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Compreendendo
a pesquisa
qualitativa
QUADRO 1.1
Embora um estereótipo comum ligue a falta de moradia aos homens, as mulheres também podem
carecer de moradia, e os abrigos atendem especificamente homens ou mulheres. O estudo de
Elliot Liebow (1993), na área de Washington, trata de um grupo de mulheres e seu abrigo. Para
fazer o estudo, Liebow trabalhou a maior parte de um período de quatro anos como voluntário no
abrigo, muitas vezes passando a noite lá.
O estudo de Elliot Liebow representa a cultura do abrigo, envolvendo as interações entre os clien-
tes e os funcionários no esforço para atender as necessidades tanto individuais quanto institucio-
nais. As mulheres são de diversas idades e raças, e algumas já tiveram suas próprias famílias. Para
capturar essa diversidade, o estudo também inclui as histórias de vida de cerca de 20 delas. Ao
longo do livro, Liebow debate a questão de por que essas mulheres não têm moradia, mas ao mes-
mo tempo fornece informações suficientes para que os leitores tirem suas próprias conclusões.
Anteriormente, Liebow realizou um estudo de homens desempregados em um bairro urbano.
Este trabalho anterior, Talley’s Corner (1967), foi por anos reconhecido como um estudo qualitativo
clássico.
Nos três exemplos, os pesquisadores con- Você pode inclusive estudar a vida coti-
duziram extensas entrevistas com muitas diana nas ruas de sua cidade, como no:
mulheres e suas famílias, além de visitarem
seus lares e observarem o comportamento 9 estudo de Duneier (1999) dos vendedores
familiar. Estes e outros estudos seguem, de de rua;
certa forma, o estudo de referência de Carol 9 estudo de Lee (2009) das interações nas
Gilligan (1982) do lugar da mulher em um ruas; ou
mundo masculino – no qual ela alegou que 9 estudo de Bourgois (2003) dos viciados, la-
grande parte das chamadas teorias do de- drões e traficantes que fazem parte da eco-
senvolvimento moral e emocional tinham se nomia informal em algumas cidades.
baseado exclusivamente nas percepções e ex-
periências masculinas. O fascínio da pesquisa qualitativa é que
Além desses exemplos, a gama de temas ela permite a realização de estudos apro-
abordados por outros trabalhos contemporâ- fundados sobre uma ampla variedade de
neos se estende do raro ao comum, tais como: tópicos, incluindo seus favoritos, em termos
simples e cotidianos. Além disso, a pesquisa Apesar da maior liberdade oferecida pela
qualitativa oferece maior liberdade na sele- pesquisa qualitativa, seus colegas podem,
ção de temas de interesse, porque os outros não obstante, alegar que outros tipos de
métodos de pesquisa tendem a ser limitados pesquisa em ciências sociais – por exem-
por: plo, levantamentos, estudos econômicos,
experimentos, semiexperimentos e estudos
9 impossibilidade de estabelecer as necessá- históricos – também podem abordar muitos
rias condições de pesquisa (como em um dos mesmos tópicos apontados no panora-
experimento); ma de abertura dos estudos qualitativos.
9 indisponibilidade de uma série de dados Esses outros tipos de pesquisa podem ser a
suficientes ou falta de abrangência de va- base para estudar grupos de pessoas seme-
riáveis suficientes (como em um estudo lhantes, como moradoras de rua, questões
econômico); de saúde pública semelhantes, como cam-
9 dificuldade de extrair uma amostra ade- panhas de imunização ou relações médico-
quada de entrevistados e obter uma taxa -paciente, igualdade de gênero e aspectos
de resposta suficientemente alta (como em femininos, e mesmo temas que estabelecem
um levantamento); ou comparações internacionais e nacionais das
9 outras limitações, como dedicar-se ao es- mesmas temáticas citadas. As alegações de
tudo do passado mas não de atualidades seus colegas, portanto, apontam para a ne-
(como em uma história).1 cessidade de confrontar a questão do que
distingue a pesquisa qualitativa, especial-
Por ora, a pesquisa qualitativa tornou- mente em relação a outros tipos de pesquisa
-se uma forma aceitável, se não dominante, em ciências sociais.
