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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

ENTREVISTA EXPLORATÓRIA

GONÇALO REIS TP2 Nº2020225246


RELAÇÕES INTERNACIONAIS – METODOLOGIA DA PESQUISA
Prof. D. Sara Alexandre Domingues Araújo
1
Índice

Ficha Técnica pág.2


Reflexão Sobre a Entrevista pág.3
Entrevista pág.4-11
Análise da Entrevista pág.12

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Ficha Técnica

Data: 13/12/2020
Local: A entrevista foi realizada na sala de estar da minha casa, em Coimbra, entre as
cinco da tarde e as seis tarde. Sentamo-nos um à frente do outro nos sofás e procedemos
à gravação deste trabalho. Dentro do espaço, só estávamos nós os dois.
Entrevistador: Gonçalo Reis
Entrevistado: Anónimo

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Reflexão Sobre a Entrevista

Durante a realização deste trabalho surgiram diferentes contratempos e


dificuldades, como por exemplo a dificuldade de encontrar alguém para entrevistar, ou
marcar uma hora agradável tanto para mim como para o entrevistado. Também senti
dificuldade na transcrição da entrevista, pois, por vezes, estava em dúvida de como seria
a melhor maneira de transpor a expressividade da fala na escrita. Todavia, considero
que a realização deste trabalho correu relativamente bem, já que não tenho experiência
alguma neste aspeto e esta foi a minha primeira entrevista. Considero que ganhei
alguma experiência quando precisar de fazer mais alguma entrevista no futuro.

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Entrevista

Olá, boa tarde!


Boa Tarde!
Então, *******, estamos aqui para fazer uma entrevista sobre as problemáticas da
conservação ambiental e o papel das ONGs internacionais ambientais na proteção
da floresta amazónica. Autoriza esta entrevista?
Sim.
Vamos começar. Pode me falar um pouco sobre a sua atividade no âmbito da
prevenção das alterações climáticas?
Ah. Bem, eu faço parte da equipa do Fridays For Future de Coimbra e nos costumamos
organizar manifestações e também ações de sensibilização. Agora com a questão da
pandemia é um pouco mais complicado, mas no ano passado várias manifestações em
solidariedade com outras organizações ao nível mundial. Levamos muitos estudantes à
porta das camaras municipais para revindicar medidas em relação às alterações
climáticas. Ah, e não estamos dispostos a parar num futuro tão próximo, uma vez que a
Greta Thunberg continua a fazer os protestos, apesar da pandemia. Mesmo que seja em
circunstâncias diferentes devemos continuar a sensibilizar e especialmente utilizando as
redes sociais. E assim que possível voltar ao terreno e fazer manifestações em larga
escala como fazíamos antes da pandemia.
Pode me falar um pouco sobre os grandes desafios da conservação da floresta
amazónica?
Ah bem, a questão da agropecuária e a questão da necessidade de aproveitar mais
recursos, uma vez que a população mundial está a crescer cada vez mais, é uma questão
muito importante porque uma vez que é necessário para alimentar o lucro da máquina
da agroindústria os agricultores muitas vezes provocam incêndios, pela sua própria mão,
de forma a limparem o terreno para conseguirem plantar ou criar gado. Então, é muito
difícil conciliar estes interesses com os interesse ecológicos uma vez que o governo
brasileiro, muitas vezes, não se mostra dispostos, pelo menos este governo de
Bolsonaro, a intervir e fazer um trabalho um pouco mais assertivo. Ah, então é bastante
difícil conciliar todos os interesses especialmente porque todos sabemos que a partir do
momento em que à dinheiro envolvido e lucro é muito mais complicado gerir todos os
interesses envolvidos e realmente fazer um trabalho de conservação da natureza.
A partir da sua experiência, quais são os principais atores que se têm empenhado
pela defesa da floresta amazónica e quais têm sido os seus maiores inimigos?
Bem, em relação a atores que têm realmente se tenham empenhado na conservação
temos, por exemplo, ONGs, como a Greenpeace e muitas outras ONGs brasileiras
também. E temos também organizações indígenas e os próprios indígenas que muitas
vezes vão para o terreno e envolvem-se em confrontos com os agricultores. Muitos
destes confrontos tornam violentos e já houve mortes de indígenas por causa disto. Ah,

