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COMARCA DE PASSOS-MINAS GERAIS

SECRETARIA DA SEGUNDA VARA CRIMINAL


PROCESSO Nº : 0479.13.009328-5
AUTOR : A JUSTIÇA PÚBLICA
RÉUS : Nilton Antônio Ferreira
ESPÉCIE : Art. 33, caput, e art. 35 da Lei nº 11343/06

SENTENÇA
Vistos, etc.

1.0 - RELATÓRIO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS


ofereceu denúncia em face de NILTON ANTONIO FERREIRA, vulgo
“Niltinho” ou “Sertanejo”, como incurso nas sanções dos artigos 33 e 35 da
Lei nº 11.343/06.
Segundo a denúncia:

“1º fato
No dia 21 de dezembro de 2012, período compreendido
entre 07:00 e 12:38 horas, na Rodovia MG 0184, o
denunciado, em comunhão de desígnios e associado com
Miriam Alves Terra, Reinaldo Marcos de Oliveira e Paulo
Francisco Pires (já denunciados nos autos nº 0000363-
52.2013) transportava 3.050 quilos de maconha, destinada
ao consumo alheio, sem autorização e em, desacordo com
determinação legal e regulamentar (auto de apreensão, f. 28
e laudo toxicológico definitivo, f. 32).
Consta nos autos que a Polícia Civil de Passos-MG
investigava o denunciado e seus comparsas há tempos, por
tráfico de drogas e ligações com a facção criminosa PCC.
No dia dos fatos a Polícia Civil, com a informação de que a
associação criminosa subcomandada na região pelo
denunciado - o denunciado é ligado ao Primeiro Comando
da Capital – PCC, sendo responsável pela “região 35”, que
inclui Passos – havia adquirido e, posteriormente,
transportaria e distribuiria grande quantia de drogas na
região, passou a monitorá-la.
No dia que antecedeu à apreensão o denunciado hospedou-
se em um motel localizado na rodovia que liga Alfenas a
Carmo do Rio Claro, deixando o local no dia 21, por volta das
07:00 horas da manhã, à bordo de um VW Golf preto, placas
EAP-1232.

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O denunciado e sua companheira, a já denunciada Miriam,
todos à bordo do citado Golf, e o também denunciado
Reinaldo, à bordo de um VW Gol verde, passaram a fazer
escolta do caminhão conduzido pelo já denunciado Paulo,
recheado com os 3.050 quilos de maconha.
No momento da interceptação policial, os ocupantes dos
veículos que faziam a escolta/batida do caminhão – e que
eram acompanhados visualmente pelos agentes policiais –
lograram fugir do cerco, sendo presos em flagrante,
posteriormente, apenas os já denunciados Reinaldo e
Miriam, sendo que Paulo foi preso anteriormente, no
momento da interceptação na rodovia.
As circunstâncias da apreensão, a quantia e a forma de
acondicionamento da droga apontam que o denunciado
exerce, com os terceiros referidos nesta denúncia e com o
PCC, a mercancia ilícita de narcóticos.
2ª Fato
Em data não precisa, o denunciado associou-se com a
facção criminosa Primeiro Comando da Capital-PCC e com
os já presos e denunciados Miriam Alves Terra, Reinaldo
Marcos de Oliveira e Paulo Francisco Pires para
comercializar drogas de forma reiterada no Comando
Regional Sul de Minas (v. comunicado de f. 118/120).
No caso específico dos autos, o denunciado comandava um
braço da facção paulista no sul do Estado de Minas Gerais,
arrecadando dinheiro para integrantes da organização e,
com os outros três presos, articulando o transporte,
distribuição e venda de tóxicos na região, ações estas
registradas nos documentos de f. 258/270, sendo que no dia
dos fatos o denunciado coordenava toda a ação via telefone
celular. (...)”. – ff. 02/08.
A denúncia veio instruída com: cópia da denúncia formulada pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais de Carmo do Rio Claro/MG em
face dos denunciados Miriam Alves Terra, Reinaldo Marcos de Oliveira e
Paulo Francisco Pires (ff. 09/12); Auto de Prisão em Flagrante Delito (ff.
13/25); Auto de Apreensão (ff. 37/40); Laudo de Constatação Preliminar em
Substância Entorpecente (f. 41); Laudo Toxicológico Definitivo (f. 44), Termo
de Incineração (f. 72); FAC’s (ff. 73/75 – Miriam; ff. 76/80 – Reinaldo e ff.
81/83 – Paulo) e demais documentos.

A denúncia foi recebida em 07/08/2013 (ff. 360/361).

Durante a fase de instrução, procedeu-se ao interrogatório do


denunciado, bem como à oitiva de testemunhas (ff. 400/417).

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O Ministério Público apresentou suas alegações finais às ff. 438/469,
requerendo a condenação do acusado nos exatos termos da denúncia.

A defesa do denunciado Nilton Antonio Ferreira, por sua vez,


apresentou suas alegações finais às ff. 472/480 requereu a absolvição do
acusado por ausência de provas e, alternativamente, em caso de
condenação, a aplicação da pena no mínimo legal com a redução prevista no
§4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, a fixação em regime aberto ou semiaberto
e, ainda a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito.

É O RELATÓRIO.
DECIDO.

2.0 - FUNDAMENTAÇÃO.

Sentenciado além do prazo legal ante o elevado número de


feitos conclusos para sentença, bem como o fato de este julgador ser titular
da Primeira Vara Criminal, estar substituindo nesta Segunda Vara Criminal e
ser membro da Turma Recursal e, ainda, diante da complexidade do presente
feito.
Trata-se de ação penal pública incondicionada na qual se atribui
ao acusado NILTON ANTONIO FERREIRA a prática dos delitos previstos no
art. 33, caput e no art. 35, ambos da Lei nº 11343/06.
Não tendo sido aduzidas preliminares nem alegadas nulidades,
passo à análise do mérito de cada uma das imputações que foram atribuídas
ao denunciado.
- DO CRIME PREVISTO NO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06
(TRÁFICO DE DROGAS)
A materialidade do delito de tráfico de drogas está
devidamente comprovada nos autos através do Auto de Apreensão de ff.
37/40 e do Laudo Toxicológico Definitivo de ff. 44.
A autoria delitiva do crime de tráfico de drogas também
restou devidamente configurada na pessoa do denunciado, a despeito de sua
negativa em Juízo, acerca da prática do delito.
Perante este Juízo, o denunciado afirmou que não praticou os
crimes que lhe foram imputados na denúncia, dizendo sofrer perseguição; que
nem teria condições financeiras para adquirir tanta droga. Informou à f.
401/403:

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“que não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; que
perguntado se tinha alguma ideia de ter sido denunciado por
crimes tão graves, se alega não ter nenhuma participação
nesses fatos, respondeu que tudo que acontece de grave,
“acusam o depoente, tudo fala que foi eu”; que o depoente
nem teria condições financeiras para comprar quantidade
tão grande de mercadoria dessas, ressaltando tinha sido
solto da cadeia no dia das mães, nem sete meses fazia; que
o delegado não poderia estar investigando o depoente há um
ano conforme ele afirmou hoje, pois nem sete meses fazia
que o depoente tinha saído da cadeia; que o veículo Golf
preto é de propriedade do depoente, mas no dia dos fatos, o
depoente não estava “colado no caminhão e muito menos
com a Miriam junto, eu tava com outra mulher e nunca tinha
visto aquele caminhão e nem o motorista”; que o depoente
conhecia o denunciado Reinaldo há uns cinco anos, pois já
tinha sido preso na cidade onde ele mora, em Três
Pontas/MG, em 2009, inclusive naquela ocasião ele arrumou
uma casa para o depoente morar, esclarecendo que ele
mexia com corretagem de imóveis; que o depoente não tem
conhecimento de Reinaldo estar escoltando o caminhão com
a droga através de um gol “bola” verde, “que eu saiba não”;
que o depoente dormiu no motel San Rafael, mas com uma
outra namorada de nome Cristina”. Dada a palavra ao
Ministério Público, respondeu: “que o depoente conhecia
Miriam desde que ela era criança, sendo que foram criados
praticamente juntos, em fazendas próximas, esclarecendo
que no ano de 2007, começou a “ficar com ela”, sendo que
em 2009, o depoente foi preso, permanecendo nessa
condição até 2012, ocasião em que saiu e passou a se
relacionar novamente com a Miriam, vindo ambos a morarem
juntos, há aproximadamente noventa dias antes dos fatos;
que a conta que aparece nos autos, o depoente abriu para
Miriam e depositava algumas quantias para ela, “pra ela não
ficar toda hora me pedindo dinheiro”; que Miriam não tem
nada a ver com as acusações que estão pesando contra ela,
pois se estivesse envolvida, não haveria só pequenos
depósitos na conta dela, “esse tanto de droga que pegou no
caminhão, daria pra render cem mil reais por semana”; que
“falar que quatrocentos reais é movimentar conta de
quadrilha, ele não tem nem noção do que está falando”; que
o apelido do depoente é Niltinho, “não sei de onde eles
tiraram esse Sertanejo, de regional de PCC, nunca vi falar
isso”; que o depoente nunca chamou Miriam de “Baixinha”;
que perguntado o que estava fazendo na “cena do crime”, ou
seja, na rodovia onde trafegava também o caminhão

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transportando a grande quantidade de droga, respondeu que
estava indo passar o natal na casa de sua mãe, que fica no
município de Conceição Aparecida; que perguntado porque
fugiu da polícia e depois abandonou o veículo golf,
respondeu que era foragido e quando via polícia, “se
esquivava”, além disso, estava sem documentos; que o
depoente não chegou a ver Reinaldo na rodovia; que o
depoente nunca tinha visto na sua vida o caminhão que
transportava a droga e nem o motorista que conduzia o
caminhão; que o depoente chegou a dormir no motel.

