Você está na página 1de 43

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO BACHAREL EM ENFERMAGEM

LUCAS RODRIGUES GACEMA

PERFIL SOCIOEPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DE MULHERES MIGRANTES


VENEZUELANAS ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE NO EXTREMO NORTE
DO BRASIL

BOA VISTA, RR
2020
LUCAS RODRIGUES GACEMA

PERFIL SOCIOEPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DE MULHERES MIGRANTES


VENEZUELANAS ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE NO EXTREMO NORTE
DO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Enfermagem do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal
de Roraima como pré-requisito para
obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem.

Orientadora: Prof.ª Ma. Tarcia Millene de


Almeida Costa Barreto

BOA VISTA, RR
2020
A minha família,
Pai, Mãe e Irmão sem vocês não teria eu ido tão longe
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me permitir chegar até aqui.

Agradeço também a minha mãe Rosiane Rodrigues, mulher batalhadora,


persistente e guerreira a qual sempre fez de tudo para criar os seus dois filhos sem
nunca demostrar fraqueza ou desmotivação lhe dedico aqui essa conquista, agradeço
também ao meu falecido pai Benaly Gacema que sempre sonhou com seus filhos
estudando em uma faculdade também lhe dedico aqui essa conquista. E por último,
mas não menos importante ao meu irmão Messias Rodrigues que me acompanhou
nessa jornada saiba que torço pelo seu sucesso.

Dedico também esse agradecimento a minha orientadora Profª Ma. Tarcia Millene
de Almeida Costa Barreto que me ajudou nessa jornada sempre disposta e paciente
também aos meus professores do curso de Bacharelado em Enfermagem da
Universidade Federal de Roraima.

Dedico também esse trabalho aos meus amigos em especial à Jaqueline, Icaro,
Thais e Steffanie que sempre estiveram comigo nessa jornada carregada de muito
choro, desespero, conquistas, risos e um pouco de 51 ouro.

Não poderia esquecer-me também obrigado Manuela e Kelyhorrara por sempre


estarem comigo quando precisei e também minhas companheiras do ILE – Dhuly,
Leydnara, Sara, Kimberli, Juliana e Rayana (bendito fruto entre as mulheres)
obrigado a todas por me aguentarem e por terem feito dessa caminhada mais fácil e
que independente do futuro sei que serão ótimas profissionais de saúde. E por último,
mas não menos importante a todos aqueles colegas que me acompanharam e de
alguma forma me ajudaram nessa trajetória.
RESUMO

O processo de migrar é considerado como potencial fator de risco para à saúde dos
migrantes principalmente para mulheres em condições puerperais, essa relação de
condições de saúde da mulher e assistência puerperal pode ser bem observada no
cenário de mulheres migrantes venezuelanas na cidade de Boa Vista/RR região onde
percebe-se crescente índice de partos e consultas pós-parto na maior maternidade do
estado. Logo o presente estudo tem como principal objetivo realizar a caracterização
epidemiológica e clínica de mulheres atendidas no Hospital Materno Infantil Nossa
Senhora de Nazareth. Trata-se de um estudo ecológico de caráter descritivo e
abordagem quantitativa, utilizando dados secundários compostos por dados
presentes na Autorização de Internação Hospitalar e Sistema de Informações de
Nascimento de mulheres migrantes de nacionalidade venezuelana com faixa de idade
que atenda condições gineco obstétricas, que realizaram parto ou buscaram algum
tipo de assistência no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth
(HMINSN). Os dados foram coletados e organizados conforme variáveis propostas
pela pelo estudo. Os resultados mostraram que a partir de 2014 tivemos um aumento
do total de partos e que durante os anos de 2018 (n=2547) e 2019 (n=4205) foram
registados os maiores quantitativos de partos realizados e que a faixa etária entre 20-
24 (n=1476) e 25-29 (n=972) anos, foram as que mais apresentaram o quantitativo de
atendimentos de mulheres. Quanto ao total de partos estratificados por tipo, foi
perceptível a prevalência de partos vaginais com relação ao cesárea. A hipótese do
estudo foi parcialmente confirmada, uma vez que foi identificado que às mulheres
migrantes venezuelanas estão em sua maioria em idade laboral. No que se refere a
condições clinicas dessas mulheres o quantitativo de parto vaginal se sobressaiu
comparado ao parto cesárea, indicando condição clínica favorável para evolução sem
distorcia do trabalho de parto, consideramos também que resultados obtidos neste
estudo não esgotam o tema, uma vez que o possui outras linhas de análises.

Palavras chaves: Emigração e Imigração. Saúde da mulher. Políticas públicas.


RESUMEN

El proceso de migración se considera un factor de riesgo potencial para la salud de


los migrantes, principalmente para las mujeres en condiciones puerperales, esta
relación de la salud de la mujer y la atención puerperal puede observarse bien en el
escenario de las mujeres migrantes venezolanas en la ciudad de Boa Vista/RR región
donde hay una creciente tasa de nacimientos y consultas posparto en la mayor
maternidad del estado. Por lo tanto, el objetivo principal del presente estudio es
realizar la caracterización epidemiológica y clínica de las mujeres atendidas en el
Hospital Materno Infantil Nuestra Señora de Nazareth. Se trata de un estudio
ecológico de carácter descriptivo y de enfoque cuantitativo, utilizando datos
secundarios compuestos por los datos presentes en el Sistema de Información de
Autorizaciones de Internación y Parto de mujeres migrantes de nacionalidad
venezolana con rango de edad que atienden condiciones gineco-obstétricas, que han
dado a luz o han buscado algún tipo de asistencia en el Hospital Materno Infantil
Nuestra Señora de Nazaret (HMINSN). Los datos se reunieron y organizaron según
las variables propuestas por el estudio. Los resultados mostraron que a partir de 2014
se produjo un aumento en el número total de partos y que durante los años 2018
(n=2547) y 2019 (n=4205) se registró el mayor número de partos y que el grupo de
edad entre 20-24 (n=1476) y 25-29 (n=972) años, fueron los que tuvieron un mayor
número de mujeres. En cuanto al número total de partos estratificados por tipo, la
prevalencia de los partos vaginales en relación con la cesárea fue notable. La hipótesis
del estudio se confirmó parcialmente, ya que se identificó que las mujeres migrantes
venezolanas están en su mayoría en edad de trabajar. En cuanto a las condiciones
clínicas de estas mujeres, destacó la cantidad de partos vaginales en comparación
con la cesárea, lo que indica una condición clínica favorable para la evolución sin
distorsión del parto, también consideramos que los resultados obtenidos en este
estudio no agotan el tema, ya que tiene otras líneas de análisis.

Palabras clave: Emigración e inmigración. La salud de las mujeres. Políticas públicas.


LISTA DE SIGLAS

ACNUR. Alto Comissários das Nações Unidas para Refugiados


AIH. Autorização de Internação Hospitalar
GIGM. Gabinete Integrado de Gestão migratória
HMINSN. Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré
IST. Infecções sexualmente transmissíveis
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OA. Operação Acolhida
OIM. Organização Internacional para Migrações
OMS. Organização Mundial de Saúde
PIB. Produto Interno Bruto
SINASC. Sistema de Informações de Nascimento
SIH/SUS. Sistema de Internações Hospitalares do SUS
SUS. Sistema Único de Saúde
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Localização geográfica de Roraima e fronteiras.


......................................................................................................................19
Figura 02 Imigrantes dormindo em praça pública do município de Boa Vista/RR.
......................................................................................................................20
Figura 03 Evolução do total de atendimentos realizados a migrantes venezuelanas no
HMINSN, 2010-2019.

..................................................................................................................... 27
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Tipos de migrante conforme classificação de Nygren Krug.


