das escolas públicas para as
privadas na busca de garantir uma formação que lhes permitisse continuar os
estudos no nível superior” (MOURA, 2007, p. 13), alimentou o “processo de
desvalorização da escola pública estadual e municipal, pois era e continua sendo a
17
classe média que tem algum poder de pressão junto às esferas de governo”
(MOURA, 2007, p. 13). O autor ainda relativiza a opção da classe média pela
escolha da iniciativa privada na educação de seus filhos, visto que o que está em
jogo é o seu futuro.
Contudo, aos poucos, a partir da vivência e experiência de vida, fui tomando
consciência de que havia diferença entre escola pública e privada e detectando que
meus colegas de turma transferidos para a rede privada, em sua maioria, foram
sendo aprovados nos vestibulares das universidades federais, realidade muito
distinta, em termos econômicos como também culturais, para mim e outros colegas
de turma da escola pública.
A solução viável para “não perder” tempo e nem dinheiro era prestar o
vestibular na faculdade privada da cidade vizinha e logo conseguir trabalho para me
manter, já que era filha da classe trabalhadora. Tal pensamento encontra-se
alinhado àquilo que Moura (2007, p. 19) apontou:
Outra questão surgiu à época: “Por que quem não tem condições financeiras
não ocupa as vagas das universidades públicas?” Mal podia compreender a lógica
política e econômica perversa que ali estava impactando os rumos da vida de muitos
jovens.
Aceitando a realidade incômoda e (sobre) vivendo, a angústia consistia na
escolha do curso. No meu caso, entre dois: a paixão pela História, que desenvolvi
graças aos bons professores que tive, ou Ciências Contábeis, por pura entrega às
necessidades e seguindo o conselho de uma mãe que detectava nessa escolha
melhores condições de inserção no mercado de trabalho. Por isso, optei pelo
segundo.
Já no primeiro ano de curso, consegui um emprego em uma empresa do
ramo moveleiro, no setor de Planejamento e Controle de Produção, com duas
tarefas básicas. Uma delas era cronometrar o tempo gasto para cada etapa das
peças produzidas pelos trabalhadores, que se tornava um código a ser
disponibilizado mais tarde para o setor onde a peça era produzida. Todos os dias, os
18
1
Grifo nosso. Vale destacar que o verbo “poderá” é utilizado de forma interessada, abrindo a
possibilidade, mas não tornando-a obrigatória.
28
2
As quatro propostas apresentadas pelo GT da SETEC acolhem somente a
formação de professores para os conteúdos da formação específica, o que
é necessário e urgente. Contudo, quando nos referimos à necessidade de
se formar um docente para atuar especificamente na EPT, não nos
limitamos à formação técnica. Compreendemos que a formação de
professores para a EPT é uma formação integrada em que tanto as
disciplinas da formação geral quanto as disciplinas da formação técnica são
fundamentais para a formação do trabalhador. Nesse sentido, nos referimos
à especificidade necessária à formação desse professor, para atuar numa
modalidade de educação que tem suas particularidades.
2
“Em 2006, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação
(SETEC/MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) promoveram
um simpósio para debater essa formação. Em decorrência desse evento, foi formado um grupo de
trabalho (GT), sob a coordenação de Lucília Machado, envolvendo pesquisadores e gestores,
visando à elaboração de propostas para as licenciaturas de formação de professores para a EPT,
bem como a produção de uma proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação
dos professores da educação profissional, a ser encaminhada para deliberação no Conselho Nacional
de Educação (CNE)” (COSTA, 2012, p.144).
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e de industrialização brasileiro, vai se voltando cada vez mais para seu objetivo
máximo, que é formação de mão de obra para o atendimento dessa demanda.
No início dos anos 1940, conforme Moura (2007, p. 9), ocorre a “criação do
SENAI, seguida do SENAC, em 1946, e dos demais “S” ao longo das décadas
seguintes, o que revela a opção governamental de repassar à iniciativa privada a
tarefa de preparar ‘mão-de-obra’ para o mundo produtivo”. Esse sistema se
especializa na oferta do ensino profissional e ainda hoje é referência no campo
privado para área.
