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Notas - Atravessando (Bandler e Grinder, ed.

por Connirae Andreas, 1981)


Atravessando - Notas de Mauricio Aguiar, 2020

Os objetivos destas anotações são: (1) Para quem leu o livro - poder
relembrar alguns tópicos do mesmo lendo apenas 20 páginas, ao invés
das cerca de 250 do original. (2) Para quem não leu - ter uma ideia do
tipo de assunto que o livro aborda e, quem sabe, decidir pela aquisição e
leitura do mesmo. Este é um livro denso e rico em conteúdo, portanto a
leitura é especialmente recomendada. Também é recomendável ler
primeiro “Sapos em Príncipes”, para o qual há um resumo semelhante a
este.

Cabe notar que, embora exista a versão em português, estas anotações


foram elaboradas a partir da versão original em inglês. Assim sendo,
algumas palavras e expressões poderão estar com tradução diferente da
versão brasileira do livro. A seguir, apresento comentários e trechos
selecionados da obra.

Prefácio de Connirae Andreas

No prefácio, Connirae diz que “Hipnose é uma palavra que provoca respostas fortes nas pessoas -
algumas positivas e outras, negativas. Algumas pessoas acham que é uma vigarice, ou boa somente
para fazer alguém imitar uma galinha, enquanto outros acham que hipnose cura tudo, desde caspa
até pés chatos. Finalmente, alguns acham que é algo tão perigoso que deve ser deixado de lado.”

“John Grinder e Richard Bandler, criadores da PNL, fazem afirmações contraditórias em seus
seminários conjuntos sobre hipnose. Um deles geralmente diz que ‘Toda comunicação é hipnose’,
ao que o outro responde: ‘Discordo, nada é hipnose. A hipnose não existe’. Em um certo sentido,
ambos estão corretos e dizendo a mesma coisa.”

“Se você pensar na hipnose como alterar o estado de consciência de uma pessoa, então qualquer
comunicação efetiva é hipnose. E como a hipnose não difere, fundamentalmente, de nenhum
processo de comunicação efetiva, ‘Não existe hipnose’, como um processo indepentente e distinto.”

“A maior parte do material do livro foi derivada da observação cuidadosa e sistemática do trabalho
de Milton H. Erickson, M.D., realizada por Bandler e Grinder. Até sua morte em 1980, Erickson foi
considerado o melhor hipnotizador clínico do mundo.”

“O livro foi criado a partir de transcrições de 10 seminários sobre hipnose, editados em conjunto,
como se fossem um só. Não fazemos distinção entre Richard e John, assim como os nomes dos
participantes foram alterados. O livro também foi editado de modo a reduzir a redundância com
outros livros dos autores.”

I - Introdução

“Nestes três dias de seminário, nosso tópico será hipnose. Vocês deverão ter em mente dois
objetivos. O primeiro, é descobrir como os padrões de hipnose podem ser úteis e eficientes na área
em que você estiver, seja esta psicoterapia, gerenciamento, educação, enfermagem, vendas ou
alguma outra coisa. Além deste primeiro objetivo, tenho certeza que muitos de vocês estão
interessados em fazer várias mudanças pessoais, como parte de sua experiência aqui.”
“Ao pensar em uma habilidade como dirigir um carro ou andar de bicicleta, vemos como o
aprendizado consiste em executar algumas tarefas sem pensar nas mesmas conscientemente. Ao
começar a aprender uma dessas habilidades, é necessário prestar atenção consciente a cada parte.
Em função disso, a execução costuma ser desajeitada e erros ocorrem.”

“Para poder aprender a dirigir ou andar de bicicleta com a elegância de quem já é mestre nessas
atividades, é preciso dividir a tarefa em pedaços pequenos, de modo que cada parte possa ser
praticada separadamente até que seja dominada de modo automático, sem requerer atenção
consciente.”

“A melhor maneira de aprender hipnose é praticar uma parte pequena de cada vez, do mesmo jeito
que se aprende a dirigir um automóvel. Três dias não é suficiente, mas nesse tempo organizaremos a
tarefa inteira em pedaços pequenos, e pediremos a vocês que pratiquem. Esperamos que você, e
especialmente sua mente inconsciente, continue a praticar essas habilidades após o seminário.
Também esperamos que você continue a acrescentar, ao repertório que ofereceremos aqui, maneiras
alternativas de alcançar os mesmos resultados.”

Em um primeiro exercício, os autores pedem aos participantes que se dividam em grupos de três.
Uma pessoa irá fechar os olhos e viver uma experiência na qual esteja com sua atenção
intensamente focada em uma atividade, que poderá ser “jogging”, ver TV, escrever, ler, dirigir em
uma longa viagem, etc. Os outros dois participantes irão procurar descrever a atividade, dizendo
coisas que farão, obrigatoriamente, parte da experiência sensorial da primeira pessoa. Por exemplo,
se a primeira pessoa disser que a atividade é “jogging”, os dois outros não deverão dizer algo como,
“O sol quente brilha sobre o seu corpo”, porque uma pessoa pode praticar “jogging” à noite ou em
um dia nublado. Por outro lado, seria razoável dizer, “Você sente a temperatura do ar no seu corpo”,
pois isto sempre acontecerá na experiência de “jogging”. Após o exercício, os autores recebem
comentários dos participantes: “O que facilitou?” - “Foi mais fácil para mim quando o ritmo da sua
voz era o mesmo que o da minha respiração”. “O que dificultou?” - “Quando me imaginei em uma
pista de patinação em um lugar fechado e o outro disse, ‘Você olha para o céu tão bonito’”. Os
autores recebem vários comentários úteis, dos participantes, para manter uma pessoa focada em seu
estado interior. O importante é que aquilo que for dito pelo “hipnotizador” não contrarie a
experiência interior da pessoa “em transe”.

“As pessoas entram em estados alterados o tempo todo. Talvez, na hora do almoço, você entre em
um elevador e suba até o último andar deste hotel com algumas pessoas que não conhece, aí veja o
que acontece com elas. As pessoas não agem normalmente quando estão em um elevador. Elas
entram em uma espécie de estado ‘suspenso’ e olham os andares passando. Na verdade, se a porta
abrir antes da hora, muitas vezes acordam e saem do elevador. Quantas vezes vocês já saíram de um
elevador no andar errado? É uma experiência universal.”

Em um segundo exercício, os autores pedem que os participantes se restrinjam a descrições de


coisas não-específicas e que tenham que estar na experiência sensorial. Outra coisa a ser feita é
manter um ritmo de voz constante e utilizar a respiração da outra pessoa como o ritmo a ser
seguido.

“Muitas pessoas dizem: ‘Acho que não entrei em transe, porque ainda ouvia e sentia as coisas’. Se
você não conseguir ouvir e sentir as coisas, isso é a morte; é um outro estado. Na hipnose, o que
você ouve, vê e sente é geralmente amplificado”.

“Sei que cada um de vocês é capaz de entrar em um estado de transe - embora a ciência tenha
‘provado’ que isto não é verdade. Dada a maneira que os pesquisadores usaram para provar isso,
eles estão certos. Se você usar a mesma indução hipnótica com um grupo de pessoas, somente
algumas delas entrarão em transe. É esta a maneira utilizada pelos hipnotizadores tradicionais. No
entanto, não vamos estudar hipnose tradicional aqui. Estudaremos o que se chama hipnose
Ericksoniana, nome derivado de Milton H. Erickson. A hipnose Ericksoniana desenvolve a
habilidade de um hipnotizador tão bem, que é possível colocar uma pessoa em transe por meio de
uma conversa na qual a palavra hipnose sequer é mencionada.”

“Se você disser, ‘Você pode perceber a temperatura da sua mão, os sons na sala, o movimento de
seu corpo enquanto respira’, suas palavras corresponderão à experiência da pessoa, porque todas
essas coisas mencionadas estão presentes. Chamamos este tipo de correspondência
‘acompanhamento’ (‘pacing’)”.

“Se eu estiver praticando com Charlie, direi algo como ‘E você está ouvindo o som da minha voz...
e pode sentir o calor onde a sua mão esquerda está repousando sobre a sua coxa...’ Há uma arte na
escolha destas frases. ‘Até que eu diga esta frase, você não estará consciente da temperatura e
sensação na sua orelha esquerda’ e de repente você está consciente disso. Se eu disser para Ann,
‘Você pode perceber a sensação de calor onde sua mão toca o seu queixo’, ela provavelmente não
estava consciente disto antes de eu dizer a frase. No momento em que eu disse isso, ela pode
verificar, imediatamente, que a minha verbalização foi de fato uma representação exata de sua
experiência. Ganho credibilidade e, também, começo a amplificar coisas que são reais, mas estavam
fora de sua consciência até que eu as mencionasse”.