...................................................................................................... 17
Tabela 02 Total de mulheres migrantes venezuelanas por faixa etária, 2010-
2019.
...................................................................................................... 30
Tabela 03 Total de partos estratificados por tipo, 2010-2019.
...................................................................................................... 31
Tabela 04 Diagnósticos prevalentes na internação de migrantes venezuelanas
classificados por grupo CID-10, 2010-
2019.....................................................................................................
33
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2 PROBLEMA ........................................................................................................... 15

3 HIPÓTESE ............................................................................................................. 15

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15

4.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 15

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 15

5 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 16

6 REFERENCIAL TEMÁTICO .................................................................................. 17

6.1 CONTEXTOS DA MIGRAÇÃO VENEZUELANA ............................................. 17

6.2 SAÚDE E MIGRAÇÃO ..................................................................................... 21

6.3 A MULHER COMO PROTAGONISTA NO PROCESSO DE MIGRAÇÃO E AS


CONSEQUÊNCIAS DESSE EVENTO ................................................................... 22

7 METODOLOGIA .................................................................................................... 24

7.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................... 24

7.4 POPULAÇÃO ................................................................................................... 24

7.5 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 25

7.6 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................... 25

7.7 ASPECTOS ÉTICOS ....................................................................................... 25

8 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 27

8.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO ..................................................................... 27

8.2 CONDIÇÃO CLÍNICA DAS MIGRANTES VENEZUELANAS........................... 31

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 37

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 38
1 INTRODUÇÃO

O evento migratório é algo que já está intrínseco na civilização do


mundo, e relatos históricos podem confirmar tal processo, como na América
Latina, que durante os séculos XIX e XX, ocorreu a Grande Imigração, e
posteriormente com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), diversos migrantes
provenientes da Europa moveram-se em direção as Américas (RODRIGUES;
SILVA, 2017).
De acordo com Miranda (2011), durantes os anos de 60 e 70 o processo
de migração internacional era predominante pelos indivíduos do sexo masculino,
mas esse fato foi mudando com o passar dos anos, sofrendo influência com as
alterações ocorridas com a globalização, a acentuada procura pela mão de obra
feminina, a intensa busca pelo trabalho feminino e a progressiva aceitação social
de sua autonomia financeira e mobilidade.
Dados revelam que atualmente, o quantitativo de mulheres corresponde
à metade da população mundial de migrante, sendo aproximadamente 95
milhões, e na União Europeia elas correspondem a 54% da população total de
migrantes. Se for realizado uma comparação entre as mulheres migrantes e as
que já habitam no local anteriormente, será perceptível que as primeiras
possuem parâmetros inferiores de saúde do que as outras, com relação a morte
materna, perinatal e infantil, prematuridade, baixo peso ao nascer, índice de
casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e o predomínio de
violência contra as mulheres (TOPA; NOGUEIRA; NEVES, 2010).
Assim, as questões de gênero, aliadas a características étnicas, etárias,
culturais, socioeconômicas, estão diretamente relacionadas às condições de
saúde e condicionam diferentes formas de discriminação, afetando
diferentemente à saúde das mulheres migrantes. É importante destacar que as
mulheres tendem a enfrentar esse processo de uma forma mais nociva por
serem consideradas mais frágeis quando são expostas a discriminação, isso
quando se compara ao homem migrante, e indo mais fundo sobre essa temática
nota-se que algumas são mais vulneráveis do que outras (TOPA; NEVES;
NOGUEIRA, 2013).

13
As situações de saúde-doença são disseminadas na sociedade por meio
de processos de determinação social, econômica, cultural, ambiental, política
etc. Este entendimento vem se fazendo presente na formulação de políticas e
estratégias, e abordagens intersetoriais em direção à saúde. Na busca de
condições melhores de saúde e para redução de iniquidades, deve-se analisar
os determinantes sociais e ambientais envolvidos (CARVALHO, 2013).
Compreende-se que, a apropriada saúde coopera para outras primazias
sociais como o bem-estar, a educação, a coesão social, a preservação do meio
ambiente, o aumento da produtividade e o desenvolvimento econômico. Isso
provoca um “(...) “círculo virtuoso” no qual a saúde e os seus determinantes se
retroalimentam e se beneficiam mutuamente (...)” (CARVALHO, 2013, p.21).
Dessa forma, determinantes de saúde, acessibilidade e estado de saúde
dessas populações é demonstrado por desigualdades e parcialidades, maior
risco para agravos e doenças, incluindo ainda a falta de informação sobre a
migração feminina e suas peculiaridades, o que é intensificador desses fatores,
e isso reflete na saúde sexual e reprodutiva desse público, que continuam sendo
mais vulneráveis, inclusive no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde,
pois precisam de serviços específicos, como os serviços voltados à saúde sexual
e maternidade, saúde e assistência às crianças. Cuidados esses que enfrentam
dificuldades além do acesso, mas também de continuação (TOPA, 2016).
Segundo Almeida e Caldas (2012), a migração em si constitui-se como
um fator de risco afetando, entre outros aspectos, o período gravídico das
mulheres, evidenciado pela ausência ou início tardio do pré-natal, expansão de
procedimentos cirúrgicos e assistência pós-parto de baixa qualidade, tendo
como barreiras o período de espera por atendimento nos serviços de saúde,
barreira linguística e de locomoção, a qualidade e equidade dos atendimentos.
Essa relação entre a gestação e a assistência à saúde para as migrantes
venezuelanas, na cidade de Boa Vista, é tida como um desafio para o serviço de
saúde. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima (2018) foram
contabilizados 566 partos de venezuelanas realizados na maternidade local no
ano de 2017, e 253 partos no primeiro trimestre de 2018. E muitas dessas
mulheres residem em locais improvisados na rua, fato que prejudica o curso da
gestação, bem como a manutenção da saúde após o parto tanto para mãe
quanto para o recém-nascido (SESAU, 2018).

14
Diante desse contexto, através da percepção do desafio que é a
manutenção da saúde destas migrantes, surge conhecermos qual o perfil
sociodemográfico e clínico das mulheres migrantes venezuelanas atendidas na
maior maternidade do estado de Roraima nos últimos 10 anos?

2 PROBLEMA

Qual o perfil demográfico e clínico das mulheres migrantes


venezuelanas atendidas na maior maternidade do estado de Roraima nos
últimos 10 anos?

3 HIPÓTESE

Diante das condições já apresentadas acredita-se que as mulheres


migrantes que se deslocam e que integram as rotas migracionais entre
Venezuela e Brasil são mulheres jovens que podem integrar o mercado de
trabalho e em sua maioria mães ou mulheres em período gestacional que
buscam em outros países dar continuidade na gestação de forma segura e
acessível, entretanto sabe-se que como mulher e migrante diversos são os
fatores que contribuem para a inacessibilidade dessas nos serviços de saúde
logo resultando em partos e condições clinicas insatisfatórias nesse público.

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Realizar a caracterização social, epidemiológica e clínica de mulheres


migrantes venezuelanas assistidas em uma maternidade no extremo norte do
Brasil.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Descrever o perfil sociodemográfico das mulheres migrantes;


II. Relacionar as principais causas de internação das mulheres
migrantes;

15
III. Identificar o tipo de parto predominante entre migrantes
venezuelanas.

5 JUSTIFICATIVA

Durante os estágios realizados no Hospital Materno Infantil Nossa


Senhora de Nazaré (HMINSN) do município Boa Vista - Roraima e nas atividades
extramuros com migrantes venezuelanos realizadas com apoio da Universidade
Federal de Roraima e Ligas Acadêmicas, foi possível constatar o grande
quantitativo de mulheres em período gestacional que apresentavam condições
de saúde precárias exemplificado pela falta de condições básicas de higiene,
alimentação, número insuficiente de pré natais e ausência de vacinas essenciais
para o período perinatal.
Outro fator de suma importância foi o aumento significativo de partos de
migrantes venezuelanas no HMINSN, surgindo assim o interesse pelo estudo
para que, em cenários futuros, seja possível fomentar a criação de políticas
públicas para essas mulheres além de contribuir para novas pesquisas que
abranjam o fluxo migratório dessas mulheres no campo da saúde materna das
mulheres migrantes em especial mulheres migrantes venezuelanas.

16
6 REFERENCIAL TEMÁTICO

6.1 CONTEXTOS DA MIGRAÇÃO VENEZUELANA

Segundo Dias e Gonçalves (2007), na história da humanidade sempre


existiram deslocamentos migratórios de pessoas dentro ou fora dos seus países
de forma que sempre foram motivadas por condições ambientais, sociais ou
políticas e que o impacto desses deslocamentos tem se tornado objeto de muitos
estudos que avaliam os impactos dos mesmos nos locais de acolhimento.
Segundo proposta de Nygren-Krug (2003) foram classificados cinco
perfis de migrantes (Tabela 01) que auxiliam melhor a compreensão dos novos
deslocamentos migratórios.

