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AULA 07 TEORIA DO DELITO.

NEXO DE CAUSALIDADE, RESULTADO E IMPUTAÇÃO OBJETIVA.


Nos crimes de resultado (crimes de resultado podem serem materiais, formais e
de mera conduta), são crimes que possuem obrigatoriamente resultado naturalístico no
mundo exterior. Além disso, para os crimes de resultado se precisa ter o nexo de
causalidade e esse nexo é um critério ôntico imprescindível para imputar alguém. Desse
modo, todo crime que deixa resultado, precisamos mostrar o vínculo da ação e o
resultado. (Nexo de causalidade).

Nesse sentido, se faz necessário entender o Caput. Art.13 CP - “O resultado, de


que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem qual o resultado não teria ocorrido.”

(O crime que se fala nesse artigo é referente aos crimes materiais, somente
aqueles que produzem resultado). Somente é imputado quem deu causa ao crime.
Ademais, a segunda parte deste dispositivo tenta conceituar o que seria causa. Desse
modo, esse dispositivo se faz discutir o caráter naturalístico da causalidade. A
causalidade é ôntica, é naturalística e independe do mundo do ser.

O direito brasileiro usa uma teoria chamada “Teoria da Equivalência dos


Antecedentes Causais”, e diferentemente de outros modelos de direito penal, o direito
penal brasileiro do ponto de vista causal/naturalístico/ontológico não tem diferença. O
conceito ontológico de causalidade não tem nada a ver com o direito, porque causa e
efeito é ontológico (do ser). Porém, se tivéssemos apenas o critério ontológico se
poderia trazer problemas referente a imputação penal.

Quando se fala em causa, se é referente a tudo aquilo que gera o resultado. E


claro que isso tem uma limitação, pois a pessoa que por um acaso seja fabricante de
uma arma não irá responder criminalmente por um ato feito por terceiros. Desse modo,
precisamos separar os conceitos de causalidade e imputação.

Causalidade diz respeito ao mundo do ser, é real e é ontológico; o direito não


tem controle. Por outro lado, a imputação faz parte do dever-se, ela é deontológica, ela
é normativa e é critério jurídico da imputação da causalidade. A causalidade é
necessária, mas ela é insuficiente, logo, ela tem que se aliar a um critério de imputação.
Além disso, quando falamos de causalidade na doutrina, ela faz uma distinção
entre as causas pré-existentes, concomitantes e supervenientes.

Se a causa acontece no momento anterior a conduta, ela é pré-existente (Ex: Se


tem uma pessoa que quer se suicidar e toma uma dose de remédio/veneno/droga.
Porém, logo depois vem uma pessoa e dá uma facada nessa pessoa, contudo a vítima
não morreu da facada).

Por outro lado, se ocorrer no momento da conduta, se chama concomitante.


(Ex: Sujeito ministra uma droga para a vítima que no mesmo momento tem um ataque
cardíaco).

Por fim, se a causa se der depois da conduta, se chamará superveniente.

Nesse sentido, essas causas que chamamos de “concorrentes” podem serem


absolutamente independente da conduta do sujeito (não se tem relação de
causalidade), desse modo o sujeito da causa não irá responder pelo resultado seja na
modalidade pré-existente, concomitante ou superveniente.

Entretanto, se essas causas forem relativamente independentes se muda o


cenário, seria o caso de quando uma causa é dependente da outra. Por exemplo, se há
uma pessoa com uma doença que a torna mais vulnerável (pré-existente) e essa pessoa
recebe um tiro ou uma facada e ela veio a óbito. Porém, ela só morreu porque se tinha
a pré-existência + a facada. Se ele tivesse só a pré-existente, ela não a levaria a morte e
se não tivesse a pré-existente e só levasse a facada, ele também não viria a óbito.
Contudo, ele morreu pelo conjunto da obra dos dois, ou seja, nesse caso há um vínculo
de interdependência entre as duas causas. Elas são relativamente dependentes.
Nesses casos, o sujeito irá responder pelo crime desde que ele tenha conhecimento
da pré-existência da vulnerabilidade, essa condição pré-existente tem que ser
conhecida.