de pesquisa em muitas áreas acadêmicas e
profissionais diferentes. Consequentemen-
te, o grande número de alunos e estudiosos Pesquisa qualitativa: uma ampla
que realizam estudos qualitativos pode fazer área de investigação
parte de diferentes disciplinas de ciências
sociais (p. ex., sociologia, antropologia, ciên-
cia política ou psicologia) ou diferentes pro- A diversidade do que se chama pesquisa
fissões (p. ex., educação, administração, en- qualitativa, devido a sua relevância para
fermagem, planejamento urbano e avaliação diferentes disciplinas e profissões, desafia
de programas). Em qualquer desses campos, qualquer um a chegar a uma definição su-
a pesquisa qualitativa representa um modo cinta. Uma definição muito curta parecerá
atraente e produtivo de fazer pesquisa. excluir uma ou outra disciplina. Uma de-
finição muito ampla parecerá inutilmente
global. Na verdade, o termo pesquisa qua-
B. O QUE DISTINGUE A PESQUISA litativa pode ser como os outros termos
do mesmo gênero – por exemplo, pesquisa
QUALITATIVA sociológica, pesquisa psicológica, ou pesqui-
sa educacional. Dentro de sua própria dis-
Prévia ciplina ou profissão particular, cada termo
implica um amplo conjunto de pesquisa,
O que você deve aprender nesta seção: abarcando uma diversidade de métodos al-
1. As cinco características que distinguem a pesquisa tamente contrastantes. Pense simplesmen-
qualitativa de outros tipos de pesquisa em ciências te, por exemplo, na psicologia clínica e ex-
sociais. perimental. Apesar de ambas fazerem parte
2. Como as cinco características apontam para modos do mesmo campo, seus métodos diferem
específicos de praticar pesquisa qualitativa.
acentuadamente.
QUADRO 1.2
O estudo de Lauren Rivera (2008) examina como o governo croata “alterou representações da
história e da cultura da região por meio do turismo internacional na esteira das guerras violentas
da secessão iugoslava” (p. 614). O objetivo do governo era criar uma vigorosa indústria do turismo,
atraindo viajantes estrangeiros. Para fazer isso era preciso “desviar a atenção da guerra e reposi-
cionar o país como um lugar idêntico a seus vizinhos europeus ocidentais” (p. 614).
Dados de diversas fontes de campo mostram como a Croácia lidou com as dificuldades do passado
pelo “reenquadramento cultural mais do que por reconhecimento público” (Rivera, 2008, p. 613).
Essas constatações são então discutidas à luz do clássico estudo de Erving Goffman (1963) sobre
estigma e manejo do estigma. Sua tipologia do manejo do estigma, geralmente aplicada ao estu-
do de indivíduos com deficiências mentais ou físicas, oferece um arcabouço interessante quando
aplicada às condições na Croácia, um estado-nação. Ampliando o alcance das ideias de Goffman,
para compreender “processos de representação histórica e cultural” (p. 615), o estudo de Rivera
demonstra habilmente o valor de ligar a pesquisa qualitativa a processos sociais interessantes.
QUADRO 1.3
O estudo de Valenzuela (1999) de uma escola em Houston mostra como um conceito abrangente
pode orientar a organização de todo um estudo. O conceito é o de educação escolar subtrativa,
uma experiência que surgiu do modo como os programas de inglês como segunda língua (ESL) são
impostos a estudantes imigrantes.
O autor passou três anos como observador-participante na escola, também fazendo muitas en-
trevistas e colhendo dados documentais. Valenzuela observa que a maioria dos estudos de pro-
gramas ESL focou em como os alunos aprendem e não em como são escolarizados, deixando
uma lacuna na literatura. Em suma, o estudo dela mostra como a experiência escolar assume um
caráter subtrativo porque a fluência em espanhol, em vez de ser uma virtude a ser aproveitada, é
uma “barreira que precisa ser superada” (1999, p. 262). “Abandonar nossa cultura original” torna-
-se, então, parte de um processo de alienação (p. 264). Os resultados mostram como a educação
escolar subtrativa também se estende a divisões entre os diferentes grupos de estudantes.
para detalhes sobre como estas e outras va (Cap. 2), como dar os primeiros passos de
práticas podem funcionar para você: um estudo qualitativo (Cap. 3), como regis-
trar os dados corretamente (Cap. 7) e como
1. O uso de delineamentos de pesquisa apresentar dados qualitativos por meio de
flexíveis em vez de fixos, abrangendo formas escritas e visuais e criar uma com-
oito escolhas, tais como reforçar a vali- posição final (Caps. 10 e 11). O capítulo final
dade de um estudo, selecionar as amos- introduz uma importante tendência contem-
tras a serem estudadas e preocupar-se porânea diretamente relacionada à pesquisa
em generalizar (ver Cap. 4). qualitativa – a maior atenção dedicada à pes-
2. A coleta de dados “de campo” – apro- quisa com metodologia mista (Cap. 12). Al-
priadamente tentando capturar condi- guns temas importantes – tais como manter
ções contextuais, bem como perspecti- a consciência de como seu papel como pes-
vas dos participantes – resultantes de quisador pode influenciar um estudo (refle-
seu próprio trabalho de campo e exami- xividade) – tendem a ocorrer em todo o livro
nando os diários, jornais, textos, foto- (ver também a discussão no Cap. 11 sobre
grafias, ou outros artefatos associados como apresentar nosso “eu reflexivo” como
aos próprios participantes (ver Caps. 5 parte de um estudo qualitativo concluído).
e 6).