Tabela 01 – Tipos de migrante conforme classificação de Nygren Krug


Migrantes econômicos: pessoas que saem do seu lugar normal de vivencia para em busca
de melhoria de qualidade de vida. Agrega desde migrantes trabalhadores de longa permanecia
a migrantes do tipo temporários e sazonais. Os trabalhadores fronteiriços são migrantes que
mantêm o seu país de residência, mas que trabalham num país de fronteira, voltando diária
ou mensalmente
Emigrantes econômicos: pessoas que saem do seu lugar normal de vivencia para em busca
de melhoria de qualidade de vida. Agrega desde migrantes trabalhadores de longa permanecia
a migrantes do tipo temporários e sazonais. Os trabalhadores fronteiriços são migrantes que
mantêm o seu país de residência, mas que trabalham num país de fronteira, voltando diária
ou mensalmente
Requerentes de asilo: pessoas com medo de perseguição por motivos diversos tais como
raça, religião, nacionalidade, pertencentes a um grupo social ou não ou de opinião política
contraria, se o medo for comprovadamente baseado em ameaças concretas, o candidato
recebe status de refugiado.
Imigrantes indocumentados/irregulares: migrantes sem status legal devido a entrada
irregular.
Deslocados: pessoas que fogem de conflitos armados ou desastres naturais ou provocados
pelo homem e os seus efeitos. Este conceito abrange especialmente a pessoas deslocadas
dentro das fronteiras do país de origem.
Fonte: reprodução de Nygren Krug (2003)

Entender os perfis de migrantes torna-se essencial para compreender a


forma que o fluxo migratório se apresenta e o impacto do mesmo nos espaços,
principalmente os novos fluxos que vem surgindo ao redor do mundo.
Os municípios de fronteira do Brasil têm encontrado grande dificuldade
em prover atenção integral de saúde a seus municípios. A falta de recursos
humanos qualificados, insumos e equipamentos e planejamento vem sendo as
principais discussões levantadas por gestores de saúde de forma que devido à

17
ausência de políticas a população (migrante) que flutua entre fronteiras, acaba
sendo prejudicada (GADELHA; COSTA, 2007).
Seguindo a lógica anterior o Sistema Único de Saúde (SUS), atualmente
tem feito o repasse financeiro levando como critério o per-capita, e não é
contabilizada o público itinerante (migrante) beneficiado pelo SUS, dessa forma
percebe-se o agravamento da situação do migrante nos serviços de saúde e
consequentemente não temos repasse adequado que sustente a demanda
desse público que vem crescendo com o decorrer do tempo, logo os serviços de
saúde não apresentam contingenciamento necessário para atender os públicos
que necessitam desses espaços de cuidar. (CARVALHO, 2014).
Como exemplo dessa situação de relação entre fronteiras, temos o
espaço de fronteira entre o Brasil e a Venezuela que também vem sendo afetado
pelo processo de migração em virtude de vários aspectos, como a inovação de
tecnologias de transporte, fluxo de mercadorias (legais ou ilegais) e pessoas,
sejam elas turistas, moradores de fronteiras, migrantes (legais ou ilegais) ou
trabalhadores migrantes, de certo a relação presente nesse espaço
principalmente os espaços de fronteira sofrem com alterações principalmente ao
que se refere cuidados em saúde (RODRIGUES, 2006).
Nos últimos anos, a Venezuela vem passando por uma grande crise
econômica, social e política que tem sido reconhecida por muitos da comunidade
internacional e, como consequência, a população venezuelana tem enfrentado
uma generalizada ausência de bens comuns como alimentação, moradia e
acesso a serviços de saúde (MILESI et al, 2018).
Segundo relatório realizado pela Human Rights Watch (2019), a
Venezuela vem sofrendo uma crise de saúde desde meados de 2012, piorando
drasticamente em 2017 com os apagões que eram recorrentes nas cidades
venezuelanas que de forma direta dificultavam assistência nas redes
hospitalares.
De acordo com os dados da Organização Internacional para Migrações
(OIM), o número de migrantes venezuelanos no exterior aumentou de 700.000
para mais de 1.6000.000 onde, só no Brasil, 32.744 solicitaram refúgio e outros
27.804 obtiveram autorização de residência somando assim mais de 60.000
migrantes registrados pelas autoridades migratórias brasileiras até maio de 2018
(IOM, 2018; UNHCR, 2018).

18
Com o início da migração muitos indivíduos venezuelanos se
deslocaram para o estado de Roraima adentrando através do município
fronteiriço de Pacaraima e seguindo jornada para as outras cidades do estado
como Boa Vista/RR (Figura 01):

Figura 01 - Localização geográfica de Roraima e fronteiras

Fonte: Google Maps (2020)

Roraima é o estado brasileiro com menor população e também com


menor participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Em meados de 2017
tornou-se evidente a falta de condições locais para abrigar, acolher e oferecer
alternativas de trabalho a um número tão grande de pessoas migrantes logo, em
tão pouco tempo, foi possível encontrar grandes grupos populacionais de
migrantes habitando locais públicos insalubres que não ofereciam condições de
saúde adequada (SIMÕES et al. 2017; BAENINGER et al. 2018; MILESI et al,
2018), conforme ilustrado pela figura 02.

19
Figura 02 – Imigrantes dormindo em praça pública do município de Boa
Vista/RR

Fonte: Revista Isto é (2018)

A migração venezuelana nesse período acaba sendo transmitida de


forma negativa pelos meios de comunicação e pelas autoridades locais de modo
que esse deslocamento vem sendo posto como causador de colapso no sistema
de saúde estadual, entretanto sabe-se que os serviços de saúde do estado já
sofrem com a falta de estrutura há muito tempo (BARRETO et al, 2018).
Em 2016 com agravamento da migração no estado de Roraima o
governo estadual criou como resposta o Gabinete Integrado de Gestão
Migratória (GIGM) que tinha como principal objetivo buscar eficiência e melhoria
de resposta dos serviços de saúde integrados ao SUS, dessa forma foi criado o
Plano integrado de Gestão Migração (RORAIMA, 2016).
Em janeiro de 2017 foi assinado o Plano Integrado de Ação para Saúde
dos Migrantes no estado de Roraima que objetivou manter assistência adequada
aos migrantes e continuar os atendimentos da população do Estado de Roraima
(GNDH, 2018).
Já no ano de 2018, o Governo Federal com apoio do Alto Comissários
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e de outras 100 agências da ONU
e entidades civis, criaram a Operação Acolhida (OA) que tem como principal
objetivo prestar assistência humanitária através de três eixos programáticos:
ordenamento da fronteira; acolhimento e “interiorização”, que envolve deslocar
o migrante e familiares para outras regiões do Brasil (ACNUR, 2020).
Das ações em saúde organizadas pela OA foram implantados os postos
de triagem em saúde localizados na fronteira da Venezuela com Pacaraima que
tem por finalidade atendimentos de emergência e clínica geral além de ações

20
implantadas nos abrigos como campanhas de bloqueio e imunização (GNDH,
2018).