Entretanto, a versão de negativa de autoria sustentada pelo


acusado restou isolada e em descompasso com as demais provas
colacionadas aos autos, não merecendo, portanto, qualquer credibilidade.

Verifica-se dos autos, em especial do relatório de ff. 92/99, da


lavra do d. Delegado de Polícia, Dr. Thiago Gomes Ribeiro, que após
investigação realizada pela equipe da AIP (Agência de Inteligência da Polícia
Civil) de Passos/MG, com duração de aproximadamente um ano, foram
monitoradas as atividades da quadrilha, através de escutas telefônicas,
diligências e campanas, sendo constatado que o acusado integrava uma forte
e complexa facção criminosa (PCC - Primeiro Comando da Capital), e estava
associado para o cometimento de delitos, notadamente o tráfico de drogas.

Consta do referido relatório, que após deixar o sistema prisional


da cidade de Três Corações, o acusado imediatamente assumiu o tráfico de
drogas na região e comercializava grandes quantidades de entorpecentes,
abastecendo várias cidades deste Estado, especialmente o Sul de Minas.

Relata a Autoridade Policial, que duas semanas antes dos fatos,


recebeu informações de que o acusado receberia grande quantidade de
droga, sendo que as equipes policiais passaram a monitorá-lo. Aduz que na
véspera da apreensão da droga (20/12/2012) o acusado ficou hospedado no
motel "Aquários", na cidade de Alfenas e no dia dos fatos, na companhia de
sua companheira Miriam Alves Terra deixou o motel no veículo VW Golf,
placa EAP 1232 e encontrou-se com o investigado Paulo Francisco Pires que
estava no interior do caminhão onde a droga foi posteriormente apreendida.
Diz que ambos os veículos saíram do local rumo à cidade de Carmo do Rio

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Claro/MG, escoltado pelo veículo VW Gol de cor verde, conduzido pelo
investigado Reinaldo Marcos de Oliveira.

Relata que durante a perseguição policial, o acusado Nilton


empreendeu fuga, e o caminhão foi interceptado, tendo os policiais
encontrado em seu interior mais de três toneladas de maconha.

Com efeito, as testemunhas ouvidas sob o crivo do contraditório


confirmaram a prática dos delitos que ora se apura, perpetrados pelo
denunciado Nilton.

A testemunha Ricardo Henrique Silva Barros (f. 404/405),


policial civil integrante da equipe que conduzia as investigações, relatou com
detalhes o ocorrido, bem como a ligação do acusado Nilton, com os
investigados Miriam, Reinaldo e José Francisco. Informou que:

“que confirma o seu depoimento prestado perante a


Autoridade Policial às ff. 90/91, que ora lhe foi lido em voz
alta; que o depoente não sabe onde foram localizados os
comprovantes de depósito; que o depoente não chegou a
visualizar o Gol verde, quem visualizou foi a investigadora
Greice de Alpinópolis; que confirma que o veículo foi
localizado nas condições da fotografia de f. 318, “cheio de
roupas”; que no local que o veículo foi encontrado é um lugar
plano, onde dá para o carro andar, mas não há estrada; que
esse local é na verdade um “buraco de silo”, que “estava
servindo de garagem”, ressaltando, que quem chega na
porteira não consegue ver onde está o carro, a não ser que
chegue bem próximo de lá; que perguntado o que
significava a expressão “chefe da regional 35”,
respondeu que Nilton era o chefe da facção criminosa
conhecida por PCC, nas cidades com o DDD 35”. Dada a
palavra à Defesa, respondeu: “que o depoente viu o
Sertanejo e Miriam saindo do motel, no carro Golf,
esclarecendo que estava “colado no acostamento da
rodovia”, e o carro passou na frente do depoente; que o
carro do depoente estava estacionado há uma distância
aproximada de duzentos metros do motel; que o
monitoramento desde Alfenas/MG foi feito pelo próprio
depoente e seu colega Paulo Caetano; que o depoente
ficou sabendo que Sertanejo e Miriam estavam no motel
através da interceptação telefônica, ressaltando que os
policiais que estavam em Passos monitorando as
interceptações telefônicas, passaram essa informação ao
depoente, que já se encontrava em Alfenas/MG, sendo que
esse fato ocorreu por volta das 03:00 horas no mesmo dia do
ocorrido; que o depoente e seu colega ficaram hospedados
nesse mesmo motel, mas cada um num quarto; que o
depoente somente visualizou Sertanejo e Miriam quando

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eles saíram do motel, na chegada não; que o vidro do
carro tinha insulfilme, mas era bem claro; que deu para
reconhecer com certeza quem eram os ocupantes do carro;
que entre o local onde o carro foi encontrado e o local onde
Miriam e Reinaldo foram presos, há uma distância pequena
entre ambos, não sabendo precisar exatamente a
quilometragem, pois a estrada é toda sinuosa, ressaltando
que o percurso foi feito por cerca de quinze minutos de carro;
que Mirian e Reinaldo foram presos na casa de um Senhor
que inclusive estava naquele local também; que o depoente
não sabe se essa casa era de algum familiar do denunciado;
que antes de chegar no motel, o depoente já sabia qual o
carro que estava sendo utilizado pelo Nilton; que o
depoente não tinha informação precisa acerca do motel em
que Nilton estava, conseguiram encontrar por tentativa,
esclarecendo que lhe foram repassadas informações
dando conta de que o motel ficaria nas proximidades da
rodovia que chega à Alfenas; que no momento da entrega
do objeto ao motorista, a passageira do Golf não desceu do
veículo, apenas abaixou o vidro, levantou a mão e fez a
entrega do objeto ao motorista. Inquirido pela MM Juíza,
respondeu: “que o depoente conseguiu ver os ocupantes
do Golf com nitidez, esclarecendo que o insulfilme era
claro e o depoente conseguiu ver perfeitamente que os
ocupantes do veículo se tratavam do denunciado Nilton
e sua esposa Miriam, sendo que quem dirigiu o carro era
o denunciado Nilton e Miriam estava como passageira,
inclusive no momento da prisão, Miriam estava com uma
camisa por cima da roupa que ela estava quando saiu de
carro do motel" - GRIFEI

De igual modo, o Policial Civil Deoclécio Reis Carvalho, responsável


por acompanhar e monitorar as interceptações telefônicas, auxiliar nas
diligências, confirmou a prática do tráfico de drogas pelo denunciado Nilton,
bem como sua associação para o tráfico com seus comparsas Mirian e
Reinaldo. Vejamos (ff. 406/409):

“que o depoente participou das investigações policiais que


deflagraram a presente denúncia; que a função do depoente
era acompanhar e fiscalizar o monitoramento das
interceptações telefônicas, auxiliar nas diligências e
coordenar a equipe de Investigadores; que no dia da
apreensão da droga, o depoente participou das diligências;
que um dia antes da apreensão da droga, a equipe constatou
o envolvimento de Reinaldo com o denunciado “Sertanejo”,
sendo também constatado que o denunciado Reinaldo iria
auxiliar “Sertanejo” na escolta da droga e posteriormente, na
distribuição da mesma; que pelas interceptações telefônicas,
pôde ser verificado que não era a primeira vez que o
denunciado Reinaldo prestava esse tipo de serviço ao

