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20 / PEDAGÓGICO
Aprendizagem:
lacunas a preencher

P.24 / GESTÃO
Digitalização: um
UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS ›› Nº 138 ›› ANO XXIII ›› JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2020 caminho sem volta

NO RITMO
DA EAD
Mudança de hábitos
deve favorecer a
educação a distância,
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4 ››› Sumário

13
ENTRE ASPAS
Atividades domiciliares
na educação básica

14
INSPIRE-SE FOTOS DEPOSITPHOTOS

Case de EAD de uma


IES de Santa Rosa
‹‹‹ 8
Reportagem de capa
17 24 ››› Contexto de valorização
das atividades remotas
COM A PALAVRA GESTÃO pode representar espaço de
Tecnologias digitais: a Atividades escolares crescimento para a EAD
visão de Lucia Giraffa realizadas on-line
representam um

28 incentivo à digitalização

INOVAÇÃO
Como foi o retorno
presencial no Exterior

33
INTERNACIONAL
Internacionalização,
agora direto de casa

35
RADAR
As possibilidades
abertas pela LDB 20 ›››
38 PEDAGÓGICO
O desafio da reabertura
DIVERSIDADE das escolas passa pelo
A escola na redução preenchimento efetivo das
do preconceito racial lacunas de aprendizagem

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Editorial ››› 5

DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-


Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente:
Oswaldo Dalpiaz, 1ª Secretária: Marícia da Silva MÚLTIPLAS SOLUÇÕES
PARA UM NOVO CENÁRIO
Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º
Tesoureiro: João Olide Costenaro, 2º Tesoureiro:
Hilário Bassotto. Suplentes: Maria Helena
Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer,
Nestor Raschen, Carlos Roberto Milioli, Antônio
Roberto Lausmann Ternes, Celassi Bernardete
Dalpiaz, Bárbara Perlin Nissola. CONSELHO
FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir
CARLOS GUILHERME FERREIRA Mas os efeitos da pandemia na edu-
Pederiva, Guilherme Kühne. Suplentes: Isaura Editor da Educação em Revista cação não se encerram nos aspectos
Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Elenar Luisa
práticos. O olhar para a frente exige

C
Berghahn. DELEGADOS REPRESENTANTES:
Bruno Eizerik e Osvino Toillier. Suplentes: Hilário onvenhamos: esse 2020 construir uma retomada, recuperar o
Bassotto e Oswaldo Dalpiaz. que se encaminha para os tempo perdido. Significa preencher as
EQUIPE: Direção: Milton Léo Gehrke. meses finais desenrolou-se lacunas de aprendizagem abertas pelo
Assessoria pedagógica: Naime Pigatto e de uma maneira completa- período sem aulas presenciais ou mes-
Claudete Chiarello. Centro de Desenvolvimento
em Gestão (CDG): Vera Lúcia Corrêa. mente imprevisível. A pandemia do mo de adaptação, e não basta apenas
Assessoria de Comunicação e Marketing: coronavírus e seus efeitos avassalado- abordar os objetos de conhecimen-
Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani, Carine
Fernandes, Eduardo Oliveira, Tamara Stucky,
res sobre saúde, economia e vida em to e os componentes curriculares. Os
Hermes Moura, Bruno Pinheiro e Alana sociedade não pouparam, também, o aspectos emocionais dos estudantes
Schneider. Financeiro: Matheus Philippi.
Atendimento: Jaqueline Maria Rodrigues da
cenário educacional – obrigado a uma merecem um acolhimento pelas ins-
Rosa e Suelen Schroeder Ferreira, Emília Pires reinvenção às pressas, tanto na forma tituições, com uma avaliação capaz de
e Joana Reni Vielhuber. Serviços Gerais: Ereni quanto no conteúdo. diagnosticar o que ficou para trás e fo-
Souza da Silva e Naira Elizabetti Real.
Depois do impacto inicial e do período car nos conhecimentos prioritários.
REVISTA: Supervisão: Carine Fernandes de adaptação, a situação começa a ficar Para esta reportagem, à página 20,
(MTB 15.449) e Bianca Garrido (MTB 11.778).
Edição: Carlos Guilherme Ferreira (MTB (um pouco) mais clara. As atividades pe- entrevistamos Thomas R. Guskey, que
11.161). Reportagens: Pedro Henrique Pereira, dagógicas não presenciais parecem se é professor emérito da Universidade de
Igor Morandi, Tatiana Bandeira e Tatiana Py
Dutra. Capa: Deposit Photos. Diagramação:
enquadrar nessa premissa, visto que os Kentucky, nos Estados Unidos. Pesqui-
Padrinho Agência de Conteúdo. Revisão: Milton protocolos de prevenção ao coronavírus sador da avaliação educacional e autor
Gehrke. Gestão em produção gráfica: BTWOB
Soluções em Comunicação. Impressão: Gráfica
estimulam o distanciamento social, com de 25 livros, diz ele: “é preciso focar no
Comunicação Impressa. Conselho Editorial: Prof. a realização de atividades diversas direto que é mais importante, no que os estu-
Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio
D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho,
de casa, sempre que possível. dantes realmente precisam saber”.
Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Esse é o tema principal desta edição Nesse contexto, experiências de re-
Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, da nossa revista: debater as possibili- torno às aulas ganham peso. No Ama-
Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba.
Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio dades não presenciais sob os pontos zonas, as escolas particulares voltaram
Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José de vista de mercado, pedagógico e de ao presencial em julho, enquanto no Ex-
Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres,
Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. gestão. Trazemos o case de uma insti- terior isso aconteceu mais cedo. Nossa
tuição do interior gaúcho que já vinha reportagem buscou detalhes das expe-
FALE CONOSCO – Redação: Cartas,
comentários, sugestões, matérias –
investindo nesse formato e, também, riências estrangeiras, inclusive dentro de
educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br uma palavra sobre metodologias no sala de aula, e consultou a Organização
Comercial: Anúncios e assinaturas –
comercial@sinepe-rs.org.br.
contexto das instituições, combinadas Mundial da Saúde (OMS) sobre as orien-
Informações: Telefone (51) 3213.9090 e com as ferramentas tecnológicas. tações específicas para a realidade da
www.educacaoemrevista.com.br. Aliás, estas são uma realidade tam- educação. As dicas podem ser conferi-
bém no processo educacional. Antes das nas páginas 28 e 29.
A Educação em Revista não se responsabiliza
por ideias e conceitos emitidos em artigos restritos ao mundo corporativo, aplica- Por fim, mas não menos importante,
ou matérias assinadas, que expressam o tivos como o Zoom entraram no voca- a seção Diversidade traz um olhar sobre
pensamento dos respectivos autores.
bulário de gestores, professores, alunos um tema urgente, a discriminação racial.
e suas famílias. O contato com a escola O ambiente escolar pode fazer toda a di-
tornou-se digital, o que leva a uma ne- ferença na construção de uma socieda-
cessidade de reavaliação de processos. de mais igualitária. Mãos à obra? 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


6 ››› Sinepe em ação

ANA CRISTINA DOS SANTOS, DIVULGAÇÃO


››› Iniciativa foi promovida pelo Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, em junho, e beneficiou diversas entidades locais

CARREATA DA SAUDADE ARRECADA


1,2 TONELADA DE ALIMENTOS

O
Colégio Mauá, de Santa Cruz doações beneficiaram a Associação emoção e solidariedade, que permitiu
do Sul, realizou no dia 20 de Comunitária Pró Amparo do Menor que professores e famílias matassem
junho a Carreata da Sauda- (Copame), Comunidade Terapêutica um pouquinho da saudade e ainda aju-
de. O evento buscou aproxi- Recomeçar, Liga Feminina de Combate dassem na arrecadação de alimentos
mar os 150 professores e monitores da ao Câncer, Hospital Ana Nery, Hospital para os mais necessitados”, enfatiza
instituição e os 1,8 mil alunos afastados Santa Cruz, Associação de Auxílio aos Sandra. Entre as doações, destaques
pela pandemia do coronavírus, arreca- Necessitados (Asan), Projeto Alegria para açúcar, massa, leite, feijão, farinha
dando 1.223 quilos de alimentos. Esperança e Projeto Movida, mantido e azeite, além de itens como bolachas,
Conforme a assistente social da ins- pela escola. pipoca, lentilha, canjica, café, achocola-
tituição, Sandra Halmenschlager, as “Foi um evento lindo, marcado pela tado e sardinha. 

ESCOLAS APROVAM CONVENÇÃO das Convenções Coletivas de Tra-


balho, todas as cláusulas acordadas
COLETIVA DE TRABALHO PARA 2020 na íntegra serão disponibilizadas e
podem ser acompanhadas pelo site
O Sinepe/RS realizou assembleia plataforma Zoom, e contou com a do Sinepe/RS. O salário dos profes-
com os dirigentes da categoria dos presença de 127 instituições de en- sores foi reajustado em 1º de março
estabelecimentos privados da Edu- sino. A proposta negociada com os de 2020 pelo percentual de 3,92%,
cação Básica para avaliar as propos- técnicos foi aprovada por 94% dos incidente sobre o salário devido em
tas negociadas com os professores e participantes e a acertada com os março de 2019. Para os técnicos,
técnicos, com o objetivo de renovar professores teve a concordância de ficou acordado reajuste de 3,92% a
as Convenções Coletivas de Trabalho 97% dos presentes. partir de 1º de março de 2020 sobre
de 2020. O encontro foi realizado no As cláusulas aprovadas se referem o salário de março de 2019 e sobre
final de julho, de forma on-line, pela ao reajuste salarial. Com a assinatura as cláusulas econômicas. 

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Sinepe em ação ››› 7

PESQUISA REGISTRA ESCLARECIMENTOS


23% DE INADIMPLÊNCIA SOBRE O
ENSINO MÉDIO
A inadimplência das instituições de Superior, quase metade (45,45%) re- Em virtude dos desdobra-
Educação Superior do Rio Grande do gistraram demissões – todas elas de- mentos na reorganização das
Sul, no mês de maio, foi de 23%, um mitiram funcionários e pelo menos atividades letivas e do calen-
aumento médio de 34,6% com relação 20% tiveram que desligar professores. dário escolar gerados pela
ao ano passado. É o que mostra uma Para o presidente do Sinepe/RS, pandemia provocada pelo co-
pesquisa realizada pelo Sinepe/RS, Bruno Eizerik, a situação na Educação ronavírus, foram suspensas
entre os dias 29 de junho e 3 de julho, Superior é muito preocupante: “O se- as orientações que o Sinepe/
sobre as consequências da pandemia tor já está com dificuldades há algum RS estava elaborando para a
do coronavírus para as instituições tempo, em função da crise econômica implementação das alterações
associadas. Participaram do estudo 11 e do fim do crédito educacional públi- previstas na Lei nº 13.415/2017,
representantes da educação superior. co (FIES). Havia uma boa expectativa bem como o trabalho que es-
A pesquisa também traz dados da para este ano, em função da retomada tava sendo realizado pelo Sin-
área sobre cancelamentos de matrícu- na economia, mas com a pandemia a dicato na construção do Refe-
las: a taxa média ficou em 13,8%, três situação se agravou. Corremos um sé- rencial Curricular Gaúcho com
vezes maior do que a registrada em abril. rio risco de muitas demissões no setor, professores de escolas asso-
Entre as instituições de Educação bem como de fechamento de IES.”  ciadas.
Assim que a entidade tiver
nova manifestação das auto-

AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM ridades que normatizam o as-


sunto, haverá atividades para

E DE VOZ PELOS PROFESSORES auxiliar as associadas na cons-


trução da nova configuração do
Ensino Médio. A sugestão é que
Na Convenção Coletiva de Traba- zação do professor, e o Sinepe /RS nesse período sejam estudadas
lho da Educação Básica 2020, o Si- informa que esta deverá ser formali- possibilidades de realização de
nepe/RS negociou com o Sindicato zada com os docentes, de forma indi- projetos com os alunos, com a
dos Professores a Cláusula nº 12, que vidual, em 15 dias a contar do retorno ênfase nos seus planejamentos
se refere ao uso de imagem e voz do às aulas presenciais. A assessoria de vida enquanto são aguarda-
professor. jurídica está à disposição para escla- das novas orientações. 
Essa cláusula exige uma autori- recimentos adicionais.

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8 ››› Reportagem de capa

Mais do
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nunca, E eu
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ade.

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Reportagem de capa ››› 9

DEPOSITPHOTOS

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10 ››› Reportagem de capa

PEDRO PEREIRA ro de pessoas que concluem o Ensino realidade aumentada e construções pe-
pedro@padrinhoconteudo.com Médio e partem direto para o mercado dagógicas que possibilitam ter uma ex-
de trabalho. “Quando tem necessidade periência de imersão.

E
nquanto parte da população de ascensão profissional é que busca a A criação de espaços que replicam o
se esforça para ver aspectos graduação e, aí, procura o ensino a dis- mercado é outra forma de aprimorar a
positivos durante a pandemia, tância para compatibilizar a formação formação a distância. Na Unicesumar,
a educação a distância (EAD) com o trabalho”, explica o diretor-exe- o curso de moda promove exposições
na Educação Superior tem certeza de cutivo da ABMES. com coleções desenvolvidas pelos alu-
que é uma oportunidade para conso- Para a diretora de graduação EAD da nos. Eles criam os croquis, modelagem,
lidar o crescimento observado nos úl- Unicesumar, Kátia Coelho, essa procura definem tecidos e confeccionam as pe-
timos anos. A modalidade é cada vez ocorre cada vez mais cedo. “O perfil que ças. “O aluno coloca a mão na massa”,
mais procurada, a ponto de estar a ca- era de cerca de 35 anos, foi para 30 e hoje garante Kátia Coelho.
minho de ultrapassar o número de ma- é um aluno de 25 anos. Vem caindo por- O reconhecimento dos cursos EAD,
trículas do ensino presencial em 2022 que, para o jovem, é muito fácil o manu- outra preocupação dos alunos, também
– a estimativa é da consultoria Educa seio da tecnologia, ele está cada vez mais vem sendo desmistificado. À medida
Insights e pode ser antecipada em fun- adepto a isto. Falar de realidade aumenta- que o mercado absorve os egressos
ção da crise causada pelo coronavírus. da e 3D é natural para eles”, acredita. dessa modalidade e o desempenho é
“Durante a pandemia aconteceu um O sociólogo Simon Schwartzman, ex- satisfatório, cai a desconfiança. A razão,
fato novo, que ainda não conseguimos -presidente do Instituto Brasileiro de Ge- segundo Kátia, é que o modelo de apren-
avaliar. O ensino presencial virou remo- ografia e Estatística (IBGE) e pesquisa- dizagem carrega nuances importantes
to, e os alunos estão gostando”, obser- dor da área de educação, acredita que a para a carreira. “O curso EAD desenvolve
va o diretor-executivo da Associação ideia de frequentar um campus e encon- nos alunos uma coisa fundamental, que
Brasileira de Mantenedores do Ensino trar professores e colegas vai continuar é a autonomia do aprender. O merca-
Superior (ABMES), Sólon Caldas. Em importante entre quem tem condições do hoje reconhece. O preconceito ainda
parceria com a empresa de estudos de de fazê-lo. “Em geral, o jovem que não existe, mas já foi rompido”, afirma.
mercado Educa Insights, a ABMES che- precisa trabalhar”, pontua. As instituições precisam agir rápi-
gou à projeção de virada dentro de dois Ele vai além e observa que grande par- do para quando a pandemia acabar e a
anos. Pode haver uma aceleração nesse te das Instituições de Educação Superior economia der os primeiros sinais de re-
processo, ressalta Caldas. (IES) tem cursos noturnos, “o que é mui- tomada. “Quem ainda não se credenciou
Os motivos são claros. Primeiro, to ruim, não melhor do que a distância”, está perdendo tempo. E quem já tem
os alunos perceberam que é possível sustenta. O ideal, para Schwartzman, é precisa ficar atento ao movimento do
aprender com qualidade em casa. Pas- uma rotina semipresencial, com aulas mercado, para não dar oportunidade ao
sado o momento de adequação às aulas a distância e encontros para atividades aluno de desistir ou trocar de instituição”,
remotas, a aceitação foi satisfatória: ou- em grupo e utilização de equipamentos. analisa Sólon Caldas.
tro estudo conduzido pela ABMES e pela De fato, a tendência é que, com maior
Educa Insights mostra que mais de 80%
dos alunos desse nível de ensino migra-
Metodologia e demanda, a concorrência aumente, re-
quisitando investimento em planeja-
ram para aulas a distância e, destes, qua- reconhecimento mento e formação. Para Kátia, da Uni-
se 70% aprovaram o novo modelo. cesumar, uma estratégia de montagem
A segunda razão pela qual mais alu- Ao longo dos anos, a metodologia dos de EAD inclui conhecer as instituições
nos podem preferir a EAD é financeira. cursos a distância foi aprimorada e, ao de sucesso na área e investir em espe-
Segundo Caldas, é preciso uma política mesmo tempo, foi conquistando alunos cialistas para pensar nos processos.
adequada de financiamento estudantil e professores. Entre os grandes receios Um dos pilares desse investimento
para quem não pode ingressar no Ensi- estavam, por exemplo, cursos em que a deve ser no corpo docente. Segundo ela,
no Superior. Acontece que, além de não parte prática é muito importante – como é comum que professores de cursos pre-
abranger a educação a distância, esse nas áreas de engenharia, saúde, comuni- senciais simplesmente travem quando o
recurso tem caído drasticamente a cada cação, chegando a gastronomia e moda. microfone e a câmera são ligados. Como
ano no modelo presencial. Com isso, a Com o ensino híbrido esse processo foi saída, é preciso promover formação di-
EAD segue avançando. superado, e as instituições oferecem aos ferenciada, que inclua recursos tecnoló-
Geralmente, os alunos da educação a estudantes a utilização de simuladores, gicos para participar de lives, criar links e
distância fazem parte do grande núme- objetos de aprendizagem, atividades de compartilhar arquivos, por exemplo.