“Além de seguir as experiências das pessoas com suas frases para obter ‘rapport’, você precisa ser
capaz de fazer algo com o ‘rapport’ que irá conseguir. A chave para isto é ser capaz de fazer
transições. Você precisa de uma forma elegante para guiar alguém de seu estado atual até um estado
de transe - ir desde descrever seu estado presente até descrever o estado para o qual você deseja que
eles vão. As palavras transicionais permitem fazer isso suavemente. Palavras tais como ‘conforme’
e ‘enquanto’ implicam em um relacionamento significativo entre duas sentenças. ‘Enquanto você
está sentado aí, é possível que entenda que vou dizer algo em seguida’ Não há relação entre você
estar sentado aí e entender alguma coisa. No entanto, isto soa significativo, sendo o tom de voz e a
transição ‘enquanto’ que implicam em significado.”

“Joe: ‘OK, entendo o que você está dizendo. Você quer que descubramos palavras que criarão
pontes entre as sentenças que está construindo.’
Sim, eu poderia dizer, ‘Conforme você relaxa nessa cadeira, pode sentir o calor da sua mão no seu
braço e sentir o bloco de notas sobre as suas pernas. Se prestar atenção, poderá até ouvir o seu
coração batendo e você não sabe... exatamente... o que vai aprender nos próximos três dias, mas
pode entender que há uma porção de novas ideias e experiências e entendimentos que poderão ser
úteis.”

“Quando eu estava trabalhando com as pessoas, em áreas como controle da dor, costumava utilizar
coisas que elas podiam conferir. ‘Você pode sentir a dor no seu braço, e isso dói bastante, mas você
também consegue sentir os batimentos do seu coração, o movimento dos seus dedos dos pés, bem
como os sons nos seus ouvidos, conforme o seu coração bate. Pode sentir os óculos sobre o seu
nariz, e é possível que comece a sentir a outra mão, e as sensações da outra mão podem tornar-se
muito intensas. Você pode sentir cada dedo e, de fato, pode pegar todas as sensações desta mão e
colocá-las na outra.”

“Homem: Notei que, quando você estava dando sugestões, algumas vezes usava palavras que
implicam em controle; palavras como ‘você vai sentir’ ou ‘você está sentindo’, versus ‘isto é algo
que pode acontecer’. Você diferencia entre escolher palavras de controle versus palavras que não
implicam em controle?
Sim. A orientação que uso é a seguinte: Não quero que ninguém com quem eu faça hipnose fracasse
em alguma coisa. Se estou fazendo uma sugestão sobre algo que pode ser facilmente verificado,
provavelmente utilizarei palavras tais como ‘poderia’ ou ‘pode’, o que chamamos ‘operadores
modais de possibilidade’. ‘Seu braço pode começar a subir...’ Dessa forma, se o que eu pedi não
ocorrer, a pessoa não terá ‘fracassado’. Se eu estiver fazendo uma sugestão sobre algo que é
completamente impossível de verificar, provavelmente utilizarei palavras que implicam causa-
efeito: ‘Isto faz você aprofundar o transe’, ou ‘Isto faz você ficar mais relaxado’. Como a sugestão
não pode ser verificada, a pessoa não poderá concluir que ‘fracassou’.”

Neste ponto, os autores conduzem mais um exercício, utilizando frases verificáveis e não-
verificáveis, bem como acompanhamento e condução.

“No transe, os músculos da face tornam-se mais planos ou flácidos, bem como há uma simetria que
não existe no estado de vigília. Descobri que, inicialmente, há uma intensificação na assimetria da
face, conforme a pessoa começa a entrar em transe. Você sabe que conseguiu um transe
razoavelmente profundo quando obtém novamente a simetria - uma simetria mais equilibrada do
que a simetria típica do estado de vigília. Conforme a pessoa volta do transe, você pode determinar
em que ponto a mesma está no processo de voltar ao estado normal de consciência. Vão de extrema
simetria na face a um estado relativamente assimétrico até o seu estado normal, seja qual for.”

“Resumo

A. O transe pode ser visto como a amplificação de respostas e experiências. Se você descrever uma
experiência, falando sobre o que tem que estar lá, isso ajudará a pessoa a amplificar sua resposta.
B. Criar correspondência cria ‘rapport’ e é a base para levar alguém a um estado alterado.Você pode
criar correspondência com qualquer parte do comportamento de uma pessoa. É especialmente útil
seguir algo como o ritmo da respiração, que está sempre acontecendo e do que a pessoa
provavelmente não está consciente. Se você fizer corresponder o ritmo da respiração do outro com a
velocidade da sua fala, você poderá simplesmente falar mais devagar e a respiração da pessoa
tornar-se-á mais lenta. Outra forma de fazer correspondência é verbalizar o que está presente na
experiência presente da pessoa. ‘Você está sorrindo conforme olha para mim, pode ouvir a minha
voz enquanto falo...’
C. Transições suaves tornam possível que a pessoa entre facilmente em um estado alterado.
Conectores tais como ‘conforme’, ‘enquanto’ e ‘e’ tornarão suas transições elegantes.
D. Sinais gerais de transe: primeiro assimetria facial, depois simetria facial maior do que a usual.
Relaxamento geral dos músculos, pequenos movimentos musculares involuntários, rubor, mudanças
nos padrões de respiração.

II - Induções Simples

Acompanhamento e Condução Verbal: Exercício 5-4-3-2-1

“Ao praticar este método, comece fazendo cinco afirmações, quatro com base sensorial e uma
orientada internamente. Ligue as afirmações com palavras transicionais, tais como ‘e’ e ‘conforme’:
‘Você está escutando o som da minha voz e pode notar as cores na sala, conforme você sente seu
braço na cadeira e pode começar a sentir uma sensação de satisfação’. A seguir, faça três
afirmações verificáveis, seguidas por duas não verificáveis, então duas e três, uma e quatro, e nesse
ponto você terá um transe razoável se desenvolvendo.”

A seguir, alguns exemplos de descrições não sensoriais, que podem ser oferecidas em conjunto com
as afirmações verificáveis. A sugestão é utilizar o gerúndio:
- “ e você está percebendo a agradável experiência, e você está começando a lembrar... agora você
está tomando consciência da capacidade de aprender hipnose.”

“Há três tipos de ligação. A mais simples é ‘X e Y’. A próxima forma mais forte, é ‘Conforme X,
Y’. ‘Conforme você escuta o som da minha voz, você se sente mais confortável.’, ou ‘Quando eu
esticar meu braço e tocar seu joelho, você se sentirá entrando em um estado ainda mais relaxado.’
‘Enquanto você está aí sentada, ouvindo o som da minha voz, sua mente inconsciente pode preparar
uma interessante lembrança, de uma experiência agradável da sua infância.’ A forma mais forte é ‘X
faz Y’. ‘A elevação do seu braço fará você deslizar para uma memória agradável.”

“O padrão é dizer quatro coisas imediatamente verificáveis, e então conectá-las com um ‘e’ a um
estado internamente orientado que você está propondo. Primeiro o acompanhamento, depois a
condução. Conforme você prossegue, pode aumentar gradualmente o número de afirmações
orientadas internamente, assim como pode ir de uma forma de ligação mais fraca para uma mais
forte.”

Acompanhamento e Condução Não Verbais

“A hipnose pode ser vista, de uma forma útil, como feedback. Neste momento, Bob está sentado
diante de mim. Estamos trocando muitas informações, verbal e não-verbalmente. Algumas dessas
mensagens são conscientes - isto é, eu e ele sabemos que as estamos trocando - e outras, não.
Algo que posso fazer é selecionar as mensagens de Bob que estão fora de sua consciência e
começar a espelhá-las. Conforme faço isso, uma de duas coisas irá acontecer: sua consciência será
alterada e ele notará conscientemente essas coisas, ou suas respostas inconscientes serão
amplificadas, de modo que mais respostas suas serão inconscientes e menos serão conscientes.
Depois de acompanhar algumas respostas inconscientes, você pode começar a amplificar ou
conduzir Bob a uma outra resposta. (...) Posso acompanhar suas piscadas e, gradualmente, piscar
meus olhos mais frequentemente e mais devagar, até que eu consiga que ele feche os olhos. Posso
acompanhar seu tonus muscular e, então, relaxar meus músculos lentamente, para ajudá-lo a
relaxar.”

