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IMPERATIVOS
DA VIDA
NÃO FAÇAS DEPENDER A TUA FELICIDADE
DE ALGO QUE NÃO DEPENDA DE TI!
UNIVERSALISMO
Sumário
Advertência
Interessa-te – Desinteressadamente!
Sempre Avante!
Integra-te no Todo!
Naufraga – e Vive!
Não Te Preocupes com Tua Salvação!
Sê o que És!
Purifica-te!
Deus
Advertência
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se
aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa,
mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Guia-te pelas luzes-verdes com que Deus marcou a estrada da tua vida em
perene ascensão!
Verdes são os campos e as campinas que Deus creou – porque neles cantam
as glórias da vida em plena evolução e felicidade.
Jamais poderá o finito exaurir o Infinito – por mais que o cognoscente avance
em demanda do cognoscível, sempre poderá abismar-se mais e mais no
Incognoscível, nas trevas do Mistério, nas profundezas de Deus.
Que seria a vida eterna sem esse eterno Mistério? – que fascinação exerceria
sobre a alma um mundo totalmente por ela devassado, sem ulterior
possibilidade de novos descobrimentos?
* *
Entretanto, não te esqueças, meu amigo: essa alvorada salvadora não nasce
em algum horizonte fora de ti, mas sim no horizonte dentro de ti – esse sol
desponta no Grande Além de Dentro, nas divinas profundezas de tua própria
alma.
É, pois, necessário que descubras esse reino de Deus dentro de ti, esse reino
sempre presente a ti, mas do qual estás, muitas vezes, ausente.
Essa viagem rumo ao teu centro divino, naturalmente, é muito mais difícil do
que todas as jornadas para as periferias externas – porque “estreito é o
caminho e apertada é a porta que conduz ao reino de Deus”, dentro de ti.
Entretanto, uma vez habituado a trilhar esse caminho estreito, verás que ele se
alarga em esplêndida avenida – e, uma vez que entraste pela porta estreita da
disciplina e assídua comunhão com Deus, verificarás que te achas num
universo de infinita largueza e indescritível formosura...
Vale, pois, a pena iniciares essa jornada e arriscares essa grande aventura –
mesmo que seja no último quartel da tua existência terrestre...
Suplico-te apenas, ó luz benigna, que ilumines o modesto espaço que cada
passo tem mister...
Que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só...
Guia-me cada vez mais longe de mim, cada vez mais perto de ti...
Foi como um fogo pintado na tela – ou foi um fogo real, cheio de força, luz e
calor?
Nasceu ele, é verdade, há quase 2000 anos, na gruta de Belém – mas não
nasceu na gruta de teu coração.
Ainda que mil vezes nasça Jesus em Belém – se não nascer em ti, perdido
estás...
Por que não pões ponto final a toda essa política e diplomacia curvilínea do teu
egoísmo e inicias, finalmente, uma vida retilínea de absoluta verdade,
honestidade e amor universal?
Quando permitirás que nasça em ti o Redentor – ele, o Caminho, a Verdade e
a Vida?
Não imaginas, meu amigo, o que viria a ser para ti esse Natal externo do ano
litúrgico, se, de fato, celebrasses o Natal interno de tua alma.
Se o Cristo fosse para ti, não apenas um artigo de fé aridamente crido – mas
uma estupenda realidade intensamente vivida.
Celebra o teu verdadeiro Natal, meu amigo – e saberás o que o Cristo significa
para ti e para todos os que o recebem e vivem nele...
Tudo foi creado por ele e para ele – pelo Cristo e para o Cristo eterno.
Nele tudo está, dele tudo vem, para ele tudo vai.
É ele o oceano para onde todas as águas da creação regressam, céleres como
sorridentes arroios a saltitar de pedra em pedra – lentas como majestosas
torrentes em silenciosa marcha rumo ao mar.
É ele que faz nascer as flores, viver os insetos, jubilar as aves, os animais.
Porque ele, o Cristo Cósmico, está acima do Universo; pois é nele que o
Universo subsiste como em seu alicerce; é nele que o Universo culmina como
em sua cúpula e coroa.
És tu, o eterno Logos, que, desde o princípio, estavas com Deus e que és
Deus, és tu que iluminas a todo homem que vem a este mundo.
Enche-me da tua força, da tua luz, do teu calor de tal modo que eu, repleto de
ti, transbordante de ti, difunda pelos espaços em derredor a abundância que de
ti recebi...
Aleluia!...
Alarga os
teus Horizontes!
Donde vinha essa voz? De fora? – Não, de dentro de mim, das longínquas
regiões de dentro, dos profundos abismos do meu próprio ser...
Minha alma, cristã por sua própria essência – imagem e semelhança de Deus,
participante da natureza divina...
Percebi, não com os sentidos; compreendi, não com a mente – vivi com o
espírito a grande mensagem de minha alma...
E, quando voltei a mim dos mundos longínquos que invadira sobre as asas
brancas de minha alma, olhei em derredor – e não havia barreira em parte
alguma...
Mas os fios com que o teces não são apenas de hoje nem de ontem –
remontam a milhares de anos e de séculos, a incontáveis eons e eternidades.
Não importa saber – o que importa é que estendas as mãos para apanhar os
fios luminosos que estão no ar e deixes de lado os fios tenebrosos que te
cercam também.
Não permitas que tua alma seja praça pública por onde transite indistintamente
a turbamulta dos profanos!
Por que é que esbarras sem cessar contra as vidraças da janela fechada,
besouro estonteado?
Não sabes que esse vidro é duro demais para teu crânio?
O que acabará em pedaços não será o vidro, mas sim tua cabeça.
Olha para o lado! Não vês essa porta aberta de par em par?
