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Hidráulica

Natália Michelan
Hidráulica
Natália Michelan
Reitor: Marcelo Palmério

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Pró-Reitora de Ensino Superior: Inara Barbosa Pena Elias

Pró-Reitor de logística para Educação a Distância: Fernando César Marra e Silva

Capa e Editoração: Andresa G. Zam; Diego R. Pinaffo; Fernando T. Evangelista; Renata Sguissardi

Revisão Textual e Normas: ?????????????????????????

Ficha catalográfica - Serviço de Biblioteca e


Documentação – Universidade de uberaba

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ISBN: ???????????????????????

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CDD: ???

Ficha catalográfica realizada pela bibliotecária.


Este livro é publicado pelo Programa de Publicações Digitais da Universidade de Uberaba.
A história da hoje Universidade de Uberaba, Instituição sem fins lucrativos, manti-
da pela Sociedade Educacional Uberabense, remonta ao ano de 1940, quando Mário
Palmério funda o Lyceu do Triângulo Mineiro, com sede, inicialmente, na Rua Manoel
Borges. Com essa iniciativa, o educador dava os primeiros passos na direção de um
projeto muito mais ousado: dotar a pacata Uberaba da época, de uma escola voltada
para a oferta do ensino superior.

Até que a ideia se transformasse em realidade, Mário Palmério pôs em prática ou-
tras duas ações. Transferiu a sede do Lyceu, mais tarde chamado de Colégio Triângulo
Mineiro, para um conjunto de edifícios onde, hoje, funciona o Campus Centro e criou a
Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro.

Em 1947 o governo federal autorizou a abertura da Faculdade de Odontologia do


Triângulo Mineiro. Em menos de dez anos, outras duas escolas entraram em funciona-
mento: a Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, em 1951, e a escola de Engenharia
do Triângulo Mineiro, em 1956. Uberaba, então, passa a se projetar também em razão
de sua importante estrutura, voltada para o ensino superior, privilégio de poucas cida-
des mineiras, no início dos anos 50. Junto com essas importantes conquistas, veio a
necessidade de expansão da estrutura física. Por isso, em 1976, começou a funcionar o
Campus Aeroporto, instalado na Avenida Nenê Sabino.
Apresentação

Hidráulica
Natália Michelan

O estudo e o entendimento do funcionamento das coisas são fascinantes. Desde as sé-


ries iniciais na escola, todas as áreas eram importantes, porém, logo percebi que a Biologia
é uma profissão voltada ao estudo das diferentes formas de vida, sua origem, evolução, es-
trutura e funcionamento das relações entre os seres vivos, organismos e o meio ambiente,
abrindo um grande leque de opções de áreas.

O curso de licenciatura feito na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”


no câmpus de Ilha Solteira, São Paulo, abriu as portas para experiências jamais imagina-
das, como a Engenharia Civil.

Assim, a jornada começou com o Mestrado na área de Recursos Hídricos e Tecnolo-


gias Ambientais, no mesmo câmpus, no qual os cursos de engenharia são muito visados e
reconhecidos. Todos os amigos foram embora, e permaneci, na mesma cidade onde nasci,
me criei e estudei, e ainda em uma área no qual desconhecia, mas a busca soluções aos
problemas é uma característica que me fez adorar esta área, pois, desenvolver mecanismo
para o tratamento de efluentes não á algo simples, apender a calcular, manusear tubula-
ções, e especificidades dos efluentes foi uma tarefa árdua, porém gratificante em imaginar
que o estudo desenvolvido poderá mudar a vida de muitos.
Dois terços da população mundial vivem em condições precárias e que uma das pri-
meiras providências para melhorar seu padrão de vida é o aproveitamento racional dos
recursos hídricos e estas providências cabem ao engenheiro civil.

Sua responsabilidade é imensa porque os conhecimentos da Hidráulica se baseiam


em centenas de anos de empirismo, muitos anos de estudos teóricos e análise científica e
poucos anos de experiência com as modernas técnicas de instrumentação e computação
aplicadas aos problemas relacionados aos recursos hídricos (SILVESTRE, 1979).

No primeiro capítulo, enfatizamos primeiramente o entendimento sobre os escoamen-


tos, e assim, adentrar no escoamento permanente em dutos e consequentes perdas de
cargas que podem sofrer.

O segundo capítulo, é discorrido sobre os sistemas de tubulações hidráulicas, operando


essencialmente por gravidade, desde tubulações simples compreendido em condutos equi-
valentes e derivados em marcha, finalizando com a análise dos tipos de redes de distribui-
ção de água e esgoto.

Em alguns casos, as tubulações necessitam de maior demanda de energia para escoar


os fluidos, no terceiro capítulo, dimensionaremos as linhas de instalação de recalque, bem
como os tipos de bombas e consequente os problemas corriqueiros que as acometem,
como o processo de cavitação.

O quarto capítulo é destinado aos escoamentos em vertedores, orifícios e comportas, que


trata-se de um assunto de grande importância por sua aplicação em diversas estruturas hidráulicas.

No Capítulo V, é exposto o escoamento permanente uniforme da água, fato que está re-
lacionado com o escoamento em canais, ou conhecido também por condutos livres, sendo
assim, será abordado concomitantemente o dimensionamento de canais.
Os Capítulos VI e VII abordam dois campos do escoamento em condutos livres, no qual
denominam-se energia específica e ressalto hidráulico. A primeira é medida a partir do fun-
do do canal, dado pela soma de cargas, e o segundo, é muito utilizado como um dissipador
de energia.

O Capítulo VIII abordam o campo do escoamento permanente gradualmente variado em


canais, ou seja, parâmetros hidráulicos que variam progressivamente ao longo da corrente
de um canal.

Ensinar é um prazer, passar adiante tudo o que se aprendeu é estar engajada em seme-
ar a transformação em parceria com o aluno.

Bons estudos!
sumário
CAPÍTULO 1: Escoamento Permanente em Dutos
Perdas de Carga: distribuída e localizada 13

Classificação dos escoamentos............................................................ 15


Escoamento permanente em dutos...................................................... 23
Perda de carga .................................................................................... 30

CAPÍTULO 2: Sistemas de tubulações 35

Condutos equivalentes.......................................................................... 37
Distribuição em marcha........................................................................ 41
Redes de distribuição de água.............................................................. 43

CAPÍTULO 3: Instalações de recalque, bombas e cavitação 55

Sistemas de recalque............................................................................ 57
Bombas – associações......................................................................... 61
Cavitação.............................................................................................. 66

CAPÍTULO 4: Vertedores, orifícios e comportas 75

Vertedores ........................................................................................... 77
Orifícios................................................................................................ 86
Comportas............................................................................................ 92
CAPÍTULO 5: Escoamento permanente uniforme
e dimensionamento de canais 97

Escoamento permanente uniforme....................................................... 99


Dimensionamento de canais................................................................. 113

CAPÍTULO 6: Energia específica 119

Energia específica ............................................................................... 121

CAPÍTULO 7: Ressalto Hidráulico 133

Ressalto hidráulico ............................................................................ 135

CAPÍTULO 8: Escoamento permanente gradualmente


variado em canais 149

Escoamento permanente gradualmente variado em canais.................. 151

CONCLUSÃO 175
Capítulo
Escoamento Permanente

1
em Dutos
Perdas de Carga:
distribuída e localizada
Natália Michelan

inTrODUçãO
A água não se distribui uniformemente no tempo e no espaço. Grandes massas

ocorrem distantes dos centros populacionais ou, quando próximas, podem se apre-

sentar impróprias para o consumo (SILVESTRE, 1979).

A responsabilidade do controle e da distribuição das águas cabe, normalmente, aos

governos e às comunidades, mas os aspectos técnicos dessas atividades enqua-

dram-se nas atribuições do engenheiro civil.

Sabendo-se deste fato, Hidráulica (do grego hydor, água, e aulos, tubo, condução)

signifi ca etimologicamente “condução de água”. Portanto, hidráulica é o estudo do

conjunto de técnicas ligadas ao transporte de líquidos, em geral, e da água, em par-

ticular, em repouso ou mesmo em movimento.

O estudo da Hidráulica envolve os conceitos de hidrostática e hidrodinâmica. A hi-

drostática está relacionada com o estudo das condições de equilíbrio dos líquidos

em repouso, e a hidrodinâmica trata dos líquidos em movimento.

Quando se trata do estudo de Hidráulica, devemos ter em mente alguns conceitos

básicos, como os tipos de escoamento.


Objetivos de aprendizagem
• Compreender a definição de escoamento e suas classificações.

• Compreender a especificidade do escoamento permanente em


dutos e suas equações básicas.

• Compreender os fatores adversos que ocorrem em um


escoamento, como as perdas de carga.

ESQUEMA
• Classificação dos escoamentos

• Escoamento permanente em dutos

• Perda de carga distribuída

• Perda de carga localizada


CLASSIFICAÇÃO DOS ESCOAMENTOS
A transferência de líquidos em condutos é geralmente usada quando se quer

transportar grandes volumes de um determinado produtos a longas distâncias

(ASSUMPÇÃO, 2009). O escoamento define-se pelo processo de movimentação

das moléculas de um fluido, umas em relação às outras e aos limites impostos.

Sendo assim, podemos classificá-los de acordo com alguns pontos importantes:

- Quanto à pressão no conduto:

a. Forçado

A pressão interna é diferente da pressão atmosférica. O conduto é totalmente

fechado e o fluido ocupa toda a seção transversal do conduto, escoando sob pres-

são (fig. 1 – d). O movimento do fluido pode efetuar-se em um ou outro sentido do

conduto. São exemplos: tubulações de recalque e sucção de bombas, tubulações de

redes de abastecimento de água, tubulações de ar comprimido em empresas, gases

em hospitais, dentre outros.

b. Livre

O conduto pode ser aberto ou fechado e apresenta uma superfície livre onde

reina a pressão atmosférica, porém, quando fechado, a seção transversal funciona

parcialmente cheia, e o movimento do fluido se faz sempre no sentido decrescente

das cotas topográficas (fig. 1 - a, b e c). São exemplo: canais fluviais, rios naturais,

canaletas, calhas, drenos, interceptores de esgoto, dentre outros.

Hidráulica 15
Figura 1 – Esquema de escoamentos Livres e Forçado
Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922289/caracterizacao-dos
-escoamentos>. Acessado: 07 jan. 2016.

- Quanto à trajetória das partículas

a. Laminar

A estrutura do escoamento é caracterizada pelo suave movimento do fluido em

camadas ou lâminas que não se misturam (fig. 2 - a), em geral, esse escoamento

ocorre em baixas velocidades e ou em fluidos muito viscosos. A força da viscosidade

predomina sobre a força de inércia.

b. Turbulento

A estrutura do escoamento caracteriza-se pelo movimento caótico das partículas

que se superpõem ao movimento médio (fig. 2 - b). Existem partículas em sentido

contrário ao escoamento, partículas em sentido transversal ao escoamento, partícu-

las mais lentas, mais rápidas, ou seja, movem-se em trajetória irregulares, ocupando

diversas posições na seção reta ao longo do escoamento. A força de inércia predo-

mina sobre a força de viscosidade.

16 Capítulo 1
Figura 2 – Esquema de fluxos de escoamentos laminar e turbulento
Fonte: Picolo, Rühler e Rampinelli (2014)

Osborne Reynolds publicou um estudo acerca do comportamento do escoamen-

to dos fluidos e verificou que esse comportamento depende da viscosidade e da

velocidade do fluido, da rugosidade e do diâmetro da tubulação. A denominação

Número de Reynolds (Re) foi atribuída pela equação abaixo:

Em que:

é a massa específica (kg/m³), é a velocidade média do escoamento (M/s),

é a dimensão geométrica característica (m), é a viscosidade dinâmica (kg/m.s)

e é a viscosidade cinemática (m²/s).

Tabela 1 – Número de Reynolds


Condutos Livres Forçados

Rh – raio hidráulico D – diâmetro

Hidráulica 17
Laminar <500 <2300

Transição 500 a 1000 2300 a 4000

Turbulento >1000 >4000

Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922289/caracterizacao-dos

-escoamentos>. Acessado: 07 jan. 2016.

- Quanto à variação no tempo

a. Permanente

As propriedades e características hidráulicas do escoamento não variam com o

tempo. Há, portanto, constância das características do escoamento no tempo, em

uma seção definida, as grandezas físicas de interesse não variam com o decorrer do

tempo, em um ponto previamente escolhido do fluido.

Em que:

é a massa específica (kg/m³), é a pressão (N/m2) e é a velocidade média

do escoamento (m/s).

b. Variável

O escoamento apresenta variações das características e propriedades com o

tempo.

18 Capítulo 1
Em que:

é a massa específica (kg/m³), é a pressão (N/m2) e é a velocidade média

do escoamento (m/s).