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››› Experiência
on-line: adaptar o
conteúdo presencial
não é o suficiente para
proporcionar imersão

DEPOSITPHOTOS

Os materiais também precisam de comodidade de estudar em casa, onde Pílulas de Conhecimento.


uma formatação específica. Adaptar o quiserem. “Sabíamos da importância de capa-
que já é distribuído em aulas presenciais citar os professores, mas não tínhamos
pode não ser suficiente, pois não aciona
recursos essenciais para a experiência
Planejamento tempo para planejar e executar todos os
treinamentos necessários. Então opta-
de imersão que, no caso da EAD, depen- e capacitação mos por ministrá-los de forma prática e
dem da tecnologia. É o caso de demons- na medida em que a necessidade apare-
trações virtuais, por exemplo: muito se A Factum, de Porto Alegre, lançou cesse”, explica a diretora administrativa
fala que a educação a distância pode le- mão da expertise com cursos semipre- da Factum, Barbara Nissola.
var os alunos a lugares de todo o mundo senciais para se adaptar ao período de No campo da gestão, a Factum aplicou
ou a grandes empresas sem sair de casa, pandemia. A receita seguiu alguns dos instrumentos de avaliação para verificar
mas isso depende fundamentalmente passos já mencionados por Kátia, da o grau de satisfação dos alunos. Nos
da tecnologia e da linguagem aplicadas. Unicesumar: o planejamento ficou por primeiros 30 dias, 65% consideraram a
Para as instituições, a grande van- conta de um comitê instituído com a fi- experiência positiva e 93% reconhece-
tagem é a chance de ganhar escala no nalidade de implementar aulas remotas ram o esforço dos professores em fun-
número de alunos com o mesmo inves- por meio de um ambiente virtual com ção da pandemia. Por outro lado, quase
timento na elaboração das aulas. Essa atividades síncronas (ao vivo) e assín- 20% não conseguiram acessar as aulas
preparação, no entanto, exige um aporte cronas (materiais como slides e artigos). remotas e, destes, quase 70% relataram
inicial, mas que compensa à medida em Com a metodologia definida, a ins- problemas de infraestrutura (com inter-
que as turmas aumentam. Nos modelos tituição apostou na capacitação e no net ou equipamentos).
semipresenciais a presença de tutores acompanhamento dos docentes. Com Ao término do semestre, no entanto,
garante a orientação necessária, en- o prazo apertado, optou pelo desenvol- a aprovação das soluções encontra-
quanto os responsáveis pelo conteúdo vimento permanente e aplicado à nova das superou os 80% e o reconheci-
podem ser nomes consagrados. realidade: eles receberam capacitação mento aos docentes chegou a mais de
Outro fator é o espaço físico, já que técnica formal para acesso e interação 94%. “Aprendemos que não importa
os alunos não ocupam nenhum prédio. nas plataformas. Já no decorrer das se é presencial ou virtual: em qualquer
E esta é a primeira vantagem também atividades, contaram com a oferta de modelo, é preciso que os estudantes
para eles: sem perda de tempo com minicursos, momentos de aprendiza- tenham a experiência do aprendizado”,
deslocamento, economia de recursos e gem denominados pela instituição de conclui Barbara. 

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12 ››› Reportagem de capa

Pontos fundamentais
O bom funcionamento da EAD depende de algumas premissas:

Sistemas
Formação de Emprego que funcionem
professores de linguagem bem
Planejamento
É preciso estar apropriada O atendimento e o
Estruturar a gestão e as
ambientado a novas Não basta adaptar desenvolvimento das
metodologias é a chave
formas de preparar materiais off-line. É preciso atividades exigem
para uma implantação
aulas e acompanhar o desenvolver mecanismos respostas rápidas. Este
segura do modelo.
desenvolvimento dos que dialoguem dentro é um dos principais
alunos. da lógica EAD. valores percebidos
na EAD.

Apoio Adaptação
para acesso à a diferentes
tecnologia Uso de tecnologia públicos
Muitos alunos têm Aplicação de Considere entregar
dificuldade de infraestrutura. recursos como realidade material impresso em
Oferecer locais de acesso aumentada é cada vez mais casa e versões síncronas
ou subsídio para aquisição/ comum e proporciona a e assíncronas. Ajuda a
locação de equipamentos experiência de imersão driblar dificuldades de
pode ser uma boa que conquista os infraestrutura ou
alternativa. alunos. capacitação dos
alunos.

DEPOSITPHOTOS

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Entre Aspas ››› 13

Luciano Sathler
Doutor em Administração pela FEA/USP, é membro do Comitê de Educação Básica da Associação Brasileira
de Educação a Distância (ABED). Reitor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (MG). Foi o
primeiro pró-reitor de educação a distância do Brasil, na Universidade Metodista de São Paulo.

As aulas remotas na
Educação Básica
Se falharmos em dar a possível com a simples emulação dos que até 20% da carga horária do En-
devida atenção à origem de processos praticados no presencial. O sino Médio diurno possa ser oferecida
nossos problemas, o próprio trabalho com as atividades domicialia- em EAD, chegando a 30% no período
pensamento, que tem por res requer um planejamento meticulo- noturno. Para a Educação de Jovens e
objetivo resolvê-los, será da so, capacitação de todos os envolvidos, Adultos (EJA) o texto permite até 80%
o trabalho cooperativo e a formação de na modalidade a distância.
mesma natureza fragmentária
equipes multidisciplinares. As diretrizes permitem ainda que ati-
e confusa que aquela que
A pandemia tornou-se um processo vidades extraclasse variadas possam
os produz, de modo que
de aceleração do futuro, com impactos ser consideradas parte da carga horária
tenderemos a tornar as coisas profundos nas escolas. É necessário cumprida. Para a oferta de itinerários
piores (David Bohm). conceber uma nova arquitetura pe- formativos diversos podem ser estabe-
dagógica para evitar voltar ao modelo lecidas parcerias entre diferentes insti-

A
crise da escola sem a pre- que ainda se baseia nas aulas padro- tuições de ensino. Haverá possibilidade
sença física dos alunos nizadas, unidirecionais, centradas no de participar de vários cursos técnicos
imposta pela pandemia do professor e no silêncio dos alunos. Sair de áreas correlatas, de curta duração.
coronavírus traz preocu- de um currículo que se caracteriza pela Somadas às mudanças trazidas
pações imediatas quanto à susten- fragmentação do saber em unidades pela Base Nacional Curricular Comum
tabilidade econômico-financeira de especializadas do conhecimento que (BNCC), essas inovações exigem que
milhares de escolas em todo o Brasil. dialogam pouco ou nada entre si. as escolas definam uma estratégia ori-
Diariamente, as equipes gestoras se A maioria das práticas tradicionais em ginal, de boa qualidade e sustentabi-
deparam com fatos graves tais co- salas de aula, ora aplicadas no campo lidade que incorpore os fundamentos
mo o aumento da inadimplência, da digital, não incorporam a experiência da EAD. Isso abrange o ensino híbrido e
evasão, maiores custos para ofertar de aprendizagem da chamada Geração as metodologias ativas como priorida-
o ensino remoto emergencial, inves- Internet, que usa as redes digitais para des para todas as etapas da Educação
timentos necessários para o retorno criar seu próprio conteúdo, de forma Básica, inclusive a Educação Infantil e o
das atividades presenciais, além da colaborativa em comunidades on-line Ensino Fundamental.
ameaça por parte de alguns políticos de aprendizagem, no que se torna uma Aproveitar as possibilidades de fle-
e órgãos públicos que tentam esta- poderosa ferramenta de engajamento e xibilidade de tempo, de espaço e de
belecer descontos lineares nas men- auto-organização. ritmo nos estudos que as aulas remo-
salidades. A urgência é sobreviver. Trata-se de um perfil de estudante tas trazem, para permitir a definição
A inédita interdição ao espaço físico que tem ficado cada dia mais insatisfeito de trilhas personalizadas de apren-
de instituições educacionais levou ges- com o desalinhamento encontrado entre dizagem. A nova arquitetura peda-
tores e professores a adotarem soluções a escola e o universo digital povoado por gógica tem impactos na estrutura
variadas, especialmente por meios di- telas que abrem infinitas possibilidades organizacional da escola e no modelo
gitais, para tentar substituir a sala de de acesso a informação. de atuação. É tempo de sobreviver e
aula tradicional. Porém, fica claro que as As novas Diretrizes Curriculares Na- planejar para se manter relevante no
aulas síncronas de boa qualidade não é cionais para o Ensino Médio preveem pós-pandemia. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


14 ››› Inspire-se

GRACIELA BORGES, FEMA

››› Instituição de Santa Rosa envolveu 12 profissionais no desenvolvimento de vídeos e da plataforma para utilizá-los

Primeiro, a lição de casa


FEMA, de Santa Rosa, PEDRO PEREIRA
pedro@padrinhoconteudo.com
segundo semestre de 2020. O objetivo
é começar com opções de extensão para
inicia cursos EAD no profissionais da região. Depois, levar pa-

C
segundo semestre com om mais de dois mil alunos ra os cursos técnicos e parte dos de nível
foco na comunidade em suas turmas, que vão do superior. A instituição se viu em meio à
maternal até a Educação Su- pandemia justamente no momento em
que já se relaciona com perior, a Fundação Educacio- que mais se voltava ao uso de tecnolo-
a instituição – mas os nal Machado de Assis (FEMA), de Santa gia: concluíra no fim do ano passado a
planos vão mais além Rosa, está em plena gravação dos cursos
a distância que pretende oferecer já no
implantação de um sistema para ativida-
des remotas na educação superior.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Inspire-se ››› 15

Em poucos dias já estava trabalhando O primeiro curso é de Comunicação de


na familiarização de professores, alu- Impacto, voltado a profissionais do Direi-
nos e familiares com a ferramenta. Este to, que é um curso importante da FEMA,
contexto tornou menos árdua a missão e áreas afins. “A pessoa tem a primeira
repentina de levar as aulas até os alunos audiência com um juiz, o que faz agora?
MÔNICA GASPARETTO,
por meios digitais. Diretora pedagógica da FEMA A parte didática do Direito é uma, mas
“A faculdade e o profissionalizante como agir quando precisa relatar algo,
já estavam preparando alunos e pro- “A faculdade e o persuadir uma pessoa? Vamos dar a
fessores desde janeiro. Quando surgiu profissionalizante já estavam possibilidade de as pessoas irem além
tudo isso, eles já estavam tendo aula preparando alunos e professores do que se tem na sala de aula no dia a
on-line, com atividades bem dinâmi- dia”, exemplifica o coordenador.
desde janeiro. Quando surgiu
cas. Como deu certo, começamos com
tudo isso, eles já estavam tendo
o Ensino Médio também. Já no Funda-
mental continuamos com aulas ao vivo aulas on-line, com atividades Dificuldade para
pelo Google Meeting. E agora come- bem dinâmicas” treinar professores
çamos também na Educação Infantil:
uma vez por semana os pais acessam Depois de definir a persona, o pri-
e os professores interagem”, detalha a Campanha Eleitoral meiro desafio é a gravação das aulas.
diretora pedagógica da FEMA, Mônica no foco do EAD “Nem sempre a pessoa consegue pas-
Gasparetto. sar a graduação pelo vídeo”, reconhe-
l Um curso dedicado a futuros verea- ce Magrão. Por isso a rotina tem se
EAD entra de dores está entre os que a FEMA tem
prontos para o mercado. Uma abor-
baseado em gravar, analisar, corrigir,
treinar e gravar novamente. “Temos de
vez na pauta dagem sobre a percepção pública ser meio atores agora. Vai um tempo
da imagem é feita com foco na cons- até as pessoas começarem a fazer por
Essa experiência foi o estopim para trução das campanhas eleitorais. conta própria”, analisa.
tirar do papel algo que a instituição “Uma coisa é o que você pensa que A interação com os alunos também
planejava há pelo menos três anos: a é, outra é o que as outras pessoas sofre impacto. A intenção da FEMA
oferta de cursos a distância. E é aí que pensam que você é, e outra, ainda, é permitir que os docentes estejam
entra a figura de Rogério Magrão, es- o que você realmente é”, provoca o disponíveis por canais digitais para
pecialista em marketing, que foi cha- coordenador dos cursos EAD da FE- atendimento individualizado e, quan-
mado para coordenar o processo de MA, Rogério Magrão. O lançamento, do houver necessidade, promover en-
implantação da modalidade. Ele conta no entanto, deve ficar para a próxima contros virtuais em grupo. Este ponto
que o convite se deu por sua atuação campanha, já que a plataforma não é importante porque a instituição pre-
baseada em levar sempre em conside- deve estar integralmente à disposi- tende fazer uma abordagem que leve
ração o ser humano e suas dificulda- ção para preparar as equipes antes em conta as competências e habili-
des particulares, para a partir daí apri- da corrida eleitoral de 2020. dades de cada um para proporcionar
morar a atuação profissional. evolução acadêmica e profissional.
Com essa expertise, Magrão lidera o Até agora são 12 profissionais envolvi-
projeto que, neste segundo semestre “São pessoas que buscam certos ti- dos no desenvolvimento da plataforma
de 2020, já deve colocar os primeiros pos de cursos que a região não oferece. e dos vídeos. Além da Comunicação de
cursos de extensão no mercado. O pla- Já temos algumas respostas e estamos Impacto já estão sendo criados os mó-
nejamento começou pela definição da começando a escrever os módulos, tra- dulos de assuntos como contabilidade,
persona que pretendem atender neste balhando as pessoas que vão passar a administração e tecnologia, que são
primeiro momento. Chegaram à defi- doutrina e construindo os estúdios onde relevantes no contexto da região e, por
nição de figuras próximas à FEMA, que vamos captar áudio, imagem e fazer a isso, devem ter alta procura. A estimati-
estudam, passaram por lá ou acompa- edição”, conta Magrão. Ele explica que o va é que entre 10% e 15% dos cursos de
nham os estudos dos filhos – é marcan- primeiro esforço será pela difusão orgâ- educação superior tenham atividades
te na instituição a presença de estudan- nica da novidade, ou seja, conquistar a on-line. Ainda é cedo, mas se desenha
tes que permanecem do maternal até a própria comunidade. Depois de conso- como o início de uma caminhada ampla
conclusão da faculdade. lidar a estrutura, levar a outras regiões. da FEMA no ensino a distância. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


16 ››› Por dentro da lei

Jorge Lutz Müller


Coordenador da assessoria jurídica do SINEPE/RS.
OAB-RS 7.563.