Por que não renuncias a essa louca teimosia de querer passar onde não há
passagem, e desprezas o caminho aberto?
Não quis saber de porta indicada por outrem – só quis saber da janela
descoberta por ele mesmo.
* *
Por que tentas, minha alma, abrir o teu caminho, quando está largamente
aberto o caminho dele?
Que será da tua higiene espiritual, meu amigo, se não banhares a tua alma,
diariamente, no oceano da Divindade?
Toma, pois, o teu banho espiritual cotidiano nas águas puríssimas do mundo
divino.
Expõe a tua alma ao tonificante banho de luz da comunhão diária com Deus.
Não inicies os teus trabalhos profissionais sem primeiro mergulhares nas ondas
da meditação, da oração, duma intensa e profunda consciência da presença de
Deus.
Verás que essa diatermia espiritual matutina transformará o teu dia em algo
bem diferente daquilo que os dias profanos costumam ser.
Verás que tens olhos para ver antes o que nos outros há de bom e de positivo
do que o que neles há de mau e de negativo – porque o banho espiritual te
limpou os olhos turvos e te deu uma visão mais clara da realidade.
Verás que essa comunhão com Deus, longe de impedir os teus trabalhos
profissionais, lhes aumentará grandemente a eficiência, porque envolverá tudo
num como que halo de luz e leveza, fazendo parecer simpáticos até os
trabalhos mais antipáticos.
Porquanto, tu vês as coisas, não como elas são, mas assim como tu és.
Verás que esse banho matinal nos mares de Deus te encherá de tamanha
serenidade interior, durante as 24 horas do dia, que nenhuma infelicidade te
fará infeliz, nenhuma injustiça te fará injusto, nenhuma ingratidão te fará
ingrato, nenhuma maldade te fará mau.
Não digas que te falta o tempo necessário para dares 30 minutos diários a esse
banho espiritual.
Se, dentro das 24 horas do dia, não encontrares meia hora para a coisa mais
importante da tua vida, sabe que o teu programa é visceralmente falso e urge
retificá-lo hoje mesmo.
Será que a tua vida está tão cheia de outras coisas que não tenhas tempo para
viver?
Não escolhas para a tarefa mais importante do dia a meia hora pior, a que,
porventura, te sobrar dos outros trabalhos – reserva-lhe antes a meia hora
melhor, quando corpo, mente e alma se acharem perfeitamente calmos e
receptivos.
“Quando orares, retira-te para o teu aposento, fecha a porta atrás de ti, e fica a
sós com teu Pai celeste.”
Não é necessário que fujas para o deserto ou te isoles numa caverna – mas é
necessário que tenhas dentro de ti essa “caverna” aonde te possas refugiar
para momentos de passividade dinâmica, de silêncio fecundo, de auscultação
do Infinito.
Não creias apenas no que te estou dizendo – procura sabê-lo por experiência
pessoal.
Do crer pode-se voltar para o descrer – mas do saber experiencial não há
regresso para o não-saber.
Faze, pois, a tua comunhão diária com Deus, com profundeza e intensidade –
e sentir-te-ás leve e feliz – para ti mesmo e para os outros...
Faze as
Pazes Contigo!
O Eu passivo não afirma nem nega coisa alguma – continua a ser o que é,
receptivo, cada vez mais receptivo, na certeza de que ele é o grande aliado do
Universo, que não pode ser jamais derrotado, por fraco que pareça.
O que o Eu ativo julga dar, antes de fecundado pelo Eu receptivo, é por força
um aborto macabro, uma prole sem vida, algum monstro teratológico.
Deveras! Quem bebeu uma gotinha sequer desse vinho mágico do misticismo
além-nista, dificilmente voltará dessa dulcíssima embriaguez para a sobriedade
trivial dos profanos.
Que significa ainda, para ele, essa farsa cotidiana que os analfabetos da
sapiência chamam “vida”?... Essa longa agonia dos prazeres? Essa louca
palhaçada de posses, glórias e vaidades? Essa corrida frenética às
deslumbrantes vacuidades que formam o cobiçado alvo dos caçadores de
miragens e sonhadores de sonhos vazios...
O ébrio do Além, sepulto no silêncio da sua caverna, vive muito mais
intensamente do que todos esses semi-vivos, pseudo-vivos, ainda-não-vivos,
do mundo dos barulhos profanos, porque ele é um pleni-vivo no vasto cemitério
dos mortos ou no triste hospital dos moribundos...
Que admira, pois, que esse vidente da realidade nada queira saber da cegueira
dos mundanos – não por motivo de orgulho e de desprezo, mas por causa da
verdade libertadora e beatífica que possui?...
Ai do homem social!
Ai do homem solitário!
Estes são sementes vivas, mas que nunca chegam a brotar com verdejante
vitalidade, porque se isolaram do solo e do sol, que deviam atualizar o
potencial que neles dormita.
Se a semente não cair em terra, ficará estéril – mas, se cair em terra, produzirá
muito fruto...
Esse mesmo mundo horizontal que para o profano é morte, é para o iniciado
elemento de vida e saúde, sem o qual a sua verticalidade acabaria doentia e
estéril.
É necessário que todo homem tenha o seu “santuário” para o qual possa
retirar-se periodicamente, a fim de intensificar o foco da sua consciência
espiritual e não naufragar por entre as tempestades da vida profana.
Faze, pois, as pazes contigo mesmo – pacifica-te, para que possas ser
pacificador, porque os “fazedores de paz” é que serão chamados filhos de
Deus...
Não basta que abandones os teus vícios – é necessário que também renuncies
às tuas virtudes.
O vicioso nada tem de positivo que possa dar ao mundo – porque ele mesmo é
um indigente.