Sobrepondo Sistemas Representacionais

“Se você pedir a uma pessoa para descrever seu estado normal de consciência e, em seguida,
descrever como é estar em um estado alterado, a pessoa frequentemente utilizará um sistema
representacional diferente para descrever cada uma dessas experiências. Por exemplo, uma pessoa
poderá descrever seu estado normal como ‘ter uma sensação clara e focada de quem eu sou’
(palavras visuais) e seu estado alterado como ‘estar em contato com o universo’ (palavras
cinestésicas).
Isto significa que, ao descobrir em que estado uma pessoa está, em termos de sistemas
representacionais, você terá uma excelente indicação do que constituirá um estado alterado para
essa pessoa - qualquer outra coisa. Se aparecer alguém que esteja em contato com seus sentimentos
e tenha um firme controle de sua vida, você pode querer levá-la a um estado alterado onde ela
estará, principalmente, consciente de imagens. Assim, se ela chegar e disser, ‘Bem, sinto que desejo
entrar em um transe, porque estou em contato com minhas necessidades, fico irritada algumas
vezes, mas quero sentir-me relaxada e suavizar algumas dificuldades da minha vida’, teremos uma
indicação de que sua consciência é principalmente cinestésica.”

Acessando um Estado de Transe Anterior

“A indução mais fácil de todas é perguntar ao cliente se ela já esteve em um transe. Se a resposta for
positiva, peça a ela para contar, em detalhe, a sequência de eventos que aconteceram na última vez
que entrou em transe. Peça que descreva a configuração exata do cômodo, o som da voz do
hipnotizador, assim como o quê o hipnotizador disse, exatamente, para colocá-la em um transe
profundo. Você notará que ela reviverá a experiência, conforme a for descrevendo.”

Estados de Transe Que Ocorrem Naturalmente

“Você pode obter uma resposta na qual a pessoa alcance um foco de atenção limitado, simplesmente
descrevendo estados sonambulísticos que ocorrem naturalmente em nossa cultura. Você senta em
frente à pessoa e diz, ‘Antes de começar, vamos falar sobre experiências comuns, pois é util para
mim, como comunicador, saber algo sobre a sua história pessoal, para poder ajudá-la a usar seus
recursos para aprender mais sobre hipnose.’ A seguir, você descreve cinco estados de transe
comuns. Você notará que, conforme procura entender suas palavras e encontrar exemplos do que
você estiver falando em sua experiência pessoal, ela entrará em um estado alterado.
O que acontece com a sua experiência quando converso sobre as sensações que você tem em uma
longa viagem de carro? Este é um exemplo de não dar uma sugestão direta para entrar em transe,
mas simplesmente mencionar uma situação na qual estados de transe ocorrem naturalmente em
nosso cultura.”

“Dei a vocês cinco técnicas de indução específicas: (1) acompanhamento e condução verbal (2)
acompanhamento e condução não-verbal (3) sobreposição de sistemas representacionais (4) acessar
um transe anterior e (5) descrever situações de transe que ocorrem naturalmente.”

Ancorando Estados de Transe

“Depois de ter induzido um estado de transe, você poderá estabelecer âncoras, de modo a reinduzir
o estado de transe sempre que quiser. Ao realizar induções hipnóticas, sempre altero meu tom de
voz, estilo de movimentação, postura e expressão facial, de sorte que um conjunto dos meus
comportamentos esteja associado com o transe, e outro conjunto ao estado normal de consciência.
Dessa forma, posso reinduzir o estado de transe simplesmente iniciando meus comportamentos ‘de
transe’. Tais comportamentos servem como sinais inconscientes para induzir um transe.”

Marcação Analógica

“Um tipo especial de âncora é especialmente útil quando você deseja obter respostas hipnóticas. Tal
tipo é denominado marcação analógica, e envolve marcar, não-verbalmente, certas palavras quando
se está falando com alguém. Posso marcar tais palavras como mensagens separadas com meu tom
de voz, um gesto, uma certa expressão ou talvez um toque. (...) Qualquer aspecto do seu
comportamento pode ser utilizado com esta finalidade. Milton Erickson às vezes movia sua cabeça
para a direita ou para a esquerda, quando queria marcar alguma coisa para atenção especial.”

“A negação é um recurso especialmente eficaz, quando utilizado com pessoas que têm o que
chamamos de ‘resposta de polaridade’. Uma resposta de polaridade quer dizer apenas uma resposta
oposta. Se digo a David, ‘Você está se tornando mais relaxado’ e ele se contrai, isto é uma resposta
de polaridade.
Algumas pessoas chamam isto de ‘resistência’ e assumem que não é possível trabalhar com tais
clientes. As pessoas com vários tipos de resposta de polaridade são altamente responsivas: apenas,
são responsivas na direção oposta à que você as instruir. Tudo que precisa fazer é dizer a elas para
não fazer as coisas que deseja que façam. (...) Este é um contexto no qual comandos negativos são
extremamente úteis. (...) Outra forma de lidar com isso é utilizar construções do tipo ‘Você está
começando a relaxar, não está?”
III - Induções Avançadas

Induções Alavancadas e Interrupção de Padrão

Aqui John Grinder demonstra induções com utilização do braço do cliente e, também do aperto de
mão interrompido.

“Essas são denominadas induções ‘alavancadas’. Há muitos fenômenos que as pessoas, em geral,
acreditam ser indicadores de estados de consciência alterada. A catalepsia é um deles. A catalepsia
das mãos e do braço é, normalmente, uma indicação de que algo inusitado está acontecendo. As
pessoas não costumam sentar com suas mãos e braços suspensos no ar. Se conseguir criar essas
experiências, isso dará a você credibilidade como hipnotizador, e você poderá usar essas
experiências como alavancas para alcançar outros estados alterados. (...) Para utilizar [o braço
suspenso] no contexto de uma indução hipnótica, (...) peço a ele que permita que sua mão e braço
desçam com movimentos inconscientes, apenas tão rapidamente quanto seus olhos se fecham e ele
relembra uma experiência. Também sugiro que, assim que sua mão pouse sobre sua coxa, ele
retornará ao estado normal de consciência, achando o processo divertido.”

Sobrecarga

“Há cerca de 25 anos, George Miller resumiu um bocado de pesquisa sobre a percepção humana e
animal em seu artigo clássico, ‘O Número Mágico 7 + ou - 2’ (‘The Magical Number 7 + or - 2’).
Os seres humanos possuem a capacidade de prestar atenção, conscientemente, a cerca de 7
‘pedaços’ de informação ao mesmo tempo. Além desse número, a pessoa fica sobrecarregada e
começa a cometer erros.”

“Quando o processamento consciente de uma pessoa é sobrecarregado, você pode passar


informações diretamente ao inconsciente, e a pessoa responderá àquelas informações. A maneira
mais fácil de sobrecarregar a atenção de uma pessoa é fazê-la prestar atenção a uma experiência
interna complexa.”

“Você poderia vir aqui um instante, Bill? Poderia fechar os olhos? Agora, o que eu gostaria que
você fizesse é contar suavemente, em voz alta, para trás, começando em 200, de três em três
números (200, 197, 194, ...). Conforme você for fazendo isso, colocarei minhas mãos nos seus
ombros e rodarei você em círculos. Se em algum ponto você achar mais confortável simplesmente
entrar em um bom transe profundo, faça isso com o entendimento de que está em boas mãos.
Fazendo isso, crio uma sobrecarga, ocupando todos os sistemas representacionais de Bill. Ele está
usando visualização, como forma de contar de trás pra frente. No canal auditivo, ele está dizendo os
números para si próprio. E eu o desoriento cinestesicamente, girando-o em círculos.”

“Você pode usar qualquer tarefa complicada para ocupar uma pessoa e distrair sua consciência
enquanto a desorienta. Em seguida você oferece uma instrução bem direta, imediata e fácil de
seguir, tal como ‘Se em qualquer ponto for mais fácil para você simplesmente entrar em um transe
profundo, então faça isso, com o completo entendimento de que você está seguro em sua posição
atual.’”

Poder Pessoal

“Outro método de indução é simplesmente o poder pessoal. Você apenas diz a uma pessoa,
congruentemente, para que entre em transe. Se entrarem em transe, ótimo. Senão, espere até que
entrem. É claro que todos os outros padrões (espelhamento não-verbal, etc.) estarão disponíveis
para você enquanto isso. Se disser a alguém para entrar em transe, e o seu comportamento for 100%
congruente que eles vão entrar em transe, então entrarão. Você tem que ser totalmente congruente
para que esta manobra funcione. Se for congruente em suas expectativas, vai eliciar a resposta
apropriada.”

Empilhando Realidades

“Outro procedimento de indução chama-se ‘empilhando realidades’. A forma mais fácil de explicar
uma realidade empilhada é contar a vocês sobre um grupo com o qual trabalhei. Estava sentado com
eles na ‘Weber’s Inn’, em Michigan, conversando sobre metáforas. Conforme comecei a conversar,
lembrei-me de uma história que Milton Erickson havia me contado, sobre um grupo com o qual ele
havia trabalhado na Universidade de Chicago, no qual havia um grande número de pessoas sentadas
ao redor de um semi-círculo, com ele na frente. Agora, conforme ele estava lá sentado, conversando
com esse grupo na Universidade de Chicago, a história que parecia mais apropriada nesse momento
era uma que seu pai havia lhe contado, sobre seu avô que viera da Suécia. Quando seu avô Sven
estava cuidando de uma leiteria na Suécia, notou que as vacas produziam melhores resultados se ele
falasse com elas em uma voz suave e calma, sobre qualquer coisa que estivesse em sua cabeça...
O que fiz foi encaixar uma história dentro de outra história dentro de outra história, até que
sobrecarregasse sua capacidade consciente de dar conta de qual afirmação dizia respeito a qual
coisa. Mesmo em um grupo sofisticado como este, se continuasse com a história e colocasse
mensagens de indução embutidas nela, seria difícil para vocês saberem a qual realidade eu estaria
me referindo.”