6.2 SAÚDE E MIGRAÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1984, definiu saúde como


“Um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente
ausência de afecções e enfermidades”, assegurando também que seja um
direito fundamental e universal, que deve ser oferecido a todos sem distinção de
raça, cor, gênero ou condições socioeconômicas.
Deste modo, para que o indivíduo apresente condições de saúde
satisfatórias são necessários alguns determinantes essenciais em saúde que
segundo a OMS podem ser exemplificados a seguir: moradia, alimentação,
educação, os meios econômicos adequados, ambiente, justiça social e equidade
(WHO, 1984). Logo, com a ausência desses condicionantes o indivíduo torna-se
vulnerável e suscetível ao processo de adoecer (CSDH, 2007).
Com o cenário apresentado anteriormente percebe-se que o migrante é
condicionado nesse espaço de vulnerabilidades principalmente os recém-
chegados nos locais de acolhimento, vale ressaltar que a migração não é um
acontecimento recente da sociedade moderna, estando presente desde os
primórdios e sendo agente de grande repercussão (RAMOS, 2009; CIERCO,
2017).
Os migrantes internacionais apresentam grande variedade no que se diz
respeito ao perfil sociodemográfico (idade, sexo, escolarização) que associado
a condições sociais, habitacionais e conhecimento insatisfatório acerca do
sistema de saúde podem estar relacionadas diretamente a prevalência de
doenças que perpetuam nas mais diversas áreas clínicas dos serviços de saúde
(RAMOS, 2009; ROCHA et al, 2012).
Em alguns estudos sobre saúde e migração foi percebido que migrantes
têm maior suscetibilidade de apresentar doenças do tipo crônica e que em sua
maioria buscam auxilio hospitalar já em últimas situações, como em casos de
urgência e emergência ou em estágio avançado de doença (DIAS et al, 2007;
ROCHA et al, 2012; TOPA et al, 2013; GRANADA et al, 2017)

21
Referindo-se a mulheres migrantes estão mais suscetíveis a doenças de
caráter mental (depressão, esquizofrenia e estresse pós-traumático), infecções
sexualmente transmissíveis (HIV/Sida e hepatites virais), além de estarem mais
expostas a violência como vítimas sexuais (TOPA et al, 2013).
Seguindo a linha de dificuldades encontradas por mulheres migrantes,
essas também estão mais suscetíveis a procurarem unidades hospitalares mais
tardiamente. Em uma pesquisa realizada por Castro et al. (2015), foi possível
identificar que mulheres migrantes demoravam buscar os serviços por medo das
diferenças culturais, idioma e formas de partejar que poderiam surgir durante a
assistência e no parto.

6.3 A MULHER COMO PROTAGONISTA NO PROCESSO DE MIGRAÇÃO E


AS CONSEQUÊNCIAS DESSE EVENTO

Durantes os anos de 60 e 70, o processo de migração internacional era


predominado pelos indivíduos do sexo masculino, entretanto com os novos perfis
de migração as mulheres ganharam grande destaque nesse espaço. Dados
recentes mostram que o quantitativo de mulheres corresponde à metade da
população mundial de migrantes (TOPA; NOGUEIRA; NEVES, 2010; MIRANDA,
2011).
A globalização e as novas condições do mercado de trabalho foram
estímulos recorrentes para o recrutamento constante de mão de obra feminina,
ocasionando um aumento espontâneo do número de mulheres que migram em
busca de novas condições de vida (PIRES, 2002; UNFPA, 2006).
A partir do século XX, as questões de gênero e discussões acerca do
feminismo começaram a ser colocadas no domínio da migração, o que trouxe
maior visibilidade das mulheres nesse ambiente onde até então apenas se
enquadravam em termos das migrações familiares e não enquanto migração
autônoma. No que cerne à experiência de mulher migrante, discute-se também
que ela é única e vivida de várias formas, o que pode indicar um certo nível de
risco para a saúde física e/ ou mental das mulheres (TOPA; NOGUEIRA;
NEVES, 2010).
Algumas evidencias também apontam que as mulheres migrantes
apresentam muitos problemas em acessar os serviços de saúde em especifico

22
os que se direcionam aos cuidados de prevenção (preventivos e exames de
mama) ou a escassa utilização dos cuidados em saúde sexual e reprodutiva
(SCAGLIONE, 2016).
Quando comparadas com mulheres residentes do território, as mulheres
migrantes tendem a apresentar os piores índices de saúde (DIAS et al, 2009).
No caso das migrantes grávidas, dentre a generalidade, essas passam por
constrangimentos muito particulares, em termos de saúde e de violência
obstétrica (IOM, 2004).
Estudos demostram que, devido a soma de fatores complexos, mulheres
migrantes e ou grupos étnicos tendem a receber menor acompanhamento
necessário durante a gravidez, o parto e pós-parto e esses casos em sua maioria
podem ser justificados pelo fato de migrantes buscarem assistência em última
instancia resultando em maiores situações de riscos, dificuldade no tratamento
e em gastos maiores com cuidados (FONSECA et al, 2005; UNFPA, 2006;
TOPA, 2016; GRANADA, 2017).
Segundo Topa (2016), as mulheres migrantes estão diretamente
associadas a péssimas condições clinicas em saúde materna onde muitas
podem passar por experiências traumáticas explicadas pelas situações de risco
de infeção perinatal, maior mortalidade materna, infantil e aumento das taxas de
partos através de procedimentos cirúrgicos.

23
7 METODOLOGIA

7.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo ecológico de caráter descritivo e abordagem


quantitativa, utilizando dados secundários de domínio público, disponíveis online
no DATASUS.
Segundo Costa e Barreto (2003) o estudo ecológico tem como vantagem
a possibilidade de examinar associações entre exposição e doença/condição
não analisando apenas o indivíduo, mas sim um grupo populacional. Já o estudo
descritivo tem como objetivo estabelecer relação entre doenças e condições de
saúde respondendo as seguintes indagações: Onde? Quando? E quem?
adoece, podendo utilizar de dados epidemiológicos secundários.

7.2 LOCAL DA PESQUISA

Os dados foram colhidos do Sistema de Internações Hospitalares do SUS


(SIH/SUS) e Sistema de Informações de Nascimento (SINASC) referentes ao
período de 2010-2019.

7.3 POPULAÇÃO

Por ser tratar de dados secundários, a população do estudo foi composta


por dados presentes na Autorização de Internação Hospitalar (AIH) de mulheres
migrantes de nacionalidade venezuelana com faixa de idade que atenda
condições gineco obstétricas, que realizaram parto ou buscaram algum tipo de
assistência no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN)
no período compreendido de janeiro de 2010 a dezembro de 2019.
Destaca-se que a série temporal foi definida em 10 anos tendo em vista
que a amplitude garante uma compreensão de como o fenômeno migratório tem
afetado o sistema de saúde local em consequência da crive que ocorre em
território venezuelano.

24
7.4 COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada a partir do mês de outubro de 2020


levando em consideração a população do estudo. Os dados foram colhidos do
Sistema de Internações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e Sistema de
Informações de Nascimento (SINASC) referentes ao período de 2010-2019.
Foram coletados e investigadas variáveis:
a) Referentes ao local de residência: unidade federal, município que
reside.
b) Caráter demográfico: idade, nacionalidade.
c) Condição clínica: diagnóstico principal, tipo de parto.
Novamente ressalta-se que os dados foram obtidos através do SIH/SUS
e SINASC, sendo assim dados de caráter público utilizados nesse estudo para
fins científicos.

7.5 ANÁLISE DE DADOS

Após a coleta dos dados, os mesmos foram organizados em tabelas com


auxílio do software Microsoft Excel® 2019 e posteriormente analisados conforme
ferramenta tabela dinâmica, a qual é disponibilizada pelo software citado
anteriormente. Os dados também foram organizados em gráficos e tabelas
levando em consideração os resultados obtidos.
Para decodificação dos dados referentes a unidade federal e município
foram utilizadas informações geográficas de domínio público que podem ser
encontradas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os
relacionados a caracterização clínica (Diagnostico Principal) puderam ser
identificados conforme a Classificação Internacional de Doenças – CID 10.

7.6 ASPECTOS ÉTICOS

Dada às características da coleta de dados, disponíveis em plataforma


digital do Ministério da saúde e de domínio público, não foi necessária a
autorização do Comitê de Ética em Pesquisa para que se proceda com a
arrecadação das informações

25
Destaca-se que este estudo é parte integrante do projeto intitulado
“Migração Venezuelana: impactos na saúde de Roraima”, cadastrado na Pró
Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG – UFRR) sob registro 0672018,
com parecer aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres
humano (CEP-UFRR) sob registro 3.512.164.

26
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados deste estudo serão apresentados em dois tópicos, sendo o


primeiro o perfil demográfico da população e o segundo com o perfil de
atendimento realizados as mulheres migrantes venezuelanas, de forma que
atendem ao estabelecido nos objetivos específicos.

8.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO

Neste item são apontados os resultados encontrados relacionados ao


perfil sociodemográfico da população do estudo, trazendo variáveis relacionadas
a evolução do total de atendimentos realizados no HMINSN, como pode ser
observado na Figura 03.