O virtuoso teria algo que oferecer – mas o mundo tem medo das suas virtudes,
porque vêm amortalhadas de sombras e tristezas.
Pouco importa o que o homem diga ou faça – o que importa é o que ele é.
Tudo isto faz o pleni-homem, o homem integral, porque ele é como o sol – esse
astro assaz potente para arremessar gigantescas esferas pelos espaços
cósmicos, e assaz delicado para beijar uma pétala de flor sem a lesar, para
acariciar as faces duma criança dormente sem a acordar...
Quem diria que tão vastas energias se recatassem no pequenino átomo físico –
e no misterioso átomo humano?
Esse átomo, que parece algo estático, imóvel, substancial – mas que é um
imenso universo de forças de inconcebível potência...
Mas como libertar essas forças ocultas? Como romper esse invólucro que as
encerra?
Mas, para romper o núcleo atômico humano não bastam cíclotrons, nem que
gerem milhões e bilhões de volts.
“Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril – mas, se morrer, produzirá muito
fruto.”
Deus não pode servir-se dum homem que serve ao ego, porque ninguém pode
servir a dois senhores: a Deus e ao ego.
A condição única para que Deus realize grandes coisas por meio do homem é
que ele reconheça que nada pode fazer por si, quando separado de Deus.
E verificará, depois, que Deus faz feliz a quem, por amor de Deus, abre mão da
felicidade...
Não, meu amigo, não creias em outra vida – porque ela não existe!
Vida que está em princípios aqui na terra, que vai continuar alhures,
indefinidamente, por todos os mundos de Deus – porque “há muitas moradas
na casa do Pai celeste”.
Agora estás ensaiando os primeiros passos numa estrada que não conhece
luz-vermelha – mas sempre tem diante de si luz-verde, trânsito livre.
Que diria esse ovinho de borboleta colado na face inferior duma folha, se lhe
falasses numa outra vida? Na vida da lagarta, da crisálida, da borboleta?
Não, esse ovinho sabe e sente que não há outra vida, que a vida do ovinho é a
vida da lagarta, a vida da crisálida, a vida da borboleta – uma única vida em
estágios vários de vitalidade.
Para este fim é que ela fecha todas as portas e janelas que dão para o mundo
externo, abole os sentidos, se liberta das pernas, da boca, do estômago, de
todos os implementos da larva comilona – porque já não necessita desses
meios preliminares, que cumpriram a sua função.
Vida una em formas múltiplas, alma única em corpos vários – que estupendo
mistério!...
Há um interesse interessado.
Há um desinteresse desinteressado.
Não conhecem derrotas nem fracassos – porque não fazem depender a sua
felicidade de algo que não dependa deles.
Quem trabalha por egoísmo já está derrotado, mesmo antes de dar o primeiro
passo – porque o seu trabalho é roído pelo caruncho interno, que acabará por
arruinar a obra também externamente.
Se não aparecerem – nem por isto se julga esse homem derrotado, nem jamais
fala de “tempo perdido”.
Não existe “tempo perdido” para quem não perdeu o seu tempo em esperar
resultados que não dependem dele.
Só ele, plenamente livre, pode trabalhar com eficiência integral – sem olhar
hesitantemente para a direita, para a esquerda, para trás – mas caminhando
para frente, porque dentro de si mesmo está a garantia da sua vitória.
Sabe que todas as coisas, mesmo as mais pequeninas, são grandes – quando
feitas com grandeza de alma...
Deixa o Egito,
Atravessa o Deserto
– e Entra em Canaan!
Depois, em plena noite, por ordem de Deus, realizaste o grande êxodo, do país
do conforto, e entraste no vasto deserto da renúncia, peregrinando em pobreza
e tormentos, decênios a fio, por entre lutas e privações...
E tu, por vezes, alongavas olhos saudosos para terras e tempos remotos.
Tombaram ao som das trombetas do teu entusiasmo, dos teus hinos, da tua
prece...
Quando não fazemos o que devemos, porque não amamos o que devemos –
somos pecadores, rebeldes e anarquistas.
Quando fazemos o que devemos, mas não amamos o que fazemos – somos
escravos da disciplina.
Só quem ama o que deve e faz o que ama é que é ao mesmo tempo bom e
feliz.
“A vida eterna é esta: Que os homens te conheçam, ó Pai, como o único Deus
verdadeiro – e o Cristo, teu Enviado...”
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração
humano o que Deus preparou àqueles que o amam...”
Como poderia ser feliz, eternamente feliz, uma parte da família humana se a
outra parte não tivesse a possibilidade de ser feliz também? Como poderia eu
gozar o meu céu, se milhares de irmãos meus sofressem para sempre o seu
inferno, sem um resquício de esperança de dias melhores?
Se tal fosse possível, seria o céu o Panteon dos egoístas no gozo e o inferno
seria a assembléia dos egoístas no sofrimento...
A mais dura das vidas torna-se suave quando o homem tem plena certeza por
que vive e conhece o caminho que trilha.
Vida enfadonha e intolerável é somente uma vida sem ideal nem finalidade.
Exultantemente...
Torna-te
Achável – e
Deus te Achará!
Respondi-te que não podes achar a Deus, mas que Deus te pode achar – se
fores achável.
Ai daquele que não se tornar achável! – Nem Deus o pode achar, com toda a
sua onipotência...
Não podes redimir-te – mas podes tornar-te redimível de modo que Deus te
venha redimir.
Tu, o pequeno, não podes possuir a Deus, o Grande – mas o pequeno pode
assumir uma atitude tal que o Grande o possa possuir.
E, depois de seres possuído por Deus, poderás também possuir a Deus – mas,
antes que Deus te possua, não podes possuir a Deus.