Portanto, para Moura (2007, p. 5), “a relação entre a educação básica e
profissional no Brasil está marcada historicamente pela dualidade”, porque se
compreendeu no campo das políticas públicas brasileira, entre os anos de sua
implementação, iniciados no século XIX, até a década de 1990, que a Educação
Profissional está marcada pela formação estritamente técnica para os futuros
trabalhadores e a Educação Básica volta-se para a formação propedêutica e
intelectual, com o objetivo de formar membros dirigentes da sociedade brasileira que
ocuparão cargos de controle no mundo do trabalho e no campo político.
Após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/1996 e em
seguida com Decreto nº 2.208/97, institucionaliza-se a figura do instrutor ou monitor.
No artigo 9º de tal Decreto, há uma autorização para que os cursos possam ser
ministrados “por professores, instrutores e monitores selecionados, principalmente,
em função de sua experiência profissional” (BRASIL, 1997), que podia substituir a do
professor, situação que encontramos na Educação Profissional de iniciativa privada
ainda hoje.
Esse é um dos exemplos de precarização do papel do docente, ao mesmo
tempo em que demonstra a marginalidade da modalidade e sua submissão aos
interesses econômicos, uma vez que instruir atende aos seus interesses imediatos
em detrimento da formação no sentido mais integral.
Corroborando com essa ideia, Gariglio e Burnier (2012, p. 213) destacam que
não convém aos interesses dominantes que o professor da EP, pela sua
influência na formação do trabalhador, seja preparado criticamente para
levantar questionamentos na relação ensino x aprendizado sobre os usos,
objetivos e implicações da tecnologia e, tampouco, sobre a relação capital x
trabalho.
35
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, instituindo em seu artigo 40 que ela
poderá ser feita em “cursos de graduação e programas de licenciaturas ou outras
formas, em consonância com a legislação e com normas específicas definidas pelo
Conselho Nacional de Educação” (BRASIL, 2012). Entretanto, importante notar que
tal formação possui caráter flexível e há uma ausência de diretrizes capazes de
orientar os conteúdos curriculares desses cursos.
Essa realidade não se alterou com a Resolução nº 02/2015, que define as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior e
formação continuada para o magistério da Educação Básica, normatizando cursos
de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de
segunda licenciatura (BRASIL, 2015). Nela são instituídos
4.1 Quais os saberes são necessários aos docentes que atuam na EPT?
Segundo Sales (2004 apud FARIAS, 2009, p. 87), esses saberes articulados
são os que “permitem ao professor desenvolver-se como profissional, configurando
e reconfigurando, contínua e situadamente, seu modo de ser e estar na profissão”.
Além disso, se configuram tanto na identidade profissional como também em sua
ação didática.
Diante da perspectiva de nossa pesquisa e do nosso desejo em contribuir
para a indicação de conceitos teóricos que apoiem o docente atuante da EPT,
destacamos duas categorias de saberes mencionados por Farias (2009): os
profissionais e os pedagógicos. Admitimos, com isso, o interesse pela perspectiva
de educação emancipadora como também o entendimento de que o trabalho
docente, assim como defendido por Libâneo (2013), possui caráter social, que visa à
formação cultural e científica de seus alunos, objetivando dar sua contribuição para
a sociedade.
Ainda de acordo com Libâneo (2013, p. 48), visualizamos o docente como um
mediador entre o aluno e a sociedade através de sua atividade profissional, ou seja,
ele realiza uma mediação entre “as condições de origem do aluno e sua destinação
social na sociedade”, tarefa que pode ser cumprida a partir da reflexão sobre o papel
social e o lugar em que situa sua atividade. Desse modo, pode construir objetivos
formativos a serem desenvolvidos de acordo com tais princípios, assumindo, então,
um compromisso ético-político nos seguintes pressupostos:
4.2 Saberes docentes da EPT constituídos por meio das Bases Conceituais em
EPT
autores que vem travando esse debate nos últimos anos. Conforme afirma
Rodrigues (2005, p. 116), no plano específico da Politecnia, destacam-se “as
contribuições de Dermeval Saviani (1986, 1988a, 1988b, 1989, 2003), Gaudêncio
Frigotto (1984, 1985, 1988,1991), Acácia Kuenzer (1988, 1989, 1991,1992)” e,
ainda, “Lucília Machado (1989, 1990, 1991a, 1991b, 1992) e Rodrigues (1998, 2005,
2006)”.