Responsabilidade da escola
no contexto da pandemia
O
s eventos decorrentes do escola é objetiva, em função do risco por pelas autoridades sanitárias.
estado de calamidade tra- ela assumido, ou seja, sua configuração A par disso, convém registrar que a
zem à tona novas peculiari- independe da existência de culpa; basta o força maior resulta configurada, como
dades acerca da responsa- nexo de causalidade. Havendo infectação situação discrepante em relação àquilo
bilidade da escola. O tema é espinhoso. em situação escolar, seria possível, então que se verifica ao seu derredor; vale dizer,
No Direito Civil clássico, entendia-se responsabilizar a escola, mesmo que não ela se caracteriza por sua excepcionali-
que as coisas deviam ser compreendi- tenha havido negligência de sua parte. dade, em contraste com a “normalidade”
das à luz das circunstâncias que as ense- Qual a capitulação aplicável: a do Códi- dos demais acontecimentos. Entretanto,
jaram. Ao contrário, quando mudavam go Civil ou a do Código do Consumidor? a pandemia da Covid-19 se configurou
as circunstâncias e, decorrentemente, o A Covid-19, sabidamente, tem alto po- como uma situação de excepcionalidade
seu contexto, haveria que mudar a solu- tencial de disseminação. Não constitui abrangente, que a todos atingiu. Daí por-
ção jurídica. Ocorrendo, pois, casos for- fenômeno circunstrito e isolável, mas, que o Judiciário tem evitado conferir-lhe
tuitos ou eventos de força maior, modi- antes, fenômeno amplo e avassalador, tratamento peculiar, para não ter de es-
ficavam-se os critérios de atribuição de que se irradiou para o mundo inteiro. tendê-lo aos demais acontecimentos
responsabilidade. Vale dizer: são múltiplas as suas vias de similares. Com efeito, se uma determi-
O Código Civil Brasileiro, na cabeça de contaminação, sendo difícil atribuí-la, nada escola obtém tratamento diferen-
seu artigo 393, estipula que “O devedor com razoável grau de evidência, a ativi- ciado em função da pandemia, todas as
não responde pelos prejuízos resultan- dades presenciais ocorridas numa de- demais, em princípio, deveriam obtê-lo,
tes de caso fortuito ou força maior, se terminada escola. porque todas, a bem dizer, foram por ela
expressamente não se houver por eles É preciso, contudo, alertar os gesto- atingidas. E assim também as outras ca-
responsabilizado”. Com base nisso, seria res de escola para o viés consumerista, tegorias patronais e/ou profissionais. Na
possível argumentar que a pandemia frequentemente adotado para enqua- realidade, se a força maior atinge a todos
configura situação de força maior, con- drar a atividade educacional na esfera – ou quase todos – exsurge uma certa
forme já o reconheceu a Advocacia-Ge- dos fornecimentos tipicamente mer- “isonomia”, que acaba por esmaecer-lhe
ral da União (Parecer 261/2020/CON- cantis. Trata-se de um viés que facilita a excepcionalidade. Em consequência,
JUR-MINFRA/CGUY/AGU). encontrar um pagador, mesmo quando pode resultar enfraquecido o argumento
Em consequência, as escolas não po- o perfil do serviço e as suas circunstân- de que pandemia exclua responsabilida-
deriam ser responsabilizadas por even- cias sejam distintas. de indenizatória.
tuais efeitos manifestados em seus re- Além disso, haverá quem possa co- Resta o consolo (relativo!) de que o
cintos e/ou atividades presenciais. No gitar de responsabilidade culposa por STF, em decisão já antiga, corroborou o
entanto, o Código de Defesa do Consu- parte da escola, não exatamente por entendimento de que a força maior (e/
midor/CDC (Lei nº 8.0078/90) não con- ofertar ensino presencial em situação de ou caso fortuito) pode, sim, revelar-se
templa a força maior como excludente recomendável distanciamento e/ou iso- como excludente de responsabilidade
da responsabilidade atribuível ao forne- lamento, mas por fazê-lo sem a devida indenizatória, até mesmo em se tratan-
cedor. Para o CDC, a responsabilidade da observância dos protocolos instituídos do de escola pública (como foi o caso). 

Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020


Com a palavra ››› 17

CRISTIANE PARNAÍBA, COLEGIO FARROUPILHA

››› Para Lucia Giraffa (na foto, em evento no Colégio Farroupilha), tecnologias são mais efetivas se usadas em contexto

“Precisamos modalidade bem antiga, que começou


com correio, material impresso, depois
veio rádio, televisão, satélite e agora in-

criar soluções
ternet. Quando se fala em ofertas que
utilizam plataformas integradoras de
recursos (assíncronos e síncronos) as-

personalizadas”
sociados às tecnologias digitais, como
Moodle, Blackboard e outros, fazemos
um recorte na abrangência e passa a
se chamar, simplificadamente, de Edu-
cação On-line. Nas ofertas de Educa-
Pesquisadora Lucia Giraffa analisa as metodologias ção On-line se usam muitos recursos,
e os mais frequentes são plataformas
e tecnologias da EAD e defende que soluções sejam integradoras, realidade aumentada,
pensadas levando em consideração o contexto de videoconferências, quizzes, jogos, ani-
cada comunidade escolar mações, vídeos criados por docentes e
uma série de softwares educacionais
– programas especialmente criados
PEDRO PEREIRA (como modelos híbridos e plataformas para fins pedagógicos e associados a
pedro@padrinhoconteudo.com integradoras) e faz um alerta: a formação determinados conteúdos. Afora o uso
de professores precisa ser repensada em integrado, muitas escolas e univer-

P
rofessora titular da Escola Poli- um contexto contemporâneo. sidades podem usar estes mesmos
técnica da PUCRS, Lucia Giraffa recursos de forma independente da
é especialista em tecnologias Educação em Revista – Quais são associação a uma plataforma. Existem
digitais aplicadas na educação as principais tecnologias digitais uti- muitas opções e tudo depende do pro-
a distância. Nesta conversa, ela projeta lizadas em EAD? jeto pedagógico e das estratégias .
as metodologias e tecnologias que de- Lucia Giraffa – EAD abrange mui-
vem ser tendência nos próximos anos tos formatos e recursos, pois é uma Segue ›››

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


18 ››› Com a palavra

O que será tendência nos próximos cas e práticas pedagógicas que auxiliem Quais os modelos pedagógicos mais
anos? a promover o protagonismo dos alunos consolidados e quais devem ser prota-
A mistura/composição de recursos como agentes de sua aprendizagem. gonistas nos próximos anos?
conforme o contexto e público que se Para que isto ocorra precisamos ajustar O cenário aponta para consolidação da
está trabalhando. O fazer docente deverá o processo formativo dos docentes. oferta híbrida: ações presenciais e virtu-
ser alicerçado em Práticas Pedagógicas ais no mesmo curso. Pode acontecer de
Remixadas, termo cunhado na tese que Com a quarentena, as instituições haver um conjunto de disciplinas pre-
orientei da doutora em Educação Cris- foram obrigadas a uma rápida adapta- senciais, outras virtuais e outras parte
tina Martins, onde diferentes aspectos ção. As soluções foram satisfatórias? presencial e parte virtual. O hibridismo
oriundos da Cultura Maker, Gamificação, Não fizemos EAD ou Educação On- tende a se consolidar também nas esco-
Pensamento Computacional, habilida- -line. O que foi feito foi Ensino Síncro- lhas de recursos, metodologias e ações
des e competências, associadas a Inte- no Remoto Emergencial. Importante pedagógicas que antes eram apenas
ligência Emocional, Inteligência Digital destacar esta diferença. Foi realizado o de EAD e agora permeiam o presencial.
e Inteligência Espiritual devem compor melhor nas possibilidades que tínha- Uma boa e saudável mistura de elemen-
o mosaico tanto de formação docente, mos. Lembrar que iniciamos o semes- tos em função do contexto.
bem como orientar o fazer docente. A tre em estabelecimentos presenciais,
sociedade está multifacetada e comple- com alunos que escolheram estudar no Como capacitar os professores para
xa. Precisamos criar soluções persona- presencial e professores com formação trabalhar nesse contexto?
lizadas e, nisto, o arcabouço tecnológico para atuar no presencial. Subitamente o Os cursos de formação de professo-
nos auxiliará. O hibridismo de procedi- cenário se modificou! No início não sa- res necessitam rever seus currículos e
mentos/processos pedagógicos será a bíamos o quanto duraria. Foram 15 dias repensar a formação docente conside-
tônica. Colocar no presencial práticas e que se tornaram 30, 45, 60 e chegamos rando o contexto contemporâneo. Vive-
recursos normalmente associados ao a mais de três meses com sinalização de mos num mundo digital, imerso numa
virtual será consolidado, especialmente possível manutenção disto até o final do cultura digital e precisamos desenvolver
no pós-pandemia. ano. Evidentemente, depende do com- a nossa inteligência digital para melhor
portamento da epidemia e dos decretos compreender a cibercultura. Não se trata
Quais os erros mais frequentes das governamentais. As escolas estão atre- de modalidade de oferta tão somente, e
instituições ao aplicar a educação a ladas a todos estes condicionantes. sim da relação das pessoas com as tec-
distância? nologias digitais. E, quando se trata de
Desconsiderar o perfil de aluno, acre- docentes, o desafio é maior. Porque hoje
ditar que estudar no virtual é similar recebemos nas escolas e universida-
ao presencial, que vai sair mais barato. des jovens nascidos neste contexto di-
Existe o custo da equipe para desenvol- gital, familiarizados com abundância de
ver o design do curso, materiais específi- LUCIA GIRAFFA informação disponível e que precisam
Professora titular da Escola Politécnica da PUCRS
cos, infraestrutura física/lógica, técnicos ser educados para poder viver, escolher,
especialistas em design instrucional, estudar e trabalhar de forma saudável.
web designer, roteirista, artistas gráficos, “O hibridismo tende a Uma coisa é jogar e participar de redes
professores conteudistas, professores se consolidar nas ações sociais, fazer compras e usar o ambiente
tutores e por aí segue. É outra lógica de pedagógicas que eram apenas digital da internet para obter informa-
organização dos cursos a ser considera- de EAD e agora permeiam o ções e estabelecer amizades. Outra é es-
da quando se fala em qualidade. presencial. Uma boa e saudável tudar e se constituir um profissional para
atuar neste contexto da cibercultura. 
mistura de elementos em
Como as tecnologias podem ter um
resultado mais efetivo?
função do contexto.”
Se forem devidamente contextualiza-
das no fazer docente e proporcionarem “Não se trata de modalidade
oportunidades de aprendizagem aos de oferta tão somente, e sim da
alunos. Para isto precisamos ajustar a relação das pessoas com as
formação docente. Tecnologia por si só tecnologias digitais. E, quando
não faz diferença. O que realmente faz se trata de docentes, o desafio é CONTEÚDO ON-LINE DISPONÍVEL
diferença são as propostas metodológi- Confira a entrevista completa.
maior”

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


Educação em Revista pergunta ››› 19

Ruben Werner Goldmeyer


MBA em Administração Escolar Acadêmica e Universitária, Faculdades Pedro Leopoldo CONSAE -
EDITAU Belo Horizonte (MG). É diretor-executivo da Rede Sinodal de Educação, integrante da diretoria
do Sinepe/RS e conselheiro em 3º mandato do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul

Como será a retomada das


atividades presenciais nas escolas?
Orienta-se no Parecer 2 do do avança a pandemia. escola, já exigido pelo Parecer 1.
CEEd a necessidade de um No CEEd, como era esperado, decidiu- Orienta-se no Parecer 2 a necessida-
“Plano de Ação Pedagógica -se, apesar de todas as limitações quanto de de um “Plano de Ação Pedagógica
Complementar” que sublinha a pessoal no que se refere a colaboradores Complementar” que sublinha a neces-
a necessidade da definição de na assessoria e número de conselheiros sidade da definição de aprendizagens
aprendizagens essenciais para acrescida pela necessidade de reuniões essenciais para cada nível, etapa e mo-
cada nível, etapa e modalidade. virtuais, por construir uma manifestação dalidade. Este Plano de Ação Pedagó-
de orientação às comunidades escola- gica Complementar substituirá o Plano

E
m meados de março, após al- res do Sistema Estadual de Ensino que Pedagógico, orientando os formatos de
gumas semanas de aula, ini- abrange, entre outras, todas as escolas validação das atividades domiciliares
cia um “novo ano”: desafios, de educação básica do RS. Trabalhou-se planejadas e realizadas neste período,
frustrações, esperança, avan- numa metodologia de construção coleti- antes do retorno às aulas, referido por
ços, dúvidas. Num espaço de tempo va – neste contexto, arrisco-me de referir alguns como o “novo normal”. Estão es-
extremamente restrito, alunos tiveram que o Parecer tem participação de deze- tendidos, também, pelo referido plano a
que se acostumar a aulas diferentes, nas de pedagogos(as), de profissionais de diversificação de formatos de atividades
professores foram desafiados a traba- educação, entre outros. letivas neste período de excepcionali-
lhar com tecnologias da informação co- Sonha-se com uma linguagem sim- dade, dinamizando as metodologias de
mo poucos colegas o faziam e famílias ples, clara, objetiva e direta, priorizando aferição e controle da participação do
incorporaram aos seus costumes do muito especialmente aspectos pedagó- estudante, esclarecendo sobre a neces-
dia a dia sentar-se em frente às telas e gicos em detrimento de outros. Nasce sidade da realização de uma Avaliação
à mesa de trabalhos com filhos. Foram o Parecer 2, apresentado num primeiro Diagnóstica nos termos da exigência
parceiros destes estudantes nas ativi- momento às entidades representativas do Parecer 05 do CNE. Reitera-se a im-
dades domiciliares nos termos da nor- da sociedade gaúcha para, num segun- possibilidade de alteração do Regimento
mativa emanada do Conselho Estadual do momento, ser aprovado por unanimi- Escolar no corrente ano letivo. A elabo-
de Educação (CEEd). dade na Plenária do CEEd, dia 8 de julho. ração do referido Plano de Ação Peda-
Após algumas semanas, surgiu a ne- Tendo muito presente a excepciona- gógica Complementar não subentende
cessidade premente de adequar as nor- lidade em função da pandemia admi- alteração no Regimento Escolar pois
mativas educacionais a este novo tempo tem-se, através do Parecer, também, este Plano, elaborado pelas escolas, tem
de excepcionalidade que se mantinha. “excepcionalidades”. Na linha de uma validade no período da excepcionalidade
Escolas, equipes diretivas, professores, flexibilidade responsável, aposta-se na (da pandemia).
enfim, comunidades escolares tinham autonomia das escolas ao lado de suas Recomenda-se uma leitura atenta do
mais perguntas do que respostas. Leis respectivas mantenedoras. Referenda- Parecer 2, que orienta sobre tópicos a
federais, estaduais e normas de âmbito -se que todas as atividades pedagógicas serem referidos no Plano de Ação Peda-
federal foram publicadas. não presenciais no âmbito deste Siste- gógica Complementar, sobre a necessi-
Algumas orientações cabiam ser tra- ma serão nominadas como atividades dade de acolhimento da comunidade es-
zidas. Ao mesmo tempo e na mesma domiciliares e a necessidade de pautar o colar, sobre a importância da formação
proporção que se referia a retomada do planejamento pedagógico neste período continuada e sobre todos níveis, etapas,
ano letivo, infelizmente, em nosso Esta- do Plano de Ação Pedagógica de cada cursos e modalidades. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


