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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

Setor de Ciências Biológicas e da Saúde


Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas

MICOLOGIA CLÍNICA

Doença de Jorge Lobo

A doença de Jorge Lobo, ou lobomicose, é uma infecção fúngica com alta incidência na
Amazônia, acometendo homens adultos de área rural e ribeirinha. As lesões causadas são restritas à
pele, com histórico relacionado com picadas de insetos e traumatismos diversos.

As lesões geradas são papulosas, tuberosas e, normalmente, volumosas, com aspecto


tumoral e liso, simulando um queloide. A doença possui bom prognóstico, afetando estética e
funcionalmente o indivíduo; pode gerar infecções secundárias pelas ulcerações desenvolvidas na
área lesionada. As localizações mais frequentes das lesões são membros inferiores, pavilhões
acústicos e membros superiores.

O diagnóstico laboratorial pode ser feito pela escarificação dérmica, com exame direto.
Observa-se células leveduriformes, com parede dupla, agrupados em cadeias de dois ou mais
elementos.

O agente etiológico não foi identificado ainda, mas suspeita-se de Lacazia loboi, Lobomyces
loboi, Glenosporella loboi ou Paracoccidioides loboi.

Etomoftoromicose

Trata-se de uma zigomicose, infecção causada por fungos saprofíticos pertencentes à classe
Zygomicetes; nesse caso, é causada por fungos do gênero Basidobolus e Canidobolus. A doença se
inicia pelo contato do hospedeiro com o agente infeccioso, podendo ser por traumas, picadas de
insetos, contato com o solo e vegetação contaminados ou ainda pela inalação dos esporos.

As formas clínicas da doença são de três tipos diferentes: subcutânea crônica, centro-facial e
visceral.
A primeira forma pode ser causada pelo B. ranarum, único patógeno antropofílico do
gênero. As infecções crônicas subcutâneas ocorrem em tecidos inferiores, principalmente,
apresentando nódulos ruborizados e pouco dolorosos, tornando-se frios e indoloroes. As
complicações envolvem ulcerações dos nódulos, infecções gastrintestinais e comprometimento de
tecidos pancreáticos, pulmonares e hepáticos.

A infecção por Conidiobolus é frequentemente associada com a forma centro-facial. Essa


infecção resulta no acometimento de tecidos adjacentes, comprometendo respiração e deglutição.
Os nódulos são firmes e podem ser sentidos através da pele.

As infecções viscerais graves são causadas por C. incongruus. Elas são manifestadas por
febre, perda de peso, tosse com sangue e reação granulomatosa na pele. É fatal se o paciente for
imunocomprometido.

A entomoftoromicose deve ser diagnosticada pela união das características clínicas,


histopatológicas e exame micológico. O exame micológico direto e o cultivo em ágar Sabouraud e
batata devem ser feitos para visualização das estruturas fúngicas.

As colônias de Basidiobolus são cerosas, de cor clara e esbranquiçadas. Apresenta


balitósporo, um esporo globoso formado a partir do esporangiófaro. Apresenta, ainda, capilósporo,
uma estrutura arredondada que forma o esporângio.

O Canidiobolus apresenta colônias cerosas, bege, rugosas. Possui grandes conídios,


piriformes a esféricos, apresentando papilas basais, com bordas arredondadas.

Micetoma

Micetomas são infecções crônicas do tecido subcutâneo após pequenos traumas. Apresenta
formação de lesão tumoral, associada com fístulas e drenagem de grãos, podendo atingir outros
tecidos, como ossos e articulações.

É causado por uma miríade de agentes etiológicos, desde bactérias (actinomicetomas) a


fungos geofílicos (eumicetoma). Destes, os mais frequentes são dos gêneros Madurella,
Leptosphaeria, Pyrenochaeta e Exophiala.

O diagnóstico laboratorial deve ser feito com swab, em lesões que drenam espontaneamente
ou com punção dos grãos. O material deve ser acondicionado em tubo de ensaio, contendo soro ou
água destilada estéril, sendo centrifugado a 1.500 rpm, por 5 minutos. Descarta-se o sobrenadante e
repete-se o procedimento por três vezes, evitando contaminações. O material é utilizado para exame
direto e cultura.

No exame direto, observa-se grãos, que podem ter aspecto de filamentos septados, claros ou
castanho, caracterizando um fungo, ou um grão de filamentos finos que se fragmenta em formas
cocoides ou bacilares, evidenciando bactérias.

A cultura de bactérias deve ser feita em ágar-sangue, BHI ou meio Lowestein-Jensen. A


cultura micológica pode ser feita em ágar Sabouraud, com ou sem antimicrobianos.

Rinosporidiose

Trata-se de uma infecção granulomatosa crônica, causada pelo Rinosporidium seeberi,


atualmente descrito como um protozoário aquático. Afeta preferencialmente mucosas nasal e
conjuntival de homens e animais. Outras regiões podem ser afetadas, como uretra, vagina, traqueia,
laringe e faringe e úvula.

A doença não é transmissível. Possui maior incidência entre pessoas com baixa qualidade de
vida e com péssimas condições sanitárias. A lesão gerada é uma massa polipoide, unilateral e
pediculada, podendo se exteriorizar. Os sintomas relatados pelo paciente são obstrução nasal, com
epistaxe, rinorreia e prurido.

O diagnóstico laboratorial da rinosporidiose é feito com a biópsia da lesão, corada com


hematoxilina-eosina, visualizando inúmeros elementos parasitários em estágios evolutivos
diferentes. Nessa visualização, há predomínio para esporângios, que se desenvolvem em esporos
infectantes. O resultado gerado é a reação inflamatória no local, possibilitando visualização de
plasmócitos e linfócitos.

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