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“Sertanejo”, sobretudo em razão da intimidade das conversas
entre ambos; que no dia 20/12/2012, durante as
interceptações telefônicas, foi constatado que “Sertanejo”
ligou para Reinaldo e perguntou a ele onde que ele estava,
se faltava muito para ele chegar em Poços de Caldas/MG, no
que Reinaldo respondeu que estava há cerca de uma hora,
no que “Sertanejo” disse a ele que era então para ele
retornar que não daria tempo, mas que era para ele ficar
preparado, pois “Sertanejo” precisaria dele no dia seguinte,
esclarecendo que nesse diálogo, Reinaldo estava indo para
Poços de Caldas/MG para auxiliar “Niltinho” na compra de
um carro; que uns dez minutos depois, nesse mesmo dia
20/12/2012, “Sertanejo” ligou para Reinaldo e pediu para que
ele “passasse na cidade universitária e parasse, que aquele
mesmo menino que ele já conhecia, estaria esperando
por ele nas margens da rodovia”, ressaltando que em
função desse diálogo, o depoente acredita que os dois já
tinham procedido de maneira semelhante; que em função
dessa ligação, a equipe decidiu ir até as imediações da
cidade de Alfenas/MG, sendo que uma equipe permaneceu
em Poços de Caldas/MG e outra, a que o depoente fazia
parte, foi para as imediações da cidade de Alfenas/MG; que
através de diligências investigativas, em especial das ERB's,
por volta das 03:00 horas, foi possível localizar o carro de
“Sertanejo” em um motel na cidade de Alfenas/MG,
permanecendo nesse local uma equipe policial; que ao
amanhecer, por volta das 06:00 horas, a equipe que estava
de campana no motel, viu quando “Sertanejo” e sua amásia
Miriam saíram com um veículo Golf, tendo a equipe seguido
os dois, até o momento em que viram Miriam passando um
celular para o motorista do caminhão, o denunciado Paulo;
que perguntado como ficou sabendo que Miriam teria
passado um aparelho celular “Blackberry” para o motorista,
respondeu que foi porque a equipe viu Miriam passando o
telefone para o motorista e queria saber as razões desse
fato, sendo que em entrevista com Miriam, ela disse que
tinha passado o telefone “Blackberry” para o denunciado
Paulo, alegando que o telefone pertencia a ele e que ela e
“Sertanejo” apenas tinham levado o aparelho para carregar a
bateria no motel; que esse telefone “Blackberry” foi
encontrado dentro do caminhão conduzido pelo denunciado
Paulo; que o veículo Gol de cor verde, foi visualizado por
uma policial de Alpinópolis/MG, ressaltando que o próprio
denunciado Reinaldo, informalmente, falou que ele tinha
pego aquele veículo na cidade de Paraguaçu/MG,
acrescentando que teriam deixado o carro em um posto de
combustíveis, com a chave debaixo do carpete; que confirma
o seu depoimento prestado perante a Autoridade Policial às
ff. 16/17, que ora lhe foi lido em voz alta, bem como ser sua a
assinatura lançada naquele termo; que o depoente confirma
ter sido um dos Investigadores que confeccionou a
Comunicação de Serviço de ff. 101/102; que o depoente não
participou da diligência na propriedade rural onde foi
encontrado o veículo Golf, esclarecendo que nesse
momento, o depoente estava no município de Carmo do Rio

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Claro/MG, onde houve a prisão do caminhão com a droga;
que depois da prisão de Miriam, Paulo e Reinaldo, a equipe
do depoente continuou a realizar interceptações telefônicas
na linha do “Sertanejo”, esclarecendo que ele fugiu, mas
levou o telefone interceptado junto com ele, sendo que numa
dessas conversas, ele pede ao Advogado se não era
possível fazer um “acordo” com o Delegado, para que ele
liberasse a denunciada Miriam, no que o Advogado falou que
não teria jeito; que “Sertanejo” pediu Advogado apenas para
a denunciada Miriam, para os outros não, ressaltando, ainda,
que ele disse ao Advogado que estaria tranquilo, porque
“para Miriam não daria nada, só associação; que
perguntado o que significava a expressão “Regional 35”,
respondeu que o denunciado Nilton era o líder da facção
criminosa do PCC nas cidades onde o DDD era 035; que
esse fato foi constatado nas interceptações telefônicas.”
Dada a palavra à Defesa do denunciado, respondeu: “que o
depoente e sua equipe tinham certeza que Nilton e sua
amásia Miriam estavam no veículo que fazia a escolta do
caminhão com a droga; que a equipe que estava no motel
presenciou o denunciado Nilton conduzindo o veículo, mas o
depoente não presenciou; que o depoente soube da
participação da denunciada Miriam, auxiliando “Sertanejo” no
tráfico de drogas, pois através das interceptações
telefônicas, constataram que ela abriu uma conta com a
finalidade específica de receber recursos oriundos do tráfico,
além disso, o próprio “Sertanejo”, durante as ligações
interceptadas, revela que Miriam fazia os serviços de banco
para ele, e as vezes também dirigia para ele, além disso, foi
constatado também nas interceptações telefônicas, em
diálogo de Miriam com a mãe dela, ocasião em que diante
dos conselhos da mãe para tomar cuidado, ela responde que
“a mãe poderia ficar tranquila, porque em Poços de
Caldas/MG, até a Polícia jogava com eles, dizendo que um
policial teria avisado que eles haviam sido denunciados para
a Polícia”, sendo que em razão disso, eles fugiram de Poços
de Caldas/MG e foram morar na região de Carmo do Rio
Claro/MG e Nova Resende/MG; que essas conversas que o
depoente se referiu, foram interceptadas, degravadas e
constam nos respectivos inquéritos policiais; que perguntado
se com a quebra do sigilo bancário a informação prestada
pelo depoente, no sentido de que Miriam teria aberto uma
conta bancária com a finalidade de receber recursos do
tráfico de drogas, teria sido confirmada, respondeu que não
sabe, pois não teve acesso à quebra dos sigilos bancários,
aliás, nem sabe se o Delegado pediu essa medida, embora
tenha sido sugerida para ele; que o depoente concluiu que
Miriam tinha aberto uma conta para receber recursos do
tráfico de drogas, através de conversas dela com o
denunciado Nilton que foram interceptadas.”

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No mesmo sentido e corroborando os testemunhos anteriores, está o
depoimento da testemunha do Delegado de Polícia, Bel. Thiago Gomes
Ribeiro, que comandou a operação que culminou na apreensão da droga, o
qual, perante este Juízo e sob o crivo do contraditório, afirmou (ff. 410/417):

“que a equipe de Inteligência da Polícia Civil, comandada


pelo depoente, já estava investigando o denunciado acerca
de oito meses e através de campanas e interceptações
telefônicas autorizadas judicialmente, tomou conhecimento
de que haveria um carregamento de drogas que chegaria
para o alvo das investigações, no caso o denunciado Nilton,
vulgo “Niltinho” e/ou “Sertanejo”; que durante o transporte,
foram interceptadas conversas entre o denunciado e um
“batedor”, que escoltava a carga de drogas, ressaltando que
com o motorista do caminhão, o contato entre ele e o
denunciado, ocorreu antes do transporte, pessoalmente,
acreditando o depoente que durante o transporte a
comunicação entre ambos se dava através do aparelho
celular denominado “Blackberry”, cujos dados são
criptografados e não captados pelos aparelhos existentes na
Delegacia de Polícia local; que o depoente possuía o
conhecimento que o denunciado, em ocasião anterior,
também recebeu um carregamento de quinhentos quilos de
drogas, que acredita ser maconha, mas esse carregamento a
equipe do depoente não conseguiu localizar; que a equipe do
depoente estava monitorando o denunciado há uma semana
antes dos fatos, esclarecendo que ele estava em Poços de
Caldas/MG e todos os dias ligava para várias pessoas,
dentre elas alguns adquirentes de drogas fornecidas por ele,
inclusive um indivíduo que estava preso na cadeia pública
local, conhecido por “Schinaider”, e também para o Rogério,
vulgo “Paulista”, dizendo “olha, tá chegando, olha, vai
chegar”, esclarecendo que no dia anterior aos fatos, o
depoente tomou conhecimento, através de interceptações
telefônicas, que o acusado ligou para Reinaldo, dizendo:
“pode se jogar, não vai ser hoje, mas eu preciso de você
amanhã às 07:00 horas, e repete de novo, às 07:00 horas”,
aí, o Reinaldo responde para ele: “você está na cidade da
placa do seu carro?”, esclarecendo que a placa do carro do
denunciado era licenciada em Poços de Caldas/MG, sendo
respondido pelo acusado que “não, estou na cidade dos
estudantes”, fazendo referência à cidade de Alfenas/MG, em
seguida, o denunciado fala para Reinaldo: “você passa o
trevo grande, e aí você já vai ver o grandão encostado”; que
diante disso, somado ao fato de que o acusado estava
falando durante as conversas que não estava se hospedando
em hotéis em razão da falta de documentos, mas sim em
motéis, o depoente resolveu ir ao primeiro motel que se
localizava nas proximidades da rodovia e próximo ao trevo,
salvo engano do depoente, “Motel Aquárius”; que o depoente
e sua equipe de Investigadores chegaram ao motel por volta
das 23:30/00:00 horas, ocasião em que já visualizou o carro
do denunciado dentro da garagem de um dos quartos do