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e outro eles temos a indústria e as empresas particularmente. As empresas que lucram
com a questão da deflorestação e, neste momento, também o governo brasileiro
totalmente inconsciente e populista que ainda não compreendeu a dimensão daquilo que
está a lidar ou se compreendeu não parece nada preocupado. Ah, quando acontece uma
catástrofe natural na Amazónia, que é a maior floresta do planeta e o maior ecossistema
do planeta, o governo parece não querer tomar quaisquer medidas.
Pode me contar um pouco sobre as campanhas e as ações que tem sido
desenvolvidas para defender a floresta amazónia e quais os seus resultados?
Ah. Mmm. Claro que desde sempre e continuam a existir ações de sensibilização, mas
isso começa a não ser suficiente, uma vez que as pessoas estão sensibilizadas mas isso
não é suficiente pois muitas ações individuais não se equiparam a uma ação construída
por parte do governo e uma ação organizada. Ah, por isso é necessário o governo
brasileiro combata os interesses envolvidos na questão da exploração e da
desflorestação da floresta amazónica e realmente tome medidas concretas e fortes.
Existem várias entidades, com diferentes objetivos, que atuam de diferentes
formas ao nível da floresta amazónica, existe interação entre os trabalhos
promovidos por ONGs, povos indígenas, populações locais e o poder político?
Como funciona a articulação entre estas diferentes entidades?
Bem, tendo em conta que o governo brasileiro, neste momento, está a promover alguma
discriminação das comunidades indígenas, o diálogo entre as comunidades indígenas e o
poder político é bastante complicado. O poder do governo, porque o poder político não
é exatamente a mesma coisa. Há partidos do lado dos indígenas, há ONGs do lado dos
indígenas que tentam interligar-se, mas mesmo assim os interesses e os objetivos
continuam a ser um pouco diferentes porque é bastante diferente estarmos num
escritório a milhares de quilómetros de distância e estar realmente a viver aquilo,
naquele momento e a presenciar a deflorestação pelos nossos próprios olhos, por isso é
um diálogo que tem que ser construído aos poucos, mas que é necessário de forma a
haver uma ação construída e realmente de pressionar o governo a tomar medidas.
De que forma o governo, nomeadamente, o governo brasileiro condiciona o
trabalho das ONGs, apoiando ou boicotando?
Bem, este governo atual, de Bolsonaro, parece mais do lado do boicote das ONGs, uma
vez que não estão do seu lado e não atuam de acordo com os seus interesses,
nomeadamente o lucro e agradar a população em geral. O governo brasileiro dificulta o
trabalho.
Acha se houvesse outro governo, mais à esquerda, a relação entre este e as ONGs
seria diferentes? Ou o interesse presente das indústrias iria continuar a influenciar
a política do governo brasileiro?
Bem, como é do conhecimento geral as políticas de esquerda e as ideologias de
esquerda mostraram-se sempre mais interessadas na questão ecológica, do que as
políticas de direita e especialmente as políticas populistas, como estamos assistir agora
com o governo de Bolsonaro. Ah, por isso eu penso que sim, um governo mais de
esquerda iria tomar medidas mais assertivas porque também é difícil menos medidas do