20 ››› Pedagógico

Construção da retomada
Acolhida socioemocional dos estudantes e recuperação das lacunas na
aprendizagem são focos do trabalho pedagógico no retorno às aulas presenciais

A
lém da preocupação com Segundo, as condições dos pais em Parecer projeta a
os protocolos de segu-
rança, o retorno das aulas
dar suporte aos filhos durante as aulas
remotas, já que muitos precisaram sair
avaliação diagnóstica
presenciais impõe uma de casa para trabalhar e outros tiveram Em julho, o Conselho Estadual de
série de desafios pedagógicos às es- de administrar longas jornadas em casa, Educação (CEED/RS) publicou um pa-
colas. Afinal, depois de tanto tempo o que dificulta o apoio nas tarefas; recer que orienta o sistema de ensino
com as remotas, como recuperar as E, terceiro, os professores: além das sobre a construção de um planejamen-
lacunas na aprendizagem e garantir dificuldades com as ferramentas digi- to pedagógico para a retomada das au-
que os estudantes consigam avançar? tais, precisaram dar conta de uma rotina las. O documento prevê a realização de
Educadores apontam que o caminho diferente, conciliando as aulas remotas uma avaliação diagnóstica para apontar
da retomada passa pelo acolhimento com o cuidado e a educação dos filhos, as lacunas na aprendizagem e ações de
socioemocional dos alunos e de suas somadas às tarefas da casa. recuperação que evitem o abandono es-
famílias e pela realização de uma ava- Um primeiro passo neste sentido colar e garantam a todos os estudantes
liação que permita diagnosticar o que é utilizar as avaliações como aliadas o desenvolvimento das habilidades e
ficou para trás e focar nos conheci- – partindo do diagnóstico do que os competências esperadas ao fim do ano
mentos mais importantes. alunos conseguiram aprender duran- letivo. Segundo o Parecer nº 002/2020,
Para o professor emérito Thomas R. te as atividades remotas e planejando isso envolve, entre outros pontos, ade-
Guskey, da Universidade de Kentucky, o trabalho com foco nas lacunas mais quações nas avaliações e na expressão
nos Estados Unidos, não há certeza de importantes a serem recuperadas. dos resultados dos alunos.
que os professores conseguirão recu- Segundo Guskey, o objetivo deve ser Para a pedagoga e consultora educa-
perar em pouco tempo todos os con- sempre o aprendizado dos alunos e, cional Priscila Boy, as avaliações do fi-
teúdos perdidos no período. Pesqui- para isso, o primeiro passo é realizar nal de trimestre e do final do ano devem
sador da avaliação educacional e autor atividades que os motivem a aprender dialogar com a prática durante o período
de diversos livros na área, ele cita três cada vez mais. O pesquisador conver- de atividades domiciliares, com o que foi
problemas enfrentados por alunos e sou por videoconferência com a Edu- possível garantir em termos de aprendi-
educadores durante o período de sus- cação em Revista. zagem. “Não faz sentido uma avaliação
pensão das aulas. Todos trazem refle- só com prova escrita ou de marcar se
xos para a aprendizagem, a saber: o trabalho do professor envolveu uma
Primeiro, o acesso desigual dos alu- metodologia dialógica, com estímulo à
nos à tecnologia, sendo que alguns escuta, à participação dos alunos. O ob-
não têm sequer internet e outros pre- jetivo não pode estar em atribuir uma
cisam compartilhar equipamentos nota, em aprovar ou reprovar, e sim em
com familiares. promover o aprendizado”, diz.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020 DEPOSITPHOTOS


Pedagógico ››› 21

Além do foco na retomada das la-


cunas de aprendizagem, outro im-
portante aspecto que precisa ser tra-
balhado pelas escolas é a acolhida
socioemocional. Segundo o CEED/RS,
esse planejamento envolve “a promo-
ção de diálogos com trocas de experi-
ências sobre o período vivido (consi-
derando as diferentes percepções das
diferentes faixas etárias), bem como a
organização de apoio pedagógico, de
diferentes atividades físicas e de ações
de educação alimentar e nutricional”.
De acordo com Priscila Boy, a es-
cola tem o desafio de equacionar as
questões emocionais e manter a mo-
tivação dos estudantes, pontos preju-
dicados durante um longo período de
afastamento.
“É preciso promover atividades de
escuta e de acolhida desses alunos e
de suas famílias. Manter um diálogo
aberto com foco no otimismo, na espe-
rança, reforçando a preocupação com
a questão da segurança sanitária para
banir o medo”. 

CONTEÚDO ON-LINE DISPONÍVEL


Confira a entrevista completa.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


22 ››› Pedagógico
DEPOSITPHOTOS

Mãos à obra
Exemplo de como fazer o trabalho pedagógico no retorno às aulas:

l As primeiras ações da esco- l O trabalho do professor deve l A escola precisa deixar claro
la devem estar centradas no centrar-se nos conhecimentos o seu comprometimento com
acolhimento socioemocional mais importantes, procurando os protocolos sanitários e ter
dos estudantes, das famílias estimular os alunos em suas um posicionamento de oti-
e dos educadores: pensar habilidades e, a partir disso, mismo, de esperança.
dinâmicas que permitam a trabalhar com as defasagens
escuta, o diálogo. na aprendizagem. l O planejamento também de-
ve envolver uma avaliação
diagnóstica, para verificar as
lacunas de aprendizagem no
retorno às aulas.

lAs provas de final de trimestre


e do ano letivo devem dialo-
gar com a prática no período
de ensino remoto e de retorno
das aulas.

“É um grande erro pensar que o mais importante para os estudan-


tes neste momento. A avaliação neste
vamos conseguir recuperar tudo” sentido é usada para descobrir o que os
estudantes sabem e o que eles não sa-
bem e focar naquilo que eles precisam
Professor emérito da tante, no que os es- para obter o sucesso.
Universidade de Kentucky, tudantes realmente
nos EUA, Thomas R. Guskey precisam saber. Que dicas que você dá aos educado-
conversou com a Educação em res na preparação para esse retorno
Revista por videoconferência. Como a avaliação presencial?
Confira a seguir os principais pode ser aliada nes- São três coisas: primeiro, focar no
trechos. se retorno? que é mais crítico, mais fundamen-
Existem duas abordagens para a tal para o aprendizado. Jamais pensar
Educação em Revista – De que for- avaliação. Uma delas é no sentido da que vai conseguir dar conta de todo o
ma é possível trabalhar para minimi- accountability (uma espécie de presta- conteúdo que ficou para trás. Segundo,
zar os impactos na aprendizagem no ção de contas, em tradução livre) e da usar as avaliações para dar aos estu-
retorno às aulas? classificação, de fornecer informações dantes informações sobre como pro-
Thomas R. Guskey – Eu entendo para a escola ou para os governos so- mover o sucesso. Se fizer a avaliação e
que é um grande erro pensar que va- bre o desempenho dos alunos. Já a se- o aluno não for bem, é importante dizer
mos conseguir recuperar tudo o que gunda abordagem refere-se a fornecer para ele: “Ok, eu vou mostrar para você
foi perdido nesse período. Não temos aos estudantes feedbacks e ajudá-los como podemos avançar”. E terceiro, re-
condições de pegar todo o conteúdo a aprender. E eu penso que os profes- forçar aos estudantes que eles podem,
que ficou para trás e trabalhar em cima sores precisam focar nessa aborda- que eles conseguem. Quando eles sen-
dele no retorno. Isso é muita coisa! É gem da avaliação como ferramenta de tem que são capazes, se motivam para
preciso focar no que é mais impor- feedback e de aprendizagem – isso é aprender mais. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


Pedagógico na prática ››› 23

››› À esquerda, aulas no Centro de


Ensino Literatus; abaixo, higienização
no Centro Educacional Meu Caminho

FOTOS CENTRO DE ENSINO LITERATUS, DIVULGAÇÃO


As primeiras escolas
a reabrirem no país
Retomada das escolas privadas de Manaus (AM)
envolveu protocolo rígido de segurança, avaliação
socioemocional dos alunos e ensino híbrido

M
áscaras, marcadores de da renda. Essa escuta inicial é funda- Os detalhes do retorno
distanciamento social nas mental”, afirma a presidente do Sindica- presencial em Manaus
salas e rodízio de alunos to dos Estabelecimentos de Ensino Pri-
nas aulas. Essas são al- vado do Estado do Amazonas (Sinepe/ l As escolas privadas tiveram auto-
gumas das medidas adotadas pelas AM), Elaine Saldanha. rização para reabrir em 6 de julho.
escolas de Manaus para garantir a se- O planejamento também levou em A rede pública retornou em agosto.
gurança de estudantes e educadores conta a importância da escola como es- l As famílias puderam optar em en-
no retorno das atividades presenciais, paço de socialização, mesmo diante do viar os alunos para a escola ou se-
após mais de três meses fechadas. A distanciamento social. Ela faz um alerta: guir com as atividades a distância.
rede privada da capital do Amazonas “é preciso muito cuidado para evitar ficar l Foi organizado rodízio nas turmas:
foi a primeira do Brasil a reabrir as ins- apenas no não: não pode fazer isso, não metade vai à escola num dia, metade
tituições de ensino, em 6 de julho, após pode aquilo, o que estimula o medo.” em outro. Quem fica em casa, acom-
a redução do número de mortes e de O segundo momento do retorno en- panha as atividades a distância.
casos de coronavírus. Mas a preparação volveu a avaliação diagnóstica para l Entrada e saída dos alunos esca-
para o retorno não envolveu apenas um mapear as lacunas de aprendizagem e lonada em diferentes horários para
rígido protocolo sanitário: foi necessário minimizar as perdas durante os três me- evitar aglomeração.
um planejamento minucioso de como ses e meio de atividades remotas. Elai- l Os protocolos sanitários envolvem
fazer a acolhida dos alunos e recuperar ne afirma que os desafios são grandes. ainda: distanciamento social de
as lacunas de aprendizagem. “Não temos 100% de alunos nas turmas, 1,5 metro, aferição de temperatu-
“A primeira coisa que prestamos aten- trabalhamos com o ensino híbrido. Isso ra, limpeza constante, proibição de
ção foi na questão socioemocional dos exige que o professor atue como media- compartilhamento de materiais.
alunos. Alguns perderam familiares pela dor da aprendizagem, identificando as l O planejamento pedagógico inclui
doença, outros enfrentaram uma série necessidades de cada um e trabalhando diálogo com os pais e acolhida so-
de problemas em casa, como a redução em cima delas”.  cioemocional dos alunos.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


24 ››› Gestão

Digitalização acelerada
Da educação dos alunos à relação com as famílias,
quase todas as atividades escolares são hoje
mediadas por ferramentas on-line – um
efeito da pandemia do coronavírus

TATIANA PY DUTRA agora com os confortos do lar. no chat, mostrar fotos e indicar livros
tatianapydutra@gmail.com Professor de Filosofia em três es- e links. A linguagem da aula também
colas privadas de Santa Maria, Andrei mudou porque o desempenho deles

A
pandemia de Covid-19 for- Cerentini adaptou suas aulas embasa- não é o mesmo”, diz o professor.
çou até o mais resistente do nas reações dos alunos. Após notar Para as atividades assíncronas, An-
dos professores a entrar que as lives expositivas com uso de drei se dedicou a explorar ferramen-
na era da educação di- PowerPoint deixavam os alunos “can- tas do Google Meet e do Zoom para
gital. Mas o trabalho exige mais do sados”, ele adotou atividades mais di- gravar podcasts com dúvidas da tur-
que boa vontade. É preciso dominar nâmicas e interativas. ma. Os deveres de casa foram reduzi-
o novo universo para conquistar a “Comecei a mesclar tempo de fala, dos. “Eles se estressam, estão muito
atenção de estudantes, disputada exercícios e vídeos, com tirar dúvidas cansados”, diz.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


Gestão ››› 25
DEPOSITPHOTOS

zinhos sem as trocas com os colegas. para aumentar a comunicação com a


Nessa situação, assistir a lives como se comunidade escolar.
estivessem em sala de aula as deixam “Emocionalmente, é importante
pressionadas”, explica. uma comunicação clara. Pior que dar
O desafio é ainda maior na Educação informação ruim é não dar informação
Infantil, em que, para evitar a disper- nenhuma. É importante criar grupos
são, o plano de atividades precisa con- de apoio, conversas com mediador,
templar elementos que despertem a no qual a instituição tenha um contato
curiosidade e a afetividade da criança. mais direto com pais e alunos”, sugere.
“Será um bom planejamento, por
exemplo, propor jogos ou histórias que
lhe agreguem valor afetivo, como as
Caminho sem volta:
que envolvem personagens que elas 2020 será um marco
gostem ou, ainda, que sejam constru-
ídos contendo elementos que lhe re- Professores, diretores e especialistas
metem a boas vivências e memórias, são unânimes em um ponto: o mergu-
como fotos dos colegas”, sugere a co- lho tecnológico provocado pela pande-
ordenadora do Colégio Arquidiocesa- mia não tem volta. Muitas das práticas
no, de São Paulo, Rosana Marin. adotadas sob pressão, no primeiro tri-
mestre deste ano, se tornarão perma-
nentes e continuarão sendo aprimora-
Reforço na gestão via das após o fim do isolamento.
ferramentas digitais Painelista do 3º Congresso Nacio-
nal da Federação Nacional das Esco-
Além da manutenção de aulas e si- las Particulares (Fenep), o doutor em
mulados, as ferramentas digitais tam- Educação Paulo Tomazinho orienta
bém permitem o funcionamento de que as escolas construam um modelo
setores como tesouraria e secretaria de aprendizagem híbrida flexível, com
do Colégio Dom Feliciano, de Gravataí. atividades síncronas e assíncronas –
Até mesmo a biblioteca está à dispo- inclusive para alunos que não vão vol-
sição dos 1,9 mil alunos da instituição, tar à sala de aula após o isolamento.
para leituras on-line. “É a família que vai decidir se leva
A comunicação com as famílias é feita ou não. Teremos de pensar numa sub-
via telefone ou redes sociais, enquanto divisão de turmas. O que fazer com a
os serviços de psicologia e coordenação criança que está presente em sala e
pedagógica seguem por videoconfe- com a que está em casa? Isso compli-
rência. Reuniões entre as equipes, rea- ca substancialmente o planejamento
lizadas em plataformas como Zoom e pedagógico para que, presencial ou
Google Meet, têm mais frequência. remoto, tenha os mesmos objetivos”,
“A gestão, mais do que nunca, está afirmou, durante o evento.
Coordenadora de pós-graduação em sendo testada. Temos de planejar dia- Diante dos imensos desafios que
Educação da Universidade de Brasília riamente, criar soluções estratégicas apontam no horizonte, Irmã Jane Se-
(UnB), Claudia Pato afirma que o con- para diferentes cenários, fazer investi- gaspini prevê um novo ambiente esco-
texto da pandemia é um componen- mentos da área tecnológica à sanitária. lar no futuro: “para mim, 2020 vai ser
te extra na queda da concentração de É uma gestão malabarista, mas com um marco decisivo para a educação no
crianças e adolescentes. segurança total”, comenta a diretora, Brasil e no mundo. É um processo difí-
“É diferente estar em uma aula remo- Irmã Jane Segaspini. cil, mas se sairão bem os criativos, os
ta em ambiente adequado, sem o con- Doutora em Psicologia Clínica pela que planejam e os que têm estratégias
texto de incerteza, confinamento e ou- Universidade de São Paulo (USP), Fa- de sobrevivência”.
tras restrições. Crianças e adolescentes, biana Gauy recomenda que os gesto-
que são muito sociáveis, se veem so- res usem as plataformas disponíveis Segue ›››