Neste ponto, os autores declaram ter demonstrado mais cinco tipos de indução: (1) Induções
Alavancadas; (2) Interrupção de Padrão; (3) Sobrecarga; (4) Poder Pessoal; e (5) Empilhando
Realidades.

Incorporação e Lidando com Abreações

“Há um outro padrão geral muito importante sobre o qual eu gostaria de falar, chamado
incorporação. Se alguma coisa significativa ocorrer, seja algo interno - uma resposta profunda se
desenvolve no cliente - ou algo externo - de repente uma porta bate, ou alguém passa e esbarra na
cadeira do cliente - a pior coisa a fazer é fingir que nada aconteceu. Se fizer isso, você perderá
credibilidade e sintonia com o cliente, pois ele precisa saber que você está suficientemente alerta
para saber por qual experiência ele(a) está passando. Quando alguma coisa acontecer, a sua próxima
verbalização deve incorporá-la.”

“Todos vocês que operam como hipnoterapeutas precisam de formas para lidar com abreações:
intensas respostas desagradáveis que algumas vezes ocorrem quando alguém entra em transe. Uma
das motivações inconscientes que leva as pessoas a se especializarem em um estado de consciência,
excluindo os demais, é que elas possuem grandes quantidades de experiências desagradáveis ou
incongruentes, em um sistema representacional excluído da consciência. (...) A mente inconsciente
guarda material potencialmente capaz de sobrecarregar a mente consciente. Isto é adequado, sendo
uma das funções do inconsciente. Assim, se você alterar o estado de alguém e tornar disponível um
sistema inconsciente, pode ser que o material imediatamente disponível seja lixo. Em termos de
gestalt, é negócio não-concluído. Isto acontece com tal frequência que este tipo de situação foi
chamado ‘abreação’ (ou ‘ab-reação’). Meu entendimento é que uma abreação é simplesmente a
resposta mais natural à súbita descoberta de um sistema que contém material do passado, que é
doloroso ou excessivo. Digamos que alguém tem uma abreação, por exemplo, começa a chorar. O
que você faz?
Primeiro você acompanha, dizendo coisas tais como, ‘Você está tendo sentimentos de desconforto e
eles são muito desagradáveis.’ Você aceita a resposta: ‘E você está chorando... e essas lágrimas
representam a dor e o desconforto do seu passado... e você está muito desconfortável... conforme
lembra... aqueles sentimentos específicos e eles novamente retornam ao seu corpo... E eu gostaria
que você considerasse o seguinte... Cada um de nós, em sua história pessoal, teve muitas, muitas
experiências, algumas das quais consideramos desagradáveis. Tais experiências desagradáveis
frequentemente formam a base... para habilidades posteriores... e capacidades... que as pessoas que
nunca foram desafiadas por tais experiências... não conseguem desenvolver... Como é agradável...
sentir desconforto do passado... com o pleno entendimento... de que você sobreviveu àquelas
experiências, e que elas formam um conjunto de experiências a partir das quais pode gerar
comportamentos mais adequados no presente.’”

IV - Utilização

“O tópico desta manhã é utilização. Uma vez tendo alcançado um estado alterado, como utilizá-lo
de maneira útil? Assumo que você já obteve atenção e sintonia, já efetuou uma indução e que seu
cliente está lá sentado, em um estado alterado.”

“O que fazer depois de colocar alguém em transe? A maneira mais simples de utilizar qualquer
indução é dar à pessoa um conjunto de instruções livres de conteúdo, que simplesmente diga,
‘Aprenda alguma coisa’, ‘Mude agora’. Chamamos isso de ‘instruções de processo’, porque são
muito específicas sobre o processo que a pessoa deve seguir para passar pela mudança, mas muito
inespecíficas quanto ao conteúdo.”

“Para aqueles que conhecem o Meta-Modelo, poderá ser útil saber que os padrões verbais da
hipnose, aí incluídas as instruções de processo, são o inverso do Meta-Modelo. O Meta-Modelo é
uma forma precisa de especificar a experiência. Ao utilizar o Meta-Modelo, se o cliente entra e diz,
‘Estou com medo’, minha resposta é ‘De quê?’ Faço esta pergunta para obter informação mais
específica sobre o conteúdo que está faltando.
Ao dar instruções de processo, sou deliberadamente inespecífico. Deixo partes fora do discurso, a
fim de dar ao cliente o máximo em termos de oportunidades de colocar as peças da forma mais
significativa para ele(a).”

“Ao dar instruções de processo, você usa várias palavras como ‘entendimentos’, ‘recurso’ e
‘curiosidade’. Chamamos essas palavras de nominalizações. São, na verdade, palavras de processo
que são usadas como substantivos. Se você transformar uma palavra como ‘entendimento’ de volta
em um verbo, você terá algo como ‘Você entenderá...’ e aí fica fácil ver que um bocado de
informação foi suprimida. Você entenderá o quê? Se alguém utiliza nominalizações ao falar com
você, isso a obriga a se interiorizar e acessar significados.”

“Pergunta: Várias vezes, ao dar instruções de processo, você disse ‘Isso...’. Qual o seu objetivo
neste caso?
Resposta: Dizer algo como ‘Isso...’ é uma das maneiras mais simples de amplificar qualquer
resposta que esteja acontecendo. (...) É uma instrução para a pessoa fazer mais daquilo que já está
fazendo. Permite amplificar uma resposta sem ter que descrevê-la.”

“É muito importante entender quando utilizar linguagem inespecífica e quando não usar. Ao
fornecer instruções de processo, torne sua linguagem bem inespecífica. Contudo, se você quer que
alguém faça algo bem específico, assim como fazer um certo bolo ou curar uma fobia, será
importante dar à pessoa instruções bem específicas, de modo que entendam como fazer as coisas.
Se quiser que alguém faça um bolo e disser, ‘pegue todos os ingredientes apropriados em sua
geladeira e misture-os da maneira mais satisfatória...’, provavelmente você não obterá o bolo
desejado.
Muitas vezes, ouço as pessoas utilizando a linguagem inespecífica que usamos em instruções de
processo, quando na verdade estão tentando comunicar algo específico a outra pessoa. Aí, não
conseguem saber que a outra pessoa não será capaz de entender o que estão dizendo, devido às
palavras utilizadas. Por exemplo, em terapia, as pessoas falam sobre como é importante ter
autoestima, or uma imagem positiva de si mesmo, ao invés de uma imagem negativa. No entanto,
não falam sobre como exatamente você constrói essas coisas, ou como você sabe se as tem.”

“Quando entrei na área de terapia, as pessoas disseram: ‘Tudo que você precisa fazer para ser um
bom terapeuta é estar totalmente em contato com as necessidades das pessoas. Você as ajuda a
elevar sua autoestima e sua autoimagem, de modo que tenham uma vida melhor e mais rica.’ Eu
disse, ‘Como fazer isso? Como se eleva a autoestima?’ e eles responderam, ‘Fazendo as pessoas
verem as coisas como realmente são.’ Discordo: acho que isso é feito criando-se ideias falsas sobre
si próprio (‘self-deceptions’) mais úteis do que as que alguém já tem. Não sei como as coisas
‘realmente são’.”

“Deixem-me dar a vocês uma forma genérica para pensar sobre a criação de instruções de processo.
(...) Primeiro pense em qualquer sequência que levará ao aprendizado. Uma sequência deste tipo é
(1) Obtenha alguma experiência importante no seu passado (2) Reveja e ouça novamente o que
ocorreu então, tanto quanto for necessário para aprender algo de novo e (3) Peça ao seu
inconsciente que utilize os novos aprendizados em situações apropriadas no futuro.
Se você vai aprender alguma coisa, precisará de um jeito para aprender, assim como uma maneira
de determinar quando e onde utilizar os novos aprendizados. Então, construa uma sequência que
inclua esses componentes. Assim que tiver uma ideia dos passos que deseja incluir, poderá fornecer
as instruções utilizando padrões de linguagem hipnótica, dando ao cliente tempo suficiente para
responder.”