Da mesma forma se aplica para as concomitantes, por exemplo, o sujeito está


com uma arma e a saca para alguém; e essa vítima tem uma parada cardíaca e morre,
porém, ela só teve ataque por conta do ato que estava sendo praticado. Ela morreu pelo
conjunto dos dois atos que seriam relativamente dependentes. Contudo, vale salientar
que o agente também teria que ter conhecimento do fato pré-existente.
Ademais, nas causas supervenientes iremos precisar do §1º do Art.13 CP-“A
superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando por
si só produziu o resultado, os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou.”

Nesse sentindo, no que se refere a superveniência de causa relativamente


independente, é preciso entender que há uma divisão das causas supervenientes e
supervenientes independentes (divisão dupla), as que por si sós produzem resultado e
aquelas que por si sós não produzem resultado. (ex: Rapaz estava em uma festa, recebeu
uma facada e entrou em uma ambulância para ir ao hospital, porém, no meio do
caminho o motorista bateu em um poste e o rapaz que estava no vagão sofreu um
traumatismo craniano e veio a óbito), nesse caso não é uma causa superveniente
independente, e a questão relevante é que o rapaz só estava na ambulância porque ele
levou uma facada. O sujeito que golpeou com a facada deu causa ao crime, porém, ele
não irá responder por crime de homicídio. Nesses casos, o legislador usou uma
linguagem “linguística” quando ele usa “por si só”.

2º exemplo: Uma pessoa leva uma facada próximo a uma piscina, de modo que
essa vítima cai na piscina e morre afogada por não conseguir nadar. Esses dois casos,
portanto, são diferentes.

No primeiro exemplo de caso (festa), a doutrina vai dizer que nós temos uma
quebra de cadeia causal (cadeia causal autônoma que se forma depois). A primeira
cadeia causal que vai do momento que a vítima sofre a facada e tem as primeiras lesões
e a segunda cadeia causal que começa com a colisão do veículo e com o resultado morte
por traumatismo craniano. Nesses casos, a doutrina diz que houve uma quebra porque
não houve desenvolvimento natural dos dois momentos.

Porém, no segundo caso do afogamento, as coisas acontecem no mesmo


momento e não há uma quebra de cadeia causal, isso se chama de cadeia causal linear,
não há uma cadeia causal autônoma.

Desse modo, pelo código penal, o primeiro exemplo da facada na festa, o agente
que causou a facada não irá responder pela morte porque se entende que a segunda
cadeia causal por si só produziu o resultado, ela por “sorte” é autônoma e é como se ela
tivesse agido sozinha. O agente que provocou a facada no máximo irá responder por
tentativa de homicídio se este tiver o dolo de matar.

Por outro lado, no segundo exemplo para a doutrina, o agente irá responder pela
morte porque não houve quebra de cadeia causal, houve uma cadeia causal linear.
Portanto, devemos saber investigar no caso concreto se houve uma quebra de cadeia
causal ou uma cadeia causal linear.

CRIMES OMISSIVOS

Além disso, nos crimes omissivos também iremos usar o art. 13 CP, entretanto
se faz uso do parágrafo 2º.

§2º “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir


para evitar o resultado.”

No art.13 se está trabalhando a relação de causalidade. Até o presente momento


se foi falado de crimes comissivos (ação) e foi comentado em um momento anterior que
o tema mais intrigante do direito penal é a omissão.

De um modo geral, os crimes são punidos a título de ação, pois todo crime
começa com um verbo “matar, lesionar, apropriar-se”, pois esse seria uma ação.
Contudo, quando se trata de omissão, esses seriam dois opostos. A ação seria uma
realidade empírica possível de ser conhecida pelos sentidos (matar, ameaçar,
constranger), no entanto a omissão de ação não seria uma realidade empírica, mas
uma expectativa frustrada de ação somente podendo ser reconhecida por um juízo de
valor.