- Quanto à trajetória do escoamento

a. Uniforme

A velocidade é constante em módulo, direção e sentido, em todos os pontos do

escoamento, ou seja, não há mudança na magnitude e direção das grandezas físi-

cas ao longo do escoamento. Exemplo: em condutos de seção constante, grande

extensão e declividade zero, a altura da lâmina d’água é sempre constante.

Em que:

é o vetor velocidade (cm/s) e é um deslocamento em qualquer direção.

b. Variado

A velocidade varia ao longo do escoamento. Exemplo: condutos com vários diâ-

metros, canais com seções diferenciadas e declividades variadas.

Em que:

é o vetor velocidade (cm/s) e é um deslocamento em qualquer direção.

Hidráulica 19
- Quanto ao número de dimensões envolvidas

Todos os escoamentos são tridimensionais, porém, por meio de simplificações,

podemos considerá-los:

a. Unidimensionais

As variações das grandezas (pressão, velocidade, massa específica etc.) na dire-

ção transversal ao escoamento são desprezíveis (fig. 3) ou podem ser tomados seus

valores médios, são funções exclusivas de somente uma coordenada de espaço e

de tempo. Exemplo: escoamento em condutos forçados.

Figura 3 – Escoamento Unidimensional


Fonte: Disponível em: < http://slideplayer.com.br/slide/350762/>. Acessado em: 07 jan. 2016.

b. Bidimensionais

As variações das grandezas podem ser expressas em função de duas coorde-

nadas apenas, ou seja, num plano paralelo ao do escoamento (fig. 4), não havendo

variação do escoamento na direção normal aos planos. Exemplo: escoamento sobre

vertedores ou asas de aviões.

20 Capítulo 1
Figura 4 – Escoamento Bidimensional
Fonte: Disponível em: < http://slideplayer.com.br/slide/350762/>. Acessado em: 07 jan. 2016.

c. Tridimensionais

Escoamentos tridimensionais exigem para sua análise métodos matemáticos

complexos. Exemplo: um rio.

Figura 5 – Escoamento Tridimensional


Fonte: Disponível em: < http://slideplayer.com.br/slide/350762/>. Acessado em: 07 jan. 2016.

- Quanto à velocidade angular das partículas

a. Rotacionais

Quando as partículas do líquido, numa certa região, possuem rotação em relação

a um eixo qualquer.

Hidráulica 21
b. Irrotacionais

Quando as partículas do líquido não possuem rotação.

Tomamos como exemplo uma pequena circunferência leve, colocada sobre a

superfície livre de um escoamento faz movimentos giratórios ou não.

- Quanto à variação da massa específica do fluido

a. Incompressíveis

O escoamento para o qual a variação da massa específica é desprezível, o que

acontece com a maioria dos líquidos, com exceção do fenômeno da cavitação.

b. Compressíveis

As variações da massa específica não são desprezíveis, é o que acontece com

a maioria dos gases.

- Quanto à viscosidade

a. Viscosos

Todos os escoamentos são viscosos, e os efeitos da viscosidade não podem ser

desprezados, pois o fluido apresenta uma resistência ao deslizamento entre uma

parte e outra, o que provoca a perda de energia.

22 Capítulo 1
b. Não viscosos

Consideramos um fluido não viscoso o fluido ideal, em que , ou seja, de

viscosidade nula.

- Quanto à posição onde ocorrem

a. Internos

Completamente limitados por superfícies sólidas, temos como exemplo o escoa-

mento em condutos, onde deve-se levar em conta as perdas de energia, quedas de

pressão e cavitação.

b. Externos

Ocorrem no entorno de corpos imersos em fluidos ilimitados, no qual os campos

de velocidade, sustentação e arrasto são as grandezas mais importantes deste tipo

de escoamento.

ESCOAMENTO PERMANENTE EM DUTOS


Quando as propriedades do fluido em um ponto do campo não mudam com o

tempo, o escoamento é denominado escoamento em regime permanente. Neste tipo

de escoamento, as propriedades podem variar de ponto para ponto no campo, mas

devem permanecer constantes em relação ao tempo para um dado ponto qualquer.

Hidráulica 23
- Equação da continuidade

A equação da continuidade é a equação da conservação da massa (fig. 6) ex-

pressa para fluidos incompressíveis (massa específica constante).

Figura 6 - Lei da conservação da massa


Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922345/equacoes-fundamen-
tais-hidraulica->. Acessado em: 07 jan. 2016.

Em um tubo de corrente de dimensões finitas, a quantidade de fluido com massa

específica que passa pela seção , com velocidade média , na unidade de

tempo é:

Por analogia, na seção 2, tem-se:

Em se tratando de regime permanente, a massa contida no interior do tubo é

invariável, logo:

Esta é a equação da conservação da massa. Tratando-se de líquidos, que são

praticamente incompressíveis, é igual a . Então:

24 Capítulo 1
ou

A equação da continuidade mostra que, no regime permanente, o volume de

líquido que, na unidade de tempo, atravessa todas as seções da corrente é sempre

o mesmo, ou seja, se a velocidade média no ponto 2 ( ) é menor que a velocidade

média no ponto 1 ( ), para uma vazão constante, obrigatoriamente a área do esco-

amento deve aumentar, isto é, > , então > .

Figura 7 - Equação da continuidade


Fonte: Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922345/equacoes-fun-
damentais-hidraulica->. Acessado em: 07 jan. 2016.

- Equação da Energia de Bernoulli

Aplicando-se a equação de Euler (equações gerais do movimento) aos líquidos

em movimento permanente, sob a ação da força gravitacional e em dois pontos de

uma tubulação, tem-se, segundo a 1ª Lei da Termodinâmica, que:

Hidráulica 25
Ou seja:

Em que:

- carga de posição, carga altimétrica, deve obrigatoriamente estar relacionada

a um referencial ou DATUM;

- carga de pressão, carga piezométrica;

→ carga de velocidade, carga cinética ou taquicarga;

→ energia adicionada ou trabalho realizado (se utilizamos a energia dispo-

nível do sistema, ou seja, retirando energia do sistema, o sinal é positivo, trata-se

de uma turbina; se cedemos energia ao sistema, ou seja, adicionando energia ao

sistema, o sinal é negativo, trata-se de uma bomba.

→ perda de carga.

Energia perdida em forma de calor, não contribuindo mais para o movimento do

fluido, que é o que importa em Hidráulica.

Em obras prontas, é facilmente calculado em função dos valores tabelados

para os equipamentos e acessórios que fazem parte da rede hidráulica e as variáveis

26 Capítulo 1
do processo são medidas (vazão, comprimentos etc.). Prever é o grande desafio

da Hidráulica! Estes estudos foram facilitados após a definição de camada limite feita

por Ludwig Prandtl em 1904. Em que o , que é o coeficiente de energia cinética ou

de Coriolis, é um fator de correção pelo fato de utilizarmos a velocidade média no

lugar da velocidade real (função do diâmetro).

Em que: em condutos forçados com escoamento laminar , e em escoa-

mento turbulento ; em condutos livres . Para fins

didáticos, adotaremos .

Para a análise das energias associadas ao fluido , adotamos o sistema de

referência DATUM.

a. Energia potencial → estado de energia do sistema devido a sua posição em

relação ao DATUM.

b. Energia de pressão → corresponde ao trabalho potencial das forças de pres-

são que atuam no fluido.

Hidráulica 27
c. Energia cinética → estado de energia do sistema determinado pelo movimen-

to do fluido.

Somando-se as energias descritas, temos:

Se dividirmos todos os termos pelo peso do fluido

é a carga do sistema, isto é, a energia por unidade de peso do fluido e sua

unidade têm dimensão de comprimento (m, in, ft). Na equação de Bernoulli, todos os

termos têm dimensão de comprimento, pois ela é uma equação homogênea.

Em condutos forçados:

28 Capítulo 1
Figura 8 – Plano de carga em condutos forçados
Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922345/equacoes-fundamen-
tais-hidraulica->. Acessado em: 07 jan. 2016.

Em condutos livres:

Figura 9 – Plano de carga em condutos livres


Fonte: Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1922345/equacoes-fun-
damentais-hidraulica->. Acessado em: 07 jan. 2016.

Em que: LPE – Linha Piezométrica Efetiva , LCE – Linha cinética efe-

tiva , PCE – Plano de Carga Efetivo .

Hidráulica 29
Quando a velocidade do escoamento é zero, isto é, o fluido está parado e não há

bomba ou turbina no sistema, a Energia cinética é zero ; não há perda

de carga e não há energia adicionada ou trabalho realizado ,

assim, a equação de Bernoulli passa a ser:

Porém, se considerarmos o fluido como ideal e não há bomba ou turbina

no sistema, não há perda de carga , não há energia adicionada ou traba-

lho realizado , a equação de Bernoulli passa a ser:

PERDA DE CARGA
A perda de carga é a diminuição de energia que o fluido sofre ao longo do percur-

so, até seu destino final. Ela é fruto do atrito entre as camadas de fluido, quando o

escoamento é laminar, e fruto das singularidades, como estrangulamentos (orifícios

de válvulas) e curvas.

Por outro lado, quando o escoamento é turbulento, essa energia se perde pelo

movimento desordenado do fluido na tubulação.

30 Capítulo 1
Perda de Carga Distribuída
O escoamento de um fluido numa tubulação é acompanhado de perda contínua

de carga de energia de pressão devido ao atrito das partículas do fluido e à rugosida-

de das paredes internas da tubulação. Esta perda de carga é chamada de distribuída

e simbolizada por hf.

Logo, ao calcular a carga entre a entrada e a saída de um

trecho longo e reto, pode-se observar uma queda da mesma.

Para condições de escoamento, a equação da energia entre as seções de entra-

da e saída fica:

A diferença de pressão pode ser obtida pela equação manométrica:

Para a determinação do hf, pode-se empregar também a seguinte expressão

empírica:

Em que: é o coeficiente da perda de carga distribuída; é o comprimento do

trecho e é o diâmetro hidráulico da tubulação.

Hidráulica 31
Perda de Carga Localizada
O escoamento em uma tubulação pode exigir a passagem do fluido através de

vários acessórios, curvas ou mudanças súbitas de área. Perdas de carga são encon-

tradas, sobretudo, devido à separação do escoamento.

As perdas de carga localizadas tradicionalmente são calculadas de duas formas:

Em que: o coeficiente de perda K deve ser determinado experimentalmente para

cada situação, ou:

Em que: é o comprimento equivalente de um tubo reto.

Uma entrada mal projetada de um tubo pode causar uma perda localizada con-

siderável. Se a entrada tiver cantos vivos, a separação do escoamento ocorre nas

quinas e uma “veia contraída” é formada. Já em uma saída não é possível melhorar

o coeficiente de perda de carga localizado, pois a energia cinética é completamente

dissipada quando o escoamento descarrega de um duto para um grande reservató-

rio ou câmara, entretanto a adição de um difusor pode reduzi-la consideravelmente

(EDUARDO LOUREIRO, 2016).

As perdas de carga causadas por variação de área podem ser reduzidas com a

instalação de bocais ou ainda com difusores entre as duas seções de tubo reto.

Quanto às perdas causadas por válvulas e acessórios, em geral, podem ser ex-

pressas em termos de um comprimento equivalente de um tubo reto.

32 Capítulo 1
Considerações Finais
Esta primeira parte do estudo de Hidráulica é baseado no entendimento de es-

coamentos de fluidos, assunto estudado enfaticamente em Mecânica dos Fluidos,

de extrema importância para as aplicações práticas nas Engenharias que utilizam

fluidos como: água, gases, dentre outros.

Em se tratando de escoamentos, situações adversas podem ocorrer, como é o

caso das perdas de carga, que terá aplicação prática, além da disciplina de Hidráulica,

em Instalações Hidráulicas e Sanitárias, e estas perdas de cargas apresentam espe-

cificidades, ou seja, detalhes que necessitam de estudos mais aprofundados.

FIQUE POR DENTRO!


Equação de Bernoulli. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o8UmU1eO-
vkU>. Acessado em: jan. 2016.

REFLITA!
Se em uma tubulação a pressão for negativa, quais os possíveis problemas que podem
ocorrer em uma coluna d’água?

INDICAÇÃO DE LEITURA
PORTO, Rodrigo De Melo.  Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,

2006. 520 p.

Hidráulica 33
Anotações
Capítulo

2 sistemas de
tubulações
Natália Michelan

inTrODUçãO
Tubulações vão de um canto a outro transportando uma vazão constante, por um

só tubo, ou por dois, ou até mesmo por mais tubos menores instalados, de diâmetro

menor, ou maiores, fazendo que chegue mais ou menos água em cada sistema de

tubulações.

