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BOA VISTA, RR
2020
LUCAS RODRIGUES GACEMA
BOA VISTA, RR
2020
A minha família,
Pai, Mãe e Irmão sem vocês não teria eu ido tão longe
AGRADECIMENTOS
Dedico também esse agradecimento a minha orientadora Profª Ma. Tarcia Millene
de Almeida Costa Barreto que me ajudou nessa jornada sempre disposta e paciente
também aos meus professores do curso de Bacharelado em Enfermagem da
Universidade Federal de Roraima.
Dedico também esse trabalho aos meus amigos em especial à Jaqueline, Icaro,
Thais e Steffanie que sempre estiveram comigo nessa jornada carregada de muito
choro, desespero, conquistas, risos e um pouco de 51 ouro.
O processo de migrar é considerado como potencial fator de risco para à saúde dos
migrantes principalmente para mulheres em condições puerperais, essa relação de
condições de saúde da mulher e assistência puerperal pode ser bem observada no
cenário de mulheres migrantes venezuelanas na cidade de Boa Vista/RR região onde
percebe-se crescente índice de partos e consultas pós-parto na maior maternidade do
estado. Logo o presente estudo tem como principal objetivo realizar a caracterização
epidemiológica e clínica de mulheres atendidas no Hospital Materno Infantil Nossa
Senhora de Nazareth. Trata-se de um estudo ecológico de caráter descritivo e
abordagem quantitativa, utilizando dados secundários compostos por dados
presentes na Autorização de Internação Hospitalar e Sistema de Informações de
Nascimento de mulheres migrantes de nacionalidade venezuelana com faixa de idade
que atenda condições gineco obstétricas, que realizaram parto ou buscaram algum
tipo de assistência no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth
(HMINSN). Os dados foram coletados e organizados conforme variáveis propostas
pela pelo estudo. Os resultados mostraram que a partir de 2014 tivemos um aumento
do total de partos e que durante os anos de 2018 (n=2547) e 2019 (n=4205) foram
registados os maiores quantitativos de partos realizados e que a faixa etária entre 20-
24 (n=1476) e 25-29 (n=972) anos, foram as que mais apresentaram o quantitativo de
atendimentos de mulheres. Quanto ao total de partos estratificados por tipo, foi
perceptível a prevalência de partos vaginais com relação ao cesárea. A hipótese do
estudo foi parcialmente confirmada, uma vez que foi identificado que às mulheres
migrantes venezuelanas estão em sua maioria em idade laboral. No que se refere a
condições clinicas dessas mulheres o quantitativo de parto vaginal se sobressaiu
comparado ao parto cesárea, indicando condição clínica favorável para evolução sem
distorcia do trabalho de parto, consideramos também que resultados obtidos neste
estudo não esgotam o tema, uma vez que o possui outras linhas de análises.
..................................................................................................................... 27
LISTA DE TABELAS
2 PROBLEMA ........................................................................................................... 15
3 HIPÓTESE ............................................................................................................. 15
4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15
5 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 16
7 METODOLOGIA .................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 38
1 INTRODUÇÃO
13
As situações de saúde-doença são disseminadas na sociedade por meio
de processos de determinação social, econômica, cultural, ambiental, política
etc. Este entendimento vem se fazendo presente na formulação de políticas e
estratégias, e abordagens intersetoriais em direção à saúde. Na busca de
condições melhores de saúde e para redução de iniquidades, deve-se analisar
os determinantes sociais e ambientais envolvidos (CARVALHO, 2013).
Compreende-se que, a apropriada saúde coopera para outras primazias
sociais como o bem-estar, a educação, a coesão social, a preservação do meio
ambiente, o aumento da produtividade e o desenvolvimento econômico. Isso
provoca um “(...) “círculo virtuoso” no qual a saúde e os seus determinantes se
retroalimentam e se beneficiam mutuamente (...)” (CARVALHO, 2013, p.21).