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motel; que diante desse fato, o depoente determinou aos
Investigadores Paulo Caetano e Ricardo que pernoitassem
no motel, objetivando saber onde estava o caminhão referido
nas conversas que estava com as drogas; que ao amanhecer
o denunciado ligou bravo para o Reinaldo dizendo que ele
estava atrasado e que já tinha falado que ele teria que estar
às 07:00 horas, saindo em seguida do motel, acompanhado
da esposa Miriam, ressaltando que esse fato foi visto pelos
Investigadores Ricardo e Paulo Caetano; que o denunciado e
sua esposa saíram do motel e foram até o caminhão, que
estava há cerca de cinquenta metros do motel; que Miriam
entregou um telefone “Blackberry” para o motorista do
caminhão, o denunciado Paulo, e em seguida, o acusado
seguiu à frente do caminhão, há uma distância de
aproximadamente quatrocentos metros, sentido Carmo do
Rio Claro/MG; que durante o trajeto, o denunciado ligava
para o denunciado Reinaldo “toda hora”, dizendo “cadê você,
o negócio é responsa, cadê você, eu preciso de você, é pra
você ir na frente, não é atrás não”, ressaltando que ele
estava conduzindo um Golf, veículo já conhecido pela Polícia
na ocasião dos fatos, razão pela qual o depoente acredita
que ele tenha ficado tão apreensivo com o atraso do
denunciado Reinaldo, que era quem escoltaria a droga; que
o denunciado Reinaldo acabou alcançando o denunciado
Nilton, esclarecendo que Reinaldo estava conduzindo um Gol
“bola”, da cor verde; que na verdade, os Investigadores
Ricardo e Paulo Caetano também estavam fazendo a
perseguição, mas não chegavam tão próximo aos veículos
do denunciado, de Reinaldo e do caminhão, para não
levantarem suspeitas, ressaltando que o alvo principal era a
droga; que havia uma equipe de policiais fazendo uma
operação no município de Alpinópolis/MG e foi acionada para
fazer o cerco ao caminhão, entretanto, quando o denunciado
viu as viaturas, imprimiu velocidade alta no veículo e se
evadiu, o mesmo ocorrendo em relação ao Reinaldo, tendo
ambos entrado sentido à cidade de Conceição
Aparecida/MG, esclarecendo que uma Policial de nome
Greice chegou a ver o Gol verde que era conduzido pelo
Reinaldo passando junto com o carro Golf preto, conduzido
pelo denunciado, tendo como acompanhante a esposa
Miriam; que esclarece que o denunciado dirigia o Golf na
frente do caminhão, o mesmo ocorrendo com Reinaldo,
“fizeram um comboio, o Golf, depois o Gol e depois o
caminhão”, numa só direção, sendo que as viaturas vinham
em sentido contrário e cruzaram com eles, inclusive a Policial
Greice disse que viu também o momento que o denunciado
olha para o retrovisor e imprime velocidade ainda maior para
poder empreender fuga; que a equipe do depoente
conseguiu encontrar o Golf, esclarecendo que os
Investigadores Paulo Caetano, Greice, Fábio e outros que
não se recorda, foram até a propriedade rural do pai do
denunciado Nilton e lá chegando, se depararam com os
investigados Reinaldo e Miriam se passando por
“apanhadores de café”, sendo que após ser descoberta pelos
policiais, Miriam acabou dizendo onde estava o veículo Golf

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e entregando as chaves dele para os Investigadores; que o
denunciado não foi encontrado nessa propriedade rural, pois
ficou foragido no meio do mato naquele município de
Conceição Aparecida/MG, acreditando o depoente que ele
tenha empreendido fuga no Gol que estava sendo utilizado
por Reinaldo; que o depoente teve conhecimento que o
denunciado estava foragido no matagal, em razão de ele ter
feito contato com o Advogado, Dr. Éder, informando
inicialmente que ele “estava caído, que o natal dele tinha
acabado” e perguntado se não haveria possibilidade de um
“acordo no dinheiro” com o depoente para liberar a Miriam,
apenas ela; que na verdade, o depoente acredita que ele
tenha feito esse tipo de proposta, porque após prender a
denunciada Miriam, o Dr. Éder esteve na Delegacia, ocasião
em que o depoente perguntou a ele onde estava o
denunciado Nilton, sendo por ele respondido que não sabia,
que ele estava foragido, no que o depoente disse ao Dr. Éder
que caso o denunciado Nilton se apresentasse, o depoente
não lavraria o flagrante em relação à Miriam, sendo que
posteriormente o depoente captou ligação telefônica entre
ambos, onde o Dr. Éder transmite ao acusado a informação
que o depoente lhe havia passado na Delegacia, tendo o
acusado respondido que não se entregaria e feito uma
contraproposta, perguntando ao Advogado se não haveria
um acordo em dinheiro com o depoente, ressaltando que o
Dr. Éder respondeu prontamente que não; que perguntado
sobre a questão levantada nas investigações acerca da
“Região 35”, respondeu que o denunciado é integrante da
facção criminosa PCC e após a prisão do “Paulista” e do
“Hilux” aqui em Passos/MG, o denunciado recebeu o cargo
de “Regional da 035”, que seria uma posição de comando
das cidades que abrangem o DDD nº. 035; que a apreensão
das drogas referentes aos presentes autos, seguramente foi
uma das maiores desta região nos últimos cinco anos,
acreditando o depoente que tenha sido a segunda ou a
terceira maiores do Estado de Minas Gerais; que o depoente
também pode afirmar que o denunciado era o maior
fornecedor de maconha no Estado de Minas Gerais, inclusive
distribuía a droga não só aqui na região de Passos/MG, São
Sebastião do Paraíso/MG, Poços de Caldas/MG,
Guaxupé/MG, Três Corações/MG e Varginha/MG, como
também Contagem/MG e Belo Horizonte/MG; que o valor de
mercado da droga apreendida na ocasião dos fatos,
superava R$2.000.000,00 (dois milhões de reais).” Dada a
palavra à Defesa do Réu, respondeu: “que o depoente foi o
Delegado responsável pelas investigações que culminaram
na presente denúncia, esclarecendo que essas investigações
se iniciaram por volta do início do ano de 2012; que todas as
interceptações telefônicas foram autorizadas judicialmente,
até porque as operadoras não realizam as interceptações,
caso não haja autorização judicial; que desde o início das
investigações foram requisitadas interceptações telefônicas;
que o depoente tinha conhecimento que o denunciado estava
preso na cidade de Três Corações/MG, tanto é que quando
ele saiu, ligou para um “comparsa” dele e foi a partir de então

Processo nº 0479 13 009328-5


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que ele passou a ser alvo também das investigações; que o
depoente não consegue se recordar exatamente da data
desse último falo que relatou, acreditando que tenha sido a
partir desse momento que ele saiu da Penitenciária de Três
Corações/MG, é que começaram a ser requisitadas as
interceptações; que o depoente já vinha monitorando o
denunciado uma semana antes da apreensão da droga e da
prisão de três envolvidos, entretanto, não foi possível
identificar os fornecedores da droga, pois conforma já
ressaltado anteriormente, acredita que os contatos feitos
entre o denunciado e os fornecedores ocorriam através de
telefone “Blackberry”, cujas mensagens são criptografadas,
não sendo possível a interceptação dessas; que o depoente
desconhece a origem da droga; que o depoente já tinha
captado conversas telefônicas entre o denunciado Nilton e o
investigado Reinaldo antes da apreensão, com o denunciado
Paulo não; que nessas conversas não eram mencionados
nomes, aliás, isso nunca ocorre, eles se utilizam dos termos,
“menino, rapaz”, até porque eles mesmos desconfiam que
estejam sendo interceptados; que os Investigadores viram o
denunciado e Miriam saindo do motel quando eles já
estavam dentro do Golf, bem como visualizaram o momento
que Miriam desce do carro e entrega o telefone “Blackberry”
para o motorista do caminhão; que quando conversava ao
telefone, o denunciado se referia à Miriam como “baixinha”;
que o depoente viu apenas o veículo do denunciado na
garagem do motel, ouviu os “roncos” dele, mas não viu
pessoalmente, apenas os Investigadores Ricardo e Paulo
que viram; que esses Investigadores já conheciam o
denunciado e Miriam, através de fotos do próprio sistema da
Polícia e de investigações feitas por outras Delegacias,
havendo um acervo de fotografias que foram colacionadas
nos autos; que o depoente se recorda que foi possível
chegar até Miriam, em razão de ela utilizar um telefone
cadastrado no nome da mãe dela; que o depoente acredita
que Miriam não tenha sido alvo de outras investigações
policiais; que o depoente não sabe como exatamente
conseguiu a foto de Miriam, o fato é que ela foi vista no carro
junto com o denunciado Nilton; que os Investigadores já
tinham sim visto Miriam antes, em um bar na cidade de
Poços de Caldas/MG, local onde houve uma briga
envolvendo o acusado com um outro rapaz; que na conversa
captada entre o denunciado e Reinaldo, não foi falado
claramente qual seria a função de Reinaldo, até porque eles
conversam muito em “códigos”, mas, implicitamente, ficou
subentendido que Reinaldo faria a escola do caminhão e
também auxiliaria na distribuição da droga, sobretudo pela
conversa do dia anterior entre ambos, onde Nilton disse a
Reinaldo, “preciso de você amanhã cedo, e o dia todo”; que o
caminhão estava parado no mesmo local que foi indicado
pelo denunciado na conversa telefônica entre ele e Reinaldo,
ou seja, parado em um acostamento próximo ao trevo de
Alfenas/MG, em um local onde costumeiramente motoristas
param com seus caminhões para pernoitarem; que o local
onde estava o caminhão até o motel, o depoente acredita