Mudança Generativa: Sonho Hipnótico

“O termo ‘mudança generativa’ não significa que você deseja deixar de fumar, perder peso ou
resolver seus problemas. Chamo este tipo de mudança ‘mudanças reparadoras’. Mudança generativa
significa que você será capaz de fazer algo melhor, ou que fará uma coisa nova. Não é o caso de
desejar mudar algo que você faz mal, mas de melhorar algo que você já faz bem.”

“Gostaria de experimentar uma estratégia interessante para mudança generativa, que utiliza sonho
hipnótico. Tanto quanto sei, o sonho hipnótico não difere muito do sonho normal, exceto que no
sonho hipnótico você não ronca. (...)
A primeira coisa a fazer é descobrir qual resultado você deseja. Você pode querer fazer X melhor,
ou que a sua cliente faça X melhor. Digamos que a sua cliente já faz X bem, mas você quer que ela
faça isso ainda melhor.
Então pergunte, ‘Que tipos de coisas permitiriam que alguém fizesse algo melhor?’”
(em seguida, os autores promovem um exercício, cujas induções são parcialmente mostradas a
seguir)

“Durante este sonho, coisas diferentes e difusas começarão a acontecer... Mas você sabe,
inconscientemente... algo está se formando... que vai se cristalizar... em uma ideia... que vai produtir
em você... uma mudança em suas percepções... que permitirá que você faça X... melhor ainda do
que você jamais suspeitou... porque há algo sobre X... que você ignorou... e sua mente inconsciente
sabe como voltar... e olhar novamente (...).”

“Este é mais um exemplo de instruções de processo. Pedi que tivessem um sonho e aprendessem
algo a partir dele. Contudo, acrescentei instruções específicas sobre como o inconsciente vai
aprender neste caso. Eu disse, ‘Volte, reveja suas experiências passadas, extraia a diferença entre
quando você faz algo realmente bem e quando o faz apenas de forma medíocre, e apresente esta
nova percepção em um sonho.”

Criando Generalizações: Uma Utilização Hipnótica

“A próxima pergunta que queremos fazer é ‘Como você pega uma sequência de experiências e, a
partir delas, constrói um aprendizado?’ Se eu desse a você uma varinha mágica que permitisse tocar
cinco vezes na cabeça de alguém e, com isso, dar-lhe cinco experiências, quais experiências você
utilizaria para mudar uma pessoa?”

“Se você quer mudar alguém, pode dar-lhe experiências para que construa uma generalização nova
e mais útil - uma que torne sua vida mais positiva. Para isso, a primeira coisa que você precisa
decidir é qual generalização gostaria de criar. Como determinar isso?”

“Não acredito na filosofia segundo a qual ‘você não deveria impor suas ideias sobre as pessoas’,
pois acho que você acaba fazendo isso, mesmo sem saber. Vivo encontrando pessoas que são o
resultado desse tipo de imposição. Quando mantinha uma prática de terapia, mais da metade das
pessoas que vinham para mim estavam lá principalmente porque tinha sido ferradas por terapeutas -
frequentemente terapeutas ‘não-diretivos’, isto é, que não tentavam impor suas ideias durante a
terapia. Eles não sabiam que estavam fazendo isso. Pretendiam ajudar seus clientes de alguma
forma, mas ao invés disso ferravam com eles.
Por exemplo, alguns terapeutas ensinam a seus clientes o conceito de autoestima, e a partir daí os
clientes podem se sentir mal por não possuí-la.”

“Há dois tipos de metáfora. Um tipo baseia-se em isomorfismo. Isto é, se uma mulher aparece com
duas filhas discutindo, posso contar uma história sobre um jardineiro que tinha duas roseiras que
estavam entrelaçadas em seu jardim. Ao usar uma metáfora isomórfica para produzir mudanças,
você conta uma história que possui um relacionamento de um para um com o que está acontecendo,
a seguir construindo uma solução específica, ou oferecendo uma solução ambígua e basicamente em
aberto. Este tipo de metáfora é descrito no livro ‘Metáforas Terapêuticas’, de David Gordon
(‘Therapeutic Metaphors’).
Há um outro tipo de metáfora, que provoca uma resposta que é, na verdade, um comando para fazer
ou evitar alguma coisa. Este tipo de história provoca uma resposta, sem haver, necessariamente, um
paralelo com a vida da pessoa. (...) Este tipo de metáfora é especialmente eficaz se usarmos
histórias universais para obter respostas. Quero dizer histórias com as quais todo mundo irá se
identificar e responder da mesma maneira.”

“Uma resposta que é muito interessante eliciar ao fazer hipnose é a experiência de que o
inconsciente é sábio e se pode confiar nele. Quais são as experiências às quais as pessoas
respondem apropriadamente, sem precisar pensar conscientemente nelas? Você pode dizer que
quando alguém corre, seu corpo sabe exatamente quando fazer o coração bater mais rapidamente,
quando fazer a respiração ficar mais rápida e quando tornar tudo novamente mais lento.
Conscientemente, você não sabe a qual velocidade seu coração deveria bater para fornecer a
quantidade de oxigênio adequada às suas células, mas isso não é necessário, porque o seu
inconsciente possui uma sabedoria sobre como e quando tais coisas deveriam ocorrer.”
V - Resignificando em Transe

Introdução

“Nesta tarde, quero ensinar a vocês resignificação: uma abordagem que pode ser utilizada com
hipnose para lidar com quase qualquer dificuldade. Também quero ensinar como organizar sinais de
‘sim’ e ‘não’ explícitos, para que possam obter feedback exato durante o transe.”

“Quando Milton Erickson escreveu sobre o caso no qual transferiu a paralisia histérica de uma parte
do corpo de uma paciente para outra parte de seu corpo, citou a principal crítica que se fazia à
hipnose como procedimento de tratamento: que a hipnose apenas tratava o sintoma e não a
‘necessidade básica’, de sorte que uma ‘cura’ hipnótica apenas resultaria no surgimento de um outro
sintoma.
Esta ideia de necessidades evoluiu do trabalho de Freud. Ele acreditava que as pessoas tinham
certas necessidades. Nessa época, aceitava-se o termo ‘necessidades’ como uma descrição bem-
formada de algo que acontecia dentro da mente de uma pessoa. Uma vez que alguém tinha uma
necessidade, nada poderia ser feito a respeito. Era apenas uma questão de como a necessidade iria
se expressar.
Digamos que você tenha a necessidade de receber atenção. Se a necessidade não for satisfeita, você
poderá ter urticária, ou algo assim, para receber atenção. A atenção seria o ‘ganho secundário’ que
você obteria por ter urticária. Se a sua necessidade fosse ter o apoio e o cuidado das pessoas, você
poderia ter um braço paralisado.
No tempo de Freud havia um cara chamado Mesmer, que fazia coisas que intrigavam Freud.
Mesmer pegava alguém com paralisia histérica e fazia a paralisia desaparecer, mas depois a pessoa
acabaria tendo algum outro problema.
Freud teve a ideia de que, se você curasse o braço paralisado de alguém, o sintoma viria a se
expressar necessariamente de outra forma. Sua paralisia do braço poderia desaparecer, mas
apareceria urticária em seu rosto. Freud deu até um nome para isto: ‘conversão’. Também é
chamado ‘substituição de sintoma’.
A hipnose tem sido frequentemente acusada de resultar apenas em substituição dos sintomas. Os
críticos têm dito que, embora a hipnose possa remover um sintoma. o cliente irá necessariamente
desenvolver um outro sintoma em seu lugar. Quando entrei no campo da psicologia, interessei-me
em testar esta crítica à hipnose. (...)
Ao iniciar os testes, comecei a notar que os sintomas apareciam segundo alguns padrões. Os novos
sintomas pareciam alcançar o mesmo propósito que os antigos haviam alcançado. Quando eu
removia o sintoma de alguém com hipnose, a pessoa desenvolvia outro sintoma que resultava na
mesma coisa.
Outra coisa que notei - e odeio informar isto ao mundo da psicologia - é que o sintoma nem sempre
retornava. De fato, as pessoas ficavam melhor quando o mesmo voltava. Se o único jeito de uma
pessoa receber atenção era com um braço paralisado, e removia o sintoma com hipnose, a pessoa
simplesmente não recebia mais atenção. Isto me parecia menos útil do que uma conversão.
A diferença entre um raciocínio consciente e uma resposta inconsciente é que as respostas parecem
ter propósito e não significado. É muito difícil as pessoas entenderem a diferença entre os dois,
porque em geral tentam entender isso conscientemente. E, é claro, conscientemente você está
procurando entender o significado da diferença entre significado e propósito. Esta é uma maneira
boa de se confundir.
O propósito é simplesmente uma função. Se algo tem uma função, alcança algum objetivo. O que
alcança não é necessariamente valioso, mas é habitual. Alguma coisa é alcançada que, em algum
momento na história daquele organismo, tinha um significado valioso. A maioria de vocês que são
clínicos notaram que as pessoas apresentam comportamentos que seriam úteis e apropriados para
alguém com cinco anos de idade, mas não para um adulto. No entanto, depois que o programa
correspondente ao comportamento é estabelecido, as pessoas continuam a utilizá-lo.
Por exemplo, há adultos que choram e reclamam para obter o que querem. Não entendem que
reclamar não irá mais ajudá-los. Quando você era criança e reclamava, se você tinha os pais certos,
recebia o que queria. Mas quando você é um adulto no mundo, isso só funcionará com algumas
pessoas. Aí você reclamará do fato de isso não funcionar, e receberá ainda menos daquilo que
quiser.”