3. A análise de dados não numéricos – in-
clusive escolhas sobre usar ou não vá- C. O MUNDO MULTIFACETADO DA
rios tipos de programas de computador
(ver Cap. 8); e
PESQUISA QUALITATIVA
4. A interpretação dos resultados de um es-
tudo qualitativo, que pode envolver ge-
neralizações convencionais desafiadoras Prévia
e estereótipos sociais (ver Cap. 9). O que você deve aprender nesta seção:
1. Como os eventos humanos podem refletir múlti-
Os outros capítulos do livro tratam de plas realidades.
questões mais gerais, tais como de que for- 2. Como o estudo de tais eventos, a despeito de sua
ma se equipar para fazer pesquisa qualitati- singularidade, ainda pode decorrer da coleta de da-
dos e técnicas de análise comuns.
tros básicos – de onde, quando e o que re- 2001, p. 43). Ao estudar a cultura de um
gistrar – definidos pelo pesquisador. povo ou de um lugar, as descrições podem
A seletividade também pode surgir por ser consideradas interpretações de segunda
conta das categorias pré-concebidas de um ou terceira ordem, porque representam as
investigador para atribuir significado aos “construções do pesquisador das constru-
eventos e suas características (p. ex., Bec- ções [‘dos participantes’] daquilo que eles
ker, 1998, p. 76-85). Como declarou Robert e seus compatriotas se ocupam” (Geertz,
Emerson (2001, p. 48): 1973, p. 9, 15).
Seguindo essa lógica, o pesquisador em
O autor decide não apenas quais eventos em parti- campo serve efetivamente como principal
cular são significativos, quais são apenas dignos de instrumento de pesquisa para coletar da-
inclusão, quais são absolutamente essenciais e como dos em um estudo qualitativo (ver Cap. 5,
ordenar esses eventos, mas também, em primeiro item D, para mais detalhes). Nenhum ins-
lugar, o que conta como um “evento”. trumento físico de medição, procedimento
experimental, ou questionário prevalece –
O apelo para criar uma “descrição den- ainda que todos possam ser usados como
sa” – um termo comumente associado ao tra- parte de um estudo qualitativo. Na maioria
balho de Clifford Geertz (1973), mas que, na das situações, o pesquisador inevitavelmen-
verdade, ele creditou (p. 6-7) a Gilbert Ryle te serve como um instrumento de pesqui-
(1949), é uma forma de tentar revelar ou ao sa porque os fenômenos importantes da
menos aumentar nossa consciência da seleti- vida real – tais como a própria “cultura”
vidade e das categorias preconcebidas (Bec- que é um tema frequente dos estudos qua-
ker, 1998). Quanto mais densa a descrição, litativos – não podem ser mensurados por
mais possível seria dizer que aquela seletivi- instrumentos externos, mas somente ser
dade foi reduzida. revelados fazendo-se inferências sobre os
Além de produzir uma descrição densa, comportamentos observados e conversando
outras práticas de estudo de campo incluem com as pessoas (Spradley, 1979, p. 7).
“nos confrontarmos com as coisas que nos Além disso, o pesquisador tem uma per-
afastariam das categorias convencionais, da sonalidade humana e não pode se compor-
declaração convencional de um problema, tar como “um robô sem face ou como um
da solução convencional” (Becker, 1998, p. gravador mecânico dos eventos humanos”
85), e “identificar o caso que provavelmen- (Powdermaker, 1966, p. 19). Essa persona-
te perturbaria seu pensamento e procurá- lidade “não se forma no trabalho de campo,
-lo” (p. 87). mas tem muitos anos de condicionamento
Não obstante, por mais bem-sucedi- por trás de si”, incluindo “a escolha dos pro-
das que essas confrontações possam ser, os blemas e dos métodos, mesmo a escolha da
pesquisadores não podem na análise final própria disciplina [acadêmica]” (p. 19).
evitar suas próprias lentes de pesquisa ao As pessoas que fazem pesquisa qualita-
representarem a realidade. Assim, o obje- tiva veem a distinção êmico-ético e a pos-
tivo é reconhecer que múltiplas interpreta- sibilidade de múltiplas interpretações dos
ções podem existir e garantir que o máxi- mesmos eventos como uma oportunidade,
mo possível seja feito para impedir que um não uma limitação. Na verdade, um tema
pesquisador imponha sua própria interpre- comum subjacente a muitos estudos quali-
tação (ética) à interpretação (êmica) de um tativos é demonstrar como as perspectivas
participante. dos participantes podem divergir acentua-
Nesse sentido, as descrições do tra- damente daquelas apresentadas por pesso-
balho de campo são “construídas” (Guba, as externas.
1990). Mesmo um “ambiente” de campo Por exemplo, a pesquisa multicultural
não é uma “entidade natural preexisten- visa a descrever as perspectivas dos par-
te”, mas algo que é construído (Emerson, ticipantes de maneiras precisas e válidas,
QUADRO 1.4
Richard Addison (1992) usou uma abordagem hermenêutica para estudar nove pessoas em seu
primeiro ano de residência. Ele escolheu um programa de residência em clínica familiar ligado à
universidade, focando nas experiências de primeiro ano dos novos residentes.