Omitir uma ação não significa fazer absolutamente nada, mas é o não fazer algo
determinado pelo direito. A omissão é um nada do ponto de vista naturalístico,
contudo, do ponto de vista normativo é penalmente relevante.

A omissão é normativa e ela depende do direito. Os crimes omissivos só são


relevantes porque o legislador previu essa possibilidade no §2 do art.13 CP. A omissão
é uma convenção, ela é o caso de não fazer algo que o direito determina que seja feito.

• Classificação:
OMISSÃO DE AÇÃO PRÓPRIA E OMISSÃO IMPRÓPRIA.

Antes de entrar nessa classificação, é importante que se entenda a diferença


entre normas penais proibitivas e normas penais mandamentais.

As normas penais proibitivas compõem a grande maioria do acervo da legislação


penal. É quando o legislador determina que o crime será realizado por um
comportamento ativo, por meio de uma ação. Ex: matar alguém; Matar alguém é o
comando, contudo a norma que está por trás é proíbe o ato.

Por outro lado, as normas penais mandamentais que são aquelas que a lei é
negativa, ex: omissão de socorro. O que o legislador quer dizer é “prestem socorro”. O
que se espera é que faça, mas se a pessoa não fazer irá cometer crime. Além disso, essas
normas mandamentais podem ser de caráter explicita (omissão própria - dever jurídico
geral de agir) ou implícita (omissão imprópria - dever jurídico especial de agir).

Ou seja, crimes de omissão própria são crimes de mera atividade e o seu


fundamento é a solidariedade humana entre os grupos de uma comunidade. Além disso,
esses são independentes de resultados. Ex: Omissão de socorro. A responsabilidade é
dolosa, e se a vítima morrer tem um agravamento de pena.

Por outro lado, na omissão imprópria (implícita), existe a necessidade de um


resultado naturalístico e se tem a princípio um crime praticado pela via omissiva, pela
ação. Desse modo, se pode matar várias vezes uma pessoa, inclusive omitindo. Eles se
dão responsabilidade pelo resultado e é preciso esse resultado. Além disso, o
fundamento gira em torno da posição de garantidor, que é oriundo de um dever jurídico
especial de agir.

ESTRUTURA DOS TIPOS DE OMISSÃO

Estrutura Objetiva:

a) Situação de perigo para o bem jurídico: Na omissão de ação própria, é


explicita e na omissão de ação imprópria, está implícita no resultado porque
se está em uma situação de dano. Seja uma ou outra, tem que haver o perigo
para o bem jurídico.
b) Capacidade concreta de agir: Essa questão tem a ver com poder de agir. Tem
que ser observável se o sujeito estava em capacidade concreta e em
condições de agir. É exigível tanto nas ações próprias e impróprias.

c) Omissão da ação mandada: É o descumprimento do dever jurídico de agir.


Na omissão própria é um dever geral e na omissão imprópria, é um dever
especial.

d) Resultado típico: Ele é específico da omissão imprópria. É a consequência


causal da omissão mandada. Contudo, essa relação de causalidade não é
real (naturalística), mas hipotética (normativa). Ex: O cuidador que deixa de
ministrar o remédio. A relação de causalidade não é naturalística, o sujeito
não morreu porque o cuidador deixou de ministrar o remédio e sim por conta
de um agravamento do estado de saúde. Essa relação, portanto, é
naturalística (hipotético).