Dessa forma, determinantes de saúde, acessibilidade e estado de saúde
dessas populações é demonstrado por desigualdades e parcialidades, maior
risco para agravos e doenças, incluindo ainda a falta de informação sobre a
migração feminina e suas peculiaridades, o que é intensificador desses fatores,
e isso reflete na saúde sexual e reprodutiva desse público, que continuam sendo
mais vulneráveis, inclusive no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde,
pois precisam de serviços específicos, como os serviços voltados à saúde sexual
e maternidade, saúde e assistência às crianças. Cuidados esses que enfrentam
dificuldades além do acesso, mas também de continuação (TOPA, 2016).
Segundo Almeida e Caldas (2012), a migração em si constitui-se como
um fator de risco afetando, entre outros aspectos, o período gravídico das
mulheres, evidenciado pela ausência ou início tardio do pré-natal, expansão de
procedimentos cirúrgicos e assistência pós-parto de baixa qualidade, tendo
como barreiras o período de espera por atendimento nos serviços de saúde,
barreira linguística e de locomoção, a qualidade e equidade dos atendimentos.
Essa relação entre a gestação e a assistência à saúde para as migrantes
venezuelanas, na cidade de Boa Vista, é tida como um desafio para o serviço de
saúde. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima (2018) foram
contabilizados 566 partos de venezuelanas realizados na maternidade local no
ano de 2017, e 253 partos no primeiro trimestre de 2018. E muitas dessas
mulheres residem em locais improvisados na rua, fato que prejudica o curso da
gestação, bem como a manutenção da saúde após o parto tanto para mãe
quanto para o recém-nascido (SESAU, 2018).
14
Diante desse contexto, através da percepção do desafio que é a
manutenção da saúde destas migrantes, surge conhecermos qual o perfil
sociodemográfico e clínico das mulheres migrantes venezuelanas atendidas na
maior maternidade do estado de Roraima nos últimos 10 anos?
2 PROBLEMA
3 HIPÓTESE
4 OBJETIVOS
15
III. Identificar o tipo de parto predominante entre migrantes
venezuelanas.
5 JUSTIFICATIVA
16
6 REFERENCIAL TEMÁTICO
17
ausência de políticas a população (migrante) que flutua entre fronteiras, acaba
sendo prejudicada (GADELHA; COSTA, 2007).
Seguindo a lógica anterior o Sistema Único de Saúde (SUS), atualmente
tem feito o repasse financeiro levando como critério o per-capita, e não é
contabilizada o público itinerante (migrante) beneficiado pelo SUS, dessa forma
percebe-se o agravamento da situação do migrante nos serviços de saúde e
consequentemente não temos repasse adequado que sustente a demanda
desse público que vem crescendo com o decorrer do tempo, logo os serviços de
saúde não apresentam contingenciamento necessário para atender os públicos
que necessitam desses espaços de cuidar. (CARVALHO, 2014).
Como exemplo dessa situação de relação entre fronteiras, temos o
espaço de fronteira entre o Brasil e a Venezuela que também vem sendo afetado
pelo processo de migração em virtude de vários aspectos, como a inovação de
tecnologias de transporte, fluxo de mercadorias (legais ou ilegais) e pessoas,
sejam elas turistas, moradores de fronteiras, migrantes (legais ou ilegais) ou
trabalhadores migrantes, de certo a relação presente nesse espaço
principalmente os espaços de fronteira sofrem com alterações principalmente ao
que se refere cuidados em saúde (RODRIGUES, 2006).
Nos últimos anos, a Venezuela vem passando por uma grande crise
econômica, social e política que tem sido reconhecida por muitos da comunidade
internacional e, como consequência, a população venezuelana tem enfrentado
uma generalizada ausência de bens comuns como alimentação, moradia e
acesso a serviços de saúde (MILESI et al, 2018).
Segundo relatório realizado pela Human Rights Watch (2019), a
Venezuela vem sofrendo uma crise de saúde desde meados de 2012, piorando
drasticamente em 2017 com os apagões que eram recorrentes nas cidades
venezuelanas que de forma direta dificultavam assistência nas redes
hospitalares.
De acordo com os dados da Organização Internacional para Migrações
(OIM), o número de migrantes venezuelanos no exterior aumentou de 700.000
para mais de 1.6000.000 onde, só no Brasil, 32.744 solicitaram refúgio e outros
27.804 obtiveram autorização de residência somando assim mais de 60.000
migrantes registrados pelas autoridades migratórias brasileiras até maio de 2018
(IOM, 2018; UNHCR, 2018).