Processo nº 0479 13 009328-5


13
que seja perto, mas não pode dizer exatamente a distância,
vez que quem visualizou pessoalmente, foram os outros
Investigadores, os quais poderão responder com mais
precisão; que perguntado se as interceptações telefônicas
indicaram alguma ligação entre Miriam e Nilton com o crime
de tráfico de drogas, respondeu que existem interceptações
indicando a participação dela em negociações de drogas, na
verdade, “fazendo ponte” para ele, provavelmente com um
fornecedor, bem como foram detectados alguns depósitos
realizados na conta corrente dela, mas o depoente não sabe
se foi de tráfico, pois estão nos autos esses depósitos; que
Miriam tinha conhecimento da atividade ilícita desenvolvida
pelo denunciado, embora quem “encabeçava”, liderava, era
ele; que o depoente se recorda que em uma oportunidade,
Miriam conduzia uma caminhonete, juntamente com o
denunciado Nilton, transportando droga, ocasião em que ela
bateu o veículo e o denunciado, conversando com um
“comparsa”, disse que “a baixinha é doida, bateu a
caminhonete”, no que o interlocutor pergunta “nossa, e o
negócio?”, sendo respondido pelo denunciado que ele já
havia escondido no mato e que chamaria apenas o guincho
para levar o veículo para o conserto, mas não chamaria a
Polícia; que o depoente sabe que Miriam estava junto,
porque o denunciado Nilton só se refere a ela nas ligações
como “Baixinha”; que essas interceptações evidenciando a
participação de Miriam nos crimes imputados ao denunciado,
estão juntadas aos autos dos respectivos inquéritos; que
informado que os demais denunciados tinham optado pelo
direito de silêncio, prestando declarações apenas em Juízo e
perguntado se eles teriam sido retirados do Presídio local
para prestarem depoimento perante o depoente na Delegacia
de Polícia de Passos/MG, respondeu que sim, por conta de
esclarecimentos de alguns pontos da investigação, inclusive
foi proposto a eles, eventual interesse no instituto da
“delação premiada”, mas essas entrevistas não foram
formalizadas, por opção deles, ressaltando que eles
esclareceram muitos pontos, principalmente o denunciado
Reinaldo; que perguntado se esse procedimento é comum e
se para tanto não seria necessária autorização judicial ou
então a comunicação prévia aos respectivos defensores,
respondeu que essa postura faz parte das investigações e do
Poder discricionário do Delegado de Polícia, notadamente
por conta de essas provas terem que ser repetidas em Juízo,
destacando que caso fossem formalizadas as entrevistas, os
defensores seriam comunicados, mas como os investigados
não quiseram formalizar os esclarecimentos, não foi feita a
comunicação; que o depoente respeita sim as manifestações
dos investigados de exercerem o direito ao silêncio e só se
manifestarem em Juízo; que perguntado se caso os demais
denunciados aceitassem se manifestar formalmente, o
depoente anularia o depoimento deles anterior, respondeu
que não tem poder para anular nada, cabendo essa
incumbência ao Poder Judiciário, sendo que sua função é
relatar o inquérito e remetê-lo ao Fórum e que chamou os
outros denunciados, tão somente para oferecer a eles a

Processo nº 0479 13 009328-5


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possibilidade de uma delação premiada, benefício que é
também oferecidos a outros investigados em situações
similares; que o depoente não confirma a informação que
consta do informe dirigido ao 18º Departamento de Polícia
Civil de f. 93, penúltimo parágrafo, no sentido de que o
veículo Golf teria sido encontrado no meio do mato, e que em
seu interior estavam os denunciados Reinaldo e Miriam,
esclarecendo que os dois não estavam no veículo quando
foram abordados pelos Investigadores, mas na propriedade
rural do pai do denunciado Nilton; que o depoente não teve
conhecimento do local exato onde houve a prisão de
Reinaldo e Miriam, se na sede ou nas proximidades da
fazenda, acreditando que tenha sido na sede da fazenda;
que perguntado se haveria provas nos autos a demonstrar
que o denunciado Nilton seria integrante da facção criminosa
PCC, respondeu que há provas nos autos da interceptação
telefônica, onde são utilizadas denominações próprias da
organização criminosa, tais como: “Salve”, “irmão”,
“cunhada”, “Regional da 035”, dentre outras; que perguntado
se confirma que a Polícia concluiu pela participação de
Miriam no eventual esquema criminoso do denunciado, em
razão de “fazer a movimentação bancária da quadrilha”,
respondeu que sim, pois foram identificados depósitos em
contas de “laranjas”, os quais já tinham constado em outras
investigações envolvendo integrantes do PCC, dentre eles
Rogério, vulgo “Paulista” e “Hilux”; que pela quantidade de
droga apreendida, o depoente acredita que o potencial da
quadrilha seja grande; que Miriam sabia do tráfico de drogas
exercido pelo denunciado e que o auxiliava nas transações,
isso é fato, ficou comprovado nas investigações, agora se ela
movimentava as contas correntes que constam dos autos e
fizesse proveito delas, não pode afirmar com segurança, até
porque poderia movimentar outras contas desconhecidas do
depoente e que recebiam recursos do tráfico; que Miriam
auxiliava mais mesmo era o próprio denunciado Nilton.”
Inquirido pela MM Juíza, respondeu: “que o denunciado
Nilton foi preso depois de cerca de cinco meses após a
apreensão da droga e dos outros três supostamente
envolvidos, na cidade de Campinas/SP, em razão de uso de
documento falso; que após a fuga do denunciado, o
depoente continuou a monitorá-lo através de interceptações
telefônicas, e inclusive captou uma conversa em que ele
estava fazendo uma transação de um imóvel na cidade de
Poços de Caldas/MG, inclusive a equipe tentou prendê-lo,
mas não foi possível, pois ele reconheceu o policial e fugiu;
que o depoente não se recorda de alguma conversa captada
após a fuga do denunciado Nilton, no sentido da
preocupação dele em relação aos outros dois que foram
presos em dezembro de 2012, juntamente com a esposa;
que o denunciado é considerado uma pessoa “perigosíssima”
no Estado de Minas Gerais, inclusive há notícias do
envolvimento dele em roubos em propriedades rurais,
inclusive um deles na cidade de Alpinópolis/MG; que nesta
Comarca, o depoente tem conhecimento de dois
denunciados que foram presos pelo crime de tráfico de

Processo nº 0479 13 009328-5


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drogas, as quais foram fornecidas pelo denunciado a eles,
sendo essa pessoas Michel Platini e outro que o depoente
não se recorda, sendo a quantidade de dez quilos de
maconha.”

Aos presentes autos foram apensadas as interceptações


telefônicas, que comprovam a participação do acusado e dos demais
investigados no crime de tráfico de drogas e que todos eram ligados à facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Quanto à legalidade das interceptações, não restam dúvidas de


que foram realizadas com autorização judicial fundamentada (ff. 223/225 dos
autos nº 0479 12 011630-2), obedecendo rigorosamente as exigências da Lei
nº 9.296/96. As transcrições integrais dos diálogos das interceptações
telefônicas também foram juntadas àqueles autos.

Assim, diante das circunstâncias em que os fatos ocorreram (durante


cumprimento as investigações prévias realizadas pelo Serviço de Inteligência
da Polícia Civil de Passos/MG, consistentes em interceptações telefônicas
autorizadas pela Justiça, campanas e outras diligências, acerca do tráfico de
drogas nesta cidade), bem com a apreensão de quantidade expressiva da
maconha - mais de três toneladas; demonstram, inequivocamente, que as
drogas e demais objetos apreendidos se destinavam à comercialização ilícita
do entorpecente.

Em caso similar, assim decidiu o e. Tribunal de Justiça do Estado de


Minas Gerais:

EMENTA: TRÁFICO, ASSOCIAÇÃO PARA O


TRÁFICO - ABSOLVIÇÃO - GRANDE QUANTIDADE
DE DROGAS (MACONHA, CRACK E COCAÍNA) -
ASSOCIAÇÃO ORGANIZADA - PROVA
INCONTESTÁVEL - ESTABILIDADE PARA A
PRÁTICA DO TRÁFICO - ATIVA PARTICIPAÇÃO
DOS APELANTES - DEPOIMENTOS POLICIAIS,
ALIADOS A INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS E
OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃO - VALIDADE

Processo nº 0479 13 009328-5


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- CONJUNTO PROBATÓRIO QUE AUTORIZA A
CONDENAÇÃO. Se a inverossímil negativa
apresentada pelos apelantes vai de encontro a
todos os demais indícios dos autos, especialmente
no que tange às investigações minuciosas e às
interceptações telefônicas que levou os policiais a
apreenderem drogas e desbaratarem a grande
organização criminosa, impossível se falar em
absolvição por insuficiência de provas pelo crime
de tráfico. PENA-BASE - DOSIMETRIA - REDUÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - CORRETA ANÁLISE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS - ATENDIMENTO AO
ART. 59 DO CÓDIGO PENAL - PREPONDERÂNCIA
DO ART. 42 DA LEI 11.343/06. A reprimenda arbitrada,
além de técnica, não deve ser excessiva, nem
demasiadamente branda, mas justa, adequada e
idônea como resposta social e na medida da
reprovabilidade da conduta. TRÁFICO - CAUSA
ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA - ART. 33, § 4º,
DA LEI FEDERAL 11.343/2006 - DESCABIMENTO DO
BENEFÍCIO - ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA DE
GRANDE VULTO. A causa especial de redução de
pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei Federal
11.343/2006 é vedada aos agentes que integrem
organização criminosa de grande vulto. DELAÇÃO
PREMIADA - PRETENSO RECONHECIMENTO -
IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE RELEVÂNCIA.
Para o reconhecimento da delação premiada não basta
que o réu tenha contribuído voluntariamente, mas que
tal colaboração resulte na identificação e prisão dos
demais co-autores ou partícipes onde haja revelação de
esquema ou organização que atenda ao interesse
público na disseminação de drogas, de modo que a

Processo nº 0479 13 009328-5


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confissão parcial dos fatos, sem indicação de nenhum
comparsa, não sustenta a aplicação da causa. Provido
em parte o recurso do apelante José Denilson da Silva
e não providos os demais. Apelação Criminal
1.0089.08.005925-9/001 0059259-
35.2008.8.13.0089 (1). Relator(a): Des.(a) Judimar
Biber. Órgão Julgador / Câmara: Câmaras Criminais /
1ª CÂMARA CRIMINAL. Comarca de Origem:
Brazópolis. Data de Julgamento: 10/09/2013. Data da
publicação da súmula: 20/09/2013. – g.n.

