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O termo já tinha sido usado anteriormente na Alemanha ,entre 1910 e 1920, por
alguns membros do movimento Expressionista de dança, que pretendiam distanciar
esta nova forma de arte, das tradições do ballet clássico; entre eles, o pioneiro e o
mais importante representante desta corrente de pensamento: Rudolf Von Laban.
Posterior à ele estão Mary Wigman e Kurt Jooss, antecessores de Pina Bausch, de
quem ela herda influências.
Ao longo de suas mais de cinco décadas de criação, este estilo de se fazer dança,
mantém quase sempre a mesma essência: Baseia-se no elemento humano e
procura ser uma arte com um maior papel pessoal, que prima pela sensibilização e
reflexão do público.
Partindo do princípio de que cada um destes bailarinos tem a sua própria voz, o que
dizer que cada um tem a sua própria verdade, Pina Bausch adentra o mundo
subjetivo de cada um deles buscando riscos, divagações, emoções, memórias,
sonhos e medos. Através de verdadeiros bombardeios de perguntas, ela os instiga
a darem respostas verbais, gestuais e corporais a tais situações. Desta forma, ela
evoca sensações, articula sentimentos, faz e desfaz uma trama de agressões,
carícias, revoltas, ternura, desejos, alegrias, dores e complexos.. As perguntas que
lança, muitas vezes são difíceis de responder, por exemplo, “ Faça alguma coisa
que te deixe envergonhado” , “ Mova a parte favorita do seu corpo”, “ Como você
se comporta quando perde alguma coisa?”, “ Escreva seu nome com um
movimento”, dentre outras.
Para criar, Bausch parte sempre de um estudo, através da inserção dentro dos
ambientes, da observação, do envolvimento com as pessoas, com as situações,
num período de conhecimento e coleta de informações, ao qual ela denomina de
pesquisa de campo. Neste processo, tanto a coreógrafa como os seus intérpretes,
têm grande liberdade para agir e reagir como sentirem que seja mais adequado, e
desta maneira surgem as mais variadas situações, que são levadas em cena.
O diferencial de seu trabalho está no fato de que ela valoriza o elemento humano
como o alvo principal da criação. Sua pesquisa privilegia os corpos, suas vivências
físicas e emocionais e não um texto dramático, como no teatro, ou um libreto,
como no ballet clássico.
Temas comuns como a dicotomia inerente nas relações entre homem e mulher,
assim como o individual e o grupal, o maligno e o benigno, a comédia vesus a
tragédia, é mostrado de uma forma sutil e com bastante criatividade e imaginação.
Não parece ser difícil responder ao trabalho de Bausch- ele é real, desconcertante,
confuso,intrigante, como a própria vida. E isso é o que faz com que o público se
identifique, tanto com os sentimentos mais dolorosos quanto os mais sutis. Eles são
um convite à reflexão, porém sem qualquer julgamento ou atitude moral, mas com
um senso de honestidade sobre o que se propõe retratar.
Mais do que qualquer outro coreógrafo deste século, Bausch tem tido o poder de
simultaneamente atrair platéias ao redor do mundo e ultrapassar as barreiras de
língua e de cultura, sensibilizando multidões com seus trabalhos controversos,
polêmicos e excêntricos. Tem sido sua característica peculiar a criação de peças
baseadas no estudo de um país e de um povo em específico. De Istambul à Hong
Kong, do Brasil a Lisboa, não importa em que ponto do mundo, Pina Bausch vem
captando ao longo das suas últimas obras, e fruto das suas residências artísticas, a
essência dos lugares e dos seus habitantes. São as cores, cheiros, texturas,
sabores, os sons e a música, que marcam a sua impressão desses lugares muito
além do visível, e curiosamente, com um humor que não aparecia em obras mais
antigas.
Repetição de movimentos;
Uso da voz e dos sons do próprio corpo;
Improvisação;
Movimentos do cotidiano;
Movimentos abstratos ou puros usados de forma narrativa, cômica ou mais
abstrata;
Efeito de distanciamento e momentos cômicos inesperados;
Aproximação do real, contra uma representação formal e artificial;
Técnicas de colagem;
Reflexão sobre as relações humanas;
Caos grupal, favorecendo o processo sobre o produto;
Uso de elementos do teatro, como cenários, textos, construção de uma
dramaturgia;
Grandiosidade no quadro cênico ( roupas e maquiagens) que definem papéis
sexuais e sociais;
Quebra de expectativa no público para movimentos virtuosísticos;
Uso do exagero e do absurdo;
O corpo é usado para estimular a nostalgia;
Não recusa a técnica do ballet, usando-a sim de um forma crítica;
Aproveita a experiência de vida dos atores bailarinos;
Coloca ações diferentes de forma simultânea no palco;
Usa de movimentos repetitivos e estranhos para demonstrar que bailarinos
também tem conflitos, não sendo seres “perfeitos”;
Transitoriedade de significados em cena;
Constante incompletude, busca e transformação em um pensar, sentir, fazer,
fragmentado,ao invés de integrado.
Texto: Evelyn Tosta
Bacharel e Licenciada em Dança
pela Universidade Federal de Viçosa
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