É necessário que Deus desça a ti – para que tu possas subir a Deus – é este o
alfa e o ômega da encarnação do eterno Logos que se fez carne e habitou
entre nós.
Deus se fez homem para que o homem pudesse ser como Deus.
Para o ególatra, o ego é o mais alto dos bens que ele conhece – e como o
poderia sacrificar enquanto não vir um bem superior a esse ego?
Tem-se dito que o mais profundo instinto de todo ser é “existir”, ou seja, a lei
biológica da auto-conservação, o struggle for life, como dizia Darwin.
Não é exato. Nenhum ser está contente com o simples “ser” – todo ser sente a
imperiosa necessidade de “ser mais”.
É que nas recônditas profundezas de todo ser dormitam potências latentes que
tendem à atualização.
Para um viajor nas planícies é pouco extenso o horizonte visual – mas para
quem contempla os arredores do cimo de elevada montanha, ou das alturas de
um avião estratosférico, é incomparavelmente mais vasto e grandioso o
panorama que se lhe descortina.
Por mais intensamente que o homem possua a Deus, nunca o possui com
tamanha intensidade que a sua posse não seja ulteriormente intensificável.
“A vida eterna é esta: Que os homens te conheçam, ó Pai, como o único Deus
verdadeiro, e o Cristo, teu Enviado”...
Não há evolução eficiente sem revolução precedente – falta-lhe o “r” inicial, que
é o “r” da redenção.
Será esta a mais gloriosa aventura da tua vida: descobrir a Deus dentro de ti.
Vives na ilusão tradicional de que Deus habita no céu, palavra com que
entendes infantilmente alguma região longínqua do universo, e que esse Deus
deva ser procurado em longas e incertas odisséias centrífugas.
Disseram-te que em alguns lugares da nossa terra está Deus mais presente do
que em outras – e por isto empreendeste árduas peregrinações e romarias a
zonas distantes do globo terráqueo, a fim de te aproximares um pouco mais do
Deus ausente.
Mais ainda, essa jornada nem parece ser tarefa da vida presente, mas algum
acontecimento post-mortem; Deus parece estar oculto por detrás do espesso
véu de carne corpórea, como a efígie de Ísis por detrás do pesado véu do
templo de Saís – uma vez destruído esse véu de carne e osso, Deus aparecerá
visível, pensas tu...
Grande será a tua ilusão, meu pobre viaja! Maior que a do jovem do santuário
de Saís, que levantou o misterioso véu para ver a divindade – e contemplou o
vácuo...
Deus, é verdade, está em toda parte, mas tu só podes ter com ele um ponto de
contato consciente no ponto de confluência entre a tua consciência individual e
a Consciência Universal, lá onde o pequeno arroio da tua personalidade
deságua no oceano imenso da Divindade, donde surgiu, fechando o vaso ciclo.
Cada personalidade é única, original, inédita – nunca existiu ser igual nem
jamais virá a existir um ser igual a este ego, que sou eu, que és tu, que é ele,
ela...
O erro não está no desejo de ser “importante” – o erro está no modo como
muitas pessoas procuram ser importantes.
– pelo isolamento;
– pela oposição;
– pela integração.
É também esta a razão por que “o amor é o vínculo da perfeição”, porque amor
diz integração, universalidade, totalidade – ao passo que desamor ou egoísmo
é visceralmente contrário a tudo isto.
Sendo que Deus é a Totalidade Absoluta, tanto mais divino é um homem
quanto mais alto o seu grau de totalidade e universalidade, isto é, de amor.
Não incluir, ou até excluir do seu amor um único ser, é falta de totalidade e
universalidade, falta de “divindade”.
“Ser igual a Deus” é a linguagem bíblica para exprimir esse anseio de todos os
seres. “Como o veado anseia pelas torrentes de água, assim anseia minha
alma por ti, Senhor”...
Sendo que em Deus tudo está, dele tudo vem, é lógico que a ele tudo volte.
Uma vida sem vida, sem encantos – vida descolorida, vida murcha, vida
morta...
Por isto, cerquei de uma vasta floresta de “meus” o meu querido “Eu”, para que
o protegessem e defendessem eficazmente de qualquer perigo de ataque e
destruição.
Depois disto, voltei para casa, perfeitamente tranquilo, ciente de que já não
havia poder algum sobre a terra que me pudesse espoliar desses preciosos
“meus”, defensores do meu queridíssimo Eu...
Só Deus sabe quanto sofri nessa longa noite de agonias anônimas, de torturas
íntimas, que nem sequer atingiram os ouvidos dos meus melhores amigos e
confidentes...
Assim, tive de carregar a minha cruz sem nenhum Cirineu, rumo ao topo do
Gólgota...
Depois de muito sofrer e muito lutar e muito clamar e muito chorar e muito orar
– entreouvi uma voz longínqua, como que vinda dos últimos confins do Além...
E essa voz longínqua segredava-me, com silenciosos trovões e trovejante
silêncio: Naufraga – e vive!
O eterno Logos que, no princípio estava com Deus, que era Deus, que é a
Vida, que é a Luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo...
Sabia que, embora cidadão do Infinito, tinha de viver ainda, como imigrante
temporário, neste plano finito – porque tinha uma grande missão a cumprir...
Nada mais tenho como meu desde que deixei de ser este pequeno Eu...
Depois desse naufrágio mortífero, que me fez entrar na plenitude da vida, sinto-
me tão indizivelmente livre e feliz que tenho irresistível vontade de abraçar o
mundo inteiro, e dar a cada ser um pouco da minha felicidade – pouco ou
muito, quanto ele puder abranger, porque sei que esse tesouro divino é
inexaurível...
Não! – bradei – não vos quero mais, tiranos e carcereiros de outrora! Retirai-
vos de mim!