Os condutos equivalentes a outro sistema ou a uma tubulação simples é capaz de

conduzir uma mesma vazão com a mesma perda de carga total, ou seja, com a

mesma energia.

Porém, nem sempre a vazão de entrada em uma tubulação é igual à vazão de saída,

ocorrendo o que se denomina de distribuição em marcha, ou seja, existem diversas

derivações ao longo desse percurso, onde a água vai sendo consumida e de cada um

desses pontos para jusante a vazão é menor que a anterior (NETTO, et al., 1998).

Para o abastecimento de água de uma cidade, há uma infi nidade de sistemas que

conduz água para os pontos de consumo (prédio, indústrias etc.). Esses sistemas

são formados por um conjunto de tubulações e peças especiais dispostas conve-

nientemente de forma a garantir o bom atendimento dos pontos de consumo.

Hidráulica 35
Em projetos, as divisões das redes de distribuições nem sempre ocorrem ou são

suficientemente claras, mas pode facilitar a manutenção e operação do sistema,

minimizar problemas, permitindo ainda realizar novas ligações facilmente com a tu-

bulação em carga.

Objetivos de aprendizagem
• Compreender o escoamento de água em condutos equivalentes em série
e em paralelo.

• Compreender a distribuição de água por meio de condutos derivados em


marcha.

• Compreender a classificação dos sistemas de distribuição de água, bem


como as maneiras de dimensionamento.

esquema
• Condutos equivalentes: tubulações simples, em série e em paralelo

• Distribuição em marcha

• Redes de distribuição de água: ramificadas e malhadas

36 Capítulo 2
CONDUTOS EQUIVALENTES
Um conduto é equivalente a outro ou a outros quando escoa a mesma vazão

sob a mesma perda de carga total. Pode-se ter uma gama de condutos equivalen-

tes, porém apresentaremos aqui os condutos equivalentes simples, os em série e

os em paralelo. Para a medição da perda de carga, utilizaremos a expressão de

Hazen-Williams:

Que pode ser transformada em:

Ela é usada para tubos com diâmetros acima de 50mm, em que:

é a vazão (m³/s); diâmetro (m); perda de carga unitária (m/m); coeficien-

te que depende da natureza do material empregado na fabricação dos tubos e das

condições de suas paredes internas.

Além desta, a fórmula de Darcy-Weisbach vem sendo cada vez mais usada:

Ela serve para todos os diâmetros, para qualquer material e para qualquer fluido,

desde que seja determinado corretamente o valor do coeficiente de atrito .

Tubulações Simples
A comparação de tubulações simples leva sempre a um dos seguintes casos:

Hidráulica 37
a. Tubulações de mesmo diâmetro e coeficientes de rugosidade diferentes. Para

a fórmula de Hazen-Williams:

Para Darcy-Weisbach, para aplicar a fórmula em dois condutos:

b. Para tubulações com o mesmo coeficiente de rugosidade, mas com diâmetros

e comprimentos diferentes, adotamos:

Em que: na fórmula de Hazen-Williams, e , e na fórmula de

Darcy-Weisbach, e .

Condutos em série
As perdas de cargas se somam para uma mesma vazão, assim, os condutos em

série são constituídos por trechos de tubulações com diâmetros diferentes.

38 Capítulo 2
Figura 10 – Esquema de condutos em série
Fonte: Guedes, 2015.

Em que: Q é a vazão, e pelos trechos do conduto circula a mesma vazão e os

comprimentos podem não ser iguais, sendo: a perda de carga contínua no trecho

de comprimento e diâmetro , consequentemente, o mesmo em e , assim

temos que:

Desprezando-se as perdas de carga acidentais, a linha de carga piezométrica

pode ser representada continuamente. Desta forma, quanto menor o diâmetro, maior

a perda de carga (para uma mesma ) e maior também a inclinação da linha pie-

zométrica. O problema consiste em substituir a tubulação por um conduto único, de

único diâmetro, de comprimento e diâmetro , ou seja:

Hidráulica 39
Simplificadamente temos que:

Se utilizarmos a fórmula de Hazen-Willians, teríamos multiplicando o coe-

ficiente .

Condutos em paralelo
Este sistema é mais complexo que o sistema em série, pois são compostos de

vários condutos que têm em comum as extremidades iniciais e finais. Sendo que a

vazão inicial se divide entre os entroncamentos, de acordo com suas características

e, no final, reencontram-se e voltam a assumir o mesmo valor.

Figura 11 – Esquema de condutos em paralelo


Fonte: Guedes, 2015.

É possível substituir os condutos paralelos por um único equivalente. Obtendo a

vazão e/ou a variação de altura:

40 Capítulo 2
Ou seja, quanto à perda de carga total apresenta-se a mesma para cada conduto.

Assim, havendo um conduto de diâmetro e comprimento capaz de transportar

a vazão sob a perda de carga total , obtemos a seguinte igualdade:

Se os comprimentos foram iguais, não se aplica na fórmula o .

DISTRIBUIÇÃO EM MARCHA
Consiste no momento em que a água é distribuída por meio de várias derivações

dos condutos, temos como exemplos os sistemas de abastecimento público de água

e os sistemas de irrigação. Nestas situações, é difícil determinar as vazões e as per-

das de carga entre duas derivações sucessivas, pois apresentam número elevado

de derivações, seu funcionamento é intermitente, o escoamento não permanente,

apresentando variações graduais.

Isto deve-se ao fato de a vazão consumida em um percurso ser feita de modo

uniforme ao longo da linha de distribuição.

Hidráulica 41
Figura 12 – Esquema de distribuição em marcha
Fonte: Disponível em: < https://www.passeidireto.com/arquivo/1922467/distribuicao-de-va-
zao-em-marcha>. Acessado em: 07 jan. 2016.

A vazão que é distribuída no sistema ( é definida por:

Em que: consiste na vazão distribuída, é a vazão montante e a vazão

montante, todas em m³/s.

Para fins de projeto de engenharia, admite-se que, havendo distribuição em mar-

cha, esta será uniforme em cada trecho elementar do conduto, sendo a vazão

unitária distribuída no trecho (m³/s.m = vazão volumétrica por metro de tubulação):

Para o cálculo das vazões a montante e a jusante, temos:

A perda de carga diminui ao longo do percurso, assim, para o cálculo da perda de

carga ( ), deverá ser usada uma vazão fictícia ou equivalente, isto é, uma

42 Capítulo 2
vazão constante que, percorrendo toda a extensão do conduto, produz a mesma perda

de carga verificada ao longo do percurso quando acontece a distribuição em marcha.

Adota-se , pois, se usarmos a vazão de montante, , a perda de carga será

superdimensionada, já que nos pontos a jusante estaremos usando para o cálculo

uma vazão muito maior do que a que realmente percorre o conduto, e se usarmos

a vazão de jusante, , a perda de carga será subdimensionada, já que nos pontos

a montante estaremos usando para o cálculo uma vazão muito menor do que a que

realmente percorre o conduto.

Sendo assim, temos que:

REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA


Conjunto de tubulações, acessórios, reservatórios, bombas etc., que tem por finali-

dade atender, dentro de condições sanitárias, de pressão e de vazão convenientes, a

cada um dos diversos pontos de consumo de uma cidade ou setor de abastecimento.

As redes de distribuição são compostas por condutos principais ou troncos, que

apresentam diâmetros maiores e abastecem os condutos secundários, que, por sua

vez, apresentam diâmetros menores e abastecem os pontos de consumo.

Denominam-se nó todos os pontos de derivação de vazão e os pontos de mudança

de diâmetro dos condutos. Já os trechos são tubulações entre dois nós, e o final de

rede ou extremidade morta, onde não há vazão ( ), chamamos de ponta seca.

Hidráulica 43
Existem essencialmente dois tipos de redes de distribuição em condutos força-

dos: as redes ramificadas e as redes malhadas.

Redes Ramificadas
Nas redes ramificadas, a circulação da água nos condutos tem sentido único, e o

sentido da vazão é conhecido em qualquer ponto. Funcionam a partir de uma tubu-

lação tronco, que pode ser alimentado por gravidade ou por bombeamento, e a água

é distribuída diretamente para os condutos secundários.

Figura 13 – Esquema de rede ramificada

Fonte: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/mackenzista2/aula-captao-aduto-

rasrev>. Acessado em: 07 jan. 2016.

Seu grande inconveniente está no fato de que todo o abastecimento fica sujeito

ao funcionamento de uma única canalização principal. Uma interrupção acidental

em um conduto mestre prejudica sensivelmente as áreas situadas a jusante de onde

ocorreu o acidente.

44 Capítulo 2
Pode ser classificada como espinha de peixe, nas quais os condutos principais

derivam de um conduto central e se dispõem de modo que lembram a espinha do

animal.

Figura 14 – Rede ramificada com traçado em espinha de peixe


Fonte: Disponível em: http://www.em.ufop.br/deciv/departamento/~anibal/Aula%2010%20
-%20Reservacao%20e%20redes%20de%20distribuicao%20de%20agua.pdf>. Acessado
em: 07 jan. 2016.

Outra modalidade é a de grelha, em que os condutos principais são paralelos,

tendo uma de suas extremidades ligada a outro conduto principal.

Figura 15 – Rede ramificada com traçado em grelha


Fonte: Disponível em: http://www.em.ufop.br/deciv/departamento/~anibal/Aula%2010%20
-%20Reservacao%20e%20redes%20de%20distribuicao%20de%20agua.pdf>. Acessado
em: 07 jan. 2016.

Hidráulica 45
Considera-se a vazão por metro linear de conduto, com a seguinte expressão:

Em que: é a vazão de distribuição em marcha em L/s, por metro de conduto,

consiste na população de projeto a ser abastecida, é o coeficiente de reforço

(depende de vários fatores), é o comprimento total da rede (m), a cota per capita

(L/dia).

Em projetos, emprega-se um roteiro de cálculo que obedece a uma sequência

lógica de preenchimento, em que se determinam todos os elementos da rede.

Tabela 1 – Dimensionamento das redes ramificadas


Coluna Operação

01 Número do trecho. Cada trecho deve ser numerado de acordo com uma sequência racional.

02 Nome do logradouro (real de planta ou simbólico).

03 Extensão do trecho (m), medido na planta.

04 Vazão de jusante, (L/s). Na extremidade final, , na extremidade de um trecho


qualquer, .

05
Vazão em marcha, (L/s).

06 Vazão de montante, (L/s).

07
Vazão fictícia, (L/s).

08
Diâmetro,

09
Velocidade média, (m/s).

46 Capítulo 2
10 Cotas piezométricas de montante (m).

11 Perda de carga total, no trecho (m).

12 Cotas piezométricas de jusante (valores da coluna 11 subtraindo os valores da coluna 10).

13 Cotas do terreno a montante (m).

14 Cotas do terreno a jusante (m).

15 Pressões disponíveis a montante (valores da coluna 13 subtraindo os valores da coluna 10).

16 Pressões disponíveis a jusante (valores da coluna 14 subtraindo os valores da coluna 12).

17 Observações diversas.

Fonte: Adaptada de Silvestre, 1979.

Redes Malhadas
Nas redes malhadas, os condutos formam circuitos, anéis ou malhas, geralmen-

te, apresentam maior eficiência do que a ramificada, pois permitem a reversibilidade

do sentido de circulação das vazões da água, ou seja, pode efetuar-se em ambos os

sentidos dos condutos, em função da demanda. Podem ser alimentadas por gravi-

dade ou por bombeamento e apresentam maior flexibilidade para manutenção e com

mínima interrupção no fornecimento de água.

Figura 16 – Esquema de uma rede malhada com quatro anéis ou malhas


Fonte: Disponível em: http://www.em.ufop.br/deciv/departamento/~anibal/Aula%2010%20
-%20Reservacao%20e%20redes%20de%20distribuicao%20de%20agua.pdf>. Acessado
em: 07 jan. 2016.

Hidráulica 47
A vazão de distribuição refere-se à área a ser servida pela rede:

Em que: é a vazão de distribuição L/s, e é a área abrangida pela rede em Ha.

Para o dimensionamento das redes malhadas, entre os nós, estas redes são cal-

culadas pelo método conhecido como Hardy-Cross, que consiste em um processo

de tentativas diretas em que os valores são arbitrados previamente para as vazões.

O encontro dos erros é muito rápida, geralmente, após três tentativas obtemos pre-

cisão satisfatória, outra vantagem é que podemos reduzir a rede de condutos aos

seus valores principais. O método deve obedecer dois princípios para o ajuste das

vazões:

a. Continuidade, em que será aplicada aos nós a soma das vazões afluentes

(que chegam ao nó), sendo esta igual à soma das vazões que deixam o nó.