18
Com o início da migração muitos indivíduos venezuelanos se
deslocaram para o estado de Roraima adentrando através do município
fronteiriço de Pacaraima e seguindo jornada para as outras cidades do estado
como Boa Vista/RR (Figura 01):
19
Figura 02 – Imigrantes dormindo em praça pública do município de Boa
Vista/RR
20
implantadas nos abrigos como campanhas de bloqueio e imunização (GNDH,
2018).
21
Referindo-se a mulheres migrantes estão mais suscetíveis a doenças de
caráter mental (depressão, esquizofrenia e estresse pós-traumático), infecções
sexualmente transmissíveis (HIV/Sida e hepatites virais), além de estarem mais
expostas a violência como vítimas sexuais (TOPA et al, 2013).
Seguindo a linha de dificuldades encontradas por mulheres migrantes,
essas também estão mais suscetíveis a procurarem unidades hospitalares mais
tardiamente. Em uma pesquisa realizada por Castro et al. (2015), foi possível
identificar que mulheres migrantes demoravam buscar os serviços por medo das
diferenças culturais, idioma e formas de partejar que poderiam surgir durante a
assistência e no parto.
22
os que se direcionam aos cuidados de prevenção (preventivos e exames de
mama) ou a escassa utilização dos cuidados em saúde sexual e reprodutiva
(SCAGLIONE, 2016).
Quando comparadas com mulheres residentes do território, as mulheres
migrantes tendem a apresentar os piores índices de saúde (DIAS et al, 2009).
No caso das migrantes grávidas, dentre a generalidade, essas passam por
constrangimentos muito particulares, em termos de saúde e de violência
obstétrica (IOM, 2004).
Estudos demostram que, devido a soma de fatores complexos, mulheres
migrantes e ou grupos étnicos tendem a receber menor acompanhamento
necessário durante a gravidez, o parto e pós-parto e esses casos em sua maioria
podem ser justificados pelo fato de migrantes buscarem assistência em última
instancia resultando em maiores situações de riscos, dificuldade no tratamento
e em gastos maiores com cuidados (FONSECA et al, 2005; UNFPA, 2006;
TOPA, 2016; GRANADA, 2017).
Segundo Topa (2016), as mulheres migrantes estão diretamente
associadas a péssimas condições clinicas em saúde materna onde muitas
podem passar por experiências traumáticas explicadas pelas situações de risco
de infeção perinatal, maior mortalidade materna, infantil e aumento das taxas de
partos através de procedimentos cirúrgicos.
23
7 METODOLOGIA
7.3 POPULAÇÃO
24
7.4 COLETA DE DADOS
25
Destaca-se que este estudo é parte integrante do projeto intitulado
“Migração Venezuelana: impactos na saúde de Roraima”, cadastrado na Pró
Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG – UFRR) sob registro 0672018,
com parecer aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres
humano (CEP-UFRR) sob registro 3.512.164.
26
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4500 4205
4000
3500
3000
2547
2500
2000
1500
934
1000
379
500 197 259
83 15 0 98
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Nº de Mulheres 83 15 0 98 197 259 379 934 2547 4205
28
sendo intensificado o fluxo durante o ano de 2017, quando ocorreram as eleições
presidenciais na Venezuela associado com aumento inflacional da economia
venezuelana (FGV/DAPP, 2018).
De acordo com Simões et al. (2017), no ano de 2015 como consequência
da crise econômica venezuelana, muitos se deslocaram para outros países,
tanto para rotas clássicas da migração venezuelana, como Estados Unidos e
Espanha, como também surgindo novas caminhos através de países de fronteira
da América Latina a exemplo do Brasil.
Outro fator que pode ter contribuído para o aumento de partos no
HMINSN foi o crescente índice de mortalidade materna em território venezuelano
que em 2016 aumentou em 65% e também o aumento de mortalidade infantil
que aumentou em 30% naquele ano, logo como forma de dar continuidade nas
gestações de forma segura e sem riscos muitas mulheres se locomoveram na
busca de melhores condições de parto (HRW, 2019).