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que estas que estão a ser tomadas ou piores, uma vez que não há qualquer ação na
tentativa de conservar por parte do Governo. Claro que seria preciso medidas realmente
fortes e não uma coisa gradual que se achasse que iria resolver com o tempo, por isso
dependeria dos governos de esquerda. É uma coisa que não se pode saber, mas de
certeza que o Brasil teria a ganhar com um governo de esquerda e a conservação da
floresta amazónica também ganharia.
Dilma e Lula, apesar de formarem governos de esquerda, quando foram
presidentes não aturam de uma forma tão preponderante na conservação da
Amazónia.
Deve haver factos que dizem o contrário, mas comparados com Bolsonaro e a regressão
que neste momento teve a conservação e a questão de proteger a floresta amazónica, os
governos de lula e de Dilma atuaram bastante neste sentido. Contudo, o problema é que
o Brasil é um país muito grande e bastante complexo, em relação a governo, com vários
estados e muitos interesses envolvidos, como também muita corrupção como todos
sabemos, por isso é muito difícil ter e atuar nesse sentido. Todavia, continuo a pensar
que os governos anteriores, de esquerda, fizeram um melhor trabalho nesse sentido.
Da sua experiência explique o agravamento do problema do desmatamento nos
últimos dez anos?
Como eu acho que já referi à bocado nós estamos num mundo cada vez mais populoso,
por isso essa população exige cada vez mais recursos e a questão do capitalismo estar
em crescimento constante faz com que todas as empresas procurarem mais lucro e
especialmente as empresas agropecuárias estão sempre à procura de mais terrenos para
cultivar… Ah, acontece que a floresta amazónica proporciona um grande espaço pode
ser desmatado e ser transformado em quintas. Claro que qualquer pessoa que estivesse
minimamente preocupada com o ambiente ou o mínimo de senso comum não faria isto,
mas as pessoas poem o lucro à frente do senso comum, da conservação da natureza e de
proteger o nosso planeta, pelo que é preciso tomar medidas urgentes contra estas
pessoas, pois isto não vai parar se ninguém fizer nada e vai ficar cada vez pior porque
cada vez as pessoas procuram mais lucros e cada vez é necessário mais formas de
alimentar uma população crescente. É necessário encontras formas alternativas sem ser
a deflorestação porque isto está a acabar com o ecossistema tão importante como a
floresta amazónica.
Considera que a crescente dependência da economia brasileira e o agravamento da
mesma fomenta o desmatamento da Amazónia, já que este desmatamento está
interligado com a exploração dos recursos por parte de empresas internacionais,
que se aproveitam da situação frágil do Brasil?
Ah sim! Considero que sim… As empresas aproveitam-se da falta de regulação e por
isso continua a haver uma exploração da floresta e isto não irá parar enquanto a situação
de dependência não parar…
Acha se o Brasil não fosse uma economia dependente a prevenção das alterações
climáticas e a defesa da Amazónia seria mais fácil, como acontece por exemplo na
Europa?

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Como assim país dependente?
Um país cuja economia está sujeita aos interesses internacionais e não se consegue
impor no panorama internacional.
Meio que consegue mas…
Continua a ser dependente dos interesses dos Estados Unidos.
Sim… Todos os países são dependentes dos Estados Unidos…
Sim, mas por exemplo a Europa consegue ter uma política ambiental muito melhor
que os outros países do mundo…
Sim, eu percebo o que estás a dizer. É uma zona mais desenvolvida! E acho que não é
só a questão de ser dependente, mas também é porque o Brasil está a tentar desenvolver-
se já à algumas décadas e já atingiu grandes progressos, mas continua ainda muito
dependente dos interesses das outras potências e isso faz com que queira atingir um
crescimento económico bastante acelerado e que não cumpre quaisquer metas
ambientais e éticas. Então, sim acho que essa questão da dependência influencia face ao
estrangeiro…
Embora o trabalho das ONGs tenha sido notável no combate contra as alterações
climáticas, o facto de não conseguirem resolver estas lógicas de dependência entre
os países. Isto impacta a conservação da Amazónia?
Sim! Como sabemos as ONGs não tem qualquer poder na política. Eles apenas tem
poder de sensibilização, como a ONU tem o poder de impor sanções, mas não têm um
poder de tomar medidas ou sobre os governos. Isto é o problema das ONGs e claro que
não queremos que as ONGs tenham o poder supremo, mas gostaríamos que fossem
mais ouvidas porque as ONGs muitas vezes representam valores que precisam de ser
mais ouvidos dentro dos governos e precisam tomar mais medidas em relação a estes
valores. Acho que as ONGs fazem o trabalho de tentar atenuar as consequências das
ações negativas de governos, indivíduos ou grupos, mas não conseguem fazer um
trabalho de criar medidas governativas…
Contudo, apesar do que disseste, o que achas que tem funcionado bem e o que têm
funcionado menos bem na ação das ONGs?
Bem, as ONGs tem sempre disponíveis mecanismos de ajuda. Foram as ONGs que
tentaram os recentes incêndios na Amazónia e foram bastante importantes no verão
passado quando houve um aumento da floresta. As ONGs atenuaram, mas tendo em
conta a escala do problema, e por causa dos recursos económicos limitados, é um
trabalho muito difícil, que não deve ser desvalorizado, mas deve ser ajudado e devemos
prestar atenção a estas pessoas, que muitas vezes estão sem grandes rendimentos, a
tentar fazer o que mais ninguém faz.
Como me falou os povos indígenas também desempenham um papel fundamental e
queria que me explicasse melhor qual foi este papel desta comunidade e das
populações rurais na preservação da floresta amazónica?

