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OS ASSUSTADORES NÚMEROS DA COVID-19 NO CEARÁ

por José Carlos Parente de Oliveira, em 27/05/2020.

Este artigo mostra os números estranhos e assustadores relativos à


Covid-19 no Ceará: as chances de se morrer de Covid-19 na Terra
Alencarina são nove vezes maiores que em um conjunto de treze estados
(AC, GO, MA, MG, MS, MT, PB, PI, PR, RN, RS, SC e SE); as mortes por
Covid-19 no Ceará são cinco vezes superior às mortes pelas demais
doenças respiratórias, enquanto no Brasil as mortes desses conjuntos são
equivalentes; na faixa etária 80-89 anos a taxa de mortandade da Covid-
19 no Ceará é seis maior que a taxa média do Brasil. Um comparativo com
a África mostra que morreu por Covid-19 mais cearenses que africanos de
cinquenta e cinco países, com uma população conjunta de 1,1 bilhões de
habitantes. A dor no Ceará em consequência da Covid-17 é muito grande,
sendo urgente uma justificativa convincente dos responsáveis pelas
políticas de saúde no estado.

PARTE 1.
I. As Bases de Dados
Os gráficos e as análises relativas a outros países são baseadas em informações contidas em três
bases de dados que são atualizadas diariamente, e mesmo em tempo real, dos números sobre o
vírus SARS-CoV-2 e a doença Covid-19:
1. base de dados da Organização Mundial da Saúde,
(https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports/);
2. base de dados do Centro Europeu para o Controle e Prevenção de Doenças, uma Agência da
União Europeia,
(https://www.ecdc.europa.eu/en/about-ecdc);
3. base de dados Worldmeters , uma instituição independente e sediada nos Estados Unidos,
(https://worldmeters.info).

Em relação aos números e informações sobre o vírus SARS-CoV-2 e a doença Covid-19 no Ceará e
Brasil nós utilizamos as três seguintes bases de dados:
1. base de dados do Governo do Estado do Ceará, a base IntegraSUS,
(https://indicadores.integrasus.saude.ce.gov.br/indicadores/indicadores-coronavirus/obitos-covid);
2. base de dados do Ministério da Saúde do Brasil,
(http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def);
3. base de dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, o portal de
Transparência do Registro Civil,
(https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid).
II. Os Estranhos e Aterradores Números do Ceará
O Estado do Ceará tem sido destaque no noticiário nacional e nas redes sociais pelos resultados
estranhos e assustadores que são obtidos no enfrentamento da epidemia da Covid-19. Infelizmente,
esses resultados, longe de serem amigáveis, podem demonstrar que os procedimentos adotados
nesse enfrentamento necessitam urgentemente de análise e alteração.
Os números da Covid-19 no Ceará serão apresentados na forma de gráficos e figuras por serem
estas formas a de mais fácil compreensão.
A Figura 1 abaixo mostra um comparativo entre o número de mortes por Covid-19 no Ceará e em
treze (13) estados brasileiros (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Acre).
Para uma apreciação mais cuidadosa e, até alarmante, é digno que se compare as populações do
Ceará e a população do conjunto dos treze estados: a população do Ceará é de 9,1 milhões
habitantes, enquanto a população dos 13 estados é de 84,7 milhões de habitantes. Ou seja, a
população do Ceará é nove (9) vezes menor, mas tem mesmo número de mortes. Assim, para se
equiparar em mortes com o Ceará, seriam necessárias 20.304 mortes adicionais nesses 13 estados,
número este que, além de inimaginável, é comparável ao total de mortos no Brasil.
Portanto, em médias, a chance de um morador de um desses treze (13) estados morrer por Covid-
19 é nove (9) menores que um morador do Ceará.

Alguém pode tentar justificar tal mortandade no Ceará pelo afluxo de turistas no período de férias e
pré-carnaval: a tal alguém deve ser respondido que no conjunto dos 13 estados há atrações
turísticas tão importantes quanto Fortaleza: Foz do Iguaçu, Camboriú, Florianópolis, Gramado,
Natal, Belo Horizonte, serras mineiras e serras gaúchas.
Continuando a olhar para números, agora relativos, e não mais para os absolutos, veremos que o
desempenho do enfrentamento à Covid-19 no Ceará é igualmente um lamentável destaque, até
mais criticável que o desempenho do estado do Amazonas.
A Figura 2 abaixo mostra o número de mortes para cada grupo de cem mil habitantes (100.000
habitantes) para os estados brasileiros. Este índice relativo - número de mortes por cem mil - é
muito usado em comparações de eventos envolvendo populações.
Como mostrado na figura abaixo, o Ceará é o segundo estado brasileiro com o maior número
relativo de mortes (27,3 mortes para cada grupo de 100 mil), ficando atrás apenas do Amazonas.
Uma comparação entre o número absoluto de mortes no Ceará (2493 mortes) com as mortes em
Santa Catarina (109 mortes) e população de 6,7 milhões de habitantes, ou com as mortes no Paraná
(156 mortes) e população de 11,4 milhões choca ao mais insensível observador. E a pergunta que
não cala é: o que foi feito de tão errado no Ceará?
Mais difícil de encarar e explicar os números assustadores do Ceará é quando se faz a comparação
com Minas Gerais que contabiliza 230 mortes em uma população de 21,1 milhões de habitantes:
um cearense tem 63 vezes mais chances de morrer por Covid-19 que um mineiro!