Figura 03 - Evolução do total de atendimentos realizados a migrantes


venezuelanas no HMINSN, 2010-2019

4500 4205
4000

3500

3000
2547
2500

2000

1500
934
1000
379
500 197 259
83 15 0 98
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Nº de Mulheres 83 15 0 98 197 259 379 934 2547 4205

Fonte: Autoria própria (2020)

Ao analisar os dados expressos na figura acima, nota-se que nos três


primeiros anos foi possível identificar um número de atendimentos a migrantes
venezuelanas relativamente baixo, quando comparado aos anos posteriores. No
ano de 2010, 83 mulheres foram atendidas pelo HMINSN, já no ano seguinte
observamos uma queda de internações com o total de 15 mulheres. No ano de
27
2012, não foram encontrados registros de atendimento, reaparecendo em 2013
com o total de 98 atendimentos registrados.
Podemos atribuir esses atendimentos nos três primeiros anos como
atendimentos relacionados ao vínculo transfronteira que existe entre
Roraima/Venezuela que de certo modo facilita o atendimento de saúde ao
migrante em território brasileiro.
Para Rodrigues (2006), as fronteiras entre Venezuela e Brasil
possibilitaram a construção de vínculos entre as regiões de modo que muitos
venezuelanos transitam entre Brasil e Venezuela na busca de serviços como os
de saúde e educação e da mesma forma acontece com brasileiros residentes do
município de Pacaraima que exploram da economia no país vizinho.
Em outro estudo realizado por Giovanella et al. (2007) também foi
possível identificar a utilização dos serviços de saúde por migrantes em
fronteiras, segundo resultados da pesquisa que foi realizada em 69 municípios
brasileiros, localizados na linha de fronteira entre Paraguai, Uruguai e Argentina
concluiu-se que 75% deles apresentavam uma demanda de atendimentos de
migrantes para atendimentos no SUS.
De acordo com Gadelha e Costa (2007), as populações residentes de
fronteiras são objetos importantes de fluxos migratórios, os quais sempre estão
se locomovendo entre os territórios de fronteira na busca de serviços e ações e
serviços de saúde, entretanto essa mobilidade tem resultado em grandes
dificuldades para os gestores de saúde que percebem um aumento gradativo
desses deslocamentos nas fronteiras.
Seguindo na análise da figura 04, observa-se que a partir do ano de 2014
tivemos um aumento de 31% dos atendimentos, onde foram registrados (n=197)
em 2014, seguido de n=259 no ano de 2015. Sobre os anos de 2016 e 2017
foram registrados n=379 e n=934 atendimentos respectivamente representando
assim um aumento de 64% nesse período de dois anos.
Nos últimos anos analisados (2018-2019) percebe-se um quantitativo
elevado de mulheres migrantes atendidas representando um aumento de 65%
nos últimos dois anos fator esse que pode ser explicado como o período onde
ocorreu maior fluxo de migrantes venezuelanos.
Segundo dados da ACNUR, entre os anos de 2014 e 2017, já era
possível somar mais de 22 mil solicitações de refúgio de venezuelanos no Brasil

28
sendo intensificado o fluxo durante o ano de 2017, quando ocorreram as eleições
presidenciais na Venezuela associado com aumento inflacional da economia
venezuelana (FGV/DAPP, 2018).
De acordo com Simões et al. (2017), no ano de 2015 como consequência
da crise econômica venezuelana, muitos se deslocaram para outros países,
tanto para rotas clássicas da migração venezuelana, como Estados Unidos e
Espanha, como também surgindo novas caminhos através de países de fronteira
da América Latina a exemplo do Brasil.
Outro fator que pode ter contribuído para o aumento de partos no
HMINSN foi o crescente índice de mortalidade materna em território venezuelano
que em 2016 aumentou em 65% e também o aumento de mortalidade infantil
que aumentou em 30% naquele ano, logo como forma de dar continuidade nas
gestações de forma segura e sem riscos muitas mulheres se locomoveram na
busca de melhores condições de parto (HRW, 2019).
De acordo com portal de notícias Carta Capital, desde 2017, o governo
venezuelano não emite dados oficiais sobre as condições de saúde do território.
Os últimos dados emitidos pelo ministério de saúde venezuelano apresentaram
elevado índice de mortalidade infantil em um período de 5 anos bem como
elevado índice de mortalidade materna além de problemas graves como
doenças que podem ser erradicadas com vacinas e o aumento de doenças
infecciosas como tuberculose e malária.
Segundo Topa et al. (2013), mulheres migrantes documentadas e
mulheres migrantes indocumentadas recebem cuidados mais tardios em relação
a mulheres autóctones e por consequência apresentam altos índices de
complicações resultando em altas taxas de mortalidade fetal e neonatal e de
mães que sofrem com um maior número de patologias durante a gravidez
(doenças infecciosas).
Neste ponto será apresentado o total de mulheres migrantes
venezuelanas atendidas no HMINSN, estratificadas por faixa etária conforme
classificação do IBGE (Tabela 02).

29
Tabela 02 – Total de mulheres migrantes venezuelanas por faixa etária, 2010-
2019

FAIXA 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
ETÁRIA
10-14 02 01 00 00 03 03 08 06 16 26
15-19 10 01 00 24 46 78 58 145 541 858
20-24 23 03 00 25 50 64 105 298 861 1466
25-29 13 01 00 16 37 55 108 139 625 972
30-34 07 03 00 15 22 20 42 92 279 484
35-39 03 01 00 08 20 18 29 77 149 241
40-44 03 00 00 03 02 02 13 25 39 87
45-49 00 00 00 00 00 01 06 08 08 21
50-54 01 02 00 00 00 01 00 03 02 09
55-59 00 00 00 00 01 00 00 00 01 07
60-64 00 00 00 00 00 00 00 00 01 00
65-69 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00
70-74 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00
75-79 00 00 00 00 00 00 00 00 00 01
80-84 00 00 00 00 00 00 00 00 00 01
TOTAL 83 15 00 98 197 259 379 934 2547 4205
** Dados inferiores à faixa etária 10-14 anos foram retirados da análise visto que o público comportado dentro dessa
faixa de idade não é atendido pelo Hospital Materno Infantil Nossa Senhora De Nazaré.
Fonte: Autoria própria (2020)

Foi possível identificar que a faixa etária entre 20-24 (n=1446) e 25-29
(n=972) foram as que mais apresentaram o quantitativo de atendimentos de
mulheres.
Sobre isso destacam-se os achados similares da pesquisa realizada por
Simões et al. (2017) onde identificaram que a migração venezuelana no estado
de Roraima é predominantemente jovem, situada na faixa etária entre 20 a 39
anos.
E seguindo a mesma lógica em uma pesquisa feita pela OIM realizada
no ano de 2018, com migrantes venezuelanos foi possível identificar que a
maioria dos entrevistados eram jovens e adultos sendo a maioria mulheres
gravidas em faixa etária de 18 e 25 anos de idade.

30
8.2 CONDIÇÃO CLÍNICA DAS MIGRANTES VENEZUELANAS

Nesse segundo tópico será apresentada a evolução do total de partos


por ano estratificado por tipo sendo eles, parto de via vaginal (CID O80) e parto
cesárea (CID O82). Segue tabela 03 como forma de ilustrar.

Tabela 03 – Total de partos estratificados por tipo, 2010-2019


Tipo de parto Parto vaginal (CID O80) Parto cesárea (CID O82)
Ano de registro Nº % Nº % TOTAL DE PARTOS
2010 20 83,3 04 16,7 24
2011 04 66,6 02 33,4 06
2012 - - - - -
2013 23 95,8 1 4,2 24
2014 58 93,5 04 6,5 62
2015 68 94,4 11 5,6 79
2016 121 92,7 08 7,3 129
2017 309 89,9 36 10,1 345
2018 988 91,2 95 8,8 1083
2019 1855 91,1 150 8,9 2035
Fonte: Autoria própria (2020)

Ao analisar a tabela é possível identificar nos primeiros três anos de


dados 2010-2013 um número relativamente baixo de partos realizados no
HMINSN sejam eles parto vaginal (PV) ou parto cesárea (PC).
Vale ressaltar que o HMINSN, por ser a maior maternidade do estado de
Roraima, atende os 15 municípios mais o quantitativo de mulheres migrantes
vindas da Venezuela e Guiana Inglesa, logo esses atendimentos são
considerados atendimentos pendulares visto que os hospitais do estado também
recebem pacientes vindos da fronteira.
É perceptível um aumento do número total partos a partir do ano de 2014
sendo que o PV sempre se mostrou maioria em relação ao PC. Em 2014 foram
realizados 62 partos estratificados em 93,5% (n=58) por PV e 6,5% (n=04) por
PC, já no ano de 2015 temos 72 partos realizados estratificados em 94,4%
(n=68) PV e 5,6% (n=11) PC.
Em 2016 e 2017 foram realizados n=129 e n=345 partos,
respectivamente e novamente observando a prevalência de PV sob o PC.