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Os indígenas simbolizam dentro da floresta amazónica uma civilização e uma ligação à
natureza milenar que agora está a ruir, pois está a ser afetada por interesses capitalistas
completamente insensíveis às comunidades que lá vivem. Portanto, os indígenas
chamam a atenção para este problema, como também como conhecem melhor os
territórios e as situações são bastante úteis para as conversações das ONGs e sendo que
muitas vezes não é feito nada os indígenas tentam aplicar justiça pelas suas próprias
mãos e por isso isto têm levado a alguns confrontos entre eles e os agricultores, já que
esta comunidade vê cada vez mais a sua área, onde é suposto viverem, ameaçada e
destruída. É necessário uma mediação realmente prestável e pensada porque não deviam
ser os indígenas a estar a fazer isto, mas sim o governo, mas o governo não se mostra
importado com estas questões…
Acha que a atual política de Bolsonaro, de quase genocídio destas populações
indígenas, serve de mecanismo para facilitar a exploração da amazónia?
Sim! É uma forma de silenciar uma comunidade que está a representar um… uma causa
e esta necessidade de conservação da Amazónia e ao Bolsonaro discriminar e atacar
cada vez mais os indígenas, assim como tentar a população contra eles, sendo que eles
estavam lá primeiro, é um facto. Ah, Bolsonaro tenta silenciar alguns dos atores que
estão contra ele nesta frenética exploração da Amazónia sem qualquer bom senso!
E o papel da população rural em relação à conservação da Amazónia?
Ah… A população rural acho que também está do lado dos indígenas porque muitas
vezes não ganham nada com estas multinacionais que vêm para o seu terreno explorar e
também desflorestar.. Por isso, acho que maior parte da vezes a população rural é
também uma aliada, pois sente também na pele, como já disse há bocado, e perto de si
os efeitos que está exploração está a ter.
Da sua experiência quais tem sido as políticas de conservação da floresta
amazónica com melhores resultados, ao nível brasileiro e internacional?
Bem, tem havido cada vez mais um maior reconhecimento a nível mundial que é
necessário fazer alguma coisa e nós na Fridays For Future tentamos sempre sensibilizar
as pessoas cada vez mais e fazê-las compreender este desafio e problema. Ah, acordos
como o acordo de Paris e vários compromissos de cortas nas emissões de carbono e
tentar diminuí-las são bastante úteis e são importantes, pois há algumas décadas não se
tinha conhecimento deste problema. A Amazónia tem sido algo de cada vez mais
incêndios e estes incêndios libertam cada vez mais carbono e é um ciclo que não parece
parar…ah…, então é necessário, já que o governo brasileiro toma medidas, medidas
externas que consigam obrigar o Brasil, pressionando de forma comercial, económica.
Claro que já há países que já estão a adotar promessas de diminuição das emissões de
carbono até 2030 até 50% ou mais, mas o Brasil ainda é um país em desenvolvimento e
não nos podemos esquecer que ainda há muitas pessoas na pobreza e que parece eles é
muito mais importante a sua sobrevivência e o seu bem-estar do que uma coisa que,
muitas vezes, não sabem que acontecem, mas como não está perto deles não têm a
noção do quão importante e grave este problema é. É necessário uma maior
sensibilização, mas também uma maior ação junto dos governos por parte de
organismos internacionais.