Continuemos com esta saga inaudita que em que constituem os números da Covid-19 no Ceará.
Assim, quando comparamos os números da Covid-19 no Ceará com os correspondentes números no
Brasil constatamos o quão difícil é a situação dos cearenses diante das medidas de enfrentamento a
esta doença realizadas pelas autoridades do Ceará.
A Figura 3 a seguir mostra a média de mortes por doenças respiratórias nos anos de 2009 a 2018 no
Brasil (curva inferior com pontos). Os dados são apresentados por faixa de idade e por milhão de
habitantes. As mortes por Covid-19 no Ceará no ano de 2020 são apresentados na cor vermelha
(curva superior lisa).
O que significam estes números?
Vamos exemplificar com os dados da faixa etária 70-79 anos: no Brasil morreram, em média entre
2009 e 2018, seis (6) pessoas por problemas respiratórios, para cada grupo de um milhão de
brasileiros; no Ceará, em 2020, morreram pelas mesmas causas, mais Covid-19, na mesma faixa
etária, vinte e quatro (24) pessoas, para cada milhão de cearenses. Ou seja, para cada pessoa morta
por doença respiratória no Ceará outras seis (6) morrem por Covid-19.
Agora faremos outra comparação entre a evolução de mortes diárias no Brasil (Figura 4 abaixo) e
Ceará (Figura 5 abaixo) devido a doenças respiratórias - Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG),
Pneumonia e Insuficiência Respiratória - e a Covid-19, entre 1º de janeiro e 24 de maio de 2020.
Na Figura 4, relativa ao Brasil, não se observa grandes diferenças na evolução das mortes por essas
enfermidades, exceto a partir da segunda semana de maio, onde a Covid-19 se sobrepõe às demais,
tornando-se, praticamente a única causa de morte. Entretanto, as diferenças na evolução dessas
doenças não são significativas.

No Ceará, como mostrado na Figura 5 a seguir, para o mesmo período que o da Figura 5, a doença
Covid-19 apresenta uma evolução muito diferente daquela apresentada pelo Brasil: no Ceará a
Covid-19, a partir de meados de abril passa a ser, em termos práticos, a única causa de morte por
problemas respiratórios no Ceará.
Pela Figura 5, a partir da última semana do mês de abril a Covid-19 cresce abruptamente chegando
o número de mortes por ela causada ser cinco (5) vezes superior às mortes pelas demais doenças
respiratórias – este comportamento no Ceará é completamente diferente do comportamento
médio verificado no Brasil.

Ainda seguindo os números relativos à Covid-19 no Brasil e no Ceará analisaremos as mortes por
doenças respiratórias ocorridas nos anos de 2019 e 2020.
As Figuras 6 (Brasil) e 7 (Ceará) mostram uma comparação entre as mortes ocorridas nos anos de
2019 e 2020, por faixa etária, devido as doenças respiratórias, incluindo-se neste grupo as mortes
provocadas por Covid-19.
Observa-se nas curvas do Brasil (Figura 6 a seguir) um aumento, não desproporcionalmente grande,
de doenças respiratórias em 2020, relativas às ocorridas em 2019. Vamos considerara que este
aumento seja inteiramente devido à doença Covid-19.
Mas, de quanto foi este aumento?
Para exemplificar vejamos o aumento percentual de mortes na faixa etária 80-89 anos, onde se
encontra o pico de mortes: a diferença entre o número de mortes em 2020, relativamente a 2019, é
de cerca de cinco por centos (5,0 %), indicado pela barra verde na Figura 6.
Por outro lado, nas curvas relativas ao Ceará (Figura 7 abaixo) se observa um aumento
anormalmente grande do número de mortes em 2020, relativamente a 2019. O crescimento
percentual nos picos da faixa etária de 80-89 anos foi de cerca de 30 %, ou seja, o crescimento de
mortes no Ceará nesta faixa etária foi seis vezes maior que os números para o Brasil.

Agora olharemos somente para o Ceará.