- DO CRIME PREVISTO NO ART. 35 DA LEI Nº 11.343/06


(ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS)

Em relação ao tipo penal de que trata o art. 35 da Lei Antidrogas, a


prova da materialidade pode ser feita através de elementos fáticos que
demonstrem a vinculação, o interesse comum entre os parceiros, no sentido
de, com certa permanência, receber do mercado fornecedor as substâncias
proibidas, para repasse ao mercado comprador.

No caso dos autos, a associação ao tráfico, crime autônomo,


independente e que exige o dolo específico consistente no ânimo de junção
de caráter duradouro, estável e permanente para fins de traficância, ressai
induvidosa das provas oral e documental coligidas aos autos.

De fato, a prévia associação entre o denunciado, Reinaldo Marcos de


Oliveira, Miriam Alves Terra e Paulo Francisco Pires para o cometimento do
crime de tráfico de drogas e outros delitos dele decorrentes, restou
evidenciada através das investigações realizadas pela equipe da Agência de
Inteligência Policial (AIP), órgão da Delegacia Adjunta de Tóxicos e
Entorpecentes de Passos/MG, consistentes em monitoramento telefônico,
campanas e outras operações de inteligência, as quais foram corroboradas
pela prova testemunhal, produzida sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.

Com efeito, bem antes da prisão do acusado, o Serviço de Inteligência


da Polícia Civil de Passos/MG passou a investigar integrantes da facção

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criminosa denominada “PCC” (Primeiro Comando da Capital), que havia se
instalado nesta cidade e região, sendo liderada pelo denunciado, que
pretendia dominar todo o tráfico de drogas na cidade de Passos/MG e nas
demais cidades da região cujo DDD fosse o nº 35.

Durante as investigações, através de interceptações telefônicas,


constatou-se que o denunciado Nilton era auxiliado pela sua companheira
Miriam Alves Terra, por Paulo Francisco Pires e por Reinaldo Marcos de
Oliveira, os quais faziam parte de associação criminosa extremamente
organizada, com cada um dos seus integrantes desempenhando funções
específicas e tendo como chefe, o denunciado.

Apurou-se que o denunciado Nilton, era o chefe da associação


criminosa. A denunciada Miriam Alves Terra, companheira de “Niltinho”,
tinha a função de auxiliá-lo nas práticas delituosas, ora recebendo depósitos
em sua conta bancária, provenientes do tráfico de drogas, ora mantendo
contatos com os fornecedores de drogas ao seu companheiro e denunciado
Nilton. O denunciado Reinaldo Marcos de Oliveira, tinha a função de auxiliar o
denunciado Nilton na prática do crime de tráfico de drogas, bem como nos
crimes de estelionato, ressaltando que no dia de sua prisão, estava dando
escolta ao caminhão Mercedez Benz, que transportava mais de três toneladas
de maconha e que foi apreendido na operação policial que resultou na
presente denúncia. O denunciado Paulo Francisco Pires tinha a função de
transportar a droga.

As Comunicações de Serviço de ff. 128/131, 162/163, 172/176 e


178/179; o Relatório Circunstanciado de ff. 295/299 e as escutas telefônicas
transcritas às ff. 283/294, comprovam a associação entre o denunciado e as
pessoas de Miriam Alves Terra, Reinaldo Marcos de Oliveira e Paulo
Francisco Pires, conforme passo a transcrever parte desses documentos:

“(...) Para conhecimento e posteriores medidas, (...) em


específico a apreensão de 3 toneladas e 50 quilos de
maconha, apreendidas pela Polícia Civil (AIP-
Passos) no dia 21/12/2012, conforme registro de
eventos de defesa social número (...).
Em princípio individualizaremos, de uma forma
resumida, a conduta de cada envolvido nos fatos em

Processo nº 0479 13 009328-5


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questão:
Reinaldo Marcos de Oliveira, indivíduo conhecido
nos meios policiais pela prática de diversos crimes,
entre eles o descrito no Art. 33 da Lei 11.343/06, foi
“contratado” por Nilton Antônio Ferreira, vulgo
“Niltinho”, para auxiliá-lo na escolta do caminhão
M.BENZ / LA 1418, cor predominante Verde, Placas
LLG-6426, Ubá/MG, carregado com 3 toneladas e 50
quilos de maconha, as quais seriam levadas para a
cidade de Conceição Aparecida/MG, ou adjacências,
para serem armazenadas em locais propícios e
posteriormente distribuída pelo “contratante”.
Esclarecemos ainda que da expressiva quantidade de
droga adquirida por “Niltinho”, Reinaldo tinha o intento
de adquirir certa quantidade.
Paulo Francisco Pires, também conhecido nos
meios policiais por crimes desta natureza, era o
motorista do caminhão M.BENZ / LA 1418 (...), que
transportava a expressiva quantidade de drogas,
segundo o mesmo, tendo recebido a quantia de
R$5.000,00 pelos serviços ilícitos.
Miriam Alves Terra, amásia de Nilton Antonio Ferreira,
vulgo “Niltinho”, acompanhava, bem como auxiliava o
mesmo em suas atividades ilícitas, realizava
depósitos em sua conta bancária de quantias de
dinheiro arrecadados com o tráfico ilícito de drogas,
além de manter contatos, via redes sociais, ou
utilizando aparelho celular tipo Bleck-Bery, com
indivíduo(s) que forneciam drogas para seu amásio
(...)”.
(...) Na noite que antecedeu a apreensão da droga e as
prisões de Miriam Alves, Paulo Francisco e Reinaldo
Marcos, “Niltinho” e sua amásia Mirian passaram a
noite em um Motel, situado na cidade de Alfenas/MG,
quando na manhã do dia 21/12/2012, foram ao
encontro do caminhão M.BENZ / LA 1418, (...) placas
LLG-6426, Ubá/MG, que se encontrava parado no
acostamento da rodovia MG-084 próximo ao trevo de
Alfenas/MG. O veículo “Golf” conduzido por Niltinho se
aproximou do caminhão, tendo Miriam Alves Terra
entregado um objeto aparentando ser um aparelho
celular para Paulo Francisco, tendo ambos os veículos
se deslocado sentido a cidade de Conceição
aparecida/MG, fatos estes presenciados por
int3egrantes da equipe da Agência de Inteligência
Policial de Passos/MG.
No dia dos fatos, Reinaldo foi ao encontro de “Niltinho”

Processo nº 0479 13 009328-5


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na cidade de Alfenas/MG, tratada também pelos
indivíduos como cidade dos estudantes, encontro este
marcado para as 07:00 hs do dia 21/12/2012, onde se
encontrava o referido caminhão carregado com as 3
toneladas e 50 quilos de maconha, porém, pelo fato de
Reinaldo ter se atrasado alguns minutos, “Niltinho” saiu
primeiro escoltando o caminhão e a carga de drogas.
Reinaldo utilizava um veículo Gol, tipo “bola”, cor
predominante verde, e Nilton Antônio Ferreira, vulgo
“Niltinho”, utilizava o veículo VW GOLF, cor
predominante preto, placas EAP-1232, Poços de
Caldas/MG.
Durante o trajeto entre as cidades de Alfenas/MG e
Conceição da Aparecida/MG, “Niltinho” por diversas
vezes realizou contato com Reinaldo, expressando tons
de nervosismo, cientificando Reinaldo que se tratava de
algo que exigia mais responsabilidade, ou seja, uma
atenção especial por se tratar de 3 toneladas e 50
quilos de maconha, que precisava que Reinaldo
escoltasse o caminhão pela frente e não por trás,
alegando, também, em tons de indignação que
Reinaldo não deveria ter se atrasado, mas sim, deveria
ter seguido o exemplo dele, que chegou minutos antes
do horário marcado com Paulo Francisco Pires.
Insta esclarecer que a todo momento, “Niltinho”
afirmava que Reinaldo deveria acelerar o carro para
alcançá-los, ou seja, usando o termo no plural, por se
tratar dele e de Paulo Francisco que conduzia o
caminhão com a carga de maconha.
(...)
Todo o trajeto feito pelo caminhão carregado com a
droga, conduzido por Paulo Francisco, seguido por
“Niltinho” que conduzia o veículo Golf, foi acompanhado
por uma equipe de investigadores de Polícia da Agência
de Inteligência Policial – AIP de Passos/MG, que em
oportunos momentos fotografaram parte da ação
delituosa.
Ao ser montado o cerco bloqueio formado por diversas
viaturas caracterizadas e integrantes da Polícia
Civil/MG, obteve-se êxito na abordagem do caminhão
que transportava a droga, porém, “Niltinho” e Miriam,
além de Reinaldo empreenderam fuga sentido as
propriedades da família de “Niltinho”, situadas na zona
rural da cidade de Conceição da aparecida/MG, tendo
Mirian e Reinaldo sido localizados nas citas
propriedades.
Por oportuno, esclarecemos que tão logo efetuadas as