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


26 ››› Gestão
REPRODUÇÃO

››› Colégio Dom Feliciano, de Gravataí, está entre as instituições que adotaram as reuniões via plataformas digitais
Algumas ferramentas populares
Aulas síncronas e Integrar sistema Interação assíncrona
reuniões acadêmico Para quiz,
Para os encontros Para treinar gamificação, revisão
virtuais: professores: etc:
Google Meet Microsoft for Education Kahoot
Zoom.Us G Suíte for Education Socrative
Loom Black Board Mentimeter
Skype Canvas LMS

Educação em Revista | Nº 138 | Julho/Agosto/Setembro 2020


Gestão na prática››› 27

Das aulas ao aniversário, tudo virtual


Dom Bosco, de Santa O aniversário, em maio, contou com lho, para descanso de alunos e famílias.
bolos de aniversário, vídeos, músicas e A pausa abriu um pequeno hiato na
Rosa, implementou poemas produzidos pelos alunos, além recente experiência de avaliação semes-
avaliação e até mesmo de uma ação presencial que sensibili- tral. Os alunos do 6º ano do Ensino Fun-
zou a comunidade escolar: “a profes- damental até o Médio vão demonstrar
comemoração remota sora Bruna Horn, de Teatro, se inspirou conhecimentos por provas e testes via
na fitinha do Senhor do Bom Fim para Google Forms ou por trabalhos.

A
equipe do Colégio Salesiano criar a Fita da Gratidão. Convidamos “A confiança é um valor com o qual
Dom Bosco, de Santa Ro- cada família, cada aluno, a fazer sua fita precisamos contar nessa pandemia.
sa, levou menos de 20 dias e amarrar na grade em frente da escola. Conversamos com os alunos e explica-
para implementar uma ro- Cada uma foi no melhor momento para mos que não achávamos que era a me-
tina de trabalho on-line com a chegada si, com segurança”, relata a diretora. lhor forma, mas que iríamos confiar na
da pandemia. Definidos os Google Meet A trajetória exigiu ajustes constantes. integridade e na honestidade de cada
e Google Classrom como ferramentas No início, foi feito o mapeamento das um”, comenta Ieda.
principais para o retorno, professores, necessidades dos docentes com relação A diretora acrescenta que os estudan-
funcionários, alunos e pais superaram as a hardware, software e velocidade da tes também foram convidados a auto-
expectativas. Houve avaliações on-line, internet. O tempo de aulas síncronas foi avaliar suas atividades com critérios
recesso e, até, ações de comemoração reavaliado, após discussão virtual com como presença, participação e estratégia
pelos 60 anos da escola. “Nos reinventa- as famílias, levando em consideração a de estudos: “valorizamos muito o prota-
mos. Pensamos muito além dos muros efetividade do aprendizado. Com o mes- gonismo do aluno, e esse será um dos
da escola, fora da caixa”, diz a diretora- mo fim, o plano de contingência da esco- legados dessa experiência: a autonomia
-executiva, Ieda Maria Zalamena Gruber. la previu um recesso entre 1º e 14 de ju- dos estudantes”.

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28 ››› Inovação

As orientações da OMS
Recomendações para as escolas:

O que considerar para reabrir


l Compreensão sobre a transmissão da
Covid-19 e severidade em crianças.
l Situação da epidemia onde as es-
colas estão localizadas.
l Possibilidade de manutenção, pe-
las escolas, de medidas de preven-
ção e controle da Covid-19.

Alguns cuidados sugeridos


l Ensinar a todos na escola sobre
prevenção: lavar as mãos, uso de
máscara, informar sintomas da Co-
vid-19 e cumprimento sem contato.
l Criar um cronograma para lavar as
mãos, especialmente para os pe-
quenos, e garantir o abastecimen-
to de álcool em gel, sabão e água,
com pontos para o uso.
l Limpeza e desinfecção frequen-
te de superfícies de contato, como

››› Medir a temperatura está entre as iniciativas, como nessa escola na Malásia
maçanetas, brinquedos, mesas, in-
terruptores de luz e capas de livros.

Retorno controlado
l Protocolo de higiene no transporte
escolar, incluindo uma criança por
assento, com ao menos um metro
de distanciamento, e janelas aber-
tas (se possível).
Escolas de todo o mundo tiveram que se l Providenciar máscaras para quem
precisar e afastar alunos ou funcio-
adaptar aos novos tempos para retomar as aulas nários doentes.
presenciais. Confira as ações em outros países l Reforçar a política do “fique em ca-
sa” para quem tiver algum sintoma,

E
criando um checklist de fatores.
nquanto o Brasil ainda enfren- tato com a entidade, sediada em Ge- l Manter distância de um metro, com
ta um período delicado com a nebra, na Suíça, para questionar sobre distanciamento entre classes.
pandemia da Covid-19 e es- as orientações. Como resposta, a OMS
pera pelo momento da volta encaminhou documentos (que podem
à normalidade nas escolas, com o re- ser acessados via QR code, em desta-
torno das aulas presenciais, em outros que nesta página) e comentou sobre a
países isso já ocorreu. São locais onde realidade escolar.
o coronavírus chegou mais cedo ou foi “A transmissão em escolas precisa
controlado com maior eficiência. Fato ser compreendida em um contexto MIKE RYAN
Diretor Executivo do Programa de Emergências
é que servem como exemplos de quais mais amplo de transmissão na comu- da OMS
protocolos – e de que forma – foram nidade. Decisões quanto à reabertura
aplicados para que alunos, professores de escolas devem ser parte de uma es- “Existem questões reais sobre
e funcionários voltassem a frequentar, tratégia ampla, de longo prazo e basea-
diariamente, as instituições de ensino. da em dados”, informou a OMS.
como as escolas podem reabrir
O tema é importante e mereceu, in- Confira nestas páginas algumas com segurança, mas a melhor
clusive, atenção da Organização Mun- orientações gerais da entidade, bem e mais segura maneira é no
dial da Saúde (OMS). A reportagem da como o que outros países fizeram para contexto de baixa transmissão
Educação em Revista entrou em con- a volta às aulas presenciais. comunitária”

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Inovação ››› 29

Inglaterra China
Leidisiane Marcon é tecnóloga em radio- País em que surgiu a doença, foi um
logia e mora em Derby, na Inglaterra, há dos primeiros a retomar as atividades,
11 meses. Ela tem um filho, Gabriel, de em abril. Os principais cuidados são:
11 anos, que está no quinto ano do En- CONTEÚDO ON-LINE DISPONÍVEL lUso obrigatório de máscaras, substitu-
sino Fundamental (equivalente ao Brasil) Confira as orientações da OMS para ídas várias vezes durante o turno.
em uma escola pública, e conta como as escolas (em inglês). lOs alunos receberam pulseiras eletrô-
foi a experiência do retorno às aulas em nicas para monitorar casos suspeitos
meio à pandemia. de infecção. A medição da tempe-
“Recebemos uma enorme lista de ratura ocorre ainda antes de sair de
exercícios que seriam ensinados até
casa, enviada via QR Code para os
o final do período escolar. Fizemos Portugal professores. Na escola, passam por
nossa própria organização, sem ter
recebido nenhuma orientação. Sou- um scanner de temperatura.
Glauco Menegheti é brasileiro, 50 anos,
bemos que algumas escolas privadas lOs estudantes levam um kit com mate-
e atua como consultor de marketing
tiveram maior suporte aos alunos, com riais individuais, como toalha de rosto,
em Coimbra, há um ano e meio. Ele é
aulas on-line, e maior acompanha- pai de Domenico Evaristo Menegheti, 4 lenço de papel e lenço umedecido,
mento dos professores, mas não foi o anos, que está no infantário, o equiva- álcool em gel, saco de lixo, talheres
nosso caso”, conta. lente ao jardim de infância no Brasil. para o almoço e máscaras.
Gabriel ficou sem aulas presenciais entre O garoto ficou fora do Jardim Escola lParte dos colégios fechou seus refei-
20 de março e 15 de junho. No retorno, a João de Deus, instituição privada, entre tórios. Os alunos comem nas salas
escola enviou e-mails mostrando as mu- março e meados de junho. de aula. Os que mantiveram cantinas
danças na rotina, até para que os pais No retorno em meio à Covid-19, Me- abertas evitam que as crianças se ali-
instruíssem os filhos a seguir as novas negheti só consegue buscar o filho em mentem na mesma mesa.
regras de distanciamento social. horários reduzidos. “Agora só é possível
lAlgumas escolas instalaram tendas de
pegá-lo até 17h30min, 17h45min. Antes,
desinfecção.
O exemplo britânico: era até as 19h. Toda a logística foi repen-
l Em 15 de junho, as aulas retornaram sada para evitar o contato entre alunos
para os primeiros e os últimos anos do de diferentes séries”, explica.
ensino primário (devido à preparação O pai de Domenico ficou ressabiado
para o secundário). quanto à volta presencial, mas se tran- Alemanha
quilizou ao conhecer os protocolos da
l Nenhum pai foi obrigado a enviar os escola, considerados por ele como bem
filhos para a escola, cabendo a eles Começou o processo gradual de
rígidos. retorno no fim de abril:
avaliar se havia segurança para tanto. Domenico almoça e lancha na escola,
Em tempos normais, faltas não justifi- l As escolas implementaram alternân-
em refeições coletivas, mas só entre a cia das classes para diminuir o nú-
cadas podem valer uma multa de até turma. Não é permitido levar comida ou
100 libras esterlinas. Agora, não há mero de alunos no mesmo período.
roupas para a escola.
mais essa cobrança. Como exemplo, o pai cita cuidados Os estudantes foram separados em
sanitários. “Sapatos, agora são dois. Um grupos.
l As escolas receberam marcações no
piso. Indicavam sentidos únicos para que ele chega e é deixado na entrada, e l As classes foram afastadas e as tur-
os corredores e, também, distâncias outro que ele calça quando entra. Antes mas, divididas em 10 alunos para ha-
de entrar na sala, ainda na rua, a auxiliar ver distância de pelo menos 1,5 metro.
de dois metros entre as pessoas para
já mede a temperatura. Se estiver com lOs estudantes passam o intervalo com
as filas. febre, não entra”, conta Meneghetti. os colegas de classe mas não podem
l Bibliotecas escolares foram fechadas. Ele ainda afirma que o número de interagir com os de outras turmas.
l As escolas públicas inglesas forne- coleguinhas diminuiu. Por dois motivos:
ciam materiais como lápis, caneta e lPara os alunos mais velhos, foi instituí-
alguns pais e mães mantiveram os filhos
cadernos, que eram compartilhados. do o uso obrigatório de máscaras.
em casa, por preocupação. Outros
Agora tudo é individual. perderam o emprego e não conseguem lCada criança tem de levar seu lanche.
l Com turno reduzido, as crianças che- mais pagar o infantário. lOs intervalos foram escalonados.
gam mais tarde, sempre higienizando O isolamento, para Menegheti, é difícil lLocais de uso comum, como corredo-
as mãos com álcool em gel, e saem na infância. “As crianças se tocam, se res, viraram espaços de mão única.
mais cedo. Às sextas, a escola passa abraçam e não têm muita noção do lProfessores e alunos foram orientados
por uma higienização mais ampla. perigo real da doença. Nos recreios, a usar agasalho para que as janelas
que agora são em horários diferentes, os e portas fiquem abertas e o ar circule.
l Houve separação das crianças em
“bolhas” com oito delas, cada uma. brinquedos são desinfectados”, explica. lAs salas são desinfectadas.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


30 ››› Pesquisa

Elton Fischer
Doutorando em Educação - Estudos Culturais na ULBRA/RS, Mestre em Letras pela
Universidade de Passo Fundo (UPF). Professor Assistente da Ulbra, campus Carazinho/RS.
E-mail: elton.fischer@yahoo.com.br

Intolerância religiosa:
identidade e diferença
Palavras-chave: intolerância religiosa; Quais identidades? e fundamentar nossa existência como
identidade; cultura; diferença. sujeitos humanos. Segundo Hall, existem
O colapso das identidades modernas é
[...]três concepções de identidade: o
Resumo: objeto de pesquisa de vários teóricos, in-
clusive do campo dos estudos culturais. sujeito do Iluminismo, o sujeito so-
ciológico e o sujeito pós-moderno. O
A ideia é que há uma mudança estrutu-

A
sujeito do Iluminismo estava baseado
questão da crise de identi- ral em curso que está transformando as numa concepção da pessoa humana
dade é extensamente dis- sociedades modernas do final do século como um indivíduo totalmente centra-
cutida nos mais diversos XX e início do século XXI. As paisagens do, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, cujo
campos do conhecimen- culturais de gênero, sexualidade, etnia, “centro” consistia num núcleo interior,
to, em especial, nos estudos culturais. raça e nacionalidade estão em processo que emergia pela primeira vez quando o
De acordo com Hall (2006), as velhas de metanoia (mudança essencial de pen- sujeito nascia e com ele se desenvolvia,
identidades, que por tanto tempo esta- samento ou caráter) e que, no passado, ainda que permanecendo essencial-
mente o mesmo – contínuo ou “idên-
bilizaram o mundo social, estão em de- nos serviam como bússola. Ocorre o que tico” a ele – ao longo da existência do
clínio, fazendo surgir novas identidades Hall (2006) denomina como um duplo indivíduo. O centro essencial do eu era
e fragmentando o indivíduo moderno, deslocamento à descentração do sujeito: a identidade de uma pessoa. A noção de
até aqui visto como um sujeito unifica- questionam sua própria identidade e o sujeito sociológico refletia a crescente
complexidade do mundo moderno e a
do. Essa crise é tida como parte de um seu lugar no mundo social.
consciência de que este núcleo interior
processo mais amplo de mudança, que Ao longo da Idade Média – séculos V do sujeito não era autônomo e autos-
está demovendo as bases da sociedade ao XV –, a humanidade foi regrada pelos suficiente, mas era formado na relação
moderna e influenciando diretamen- princípios da religião/igreja, das crenças, com “outras pessoas importantes para
te os pontos cardeais que permitiam costumes e tradições vigentes na épo- ele”, que mediavam para o sujeito os
valores, sentidos e símbolos – a cultura
aos indivíduos uma âncora estável no ca. Com o advento da modernidade e o dos mundos que ele/ela habitava. No
mundo. Sob certo viés, essa estabilida- deslocamento do teocentrismo, atribui- sujeito pós-moderno a identidade tor-
de é confrontada a partir da análise dos -se à razão, à verdade (seja ela qual for na-se móvel: formada e transformada
discursos de um grupo de discentes de e em que contexto estiver inserida) e ao continuamente em relação às formas
pelas quais somos representados ou
uma universidade privada do Norte do conhecimento o papel central na condu- interpelados nos sistemas culturais que
Rio Grande do Sul acerca das práticas ção da história do homem. Esses proces- nos rodeiam (HALL, 1987). E definida
religiosas do outro. O artigo procura sos de mudança, tomados em conjunto, historicamente, e não biologicamente. O
analisar essa disjunção na medida em representam uma transformação tão sujeito assume identidades diferentes
que a intolerância religiosa se mani- fundamental e abrangente que somos em diferentes momentos, identidades
que não são unificadas ao redor de um
festa, seja por exclusão ou desconhe- compelidos a perguntar se não é a própria ‘’eu” coerente. (HALL, 2006, p.10)
cimento. Em meio ao rito de passagem modernidade que está sendo transforma-
– modernidade para pós-modernidade da. O outro aspecto a avaliar é a afirmação Essas identidades fluídas e contradi-
–, a afirmação de que as identidades de que aquilo que é descrito, algumas ve- tórias são tensionadas em diferentes di-
modernas estão sendo “descentradas”, zes, como nosso mundo pós-moderno, reções, de tal modo que nossas próprias
deslocadas ou fragmentadas nos pare- nos inclui e que, desde o Iluminismo, se identidades estão sendo continuamente
ce extremamente atual. propõe a definir a essência de nosso ser descentradas e postas à prova a fim de que