Os autores passam a relatar casos tais como:

- o homem que queria parar de fumar, mas para o qual o cigarro ajudava a comunicação com a
esposa;
- o homem que ouvia um zumbido e sentia dor no ouvido;
- a mulher que tinha os pés dormentes;
- a mulher que tinha problema de peso;

“Descobri que as pessoas associam muito mais significado ao comportamento do que ele realmente
tem. O comportamento não possui tanto significado, mas tem uma tremenda quantidade de
propósito.”

Resignificando

“O modo como vamos fazer resignificação hoje será um pouco diferente, porque você nunca saberá
com o quê você estará trabalhando. A pessoa com quem você trabalhar não dirá o que ela quer
mudar - de fato ela poderá nem saber o que é. Vamos fazer isto criando um sistema de sinalização
inconsciente.

1) Estabelecer sinais sim/não com o inconsciente

Antes de usar resignificação, você precisa estabelecer um sistema de sinais sim/não, para poder
obter feedback. Uma maneira é usar as chamadas ‘respostas ideomotoras’. Uma resposta
ideomotora é quando alguém mexe alguma parte de seu corpo sem ter consciência disso. Os
hipnotizadores tradicionais usam sinais de dedos. Quando um dedo se ergue é ‘sim’, quando outro
se ergue é ‘não’. Erickson tinha uma tendência a usar braços - fazer um braço inteiro elevar-se
involuntariamente. Você pode usar sinais com a cabeça, mudanças na cor da pele, qualquer sinal de
natureza não-verbal que você seja capaz de observar.”

“O modelo de resignificação consciente que está no livro ‘Sapos em Príncipes’ foi desenhado para
utilizar a mente consciente do cliente como mensageira. Neste procedimento utilizaremos respostas
ideomotoras, as quais requerem que o cliente esteja em um estado alterado.”

Os autores passam a guiar os participantes em um procedimento para obter respostas ideomotoras,


do tipo “sim” ou “não”. Após o procedimento, fornecem vários comentários, inclusive:

“A hipnose é um processo de aprendizado. Não há como fracassar, a não ser que o hipnotizador
permita que alguém defina algo como fracasso. Se você definir a situação de modo que o fracasso
não seja possível, não haverá problema. Se você der às pessoas, continuamente, as experiências e
respostas internas que servem como base à construção de aprendizados, de modo que tenham
escolhas, você terá prestado um grande serviço. Isso é verdade para qualquer aprendizado.”

2) Identificar o padrão de comportamento a ser modificado.

“A participante deve pedir ao seu inconsciente que pesquise todas as coisas em sua vida que causam
problemas e escolher uma de alta e vital importância para seu bem-estar.
Quando o inconsciente tiver selecionado uma, peça que dê a você um sinal do tipo ‘sim’.”

3) Separar função positiva do comportamento.

a) “Agora pode ser utilizado o modelo padrão de resignificação. Diga algo como ‘Gostaria que
você, mente inconsciente da Fulana, entregasse o controle dos sinais de dedos para a parte dela que
faz X. E, quando aquela parte tiver completo controle dos sinais de dedos, ambos os dedos irão se
erguer, para que eu saiba’.”

b) “A próxima pergunta é muito importante. ‘Você permite que a mente consciente dela saiba o que
de valor acontece quando ela faz X?’, uma pergunta do tipo ‘sim’ ou ‘não’.”

4) Criar novas alternativas

a) “Tão logo a mente consciente conheça o propósito útil, ou a parte o identifique para si, o próximo
passo é gerar meios alternativos para alcançar o propósito útil. Pergunte se ‘a parte estaria disposta
a acessar os recursos criativos onde as pessoas sonham e fabricam ideias e obter algumas novas
maneiras de executar esta função positiva, além daquelas em uso agora’. Deixe a parte segura de
que não terá que aceitar nenhuma dessas escolhas, nem abandonar o comportamento anterior. Ela
apenas deve obter um conjunto de novas maneiras de alcançar a mesma intenção positiva.”

b) “Quando obtiver um ‘sim’, diga à parte que continue, e que mande um novo ‘sim’ quando
encontrar dez novas escolhas. Não é necessário que a mente consciente saiba quais são essas dez
novas escolhas.”

“Quando a pessoa disser que tem as dez escolhas, ou mesmo oito, pare. Traga-a de volta.”

“A coisa básica que estamos tentando fazer é conseguir que alguém separe, inconscientemente, os
comportamentos daquilo que os mesmos alcançam.”

“Queremos que a pessoa adquira maneiras tão imediatas, eficazes e disponíveis quanto aquela
atualmente utilizada.”

5) Avaliar novas alternativas

a) “Peça à parte que considere cada uma das escolhas e avalie cada uma, verificando,
inconscientemente, se cada uma delas é pelo menos tão imediata, eficaz e disponível quanto a que
ela está usando atualmente para executar a função positiva. Cada vez que identificar uma opção
aceitável, permita que o sinal ‘sim’ ocorra. Você irá contar as opções aceitas. Se tiver dez, estará
ótimo.”

b) “Se tiver menos de dez, faça com que ela volte ao passo quatro e gere mais alternativas até que
tenha pelo menos três.”

6) Selecionar uma alternativa.

a) “Peça à parte que escolha qual das novas maneiras parece melhor em termos de eficácia e
disponibilidade para satisfazer seu propósito, e dê um sinal de ‘sim’ quando tiver feito a escolha”.

b) “Pergunte então à parte se estaria disposta a ficar responsável por utilizar a nova escolha, ao
invés da antiga, por três semanas, a fim de avaliar sua eficácia.”
7) Ponte ao futuro.

“Diga à pessoa que imagine uma situação na qual normalmente responderia com o padrão de
comportamento que não aprecia, e que se surpreenda agradavelmente experimentando o novo
comportamento. Se alguma coisa não funcionar, leve-a de volta ao passo onde poderá gerar novas
escolhas.”

Resumo de Resignificação

(1) Estabelecer sinais sim/não com o inconsciente.


(2) Identificar um padrão de comportamento a ser modificado. Peça ao inconsciente da pessoa que
selecione algum comportamento, X, do qual não goste. Peça para escolher algo que ela acha de
importância grande e vital para seu bem-estar. Peça que dê um sinal ‘sim’ quando tiver identificado
o comportamento.
(3) Separar função positiva de comportamento.
(a) Peça à mente inconsciente que entregue o controle dos sinais de ‘sim’ e ‘não’ à parte que faz
a pessoa fazer X. Peça àquela parte para dar um sinal ‘sim’, ou sinais ‘sim’ e ‘não’ simultâneos,
quando isto tiver ocorrido.
(b) Pergunte à parte, ‘Permite que sua mente consciente saiba o quê de valor ocorre quando ela
faz X?’ Se ‘sim’, diga, ‘Vá em frente e deixe que ela saiba e, quando tiver feito isto, dê-me um
‘sim’’. Se ‘não’, prossiga.
(4) Criar novas alternativas.
(a) Pergunte à parte se ela estaria disposta a visitar os recursos criativos da pessoa e obter novas
maneiras de alcançar a função positiva, sem ser X. (Esta parte não tem obrigação de aceitar ou
usar estas escolhas, somente de encontrá-las.)
(b) Quando obtiver um ‘sim’, diga à parte que siga em frente, e dê um ‘sim’ quando tiver dez
novas escolhas.
(5) Avaliar novas alternativas.
(a) Peça à parte que avalie cada nova escolha, para saber se, inconscientemente, acredita que a
escolha é pelo menos tão imediata, eficaz e disponível quanto X. Cada vez que a parte
identificar uma escolha aceitável, dê um sinal ‘sim’.
(b) Se obtiver menos do que três escolhas, voltar ao passo quatro e obter mais escolhas.
(6) Selecionar uma alternativa.
(a) Peça à parte que escolha a nova maneira que achar mais satisfatória e disponível para
alcançar a função positiva, e que dê um ‘sim’ quando tiver escolhido.
(b) Pergunte à parte inconsciente se aceitaria ficar responsável por utilizar esta nova escolha por
três semanas, para avaliar sua eficácia.
(7) Ponte ao futuro.
Peça ao inconsciente da pessoa que fantasie experimentar os novos comportamentos no contexto
apropriado. Peça que sinalize ‘sim’ se estiver funcionando, ou ‘não’ caso não esteja. Se a nova
escolha não funcionar ou tiver efeitos colaterais nocivos, voltar ao passo quatro e criar novas
escolhas.