Addison iniciou seu estudo mergulhando no cotidiano dos residentes, desenvolvendo sua própria
compreensão experiencial de suas práticas. Ele não apenas acompanhou esses residentes, como
também entrevistou seus cônjuges e outros no mesmo ambiente educacional, além de ler “um
imenso volume de memorandos, grades de horários e documentação” (1992, p. 115).
Como parte de um “processo circular hermenêutico”, Addison então incorporou sua compreen-
são mais completa a mais observações e imersão (1992, p. 116). Em diversas etapas, ele também
apresentou seu trabalho a seus colegas, processo que o ajudou a “recuar, refletir e questionar [sua]
compreensão” (p. 119).
A análise de Addison constantemente o remeteu de volta a sua questão de pesquisa: como as pes-
soas se tornam médicos de família. Seus principais resultados trataram da importância de “sobre-
viver” como um tema unificador, inserido em “um contexto de conflitos e contradições no tecido
da residência” (1992, p. 122-123).
para testar como elas aprendem (Giorgi & Não obstante, e apesar de assumir-se
Giorgi, 2009). Em tais investigações, estu- esta postura, a singularidade dos eventos
dos fenomenológicos resistem a “qualquer sendo estudados não impede um estudo
uso de conceitos, categorias, taxonomias fenomenológico de adotar os mesmos tipos
ou reflexões sobre as experiências” (Van de procedimentos de coleta de dados utili-
Manen, 1990, p. 9). Relacionado a esse zados em um estudo não fenomenológico.
objetivo, o Capítulo 3 deste livro discute Os procedimentos incluem obter descrições
uma escolha de “trabalho de campo pri- experienciais de diversas pessoas-chave, fa-
meiro” que pode preceder a identificação zer entrevistas, fazer observações e coletar
de quaisquer questões de pesquisa como informações sobre as experiências vividas
parte do processo de iniciar um novo estu- de outras fontes, tais como diários, jornais
do qualitativo. e registros (p. ex., Van Manen, 1990, p.
As características a serem evitadas em 53-76). Esses procedimentos seriam dire-
estudos fenomenológicos incluem qualquer tamente semelhantes às práticas de coleta
interesse em desenvolver generalizações, de dados apresentadas no Capítulo 6 deste
pois elas podem distorcer o desejado foco livro.
na singularidade dos eventos (Van Manen, De maneira semelhante, estudos feno-
1990, p. 22). Uma consequente preocupa- menológicos tendem a usar o mesmo tipo
ção seria o uso de métodos de pesquisa de procedimentos de análise de dados que
predeterminados cujos procedimentos fixos em um estudo não fenomenológico. Por
poderiam restringir artificialmente uma re- exemplo, a ênfase dos estudos fenomenoló-
presentação do evento por “governarem por gicos de capturar e interpretar as palavras
regras o projeto de pesquisa” (p. 29). Nesse e a linguagem dos participantes leva ao or-
sentido, a condução de um estudo fenome- denamento das palavras originais dos par-
nológico poderia querer evitar a maioria ticipantes lado a lado com as interpretações
ou todas as escolhas de delineamento – in- e mesmo transformações dessas palavras
clusive aquela sobre qualquer interesse em pelo pesquisador (Giorgi & Giorgi, 2009, p.
generalizar os resultados de um estudo – 44), bem como a possível necessidade de al-
apresentadas no Capítulo 4 deste livro. gum tipo de análise temática (Van Manen,
1990, p. 77-109). Esses procedimentos não toetnografia (p. ex., Jones, 2005); análise
são diferentes da codificação de informa- conversacional (p. ex., Drew, 2009); análise
ções textuais de outros estudos qualitativos do discurso (p. ex., Bloome & Clark, 2006;
ou das práticas apresentadas posteriormen- Willig, 2009); etnografia da performan-
te no Capítulo 8 deste livro. ce (p. ex., Denzin, 2003); e interacionis-
Em outras palavras, muitos procedimen- mo simbólico (p. ex., Blumer, 1969; Mead,
tos de pesquisa comuns ainda subsidiam es- 1934). Portanto, você deve apreciar e estar
tudos qualitativos, que em outros aspectos consciente da probabilidade de que os ar-
podem diferir fortemente em sua orientação tigos encontrados em diferentes revistas
filosófica e delineamento de pesquisa. de pesquisa qualitativa – tais como Action
Research, Narrative Inquiry (anteriormente
o Journal of Narrative and Life History) e o
Emular ou não uma das variantes de Journal of Contemporary Ethnography, para
pesquisa qualitativa citar alguns – tendem a favorecer diferentes
variações e consequentemente diferem em
suas orientações de pesquisa. Alguns es-
Uma terceira condição que contribui para o tudiosos (p. ex., Grbich, 2007; Rex, Stead-
mosaico geral aponta para o grande número man, & Graciano, 2006) também identifica-
de metodologias formalmente organizadas ram diferentes preferências analíticas para
dentro da pesquisa qualitativa. Ao definir acompanhar as diferentes variações.