31
Segundo achados de Barreto et al. (2018) foi perceptível o aumento de partos
de mulheres venezuelanas no único hospital maternidade do estado de Roraima
principalmente no período de 2016-2018.
De acordo com Valença (2019) também se destacam similaridades
quanto a busca de mulheres venezuelanas por condições adequadas de parto e
de sobrevivência no município de Boa Vista onde encontrou um aumento de 30%
de nascimentos em relação aos anos anteriores.
Já nos anos de 2018-2019 foram registrados n=1083 e n=2035 partos,
respectivamente, e novamente com predominância de PV em cada ano. Em
estudo realizado por Castro et al. (2015) culturalmente mulheres migrantes
tendem a ter experiências de parto diferente, visto que conforme a região e
cultura do local onde vivem mulheres migrantes optam por ter seus filhos de
forma diferente no que tange as vias de parto ou no processo de partejar.
Outro viés que pode influenciar no quantitativo de partos via vaginal é o
custo que é colocado sob cada gestante. Segundo achados de Oliveira et al.
(2014) os custos de um parto normal realizado na Casa de Parto no município
de Rio de Janeiro eram relativamente baixo comparados a partos cesáreas de
outros hospitais da região, dessa forma os custos economizados em cada parto
poderiam ser convertidos para outras áreas ou setores do hospital.
É incontestável que o número de partos por cesárea é significativamente
baixo evidenciando assim que migrantes venezuelanas podem apresentar
condições clinicas favoráveis demostrando assim um paradoxo epidemiológico
onde mulheres migrantes apresentam melhores condições de parto que surgem
como efeito do trabalho das redes de apoio ou familiares informais (ALMEIDA;
CALDAS, 2012).
Em levantamento realizado por Machado et al. (2007) na cidade de
Coimbra identificou-se que o quantitativo de partos cesárea e de prematuridade
eram relativamente menores em mulheres migrantes comparado a mulheres
portuguesas residentes de Coimbra.
Destacam-se achados similares na pesquisa de Castro et al. (2015) onde
foi possível identificar que mulheres migrantes bolivianas, que eram atendidas
em uma maternidade pública de São Paulo, sempre demostraram maior
interesse em realizar o parto natural diferente de mulheres brasileiras que já
chegavam pedindo pelo parto cesárea. Tal situação ainda é explicada no estudo

32
pois de acordo com a autora as mulheres migrantes bolivianas tinham mais
facilidade para aceitar que a única dor que teriam seria no momento no pré parto
e que após o nascimento as dores e a recuperação seriam mais rápidas.
Dando continuidade à discussão acerca das condições clínicas das
migrantes venezuelanas os dados a seguir referem-se aos cinco diagnósticos
que mais foram registrados no período de 2010-2019 apresentados conforme
colocação, descrição e grupo CID 10 a qual pertencem (Tabela 04).

Tabela 04 - Diagnósticos prevalentes na internação de migrantes venezuelanas


classificados por grupo CID-10, 2010-2019
CLASSIFICAÇÃO DIAGNOSTICO DESCRIÇÃO GRUPO CONTAGEM
CID-10
Pessoas em contato com os
1º Z039 serviços de saúde para exame e Z00-Z13 450
investigação
Outros motivos de assistência à
mãe relacionados à cavidade O30-O43
2º O479 437
fetal e amniótica, e possíveis O47-O48
problemas de parto
3º O669 Trabalho de parto obstruído O64-O66 210
Complicações
predominantemente
4º O85 relacionadas ao puerpério e O85-O99 174
outras afecções obstétricas, não
classificadas em outra parte
5º D649 Outras anemias D51-D64 40
Fonte: Autoria própria (2020)

Em primeiro lugar temos o diagnóstico de Observação por suspeita de


doença ou afecção não especificada (CID Z03.9) descrito como “Pessoas em
contato com os serviços de saúde para exame e investigação”, podemos
relacionar tal achado novamente com o movimento de mulheres venezuelanas
dentro do território brasileiro (movimento pendular) que buscam dar continuidade
em tratamentos ou buscam investigar alguma condição clínica através do
hospital maternidade.
Em estudo de Alves et al. (2019), identificou-se que mulheres haitianas
migrantes residentes em Cuiabá eram a maioria na busca por serviços de saúde
e que essas tinham alguma doença crônica ou utilizavam alguma medicação
continua.

33
Já no segundo colocado temos o diagnóstico de Falso trabalho de parto,
não especificado (CID O47.9) descrito como “Outros motivos de assistência à
mãe relacionados à cavidade fetal e amniótica, e possíveis problemas de parto”.
De acordo com estudo realizado por Felix et al. (2019) de 100 puérperas
que participaram da pesquisa observou-se que desse total 68 mulheres não
sabiam identificar sinais que antecedem o trabalho de parto, dessa forma torna-
se imprescindível que os profissionais de saúde saibam diferenciar os tipos de
trabalho de parto e orientar as parturientes quanto as diferenças de cada tipo.
Seguindo as orientações, aqui destaca-se a dificuldade que permeia a
comunicação entre mulher migrante venezuelana e a equipe de saúde posto que
o espanhol é o idioma oficial da Venezuela, sendo assim falado pelas migrantes
venezuelanas que terão dificuldade em compreender o conteúdo que é
repassado pelo profissional que a acolhe.
Segundo Nascimento e Barreto (2020), durante o atendimento a
migrantes venezuelanas no HMINSN de Boa Vista/RR, a comunicação foi tida
como a principal barreira existente para que pudesse ser realizado assistência
adequada, também foi identificado que poucos eram os profissionais que tinham
conhecimento da língua espanhola e que a instituição pouco estimulava ou
oferecia capacitação para esses profissionais. Todavia, técnicas ou ferramentas
eram utilizadas pelos profissionais como forma de lidar com essa barreira.
Outro estudo que corrobora com os achados anteriores é o de Barbosa
et al. (2020). Segundo os autores, em atendimentos realizado no HMINSN de
Boa Vista/RR foi possível identificar que muitos profissionais tiveram dificuldade
de se comunicar com as pacientes venezuelanas de forma que muitos não
conseguiam transmitir estratégias terapêuticas e práticas adequadas para o
período de parto.
Dando continuidade à análise da tabela, em terceiro lugar identificamos
o diagnóstico Obstrução do trabalho de parto, não especificado (CID O66.9)
descrito como “Trabalho de parto obstruído”. Segundo a OMS (2005) a obstrução
do trabalho de parto é um dos principais causadores do trabalho de parto
prolongado que demasiadamente causa grande sofrimento materno e fetal além
de expor a parturiente ao grande risco de infecções causadas pelo maior número
de toques vaginais e procedimentos invasivos.