Segundo Rodrigues (2005, p. 114), as discussões sobre politecnia, que
possui seu cerne nas proposições marxistas, trazem à tona alguns vetores como o
da “formação omnilateral (isto é, multilateral, integral) da personalidade, de forma a
tornar o ser humano capaz de produzir e fruir ciência, arte e técnica” e o da
“integração recíproca da escola à sociedade com o propósito de superar o
estranhamento entre as práticas educativas e as demais práticas sociais”. Para a
consolidação desses propósitos, tal estudo foi proposto para estar no centro das
atividades pedagógicas, como princípio orientador da formação desses futuros
trabalhadores.
Nesse mesmo horizonte, saindo da discussão acadêmica e chegando ao
ambiente oficial, também influenciada pela teoria educacional, a Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, SETEC/MEC,
produziu um documento intitulado “Bases para uma Política Nacional de EPT”
(2008), com vários eixos norteadores que indicam como um dos objetivos o
fortalecimento da EPT. Um dos eixos trata das propostas pedagógicas para a
modalidade e afirma que “devem se pautar pelo princípio da formação integral, do
trabalho como princípio educativo, pelo respeito às diversidades dos sujeitos e às
especificidades regionais” (BRASIL, 2008, p. 6).
Em estudo mais recente, ao refletir sobre as características que a formação
docente deve conter, Costa (2016, p. 18) afirma que “a educação profissional,
considerada suas especificidades, requer uma formação de professores que seja
capaz de dialogar com a tríade: Educação, Trabalho e Sociedade”. Desdobrando o
seu raciocínio, ressalta ainda que o tipo de ensino ofertado por ela precisa de uma
formação que “considere os princípios estruturantes da educação” (COSTA, 2016,
p. 20) da modalidade. Tais princípios devem superar os limites de formação
simplista, modelada e influenciada pelas necessidades imediatas do mercado, que
49
Corroborando com essa ideia, Ribeiro (2009, p. 50) afirma que, ao vender sua
força de trabalho para aquele que detém o capital, o trabalhador dispõe de seu
potencial, o tempo, “vendendo o seu tempo, o trabalhador abre mão de exercer
qualquer possibilidade de controle ou intervenção nas complexas relações que se
estabelecem entre o indivíduo e o mundo no processo de trabalho”.
A partir da Pedagogia das Competências e de sua apropriação pelo sistema
capitalista, a escola tem se mostrado como ponte entre a qualificação acrítica de
trabalhadores e o ingresso no mercado de trabalho, contribuindo para a manutenção
do status quo. Para Frigotto (2010, p. 63), “a educação, mediante as noções de
capital humano, sociedade do conhecimento e pedagogia das competências para
empregabilidade, tem sido utilizada em contextos históricos diferentes, como
suportes ideológicos desta dissimulação”.
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A autora ainda indica três sentidos para o Ensino Médio Integrado: o primeiro,
a formação omnilateral; o segundo, a indissociabilidade entre a Educação Básica e a
Educação Profissional; e o terceiro, a integração entre os conhecimentos gerais e
específicos como totalidade. Segundo ela, essa forma de oferta, “caso não esteja
sustentada por uma concepção de formação omnilateral, é extremamente frágil e
não lograria mais do que suas finalidades formais” (RAMOS, 2008, p. 13).
São muitos os desafios para a consolidação de uma estrutura educacional
que emancipe os sentidos do trabalhador por meio da formação omnilateral, objetivo
do Ensino Médio Integrado, rompendo com o imediatismo do mercado de trabalho.
Ao apontar alguns deles, Frigotto (2010, p. 78) observa que “o desafio é a mudança
no interior da organização escolar, que envolve formação dos educadores, suas
condições de trabalho, seu efetivo engajamento e mudanças na concepção
curricular e prática pedagógica”.
Assinala, ainda, que tanto a instituição quanto os educadores devem
construir o compromisso com esse projeto, uma vez que, como alertado por Ramos
(2008), ele é frágil frente às influências do mundo social, político e econômico atual.
Contudo, Moura (2013) afirma ser possível, a partir das próprias contradições que o
mundo capitalista traz.