Claro que ele não pode ignorar que a salvação do homem (e não apenas da
alma!) está inseparavelmente unida com essa permanente atitude de harmonia
com Deus; pois, se assim não fosse, o mundo de Deus não seria um cosmos
de ordem e harmonia, mas sim um caos de desordem e desarmonia. O homem
pleni-espiritual experimenta o universo como um sopro cósmico do Deus do
cosmos, como uma exuberante “presença viva”, e não como uma triste
“matéria morta”; como uma grandiosa sinfonia de ordem e beleza – e por isto
não pode, por um instante sequer, ter dúvida da sua própria salvação.
Mas, repetimos, essa idéia da sua salvação individual não forma o alvo das
suas preocupações e dos seus esforços; não é o centro e pivô da sua vida
espiritual.
É com estas palavras que um grande iniciado exprime essa atitude de absoluta
liberdade e serenidade em face da salvação.
Os que amam nada temem e nada esperam – não temem o inferno nem
esperam o céu – amam simplesmente.
Para eles, o inferno está fechado e o céu está aberto, aqui e agora, por toda a
parte e para todo o sempre...
Acorda
do Sonho –
Para a Realidade!
Ressuscita!
Sabe que aqui és estranho e peregrino, imigrante com visto temporário e que
tua verdadeira pátria são os céus, o Infinito, o Eterno...
Para que, pois, erguer casa maciça à beira da estrada transitória? – Por que
não levantas ligeira tenda de nômade, uma vez que amanhã tens de prosseguir
viagem?...
Não sabes, então, que aqui não tens estadia permanente – que estás em
demanda da pátria futura?...
Mas não te desconsoles com o caráter transitório da tua etapa terrestre; essa
passagem pela terra é uma etapa gloriosa, porque tu és um emissário da
eterna Divindade, um arauto do Infinito neste mundo finito, um embaixador de
Deus a teus semelhantes, que de ti esperam grandes mensagens do Além...
Firma, pois, os pés solidamente nesta terra – e mantém a cabeça nas alturas
do Deus do Universo.
Não seja o teu reino deste mundo – mas esteja neste mundo...
Nada nem ninguém te pode derrotar enquanto mantiveres a linha reta dessa
gloriosa tarefa de arauto de Deus...
Morre o sol sobre o esquife da tua pequena vida de hoje – nasce o sol sobre o
berço da tua grande vida de amanhã...
Quem o disse, quem o experimentou, quem o viveu foi aquele que disse: “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida – quem me segue não anda em trevas, mas
tem a luz da vida”...
E ele mesmo vive para sempre essa grande vida que para além do túmulo
amanhece...
Não lamentes, meu amigo, a decadência e perda deste teu corpo material –
sabe que o teu corpo espiritual é instrumento muito mais perfeito para abrires
caminho rumo a Deus...
Vai, pois, esculpindo esse corpo espiritual dentro da oficina do teu corpo
material...
Não te escravizes por coisa alguma – porque ninguém pode amar aquilo de
que é escravo...
Estamos aqui para servir, servir com radiante entusiasmo, porque este é o
nosso céu nesta terra e através de todas as moradas por onde tivermos de
passar ainda...
Aleluia!...
Entra na
Comunhão
dos Santos!
Para que o evasor do Egito e peregrino do deserto possa invadir a terra santa
da Promissão – ai! Quantos ídolos têm de ser derribados dos seus altos
pedestais! Quantos fetiches “sagrados” têm de ser pisados aos pés! Que
torrentes de lágrimas têm de brotar dos olhos do arrojado viajor! Por que
longas noites de agonia tem de passar o seu coração aberto em chaga viva!...
Será o jovem peregrino do Além assaz corajoso? Será ele capaz de suportar
por longo tempo essa tormentosa solidão?...
Não sucumbirá, esmagado, sob o peso imane do seu sublime heroísmo, antes
de cruzar as fronteiras de Canaan?
Será ele eficazmente alimentado por uma fé que ainda não desabrochou em
visão intuitiva?
Mas eis que, um dia, por entre o silêncio do seu solitário jornadear, ele percebe
vozes ao longe... vozes de perto... vozes de toda a parte...
E, de mãos dadas, por entre hinos e cânticos nunca dantes ouvidos, vai
seguindo com eles, rumo às montanhas sagradas que brilham ao longe...
Aleluia!...
Descobre
o teu Além
de Dentro!
Não, meu amigo, que tudo isto é fácil demais para ti – tu, que és fadado para
grandes aventuras cósmicas de dentro; tu, que és um bandeirante por
natureza, herói autêntico, pioneiro do Infinito – deves cravar mais longe a meta
das tuas aspirações...
– Sim, esse vasto e profundo Além de dentro, que fica tão distante do teu ego
físico-mental que parece estar para além das mais longínquas fronteiras do
Universo, para além de todas as nebulosas, galáxias e imensidades do cosmos
sideral. Fáceis são as evasões centrífugas – difícil a invasão centrípeta! Todos
os profanos e analfabetos da Verdade procuram evadir-se do centro,
demandando as periferias – só uns poucos, iniciados e sapientes do Infinito e
do Eterno, é que lutam por invadir o baluarte da Verdade, da Verdade de
dentro. Amigo, deixa de ser um mesquinho evasor e torna-te um arrojado
invasor, descobrindo a luminosa escuridão do teu verdadeiro Eu!
Ah! meu amigo, se soubesses por experiência pessoal o que é ser remido da
escravidão do pseudo-Eu! Ser libertado desse simulacro do Eu e respirar a
atmosfera primaveril do universo espiritual, da gloriosa liberdade dos filhos de
Deus!
Se o soubesses!...
Se o soubesses!...