sua própria pesquisa qualitativa, você pode Apesar disso, as qualidades comuns
querer emular uma de duas variações. Você que distinguem a pesquisa qualitativa em
pode ter sido aconselhado a fazê-lo por um todas essas variações também persistiram
orientador, ou você pode sentir uma neces- e tornaram-se mais reconhecidas. Indepen-
sidade irresistível de responder à pergunta dentemente de qualquer variação em parti-
“que tipo de pesquisa qualitativa você está cular, praticamente toda pesquisa qualitati-
fazendo?”.3 Não existe tipologia formal ou va parece seguir a maioria, se não todas as
inventário, mas a orientação especializada cinco características da pesquisa qualitativa
encontrada em muitos artigos e livros (p. descritas anteriormente. Na verdade, estu-
ex., Denzin & Lincoln, 2005) fornece mui- dos consistentes, se não exemplares, podem
tos modelos de variações que podem ser se- ser conduzidos com o rótulo geral de “pes-
guidas em sua pesquisa. quisa qualitativa” ou “estudo de campo”,
Por exemplo, considere as 10 variações sem recorrer a nenhuma dessas variações.
apresentadas na Tabela 1.1. Todas elas ten- É interessante que esse tipo de pesquisa
dem a estar entre as formas comumente qualitativa generalizada aparece com regu-
aceitas de pesquisa qualitativa. Elas não se laridade nos principais periódicos acadêmi-
agrupam em categorias ordenadas. Con- cos e editoras universitárias. Por exemplo,
sequentemente, as variações podem se so- duas revistas de destaque em sociologia co-
brepor, tal como: fazer um estudo de caso brem todas as correntes de pesquisa socioló-
baseado em observação participante; ou gica. Ambas dedicaram considerável espaço
conduzir uma história de vida como parte de a uma variedade de estudos qualitativos
uma investigação narrativa; ou fazer pesqui- (p. ex., Auyero & Swistun, 2008; Cable,
sa-ação e adotar uma abordagem de teoria Shriver, & Mix, 2008; Davis & Robinson,
fundamentada na coleta e análise dos dados. 2009; Madsen, 2009; Moore, 2008; Read &
Você precisa ser sensível a essas varia- Oselin, 2008; Rivera, 2008).
ções, mas não precisa escolher entre elas Citações semelhantes podem ser encon-
se não quiser. Sua sensibilidade precisa tradas em outras disciplinas acadêmicas e
sobretudo reconhecer sua numerosidade. profissões – cujos principais periódicos tam-
Por exemplo, além das 10 variedades lis- bém fornecem todos os tipos de pesquisa, não
tadas na Tabela 1.1, outras incluem a au- apenas pesquisa qualitativa (como exemplos,
TABELA 1.1
Estudo de caso Platt (1992); Yin (2009); Yin Estuda um fenômeno (o “caso”) em
(no prelo) seu contexto real.
Pesquisa feminista Fine (1992); Olesen (2005); Abarca a perspectiva de que relações
Hesse-Biber & Leavy (2007) metodológicas e outras incrustam
relações de poder com frequência
ignoradas que podem afetar os
resultados de pesquisa.
Teoria fundamentada Glaser & Strauss (1967); Presume que a ocorrência natural do
Charmaz (2005); Corbin & comportamento social em contextos
Strauss (2007) da vida real é mais bem analisada
derivando-se categorias e conceitos
fundamentados “de baixo para cima”.
História de vida Lewis (1961, 1965); Langness Coleta e narra a história de vida de
(1965); Bertaux (1981) uma pessoa, capturando seus pontos
de virada e temas importantes.
Investigação narrativa Riessman (1993, 2008); Chase Constrói uma representação narrativa
(2005); Connelly & Clandinin dos resultados obtidos em um
(2006); Murray (2009) ambiente real e dos participantes, para
acentuar a sensação de “estar lá”.
ver Sauder, 2008, em ciências da administra- lista e única-não única. Entretanto, a loca-
ção, e Sack, 2008, em formação de profes- lização também poderia estar em qualquer
sores). Da mesma forma, editoras universi- ponto intermediário, representando o “ter-
tárias publicam muitos estudos qualitativos reno intermediário viável” como reconhe-
que presumem as características mais gerais cido por Gubrium e Holstein (1998).
da pesquisa qualitativa e não se encaixam em
nenhuma variante em particular. Por exemplo, você pode expressar e defender sua
Portanto, em vez de se sentir forçado a intenção de fazer um estudo de caso porque ele re-
escolher uma das variações como base para presenta um caso único, que merece ser estudado
um estudo qualitativo, você pode exercitar por seu próprio mérito. Embora se trate de uma
uma opção viável conduzindo uma pesquisa situação particular, o caso ainda pode trazer reve-
qualitativa de uma forma generalizada. Você lações incomuns que justificam seu estudo. Robert
pode simplesmente declarar – como nos arti- Stake (1995, p. 8; 2005) chamou esses de estudos de
gos dos periódicos recém citados – que você caso intrínsecos.4
está apresentando um estudo de pesquisa
qualitativa, sem referência a nenhuma das Por outro lado, você pode afirmar que seu estudo
variantes. Observe que seguir a forma gene- de caso não somente apresenta uma determinada
ralizada de pesquisa qualitativa não implica situação como pretende informar outras situações
uma metodologia rígida. O delineamento de ou casos, e Stake chama esses de estudos de caso
seu estudo (ver Cap. 4), os métodos de coleta instrumentais (p. 3).