“Aqueles que já conhecem o procedimento de resignificação de Sapos em Príncipes notarão que o


procedimento acima é um pouco diferente daquele. A técnica básica é a mesma, e você conseguirá
as mesmas coisas ao utilizar os dois.”

Discussão

“A generalização que está por trás da técnica de resignificação é que, quando as coisas não
estiverem do jeito que quer, você pode mudá-las. Descobra o propósito que quer atingir, o resultado
para o qual está trabalhando e, então, gere mais escolhas. Este é um aprendizado que vale a pena,
não importa o que você estiver fazendo, e cada centímetro que você se aproximar mais dele será de
seu melhor interesse.

Neste ponto, um dos autores conta como evitou que uma pessoa se suicidasse, utilizando
resignificação.

“A resignificação é a maneira mais simples de obter mudança em muitos sintomas. No entanto, não
sou sempre a favor de fazer as coisas de maneira simples; sou a favor de fazê-las artisticamente.”

“A hipnose é um conjunto de ferramentas elegantes demais para se pensar como algo para controlar
o peso ou parar de fumar. Isso é como comprar uma Ferrari para ir ao supermercado.”

“Na PNL temos um princípio que diz: ‘Não existe resistência; há apenas terapeutas incompetentes.’
Digo isso literalmente. Não acredito que haja resistência; há apenas terapeutas insuficientemente
capazes.”

“Não há resistência se você utilizar todas as respostas. Se alguém entra espontaneamente em algum
estado, utilize-o. Se a pessoa se tornar uma criancinha, diga a ela para se divertir.”

VI - Técnicas de Utilização Específicas

Gerador de Novos Comportamentos

“Hoje vamos ensinar outras maneiras específicas para utilizar estados de transe. Primeiro,
desejamos dar a vocês um procedimento muito útil, que pode ser usado em uma ampla quantidade
de comportamentos: o gerador de novos comportamentos. Pode ser usado em qualquer situação na
qual a pessoa apresente uma resposta com a qual não está satisfeita. Vou assumir que você já
colocou a pessoa em transe e estabeleceu algum tipo de comunicação ideomotora.”

“A primeira coisa é o cliente selecionar um comportamento com o qual não esteja satisfeito. Em
seguida, você deve fazê-lo assistir e ouvir a si próprio usar o comportamento na situação
apropriada. Você deve pedir que ele se veja em frente a si próprio, como se estivesse assistindo um
filme. Esta é uma instrução para dissociação; permite que ele veja e ouça, confortavelmente, uma
situação que seria potencialmente desagradável, se estivesse realmente lá.
Peça que ele dê um sinal positivo assim que tiver terminado de ver e ouvir, em segurança, este
comportamento que deseja mudar.
Depois de obter a resposta positiva, pergunte ‘Você sabe qual novo comportamento ou resposta
preferia ter nesta situação?’ É importante ter tudo em termos de respostas sim/não, para poder obter
feedback.”

“Se a resposta for positiva, diga ‘Isso. Agora veja e ouça a si próprio, conforme você utiliza a nova
resposta na situação que seria um problema para você. Dê me um ‘sim’ quando tiver terminado.’
Pergunte, ‘Tendo se observado usando uma nova resposta naquela situação, isso foi completamente
satisfatório para você?’. Se a resposta for ‘não’, diga a ele que retorne e selecione um
comportamento mais apropriado. Se a resposta for sim, instale o novo comportamento, pedindo a
ele que se reassocie com a experiência dissociada: ‘Desta vez quero que você passe o mesmo filme,
mas do ponto de vista no qual você é você mesmo, usando o comportamento. Coloque-se dentro do
filme e vivencie como é utilizar tais comportamentos na situação.
Quando ele tiver feito isto, pergunte ‘Ainda é satisfatório?’ e garanta receber uma resposta ‘sim’
congruente. Se receber ‘não’ como resposta, retorne e faça alterações no comportamento até que ele
esteja satisfeito ao vivenciá-lo de forma associada.”
“Alterado o comportamento, você precisa estar absolutamente certo de que a mudança será
automaticamente transferida para as situações apropriadas da vida do cliente. A gente chama isto de
‘ponte ao futuro’. Você pode perguntar, ‘Você, a mente inconsciente dele, assume a
responsabilidade de fazer este novo comporamento ocorrer no contexto no qual o antigo
comportamento acontecia?’”

Os autores fornecem, ainda, algumas alternativas para a execução deste procedimento.

Quando a pessoa não sabe exatamente qual comportamento utilizar na situação, pode-se recorrer à
história pessoal do cliente (“Você já respondeu a uma situação de maneira que seria adequada a esta
situação?”), ou a um modelo (“Você conhece alguém que responde a este tipo de situação de
maneira adequada, de uma forma que você gostaria de utilizar?”).

Deve-se recorrer ao livro para maiores detalhes deste procedimento.

Resumo de Gerador de Novos Comportamentos

(1) Selecione a situação na qual o novo comportamento é desejado


(2) Escolha um modelo.
(3) Veja e ouça o modelo se comportando na situação.
(4) Substitua a sua imagem e voz no modelo.
(5) Entre no filme, para vivenciar os sentimentos cinestésicos.
(6) Ponte ao futuro: qual gatilho irá disparar o novo comportamento?

É importante notar que o Gerador de Novos Comportamentos “é basicamente para uma mudança
simples de comportamento. Se houver ganho secundário, utilize resignificação”.

Nota - O ganho secundário é um motivador inconsciente para manter um comportamento. Por


exemplo, um casal pode conversar na varanda da casa, todas as noites, enquanto cada um fuma um
cigarro. Neste caso, pode haver um ganho secundário no hábito de fumar: a tentativa de remover o
hábito de fumar encontrará resistência, que deverá ser contornada encontrando-se uma outra forma
de realizar a intenção positiva - o diálogo diário do casal.

Identificação em Transe Profundo

“Se você fizer um deslocamento completo de índice referencial, terá a chamada ‘identificação em
transe profundo’, um dos fenômenos hipnóticos mais difíceis de acontecer. Este é um estado de
consciência no qual você assume a identidade de uma outra pessoa. O envolvimento é tão completo
que, durante aquele período, você não sabe que está realizando a identificação. É possível adotar o
comportamento verbal e não-verbal de uma pessoa tão inteiramente que você adquirirá,
automaticamente, muitas habilidades da pessoa, embora não tenha uma representação consciente de
tais habilidades”.

Controle da Dor

“A dor é uma coisa fascinante, muito útil até um certo ponto, a partir do qual não tem mais
utilidade. (...) Uma coisa que faço para lidar com a dor é oferecer um contexto no qual a resposta
natural é esquecer a dor. Esta é uma estratégia geral para hipnotizadores: criar um contexto no
qual a resposta natural seja aquela que desejo”.
“Na história clássica de Milton Erickson sobre controle da dor, trouxeram a ele uma mulher que
estava morrendo de câncer. Trouxeram-na a Erickson em uma ambulância, colocaram-na em uma
maca e levaram-na ao consultório. A mulher olhou para Erickson e disse, ‘Isto é a coisa mais tola
que já fiz em minha vida. Meu médico mandou-me vir aqui, para que você pudesse fazer algo a
respeito da dor. As drogas não conseguem me ajudar. Cirurgia não ajuda. Como vai conseguir
ajudar-me apenas com palavras?’
Erickson, sentado na cadeira de rodas, balançou-se para a frente e para trás, olhou para ela, e
acompanhou todas suas crenças, dizendo, ‘Você veio aqui porque seu médico disse para vir aqui, e
você não entende como apenas palavras poderiam controlar sua dor. Drogas não conseguem
controlar sua dor. Cirurgia não consegue controlar sua dor. E você acha que esta é a coisa mais tola
de que já ouviu falar. Bem, deixe-me fazer uma pergunta. Se aquela porta se abrisse repentinamente
agora... e você olhasse para lá e visse um grande tigre... lambendo seus beiços esfomeado... olhando
apenas para você... quanta dor você acha que sentiria?’.
O ponto é, ele apresentou um contexto no qual ninguém estaria consciente da dor.”

Amnésia

“A amnésia é uma forma de convencer uma pessoa ‘que duvide da hipnose’ que ela esteve em
transe. Quando a pessoa retornar do transe, imediatamente atraia sua atenção para uma outra coisa.
Depois, peça que descreva todos os eventos que ocorreram, de modo a provar, para você, que não
esteve em transe.
O consultório de Milton Erickson era a Terra da Bagunça. Havia quatrocentos mil objetos em seu
consultório, de modo que ele tinha muitas escolhas sobre o que falar e para onde dirigir a atenção
das pessoas. Ele sempre arrumava os relógios de modo que pudesse vê-los e os outros, não.
Adorava trazer as pessoas de volta do transe, mudar de assunto e então dizer, ‘Agora, antes de olhar
no seu relógio, gostaria que vocês tentassem adivinhar quanto tempo passou’. É claro que ninguém
sabia quanto tempo tinha passado, porque Erickson era muito bom em distorção do tempo.”