De acordo com portal de notícias Carta Capital, desde 2017, o governo
venezuelano não emite dados oficiais sobre as condições de saúde do território.
Os últimos dados emitidos pelo ministério de saúde venezuelano apresentaram
elevado índice de mortalidade infantil em um período de 5 anos bem como
elevado índice de mortalidade materna além de problemas graves como
doenças que podem ser erradicadas com vacinas e o aumento de doenças
infecciosas como tuberculose e malária.
Segundo Topa et al. (2013), mulheres migrantes documentadas e
mulheres migrantes indocumentadas recebem cuidados mais tardios em relação
a mulheres autóctones e por consequência apresentam altos índices de
complicações resultando em altas taxas de mortalidade fetal e neonatal e de
mães que sofrem com um maior número de patologias durante a gravidez
(doenças infecciosas).
Neste ponto será apresentado o total de mulheres migrantes
venezuelanas atendidas no HMINSN, estratificadas por faixa etária conforme
classificação do IBGE (Tabela 02).
29
Tabela 02 – Total de mulheres migrantes venezuelanas por faixa etária, 2010-
2019
FAIXA 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
ETÁRIA
10-14 02 01 00 00 03 03 08 06 16 26
15-19 10 01 00 24 46 78 58 145 541 858
20-24 23 03 00 25 50 64 105 298 861 1466
25-29 13 01 00 16 37 55 108 139 625 972
30-34 07 03 00 15 22 20 42 92 279 484
35-39 03 01 00 08 20 18 29 77 149 241
40-44 03 00 00 03 02 02 13 25 39 87
45-49 00 00 00 00 00 01 06 08 08 21
50-54 01 02 00 00 00 01 00 03 02 09
55-59 00 00 00 00 01 00 00 00 01 07
60-64 00 00 00 00 00 00 00 00 01 00
65-69 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00
70-74 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00
75-79 00 00 00 00 00 00 00 00 00 01
80-84 00 00 00 00 00 00 00 00 00 01
TOTAL 83 15 00 98 197 259 379 934 2547 4205
** Dados inferiores à faixa etária 10-14 anos foram retirados da análise visto que o público comportado dentro dessa
faixa de idade não é atendido pelo Hospital Materno Infantil Nossa Senhora De Nazaré.
Fonte: Autoria própria (2020)
Foi possível identificar que a faixa etária entre 20-24 (n=1446) e 25-29
(n=972) foram as que mais apresentaram o quantitativo de atendimentos de
mulheres.
Sobre isso destacam-se os achados similares da pesquisa realizada por
Simões et al. (2017) onde identificaram que a migração venezuelana no estado
de Roraima é predominantemente jovem, situada na faixa etária entre 20 a 39
anos.
E seguindo a mesma lógica em uma pesquisa feita pela OIM realizada
no ano de 2018, com migrantes venezuelanos foi possível identificar que a
maioria dos entrevistados eram jovens e adultos sendo a maioria mulheres
gravidas em faixa etária de 18 e 25 anos de idade.
30
8.2 CONDIÇÃO CLÍNICA DAS MIGRANTES VENEZUELANAS
31
Segundo achados de Barreto et al. (2018) foi perceptível o aumento de partos
de mulheres venezuelanas no único hospital maternidade do estado de Roraima
principalmente no período de 2016-2018.
De acordo com Valença (2019) também se destacam similaridades
quanto a busca de mulheres venezuelanas por condições adequadas de parto e
de sobrevivência no município de Boa Vista onde encontrou um aumento de 30%
de nascimentos em relação aos anos anteriores.
Já nos anos de 2018-2019 foram registrados n=1083 e n=2035 partos,
respectivamente, e novamente com predominância de PV em cada ano. Em
estudo realizado por Castro et al. (2015) culturalmente mulheres migrantes
tendem a ter experiências de parto diferente, visto que conforme a região e
cultura do local onde vivem mulheres migrantes optam por ter seus filhos de
forma diferente no que tange as vias de parto ou no processo de partejar.