34
Naturalmente, a vulva e a vagina possuem microbiota própria,
diversificada e sensível a alterações sendo assim o toque vaginal representa alto
risco de infecção no período de parto. Em achados de Maranhão et al. (1992), o
contato excessivo entre a mucosa da vagina e o dedo do examinador é o
momento de maior risco para infecções durante o parto e pós-parto.
Na sequência, em quarto lugar temos o diagnóstico de Infecção
puerperal (CID O85) descrito “Complicações predominantemente relacionadas
ao puerpério e outras afecções obstétricas, não classificadas em outra parte” e
por último o diagnóstico de anemia não especificada (D64.9) descrito em “Outras
anemias”.
Segundo Barbosa e colaboradores (2020), o cenário de problemas na
saúde materna e neonatal só não é pior nos hospitais de Roraima devido à
recente estratégia de implantação do posto de triagem na fronteira entre
Pacaraima e Venezuela, que entre os serviços ofertados, realiza a imunização
dessas mães evitando assim o risco de algumas infecções que podem ser graves
na gravides. De certo modo tal estratégia ameniza os riscos na gravidez,
entretanto não suprem as estratégias utilizadas pelo pré-natal.
Cuidados de pré-natal adequados são determinantes de grande
significância para uma gestação, parto e período perinatal seguro. A não
realização desses cuidados acarreta em complicações que geram grande
sofrimento, seja ele materno ou fetal. Outro fator que configura a qualidade do
total de atendimentos é a identificação de infecções ou de doenças crônicas que
nesse período representam grande risco.
De acordo com estudo realizado por Machado et al. (2007) mulheres
migrantes que apresentavam menos de seis consultas de pré-natal tiveram
maiores complicações na gestação e por consequência apresentaram altos
índices de mortalidade e prematuridade. Ainda no mesmo estudo foi identificado
valores significativamente altos de doenças infecciosas que poderiam ter sido
tratadas nas consultas de pré-natal.
Em estudo realizado por Costa, Souza e Barreto (2020) sobre perfil
sociodemográfico e acompanhamento gestacional das puérperas migrantes
venezuelanas em condições de abrigamento na cidade de Boa Vista-RR,
constatou-se que de 65 migrantes venezuelanas entrevistadas, 32,3% (n=21)
não realizaram nenhuma consulta de pré-natal enquanto que 23,1% (n=15)

35
realizaram duas consultas e 1,5% (n=1) realizaram apenas uma consulta,
demostrando assim baixo índice de adesão ao pré-natal e de serviços realizados
durante a assistência como suplementação de sulfato ferroso, ácido fólico e
testagem IST e Hepatites virais.
Traçando um comparativo com as principais causas de internações
obstétricas no Brasil, os diagnósticos de infecção puerperal (CID-O85), falso
trabalho de parto (CID-O47.9) e obstrução do trabalho de parto, não
especificados (CID O66.9) aparecem em outros estudos como principais causas
de internação.
Em achados de Moura et al. (2018) que buscou investigar os motivos de
internações obstétricas no município de São Paulo, foi possível averiguar que
das internações registradas, os diagnósticos mais prevalentes foram causados
por complicações obstétricas como infecções, doenças hipertensivas, diabetes
e hemorragias que correspondem às causas mais frequentes de mortalidade
materna no Brasil.
Outro estudo que corrobora com a suposição de similaridades quanto
aos diagnósticos é o de Veras e Mathias (2014) que verificou todas internações
das mulheres no Paraná e constatou que no ano de 2010, 24,1% (n=2337)
mulheres foram internadas por motivo de obstrução do trabalho de parto, 23,9%
(n=1502) por falso trabalho de parto e outras 4,2% (n=1467) por afecções
obstétricas.

36
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a identificação do


perfil das mulheres migrantes que integram esse deslocamento entre
Venezuela/Brasil e que buscam na maternidade dar continuidade nas suas
gestações de forma segura, também foi possível identificar o tipo de parto na
população estudada além da condição clinica dessas mulheres.
A hipótese do estudo foi parcialmente confirmada, uma vez que foi
identificado que às mulheres migrantes venezuelanas são mulheres jovens e
gestantes que buscam pelos serviços de saúde. No que se refere as condições
clinicas dessas mulheres, o quantitativo de parto vaginal se sobressaiu
comparado ao parto cesárea, indicando condição clínica favorável para evolução
sem distorcia do trabalho de parto.
Observou-se também que atendimentos a mulheres migrantes
venezuelanas na maternidade se intensificou no período de maior fluxo da
migração que compreende de meados de 2014 até 2019 e entende-se que esse
elevado índice é resultado de uma grande crise que vem ocorrendo em território
venezuelano e que afeta de forma direta os serviços de saúde brasileiros.
Por ser tratar de dados secundários o estudo apresentou algumas
limitações quanto a fidedignidade, entretanto a análise dos dados seguiu de
forma criteriosa evitando afirmações imprecisas ou que não correspondem com
o cenário.
Por fim, consideramos que resultados obtidos neste estudo não esgotam
o tema, uma vez que o possui outras linhas de análises, possibilitando pesquisas
futuras que instiguem a condição de assistência a esta população, bem como os
possíveis efeitos nos serviços de saúde local, tais como a análise de custos em
saúde.

37
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L.M.; CALDAS, J. Cuidados de saúde materno-infantis em


imigrantes: Que realidade? Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía,
Vol. I, no 1, jan, 2012. p. 19-36.

ALVES, J. F de S. et al. Utilização de serviços de saúde por imigrantes


haitianos na grande Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio
de Janeiro, v. 24, n. 12, p. 4677-4686, Dez. 2019.

ALTO COMISSARIO DAS NAÇÕES UNIDAS (ACNUR).; Venezuelanos no


Brasil: integração no mercado de trabalho e acesso a redes de proteção
social ACNUR 2020. R4V Plataforma de Coordinación para Refugiados y
Migrantes de Venezuela. 2020.

ARRUDA-BARBOSA, L. de S; Alberone, F. G; e Torres, M. E. M. Impacto da


migração venezuelana na rotina de um hospital de referência em Roraima,
Brasil. Interface - Comunicação, Saúde, Educação [online]. v. 24, 2020.

BAENINGER, R.; SILVA, J. C. J. Migrações Venezuelanas. Campinas, SP:


Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” – Nepo, Unicamp, 2018.

BARRETO, et. al. Vigilância epidemiológica e os processos migratórios:


Observações do caso dos venezuelanos em Roraima. In BAENINGER, R.;
JAROSHINSKI S. Migrações venezuelanas. Campinas/SP. Editora Unicamp,
2018. P 369-273.

BARRETO, S. M; LIMA, C; Maria, F. Tipos de estudos epidemiológicos:


conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol.
Serv. Saúde, Brasília, v. 12, n. 4, p. 189-201, dez. 2003.

CARVALHO, A. I. Determinantes sociais, econômicos e ambientais da


saúde. In FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. A saúde no Brasil em 2030 -
prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: população e perfil
sanitário [online]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2013. Vol. 2. pp. 19-38.
ISBN 978-85-8110-016-6. Disponível em:
http://books.scielo.org/id/8pmmy/pdf/noronha-9788581100166-03.pdf

CARVALHO, F. Atenção à saúde nas cidades fronteiriças de BonFim e


Pacaraima: implementação do SIS-Fronteiras em Roraima / Francisco de
Assis Lima Carvalho. Dissertação – Boa Vista, Procisa, UFRR, 2014.

38
CASTRO, C. M. de; OLIVEIRA, R. C; CUSTODIO, M. C. S. Atenção ao parto
de mulheres estrangeiras em uma maternidade pública de São
Paulo. Civitas, Rev. Ciênc. Soc. [online], vol.15, n.2, 2015.

CIERCO, T. et al. Fluxos Migratórios e Refugiados na Atualidade. Rio de


Janeiro: Fundação Ade quer Stiftung, 136p. 2017.

COMMISSION ON SOCIAL DETERMINANTS OF HEALTH (CSDH).;


Achieving Health Equity: from root cause to fair outcomes – Interim
Statement. Geneva: CSDH. 2007.

COSTA, A. B. O; SOUZA J. S.P; BARRETO T. M. A. C. Perfil sociodemografico


e acompanhamento gestacional das puérperas migrantes venezuelanas em
condições de abrigamento na cidade de boa vista. In OLIVEIRA M. M;
LUTHER, C. M A; SANTOS R. D. M. Coletânea Migração & Wash reflexões
sobre o contexto de Roraima. Boa Vista/RR. Editora UFRR, 2020. v. 1. P
245-264.

DIAS, S., ROCHA, C.; HORTA, R.; Saúde sexual e reprodutiva de mulheres
imigrantes africanas e brasileiras. Um estudo qualitativo. Lisboa: ACIDI,
2009.