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Pesquisa ››› 31

o “eu coerente” se mantenha. As represen- observar, a partir da análise do discurso truído em relação a alguma das muitas
tações do “eu” que estão sendo veiculadas, constitutivo das respostas, se nelas se evi- práticas religiosas que coexistem na nos-
instituídas e valorizadas na questão de denciava teor de preconceito contra algu- sa sociedade em virtude da diversidade
identidades, em sua maioria, não são de ma prática religiosa. cultural que a constitui. O intuito foi tentar
pessoas da raça negra ou das minorias e, O estudo teve dois objetivos principais: promover o conhecimento, mesmo que
em razão disso, são aqueles que historica- a) investigar a concepção dos alunos so- básico, acerca de algumas tradições reli-
mente enfrentam restrições, discrimina- bre outras tradições religiosas, observan- giosas e, com ele, o respeito às diferenças.
ção e preconceito por suas características do se manifestavam preconceitos em re- A pesquisa se configurou como de na-
sociais, econômicas e culturais. lação a elas e de que forma esse elemento tureza qualitativa que, por meio da pes-
seria um “marcador” de sua identidade; b) quisa-ação, propõe mediar a lacuna entre
A pesquisa-ação sobre desenvolver um trabalho em sala de aula
com vistas à desconstrução de discursos
teoria e prática e intervir no decorrer do
próprio processo. Acreditamos que a par-
a intolerância religiosa preconceituosos acerca das 1tradições re- tir dessas reflexões, podemos, além de
ligiosas de diversas ordens. apresentar alguns pressupostos para o
Em meio às discussões e debates rela- A análise inicial do questionário evi- problema norteador, potencializar a expe-
cionados às diferentes práticas dos sujei- denciou certos preconceitos por parte riência de formação dos sujeitos, revelan-
tos, adveio o problema de pesquisa que dos alunos. Com base nos dados, bus- do as suas singularidades.
resultou neste artigo. Que fatores contri- camos identificar as práticas apontadas Cabe destacar que o atual conceito de
buem para a crescente tensão relacionada negativamente e propomos desenvolver tolerância, como mobilizador de consci-
aos princípios religiosos, cultura e práticas um trabalho de pesquisa e socialização ências, conforme o seu desenvolvimento
do outro? Quais condutas podem ser con- sobre a diversidade cultural religiosa, histórico, não pode ser confundido com
sideradas como intolerantes? A intolerân- tentando demonstrar que, nesse cená- seu uso trivial. Como evidencia a Consti-
cia religiosa no país estaria relacionada a rio tão diversificado, cada tradição reli- tuição Federal de 1988, a liberdade de re-
elementos históricos, étnicos ou culturais? giosa tem importância social e faz parte ligião engloba três tipos distintos, porém
Tais interrogações estão ligadas ao in- de uma tradição cultural relacionada à intrinsecamente relacionados, de liber-
tuito de conhecer mais sobre o tema com formação de identidades. A proposta dades: a liberdade de crença; a liberdade
o propósito de preparar os acadêmicos e didática desenvolvida com os alunos ao de culto; e a liberdade de organização re-
a sociedade no sentido de respeitar a di- longo do semestre foi realizada contem- ligiosa; e estes têm o intuito de promover
versidade de opiniões e posicionamentos plando pesquisa acerca das religiões (ri- uma atitude de respeito e apreço ou, ainda,
frente aos mais diversos assuntos, espe- tos, crenças, objetos cultuados, origem atitude ativa fundada no reconhecimento
cialmente os de cunho identitário. cultural) e socialização dos resultados dos direitos universais da pessoa huma-
Inicialmente, buscamos apoio teórico – em forma de seminários nos quais os na, conforme declaração da UNESCO2 .
por meio de pesquisa bibliográfica sobre o alunos foram protagonistas. O ápice da Tolerância é, antes, uma atitude de enga-
tema – e, num segundo momento, desen- pesquisa se deu com a realização de um jamento no combate à intolerância e, no
volvemos um trabalho aplicado, em forma fórum sobre diversidade religiosa, para escopo de nossa pesquisa, seria melhor
de uma pesquisa-ação, junto a uma turma o qual foram convidados representantes compreendida sob o viés da alteridade.
de discentes do Ensino Superior, alunos de algumas tradições religiosas. As ati-
da disciplina de Cultura Religiosa, compo- vidades de pesquisa e as apresentações 1
O convite foi enviado a algumas tradições reli-
giosas representadas na região de Carazinho/RS.
nente curricular ministrado por este do- ocorreram nas aulas, acompanhadas e Participaram representantes da IELB (Igreja Evan-
cente, na Universidade Luterana do Brasil mediadas pelo professor. gélica Luterana do Brasil); IECLB (Igreja Evangéli-
(ULBRA), campus Carazinho/RS, no ano A linha matriz do trabalho prático de- ca de Confissão Luterana no Brasil); Igreja Católica
Apostólica Romana; IPC (Igreja Presbiteriana de
de 2018. Com base nos discursos obser- senvolvido foi construir conhecimentos Carazinho) e uma Ialorixá do Candomblé.
vados nas aulas da disciplina aplicadas em sobre o tema e tecer reflexões que aju- 2
“[...] o respeito, a aceitação e o apreço da ri-
semestres anteriores, desenvolvemos a dassem a desconstruir concepções pre- queza e da diversidade [...] não é concessão [...]
é uma atitude ativa fundada no reconhecimento
hipótese de que os discentes matriculados conceituosas. Imaginou-se que, ao pes- dos direitos universais da pessoa humana e das
na disciplina demonstrassem, em algum quisarem e debaterem, os alunos fossem, liberdades fundamentais do outro [...] Praticar a
grau, preconceitos acerca de religiões e/ ao mesmo tempo, construindo conheci- tolerância não significa [...] renunciar as próprias
convicções, nem fazer concessões a respeito. A
ou práticas religiosas diferentes das suas. mentos sobre outras religiões (que não a prática da tolerância significa que toda pessoa tem
Para confirmar ou refutar essa hipótese, apenas por eles praticada) e, assim, des- a livre escolha de suas convicções e aceita que o
outro desfrute da mesma liberdade. Significa que
aplicamos aos sujeitos um questioná- mitificando concepções equivocadas e/ ninguém deve impor suas opiniões a outrem.”
rio inicial, de 10 questões, com intuito de ou preconceituosas que podem ter cons- (UNESCO, 1995, p. 11)

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32 ››› Pesquisa

Como mudar o cenário? estão sujeitos a flutuações, transfor-


mações, não sendo nunca permanen- simbólico, incluem carga ideológica, re-
tes. (CASTRO, 2015, p.34) lações sociais de comunicação e domi-
Os conceitos de discriminação e de de- nação e estão associadas a preconceitos
sigualdade no Brasil não dizem respeito A determinação do discurso, espe- que geram a discriminação e culminam
apenas às questões socioeconômicas, cialmente o intolerante, é extremamente com a intolerância.
mas passam essencialmente pelas di- complexa, pois há um campo da manipu- O conceito daquilo que é moral está em
mensões culturais, religiosas e étnico-ra- lação consciente e um da determinação crise. Há no mundo todo tipo de atritos,
ciais. Infelizmente, a discriminação e suas inconsciente. O campo da manipulação de turbulências, de descompasso, onde
distintas dimensões são marcas da nossa consciente é aquele no qual o enuncia- a vida em sociedade beira o caos. Em
sociedade, muitas vezes postas em prá- dor lança mão de estratégias argumen- nosso país são discussões e disputas po-
tica pelo próprio Estado. Como exemplo, tativas e de outros procedimentos para líticas, econômicas, religiosas, de gênero,
citamos as etnias pretas, pardas, indíge- criar efeitos de verdade e de realidade, raça e de toda sorte de manifestação hu-
nas e outras minorias e tradições religio- com a finalidade de convencer seu inter- mana. É um meio fértil onde prosperam
sas, em que pese a laicidade do Estado, locutor. Sob certo ponto de vista é o que os discursos de ódio e a intolerância e
que, lamentavelmente, são invisíveis justamente ocorre nos discursos de ódio ficam evidenciadas, no discurso, as iden-
para grande parte das políticas públicas. dos intolerantes. O enunciador organiza tidades e diferenças dos sujeitos.
De acordo com dados do Instituto de sua estratégia discursiva em função de Cabe a cada um pensar e pesar as pa-
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os um jogo de imagens: a imagem que ele lavras no sentido de olhar para outro, que
indicadores sociais apontam que 76% da tem do interlocutor, a que ele pensa que é diferente de mim, como a parte que me
população mais pobre é negra; 79,4% de o interlocutor tem dele, a que ele deseja falta, a semelhança ou a diferença que irá
pessoas analfabetas são negras; 62% das transmitir para o interlocutor no sentido me constituir em um sujeito mais “tole-
crianças que estão fora da escola são ne- de, num primeiro momento convencê-lo rante”, evoluído e que tenha a alteridade
gras; em média, a renda de negros é 40% ou, se não tiver êxito, confrontá-lo ou como mediadora do discurso.
menor do que a de brancos. subjugá-lo.
Esse desencontro, histórico e social- Nesse campo do discurso se inserem REFERÊNCIAS
mente constituído, marca as identida- e se constituem os sujeitos que agem/
des de ambos os lados e ocorre em meio falam e (re)definem sua identidade no CASTRO, Daniele. Corpo à deriva: pensando
diferença e identidade sob a perspectiva da
ao sincretismo e multiculturalismo do encontro ou desencontro com o outro. cultura da presença. Vozes e Diálogos. Itajaí, v.
século XXI. Aliás, para Hall (2000), o hi- 14, n. 01, jan./jun. 2015. Disponível em: https://
bridismo, o sincretismo e a fusão entre [...] as identidades podem funcionar, ao siaiap32.univali.br/seer/index.php/vd/article/
longo de toda sua história, como pon- view/7363. Acesso em: 22 de jun/2020.
tradições culturais diferentes “produ-
tos de identificação e apego apenas
zem novas formas de cultura apropria- por causa de sua capacidade de excluir, FERRETTI, Sérgio F. Sincretismo e Hibridismo
das à modernidade tardia, mas possui na Cultura Popular. Revista Pós Ciências
para deixar de fora, para transformar o Sociais. v.11, n.21, jan/jun. 2014. Disponível
custos e implica no relativismo, na per- diferente em ‘exterior’, em abjeto [...] em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.
da de tradições locais e no aumento dos A unidade, a homogeneidade interna, br/index.php/rpcsoc/article/view/2867/2686.
que o termo ‘identidade’ assume como Acesso em: 14 dejul/2020.
fundamentalismos” (FERRETTI, 2014, fundacional não é uma forma natural,
p.22). Assim o sujeito que fala e é ouvido mas uma forma construída de fecha- HALL, Stuart. Quem precisa da identidade?
é aquele que detém o discurso e o poder mento: toda identidade tem necessi- In: SILVA, Tomas Tadeu da (org.). Identidade e
dade daquilo que lhe ‘falta’ – mesmo diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
(salvo exceções, é o fundamentalista, o Petrópolis: Vozes, 2000.
que esse outro que lhe falta seja um
radical ou o “xiita”). outro silenciado e inarticulado. (HALL, A identidade cultural na pós-modernidade;
tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira
2000, p. 110) Lopes Louro -11ª. ed. -Rio de Janeiro: DP&A,
Em suma, estamos cotidianamente
2006.
imersos em uma cultura do sentido, na
A eficácia simbólica das palavras não
qual assumimos a posição de sujeito IPEA – Disponível em: https://www.ipea.gov.
diante de coisas do mundo que colo- está nas formas de argumentação, de br/portal/. Acesso em: 17de jun.2020.
camos a nossa frente como objetos: retórica e de estilística. A palavra preci-
interpretamos, avaliamos, usamos, sa ser apresentada e reconhecida como PERALVA, Angelina. O jovem como modelo
organizamos, ou seja, construímos dis- cultural. In: FAVERO, Osmar; SPÓSITO, Marília
legítima, o que depende de condições Pontes; CARRANO, Paulo. NOVAES, Regina
cursos que façam com que tais coisas
sejam inteligíveis para nós. Assim fa- institucionais para que o discurso seja Reys. Juventude e Contemporaneidade. –
reconhecido. A escolha das palavras Brasília: UNESCO, MEC, ANPEd, 2007. P.
zemos com as nossas diferenças e cria-
13-27. Disponível em: https://unesdoc.unesco.
mos grupos identitários. Tais sentidos, possui também importância decisiva. org/ark:/48223/pf0000154569. Acesso em: 25
exatamente por serem construídos, As palavras possuem um significado de mai/2020.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Internacional ››› 33

No Exterior, sem sair de casa


Pandemia evidencia voos, fechamento de fronteiras e im- mundo e preparadas para lidar com os
possibilidade de realização de viagens desafios desse contexto globalizado”,
uma nova forma de de intercâmbio acadêmico. afirma, ao reforçar que a pandemia
internacionalização da Diante desse contexto, a consultora nos mostrou a importância desse olhar
do Departamento de Relações Inter- global, de compreender que os aconte-
Educação Superior: a nacionais (DRI) do Sinepe/RS, Dra. cimentos em outras regiões do planeta
experiência direto do lar Liane Hentschke, afirma que as ações vão impactar no modo como vivemos.
de mobilidade acadêmica são as mais Gestores, assim como professores e
afetadas: “As universidades, em vários alunos, que tinham viagens de estudos

A
pandemia do coronavírus países, estão reticentes em voltar ao e pesquisa programadas para este ano,
impôs uma nova realidade ensino presencial. Alternativas como podem estar apreensivos diante da ne-
para a educação: aulas pre- o modelo híbrido de ensino e aprendi- cessidade de suspensão temporária de
senciais foram suspensas, zagem (presencial e virtual) serão uti- programas no Exterior. Mas a consul-
professores passaram a usar aplicati- lizadas”. tora do Sinepe/RS destaca que o mo-
vos de videoconferência para ensinar Segundo ela, o caminho para man- mento exige adaptações e, sobretudo,
e os estudantes trocaram o campus ter o trabalho de internacionalização, é muita calma, sem jamais interromper
pela tela do computador para apren- olhar para além da mobilidade acadê- o caminho já trilhado pelas IES no pro-
der. Mas os efeitos da Covid-19 vão mica. “O conceito de internacionaliza- cesso de internacionalização. Segun-
além das mudanças no ensino e na ção vai muito além do envio e recebi- do Liane, rumores de que a pandemia
aprendizagem: o processo crescente mento de alunos e professores. O foco pode significar o final da internaciona-
de internacionalização das Instituições é institucionalizar a internacionalização lização, devem ser vistos com cautela.
de Educação Superior (IES) foi um dos para que as IES estejam cientes do que
mais afetados com o cancelamento de acontece em universidades ao redor do Segue ›››