Recuperando a História Pessoal

“Se você usar a hipnose para tornar a pessoa consciente de experiências desagradáveis, acho que
deveria primeiro decidir se vale a pena. Muitos de nós aprendemos que reviver uma experiência
desagradável a torna menos nociva, mas isto é absolutamente não verdadeiro. Se há uma coisa que a
psicologia acadêmica aprendeu, é que tal suposição é falsa. A psicologia acadêmica aprendeu que se
um conjunto de experiências ensina você a fazer uma generalização, passar novamente pelas
mesmas experiências apenas reforçará o que você tiver aprendido com elas. Se o que você aprendeu
com o evento causa limitações, reviver o evento da mesma forma apenas reforçará a sua
generalização e as limitações dela resultantes.
Terapeutas como Virginia Satir e Milton Erickson fazem as pessoas voltarem e reviverem eventos,
mas fazem com que as pessoas revivam os eventos de uma maneira diferente da ocorrência original.
Satir descreve isto como ‘voltar e ver com novos olhos’”.

VII - Calibração

“Agora, gostaríamos de passar algum tempo ensinando a vocês o que chamamos de exercícios de
calibração. A calibração refere-se ao processo por meio do qual vocês se sintonizam com os sinais
não-verbais que indicam um estado específico em uma pessoa específica.”

“De certa forma, tudo que estamos ensinando a vocês nestes seminários pode ser resumido em três
afirmações. Para ser um comunicador eficaz, você precisa:
1) saber qual resultado você quer;
2) possuir flexibilidade para variar o seu comportamento a fim de obter o resultado;
3) possuir a experiência sensorial para saber quando o resultado foi alcançado.”
“Sugerimos pensar que o significado da sua comunicação é o resultado que você obtém. Se você
utilizar este princípio, verá que, quando a resposta obtida não é a desejada, é hora de variar seu
comportamento até que a obtenha.”

“Se você não tiver experiência sensorial suficiente para notar a resposta que está obtendo, não terá
como saber quando conseguiu ou fracassou. Veja, as pessoas às vezes me perguntam se já trabalhei
com cegos e surdos. Eu respondo, ‘Sim, sempre.’”

Em seguida, os autores conduzem os participantes por vários exercícios de calibração. Por exemplo,
pedir que uma pessoa pense em algo que gosta. Depois, pedir que a mesma pessoa pense em algo
que não gosta. Depois de notar os sinais não-verbais em cada caso, pedir à pessoa que pense em
algo que goste ou não goste e adivinhar qual caso foi. A dificuldade desta tarefa pode ser maior, por
exemplo: pedir que a pessoa pense em uma cadeira da sua casa, depois em uma do seu escritório. A
partir daí, pedir que a pessoa pense em um item de sua casa ou do escritório e adivinhar qual foi, se
de casa ou do escritório. Um tipo de calibração importante é conseguir saber se alguém disse ‘sim’
ou ‘não’, exclusivamente a partir dos sinais não-verbais. Os exercícios são concluídos com uma
discussão sobre “videntes” que utilizam bolas de cristal ou leitura de palmas e como isso pode ser
simulado utilizando-se as técnicas estudadas.

VIII - Auto-hipnose

“Nesta tarde, gostaríamos de dar a vocês dois métodos de auto-indução, assim como um método
bastante elegante para utilizar a auto-hipnose.”

“O primeiro método de auto-indução que desejo descrever é a técnica de Betty Erickson. Betty é a
esposa de Milton, e ela é extremamente sofisticada em se colocar em diversos estados alterados. (...)
A técnica que ela desenvolveu pressupõe sistemas representacionais. Erickson, por sinal, é a única
pessoa, além de nós, que tinha uma compreensão explícita de sistemas representacionais; sabia que
há três grandes sistemas, e que há predicados que os identificam.1”

“Betty utiliza sistemas representacionais nesta indução. Senta-se em um lugar confortável e


encontra algo fácil de olhar. Eu provavelmente escolheria um lugar onde a luz está refletindo, assim
como o pedaço de vidro que está pendurado naquele lustre. Fixo meu olhar naquele ponto, em
seguida digo a mim mesmo três frases sobre minha experiência visual. (...) Agora, mudo para o
canal auditivo, e faço três afirmações sobre aquela parte da minha experiência. (...) A seguir, faço
três afirmações sobre a minha experiência cinestésica. Então, fiz três afirmações sobre a minha
experiência visual, três sobre a minha experiência auditiva e três sobre a minha experiência
cinestésica.
Na sequência, mantendo a mesma posição e a mesma direção do olhar, passo novamente por cada
canal sensorial, fazendo duas afirmações para cada um. Escolho duas partes adicionais da minha
experiência, nos canais visual, auditivo e cinestésico. Depois, passo novamente por cada canal,
fazendo agora uma afirmação para cada um. Normalmente, mesmo no caso de iniciantes, na hora
em que você chega mais ou menos na metade do ciclo de duas afirmações por canal, seus olhos
começam a ficar sonolentos e você fica com visão de túnel. Se quiser fechar os olhos, basta passar a
visualizar internamente, ao invés de externamente. Também não precisa dizer as afirmações em voz
alta, é sua escolha. É a primeira fase da técnica.

_______________________________________
1
Controvérsia: De acordo com L. Michael Hall, “Bandler foi ao Canadá em 1973, para gravar um dos treinamentos de
terapia de sistema familiar de Satir. Dela, adaptaram as cinco posturas (‘stances’) de comunicação, estudaram sua
habilidade de entrar em sintonia com as pessoas (‘rapport’) e notaram como ela distinguia os sistemas representacionais
(visual, auditivo, cinestésico).” (em NLP Secrets: Untold Stories) - Obs.: “Atravessando” foi publicado em 1981.
Na segunda fase, primeiro percebo qual mão e braço parecem mais leves. Aí, dou-me sugestões,
dizendo que a mão que parece mais leve vai continuar a parecer mais leve e vai começar a flutuar,
com movimentos legitimamente inconscientes, sendo atraída para o meu rosto, de tal modo que,
quando tocar minha face, entrarei em um transe profundo.”

“O segundo método é semelhante ao primeiro, mas utiliza representações internas, ao invés de


externas. Você se senta ou deita em um lugar confortável e forma uma imagem visual interna de si
mesmo, de pé a cerca de um metro e meio de onde você está, olhando para si próprio sentado ou
deitado. (...) Continue a se concentrar nessa imagem de si próprio até vê-la em maior detalhe. No
final você será capaz de ver o sobe-desce do seu tórax com a respiração, que corresponderá às
sensações cinestésicas do seu próprio tórax subindo e descendo, conforme você respira.” (... este
método é algo extenso e complicado - por gentileza consulte o livro para o restante, se for de seu
interesse).

“Antes de entrar em um destes exercícios, assim como em qualquer momento futuro no qual decida
praticar auto-hipnose ou meditação, dê ao seu inconsciente uma instrução, indicando quanto tempo
quer ficar nesse estado e quando trazê-lo de volta. Pode dizer algo como, ‘Gostaria que você, meu
inconsciente, me trouxesse de volta em quinze minutos, fazendo-me sentir alerta e renovado por
esta experiência’. Lembre que seu corpo é um relógio fantástico.”

“Ao praticar auto-hipnose, considere com muito cuidado os resultados pretendidos. Crie contra-
exemplos e pergunte se há algum jeito do resultado ser nocivo. Use as informações obtidas para
melhorar os resultados. Lembre-se que dar a si próprio mais limitações dificilmente ajudará a
resolver problemas causados por limitações. Como princípio, sempre acrescente habilidades e
escolhas ao que já tem disponível.”

IX - Perguntas

Neste último capítulo, os autores respondem a várias perguntas dos participantes do seminário e
descrevem alguns casos.

“Deixem-me lembrá-los do princípio geral que mencionamos diversas vezes: Crie um contexto no
qual a pessoa responderá, naturalmente, da maneira desejada.”

Ao final, os autores terminam com uma indução hipnótica, cujo intuito é ajudar os participantes a
consolidarem os aprendizados obtidos no evento.

Apêndices

Este livro contém dois apêndices - o primeiro contém um resumo sobre “Pistas de Acesso Visual”,
um tópico comum nos livros de PNL. O segundo apresenta um resumo do Modelo Milton de
Padrões de Linguagem Hipnótica. Como os apêndices já são resumos, a recomendação é consultar o
livro.

* * Fim das Anotações * * *

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