Processo nº 0479 13 009328-5


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prisões de Miriam Alves Terra, Reinaldo Marcos de
Oliveira e Paulo Francisco Pires, além da apreensão de
3 toneladas e 50 quilos de maconha, o nacional Nilton
Antonio Ferreira, vulgo “Niltinho” realizou diversos
contatos com familiares e com uma mulher ainda não
identificada, relatando os fatos ocorridos e se
mostrando extremamente desorientado, usando
expressões de lamentos, (...). “Niltinho” contratou ainda
um advogado para acompanhar todos os envolvidos
nos fatos em tela, exigindo que o advogado orientasse
os conduzidos Miriam, Paulo e Reinaldo, a falar
somente em juízo, temendo que estes mencionassem
seu nome e toda a verdade ser relatada.
Com base e análises em todas as investigações, bem
como (...) podemos concluir e afirmar de forma
categórica que Nilton Antonio Ferreira, vulgo “Niltinho”,
era o proprietário das 3 toneladas e 50 quilos de
maconha, entre outros objetos, apreendidos no dia
21/12/2012 (...)”. – ff. 295/299, g.n.
Também parte das escutas telefônicas:

“(...) Aos 21/12/2012, às 11:59:54hs. (horário da


gravação), foi gravado diálogo entre Nilton Antonio
Ferreira, vulgo “Sertanejo”, que utilizou a linha
interceptada número (35) 9850-5293, e o advogado
Eder Bernardes Ferreira, o qual utilizou a linha de
número (35) 9817-2416. Neste diálogo, pergunta sobre
os fatos (se referindo a apreensão da droga e prisão de
sua amásia e demais envolvidos); Em seguida, Eder
Bernardes fala que ficou sabendo através do delegado
que têm provas robustas, inclusive escutas telefônicas
envolvendo Miriam, que foi proposto que “Niltinho” se
entregasse para que Miriam fosse solta, porém recusou
a proposta; Em seguida, “Niltinho” fala para Eder
Bernardes, acompanhar os “três” (se referindo a
Miriam Alves Terra, Reinaldo Marcos de Oliveira e
Paulo Francisco Pires) e não deixar ninguém falar
nada (falar somente em juízo), e pergunta se pegaram
o carro; Em seguida, Eder Bernardes diz que sim, que
pegaram o Golf e o caminhão; Em seguida, “Niltinho”
pergunta se tem conversa no dinheiro com o
delegado para liberar Miriam; Em seguida, Eder
Bernardes diz que não, que em momento algum o
delegado falou em dinheiro; Em seguida, “Niltinho”
fala que o que pode comprometer Miriam, é a
movimentação da conta bancária da mesma, que a
conta é nova e deve ter colocado na mesma
aproximadamente R$ 30.000,00 (...)”. – ff. 290/291,
com grifos acrescidos.

Processo nº 0479 13 009328-5


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“(...) Aos 21/12/2012, às 14:20:33hs. (horário da
gravação), foi gravado diálogo entre Nilton Antonio
Ferreira, vulgo “Sertanejo”, que utilizou a linha
interceptada número (35) 9850-5293, e o advogado
Eder Bernardes Ferreira, o qual utilizou a linha de
número (35) 9817-2416. Neste diálogo, Eder
Bernardes, fala para “Niltinho” que acompanhou o
depoimento dos três (Miriam, Reinaldo e Paulo), e que
provavelmente ambos vão ser presos; Em seguida,
“Niltinho” questiona sobre a prisão de Miriam e fala
que se a mesma fosse ser indiciada, teria que ser só
na associação (crime de associação ao tráfico de
drogas), e pergunta se o indiciaram também; Em
seguida, Éder Bernardes fala que com certeza, que
inclusive estão procurando “Niltinho” e é para o
mesmo ficar esperto; em seguida, “Niltinho” pergunta
se os telefones estão ruins (interceptados); Em seguida,
Eder Bernardes, fala que com certeza, que neste
momento a conversa de ambos deve estar sendo
escutada, que a polícia não poderia fazer isso, mas que
polícia não anda dentro da legalidade (...)”. – f. 294,
com grifos acrescidos.
Por fim, passo a transcrever parte dos depoimentos
testemunhais prestados em Juízo:

“(...) que perguntado se as interceptações telefônicas


indicaram alguma ligação entre Miriam e Nilton com o
crime de tráfico de drogas, respondeu que existem
interceptações indicando a participação dela em
negociações de drogas, na verdade, “fazendo ponte”
para ele provavelmente com um fornecedor, bem fomo
foram detectados alguns depósito realizados na conta
corrente dela, (...); que Miriam tinha conhecimento da
atividade ilícita desenvolvida pelo denunciado, embora
quem “encabeçava”, liderava, era ele; que o depoente se
recorda que em uma oportunidade, Miriam conduzia uma
caminhonete, juntamente com o denunciado Nilton
transportando droga, ocasião em que ela bateu o veículo
e o denunciado, conversando com um “comparsa”, disse
que a “a baixinha é doida, bateu a caminhonete”, no que
o interlocutor pergunta “nossa, e o negócio?”, sendo
respondido pelo denunciado que ele já havia escondido
no mato e que chamaria apenas o guincho para levar o
veículo para o conserto, mas não chamaria a Polícia; que
o depoente sabe que Miriam estava junto, porque o
denunciado Nilton só se refere a ela nas ligações como
“Baixinha”; que essas interceptações evidenciando a
participação de Miriam nos crimes imputados ao
denunciado estão juntadas aios autos dos respectivos
inquéritos (...); que perguntado se haveria provas nos autos
a demonstrar que o denunciado Nilton seria integrante da

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facção criminosa PCC, respondeu que há provas nos
autos da interceptação telefônica, onde são utilizadas
denominações próprias da organização criminosa, tais
como “Salve”, “irmão”, “cunhada”, “Regional da 035”,
dentre outras; que perguntado se confirma que a Polícia
concluiu pela participação de Miriam no eventual
esquema criminoso do denunciado, em razão de “fazer a
movimentação bancária da quadrilha”, respondeu que
sim, pois foram identificados depósitos em contas de
“laranjas”, os quais já tinham constado em outras
investigações envolvendo integrantes do PCC , dentre
eles Rogério, vulgo “Paulista” e “Hilux”; que pela
quantidade de droga apreendida, o depoente acredita que o
potencial da quadrilha seja grande; que Miriam sabia do
tráfico de drogas exercido pelo denunciado e que o
auxiliava nas transações, isso é fato, ficou comprovado
nas investigações; (...) que Miriam auxiliava mais mesmo
era o próprio denunciado Nilton (...)”. – depoimento em
Juízo da testemunha Thiago Gomes ribeiro, Delegado de
Polícia, às ff. 410/417, com grifos acrescidos.

Verifica-se, desta forma, que o denunciado não se tratava de


traficante que agia de modo ocasional ou individual, ao contrário, havia um
verdadeiro animus associativo prévio, formando uma verdadeira sociedade
organizada, em que cada uma tinha uma função bem delineada, agindo de
modo coeso e conjugando seus esforços para a prática do tráfico de drogas.

Portanto, não há dúvida da prévia reunião de interesses e


propósitos para o depósito, o preparo e a distribuição da droga, ficando
patente a associação com o único propósito de comercialização de
entorpecentes.

DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA (Art. 33, § 4º, da Lei


11343/06):

Para a incidência da causa especial de diminuição da pena


supramencionada, exige-se que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas e nem integre
organização criminosa.

No caso em tela, o denunciado não preenche os requisitos


legais para obtenção do referido benefício, vez que restou demonstrado nos
autos que além de integrar forte e complexa organização criminosa PCC

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(Primeiro Comando da Capital), é portador de péssimos antecedentes e
multirreincidente.

DO CONCURSO MATERIAL:

Verifica-se que o denunciado, mediante mais de uma ação,


praticou dois crimes distintos, devendo, pois, incidir a regra do concurso
material, prevista no art. 69 do Código Penal, somando-se as penas privativas
de liberdade de cada um dos delitos.