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


34 ››› Internacional

A coordenadora-executiva do Escri- que agora podem contar com uma ex- volver alternativas, e as tecnologias de
tório de Cooperação Internacional da periência virtual de internacionalização informação e comunicação aparecem
PUCRS, Carla Cassol, aponta três está- sem sair de casa. Claro que precisamos como importantes aliadas, mas é funda-
gios de mudanças no processo de inter- considerar todos os benefícios de uma mental compreender que a mobilidade
nacionalização decorrentes da pande- mobilidade presencial, como a imersão acadêmica presencial é importante e será
mia. O primeiro, no início da proliferação cultural, então tenho convicção de que o retomada. Não sabemos ainda quando,
global do vírus, consistiu em gerir a crise futuro será híbrido”, afirma Carla. mas precisamos estar preparados para
provocada pela interrupção das aulas e esse retorno”, afirma a consultora de in-
das viagens internacionais, dando su- ternacionalização do Sinepe/RS.
porte a professores e alunos que tinham O futuro exige uma Carla concorda que as ações desen-
intercâmbios programados no Exterior educação híbrida volvidas antes da pandemia precisam
e a estrangeiros que estavam no Brasil ser mantidas, com adaptações, para que
e precisavam retornar aos seus países Na mobilidade virtual, ferramentas a instituição não perca o que já foi con-
de origem. Um segundo momento, em tecnológicas – como aplicativos de vide- quistado no âmbito da internacionali-
desenvolvimento, envolve a adaptação oconferência – são usados para que alu- zação e tenha de recomeçar quando a
dos programas para uma mobilidade nos estrangeiros acompanhem as aulas situação estiver controlada.
virtual – em que não é necessário sair de de suas casas. Eles também podem “É preciso entender que a interna-
casa para participar de aulas e ativida- participar de eventos culturais online, cionalização pode ser feita dentro do
des de pesquisa com colegas estrangei- acessar acervos digitais de bibliotecas e currículo acadêmico, em casa, sem pre-
ros. O terceiro estágio se dará, segundo desenvolver trabalhos em grupo. Liane cisar viajar. Mesmo que o processo seja
ela, com a retomada da possibilidade Hentschke diz que inúmeras novas pos- incipiente em algumas instituições, elas
das viagens. E aí que vem a novidade: o sibilidades surgiram no contexto emer- já possuem parceiros estratégicos e pre-
“novo normal” em termos de internacio- gencial da pandemia. Agora é preciso cisam manter a interlocução com esses
nalização envolverá a junção de ativida- aprimorar os processos para promover parceiros, além de trabalhar em cima
des presenciais e a distância. uma experiência qualificada, sem deixar das possibilidades”, afirma a especialis-
“Com a necessidade de fazer essa de lado as perspectivas de retomada das ta. Ela ainda acrescenta uma dica: “Neste
adaptação para uma mobilidade virtual, atividades presenciais. momento, não vale a pena investir em
nós percebemos que esse modelo ga- “O mais importante para as institui- novos parceiros, mas focar em ações
rante a participação de pessoas que não ções neste momento é continuar com já existentes que têm relação com o
teriam condições financeiras ou de tem- a abordagem de criar uma instituição trabalho da instituição e que agregam
po para uma viagem ao Exterior, mas internacionalizada. Precisamos desen- valor para a comunidade”.

Quatro passos para manter o foco


Medidas úteis para o processo de internacionalização:

4
O caminho até a retomada das
1 atividades presenciais está na
mobilidade virtual. Instituições devem
Compreender que
a internacionalização focar nesta opção, permitindo que
vai além da mobilidade seus alunos e professores participem
acadêmica, envolve a de programas de universidades
construção de um currículo do Exterior a distância e
com olhar global. Isto disponibilizando alguns dos seus
pode ser pensado cursos a estrangeiros.
independentemente
da pandemia.

2 3
É preciso manter o Compreender
contato com os parceiros que o futuro da
estratégicos que a internacionalização é híbrido:
instituição já possui e focar com atividades desenvolvidas
em ações que podem presencialmente e a
ser desenvolvidas a distância, por meio de
Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020 distância. múltiplas ferramentas
tecnológicas.
Radar ››› 35

LDB das possibilidades


Considerada aberta e simples, ao contrário da maioria da legislação, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional pode representar um
conjunto de oportunidades para capacitar e modernizar o ensino

DEPOSITPHOTOS

Segue ›››

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


36 ››› Radar

PEDRO PEREIRA dinamizador do ponto de vista da apren-


pedro@padrinhoconteudo.com dizagem. “Trabalho com escolas par-
GUIOMAR NAMO DE MELLO
ticulares que estão retirando da BNCC

O
Educadora e membro do Conselho Estadual de
movimento acelerado para Educação de São Paulo o melhor que tem de organização do
que as aulas fossem manti- “Mesmo nas boas escolas conteúdo, mas mesmo nas boas escolas
das, mesmo diante de uma particulares ainda não se vê particulares ainda não se vê o domínio
pandemia, fez com que as o domínio pedagógico dos pedagógico dos recursos tecnológicos”,
instituições de ensino agissem rapida- recursos tecnológicos” alerta Guiomar.
mente, sempre de olho na legislação. E
esse ponto não foi problema. Enquan-
to o Congresso se movimentava para Ensino Médio, que mudou uma série
Nova educação não
adequar a questão da carga horária, de artigos, abrem-se possibilidades in- depende apenas de leis
outros fatores já encontravam respal- teressantes que não estão sendo devi-
do legal – e podem significar uma mu- damente exploradas, e podem ser. Tem “De modo geral o problema (para
dança de paradigma. boas janelas para dar um salto para um se adequar à pandemia) não foi de le-
Uma das questões que precisava novo tipo de educação, um novo tempo”, gislação. Logo o Governo abriu e disse
ser revista era a quantidade mínima sustenta Guiomar. ‘salve-se quem puder’. Era o que podia
de dias letivos a serem cumpridos nas A despeito da lei, a educadora acredita e devia fazer naquele momento”, lembra
salas de aula. Pensando nisso, o Gover- que haja outro limitador mais importan- o PhD em Economia e pesquisador em
no Federal editou a Medida Provisória te para que o potencial da educação bra- Educação Claudio de Moura Castro. Ele
934/2020, promovendo ajustes no ca- sileira dê um salto: a capacitação técnica acredita que os modelos de ensino se-
lendário escolar. O texto deu origem à e pedagógica dos docentes. Isso porque jam demandados por mudanças daqui
Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, adotar novas ferramentas nem sempre para a frente. “Todo mundo descobriu
que desobrigou escolas e universi- significa estar pedagogicamente apro- que você não precisa pegar um auto-
dades de cumprirem a carga horária priado delas, principalmente quando às móvel ou avião para conversar com uma
prevista, em caráter extraordinário, em pressas. “É difícil superar a ideia de que pessoa”, constata.
função da pandemia do coronavírus. a educação on-line é passar um vídeo e Castro vê uma grande vitória do ensi-
Mas esta deve ser uma das únicas mandar quatro ou cinco perguntas para no híbrido neste contexto. “Ninguém vai
mudanças necessárias na legislação. os alunos”, lamenta. querer continuar 100% a distância e, por
Para a educadora e membro do Conse- Para explorar todo o potencial das no- outro lado, descobriu-se que há muita
lho Estadual de Educação de São Paulo vas possibilidades, é preciso contar com coisa feita presencialmente e que é me-
Guiomar Namo de Mello, a Lei de Diretri- professores que atuem como promoto- lhor a distância. Isso sugere que no Ensi-
zes e Bases da Educação Nacional (LDB) res de conteúdos digitais pedagógicos. no Superior haverá uma migração pro-
pode até conter alguma limitação (espe- Com exceção do que chama de “algumas gressiva para o modelo híbrido”, projeta.
cialmente no Artigo 80, sobre o Ensino ilhas de excelência no ensino privado”, Para Guiomar, essa mudança passa
a Distância), mas não considera grave. A Guiomar lamenta que não exista hoje muito mais pela organização das ins-
LDB está em vigor desde 1996. uma capacidade pedagógica e intelectu- tituições de ensino do que pelo regra-
Segundo ela, a EAD não é mais um al instalada na educação brasileira. “Você mento do Estado, uma vez que a LDB, a
conceito tão corrente, pois os fatos já vê uma inovação muito forte nos cursos BNCC e as diretrizes curriculares já de-
superaram a ideia tal como surgiu. “Hoje de medicina, que usam o ensino por pro- finem um conjunto de regras suficiente
a diferença entre o que é a distância ou jetos, baseado em problemas, aplicam para nortear as práticas pedagógicas. “É
presencial é de outra natureza. Essa par- tecnologias digitais para dinamizar esse preciso que se avalie o quadro docente,
te da LDB pode representar algum im- tipo de trabalho, mas é muito específico. entenda e potencialize. A relação com o
pedimento, mas não é tão sério porque Devia estar acontecendo muito mais nos mundo do trabalho é importante porque
nada impede que você ressignifique a cursos de formação de professores, pois é subjacente ao ensino por competên-
EAD para incorporar mais do que vinha eles vão precisar se apropriar desses cias, que tem abertura para metodolo-
sendo até então”, entende. meios”, observa. gia ativa, para cultivar o protagonismo
A questão é muito mais de enxergar A educação dos novos tempos não do aluno, a resolução de problemas e o
as oportunidades oferecidas do que exige apenas o domínio da tecnologia empreendedorismo. A LDB é completa-
pensar em revisão dessa legislação. “A em si: é preciso aplicá-la pedagogica- mente compatível com as competências
LDB é muito flexível. Com a reforma do mente, a fim de que seja um recurso essenciais do século XXI”, conclui.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Em destaque››› 37
FOTOS DEPOSITPHOTOS

Sistema Positivo de vários recursos que estão auxiliando


no aprendizado remoto dos alunos e
Ensino investe em no trabalho dos professores.
“O Sistema Positivo de Ensino nos
inovação e parcerias ajudou no fortalecimento e reconhe-
cimento da nossa escola como uma

O
Sistema Positivo de Ensi- instituição de qualidade na região.
no, maior sistema voltado ao Se pudéssemos dar uma nota ao
ensino particular no Brasil, Sistema Positivo de Ensino, sem dú-
trabalha para garantir às escolas con- vida, daríamos 10”, afirma a diretora.
veniadas as melhores práticas peda- A escola é parceira do Sistema Posi-
gógicas, além de assessoria nas áre- tivo de Ensino há 25 anos. 
as jurídica, de marketing e finanças.
Neste período de suspensão das
aulas presenciais, investiu em
Saber, Agir, Evoluir –
videoaulas e lives com especia- Conheça a solução
listas de diversas áreas, além de
parcerias importantes, como a para a sua escola
Árvore Livros, que disponibiliza,

O
gratuitamente, mais de 500 li- conjunto de materiais didá-
vros digitais para professores ticos SAE Digital constitui
e estudantes pelo Positivo On, uma solução inovadora pa-
e o Google For Education, que ra o ensino de qualidade. Da ges-
está facilitando o cotidiano dos tão escolar ao complexo processo
professores na realização de de ensino e aprendizagem, nossos
aulas remotas. produtos promovem o desenvol-
Para a irmã Isaura Paviane, di- vimento educacional de gestores,
retora do Colégio Scalabriniano professores e estudantes, da Edu-
Medianeira, em Bento Gonçal- cação Infantil ao Pré-Vestibular.
ves (RS), o Positivo ofereceu, Somos pioneiros em produtos de
neste período de pandemia, tecnologia relevantes para o apren-
dizado do nosso aluno, como o livro
digital, a realidade aumentada e a
plataforma de aprendizagem.
Com Arrase no Enem, Ambiente
Sistema Etapa oferece o Painel da Educação Virtual de Aprendizagem e Ava-
liações, somamos mais de 40 si-

O
Painel de Educação é uma pla- mulados, 10 mil vídeos e 100 mil
taforma, oferecida pelo Sistema questões disponíveis para alunos e
Etapa, de conteúdos desenvol- professores.
vidos por profissionais do Grupo Edu- Nossos parceiros podem con-
cacional ETAPA e por especialistas em tar com a Assessoria Pedagógica
diversos setores, que abordam temas Efetiva, uma equipe de educadores
de interesse do universo educacional. que oferece atendimento persona-
O material didático e a metodologia lizado e contínuo, buscando forta-
do Sistema ETAPA reúnem a experi- lecer e criar diferenciais para apoiar
ência e a qualidade de quem é 100% as escolas conveniadas.
dedicado à educação de excelência, da O SAE Digital é muito mais que
Educação Infantil ao Ensino Médio. Sai- um sistema de ensino, é a solução
ba mais visitando o site paineldeeduca- que a sua escola precisa! Acesse:
cao.com.br.  sae.digital. 

Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020


38 ››› Diversidade

Na trincheira contra o racismo


Especialistas discutem dora dos Anos Finais do Ensino Funda- no assunto, afirma Vivian:
mental do Colégio Marista Rosário. “Uma aluna do 9º ano desenvolveu
o papel da escola na A aproximação dos estudantes com um projeto de iniciação científica sobre
redução do preconceito a literatura afrocentrada e autores ne- a influência do preconceito e da repre-
gros é apenas uma das estratégias da sentatividade na formação da autoesti-
racial e estratégias instituição para abordar questões ét- ma e da identidade de alunos negros e
para a sala de aula nico-raciais em sala de aula. O desafio negras. E ela fez a pesquisa com alunos
é “descolonizar” o conteúdo, evitando da própria escola.”

D
iante da plateia atenta, o es- apresentar a África como um continen-
critor Jéferson Tenório, pa-
trono da 26ª Feira do Livro
te selvagem, ou de restringir à escra-
vidão a contribuição da raça negra na
O papel do professor
do Rosariense - que teve construção do Brasil. como transformador
como lema Vozes da África - dividiu Oficinas de percussão, capoeira e de
com os alunos detalhes de sua premia- abayomi (bonecas de pano da tradição O racismo e as questões étnico-ra-
da produção literária e fatos da própria iorubá), servem de ponto de partida para ciais são temas incontornáveis ante o
vida. Uma humilhação sofrida comoveu o ensino de cultura e história africanas, papel da escola como agente transfor-
os estudantes: em uma batida policial, que estão entre os temas transversais do mador da sociedade. Mas se por um
foi obrigado a descer do ônibus em que currículo. No ano passado, professores lado a Lei 10.639/2003, que tornou
viajava para averiguação. da Universidade Federal do Rio Grande obrigatório o ensino de cultura e histó-
“Eles ficaram chocados porque não do Sul (UFRGS) contextualizaram uma ria africanas, estimula as instituições a
conheciam essa realidade. Mas puderam exposição sobre o tráfico transatlântico explorar o assunto, muitas ainda o fa-
entender a situação, ser empáticos com de negros escravizados. Esse conjunto zem de forma pontual, em datas como
o que o outro viveu e sentiu”, relembra a de ações acaba por desenvolver reflexão o 20 de novembro, Dia da Consciência
professora Vivian Monteiro, coordena- nos alunos, estimulados a se aprofundar Negra.