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Acha que medidas para a conservação da floresta amazónica, como também de
outras florestas e zonas, seja mais fácil de aplicar em países desenvolvidos do que
nos países do Terceiro Mundo?
Sim, tenho a certeza e tem haver com esta questão da pobreza que estava a falar agora!
Os países em desenvolvimento, como o Brasil, têm muitos problemas para além da
questão da conservação ambiental e é normal que isto seja um tema que é relegado para
o fim, já que há pobreza, favelas e muitas pessoas sem acesso à educação, como
também água corrente, fome. Então, acho que é normal, de certo modo, que estes
problemas não sejam tão evidentes para a sociedade civil e nem um objetivo concreto
por parte dos Governo. Todavia, O Brasil tem a responsabilidade de proteger a sua
grande floresta e a biodiversidade! É preciso um balanço entre atender as necessidades
da população e as necessidades ecológicas, uma vez que são necessidades interligadas,
pois a questão das alterações climáticas é algo que já nos afeta e vai nos afetar cada vez
mais…
Não considera essa retórica de diminuir as desigualdades sociais, detrimento duma
política sem consideração pelo ambiente, é um falso pretexto para adotar medidas
que facilitam a exploração exacerbada dos recursos naturais?
Ah… Eu não acho que se deva dar completamente prioridade à redução das
desigualdades sociais. Acontece quê..
Não é necessário conciliar os dois?
Sim! É isso que estou a dizer! Acontece que a política de deflorestação afeta as
desigualdades sociais e torna-as maior, uma vez que aumenta a riqueza das
multinacionais, já ricas. Sabemos que 1% da população mundial detém grande parte da
riqueza em comparação com o resto das pessoas… Ah… E isto aumenta as
desigualdades e diminui a qualidade de vida das populações locais, dos indígenas, por
isso eu acho que uma ação que junta os dois problemas seria valiosa, apesar de envolver
mais dinheiro e financiamento por parte do Estado.
Qual é o peso que a conservação da floresta amazónica têm ou deveria ter nos
debates, acordos políticos e internacionais que envolvem as questões ambientais?
Ah. Ainda não o suficiente. Ah. Cada vez tem sido mais falado, mas a agora com a
questão da pandemia todos os outros problemas, por mais graves que sejam, são
relegados para segundo, pois cada vez… temos um problema que é mais imediato, então
as questões ficam relegadas para segundo plano! Estas questões devem continuar a ser
discutidas e especialmente acabar este problema, ou quando ficar mais resolvido,
devemos chamar à atenção da opinião mundial. A ação de Greta Thunberg foi bastante
importante, já que não deixou de pressionar e nós todos não devemos também de o
deixar de fazer, pois se não pressionarmos os governos acabam por se esquecer desta
questão ou dão prioridades a outros assuntos.
Qual é o papel da Europa na conservação da Amazónia?
Tendo em conta que o Brasil é uma antiga colónia portuguesa nós temos alguma
responsabilidade como este Estado lida com a situação, mas claro que não temos grande
poder em relação a um país tão grande e mais poderosos economicamente que nós, no

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entanto, mas devemos estar atentos e pressionar o governo, como também proporcionar
ajudas económicas… Ah. Também pressionar os órgãos europeus e internacionais para
adotarem ações mais sustentáveis e também a nível económico tentar boicotar alguns
produtos resultado desta exploração. Acho que temos algum papel no assunto!
Não é um pouco hipócrita esta retórica europeia de exigir metas ecológicas tão
elevadas quando países, como a Alemanha ou a França, não tentam combater as
lógicas de dependência e exploração dos países do Terceiro Mundo, que fomenta a
exploração desreguladas dos recursos naturais?
Ah. Claro que o sistema atual, o capitalismo, a economia de mercado, pressupõem
sempre trocas desiguais entre países periféricos e centrais. Nos países menos
desenvolvidos as práticas económicas não são tão reguladas como nos países mais
desenvolvidos. Os países europeus referidos não têm assim tanto poder em relação a
isso, mas claro que podem boicotar ou aplicar sanções, porém, isso iria afetar ainda
mais a vida das populações desses países mais desfavorecidos… Eu acho que…
Muitas vezes essas empresas, que vão explorar os recursos do Terceiro Mundo, são
alemãs, por exemplo…
Sim! Claro! Claro que isso é uma questão do capitalismo não tem moral, pois as pessoas
colocam o lucro à frente de tudo e, muitas vezes, há empresas, que se deslocalizam, para
locais onde não é necessário pagar tanto aos trabalhadores ou impostos, onde podem
produzir sem restrições ambientais em comparação com as regras impostas nos seus
países de origem. Claro que é necessário uma maior sensibilização face a isto, pois estes
países, como a Alemanha, estão a tentar alcançar estas metas e depois as suas empresas
estão noutros países a ganhar com a desflorestação, com a exploração de pessoas e do
ambiento, sendo este trabalho um pouco contraproducente… pois acaba por balançar
negativamente as ações tomadas no continente europeu com a exploração realizada
pelas empresas europeias nos outros países.
Acha que o criticismo estes movimentos e à própria Greta Thunberg é um pouco
tentar abafar a luta pela conservação do ambiente?
Acho que a questão de atacar a Greta é simplesmente hipócrita. Ela começou um
movimento enorme à escala mundial, sendo apenas uma criança.
Acha que a administração Biden vai influenciar positivamente a conservação da
Amazónia?
Bem, ambos sabemos que os EUA, independentemente do presidente, é sempre muito
influenciada por lobbies e empresas enormes, mas também sabemos que as coias
mudam ligeiramente com os diferentes presidentes. Trump saiu do acordo de Paris e isto
é algo que Biden anunciou a reversão desta política, aderindo novamente. Eu penso que
a ação dum país, tão grande e influente, como os EUA, condiciona muito os outros
países… Ah. Acho que Bolsonaro e Trump, como todos os outros líderes populistas a
nível mundial, estão ligados e instigam uns aos outros as suas políticas, por isso eu acho
a mudança que a mudança da governação nos EUA irá influenciar sim, uma vez que
Biden é um líder mais empenhado nas questões do ambiente nesta campanha do que
Donald Trump se mostrou nos últimos quatro ou cinco anos.