Outro viés que pode influenciar no quantitativo de partos via vaginal é o
custo que é colocado sob cada gestante. Segundo achados de Oliveira et al.
(2014) os custos de um parto normal realizado na Casa de Parto no município
de Rio de Janeiro eram relativamente baixo comparados a partos cesáreas de
outros hospitais da região, dessa forma os custos economizados em cada parto
poderiam ser convertidos para outras áreas ou setores do hospital.
É incontestável que o número de partos por cesárea é significativamente
baixo evidenciando assim que migrantes venezuelanas podem apresentar
condições clinicas favoráveis demostrando assim um paradoxo epidemiológico
onde mulheres migrantes apresentam melhores condições de parto que surgem
como efeito do trabalho das redes de apoio ou familiares informais (ALMEIDA;
CALDAS, 2012).
Em levantamento realizado por Machado et al. (2007) na cidade de
Coimbra identificou-se que o quantitativo de partos cesárea e de prematuridade
eram relativamente menores em mulheres migrantes comparado a mulheres
portuguesas residentes de Coimbra.
Destacam-se achados similares na pesquisa de Castro et al. (2015) onde
foi possível identificar que mulheres migrantes bolivianas, que eram atendidas
em uma maternidade pública de São Paulo, sempre demostraram maior
interesse em realizar o parto natural diferente de mulheres brasileiras que já
chegavam pedindo pelo parto cesárea. Tal situação ainda é explicada no estudo
32
pois de acordo com a autora as mulheres migrantes bolivianas tinham mais
facilidade para aceitar que a única dor que teriam seria no momento no pré parto
e que após o nascimento as dores e a recuperação seriam mais rápidas.
Dando continuidade à discussão acerca das condições clínicas das
migrantes venezuelanas os dados a seguir referem-se aos cinco diagnósticos
que mais foram registrados no período de 2010-2019 apresentados conforme
colocação, descrição e grupo CID 10 a qual pertencem (Tabela 04).
33
Já no segundo colocado temos o diagnóstico de Falso trabalho de parto,
não especificado (CID O47.9) descrito como “Outros motivos de assistência à
mãe relacionados à cavidade fetal e amniótica, e possíveis problemas de parto”.
De acordo com estudo realizado por Felix et al. (2019) de 100 puérperas
que participaram da pesquisa observou-se que desse total 68 mulheres não
sabiam identificar sinais que antecedem o trabalho de parto, dessa forma torna-
se imprescindível que os profissionais de saúde saibam diferenciar os tipos de
trabalho de parto e orientar as parturientes quanto as diferenças de cada tipo.
Seguindo as orientações, aqui destaca-se a dificuldade que permeia a
comunicação entre mulher migrante venezuelana e a equipe de saúde posto que
o espanhol é o idioma oficial da Venezuela, sendo assim falado pelas migrantes
venezuelanas que terão dificuldade em compreender o conteúdo que é
repassado pelo profissional que a acolhe.
Segundo Nascimento e Barreto (2020), durante o atendimento a
migrantes venezuelanas no HMINSN de Boa Vista/RR, a comunicação foi tida
como a principal barreira existente para que pudesse ser realizado assistência
adequada, também foi identificado que poucos eram os profissionais que tinham
conhecimento da língua espanhola e que a instituição pouco estimulava ou
oferecia capacitação para esses profissionais. Todavia, técnicas ou ferramentas
eram utilizadas pelos profissionais como forma de lidar com essa barreira.
Outro estudo que corrobora com os achados anteriores é o de Barbosa
et al. (2020). Segundo os autores, em atendimentos realizado no HMINSN de
Boa Vista/RR foi possível identificar que muitos profissionais tiveram dificuldade
de se comunicar com as pacientes venezuelanas de forma que muitos não
conseguiam transmitir estratégias terapêuticas e práticas adequadas para o
período de parto.
Dando continuidade à análise da tabela, em terceiro lugar identificamos
o diagnóstico Obstrução do trabalho de parto, não especificado (CID O66.9)
descrito como “Trabalho de parto obstruído”. Segundo a OMS (2005) a obstrução
do trabalho de parto é um dos principais causadores do trabalho de parto
prolongado que demasiadamente causa grande sofrimento materno e fetal além
de expor a parturiente ao grande risco de infecções causadas pelo maior número
de toques vaginais e procedimentos invasivos.