Figura 17 – Princípio da continuidade em um nó de uma rede malhada


Fonte: Disponível em: < https://www.passeidireto.com/arquivo/1922522/redes-de-distribui-
cao-de-agua>. Acessado em: 15 jan. 2016.

48 Capítulo 2
b. Conservação de energia, na qual é aplicada aos anéis a soma das perdas de

carga nos condutos que formam o anel é zero, atribui-se à perda de carga a

mesma direção da vazão e convenciona-se o sentido horário como positivo.

Figura 18 – Princípio da conservação da energia em um anel de uma rede malhada


Fonte: Disponível em: < https://www.passeidireto.com/arquivo/1922522/redes-de-distribui-
cao-de-agua>. Acessado em: 15 jan. 2016.

Retomando-se o processo Hardy-Cross, temos:

- primeiramente, faz-se uma estimativa inicial para as vazões e seus sentidos

em todo o anel;

- na sequência, dimensionam-se os diâmetros de cada trecho;

- calculam-se as perdas de carga correspondentes, utilizando-se das equações

adequadas, e verifica-se o princípio de conservação de energia ( );

- se , a estimativa inicial das vazões e seus sentidos pode ser conside-

rada correta, passa-se ao preenchimento global da tabela 2;

- se , corrigem-se as vazões em , em que “ ” é o expoente de “ ”

da equação de perda de carga utilizada.

Hidráulica 49
Em redes malhadas mais complexas, onde existe mais de um anel a ser equi-

librado, o procedimento deve ser feito simultaneamente para todos os anéis exis-

tentes. Existirão trechos que pertencem a dois ou mais anéis, conforme se pode

observar na figura 19, o trecho AC.

Figura 19 – Redes malhadas com mais de um anel


Fonte: Disponível em: < https://www.passeidireto.com/arquivo/1922522/redes-de-distribui-
cao-de-agua>. Acessado em: 15 jan. 2016.

De acordo com as estimativas, as vazões têm os sentidos indicados na figura.

Desta forma, o trecho AC no anel 1 tem sinal positivo, e o mesmo trecho no anel 2

tem sinal negativo.

Nestes trechos, as vazões devem ser corrigidas pelos dois obtidos segundo

as seguintes equações:

50 Capítulo 2
Quando realizada a correção, os valores das duas vazões devem continuar

iguais, alterando-se apenas os sinais, pois, na prática, não é possível se ter no mes-

mo trecho dois valores de vazão.

Tabela 2 – Tabela para dimensionamento de redes de distribuição de água


Carga
Cota Cota de
piezo- do pressão
Vazão (m³/s)
métrica terreno distribu-

Trecho L D ∆h (z+p/γ) z(m) ída p/γ

(M-J) (m) (m) (m) (m)

Jusante Distribuída Montante Fictícia


M J M J M J
QJ QD=q.L QM=QJ+QD QF

Fonte: Grifos do autor.

Hidráulica 51
Considerações Finais
O fornecimento de água exerce total influência no desenvolvimento das cidades,

devido às melhorias progressivas da distribuição de água, seu consumo tem aumen-

tado e consequentemente as instalações de tubulações para sua condução.

Assim, o estudo do dimensionamento das tubulações e das diferentes maneiras

de condução de água, dentre outros tópicos vistos nesta unidade, devem ser objetos

de estudos mais aprofundados e práticos, pois eles vão além do papel.

FIQUE POR DENTRO!


Sistema de Abastecimento de Água. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
dzIv-kcAY8A>. Acessado em: jan. 2016.

REFLITA!
Podemos substituir uma tubulação de diâmetro de 800mm por duas tubulações paralelas?
Qual é o diâmetro que elas devem apresentar?

INDICAÇÃO DE LEITURA
NETTO, J. M. D. A. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: Edgard Blücher

LTDA, 1998. 670 p.

Capítulo 2
Anotações

Hidráulica
Anotações
Capítulo
instalações de

3 recalque, bombas e
cavitação
Natália Michelan

inTrODUçãO
Grande parte do que foi discutido nas unidades anteriores referiu-se ao escoamento

por gravidade, no qual há o aproveitamento da energia potencial de posição para o

transporte de água.

Em muitos casos, entretanto, não há esta disponibilidade de cotas topográfi cas, sen-

do necessário transferir energia para o líquido através de um sistema eletromecâni-

co, as bombas.

As tubulações de sucção de instalações destinadas a elevar a água a diferentes

alturas funcionam com pressões inferiores a de vapor do líquido circulante, podendo

originar fenômenos prejudiciais à vida útil da máquina, denominados cavitação.

ObjETivOs DE APrEnDizAgEm
• Compreender como dimensionar os sistemas de recalque.

• Compreender o funcionamento e tipos de bombas.

• Compreender sobre os fatores adversos que podem ocorrer nas bombas,


denominados de cavitação.

Hidráulica 55
esquema
• Instalações de linha de recalque

• Bombas e associações

• Cavitação em bombas

56 Capítulo 3
SISTEMAS DE RECALQUE
Consiste em canalizações que são elevadas por meios mecânicos. Os sistemas

de recalque são constituídos de tubulações de sucção e de recalque e de um con-

junto de moto-bomba.

Em hidráulica, os problemas de sucção com o recalque, por apresentarem proprie-

dades de escoamento permanente uniforme, a aplicação das equações de Bernoulli

e da continuidade são fatores que contribuem para a solução dos problemas.

É denominada tubulação de sucção aquela que, mergulhada no poço, vai até a

boca de entrada da bomba, já a tubulação de recalque parte da boca de saída da

bomba e vai até o reservatório superior.

Para o dimensionamento do sistema de recalque, devemos levar em conta as:

a. Alturas geométricas: para que seja elevada a vazão Q, do reservatório Ri ao

reservatório RS é necessário vencer o desnível, Hg (altura geométrica).

Em que: é a altura estática de recalque, e a altura estática de sucção.

Dependendo da posição do eixo da bomba em relação ao nível da água (NA) do

reservatório Ri, esta altura pode ser positiva ou negativa.

Hidráulica 57
b. Altura manométrica: quando o sistema opera com perdas de cargas aciden-

tais e contínuas nas tubulações, pode-se calcular:

ou

Em que: é a perda de carga total nesta parte do sistema e , o comprimento

virtual da tubulação de sucção, é a perda unitária da linha de sucção, e Σ é a so-

matória das perdas de cargas acidentais verificadas na tubulação de sucção.

A altura dinâmica de sucção é dada por:

E a altura dinâmica de recalque define-se por:

Obtemos, assim, a altura manométrica de elevação somando as alturas dinâmi-

cas de recalque e de sucção:

58 Capítulo 3
Figura 20 – Rede de recalque
Fonte: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAADDEAE/resumo-bombas>.
Acessado em: 15 jan. 2016.

A altura manométrica representa a altura que a bomba terá que vencer para

transportar a vazão Q do reservatório Ri ao Rs. Para isto, é necessária uma potência,

que é dada por:

Em que: é a potência em cavalos-vapor (CV), é o peso específico do fluido

bombeado (kgf/m³), é a vazão (m³/s), é o rendimento global do

conjunto ( é o rendimento da bomba e é o rendimento do motor).

Hidráulica 59
O dimensionamento das linhas de recalque é um problema hidraulicamente inde-

terminado. Suas instalações feitas com velocidades de escoamento baixas resultam

diâmetros relativamente grandes, aumentando o custo financeiro com tubulações e

diminuindo o gasto com a bomba e energia elétrica, pois as alturas manométricas

serão menores. Se as velocidades forem altas, os diâmetros serão menores, conse-

quentemente de menor custo, mas provocariam grandes perdas de carga.

Podemos pré-dimensionar os diâmetros das linhas de recalque para diminuir os

custos da instalação, através da denominada fórmula de Bresse:

Em que: o projetista elege o valor de K, equivale a fixar a velocidade, varia de

0,75 e 1,40.

Levando na equação da continuidade o valor de Q tirado da fórmula de Bresse, vem:

Assim, temos a seguinte tabela:


K U (m/s)

0,75 ...... 2,26

0,80 ...... 1,99

0,85 ...... 1,76

0,90 ...... 1,57

1,00 ...... 1,27

1,10 ...... 1,05

1,20 ...... 0,88

1,30 ...... 0,75

1,40 ...... 0,65

Fonte: Silvestre, 1979.


60 Capítulo 3
A velocidade média das instalações situa-se entre 0,6 e 2,40 m/s, as velocidades

maiores funcionam apenas algumas horas por dia.

Para encontrar o diâmetro econômico, pode-se então aplicar:

Sendo , onde é o número de horas de funcionamento da bomba.

Os diâmetros encontrados serão diferentes dos comerciais, devendo-se ser

adotados.

BOMBAS – ASSOCIAÇÕES
As bombas são denominadas como equipamentos que promovem as trocas en-

tre energia mecânica e energia hidráulica.

Os sentidos das suas trocas são determinados em turbinas que recebem energia

hidráulica das quedas d’água e transformam-na em energia mecânica, também chama-

das máquinas motrizes. As bombas que recebem energia mecânica dos motores que as

acionam e transformam-na em energia hidráulica são chamadas máquinas operatrizes.

As bombas são classificadas sob dois pontos de vista: o que considera as ca-

racterísticas hidráulicas do fluido em movimento e o que se baseia na finalidade

específica para a qual a bomba foi construída.

- Bombas volumétricas são máquinas que dependem da pressão e das for-

ças estáticas, bem como das velocidades relativas entre o escoamento e as partes

Hidráulica 61
móveis, podendo ser de dois tipos: as alternativas, em que o escoamento é intermi-

tente (pistão, diafragma, membrana), e rotativas, em que o escoamento é contínuo

(engrenagens, lóbulos, palhetas, helicoidais, fusos, parafusos, peristálticas).

Figura 21 – Bombas volumétricas


Fonte: Disponível em: < http://pt.slideshare.net/barcecr002/bombas-de-deslocamento-positi-
vo>. Acessado em: 15 jan. 2016.

- Turbobombas, originam-se da diferença de velocidade entre o fluido escoante

e as partes móveis da máquina, se o deslocamento através do rotor acontecer na

direção do raio do rotor, a bomba será radial, mas, caso o fluxo acompanhar o eixo,

a bomba será axial, e ainda, se o deslocamento apresentar posição intermediária

indica a bomba mista.

62 Capítulo 3
Figura 22 – Turbobombas
Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/361406/>. Acessado em: 15 jan. 2016.

A velocidade específica é um índice do tipo de bomba para a vazão e a altura ma-

nométrica referidas ao ponto de máxima eficiência. É definida como sendo a rotação

de bomba semelhante, posta a operar à vazão de 1,00m³/s, à altura manométrica

de 1,00m:

Em que: n em rpm (rotação por minuto), Q em m³/s e em m.

As turbobombas distinguem-se pelas respectivas velocidades específicas. Cada

tipo situa-se dentro de uma faixa de valores destas velocidades se houver, contudo,

separação entre elas.

- Tipo de rotores: os rotores das bombas centrífugas podem ser fechados, aber-

tos ou semiabertos. Os fechados apresentam duas placas paralelas, entre as quais

são fixadas as pás. Os rotores abertos são constituídos de um cubo de roda ao qual

Hidráulica 63
se fixam as pás. Quando existe somente uma placa de fixação das pás, dizemos que

o rotor é semiaberto.

Figura 23 – Tipos de rotores


Fonte: Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/Bomb02.html>. Acessado
em: 15 jan. 2016.

- Bombas de simples estágio e de múltiplos estágios: as bombas de um só

motor chamam-se de simples estágio, e quando a altura de elevação é grande, ne-

cessitamos utilizar bombas de dois ou mais estágios, sendo que cada rotor é respon-

sável por uma parcela da altura de elevação.

- Bombas afogadas: dependendo da sua posição em relação ao nível da água

no poço de sucção, a bomba pode ser afogada ou não, ou seja, quando seu eixo es-

tiver abaixo do nível da água, o escorvamento se processa automaticamente abrin-

do-se o registro. Existem casos em que o conjunto todo é afogado, ou seja, motor

e bomba ficam dentro d’água, devendo ser perfeitamente protegidos os cabos de

energia elétrica e a carapaça seja completamente estanque.

64 Capítulo 3
Figura 24 – Bomba afogada
Fonte: Disponível em: <http://www.dancor.com.br/treinamento/dicasemacetes/desnivel_de_
succao.php>. Acessado em: 15 jan. 2016.

- Bombas submersas e não submersas: as bombas de eixo vertical podem tra-

balhar submersas ou não, ou seja, as submersas ficam dentro d’água, comandadas

por um motor de eixo prolongado, para ficar fora da água, algumas podem trabalhar

fora d’água mas afogadas, e os motores que se situam em nível elevado devem ficar

ao abrigo de inundações.