Faz-se necessário por parte dos docentes a apropriação teórica desse
contexto, uma vez que, conforme frisado por Frigotto (2010, p. 78), “se os
educadores não constroem, eles mesmos, a concepção e a prática educativa e de
visão política das relações sociais aqui assinaladas, qualquer proposta perde a
viabilidade”.
Portanto, nossa pesquisa visa contribuir para a tomada de consciência política
da EPT por parte dos docentes atuantes na modalidade, pois compreendemos que é
de suma relevância a sua atuação consciente para fazer com que o projeto de
58
emancipador por via da educação, assim como defendido por Moura (2013, p. 719):
“é preciso atuar em meio às contradições do modelo hegemônico vigente no sentido
de produzir movimentos que contribuam para o rompimento da dualidade
educacional (...)”.
Portanto, ao analisarmos alguns documentos que subsidiam a existência dos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, verificamos ainda em sua lei
de criação, no artigo 7, inciso V, uma aspiração do ideal de emancipação humana
com vistas ao desenvolvimento das potencialidades econômicas regionais,
fomentando o estímulo que apóiam “processos educativos que levem à geração de
trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento
socioeconômico local e regional” (BRASIL, 2008).
Ao investigar os documentos que regulamentam o ensino no campo de nossa
pesquisa, o IF Sudeste MG - Campus Muriaé, verificamos esse ideário se
reproduzindo no que diz respeito ao egresso da instituição que, através da
emancipação, poderá escolher com autonomia o seu caminho, como indica o
Regulamento Acadêmico dos Cursos Técnicos de Nível Médio (RACTNM) em seu
artigo 4º.
3
Entendido na concepção de Veiga (1995, p. 14) como “o projeto político-pedagógico busca um
rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido
coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar
intimamente articulado ao compromisso sócio-político e com os interesses reais e coletivos da
população majoritária”.
63
6 PERCURSO METODOLÓGICO
4
Nosso projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de acordo
com o Parecer nº 2.815.934, disponível em <http://plataformabrasil.saude.gov.br>.
66
Figura 3 - Pergunta que compõe o questionário para coleta de dados pelo Googleforms
Fonte: Questionário aplicado aos docentes participantes da pesquisa (2018).
A maior parte deles (71,4%) possui vínculo efetivo com a instituição, ou seja,
são docentes que atuam em caráter de dedicação exclusiva. Com relação às
disciplinas que compõem a grade curricular, 63,6% lecionam na área propedêutica e
36,4% na área técnica.
Com relação à formação acadêmica e qualificação, identificamos que 22,7%
concluíram o Doutorado, 54,5% possuem Mestrado, 18,3% Especialização Lato
Sensu e 4,5% Graduação. Questionados sobre a formação pedagógica, 72,7%
cursaram licenciatura, 9,1% formação pedagógica complementar e 18,2% não
possuem nenhum dos dois.
72
Gráfico 1 - Composição dos docentes participantes da pesquisa de acordo com o núcleo de ensino
Projeto Político Pedagógico (PPP). Cabe notar que tanto a lei citada quanto o PPP
apontam para aspiração do ideal de emancipação humana.
Como consta no documento, em seu artigo 7º, “estimular e apoiar processos
educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão
na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional” (BRASIL,
2008). Tal recorte mostra que os princípios formativos ofertados nos cursos
regulamentados devem considerar uma formação humana capaz de emancipar seus
estudantes, contribuindo para o seu desenvolvimento de forma ativa e autônoma, a
fim de que se insiram na sociedade.
Questionados se conheciam a lei mencionada, 72,7% dos docentes
responderam que sim e 27,3% afirmaram que não. Indagados em quais situações a
conheceram, 56,2% indicaram que por meio do estudo para o concurso público,
31,3% afirmaram que buscavam compreender o contexto no qual atuam e outros
12,5% disseram que em outras situações não indicadas pelo questionário.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição defende um projeto de
sociedade democrática, solidária e sustentável, valorizando a vida e o trabalho, além
de uma ideia de economia que perpasse tais questões. Aparece também a
preocupação com os moldes alienantes do trabalho e do ser, quando o lucro e o
consumismo são colocados como “tônica da produção, mais do que a promoção do
bem viver” (IFET, 2010, p. 7).