34
Naturalmente, a vulva e a vagina possuem microbiota própria,
diversificada e sensível a alterações sendo assim o toque vaginal representa alto
risco de infecção no período de parto. Em achados de Maranhão et al. (1992), o
contato excessivo entre a mucosa da vagina e o dedo do examinador é o
momento de maior risco para infecções durante o parto e pós-parto.
Na sequência, em quarto lugar temos o diagnóstico de Infecção
puerperal (CID O85) descrito “Complicações predominantemente relacionadas
ao puerpério e outras afecções obstétricas, não classificadas em outra parte” e
por último o diagnóstico de anemia não especificada (D64.9) descrito em “Outras
anemias”.
Segundo Barbosa e colaboradores (2020), o cenário de problemas na
saúde materna e neonatal só não é pior nos hospitais de Roraima devido à
recente estratégia de implantação do posto de triagem na fronteira entre
Pacaraima e Venezuela, que entre os serviços ofertados, realiza a imunização
dessas mães evitando assim o risco de algumas infecções que podem ser graves
na gravides. De certo modo tal estratégia ameniza os riscos na gravidez,
entretanto não suprem as estratégias utilizadas pelo pré-natal.
Cuidados de pré-natal adequados são determinantes de grande
significância para uma gestação, parto e período perinatal seguro. A não
realização desses cuidados acarreta em complicações que geram grande
sofrimento, seja ele materno ou fetal. Outro fator que configura a qualidade do
total de atendimentos é a identificação de infecções ou de doenças crônicas que
nesse período representam grande risco.
De acordo com estudo realizado por Machado et al. (2007) mulheres
migrantes que apresentavam menos de seis consultas de pré-natal tiveram
maiores complicações na gestação e por consequência apresentaram altos
índices de mortalidade e prematuridade. Ainda no mesmo estudo foi identificado
valores significativamente altos de doenças infecciosas que poderiam ter sido
tratadas nas consultas de pré-natal.
Em estudo realizado por Costa, Souza e Barreto (2020) sobre perfil
sociodemográfico e acompanhamento gestacional das puérperas migrantes
venezuelanas em condições de abrigamento na cidade de Boa Vista-RR,
constatou-se que de 65 migrantes venezuelanas entrevistadas, 32,3% (n=21)
não realizaram nenhuma consulta de pré-natal enquanto que 23,1% (n=15)
35
realizaram duas consultas e 1,5% (n=1) realizaram apenas uma consulta,
demostrando assim baixo índice de adesão ao pré-natal e de serviços realizados
durante a assistência como suplementação de sulfato ferroso, ácido fólico e
testagem IST e Hepatites virais.
Traçando um comparativo com as principais causas de internações
obstétricas no Brasil, os diagnósticos de infecção puerperal (CID-O85), falso
trabalho de parto (CID-O47.9) e obstrução do trabalho de parto, não
especificados (CID O66.9) aparecem em outros estudos como principais causas
de internação.
Em achados de Moura et al. (2018) que buscou investigar os motivos de
internações obstétricas no município de São Paulo, foi possível averiguar que
das internações registradas, os diagnósticos mais prevalentes foram causados
por complicações obstétricas como infecções, doenças hipertensivas, diabetes
e hemorragias que correspondem às causas mais frequentes de mortalidade
materna no Brasil.
Outro estudo que corrobora com a suposição de similaridades quanto
aos diagnósticos é o de Veras e Mathias (2014) que verificou todas internações
das mulheres no Paraná e constatou que no ano de 2010, 24,1% (n=2337)
mulheres foram internadas por motivo de obstrução do trabalho de parto, 23,9%
(n=1502) por falso trabalho de parto e outras 4,2% (n=1467) por afecções
obstétricas.
36
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
37
REFERÊNCIAS
38
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NYGREN-KRUG, H. International Migration, Health and Human Rights.
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questão de cidadania e inclusão. Lisboa: ISCTE-IUL, 2016.
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43