E esse mundo tão imundo te seria puro – porque todas essas coisas opacas,
quando contempladas sem Deus, se tornariam transparentes quando vistas em
Deus...
Não penses, ignoto amigo, que alguém te possa redimir sem ti – ou até contra
ti!
Depois que Jesus te mostrou o caminho pela vida que viveu, também tu podes
viver essa vida e redimir-te por ele, teu Redentor – tu, o irredento, se fores
redimível...
Liberta-te de vez da querida e funesta ilusão de que alguém, seja ele quem for,
possa purificar-te automaticamente das tuas impurezas.
1. A palavra grega para “conversão”, usada nos Evangelhos, é metánoia, que quer dizer
literalmente “trans-mente” ou “transmentalização”, designando o profundo processo interno
pelo qual o homem se despoja da mentalidade do “homem velho” e se reveste do espírito do
“homem novo”, tornando-se uma “nova creatura em Cristo”, passando por um “renascimento
pelo espírito”.
Mas, não te iludas! Ninguém pode renunciar ao teu egoísmo em teu lugar;
ninguém pode amar por ti; ninguém pode operar a tua purificação interna,
purificando-se e imputando-te a pureza dele.
Assim como é intransferível a impureza moral, assim também não pode outra
pessoa revestir-te ou penetrar-te da sua própria pureza.
Para efeitos espirituais, não podes passar “procuração bastante” a alguém para
que ele aja em teu nome, nem que essa procuração venha com “firma
reconhecida” de todos os cartórios teológicos e eclesiásticos do mundo.
Pagarás o que deves à Justiça Divina, até ao “derradeiro ceitil”, para saíres do
cárcere.
A tua única esperança de redenção está numa vida vivida segundo o exemplo
de Jesus, encarnação do eterno Cristo – vida de Verdade e de Amor universal.
Ele, que nos deu exemplo para que façamos assim como ele fez.
Não te pode o Cristo redimir se tu não te redimires da irredenção do teu
egoísmo, incompatível com o espírito do Redentor, que é amor universal e
incondicional.
Redime-te, ó homem, pelo Cristo que em ti está – e serás remido pelo Cristo, o
eterno Logos, que no princípio estava com Deus e que ilumina a todo homem
que vem a este mundo!
Daí a dificuldade de dizer a um grupo de homens algo que seja por eles
entendido no mesmo sentido em que foi dito.
O homem finito que compreendesse o Deus infinito seria maior que o infinito –
a não ser que a sua compreensão finita finitizasse o infinito.
Jesus, o Cristo, foi o homem de mais completa evolução que já apareceu sobre
a face da terra, o “filho do homem”, como ele mesmo se chama de preferência,
isto é, o homem por excelência, a flor da humanidade.
Deus é infinitamente natural – e é por isto mesmo que nós, seres apenas
finitamente naturais, não o podemos compreender.
Mas, como podem esses germes latentes despertar para a grande vigília?
Entretanto, para que algum ser atinja determinado grau de vida individual
requer-se a presença e atuação de um certo ambiente, requer-se certa
atmosfera, certo clima propício.
No mundo infra-humano não pode a semente crear esse ambiente propício, por
não ser suficientemente consciente e livre.
E quanto mais sensível for essa antena, mais probabilidade haverá para captar
alguma revelação do Além, o Além de dentro e de fora, porque o Deus
transcendente é também o Deus imanente, o Deus do macrocosmo lá fora
habita no microcosmo dentro da alma...
Se eu falasse a língua dos homens e dos anjos, mas não tivesse amor – não
passaria dum metal sonoro e duma campainha a tinir.
O amor é paciente.
O amor é benigno.
Não é enfatuado.
Não é interesseiro.
Tudo crê.
Tudo espera.
Tudo sofre.
Perecerá a ciência.
Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, ajuizava
como criança.
E então atingirá o amor o mais alto zênite da sua glória, luz e felicidade.
Tudo foi feito pelo Logos – e sem ele nada foi feito de quanto se fez.
E todo aquele que recebe essa Luz e essa Vida tem o poder de se tornar filho
de Deus.
E ele está conosco todos os dias, até à consumação dos séculos – conosco e
em cada um de nós.
Como poderia eu ser vivido por alguém que não estivesse dentro de mim?
Ainda que eu ande por vales sombrios e pelas trevas da morte – nada temerei,
porque tu, eterno Cristo, estás comigo, estás dentro de mim!...
Mas o ser consciente e livre pode perder a sua natural pureza e tornar-se
impuro – pelo abuso da sua liberdade.
Mas, nem estes nem aqueles atingiram o verdadeiro Eu, conhecendo apenas
as camadas periféricas da sua natureza humana.
Por isto, nenhum homem que conhece apenas o seu ego físico-mental pode
deixar de ser egoísta.
A fim de manter esse inevitável conflito social dentro de certos limites toleráveis
é que foram criados os “governos” de diversos tipos.
O resultado final de toda lei observada apenas por motivo de medo e coação é
a criação de uma raça de escravos e hipócritas; pois, se, com medo das
dolorosas sanções da lei, observo externamente a lei, que internamente
detesto, reduzo-me a um escravo sob o azorrague de um ditador, que eu bem
quisera matar, se o pudesse.
Não obedecer à lei, é certo, seria pior que obedecer-lhe, mesmo a contragosto.
Prende-se a videira à latada, não para a escravizar, mas para a libertar das
escravizantes baixadas e ajudá-la a ganhar as luminosas alturas da liberdade,
onde possa produzir em cheio.
Entretanto, ninguém pode compreender e amar a lei como boa e salutar sem
que primeiro descubra o seu verdadeiro Eu, a sua alma espiritual.
Ninguém pode, de fato, querer o seu dever, sem que primeiro se conheça a si.
mesmo.