Figura 25 – Bombas submersas e não submersas


Fonte: Disponível em: <http://www.dancor.com.br/treinamento/dicasemacetes/desnivel_de_
succao.php>. Acessado em: 15 jan. 2016.

Hidráulica 65
CAVITAÇÃO
O fenômeno decorre do escoamento do fluido (temperatura constante), que pas-

sa por uma região de baixa pressão, chegando a atingir pressões inferiores à sua

pressão de vapor e, por isso, parte dele vaporiza, formando bolhas.

Figura 26 – Curva de pressão de vapor


Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/2276000/cavitacao>. Acessado
em: 15 jan. 2016.

Estas bolhas de ar desaparecem bruscamente condensando-se, quando alcan-

çam zonas de altas pressões em seu caminho através da bomba. Como esta passa-

gem gasoso-líquido é brusca, o líquido alcança a superfície do rotor em alta veloci-

dade, produzindo ondas de alta pressão em áreas reduzidas. Estas pressões podem

ultrapassar a resistência à tração do metal e arrancar progressivamente partículas

superficiais do rotor, inutilizando-o com o tempo.

66 Capítulo 3
Figura 27 – Região onde ocorre a formação das bolhas
Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/2276000/cavitacao>. Acessado
em: 15 jan. 2016.

Este processo é extremamente rápido, chegando à ordem de centésimos de

segundos.

- Consequências: se pressão interna das bolhas for superior à externa, elas se

expandem até ocupar toda a seção acontecendo a interrupção do escoamento. No

caso de as bolhas serem carregadas para o interior da bomba, onde a pressão é

maior, elas tendem a implodir e, se a explosão ocorrer próxima às superfícies sólidas

da bomba, estas podem ser erodidas. Consequentemente, pode vir a ocorrer o golpe

de aríete que é o efeito da cavitação repetido continuamente por inúmeras bolhas,

acompanhado de ondas acústicas audíveis (também chamado martelagem).

Com todos os fatores expostos, a bomba apresentará queda de rendimento, ex-

cesso de ruídos, vibrações contínuas do equipamento e sistema acoplado, erosão

interna de partes da bomba, fato que exigirá manutenção periódica e dispendiosa.

Hidráulica 67
Figura 28 – Erosão em equipamentos devido à cavitação
Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/2276000/cavitacao>. Acessado
em: 15 jan. 2016.

Não há um consenso sobre a explicação deste fenômeno, mas acredita-se que

a introdução e expulsão contínua do líquido nos poros do metal promove a erosão,

acentuada pelo aparecimento das limalhas após o início da corrosão, também ocorre

a corrosão química devido à liberação de oxigênio pelo líquido, o que acaba indu-

zindo vibrações às zonas mais extensas do metal, e a erosão acontece devido ao

intenso fenômeno oscilatório que dá origem a elevadas pressões internas.

Embora não se tenha conhecimento exato do mecanismo segundo o qual se

processa a cavitação, é possível projetar, com grande segurança, uma instalação na

qual em todos os pontos do percurso do líquido a pressão interna é maior que a sua

pressão de vapor, em certa temperatura.

Aplicando a equação de Bernoulli entre os pontos (0) e (1), definidos na figura

29, temos que:

68 Capítulo 3
Figura 29 – Instalação elevatória típica
Fonte: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/2276000/cavitacao>. Acessado
em: 15 jan. 2016.

Considerando o DATUM no ponto (0):

Em que: é a perda de carga na sucção da bomba, entre o fim da tubulação

e a entrada do rotor da bomba.

Assim, a equação de Bernoulli passa a:

Hidráulica 69
Observe que, dos termos desta equação, o único que facilita o processo de suc-

ção é ; os demais termos tendem a dificultar o processo de sucção.

Separando os termos que dependem da instalação elevatória ou do fluido dos

que dependem da bomba:

Em que: NPSH – Net Positive Suction Head, ou carga líquida para sucção.

Em que: é a carga existente, ou disponível, na instalação elevatória

para permitir que a sucção do líquido tenha seu valor máximo quando .

Em que: é a carga energética mínima que a bomba necessita para

succionar o fluido sem cavitar, esta curva é característica fornecida pelo fabricante

da bomba.

Como este trabalha em função da velocidade e, portanto, da vazão, a velocidade

aumenta com o aumento da vazão.

70 Capítulo 3
Dessa forma, é importante que algumas análises sejam observadas, pois, quan-

do , ocorrerá cavitação, pois o sistema não oferece o mí-

nimo que a bomba requer para funcionar sem cavitar, assim, tal fato será evitado

quando .

Na falta da curva característica de NPSH da bomba, pode-se trabalhar com a

seguinte aproximação:

Em que: é a rotação nominal da bomba (RPM), e é a vazão no ponto de

rendimento máximo da bomba (m³/s).

Considerações Finais
A condução de água em diferentes alturas foi estudada nesta unidade. As insta-

lações de água e de esgoto geralmente são equipadas com bombas acionadas por

motores elétricos, estas também podem ser encontradas nos mais diversos ambien-

tes industriais e institucionais, como na extração minérios, gestão da água, centros

comerciais e hotéis.

Os equipamentos aqui estudados são os convencionais, mas, hoje em dia, há

equipamentos muito sofisticados de modo a permitir o funcionamento automático.

Tendo em vista que frequentemente as máquinas trabalham em condições difíceis,

as quais exigem manutenção ou reparação do sistema, é de extrema importância a

busca de novas tecnologias e suas adequações teóricas e práticas.

Hidráulica 71
FIQUE POR DENTRO!
Bombas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-qH7yNa-3cM>. Acessado
em: jan. 2016.

REFLITA!
Uma bomba centrífuga de 20HP, 40L/s e 3m de Hm está funcionando com 1750rpm. Quais
as consequências de uma alteração de velocidade para 1450rpm?

INDICAÇÃO DE LEITURA
SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos

e Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.

Capítulo 3
Anotações

Hidráulica
Anotações
Capítulo

4 vertedores, orifícios
e comportas
Natália Michelan

inTrODUçãO
Serão analisados nesta unidade alguns tipos de escoamentos de escala e as ca-

racterísticas distintas dos escoamentos em canais tratados até agora. O estudo dos

escoamentos através de vertedores, orifícios e comportas se faz com base no fato

de que, na maioria dos casos, não se dispensa o acompanhamento de resultados

experimentais, na forma de coefi cientes corretivos.

Os conhecimentos acerca do escoamento aplicam-se em diversas áreas da hidráu-

lica, como projetos de irrigação, eclusas para navegação fl uvial, bacias de deten-

ção para controle de cheias urbanas, estações de tratamento de água, medição de

vazão de efl uentes industriais e de cursos d’água em sistemas de abastecimento,

projetos hidroelétricos etc.

ObjETivOs DE APrEnDizAgEm
• Compreender a definição de escoamento e suas classificações.

• Compreender a especificidade do escoamento permanente em dutos e


suas equações básicas.

Hidráulica 75
• Compreender os fatores adversos que ocorrem em um escoamento,
como as perdas de carga.

esquema
• Classificação dos escoamentos

• Escoamento permanente em dutos

• Perda de carga distribuída

• Perda de carga localizada

76 Capítulo 4
VERTEDORES
Vertedores são estruturas hidráulicas utilizadas para medir indiretamente a vazão

em condutos livres por meio de uma abertura (entalhe) feita no alto de uma parede

por onde a água escoa livremente, apresentando, portanto, a superfície sujeita à

pressão atmosférica.

São utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água canais ou nas-

centes, geralmente inferiores a 300L/s.

A representação esquemática mostra as partes componentes de um vertedor:

Figura 30 – Vista transversal de um vertedor


Fonte: Guedes, 2005.

Os vertedores mais usuais possuem formas de seção transversal retangular,

triangular, trapezoidal e circular. Ressalta-se que na figura 30 está apresentado um

vertedor retangular.

Deve-se levar em conta, na classificação dos vertedores, a espessura (nature-

za) da parede (e), pois podem apresentar uma parede delgada (e < 2/3 H), cuja

Hidráulica 77
espessura (e) não é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre

as linhas de corrente; ou uma parede espessa (e > 2/3 H), em que a espessura (e)

da parede do vertedor é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo

entre as linhas de corrente.

Figura 31 – Vista longitudinal do escoamento da água sobre a soleira do vertedor


Fonte: Guedes, 2005.

Outro fator a ser considerado é o comprimento da soleira (L), que pode ser um

vertedor sem contração lateral (L = B), em que o escoamento não apresenta con-

tração ao passar pela soleira do vertedor, se mantendo constante antes e depois de

passar pela estrutura hidráulica (Figuras 32a, 32b), ou pode ser classificado como

vertedor com contração lateral (L < B), nesse caso a linha de corrente se deprime

ao passar pela soleira do vertedor, podendo-se ter uma (Figuras 32c, 32d) ou ainda,

duas contrações laterais (Figuras 32e, 32f).

78 Capítulo 4
Figura 32 – Vertedor: (a) sem contração lateral; (b) vista de cima sem contração lateral; (c)
com uma contração lateral; d) vista de cima com uma contração lateral – linha de corrente
deprimida (lado direito); (e) duas contrações laterais; e (f) vista de cima com duas contra-
ções laterais – linha de corrente deprimida (lado direito e esquerdo)
Fonte: Guedes, 2005.

A inclinação da face de montante é denominada pelo o lado da estrutura do ver-

tedor que está em contato com a água, conforme apresentada na figura 33.

Hidráulica 79
Figura 33 – Face de montante: (a) na vertical; (b) inclinado a montante; e (c) inclinado a
jusante
Fonte: Guedes, 2005.

A relação entre o nível da água a jusante (P’) e a altura do vertedor (P) pode

funcionar de duas diferentes formas. Quando operado em condições de descarga

livre, o escoamento acontece livremente a jusante da parede do vertedor, onde atua

a pressão atmosférica (Figura 34a). Esta é a situação que mais tem sido estudada

e a mais prática para a medição da vazão, devendo por isso ser observada quando

na instalação do vertedor.

A situação do vertedor afogado (Figura 34a) deve ser evitada na prática, pois há

poucos estudos sobre ela, sendo difícil medir a carga hidráulica H para o cálculo da

vazão. Além disso, o escoamento não cai livremente a jusante do vertedor.

Figura 34 – (a) Vertedor operado em condições de descarga livre (P > P’); (b) Vertedor afo-
gado (P < P’)
Fonte: Guedes, 2015.

80 Capítulo 4
A equação geral da vazão, consideraremos um vertedor de parede delgada e de

seção geométrica qualquer (retangular, triangular, circular etc.), desde que seja regu-

lar, ou seja, que possa ser dividida em duas partes iguais. Na figura 35, está apresen-

tada uma vista longitudinal e frontal do escoamento, destacando a seção de vertedor.

Figura 35 – Vista longitudinal e frontal do escoamento, destacando a seção do vertedor


Fonte: Guedes, 2015.

Se o escoamento permanente, considerando a seção (1), localiza-se ligeiramen-

te a jusante da crista do vertedor (onde a pressão é nula) e empregando a equação

de Bernoulli entre as seções (0) e (1), para a linha de corrente genérica AB, com

referência em A, tem-se:

Hidráulica 81
Para todas as situações em que o escoamento for tratado como ideal, a velocida-

de será sempre ideal ou teórica (Vth), pela mesma razão, quando se trata da vazão,

ela também será ideal ou teórica (Qth), obtemos assim:

E,

Se introduzido um coeficiente (CQ), determinado experimentalmente, o qual inclui

o efeito dos fenômenos desprezados às condições de escoamento real sobre um

vertedor de parede delgada, a expressão geral para a vazão (Q) é dada por:

Em que: o coeficiente CQ é denominado de coeficiente de vazão ou de descarga.

Lembrando que esta equação só é aplicada aos casos em que o eixo y divide o ver-

tedor em duas partes iguais, que são os casos mais comuns na prática.

- Vertedor retangular

Em um vertedor retangular o x (metade da soleira L) é constante para qualquer

valor de y, podendo-se escrever:

82 Capítulo 4
Conforme mostra a figura a seguir:

Figura 36 –Vertedor retangular sem contrações laterais


Fonte: Guedes, 2015.

Aplicando-se x na equação da vazão, chega-se na equação válida para vertedor

retangular de parede delgada, sem contrações laterais:

Em que: o valor de CQ (coeficiente de descarga) obteve, por meio de estudos

experimentais, o valor de CQ para vertedor retangular sem contração lateral igual a

0,6224.

Realizando as substituições na fórmula, tem-se:

Em que: Q = vazão (m³s-1); L = comprimento da soleira (m); e H = altura de lamina (m).

E, em vertedores retangulares que apresentam parede espessa, adotamos o co-

eficiente 1,55 ao invés de 1,838.