de dados (ver Cap. 6) e as opções de análise
quanto a “codificar” seus dados ou não (ver Tendo declarado sua localização epis-
Cap. 8), tudo isso envolve um conjunto de temológica, você então indicaria como o
escolhas que você deve fazer. delineamento de seu estudo e a seleção de
seus procedimentos de pesquisa refletiram
a localização declarada – em parte citando
Estratégias de mediação outros estudos que haviam feito escolhas
semelhantes e tinham expressado suas
apropriadas precauções. Você poderia in-
A mediação no mosaico de orientações e clusive adotar “vozes” narrativas ao relatar
metodologias pode ser feita de duas ma- seu trabalho, novamente observando an-
neiras. Ambas vão ajudar-lhe a prosseguir tecipadamente por que você escolheu uma
com seu estudo qualitativo, quer você pla- determinada voz.
neje seguir uma das variações ou conduzir
uma forma generalizada de pesquisa qua- Por exemplo, John van Maanen (1988; ver também
litativa. Quadro 11.3) faz distinção entre uma voz em ter-
Seguindo a primeira maneira, você ceira pessoa, impassível (história realista), uma voz
pode reconhecer explicitamente as esco- em primeira pessoa participativa que reconhece
lhas metodológicas antecipadamente e abertamente o papel do pesquisador no campo
depois indicar sua sensibilidade a respei- (histórias confessionais), e uma narração que pro-
to de suas oportunidades, limitações e cura situar o leitor no meio da uma situação de
fundamentos filosóficos. O processo seria trabalho de campo, como se fosse para revivê-la
(história impressionista).
semelhante ao que Grbich (2007, p. 17)
descreveu como reconhecer a localização
epistemológica de seu estudo – ou seja, as As diferentes vozes acomodariam e
suposições filosóficas que você faz sobre complementariam sua localização episte-
os modos de saber o que você sabe. Sua mológica
localização epistemológica poderia ser um Seguindo-se uma segunda estratégia de
dos extremos criados pela escolha de uma mediação, uma maneira alternativa e igual-
combinação de dimensões relativista-rea- mente viável de lidar com o mosaico é pre-
sumir que “todos os tipos de investigação, ser capaz de empreender tal exame. Dessa
na medida em que o objetivo é chegar a con- forma, o estudo final deve ser capaz de re-
clusões verossímeis, [possuem] uma seme- sistir a um exame profundo de outras pes-
lhança epistemológica subjacente” (Phillips, soas (p. ex., Yardley, 2009, p. 243-250).
1990b, p. 35, grifo nosso). Tal semelhança
pode subjazer toda pesquisa qualitativa, in-
dependentemente das vozes, variantes, ou Metodicidade
personalização dentro do mosaico. O objeti-
vo principal – fazer pesquisa qualitativa ve-
rossímil e confiável – representa o esforço Um segundo objetivo do ofício é fazer pes-
comum, e por isso a próxima seção é total- quisa qualitativa metodicamente. É preciso
mente dedicada a essa segunda alternativa. haver espaço adequado para a descoberta
e consideração de eventos imprevistos. En-
tretanto, ser metódico significa seguir al-
D. INCORPORANDO CONFIANÇA gum conjunto ordenado de procedimentos
de pesquisa e minimizar trabalho extrava-
E CREDIBILIDADE NA PESQUISA gante ou descuidado – quer um estudo seja
QUALITATIVA baseado em um delineamento de pesquisa
explicitamente definido ou em uma rotina
de campo mais informal, mas, não obstan-
Prévia te, rigorosa. Ser metódico também inclui
evitar viés não explicado ou deliberada dis-
O que você deve aprender nesta seção: torção na realização da pesquisa. Finalmen-
1. Três objetivos para construir a confiança e a credi- te, ser metódico também significa conferir
bilidade de um estudo qualitativo. um senso de completude a uma iniciativa
de pesquisa, além de verificar os procedi-
mentos e dados de um estudo.