DIAS, S.; GONÇALVES, A. “Migração e Saúde”, in DIAS, Sónia (org.), Revista


Migrações - Número Temático Imigração e Saúde, Setembro 2007, n. º 1,
Lisboa: ACIDI, pp. 15-26.

FELIX, H. C; et al. Sinais de alerta e de trabalho de parto: conhecimento


entre gestantes. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. [online]. vol.19, n.2, p. 335-
341, 2019.

FONSECA, L; MALHEIROS, J.; Social Integration & Mobility: education,


Housing and Health- IMISCOE Cluster B5 State of Art Report. Lisboa:
Universidade de Lisboa. 2005.

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV) / DIRETORIA DE ANALISE DE


POLITCAS PUBLICAS (DAPP). Desafio migratório em Roraima:
Repensando a política e gestão da migração no Brasil [Internet]. FGV-
DAPP. Acesso em: 05 de novembro de 2020.

GADELHA, C. A; COSTA, L. Integração de fronteiras: a saúde no contexto


de uma política nacional de desenvolvimento. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 23, supl. 2, p. S214-S226, 2007.

GIOVANELLA, L; et al. Saúde nas fronteiras: acesso e demandas de


estrangeiros e brasileiros não residentes ao SUS nas cidades de fronteira
com países do MERCOSUL na perspectiva dos secretários municipais de
saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. v. 23, supl. 2, p. S251-
S266, 2007.

39
GRANADA, D.; CARRENO, I.; RAMOS, N; RAMOS, M. C. P.; Discutir saúde e
imigração no contexto atual de intensa mobilidade humana. Interface
(Botucatu), v. 21, n. 61. 2017.

GRUPO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS (GNDH). Relatório da visita


técnica do GNDH ao estado de Roraima para avaliação da situação da
população local e dos imigrantes venezuelanos. São Paulo/SP, 2018, 95 p.

HUMAN RIGHTS WATCH (HRW). Emergência humanitária na Venezuela:


resposta da ONU em grande escala é necessária para enfrentar a crise de
saúde e alimentos / 2019.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR MIGRATION (IOM). Regional Action


Plan: Strengthening the regional response to large scale migration of
Venezuelan Nationals into South America, North America, Central America
and the Caribbean. Relatório. 2018.

______. Glossary on migration. Geneva: IOM, 2004.

______. Monitoramento do fluxo migratório venezuelano com ênfase em


crianças e adolescentes. [Internet]. OIM-DTM; 2019. Acesso em 20 de
novembro de 2020.

MACHADO, M. C. Cuidados de saúde materna e infantil a uma população


de imigrantes”, in DIAS, Sónia (org.). Revista Migrações - Número Temático
Imigração e Saúde, n. º 1, Lisboa: ACIDI, pp. 103-127, set 2007.

MARANHAO, Amélia Mª S. Cuidados na realização da propedêutica


obstétrica visando a prevenção da infecção hospitalar em
maternidades. Rev. bras. Enferm., Brasília, v. 45, n. 4, p. 302-307, dez. 1992.

MILESI, R.; COURY, P.; ROVERY, J.; Migração Venezuelana ao Brasil:


discurso político e xenofobia no contexto atual. AEDOS, 10(22), 53-70
(2018).

MIRANDA, J. F. M. Mães imigrantes e saúde – Estudo sobre as brasileiras


em Portugal. Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2011.

MOURA, B. L. A.; ALENCAR, G. P.; SILVA, Z. P.; ALMEIDA, M. F. de.;


Internações por complicações obstétricas na gestação e desfechos
maternos e perinatais, em uma coorte de gestantes no Sistema Único de
Saúde no Município de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública
[online]. v. 34, n. 1, fev. 2018.

NASCIMENTO, J. F; BARRETO T. M. A. C. Práticas de acolhimento da


migrante venezuelana em um hospital materno infantil: referência no extremo
norte do brasil. In OLIVEIRA M. M; LUTHER, C. M A; SANTOS R. D. M.
Coletânea Migração & Wash reflexões sobre o contexto de Roraima. Boa
Vista/RR. Editora UFRR, 2020. v. 1. P 70-90.

40
NYGREN-KRUG, H. International Migration, Health and Human Rights.
Health and Human Rights Publication, WHO; 2003.

OLIVEIRA, F. de; PROGIANTI, J.; PEREGRINO, A. A. de F. Custos diretos


do parto envolvidos com a prática obstétrica de enfermagem em Casa de
Parto. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 421-427, set 2014.

Operational Portal: Refugees Situation. Venezuela Situation. Maio, 2018.


2018c. Disponível em: https://data2.unhcr.org/en/situations/vensit

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE (OMS). Parto prolongado e paragem


na progressão do trabalho de parto: Manual para professores de
enfermagem obstétrica. 2 ed. Biblioteca OMS, set 2005.

______; Concepts and Principles of Health Promotion. Copenhagen: WHO,


1984.

PIRES, R.; Mudanças na imigração: uma análise das estatísticas sobre a


população estrangeira em Portugal, 1998-2001. Sociologia: Problemas e
práticas, 39, 151-166. 2002.

PUTTI, A. Mortalidade infantil cresce 75% em 5 anos na Venezuela. Carta


Capital. 4 de abril de 2020. Mundo.

RAMOS, N.; Saúde, migração e direitos humanos. Advances in Health


Psychology, [s. l.], Mudanças – Psicologia da Saúde, 1-11p, 2009.

ROCHA, C. M. F.; Migração internacional e vulnerabilidade em saúde:


tópicos sobre as políticas de saúde e de saúde sexual e reprodutiva em
portugal. Hygeia - Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, [s. l.],
2012.

RODRIGUES, F. da S.; SILVA, É. S. da. Estudos sobre colonização e


imigração no norte do Brasil (1840-1930). Revista de História Regional 22(1):
53-73, 2017.

RODRIGUES, F. Migração transfronteiriça na Venezuela. Estud. av., São


Paulo, v. 20, n. 57, p. 197-207, ago. 2006.

RORAIMA. Secretaria de Saúde do Estado de Roraima (SESAU). Plano


Integrado de Gestão Migratória, 2016.

______. Secretaria de Saúde do Estado de Roraima (SESAU). Impactos da


imigração - Número de atendimentos da rede pública de saúde causa
preocupação. Disponível em: http://www.saude.rr.gov.br/index.php/2017-04-
30-22-46-19/noticias-2/10-noticias-dasesau/448/impactos-da-imigracao-
numero-de-atendimentos-da-rede-publica-de-saude-causa-preocupacao.
Acessado em: 12 de novembro de 2018.

41
SCAGLIONE, O; ALEJANDRA M. A saúde das mulheres imigrantes: uma
questão de cidadania e inclusão. Lisboa: ISCTE-IUL, 2016.

SIMÕES, G. T. Perfil sociodemografico e laboral da imigração venezuelana


no Brasil. Conselho Nacional de Imigração. Brasília, DF: CNIg, 2017.

The United Nations Population Fund (UNFPA).; State of World Population


2006. A Passage to Hope: Women and International Migration. UNFPA.
(2006).

TOPA, J. B. Cuidados de saúde materno-infantis a imigrantes na Região


do Grande Porto- (Teses; 47) ISBN 978-989-689-082-1 CDU 316. dez 2016.

TOPA, J. B; NEVES, S.; NOGUEIRA, C. Imigração e saúde: a (in)


acessibilidade das mulheres imigrantes aos cuidados de saúde. Saúde
Soc. São Paulo, v.22, n.2, p.328-341, 2013.

TOPA, J.B; NOGUEIRA, C; NEVES, A. S. A. das. Inclusão/exclusão das


mulheres imigrantes nos cuidados de saúde em Portugal: Reflexão à luz
do feminismo crítico. PSIco, Porto Alegre, PUCRS, v. 41, n. 3, pp. 366-373,
jul/set. 2010.

VALENÇA, L. C. A migração venezuelana e a gestão da saúde na zona de


fronteira Brasil/Venezuela nos anos de 2017 e 2018. Boa Vista / RR, 2019,
84 p.

VERAS, T. C. da S; MATHIAS, T. A. de F. Principais causas de internações


hospitalares por transtornos maternos. Rev. esc. Enferm. USP, São Paulo,
v. 48, n. 3, p. 401-408, jun. 2014.

42
43

Você também pode gostar