Hidráulica 83
- Vertedor triangular

O vertedor triangular de parede delgada normalmente apresenta um entalhe em

forma de um triângulo isósceles, uma vez que o eixo das ordenadas (y) divide a se-

ção em duas partes iguais.

Figura 37 – Vertedor triangular


Fonte: Guedes, 2015.

Então, para a medição de vazão, temos simplificadamente:

Em que: Q = vazão (m³s-1) e H = altura da lâmina vertente (m).

OBS.: Para pequenas vazões, o vertedor triangular é mais preciso que o retangu-

lar (aumenta o valor de H a ser lido quando comparado com o retangular), entretan-

to, para maiores vazões, ele passa a ser menos preciso, pois qualquer erro de leitura

da altura de lâmina vertente (H) é afetado pelo expoente 5/2.

84 Capítulo 4
- Vertedor trapezoidal

Menos utilizado do que os vertedores retangular e triangular. Pode ser usado

para medição de vazão em canais, sendo o vertedor CIPOLLETTI o mais emprega-

do. Esse vertedor apresenta taludes de 1:4 (1 na horizontal para 4 na vertical) para

compensar o efeito da contração lateral da lâmina ao escoar por sobre a crista.

Figura 38 –Vertedor trapezoidal de CIPOLLETTI


Fonte: Guedes, 2015.

Por razões de simplicidade, a vazão pode ser calculada como a soma das vazões

que passam pelo vertedor retangular e pelos vertedores triangulares, ou seja:

OBS: a) O ideal é calibrar o vertedor no local (quando sua instalação é definitiva)

para obtenção do coeficiente de vazão (CQ).

b) O vertedor de parede delgada é empregado exclusivamente como medidor de

vazão e o de parede espessa faz parte, geralmente, de uma estrutura hidráulica (verte-

dor de barragem, por exemplo), podendo também ser usado como medidor de vazão.

Hidráulica 85
ORIFÍCIOS
Orifícios são aberturas de perímetro fechado (geralmente de forma geométrica co-

nhecida) localizadas nas paredes ou no fundo de reservatórios, tanques, canais ou ca-

nalizações, sendo posicionadas abaixo da superfície livre do líquido. Os orifícios pos-

suem a finalidade de medição de vazão, sendo utilizados, também, para a determinação

do tempo de esvaziamento de reservatórios e para o cálculo do alcance de jatos.

São classificados quanto a sua forma geométrica, podendo ser retangulares, cir-

culares, triangulares etc.

Quando tratamos das dimensões relativas, podem ser consideradas pequenas,

que são assim definidas quando suas dimensões forem muito menores que a pro-

fundidade (h) em que se encontram. Na prática, d ≤ h/3 ou grande, quando d > h/3,

em que d = altura do orifício, e h = altura relativa ao centro de gravidade do orifício.

Figura 39 – Esquema de orifício instalado em reservatório de parede vertical


Fonte: Guedes, 2015.

86 Capítulo 4
As paredes dos orifícios podem ser consideradas delgadas (e < d), nos quais, a

veia líquida toca apenas a face interna da parede do reservatório, ou seja, o líquido

toca o perímetro da abertura segundo uma linha (figura 40a); ou de parede espessa

(e ≥ d), quando a veia líquida toca quase toda a parede do reservatório (figura 40b).

Esse caso será enquadrado no estudo dos bocais (os orifícios de parede espessa

funcionam como bocais).

Figura 40 – Orifícios de parede delgada (a) e espessa (b)


Fonte: Guedes, 2015.

Quando a parede é horizontal e h < 3.d, ocorre o chamado vórtice, o qual afeta o

coeficiente de descarga (CQ).

Os escoamentos em um orifício podem ser classificados como livre ou afogado:

Hidráulica 87
Figura 41 – Orifícios com escoamento livre (a) e afogado (b)
Fonte: Guedes, 2015.

Uma seção contraída é aquela seção do orifício na qual observa-se uma mu-

dança nas linhas de corrente do jato d’água ao passar pelo orifício. Diz-se que a

contração é incompleta quando a água não se aproxima livremente do orifício de

todas as direções, o que ocorre quando o mesmo não está suficientemente afastado

das paredes e do fundo. A experiência mostra que, para haver contração completa,

o orifício deve estar afastado das paredes laterais e do fundo, ao menos, 3 vezes a

sua menor dimensão. Como a contração da veia líquida diminui a seção útil de esco-

amento, a descarga aumenta quando a contração é incompleta.

As partículas fluidas escoam para o orifício vindas de todas as direções em tra-

jetórias curvilíneas. Ao atravessarem a seção do orifício continuam a se moverem

em trajetórias curvilíneas (as partículas não podem mudar bruscamente de direção,

devido à inércia das partículas, obrigando o jato a contrair-se um pouco além do

orifício, onde as linhas de corrente são paralelas e retilíneas).

88 Capítulo 4
Figura 42 – Seção contraída do jato de água que escoa pelo orifício.
Fonte: Guedes, 2015.

- Vazão em orifícios afogados

Neste caso, admite-se que todas as partículas que atravessam o orifício têm a

mesma velocidade e que os níveis da água são constantes nos dois reservatórios.

Assim, obtemos que:

Em que: Q é a vazão volumétrica para orifícios afogados de pequenas dimensões

localizados em reservatórios de parede delgada. Na prática, pode-se tomar o valor

de CQ como: CQ = CV . CC = 0,985 x 0,62 = 0,61.

Hidráulica 89
- Vazão em orifícios com escoamento livre

Nesse caso h1 = 0 e h0 = h, então, podemos calcular usando a seguinte fórmula:

Em iguais condições de altura de lâmina d’água acima do orifício (h ou h0 - h1), CQ

é um pouco maior para escoamento livre. Em casos práticos, podem ser adotados

os mesmos valores para CQ.

- Vazão em orifícios livres de grandes dimensões

Nesse caso, não se pode mais admitir que todas as partículas possuam a mesma

velocidade, devido ao grande valor d. O estudo é feito considerando-se o grande orifício

dividido em um grande número de pequenas faixas horizontais de alturas infinitamente

pequenas, onde pode ser aplicada a equação deduzida para orifícios pequenos.

Figura 43 – Orifícios livres de grandes dimensões em paredes delgadas


Fonte: Guedes, 2015.

90 Capítulo 4
Para o caso de orifícios com seção retangular (x = L):

Sendo que, se h0 = 0, o orifício deixa de funcionar como tal e passa a ser um

vertedor.

Para o caso de orifícios com seção triangular:

Figura 44 – Seção transversal de um orifício triangular


Fonte: Guedes, 2015.

Temos a vazão, como sendo:

Hidráulica 91
- Vazão em orifícios contração incompleta

Quando o orifício é de contração incompleta, a vazão é calculada pela mesma

fórmula que para orifício de contração completa, ou seja:

Em que: o coeficiente CQ’ (coeficiente de vazão para contração incompleta) está

relacionado com o coeficiente de vazão para contração completa (CQ) pela seguinte

expressão obtida experimentalmente por Bidone:

Em que: K = relação entre o perímetro da parte não contraída do orifício e o pe-

rímetro total do orifício.

COMPORTAS
Comportas são os equipamentos que permitem o controle da vazão da água em

reservatórios, represas e válvulas. Sua aplicação é bem variada no campo da enge-

nharia hidráulica. Esse tipo de equipamento é geralmente utilizado para proteger e

auxiliar na manutenção de equipamentos, também pode ser utilizado para o controle

do nível d’água e limpeza dos reservatórios, instalações de tomadas d’água e regu-

larização de vazões.

As comportas são basicamente formadas por três elementos principais: tabuleiro,

peças fixas e mecanismo de manobra.

92 Capítulo 4
As ações que se fazem sentir em comportas são, essencialmente, de dois tipos:

hidrostáticas e hidrodinâmicas. As investigações a respeito das comportas se dão

nesses dois campos, no que respeita ao primeiro tipo, a informação detalhada e

de relativa fácil obtenção, o mesmo não acontece com o segundo tipo em que, por

vezes, os conhecimentos são ainda insuficientes.No que se refere a ações variáveis

com o tempo que, presentemente, a investigação se desenvolve, com o objetivo de

analisar as ações dinâmicas em comportas, especialmente nos casos em que a sua

forma de fixação, em relação às restantes estruturas hidráulicas pode influenciar o

seu comportamento relativo ao escoamento.As ações, susceptíveis de causar pro-

blemas de instabilidade nas referidas estruturas, se devem, normalmente, a oscila-

ções dos escoamentos e surgem em variadas situações.

Para o dimensionamento das comportas, os projetos obedecem a peculiaridades

características de cada marca comercial e são elaborados de acordo com as normas

da ABNT, especialmente no diz respeito a juntas e gabaritos, e para trabalharem com

uma altura máxima da coluna de 10 m.c.a = 1 kgf/cm2  = 0,1 Mpa (FERNANDES;

SOUSA; GONÇALVES, 2013).

Considerações Finais
Os assuntos aqui abordados fazem parte de uma gama de conhecimento teóri-

cos da Hidráulica. Nessa perspectiva, suas aplicações práticas são fundamentais ao

entendimento dos acontecimentos físicos dos escoamentos em canais, uma vez que

estes são aplicados no cotidiano, nos mais diversos projetos e lugares.

Hidráulica 93
FIQUE POR DENTRO!
Vertedores – parte I, II e III. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=io7i_
A3IQ-o>. Acessado em: jan. 2016.

REFLITA!
Faça uma associação do conteúdo visto nesta unidade com as aplicações em seu cotidiano.

INDICAÇÃO DE LEITURA
NETTO, J. M. D. A. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: Edgard Blücher LTDA,
1998. 670 p.

Capítulo 4
Anotações

Hidráulica
Anotações
Capítulo
Escoamento

5 permanente uniforme
e dimensionamento
de canais
Natália Michelan

inTrODUçãO
Todo o equacionamento apresentado refere-se a escoamentos em regime uniforme

e permanente, válido quando as características hidráulicas (h, Q e V) são constan-

tes no tempo (regime permanente) e ao longo do percurso (regime uniforme), com

o escoamento ocorrendo em condutos livres, nos quais parte do perímetro molhado

mantém-se em contato com a atmosfera.

Para o dimensionamento de canais, foram utilizadas técnicas consagradas, empre-

gadas usualmente nos projetos de drenagem urbana, mantendo-se o mesmo enfo-

que, vamos analisar casos simples como forma de apresentar os conceitos básicos

de hidráulica de canais.

ObjETivOs DE APrEnDizAgEm
• Compreender no que consiste o escoamento permanente uniforme.

• Compreender os canais e os diferentes tipos de canais.

• Compreender os fatores que envolvem o dimensionamento de canais.

Hidráulica 97
Esquema
• Escoamento permanente uniforme

• Dimensionamento de canais

98 Capítulo 5
ESCOAMENTO PERMANENTE UNIFORME
O escoamento da água que está em superfícies que estão sujeitas à pressão

atmosféricas é denominado canais. Temos diversos elementos geométricos nas di-

ferentes secções dos canais, as quais devemos conhecer para, assim, estudar como

ocorrerá o escoamento da água.

- Seção transversal

Profundidade de escoamento (y): é a distância vertical entre o ponto mais baixo

da seção e a superfície livre. No regime de escoamento uniforme, y = yn (profundida-

de normal) e no regime de escoamento crítico, y = yc (profundidade crítica).

Seção molhada (A): é toda seção perpendicular molhada pela água.

Perímetro molhado (P): é o comprimento da linha de contorno molhada pela água.

Raio hidráulico (R): é a relação entre a área molhada e o perímetro molhado.

Profundidade média ou profundidade hidráulica (ym): é a relação entre a área

molhada

(A) e a largura da superfície líquida (B).

Talude (z): é a tangente do ângulo (α) de inclinação das paredes do canal.

Hidráulica 99
Figura 44 - Elementos geométricos da seção transversal dos canais
Fonte: Guedes, 2015.

- Seção longitudinal

Declividade de fundo (I): é a tangente do ângulo de inclinação do fundo do canal

(I = tg).

Declividade de superfície (J): é a tangente do ângulo de inclinação da superfície

livre da água (J = tgλ).

Figura 44 - Elementos geométricos da seção longitudinal dos canais


Fonte: Guedes, 2015.

100 Capítulo 5
Escoamento em regime fluvial permanente e uniforme
Este tipo de escoamento só ocorre em canais prismáticos de grande comprimen-

to, ou seja, para aqueles canais que apresentam a mesma seção transversal (com

as mesmas dimensões), a mesma declividade de fundo ao longo de seu comprimen-

to, além da mesma rugosidade das paredes. Nesse caso, a superfície da água, a

linha de energia e o fundo do canal apresentam a mesma declividade (I = J).