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Acha que os falhanços das ONGs revela uma falta de conexão entre estas e as
populações? As ONGs não estão a conseguir movimentar as populações locais à
ação?
Bem, eu acho que as populações locais também não são propriamente muito
privilegiadas a nível económico, assim como as ONGs também são. É mais uma
questão de valor tentar fazer alguma coisa… Tantas ONGs, como os indígenas,
não têm assim grande poder… No final, as ações cabem ao governo, às organizações
internacionais! Por mais trabalho realizado pelas ONGs, eu acho que o papel final cabe
aos governos.
Um governo conseguiria mesmo realizar uma política para a conservação do
Amazónia sem receber um boicote por parte das empresas internacionais?
Eu acho que mudar o paradigma da exploração e do lucro é bastante difícil de mudar,
uma vez que ninguém quer parar o crescimento económico, já que isso significaria uma
crescente pobreza para a generalidade da população. Um governo teria de adotar uma
política bastante extensa de proteção, como também proibir as empresas de exploração
aqueles locais e devem ser apresentadas alternativas! Em relação à resposta que teria
internacionalmente: eu acho que o governo ficaria muito valorizada, mas também há o
problema da empresas dependentes da exploração iriam ficar bastante descontentes e
poderia ser considerado um “golpe”. A Suécia, por exemplo, está a tentar arranjar
alternativas, abandonando a exploração do petróleo. O Estado brasileiro deve adotar
mediadas lentamente e conciliar o crescimento económico com um crescimento
sustentável.
Em relação aos pequenos por nós realizados para ajudar a combater as alterações
climáticas, acha que isto serve de alguma coisa?
Eu acho que estes atos servem de alguma coisa, pois são pequenas coisas, que na sua
totalidade, acabam por fazer alguma diferença. A nossa mudança de atitude influencia
muita as escolhas das empresas na sua produção e nos produtos apresentados aos
consumidores, dado que estas agem em conformidade com os desejos dos
consumidores.
Qual é o papel dos movimentos socais nesta questão?
Na minha opinião, é uma forma de chamar atenção para o problema e fomentar um
combate mais descentralizado contra as alterações climáticas.
As perguntas acabaram! Obrigado pelo seu tempo.
Owww, de nada.

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Análise da Entrevista

Na minha opinião, houve vários problemas com esta entrevista e esperava ter
realizado um trabalho com mais profundidade. Primeiramente considero que algumas
respostas dadas pelo entrevistado foram insuficientes, assim como houve uma grande
repetição de assunto, ou seja as respostas eram bastante semelhantes entre si e havia
pouco desenvolvimento do tema. Também acho que me distanciei, um pouco, da
pergunta de partida, indo, ao longo da entrevista, para outras situações, embora
relacionadas com a problemática da Amazónia e das alterações climáticas, distante do
objetivo proposto neste trabalho. Não ter entrevistado um académico, ou um perito,
mostrou as suas complicações e limitações pois a entrevistada revelava certa dificuldade
em aborda, de forma coesa, certas perguntas, caindo, por vezes, em repetições
desnecessárias. Contudo, nem tudo foi negativo, julgo que consegui retirar muita
informação útil e diversa do entrevistado, tendo conseguido, durante a entrevista,
abordar o tema dum ponto vista mais eclético, como também, de certo modo, mais
crítico e pouco mais politizado. Ter entrevistado alguém distante do ambiente
académico ou institucional relevou também ser bastante interessante, já que, apesar das
dificuldades mencionadas, evidencia que outras fontes de conhecimento para além
daquelas presentes nas universidades, instituições e outras organizações. De certo modo,
acaba por dar à entrevista um aspeto mais cru, mas também mais informal. Considero
que para as entrevistas posteriores deverei evitar que as perguntas, como também as
respostas, fujam à temática pedida, sendo assim tentar condicionar o andamento da
entrevista, bem como fomentar na pessoa entrevista mais dinamismo a responder,
tentando intervir, por vezes, ou provocando com questões mais chamativas e, de cariz,
mais complexo.

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