Percebemos, então, que o documento sugere uma proposta educacional que
“pretende acabar com a contradição entre homem e trabalho (...), centrando
esforços no sentido de formar o homem integralmente” (IFET, 2010, p. 11), através
da apropriação dos fundamentos “de todas as técnicas do trabalho e consiga
transpor isso para a sua prática, o que se entende por politecnia” (IFET, 2010,
p. 11).
Segundo Veiga (1995, p. 14), a proposta pedagógica da instituição através do
PPP “é uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
definido coletivamente” entre os membros da comunidade escolar, inclusive os
docentes. “Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto
político por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político e com os
interesses reais e coletivos da população majoritária” (VEIGA, 1995, p. 14).
Compreendemos que o PPP da instituição pesquisada se alinha a um projeto
educacional emancipador, mostrando uma íntima relação com as Bases Conceituais
74
formação em EPT, mas não abriu mão de atrelar essa mesma formação à relação
simplista com o mercado de trabalho.
A compreensão da formação integral com vistas à omnilateralidade (SAVIANI,
2003), vinculando os objetivos formativos da EPT à formação dos estudantes em
suas várias dimensões, não encontra aporte teórico por parte dos docentes, já que
apenas 23% deles responderam que já ouviram falar nesse tipo de formação. Essa
poderia ser uma possível explicação para a contradição apresentada acima.
A próxima pergunta e seu bloco de afirmativas (Gráfico 4) permanece nessa
mesma abordagem e aprofunda a questão acerca dos objetivos formativos da EPT.
Esperou-se como padrão de reposta sua relação com a apropriação dos elementos
científicos pelos estudantes e sua formação e inserção no mundo do trabalho,
visando ao bem coletivo e à negação da relação imediata desses objetivos com as
demandas do mercado de trabalho.
79
consonância com o mercado de trabalho, pois esse tipo de relação entre ensino e
mercado pode estabelecer vínculos com o imediatismo do Capital”.
É possível atrelar o perfil profissional buscado pelos objetivos formativos às
características do mercado de trabalho, utilizando a mesma compreensão de
mercado de trabalho para mundo do trabalho, o que levou tais docentes a concordar
com as duas assertivas que, de acordo com as bases conceituais, se mostrariam
contraditórias. A mesma ideia pode ser percebida quando analisamos as respostas
da afirmativa 3, na qual houve grande adesão à resposta padrão esperada: 90,9%
dos docentes concordaram total ou parcialmente que os objetivos da formação em
EPT devem “formar para o mundo do trabalho que diz respeito à inserção do ser
humano na base dos elementos que constituem sua própria existência ao mesmo
tempo que ele colabora para o bem coletivo no desenvolvimento das potencialidades
sociais, econômicas, culturais e políticas”.
Verificamos, mais uma vez, que os docentes percebem a importância de uma
formação humana que contemple as várias dimensões do aluno e também o
desenvolvimento social responsável, embora se evidencie a pouca diferenciação
entre mercado de trabalho e mundo do trabalho.
A categoria a ser analisada no bloco de pergunta a seguir diz respeito ao
trabalho como princípio educativo, que aparece com destaque nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
Destacamos, ainda, que 85% dos respondentes que assinalaram essa opção
(padrão de resposta não esperado) na afirmativa 1 também o fizeram na alternativa
de concordar totalmente com o padrão de resposta esperado: de que trabalho como
princípio educativo “estabelece a aprendizagem através da relação teoria e prática
viabilizando ao aluno que compreenda os fundamentos científicos da teoria na
prática através de seu entendimento histórico. O ensino prático deve estar
fundamentado em seus conhecimentos científico-teóricos e apropriados pelo aluno
em sua totalidade”, forma conceitual abrangente e alinhada ao campo teórico da
EPT.
Isso nos levou a concluir que muitos desses docentes ainda compreendem o
trabalho como princípio educativo como uma estratégia pedagógica quando, na
verdade, ela é a base unitária da relação entre teoria e prática.
A próxima categoria analisada foi a percepção dos docentes sobre o conceito
de Politecnia. Apesar de sua proposta para a educação exigir a superação do
modelo capitalista, como indicado por Ramos (2008), sua base teórica norteou a
proposição do Ensino Médio Integrado. Também a ideia de ensino unitário
superador do dualismo educacional aparece como Politecnia no Projeto Político e
Pedagógico da instituição pesquisada. Portanto, buscamos identificar como os
docentes compreendiam tal categoria.