Quando a declividade (I) é forte (I > Ic), o escoamento permanente uniforme su-

percrítico só é atingido após passar por um trecho denominado zona de transição

(onde o escoamento é não uniforme ou variado), cujo comprimento dependerá prin-

cipalmente das resistências oferecidas ao escoamento.

Figura 45 - Perfil longitudinal para um escoamento supercrítico (yn < yc)


Fonte: Guedes, 2015.

Hidráulica 101
Quando a declividade (I) é fraca, o escoamento permanente uniforme subcrítico

é atingido logo após a seção A do escoamento. Havendo queda na extremidade final

do canal, o escoamento deixa de ser uniforme passando a não uniforme ou variado.

Figura 46 - Perfil longitudinal para um escoamento subcrítico (yn > yc)


Fonte: Guedes, 2015.

Para os casos em que a declividade (I) é crítica, o escoamento se realiza em

regime permanente uniforme crítico em toda a sua extensão. Essa situação é instá-

vel e dificilmente ocorre em canais prismáticos. Pode ocorrer em trechos ou seções

dos canais projetados especificamente para determinados fins como a medição de

vazão, por exemplo.

102 Capítulo 5
Figura 47 - Perfil longitudinal para um escoamento crítico (yn = yc)
Fonte: Guedes, 2015.

Pela ação da gravidade, nos canais de declividade fraca (Figura 53), a velocidade

cresce a partir da seção (A) para jusante e cresceria indefinidamente na ausência

do atrito entre o fundo e as paredes do canal com o líquido. O atrito, entretanto, dá

origem à força de atrito ou tangencial que se opõe ao escoamento; essa força é pro-

porcional ao quadrado da velocidade. É de se esperar, portanto, que a velocidade ao

atingir certo valor estabeleça um equilíbrio entre as forças de atrito e a gravitacional;

daí para frente, o escoamento é dito uniforme.

Havendo uma queda, uma mudança de seção, uma mudança de declividade (o

que provoca uma variação na velocidade) o escoamento deixa novamente de ser

uniforme, passando a não uniforme.

Hidráulica 103
Equações utilizadas no dimensionamento de canais operando em
regime permanente e uniforme

- Equação de Chézy

Em que: C – coeficiente de Chézy, pode ser calculado pelas equações de Bazin

ou de Manning.

Equação de Bazin Equação de Manning

Em que: - coeficiente de Bazin, pode ser obtido na Em que: n - coeficiente de Manning, pode ser obtido
literatura na literatura

Para a vazão, após aplicada na equação de Chézy, a equação de Manning se

escreve:

Os coeficientes C, n e são grandezas dimensionais, pois dependem dos valores

numéricos do sistema de unidades adotado, por exemplo, o coeficiente C depende

do fator de atrito f, que é função do número de Reynolds e da rugosidade da parede.

Separando-se as variáveis supostamente conhecidas (n, Q, I) da equação de

Manning, obtemos:

104 Capítulo 5
Nesta equação válida para qualquer seção, o segundo membro depende somen-

te da geometria da seção do canal. Apresenta-se a seguir a adequação da referida

equação para as seções: circulares, trapezoidais, retangulares e triangulares.

Conhecendo e , podemos obter a seguinte expres-

são para seções circulares:

Em que o ângulo θ pode ser calculado por:

Já para a seção trapezoidal, primeiramente, determinamos a largura do fun-

do (b), que, neste caso, supõem-se que sejam conhecidos n, Q, I, z e yn. Sendo,

e e , substituindo obtemos:

Para canais retangulares, basta usar a curva construída para z = 0.

Posteriormente, determinamos a profundidade normal (yn), supõem-se conheci-

dos agora: n, Q, I, z e b, obtemos que:

Hidráulica 105
Para casos de canais retangulares, basta usar a curva construída para z = 0.

Por fim, na seção triangular, supõem-se conhecidos n, Q, I e z, em que a incógnita

do problema é a profundidade normal (yn), sabendo que e , substituindo obtemos:

- Cálculo das seções transversais usuais

Após escolhida uma determinada forma geométrica, existe mais de uma com-

binação entre os elementos da seção que satisfaz a fórmula de Manning. Deste

modo, o cálculo de canais em regime uniforme é predominantemente um problema

geométrico. Na tabela 3, estão apresentadas as equações para o cálculo das seções

transversais usuais de canais.

Tabela 3 - Equações para canais de seção transversal usual


Largura
Área Raio
Perímetro da Profundidade
Seção molhada hidráulico
molhado (P) superfície média (y m )
(A) (R)
(B)

106 Capítulo 5
Fonte: Adaptada de Guedes, 2015.

Para obtermos seções de máxima eficiência quanto a sua vazão, nos baseamos

na seguinte equação:

Uma maior vazão (Q) poderá ser conseguida aumentando-se a área (A), o que

implica em maiores custos; aumentando-se a declividade de fundo (I), o que implica

em perigo de erosão além de perda de altura, para terrenos com baixa declividade;

e diminuindo-se a rugosidade (n), o que implica em paredes e fundo do canal reves-

tidos, aumentando os custos.

A solução viável é o aumento do raio hidráulico (R) mantendo-se as outras gran-

dezas constantes, ou seja: para uma mesma área, uma mesma declividade de fundo

Hidráulica 107
e a mesma rugosidade (n), uma maior vazão é conseguida com um aumento do raio

hidráulico (R). Como R = A/P, e já que A deverá ser mantida constante, o perímetro

molhado deverá ser diminuído. Quando o perímetro molhado for mínimo, R será

máximo e Q também.

Tabela 4 - Equações para canais de máxima vazão também chamados de: canais de mínimo

perímetro molhado, canais de seção econômica, canais de máxima eficiência, canais de mí-

nimo custo
Raio Largura da Largura do
Área Perímetro Profundidade
Seção hidráulico superfície fundo
molhada (A) molhado (P) média (ym)
(R) (B) (b)

Fonte: Adaptada de Guedes, 2015.

No dimensionamento dos canais, devemos levar em consideração certas limita-

ções impostas pela qualidade da água transportada e pela natureza das paredes e

do fundo do canal. Assim, a velocidade média V do escoamento deve enquadrar-se

em certo intervalo: Vmín < V < Vmáx.

108 Capítulo 5
Determina-se a velocidade mínima (Vmín) permissível, tendo em vista o material

sólido em suspensão transportado pela água. É definida como sendo a velocidade

abaixo da qual o material sólido contido na água decanta, produzindo assoreamento

no leito do canal. A velocidade máxima (Vmáx) permissível é determinada tendo em

vista a natureza das paredes do canal. É definida como sendo a velocidade acima

da qual ocorre erosão das paredes e do fundo do canal.

O controle da velocidade, no dimensionamento das seções dos canais, pode ser

feito atuando na declividade de fundo (para evitar grandes velocidades); e nas di-

mensões da seção transversal ou na sua forma (para evitar pequenas velocidades).

Assim, por exemplo, podem-se evitar velocidades excessivas, fazendo variar a

declividade de fundo com a formação de degraus (Figura 48a) ou construção de

muros de fixação do fundo (Figura 48b).

Figura 48 – Variação da declividade com a formação de degraus (a) e muros de fixação


do fundo (b)

Fonte: Guedes, 2015.

A necessidade de evitar pequenas velocidades ocorre, geralmente, em canais

com grande descarga sólida (caso dos coletores de esgotos sanitários) ou em canais

Hidráulica 109
submetidos a grandes variações de vazões (caso dos canais de retificação dos cur-

sos de água naturais).

No caso de canais submetidos a grandes variações de vazão no decorrer do ano,

a seção do canal deve ser dimensionada para suportar a vazão de cheia ou vazão

de enchente. Nos períodos de seca, a velocidade pode se tornar inferior à mínima

permitida. Consegue-se contornar este inconveniente adotando formas de seção

especiais (seções compostas) como:

Figura 49 – Seções transversais compostas para canais com grandes variações de


vazão

Fonte: Guedes, 2015.

Outra limitação prática que deve ser levada em consideração, na definição da

forma da seção do canal, principalmente no caso das seções trapezoidais, é a incli-

nação das paredes laterais. Esta inclinação depende, principalmente, da natureza

das paredes.

- Velocidade máxima e vazão máxima em canais circulares fechados

Os canais circulares são mais aplicados na maioria das obras em que são

110 Capítulo 5
necessárias seções fechadas. A diferença entre os pontos máximos pode ser conta-

tada a partir do emprego das fórmulas de Manning, chegando em:

Para n, D e Io constantes, a vazão e a velocidade só dependem do ângulo θ e,

portanto, de yo. Derivando estas equações em relação a θ e igualando a zero, che-

ga-se a:

- V = Vmáx, quando θ = 257°, que corresponde a yo= 0,81D

- Q = Qmáx, quando θ = 302,5°, que corresponde a yo= 0,94D

A partir de yn = 0,95D, pequenos acréscimos em yn ocasionam pequenos acrés-

cimos na área molhada e maiores acréscimos no perímetro molhado, o que diminui

o raio hidráulico (R), diminuindo consequentemente a vazão (Q).

- Relação dos Elementos Hidráulicos da seção circular

Em projetos de sistema de esgoto, por exemplo, as tubulações trabalham parcial-

mente cheias, é interessante conhecer os elementos hidráulicos e geométricos para

várias alturas d’água. Também é necessário saber, para uma determinada lâmina

d’água, qual é a relação entre a vazão que está escoando e aquela que escoaria se

a seção fosse plena.

Hidráulica 111
As relações entre o raio hidráulico, a velocidade e a vazão em uma determinada

lâmina e na seção plena são obtidas a partir das expressões:

Podemos relacionar as velocidades e as vazões pela fórmula de Manning, em

que Vp e Qp são, respectivamente, a velocidade e a vazão na seção, assim, obtemos:

Como para a seção plena de um conduto circular tem-se e ,

assim obtemos as seguintes equações:

112 Capítulo 5
DIMENSIONAMENTO DE CANAIS
Aplicando a equação de continuidade na equação de Chézy-Manning, tem-se:

Em que: Q é a vazão, produto da área transversal da seção de escoamento pela

velocidade média da água.

Normalmente n e S são parâmetros definidos e conhecidos. Quando se conhece

as dimensões do canal, o cálculo da vazão é explícito. Porém, quando se deseja co-

nhecer ou dimensionar a base e altura de um canal, tendo-se a vazão de projeto, a

solução fica não explícita e deve ser obtida por métodos numéricos, ábacos, tabelas

ou tentativas.

- Método das tentativas

Consiste em assumir valores para os parâmetros que definem a área e o raio

hidráulico de um canal e, em seguida, aplicar a equação de Manning e a equação da

continuidade, para calcular qual será a vazão com os valores assumidos. A relação

entre os valores assumidos para os parâmetros geométricos do canal pode variar ou

permanecer constante. Comparar a vazão calculada com a vazão conhecida, caso

não sejam idênticas, repetir os cálculos até encontrar dois valores idênticos para

vazão. Para facilitar os cálculos, recomenda-se utilizar o seguinte tipo de quadro:

Hidráulica 113
- Utilizando as fórmulas de seção econômica

No caso de seções econômicas, a solução é explícita mesmo quando se deseja

conhecer os valores de y e b, pois as equações de área molhada e raio hidráulico

são funções somente de y. Substituindo as equações de área e raio hidráulico, para

canais trapezoidais, na equação de Chézy-Manning:

Sendo que se conhece:

- Taludes e velocidades recomendadas

A velocidade em uma seção transversal de um canal é calculada pela equação

de Chézy-Manning, porém seu valor pode ser restringido por limitações da qualidade

da água e da resistência dos taludes. Velocidades muito grandes podem provocar

erosão no leito e no fundo do canal, destruindo-o. Velocidades muito baixas podem

114 Capítulo 5
possibilitar a sedimentação de partículas em suspensão, obstruindo o canal.

As tabelas a seguir apresentam limites de velocidade e de inclinação dos taludes

em função da natureza da parede.

Tabela 5 – Velocidades média e máxima em um canal, em função da natureza da parede


Velocidade (m .s -1 )
Natureza da parede do canal
Média Máxima

Areia muito fina 0,23 0,23

Areia solta – média 0,30 0,30

Areia grossa 0,46 0,46

Terreno arenoso comum 0,61 0,61

Terreno silto-argiloso 0,76 0,76

Terreno de aluvião 0,84 0,84

Terreno argiloso compacto 0,91 0,91

Terreno argiloso duro 1,22 1,22

Cascalho grosso, pedregulho 1,52 1,52

Rochas sedimentares moles 1,83 1,83

Alvenaria 2,44 2,44

Rochas compactas 3,05 3,05

Concreto 4,00 4,00

Fonte: Carvalho; Silva, 2008.