e) Posição de garantidor (§2º art.13 CP): Também específico da omissão


imprópria. A posição de garantidor é aquela destinação de dever específico.
Na omissão própria o dever é genérico, na imprópria o dever é específico.
Desse modo, o código penal brasileiro utilizando-se de um critério formal,
define a posição de garantidor a partir da lei, do contrato e da ação
precedente perigosa.
Alíneas:
I) Obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância: A lei cria o dever
jurídico de cuidado recíproco (relações familiares). Ou seja, a lei
impõe a obrigação legal de cuidado, proteção e segurança.
II) Assunção de responsabilidade de impedir o resultado: Ato de
vontade (contratual ou extra-contratual) - assunto fático da
produção. Do momento que eu me coloco responsável por algo, eu
tenho que assumir aquela responsabilidade.
III) Comportamento anterior criador do risco resultado: Ação
precedente perigosa. (Depende muito da situação). Ex: Um nadador
experiente convida um amigo inexperiente para atravessar a baía do
Guajará, e o sujeito aceita. Segundo o código penal, a pessoa que fez
o convite se auto coloca na posição de garantidor. Ela se auto coloca
na posição de impedir a lesão ao bem jurídico do outro. Nesse
sentido, se por um acaso a pessoa tenha um afogamento e morra, o
nadador experiente deixa de prestar socorro, ele não responder por
omissão genérica e sim por omissão e homicídio. Pois, ele criou o risco
por uma ação precedente.

Desse modo, essas são as três hipóteses para que alguém se coloque
na posição de garantidor para evitar a lesão jurídica de alguém.

Do ponto de vista subjetivo:

1- Na omissão própria: somente o dolo, não existe crime de omissão própria


culposa. Todo crime de mera conduta é crime doloso. Não existe omissão de
socorro culposa.

2- Na omissão de ação imprópria: Tanto faz, pode ser com dolo ou culpa.

Obs: O dolo abrange o conhecimento da situação de perigo, da capacidade de


agir e da posição de garanti (esta última, para as omissões de ações impróprias).
Ou seja, o sujeito tem que saber que está na posição de garantidor, ele só pode
agir com dolo se ele teve conhecimento e saber que estar descumprindo uma
regra de cuidado.

OMISSÃO DE AÇÃO IMPRÓPRIA E TENTATIVA: O direito brasileiro não admite a ideia


da ação imprópria e tentativa. Contudo, esse estudo é bom ser passível de observação.
Desse modo, nos crimes de omissão de ação própria, é impossível se falar em tentativa,
pois são crimes de mera atividade. Todavia, nos crimes de omissão de ação imprópria, a
tentativa é, a princípio, possível, pois a realização do resultado típico é elemento
objetivo de tais tipos penais. Mas surge um grande problema: definir o começo da
tentativa. Quando se daria o inicio de execução? Critério da moderna dogmática alemã.

IMPUTAÇÃO OBJETIVA

A imputação objetiva é vista como um critério normativo para ajudar na questão


difícil da causalidade. Tem certas situações que a imputação subjetiva não responde,
por exemplo, quando se tem alguém que deseja muito a morte de uma pessoa e esse
sujeito resolve executar um plano incerto, contudo, na cabeça dele irá dá certo porque
ele previu o fato através dos astros. Diante disso, por ser uma pessoa crédula, ele
comprou uma passagem aérea para a vítima e o avião cai. Nesse sentido, será que esse
sujeito irá ser responsável pelo acontecimento? Não. Contudo, se usarmos o conceito
de causa (ação-omissão) no momento em que ele deu uma passagem para sujeito, ele
irá responder.

O mero recurso a critérios de imputação subjetiva, por obvio, não é suficiente para
resolver a grave problemática da imputação no Direito Penal. Depender unicamente de
avaliação de dolo é percorrer por caminho inseguro, pois tudo o que está dentro da
mente humana é impossível de ser atingido através de critérios dogmáticos. Dai a
necessidade, cada vez mais presente, de se estabelecer instrumentos aptos a
complementar a análise de imputação, através de um prisma objetivo (objetivar a
imputação), até mesmo para se buscar conseguir a segurança necessária a uma
aplicação constitucionalmente orientada do Direito Penal.

A imputação no finalismo que antes era só subjetiva, se precisou de um complemento


que veio com o funcionalismo, que foi a imputação objetiva. Enquanto a imputação
subjetiva faz parte do mundo ontológico, do mundo do ser, a imputação objetiva é
baseadas em critérios do dever ser, de caráter normativo.

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