Dentro do padrão de resposta esperado, a Politecnia é vista como o domínio
dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de
trabalho produtivo moderno e a negação do entendimento simplificado de se tratar
apenas do domínio de múltiplas técnicas (SAVIANI, 2003).
83
Gráfico 8 - Percentual de acertos de acordo com padrão de resposta esperado em relação à área de
atuação
Vale destacar que todos que atuam na área propedêutica possuem formação
pedagógica e, de modo geral, sua média de acertos foi maior do que os que atuam
na área técnica. Além disso, assim como se deu na comparação entre os que
possuíam formação pedagógica e os que não possuíam, também o foi para a
variável área de atuação, uma inversão com percentual de acertos para as
categorias “Trabalho como princípio educativo” e “Politecnia”: eles foram maiores
para os que atuam na área técnica dos cursos, porém o percentual de acertos foi
também muito baixo.
Em pesquisa recente, Lapa (2017, p. 24), buscando compreender como os
pilares que sustentam a EPT, a saber: “a formação integral ou onmilateral, o trabalho
como princípio educativo, apoiado em trabalho, ciência e cultura como dimensões, e
87
tempo na EPT foi maior que os que atuam há mais de seis anos, ainda que esse
percentual se demonstre baixo, em torno de 31,3% do total.
após o século XX, como discutido por Santomé (1998). Isso impacta na formação de
todos, inclusive dos docentes participantes de nossa pesquisa. Há discursos de
associação de formação profissional e empregabilidade que fazem parte do
ambiente cultural compartilhado por nossa sociedade, conforme apontado também
por Fidalgo e Fidalgo (2010, p. 28):
5
Posição é o equivalente à página na versão ebook Kindle.
94
que, apesar do conteúdo ter sido elaborado a partir da demanda desse grupo, ele se
constitui também como fonte de informação para todos aqueles que se interessarem
pela modalidade.
O website foi organizado para oferecer aos docentes o contato com o mundo
teórico da EPT, mas não pretende esgotar cada assunto, se apresentando como
porta de entrada para futuras investidas de estudo e aprofundamento sobre a área.
Para tanto, o concebemos como hipermídia, assim como caracterizado por Bandeira
(2017), como uma hibridização de linguagens e de mídias, ou seja, uma mistura de
imagem, sons, vídeos, textos, a fim de provocar no receptor a interatividade, visto
que possui recursos de navegabilidade e interação através de links com outras
fontes de informações.
Nele encontramos os conteúdos que orientam o docente quanto ao uso do
espaço virtual, explicam o motivo de sua existência e tratam de aspectos da história
dual sofrida pela EPT. Tais temas referem-se às Bases Conceituais em EPT, tendo
sido elaborados como hipertextos e divididos nas seguintes categorias: Trabalho
como princípio educativo, Formação para o mundo do trabalho x mercado de
trabalho e Formação Omnilateral e o Ensino Médio: horizontes para a Politecnia.
De acordo com a linguagem digital apresentada por Kenski (2007, posição
384), os hipertextos são “sequências em camadas de documentos interligados, que
funcionam como páginas sem numeração e trazem informações variadas sobre
determinado assunto”. Além do texto escrito, mostram links que encaminham para
outros documentos, sites, vídeos etc. que, por sua vez, também são hipertextos, em
uma conexão não-linear, permitindo ao usuário aprofundar o seu conhecimento
sobre o assunto, o que dependerá “da ação de cada pessoa o avanço nas
informações disponíveis” (KENSKI, 2007, posição 384).
Ao rolar a barra lateral da página para baixo, o usuário encontra tanto as abas
que direcionam para cada categoria disponibilizada, quanto as imagens e os links
para os hipertextos das categorias, tendo, então, a mesma função, como pode ser
observado na Figura 5.
Figura 9 - Categoria A formação Omnilateral e o Ensino Médio Integrado (EMI): horizontes para a
Politecnia
Fonte: Elaboração própria (2018).