Eisenhart (2006) discutiu modos rela-
Transparência cionados que podem ser usados para aten-
der o objetivo de metodicidade. Por exem-
O primeiro objetivo para construir confiança plo, ela nota que as descrições do trabalho
e credibilidade é que a pesquisa qualitati- de campo devem mostrar que um pesqui-
va seja feita de uma maneira publicamente sador estava “real e plenamente presente
acessível. Para usar um termo que ganhou – física, cognitiva e emocionalmente – nas
popularidade no século XXI, os procedimen- cenas de ação em estudo” (Eisenhart, 2006,
tos de pesquisa devem ser transparentes. p. 574). Os objetivos dela dizem respeito à
Esse primeiro objetivo significa que pesquisa qualitativa, mas eles podem ter
você deve descrever e documentar seus contrapartidas em outros tipos de pesquisa
procedimentos de pesquisa qualitativa para em ciências sociais. Uma contrapartida na
que outras pessoas possam analisar e tentar pesquisa experimental poderia ser o con-
compreendê-los. Todos os dados também trole de qualidade exercido como parte dos
precisam estar disponíveis para inspeção. procedimentos de coleta de dados do ex-
A ideia geral é que outros devem ser capa- perimentador, abordando especialmente o
zes de examinar detalhadamente seu traba- perigo de “efeitos do experimentador” (Ro-
lho e as evidências usadas para respaldar senthal, 1966).
seus resultados e conclusões. O exame pode Eisenhart também encoraja os pesqui-
resultar em críticas, apoio, ou aperfeiçoa- sadores qualitativos a demonstrar que os
mento. Além disso, qualquer pessoa, seja dados e as interpretações são precisos de
um amigo, um colega, ou um participante algum ponto de vista [ênfase minha], o que
de seu estudo de pesquisa qualitativa, deve leva especialmente a uma sensibilidade so-
bre a necessidade de relatar, de uma manei- de cada perspectiva e também testar as evi-
ra autorreflexiva, a suposta interação entre dências de consistência entre as diferentes
o posicionamento do pesquisador (como fontes – fazendo esforços deliberados para
um instrumento de pesquisa) e os even- encontrar casos contrários para reforçar
tos e participantes no campo (p. 575-579). ainda mais os resultados.
Especialmente relevante no registro de tal O objetivo de evidenciar é perseguido
autorreflexividade pode ser um diário do em todo este livro. O objetivo se reflete no
pesquisador, o qual “contém um registro uso do termo pesquisa empírica, também
das experiências, ideias, medos, erros, con- usado em todo o livro.5 A meta é basear as
fusões, avanços e problemas que aparecem” conclusões em dados coletados e analisados
(Spradley, 1979, p. 76). Deve-se observar com imparcialidade.
novamente que, como contrapartida, pes- Ao longo do livro também existem nu-
quisadores exemplares que fazem pesquisa merosas ilustrações de estudos qualitativos
não qualitativa também mantêm esse tipo já publicados, tomando a forma de Quadros
de diário, geralmente na forma de um ca- ou pequenas inserções dentro do texto. Os
derno formalmente organizado. trabalhos específicos incluem trabalhos me-
todológicos relevantes, não apenas estudos
individuais, especialmente no que se refere
Fidelidade às evidências a compor e apresentar pesquisa qualitativa
(ver Caps. 10 e 11). O livro se assenta, pois,
em uma plataforma indutiva, derivando
Um último objetivo é que a pesquisa qua- muitas das práticas de pesquisa preferen-
litativa seja baseada em um conjunto ex- ciais dos modos como a pesquisa qualitativa
plícito de evidências. Para muitos estudos, já foi executada com sucesso. Em certo sen-
especialmente aqueles nos quais o objetivo tido, os estudos ilustrativos representam os
é fazer os participantes descreverem seus “dados” para o livro, de modo que o livro se
próprios processos de tomada de decisão, engaja em sua própria busca de evidências.
as evidências consistirão da real lingua-
gem dos participantes, bem como do con-
texto em que a linguagem é expressa (Van Estudos ilustrativos apresentados
Manen, 1990, p. 38; Willig, 2009, p. 162). no restante deste livro
Nessas situações, a linguagem é valoriza-
da como a representação da realidade. Tal
definição difere de muitas outras situações, A plataforma indutiva parece corresponder
enfatizadas ao longo deste livro, nas quais bem ao espírito de todo o empreendimento
os estudos são dominantemente relaciona- de pesquisa qualitativa. As ideias valiosas
dos ao comportamento das pessoas. Nesta produzidas pela pesquisa qualitativa ten-
última circunstância, as palavras dos par- dem a seguir uma abordagem de “baixo
ticipantes são vistas como “autorrelatos” para cima”, na qual processos ou eventos
sobre seu comportamento. As palavras não específicos guiam o desenvolvimento de
podem ser aceitas literalmente, mas reque- conceitos mais amplos, não o inverso.