DA DESTINAÇÃO DOS OBJETOS/BENS APREENDIDOS:

Tendo em vista que restou comprovado os autos que o


denunciado utilizava-se dos veículos apreendidos para a prática do tráfico de
drogas, nos termos do art. 63 da Lei de Drogas, deve-se decretar o
perdimento dos referidos bens.

DAS ATENUANTES E AGRAVANTES

Conforme restou demonstrado nos autos, o acusado era o


responsável por toda a organização e direção da associação criminosa,
devendo incidir em relação a eles, a agravante prevista no art. 62, inc. I do
Código Penal.

O denunciado também é reincidente e portador de péssimos


antecedentes, vez que já ostenta várias condenações transitadas em julgado,
não só neste Estado de Minas Gerais, como também no Estado do
Paraná/PR, além de se encontrar preso na Penitenciária de Hortolândia,
Estado de São Paulo.

É o que se extrai dos autos.

3.0 - DISPOSITIVO.

ISSO POSTO e por tudo mais que dos autos consta, JULGO
PROCEDENTE o pedido constante na denúncia de f. 02/08, para
CONDENAR, como ora condeno, o acusado NILTON ANTONIO FERREIRA,
vulgo “Sertanejo” ou “Niltinho”, nas sanções dos artigos 33 e 35 da Lei
nº 11.343/06, c/c art. 61, inc. I e art. 62, inc. I e art. 69, todos do Código
Penal.

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Passarei a aplicar ao condenado as penas respectivas, de
conformidade com as circunstâncias judiciais e diretivas da Lei Penal, atento
ao comando do art. 68 do Código Penal, analisando as circunstâncias
judiciais previstas no art. 59 do mesmo diploma legal:
DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS (ART. 59, CP): a)
Culpabilidade: o denunciado possuía pleno entendimento do caráter ilícito do
seu ato e lhe era exigido conduta diversa, sobretudo em razão dos inúmeros
envolvimentos anteriores com o crime de tráfico de drogas e outros dele
decorrentes, entretanto, preferiu continuar desafiando a Lei e a Justiça,
confiando piamente na impunidade, assim, essa circunstância lhe é
desfavorável; b) Antecedentes: como maus antecedentes, somente podem
ser consideradas as condenações transitadas em julgado que não sirvam
para aferição da reincidência. Assim, com fundamento nas CAC’s de ff.
519/544, 547/551 e o quanto explicitado na fundamentação desta sentença, a
presente circunstância é desfavorável ao acusado; c) Conduta social: o
estudo da conduta social do acusado deve abranger a sua situação nos
diversos papéis desempenhados junto à comunidade, tais como suas
atividades relativas ao trabalho, à vida familiar, social, dentre outras. In casu,
esta circunstância é desfavorável ao acusado, pois a despeito de se tratar de
pessoa jovem e saudável, não exerce trabalho lícito e sobrevive da prática do
crime de tráfico de drogas, fazendo da degradação humana alheia o seu
repugnante meio de vida; d) Personalidade: desfavorável ao acusado, pois
restou evidenciado nos autos que ele possui personalidade desajustada, fria,
violenta e inclinada à prática de crimes cometidos com grave ou com violência
à pessoa; e) Motivos: nada há nos autos nada que aponte para a existência
de outros motivos, além daqueles próprios do crime em análise, razão pela
qual esta circunstância não pode ser considerada desfavorável ao acusado; f)
Consequências: são próprias do delito em questão; g) Circunstâncias: as
circunstâncias do crime podem referir-se à duração do delito, ao local do
crime, à atitude durante ou após a conduta criminosa, dentre outras. Na
espécie, os fatos que circundaram o evento delituoso não demonstram nada
além do próprio crime de tráfico ilícito de entorpecentes, pelo que esta
circunstância não pode ser considerada em desfavor do acusado; h)
Comportamento da vítima: a vítima, no caso, é toda a sociedade, de
maneira que esta circunstância não pode ser considerada em desfavor do
réu.
DA DOSIMETRIA DA PENA (ART. 68, CP):
- DO CRIME PREVISTO NO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06
a) Pena-base: Considerando a existência de quatro
circunstâncias judiciais desfavoráveis, como também a imensa quantidade e a
natureza do entorpecente apreendido (conforme laudos de ff. 37/39 – mais de
TRÊS toneladas de maconha), nos termos do art. 42 da Lei nº 11.343/06, fixo

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a pena-base em 10 (dez) anos de reclusão e 1000 (mil) dias-multa, por
considerá-las suficientes e necessárias à reprovação e prevenção do crime
praticado.
b) Circunstâncias legais: Presentes as circunstâncias
agravantes da reincidência e daquela prevista no art. 62, inc. I do Código
Penal. Assim, agravo a pena em 05 (cinco) anos de reclusão e 500
(quinhentos) dias-multa, passando a reprimenda para 15 (quinze) anos de
reclusão e 1.500 (um mil e quinhentos) dias-multa.
c) Causas de diminuição e aumento das penas: Não há
causas de diminuição e de aumento da pena, razão pela qual torno
definitivas as penas para o crime de tráfico de drogas em 15 (quinze)
anos de reclusão e 1.500 (um mil e quinhentos) dias-multa, a ser
cumprida em regime FECHADO, nos termos do artigo 2°, § 1°, da Lei nº
8.072/90.
- DO CRIME PREVISTO NO ART. 35 DA LEI Nº 11.343/06
a) Pena-Base: Como as circunstâncias judiciais são idênticas
às do crime anterior, e considerando a existência de quatro delas
desfavoráveis ao acusado, fixo pena-base em 06 (seis) anos e 06 (seis)
meses de reclusão e 950 (novecentos e cinquenta) dias-multa.
b) Circunstâncias legais: Presentes as circunstâncias
agravantes da reincidência e daquela prevista no art. 62, inc. I do Código
Penal. Assim, agravo a pena em 03 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão
e 250 (duzentos e cinquenta) dias-multa, passando a reprimenda para 10
(dez) anos de reclusão e 1200 (um mil e duzentos) dias-multa.
c) Causas de diminuição e aumento das penas: Não há
causas de aumento e nem de diminuição de pena, razão pela qual torno
definitivas as penas para o crime de associação para o tráfico de drogas
em 10 (dez) anos de reclusão e 1.200 (um mil e duzentos) dias-multa, a
ser cumprida em regime FECHADO.
Presente, ainda, o concurso material de delitos, pois
conforme já fundamentado acima, o denunciado, mediante mais de uma ação,
praticou dois crimes distintos, motivo pelo qual aplico a regra do art. 69, do
Código Penal e somo as penas dos respectivos crimes, ficando
concretizada a pena privativa de liberdade do denunciado NILTON
ANTONIO FERREIRA em 25 (vinte e cinco) anos de reclusão e 20700
(dois mil e setecentos) dias-multa, a ser cumprida em REGIME
FECHADO.
VALOR DO DIA MULTA (ART. 49, PARÁGRAFO 1º, CP):
Consoante o disposto nos artigos 49 e 60 do Código Penal, fixo o valor de
cada dia-multa em um trigésimo do salário mínimo vigente à época do fato,
devidamente corrigido quando do efetivo pagamento.

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PRAZO PARA RECOLHIMENTO DA MULTA (ART. 50, CP): A
multa deverá ser paga no prazo legal, a contar do trânsito em julgado da
presente sentença.
PAGAMENTO DAS CUSTAS (ART. 804, CPP): condeno o
denunciado ao pagamento das custas processuais.
DA SUBSTITUIÇÃO POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO:
Incabíveis, na espécie, a substituição da pena privativa de liberdade pela
restritiva de direitos, bem como a suspensão condicional da pena, tendo em
vista que a reprimenda foi fixada acima do quantum permitido em lei para a
concessão desses benefícios.
DA LIBERDADE PARA RECORRER: O denunciado não
poderá recorrer em liberdade, pois encontram-se presentes os requisitos da
prisão preventiva consistentes na garantia da ordem pública, já que em
liberdade poderia continuar a disseminar a prática do crime de tráfico de
drogas, além de outros crimes dele decorrentes, e para a garantia da
aplicação da lei penal, vez que além da presente condenação, ostenta
inúmeras outras pendentes de cumprimento.
Expeça-se de imediato Guia de Execução Provisória,
remetendo à VEC para os fins devidos.

PROVIMENTOS FINAIS.

Com o trânsito em julgado da sentença:

a) Encaminhe-se a competente CDJ ao respectivo Cartório


Eleitoral.
b) Expeça-se guia de execução definitiva.
c) No que tange à droga apreendida, cumpra-se o que dispõe o
Provimento Conjunto nº 24/2012.
d) Tendo em vista que restou comprovado nos autos que o
denunciado se utilizava do veículo Volkswagen Gol para a prática do crime de
drogas, com fundamento no art. 63 da Lei nº 11.343/06, DECRETO o
perdimento do referido bem em favor da UNIÃO.
e) Intimem-se, pessoalmente, o réu e o Ministério Público. O
advogado constituído do acusado deverá ser intimado via imprensa oficial do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Publique-se. Registre-se. Cumpra-se.


Passos/MG, 12 de agosto de 2014.

Arsênio Pinto Neto


Juiz de Direito em Substituição

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