Gráfico 11 - Mudança de percepção dos docentes por assuntos, após formação via website
que norteia a prática do docente que atua na EPT” (DOCENTE 2, 2018) e “Este site
irá proporcionar ao servidor público (docente e Técnicos Administrativos) um
conhecimento adicional ao campo de trabalho. Outro fator importante é a facilidade
de acessar a informação em qualquer momento, via internet” (DOCENTE 3, 2018).
Identificamos também que a acessibilidade do espaço virtual é um fator
considerado importante pelos respondentes, que puderam avaliar o site, de maneira
geral, através de uma escala que variou nas seguintes alternativas: muito bom, bom,
regular, ruim ou indiferente: 70% avaliaram como “muito bom” e 30% como “bom”.
Dessa forma, compreendemos que houve uma boa aceitação do site como
ferramenta que proporciona a autoformação através de alinhamento conceitual.
Compreendemos, portanto, que o website pode ser utilizado como ferramenta
para autoformação dos docentes de forma eficiente, abrangendo o campo teórico da
área na qual atuam. Ele proporciona flexibilidade de acesso, contribuindo para a
associação de seu processo de formação permanente com outras atividades
cotidianas. Também pode ser utilizado pela instituição como fonte de informação e
formação para seu corpo docente. Contudo, vale lembrar, é fundamental a
atualização do conteúdo e suas formas de acesso, considerando tanto as mudanças
e alterações ocorridas no campo acadêmico como também no campo das novas
tecnologias.
107
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
seus saberes profissionais de docente (apenas para aqueles com mais de dez anos
de docência na Educação Profissional) no âmbito da Rede CERTIFIC6. Cabe notar
que esses critérios para formação se encontram em vigor atualmente.
Mesmo com a exigência de complementação pedagógica, não se tem
garantias de que ela irá atender às especificidades da modalidade, como
demonstrado pelo estudo de Costa (2012) e também pelo que aqui realizamos. Ao
compararmos as percepções dos docentes em relação às Bases Conceituais em
EPT, sua compreensão acerca do assunto por categorias pouco variou entre os que
tinham ou não formação pedagógica.
Tais resultados corroboram com a ideia de que os cursos de formação
pedagógica através de licenciaturas ou outras formas especiais não discutem os
fundamentos referentes ao campo específico da EPT, realidade que não se alterou
nem com a expansão da modalidade ocorrida após os anos 2000.
Os resultados produzidos por nossa investigação avaliativa também
identificaram que, embora os docentes apresentem aspectos da concepção de
formação humana do ponto de vista da integralidade, ou seja, o aluno ser formado
em suas várias dimensões, verificamos que parte deles admitem, de forma
consciente ou inconsciente, a vinculação da formação voltada para as demandas do
mercado de trabalho de forma direta.
Compreendemos, com isso, que eles atribuem o mesmo significado para
mercado de trabalho e mundo do trabalho, o que pode ser desfeito a partir do
contato com o campo teórico no contexto da EPT, como identificado na avaliação
dos docentes em relação ao conteúdo do site, construído como um produto de
autoformação, no qual 30% dos respondentes admitiram ter sua percepção
modificada com relação ao tema.
Ainda sobre as percepções com relação às Bases Conceituais em EPT,
verificamos que à medida que os assuntos da área se tornavam específicos, como
no caso de Politecnia e Formação Omnilateral, se tornavam também desconhecidos
pelo grupo de docentes. Nesse ponto, mais uma vez, o produto de autoformação via
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“A Rede Nacional de Certificação Profissional e Formação Inicial e Continuada - Rede CERTIFIC
constitui-se como uma Política Pública de Educação Profissional e Tecnológica voltada para o
atendimento de trabalhadores, jovens e adultos que buscam o reconhecimento e certificação de
saberes adquiridos em processos formais e não formais de ensino-aprendizagem e formação inicial e
continuada a ser obtido através de Programas Interinstitucionais de Certificação Profissional e
Formação Inicial e Continuada – Programas CERTIFIC”. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/setec-secretaria-de-educacao-profissional-e-
tecnologica/programas?id=15266>. Acesso em: 19 nov. 2018.
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REFERÊNCIAS
______. MEC. Plano Nacional de Educação. Brasília: INEP, 2014. Disponível em:
<http://pne.mec.gov.br/>. Acesso em: 18 dez. 2018.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.