rem corroboração adicional, por exemplo, Além dos Quadros e inserções, quatro
para determinar se o comportamento real- séries ou discussões específicas ilustram
mente ocorreu ou não. adicionalmente a plataforma. A primeira
Independentemente do tipo de dados dirige a atenção ao valor de criar um “ban-
que estão sendo coletados, as conclusões co de estudos” (Cap. 3, item A). A segunda
de um estudo devem ser tiradas com base lista um grande número de estudos quali-
nesses dados. Se há múltiplas perspectivas, tativos com seus principais tópicos e níveis
Anderson-Levitt (2006, p. 289) observa que de unidades de coleta de dados (Cap. 4,
a análise pode significar extrair um sentido Opção 3). A terceira disseca os sumários de
estudos individuais para mostrar suas es- temas salientes, a maioria não inclui uma
truturas analíticas gerais (Cap. 9, item B). discussão de suas metodologias, seja em
E a quarta ocorre por meio do uso de dois seções separadas do texto ou em notas de
exemplos específicos: o Exemplo de Estudo rodapé. Não está claro se esses trabalhos
1 percorre a parte mais difícil da pesquisa de fato tentaram emular as práticas de pes-
qualitativa – analisar os dados qualitativos quisa enfatizadas pelo presente livro, e por
– nos Capítulos 8 e 9; e o Exemplo de Es- isso eles não foram incluídos nas vinhetas
tudo 2 ilustra a pesquisa com metodologia ou exemplos.
mista no Capítulo 12. O propósito deste livro é, portanto, não
A abordagem indutiva ajuda a mostrar apenas apresentar uma série completa de
um outro aspecto do mosaico da pesquisa procedimentos para praticar pesquisa qua-
qualitativa – sua diversidade na represen- litativa, mas também dar acesso imediato
tação de numerosas disciplinas acadêmicas aos exemplos específicos para sua futura re-
e profissões. Os Quadros e exemplos ilus- ferência. Para melhor aproveitar essa opor-
trativos vêm de campos como sociologia, tunidade, o livro presume que os leitores
antropologia, psicologia, ciência política, podem variar de pesquisadores altamente a
ciência da administração, trabalho social, menos experientes, mas que nenhum é no-
saúde pública, educação e avaliação de pro- vato. Em outras palavras, você pode estar
gramas. Qualquer que seja a disciplina aca- fazendo pesquisa qualitativa pela primeira
dêmica, os estudos também podem abordar vez, mas você já deve ter uma base para sa-
questões importantes da política pública ber como funciona a pesquisa em ciências
dos Estados Unidos (ver “Pesquisa qualita- sociais e para adotar um olhar crítico na
tiva abordando uma importante mudança leitura dos estudos de pesquisa publicados.
política dos Estados Unidos”, Quadro 1.5). Como nota final, as práticas abordadas
Muitos estudos conduzidos por escri- no restante deste livro são apresentadas do
tores profissionais ou por jornalistas foram ângulo de que você realmente encontrou
excluídos de consideração. Embora seus boas razões para fazer pesquisa qualitativa
trabalhos frequentemente sejam apresen- – em resposta à primeira frase deste capítu-
tados de maneira qualitativa e abordem lo. Portanto, a orientação prática pressupõe
QUADRO 1.5
Pesquisa qualitativa abordando uma importante mudança política dos Estados Unidos
Durante a última parte do século XX, nenhuma questão nacional atraiu mais atenção do que o
grande número de pessoas vivendo de assistência social. Depois de anos de controvérsia, o gover-
no dos Estados Unidos aprovou leis de “reforma previdenciária” em 1996.
Uma vez que o grande número de pessoas vivendo da assistência social torna possível uma análise
estatística do tema, estudos quantitativos dominaram a pesquisa em previdência social. Em con-
traste, Sharon Hays (2003) mostra como a pesquisa qualitativa pode contribuir com revelações
profundas sobre os universos dos beneficiários e funcionários da previdência social.
Seu estudo se concentra nos postos da previdência em duas cidades, e a pesquisadora apresenta
extensos dados de campo que revelam como os beneficiários chegaram a suas situações e como
foram tratados pelo sistema previdenciário. Mais importante, seus dados de entrevista apresen-
tam a trajetória das vidas das pessoas (antes, durante e depois do benefício) – uma história que
somente a pesquisa qualitativa pode contar.
Hayes também apresenta suas práticas metodológicas de uma forma alternativa. O livro não tem
uma seção de metodologia separada. Em vez disso, os procedimentos e condições aparecem em
diversos lugares no texto e de vez em quando no meio de um conjunto extenso de notas de rodapé
(p. ex., p. 140-141, 244-245, e 251).
QUADRO 1.6
Às vezes, estudos qualitativos podem levar bastante tempo. Robert Courtney Smith (2006) estu-
dou a migração de Ticuani – uma pequena localidade no México – para a cidade de Nova Iorque
durante um período de 15 anos.
O trabalho de campo de Smith se iniciou no verão de 1988 e depois incluiu “cinco ou seis viagens
com duração de uma semana cada [para o México], de 1991 a 1993, enquanto [também] fazia etno-
grafia em Nova Iorque” (2006, p. 5). Ele manteve contato com seus principais informantes durante
os quatro anos seguintes, seguido por um “segundo período de intenso trabalho de campo, de
1997 a 2002” (p. 5).
Um benefício de realizar um estudo durante esse período prolongado foi a capacidade de Smith de
estudar não apenas a primeira, mas também a segunda geração de imigrantes. De sua experiência
de pesquisa, Smith escreve que ele “pôde obter uma melhor compreensão vendo como as coisas
se revelaram no final” (2006, p. 358).