›››
COLÉGIO MARISTA ROSÁRIO, DIVULGAÇÃO

Atividade
do Grupo
Cesmar,
do Colégio
Marista
Rosário,
ajuda no
conhecimento
sobre cultura
e valores

Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020


Diversidade ››› 39

Doutora em Educação pela Universi-


dade Federal de Santa Maria (UFSM),
POR UM FUTURO SEM PRECONCEITO
Maria Rita Py Dutra afirma que, apesar Caminhos para abordagem de questões raciais em sala de aula:
do protagonismo no combate e elimi-
nação do discurso racista, é no espaço Educação Infantil Ensinos Fundamental e Médio
escolar que as crianças negras mais
l A escola precisa investir em mate- l Trabalhar apenas o viés da escra-
sofrem com apelidos relacionados a riais que permitam a familiarização vidão na contribuição do negro
sua cor, cabelo e corpo. das crianças com a diversidade para a construção do Brasil é uma
“Os professores dos anos iniciais de- étnica. Para cada livro infantil com visão limitada e que perpetua a
vem estar atentos às brincadeiras de um protagonista branco, deve ha- ideia de “raça inferior”. É interes-
ver um com o personagem negro sante abordar as causas do tráfico
roda. Tem criança que troca de lugar para garantir a equidade. de pessoas, o trauma da escravi-
para não dar a mão para o colega preto dão e as graves consequências
ou pardo. São momentos que devem l Os brinquedos que ficam ao al-
que se perpetuam até hoje.
ser problematizados, perguntando para cance das crianças também de-
a criança por que fez aquilo e ao que vem contemplar a diversidade. l Valorizar a cultura afro, da dança
sofreu a discriminação, como está se Especialmente as bonecas, que a gastronomia, é uma abordagem
desenvolvem mais a questão da positiva do tema. Mapas, roman-
sentindo. É bom, desde cedo, aprender afetividade. Para cada boneca ces, filmes, roupas, alimentos tam-
a falar de seus sentimentos”, diz. não negra, uma negra. O item bém são úteis na introdução de
Conforme a pesquisadora, a ação precisa ser bonito, de qualidade e conteúdos.
antirracista deve ser diária, o que é apresentado aos alunos de forma
carinhosa.
impossível sem o engajamento dos l Encontros de estudantes com
professores. “No Brasil, a ideia de ra- personalidades negras de áreas
cismo pressupõe que brancos sejam l Já são fabricados lápis de cor, giz variadas ajudam a desconstruir o
de cera e canetinhas nos tons de estereótipo da subalternidade e a
superiores aos negros (e demais gru- pele escuros. Eles precisam estar debater relações étnico-raciais de
pos étnicos). É quando se estabelece à disposição dos alunos. forma potente.
uma hierarquia: são mais bonitos,
DEPOSITPHOTOS
mais inteligentes, mais capazes. Se a
professora acredita nisso, terá muita poldo, Roselaine Domingos de Castro tação. Já houve escolas em que os alu-
dificuldade em trabalhar com os es- Diaz provoca os professores para bus- nos me procuravam para pedir pano
tudantes uma educação antirracista. car esses conhecimentos que os ins- de chão. Não há demérito nisso, mas
O professor precisa desejar contribuir trumentalizem também fora da escola. os alunos não podem identificar os
com a construção de uma sociedade “Nas reuniões pedagógicas, geral- negros apenas como funcionários da
mais humana, equânime e com justi- mente, o tempo é curto. O professor limpeza. E quando uma criança negra
ça social”, salienta Maria Rita. precisa se qualificar, entender seu lu- enxerga uma professora, um escritor
gar de fala e ter uma perspectiva da de sua cor, percebe que há uma nova
Capacitação para não diversidade que nós temos”, diz Ro-
selaine. Outra recomendação é que a
opção para o futuro”, afirma.
No Instituto Ivoti, a temática recente
minimizar as ofensas escola invista em materiais que permi- do Black Lives Matter (Vidas Negras Im-
tam a abordagem étnico-racial desde portam, na tradução para o português)
São nas reuniões pedagógicas se- a pré-escola. Entre eles, bonecas ne- motivou atividades. Conforme a pro-
manais que os docentes do Colégio gras, livrinhos com personagens afro- fessora e coordenadora pedagógica do
Marista Rosário planejam as ações -brasileiros (em número equivalente Curso Normal em Nível Médio, Débora
educativas e recebem a formação ne- ao de protagonistas brancos), além de Nunes, além de videochamada com um
cessária para lidar com questões étni- giz, lápis de cor e canetinhas com ma- ex-colega que vive em Brasília e que co-
co-raciais – nem sempre oferecida nas tizes dos tons da pele negra. Por fim, mentou sobre preconceito, alunos foram
licenciaturas. Roselaine incentiva as escolas a con- desafiados a criar uma narrativa e edi-
Conforme Vivian, a equipe é orienta- tratarem professores negros, também tá-la em um programa, dentro de uma
da a não minimizar ofensas raciais, por como parte do processo educacional. prática de contação de histórias que se-
exemplo, e usar a situação para escla- “Um professor, diretor, supervisor ria, mais adiante, disseminada com ou-
recimento. Assessora Pedagógica da negro, têm importância não só pela re- tras crianças. “É a ideia de que o respeito
Secretaria de Educação de São Leo- presentatividade, mas pela represen- é que importa”, reforça Débora. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


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LA SALLE MEDIANEIRA, DIVULGAÇÃO

COLÉGIO MAUÁ COMPLETA 150 ANOS


 Com uma forte identidade co- dos doada por Augusto Hennig e
munitária, o Colégio Mauá com- de outros 21 mil metros quadra-
pleta 150 anos em 2020 com dos recebidos da Sociedade de
2.025 alunos da Educação In- Tiro ao Alvo, além das aquisições
fantil ao Ensino Médio. A esco- e contribuições efetivadas pela
la foi criada em 27 de julho de comunidade e pela prefeitura.
1870, como a Sociedade Esco- Em 7 de março de 2019 houve a
lar - Schulgemeinde (hoje, So- inauguração do novo prédio do
ciedade Escolar de Santa Cruz), Ensino Fundamental da escola,
que tinha como objetivo ofere- com 4,6 mil metros quadrados
cer educação de qualidade aos de área construída. O espaço
filhos dos imigrantes alemães contempla salas de música, idio-
que colonizaram o município. mas, artes, atendimento, coor-
Um grupo de imigrantes foi res- denação e psicologia, biblioteca,
ponsável pela fundação da insti- laboratório de informática, cozi-
tuição,que surgiu como a Deuts- nha, elevador, sanitários e can-
che Schule (Escola Alemã), tina. E, a partir de 2020, o Mauá
primeiro nome do educandário. assumiu a gestão administra-
Em 1949, passou a se chamar tiva e pedagógica da Escola de
Colégio Mauá. O espaço que con- Educação Infantil Criança & Cia O ALFABETO MÁGICO
templa a instituição, com 50 mil e passou a usar a denominação
metros quadrados, é resultado Colégio Mauá - Educação Infantil DO LA SALLE
da área de 22 mil metros quadra- – Unidade II.  MEDIANEIRA
COLÉGIO MAUÁ, DIVULGAÇÃO

 O projeto Alfabeto Mágico, pro-


posto aos estudantes do Pré II do
La Salle Medianeira, estimula uma
vivência intensa com as letras, na
descoberta de objetos e de histó-
rias relacionadas a elas. Por meio
de vídeo, as professoras fizeram a
mágica do sumiço das letras, e ca-
da uma apareceu na casa de uma
criança. Na verdade, elas receberam,
pelo correio, um kit com sua letra
sorteada e apetrechos de mágico.
Além de brincar de fazer magia, os
estudantes tiveram como tarefas a
escolha de um livro cujo nome co-
meçasse com a letra recebida. De-
pois, foi a hora de confeccionar, com
materiais existentes em casa, um
personagem ou objeto presente na
história lida. O mágico da vez contou
aos colegas em vídeo a história em
forma de teatro de objetos e ensinou
a todos a fazer o personagem/objeto
escolhido. 

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


Compartilhar››› 41
DIRETOR DO ALBERTO TORRES NOTRE DAME MENINO
CONTA HISTÓRIAS AOS ALUNOS JESUS PROMOVE
 O diretor geral do Colégio tórias? Segundo ele, as an- FORMAÇÃO DE PAIS
Evangélico Alberto Torres (CE- gústias ganham nome e os
AT), Rodrigo Ulrich, encontrou medos se tornam canções A Escola Notre Dame Menino Jesus,
tempo para contar histórias numa nova configuração da localizada em Passo Fundo, opor-
aos alunos da instituição, loca- realidade e, com isso, an- tuniza espaços para dialogar com
lizada em Lajeado e em Roca gústias e medos se tornam profissionais especializados, capa-
Sales. A ação especial, desti- mais mansos”, conta o diretor. zes de ouvir, acolher e orientar os
nada às crianças da Educação Em junho, as primeiras histó- responsáveis pelos estudantes. Há
Infantil e das Séries Iniciais rias foram gravadas e publica- quatro anos, o Projeto de Formação
tem o intuito de aproximar em das nas salas de aula virtuais. de Pais busca estreitar laços com
meio ao distanciamento so- As contações de história estão as famílias. Com o distanciamen-
cial, trazendo uma mensagem sendo gravadas nas sedes de to social, os encontros passaram
de leveza e sensibilidade, além ambas as unidades do CEAT a ser quinzenais, via plataformas
de reforçar o hábito da leitura. e, ao que tudo indica, seguirão digitais – antes, eram mensais.
“Ruben Alves, no prefácio do acontecendo. “Muito provavel- Os assuntos permeiam temas como
livro A Menina e o Pássaro mente, no retorno às ativida- a saúde psíquica, a importância da
Encantado, responde a per- des presenciais também”, pro- família, atenção especial ao universo
gunta: Por que contar his- jeta o diretor. infantil, entre tantos outros. A ideali-
zadora do projeto, a psicopedagoga
Eleandra Alievi da Rosa comenta
que, nesta modalidade, houve um
aumento significativo de 50% na
participação.

COLÉGIO APARECIDA,
DE NOVA PRATA, FAZ
CORRENTE DO BEM
 O Colégio Nossa Senhora Apa-
recida, de Nova Prata, desenvol-
ve desde abril de 2020 a ação
Corrente do Bem, cujo objetivo
é divulgar o lado bom do isola-
mento social, que acarretou a
suspensão das aulas presenciais.
COLÉGIO EVANGÉLICO ALBERTO TORRES, DIVULGAÇÃO

Entre as atividades, foram realizadas


duas Mostras Virtuais de Trabalhos,
que contaram com uma série de ati-
vidades desenvolvidas pelos alunos
de todos os níveis da instituição,
desde o Maternal até o Ensino Médio.
As mostras reuniram fotos e vídeos
dos trabalhos realizados pelos alu-
nos juntamente com familiares e foi
compartilhada via redes sociais. A
campanha pode ser vista em insta-
gram.com/colegio.aparecida.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


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COLÉGIO MEDIANEIRA, DIVULGAÇÃO

COLÉGIO MARISTA
ROSÁRIO COMPARTILHA
CONHECIMENTO
 Ter estudantes envolvidos no
processo de construção do co-
nhecimento é fundamental para a
aprendizagem. O novo formato de
interação virtual permitiu que Ro-
drigo Cubal, do 8º ano do Ensino
Fundamental do Colégio Marista
Rosário, de Porto Alegre, mostras-
COLÉGIO MEDIANEIRA FAZ INTERAÇÕES se aos seus colegas o laboratório
FORMATIVAS COM PROFESSORES que possui em casa. Microrretífica,
parafusadeira e ferro de solda es-
 O Colégio Medianeira, em San- modalidade de ensino. Neste tão entre os materiais que o jovem
tiago, idealizou a “Sexta-feira ambiente de união de esforços utiliza. Foi pensando em maneiras
de Interação Formativa”, com são discutidos temas da atua- de despertar o interesse dos alu-
duração de 2h e, de forma peri- lidade contemplando tanto as nos para o conteúdo de eletrostá-
ódica. Para isso, é oportunizado competências cognitivas como tica e eletricidade, que a professora
ao corpo docente um espaço de as socioemocionais. Os resulta- do Laboratório de Ciências, Valéria
Interação, de trocas de expe- dos desta experiência vêm sen- Ferreira, convidou Rodrigo para
riências, de escuta e, também, do percebidos e fortalecidos a participar das aulas sobre o assun-
de capacitação com profissio- cada encontro, pois o enfrenta- to. Juntos, professora e estudante
nais das mais diversas esferas mento de um período de trans- estão criando roteiros e gravando
pedagógicas. Eles se reúnem formação e ressignificação de vídeos com explicações de conte-
por série e áreas de conheci- práticas e saberes acontece na údos como condutividade elétrica
mentos, abordando assuntos troca entre pares no âmbito da que serão disponibilizados às tur-
específicos, dentro de cada ação pedagógica. mas no Marista Virtual 3.0, am-
biente pedagógico on-line. 

ESCOLA NOSSA SENHORA DO HORTO FAZ EVENTO SOLIDÁRIO


 A Escola Nossa Senhora do Horto,
de Uruguaiana, realizou no dia 17
de julho o evento “Horto Solidário”.
Um drive trhu em que a comunida-
de escolar, especialmente as famí-
lias, realizaram doação de alimen-
tos e roupas, que foram destinadas
a funcionários de serviços gerais
dispensados no período de pande-
mia, assim como à Pastoral Escolar
coordenada pelas Irmãs do Horto,
ligadas às comunidades carentes
de bairros no entorno da escola.
Foi uma oportunidade de os alunos
visualizarem seus professores, aba-
narem, sorrirem, fortalecendo os
ESCOLA NOSSA SENHORA DO HORTO, DIVULGAÇÃO vínculos afetivos.

Educação em Revista | Nº 138 | Julho\Agosto\Setembro 2020


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FARROUPILHA Colégio Farroupilha de Porto A DISPUTA DE


Alegre, as crianças realizam
CRIA PROJETO: AS uma votação para a escolha PÊNALTIS DO NOSSA
CRIANÇAS NO MUNDO do projeto de estudos. Como SENHORA DE LOURDES
resultado da preferência da
maioria dos pequenos, surgiu  No Colégio Nossa Senhora de
 E a sala de aula foi parar na o projeto As crianças no mun- Lourdes, de Farroupilha, a ga-
sala de estar. As brincadei- do. Nesse viés, as crianças mificação tem sido presente
ras no pátio e o esconde-es- puderam realizar questiona- nas aulas remotas da disciplina
conde foram interrompidos. mentos a respeito do que gos- de matemática. Para rever to-
As rodas de conversa passa- tariam de aprender: “Eu quero das as operações, os alunos do
ram a ser vivenciadas atra- saber como são as crianças no 5° ano do Ensino Fundamental
vés das telas do computador. Japão, na Austrália, e saber foram convidados a vestirem a
Nesse novo formato de edu- como elas falam?”; “Conhecer camiseta do seu time e participa-
cação, foi preciso reinventar coisas do mundo e ver o que rem de uma disputa de pênaltis.
as práticas cotidianas. En- outras crianças estão fazen- Cada pênalti representava uma
tão, como desenvolver pro- do?”. Iniciamos uma aventura situação problema com os conte-
jetos e atividades com crian- pelo mundo. A exploração do údos estudados nas aulas remo-
ças de quatro e cinco anos? globo terrestre, as descober- tas: o estudante que respondia
As aulas on-line passaram a tas sobre lugares e crianças de corretamente marcava gol e caso
fazer parte desse novo cená- outros países e culturas per- a resposta estivesse errada refa-
rio. Por meio de um formulá- mearam nossas manhãs de zia o cálculo com o auxílio da pro-
rio, enviado pelo aplicativo do aulas on-line. fessora e colegas.

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