Como se deu o crescimento da Covid-19 no Ceará em 2020, em comparação com as mortes por
doenças respiratórias nos anos de 2013 a 2018?
A Figura 8 a seguir mostra a mortalidade no Ceará, mês a mês, devido às doenças respiratórias nos
anos de 2013 a 2018 e em 2020, e também as mortes devido à Covid-19 em 2020.
Inicialmente destacamos a atipicidade na curva no ano de 2017 em que aconteceram muitas mortes
no mês de março devido a um surto de Chikungunya.
Observa-se que no primeiro trimestre de 2020 a maioria das mortes ocorridas teve como causa as
doenças respiratórias, com pico no final de março e início de abril. Naturalmente isto coincide com
o período da estação chuvosa.
Entretanto, ressalta aos olhos a atipicidade nos números de morte por doenças respiratórias e
Covid-19 a partir da última semana de março de 2020: observa-se um decréscimo anormal de
mortes devido a Pneumonia, SRAG e Insuficiência Respiratória, se comparado com os anos
anteriores (curva em lilás escuro com bolinhas) e uma “explosão” do número de morte por Covid-19
(curva “quase vertical” em preto).

Neste ponto vamos comparar os números da Covid-19 no Ceará com os correspondentes números
em outros países.
Esta comparação deve ser buscada, em princípio, em um continente que possua características
semelhantes ao Brasil e em especial ao Ceará. Assim, o continente naturalmente escolhido é a
África, um dos berços do povo brasileiro. Na questão do Covid-19 duas características têm sido
ressaltadas desde o início, apesar das críticas recebidas: a alta temperatura atmosférica e a grande
insolação. A África e a região Nordeste do Brasil são ricas em calor e Sol!
A África possui 57 países e uma população de cerca de 1,2 bilhões de habitantes. Até hoje no
continente africano morreram de Covid-19 três mil, setecentos e vinte quatro (3.724) pessoas,
contra dois mil, quatrocentos e noventa e três (2.493) cearenses. Ressalta-se que a população da
África é de 1,2 bilhões de habitantes ou uma população cento e trinta (130) maior que a do Ceará.
Dito de outra forma, no Ceará morreu de Covid-19 cento e quarenta e nove (149) pessoas a mais
que morreram africanos em cinquenta e cinco países, com uma população 130 vezes maior que a
do Ceará (para este resultado retiramos as mortes de apenas dois países, a África do Sul, com 552
mortes, e Egito, com 816 mortes).
Diante desses resultados assustadores não há como se furtar a questionamentos:
O quê de tão errado há com as políticas oficiais de saúde de enfrentamento à Civid-19 no Ceará?
Ocorreu, de fato, algum planejamento? Se sim, por que a execução deste planejamento foi tão
perversa com o povo do Ceará? Onde e por que se falhou tanto no planejamento e na execução das
medidas de contenção e enfrentamento? Por que as políticas de saúde executadas foram tão
dissociadas dos interesses da sociedade cearense?
Enfim, é necessário que as autoridades cearenses se dirijam imediatamente ao povo cearense e
coloquem de forma clara, objetiva e verdadeira as razões e justificativas para tamanha dor causada
pela doença em si, pelo planejamento e execução das políticas de saúde, assim como pelo conjunto
de medidas restritivas à liberdade, à formação e ao trabalho do povo do Ceará.

III. A marcha dos Números de Mortes de Covid-19 no Ceará


Outro problema com os números da Covid-19 no Ceará diz respeito às suas constantes mudanças –
mesmo considerando as muitas explicações dadas que, no geral, não são nem suficientes nem
esclarecedoras.
A Figura 9 abaixo mostra o número de mortes diárias por Covid-19 no Ceará em cinco (5) datas
diferentes do mês de maio, espaçadas de dezesseis (16) dias (dias 08/05, 14/05, 17/05, 19/05 e
24/05/2020).

Olhando para a figura observa-se que em duas semanas os números de mortes diários mudaram em
maio (como é óbvio esperar ocorrer em um período de até cinco dias), em abril (não tão óbvio) e
também em março (qualquer justificativa soará falsa).
Repetindo, as diferenças entre estes gráficos são nítidas, não só no início dos registros, se tornando
bem mais acentuadas quando evoluem para o mês de maio. A impressão que fica é que as curvas
estão “procurando” se ajustarem ao que não é aparente, e quem sabe até ilógico.
Como exemplo para contrapor ao que é feito no Ceará, mostraremos a Figura 10 abaixo, que
apresenta uma curva semelhante – número de mortes diárias - para a Suécia em três diferentes
datas 28/04, 10/05 e 19/05/2020. Portanto os dados das mortes na Suécia estão espaçados de
cinquenta e três (53) dias – lembre-se que no Ceará o espaçamento foi de apenas 16 dias, com
mudanças marcantes.
As curvas da Suécia são exatamente as mesmas nos períodos comuns. A curva do dia 28/04/2020
foi deslocada, propositalmente, de um dia para evidenciar a semelhança das três curvas. Esta
característica, invariabilidade dos dados de mortes diárias, também é observada em dezenas e
dezenas de países.

As Figuras 9 e 10 deixam dúvidas concretas quanto à política de transparência relacionada aos


dados do Ceará. E observando novamente essas concordamos que se faz desnecessário qualquer
comentário adicional.

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