A lei moral nunca escraviza a alma, embora seja por vezes dolorosa ao corpo e
à mente.
“Se o grão de trigo não morrer ficará estéril – mas, se morrer, produzirá muito
fruto”...
“Magni passus extra viam”, é a expressão com que Santo Agostinho designa
essas jornadas centrífugas sem a competente entrada para o centro do próprio
Eu.
Não seria melhor dar pequenos passos no caminho certo do que grandes
passos fora do caminho?
Arrepende-te do mal que fizeste, converte-te para o bem que vais fazer – e
segue avante, rumo ao futuro, sem olhar para trás!
Evita o erro funesto de sempre chorar de novo o que uma vez foi destruído pelo
fogo do arrependimento e da conversão.
Não chores a noite que se foi – saúda, jubiloso, o dia que desponta!
Este, porém, não é o Pedro do Evangelho, nem aquela é a Madalena dos livros
sacros – são, horripilantes caricaturas desses grandes discípulos do Nazareno.
A Madalena autêntica da história, uma vez que renunciara à sua vida pecadora
e nascera para a luz divina, nada mais sabe das trevas noturnas, que se foram
para sempre, sem deixar o menor vestígio de si.
Não se cobre das vestes sombrias do luto – mas sim da luminosa túnica duma
indescritível alegria em Cristo Jesus.
Não volta os olhos para a noite que morrera para sempre – mas sim para as
glórias da alvorada que não conhece ocaso.
Nada mais sabe daquilo que ela foi – só sabe o que ela é.
Uma vez que o fogo do amor reduziu a cinzas os seus pecados antigos,
Madalena não banha com lágrimas de tristeza as cinzas estéreis do mal – mas
rega com lágrimas de júbilo e gratidão as viridentes plantas que, doravante,
cobrem os campos da sua vida.
Simão Pedro, uma vez convertido, conforta seus irmãos, apascenta o rebanho
de Cristo, percorre o mundo, não sulcando as faces de lágrimas inúteis, mas
proclamando a todos os povos do império romano as glórias imortais de seu
divino Senhor e Mestre.
Não chores, pois, amigo, a noite que se foi – saúda jubiloso o dia que
despontou!
Realiza por ele e para ele grandes feitos entre os homens – para que teus
semelhantes vejam em ti um vivo reflexo das grandezas do Cristo.
Vive vida exuberante à luz daquele que “veio para que os homens tenham a
vida, e a tenham em maior abundância”...
Ultrapassa
o teu Noivado!
Ah! Que delícias gozei no momento em que despontou em minha alma o sol da
verdade!
* *
Internei-me, hesitante, nesse cinzento saara da vida de cada dia, da rotina dos
deveres comuns, da tediosa planície duma vida sem aventuras nem heroísmos
inebriantes...
Por que não morri no auge da glória, em vez de viver essa vida inglória?...
Por que não expirei, feliz, ao exultante amplexo da alvorada do amor, em vez
de agonizar, infeliz, nessa poeirenta estrada da vida banal que me cerca?...
Por que não continuou a vibrar em mim essa espumante alegria inicial?
* *
Só mais tarde, muito mais tarde, descobri que a vida com Deus não é um
eterno noivado nem uma perpétua lua-de-mel!...
Descobri que o reino de Deus não consiste em fazer grandes coisas – mas em
fazer grandemente as coisas pequenas e pequeníssimas...
Descobri que não há coisa pequena para quem faz tudo com grandeza de
alma...
Porquanto, as coisas são assim como eu sou: se sou grande em mim mesmo,
elas são grandes – se sou mesquinho, elas são mesquinhas...
Outrora, queria eu mudar os objetos em derredor de mim, para ser feliz – hoje,
que mudei o sujeito dentro de mim, não vejo razão para mudar as coisas de
fora, uma vez que elas já assumiram as formas e cores vindas cá de dentro...
Quero fazer com grandeza de alma todas as coisas – e todas elas serão
grandes e grandiosas...
Deixa de ser
Boneco de Engonços!
Porque o iniciado sabe por experiência íntima que todos os filhos de Deus são
seus irmãos e suas irmãs, membros da grande família do Pai celeste.
Verdade é liberdade.
Liberdade é compreensão.
Compreensão é amor.
Quem espera ser compensado reconhece que sofreu algum dano ou prejuízo –
pelo fato de ter praticado o bem.
Quem espera ser recompensado pelo bem que faz confessa que não é bom,
que é um secreto egoísta que depositou um capital num banco para dele
auferir juros com usura.
Só quem pratica o bem pelo bem é que é realmente bom – não é egoísta, não
se julga prejudicado, nem se sente doente ou ferido pelo fato de fazer o bem e
ser bom.
A alma espiritual, porém, sabe que fazer o bem pelo bem é ser intimamente
bom – e quem é bom não necessita de indenização, porque é dono de infinita
riqueza.
Teu verdadeiro Eu é divino, que não precisa de ser recompensado,
compensado, pensado – é amor, riqueza, saúde.
Deus não pode ser pensado por ninguém – porque é perfeitíssima Sanidade.
E tua alma, sendo Deus em ti, é Amor, Plenitude, Sanidade – não a degrades,
pois, a um nível inferior a ela mesma!
Cumpre aqui, do melhor modo possível, o teu estágio terrestre – mas não te
reduzas a escravo dos teus escravos!
Os resultados palpáveis do que és e fazes não correm por tua conta – por isto
não te importes com o que fica para além do teu alcance.
Não faças depender a tua felicidade de algo que não dependa de ti.
Não fales, pois, em “ingratidão” – quem assim fala revela a impureza das suas
intenções.
Se assim fizeres, se assim fores, terás o teu céu aqui na terra – e não
necessitas de preocupar-te com o que acontecer depois.
Deus, que é o Sumo Bem, saberá o que fazer contigo – se fores bom.
Como poderia um homem, intimamente bom, sofrer algum mal da parte de
Deus, que é infinitamente bom?
* Estas informações estatísticas se referem à época da primeira edição deste livro. Nota do
Editor.
Morrem cada ano mais de 50.000.000 de homens – o que perfaz uns 140.000
por dia, uns 6.000 por hora, cerca de 100 pessoas por minuto.
Desde que o leitor começou a ler esta página até agora já deixaram o seu
corpo cerca de 1.000 pessoas.
Nem sequer se dignaria olhar para tamanha riqueza – porque esses valores
quantitativos deixaram de interessá-la, desde que deixou o corpo material.
Tempo virá em que será tão intensa a nossa clarividência espiritual que as
coisas ao redor do Eu serão consideradas tão sem valor que o valor do Eu
atrairá o nosso único interesse.
Péssimo negócio seria trocar um grama de ouro de lei por muitos punhados de
ouro falso.
No mundo das ilusões, muito vale o que o homem tem – pouco vale o que ele
é.
Mas, no mundo da verdade, nada vale o que o homem tem – tudo vale o que o
homem é.
Pode o homem salvar-se a si mesmo? – Ou não pode ele fazer nada por si e
para si?
Mais que em outro ponto qualquer se revela aqui o erro funesto de uma
confusão secular.
Mas, que é isto, minha alma? – minha alma é a essência divina do meu ser, é o
eterno Cristo em mim, é o Logos, a Vida, a Luz, que ilumina a todo homem que
vem a este mundo – é o próprio Deus universal individualizado em mim.
Esse Emanuel, esse Deus em mim, esse Cristo de minha alma é que me salva
– porque é o mesmo Cristo que salvou Jesus e salvou a todos os que foram
salvos através dos milênios.
É o mesmo Cristo, o eterno Logos que no princípio estava com Deus e que é
Deus, que encarnou em Jesus, filho da Virgem Maria, que nasceu em Belém,
que viveu em Nazaré, que andou evangelizando a Palestina, que foi
crucificado, morto e sepultado, que ressuscitou no terceiro dia, que ascendeu
aos céus e que está com os homens, todos os dias, até à consumação dos
séculos – esse mesmo Cristo é que está em mim, embora oculto, ignoto,
velado, como que dormente – mas não é outro Cristo...
Nenhuma nação ou igreja cristã compreendeu até hoje o que o gentio Mahatma
Gandhi compreendeu e praticou a vida inteira: que o Cristianismo é a força do
espírito – e o anti-cristianismo é o espírito da força, que há mais Cristianismo
numa gota de amor do que em oceanos de ódio...
* *
Mas o homem não é redimível enquanto viver no erro, fácil e cômodo, de que já
foi definitivamente remido – essa funesta lei de inércia moral fecha as portas a
qualquer redenção.
De tão cristão que o homem é, não é cristificável; não permite que o Cristo
interno do presente propínquo o redima, porque procura redenção com um
Cristo externo, de um passado longínquo...
A nossa teologia cristã vacinou o homem com um soro que o imunizou contra o
espírito do Cristo!...
Aleluia!... Hosana!...
Deus
Deus, no qual tudo existe, do qual tudo vem, para o qual tudo volta.
Deus, eu te rogo que me dês a força para que eu viva à luz deste
conhecimento e faça da minha vida terrestre um luminoso reflexo da tua Luz,
vida da tua Vida, amor do teu Amor.
Deus, uma vez que sou imagem e semelhança tua, participante da tua
natureza divina, faze com que eu seja também assim como tu és: intensamente
verdadeiro, bom e feliz.
Deus, faze de mim um arauto perfeito do teu espírito, aqui na terra e por toda a
parte, para que outros homens conheçam por meu intermédio quem tu és,
como tu és, e tenham o vivo desejo de serem também luz da tua luz, vida da
tua vida, amor do teu amor.
Deus, sei que há muitas moradas em tua casa, como disse o teu grande Cristo
que visitou a nossa morada terrestre para nos falar do teu reino universal.
Deus, sei que estou aqui nesta morada terrestre para conhecer-te, para amar-
te, para servir-te com radiante entusiasmo, e fazer com que outros também te
conheçam, te amem, te sirvam do mesmo modo.
Deus, enche-me de tamanha abundância de tua luz, vida e amor que nenhuma
ingratidão me faça ingrato, que nenhuma injustiça me faça injusto, que
nenhuma amargura me faça amargo, que nenhuma maldade me faça mau, que
eu queira antes sofrer mil injúrias do que cometer uma só.
Deus, faze-me tão forte com a tua força que eu suporte serenamente todas as
fraquezas humanas sem fraquejar, sem me queixar, nem me revoltar; que eu
seja humilde sem servilismo, forte sem aspereza, sábio sem presunção,
delicado sem sentimentalismo, que encontre o meu céu na terra em servir aos
outros sem nenhum desejo de ser servido.
Huberto Rohden
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
Maravilhas do Universo
Alegorias
Ísis
Por mundos ignotos
Coleção Biografias
Paulo de Tarso
Agostinho
Por um ideal – 2 vols. autobiografia
Mahatma Gandhi
Jesus Nazareno
Einstein – o enigma do Universo
Pascal
Myriam
Coleção Opúsculos
Catecismo da filosofia
Saúde e felicidade pela cosmo-meditação
Assim dizia Mahatma Gandhi (100 pensamentos)
Aconteceu entre 2000 e 3000
Ciência, milagre e oração são compatíveis?
Autoiniciação e cosmo-meditação
Filosofia univérsica – sua origem sua natureza e sua finalidade