Hidráulica 115
Tabela 6 – Velocidades mínimas em um canal a fim de evitar sedimentação
Tipo de suspensão na água Velocidade (m .s -1 )

Água com suspensão fina 0,30

Água transportando areia 0,45

Águas residuárias - esgotos 0,60

Fonte: Carvalho; Silva, 2008.

Tabela 7 – Inclinação dos taludes dos canais


Natureza da parede do canal m

Canais em terra sem revestimento 2,5 a 5,0

Canais em saibro 2,0

Cascalho roliço 1,75

Terra compacta sem revestimento 1,50

Terra muito compacta – rocha 1,25

Rocha estratificada 0,50

Rocha compacta 0,0


Fonte: Carvalho; Silva, 2006.

116 Capítulo 5
Considerações Finais
Uma importante característica da hidráulica dos canais, além da superfície livre,

é a deformidade desta. Em canais, a veia líquida tem liberdade de se modificar para

que seja mantido o equilíbrio dinâmico. Dessa forma, a deformidade da superfície

livre dá origem a fenômenos desconhecidos nos condutos forçados, como o ressalto

hidráulico, que abordaremos na unidade VII.

FIQUE POR DENTRO!


Características básicas dos escoamentos livres. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=RLPFHYFdFC8>. Acesso em: jan. 2016.

REFLITA!
O estudo de escoamentos permanentes uniformes pode ser aplicado na prática em quais
situações?

INDICAÇÃO DE LEITURA
PORTO, Rodrigo De Melo.  Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP,

2006. 520 p.

Hidráulica 117
Anotações
Capítulo

6 Energia
específica
Natália Michelan

inTrODUçãO
A energia específi ca é medida a partir do fundo do canal, somando a carga altimé-

trica, piezométrica e cinética, muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser

analisados utilizando-se o princípio da energia.

Este conceito simples é extremamente importante para estudar problemas de es-

coamentos através de singularidades em canais, como alteração da cota de fundo,

alargamentos e estreitamentos, dentre outros (PORTO, 2006).

ObjETivOs DE APrEnDizAgEm
• Compreender no que consiste a energia específica.

• Compreender os tipos de escoamento que envolvem a aplicação da


energia específica.

EsqUEmA
• Energia específica

• Regimes de escoamentos

• Escoamento crítico

• Regime crítico
Hidráulica 119
120 Capítulo 5
ENERGIA ESPECÍFICA
Muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser analisados utilizando-se o

princípio da energia.

Utilizamos como base a carga média, ou seja, a energia total por unidade de

peso, em uma certa seção de um canal onde a distribuição de pressão hidrostática

é dada por:

Em que: α é um coeficiente para corrigir a desigual distribuição de velocidade, e

utilizaremos α = 1.

Figura 50 – Seção transversal de um canal


Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/5382800/>. Acessado em: 20 jan.
2016.

Hidráulica 121
A linha piezométrica é o ponto geométrico das extremidades dos segmentos

(z+y), que coincide com a superfície livre e sua declividade, chamamos de gradiente

hidráulico. Quando somados , para cada seção vertical, obteremos a

linha de carga ou linha de energia. A declividade desta linha denomina-se gradiente

de energia.

Assim, a energia específica define-se pela quantidade de energia por unidade de

líquido, medida a partir do fundo do canal, sendo representada por:

Tendo em vista a grande variedade de formas das seções dos canais, é útil, para

os estudos gerais, definir a profundidade média, ym, de uma seção de área A e lar-

gura superficial B, assim:

A energia específica em uma seção transversal de qualquer conduto livre não se

altera se multiplicarmos e dividirmos a segunda parcela do segundo membro pela

profundidade média, ou seja:

Em que: a expressão é conhecida como fator cinético do escoamento e

sua raiz quadrada denomina-se número de Froude. Desse modo, a energia especí-

fica pode ser:

122 Capítulo 6
Ou ainda, podemos substituir por .

Este número de Froude desempenha papel importante no estudo dos canais,

permitindo definir regimes de escoamento dinamicamente semelhantes.

- Regimes de escoamentos

Ao considerarmos a seção de área A de um canal que funcione em regime per-

manente, sua velocidade média será dada por:

Assim, sendo a vazão constante e a área da seção função da profundidade

( ) ), a energia específica dependerá apenas de y e, então, obtemos a


equação energia específica como sendo:

Esta expressão nos permite estudar a variação da energia específica em função

da profundidade, considerando uma vazão constante. Verificamos que a variação de

E com y é linear e está representada pela reta da energia potencial (E1), bissetriz

dos eixos coordenados (figura 51a).

Hidráulica 123
(a) (b) (c)
Figura 51 – Eixos ortogonais
Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/5382800/>. Acessado em: 20 jan.
2016.

Ao analisarmos a figura, sabemos que A aumenta ou diminui com y, e se y tender

para 0, o mesmo acontecerá com A. Mas a velocidade média tenderá para o infini-

to para satisfazer a equação da continuidade ( ). A energia cinética

será infinitamente grande. Se y tender para o infinito, o valor da área das seções do

canal terá a mesma tendência, enquanto a velocidade e a energia cinética tenderão

para 0. Então, se y variar, e a vazão permanecer constante, teremos a curva E2 (fi-

gura 51b), denominada curva da energia cinética, que mostra como varia a energia

cinética com a profundidade da água no canal. Se, para cada valor da profundidade,

somarmos os correspondentes valores da energia potencial e da energia cinética,

obteremos a curva da energia específica (E) (figura 51c).

Assim, podemos concluir que existe um valor mínimo Ec da energia específica

correspondendo ao valor yc da profundidade, no qual chamamos de Ec de energia

crítica e yc profundidade crítica. Ainda, para dado valor E’>Ec da energia específica,

124 Capítulo 6
existem dois valores (yi e ys) da profundidade, ou seja, para E’>Ec existem dois regi-

mes de escoamento o qual chamamos de regimes recíprocos.

O escoamento que ocorre com profundidade ys chama-se escoamento subcrítico, já

o que corresponde a yi recebe o nome de escoamento supercrítico. E, por fim, o esco-

amento que corresponde à profundidade yc chama-se escoamento em regime crítico.

Para melhor compreensão de como E varia com y, imaginemos um canal de se-

ção e vazão constantes com declividade variável:

Figura 52 – Canal com declividade variável


Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/5382800/>. Acessado em: 20 jan.
2016.

Aumentando-se a declividade do canal, o valor de y diminui e vice-versa. Em con-

sequência, a ocorrência de um dos regimes fica condicionada à declividade do canal.

Para I = Ic = declividade crítica, o regime é crítico.

Para I < Ic, o regime é subcrítico.

Hidráulica 125
Para I > Ic, o regime é supercrítico.

Podemos então expressar o fator crítico cinético pelo dobro do quociente da

energia cinética pela energia potencial possuídas pela unidade de peso do líquido,

escoando a uma profundidade y, equacionando:

- Escoamento crítico

É definido como o estágio em que a energia específica é mínima para uma dada

vazão ou estágio em que a vazão é máxima para uma dada energia específica. Aqui

a energia específica é mínima, portanto, para obtermos a equação característica do

regime crítico, basta igualar a 0 a derivada em relação a y:

Logo,

Em que: , obtemos a equação característica:

Sendo e , chegamos a:

126 Capítulo 6
Assim, no regime crítico, o fator cinético e o número de Froude são iguais à uni-

dade .

O escoamento em regime crítico é instável, porque a menor mudança da energia

específica provoca uma sensível alteração da profundidade da água no canal, sendo

assim, a carga cinética é igual à metade da profundidade média. Podemos escrever:

Se o canal for retangular, , a vazão será e a área da seção será

por metro de largura do canal, então a equação será escrita:

- Regime crítico

Igualando as expressões e , temos:

Assim, quando , a expressão anterior se reduz a e e o re-

gime é crítico. Para , temos e o regime é subcrítico (lento). Para

, temos , e o regime é supercrítico (rápido), portanto, o número de

Froude passa a ser o parâmetro adimensional importante na identificação do tipo de

escoamento que está ocorrendo.

Hidráulica 127
Considerando como medida da energia potencial e como carga cinética,

ambas as grandezas referidas à mesma seção, podemos afirmar, tendo em vista as

expressões acima, o seguinte:

- no regime crítico, há equilíbrio entre as energias cinética e potencial;

- no regime subcrítico, a energia potencial é maior do que a cinética;

- no regime supercrítico, há prevalência da energia cinética sobre a potencial.

Outro parâmetro importante a ser analisado é a declividade crítica Ic, este parâ-

metro também pode ser usado como indicador do tipo do escoamento que está se

processando, pela comparação com a declividade de fundo, pois ao analisarmos

a figura 52, vemos que quando, em um canal, o regime de escoamento muda de

supercrítico para subcrítico, ou vice-versa, a profundidade passa pelo valor crítico,

por exemplo, o aumento brusco da declividade de subcrítica para supercrítica (figura

52a) e as entradas dos canais de grandes declividades (figura 52b).

Figura 52 – Entrada de canais de grande declividade

(a) (b)
Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/6616320/#>. Acesso em: 20 jan. 2016.

128 Capítulo 6
Em (a), a profundidade crítica ocorre na mudança de declividade e no (b) ocorre

nas proximidades da entrada do canal.

As seções em que se verificam mudanças de regime denominam-se por seções

de controle, porque definem a profundidade do escoamento a montante. Desde que

sejam conhecidas as dimensões da seção de controle, podemos obter a vazão do

canal por meio da equação . Esta é uma importante característica do regime crítico

aplicada à certa categoria de medidores.

Outro exemplo de ocorrência da profundidade crítica é o da livre (degrau) em

canal de pequena declividade.

Figura 53 – Degrau
Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/6616320/#>. Acessado em: 20 jan.
2016.

Neste caso, como o atrito produz certa diminuição de carga, a profundidade e,

consequentemente, a energia específica, na seção do degrau, são menores do que

na seção imediatamente a montante. Como a profundidade crítica ocorre na seção

de menor energia específica, esta profundidade deve estabelecer-se, na seção do

degrau. Assim, não acontece na realidade, pois, na seção da queda, o escoamento

afasta-se do movimento paralelo.

Hidráulica 129
A mudança do regime de supercrítico para subcrítico pode não se dar de maneira

gradual e contínua como nos casos anteriores, pois a passagem acontece brusca-

mente e com grande turbulência, formando o ressalto hidráulico, assunto que estu-

daremos profundamente na próxima unidade.

Verifica-se a elevação brusca da lâmina líquida, sendo difícil definirmos a posição

da profundidade crítica.

Figura 54 – Ressalto Hidráulico


Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/6616320/#>. Acessado em: 20 jan.
2016.

O ressalto da figura 54a ocorre quando a declividade do fundo do canal passa

de supercrítica a subcrítica, já a figura 54b mostra o ressalto em canal de pequena

declividade, recebendo a descarga de uma comporta de fundo, sendo a velocidade

de saída da água, sob a comporta, maior do que a velocidade crítica.

130 Capítulo 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os canais uniformes e o escoamento uniforme não existem na natureza (con-

dições apenas se aproximam do movimento uniforme). Essas condições de seme-

lhança apenas acontecem a partir de uma certa distância da seção inicial e também

deixam de existir a uma certa distância da seção final (nas extremidades a profundi-

dade e a velocidade são variáveis).

Em canais relativamente curtos, não podem prevalecer as condições de uniformi-

dade. Em coletores de esgotos, concebidos como canais de escoamento uniforme,

ocorrem condições de remanso e ressaltos de água onde o movimento se afasta da

uniformidade. Nos canais com escoamento uniforme, o regime poderá se alterar,

passando a variado em consequência de mudanças de declividade, variação de

seção e obstáculos.

FIQUE POR DENTRO!


Hidráulica: Energia específica, escoamento e dimensionamento. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=apXF9iyGqwo>. Acesso em: jan. 2016.

REFLITA!
Como causar o regime supercrítico?

INDICAÇÃO DE LEITURA
SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e

Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.

Hidráulica 131
Anotações
Capítulo

7 ressalto
Hidráulico
Natália Michelan

inTrODUçãO
O ressalto hidráulico é um dos fenômenos importantes no campo da hidráulica, pos-

sui uma gama bastante ampla de aplicações sendo a principal delas sua utilização

como um dissipador de energia. Além dessa aplicação, é ainda utilizado em medido-

res de vazão tipo calha, na melhoria da mistura de produtos químicos no tratamento

de águas e esgotos, para intensifi car a mistura de gases em processos químicos, na

aeração de escoamentos poluídos com produtos biodegradáveis etc.

Como estudamos na unidade anterior sobre escoamentos críticos, o ressalto hidráu-

lico baseia-se na nesta análise, ou seja, ocorre o forçamento de mudança do escoa-

mento supercrítico a se tornar subcrítico numa seção a jusante. Esta transição pode

ser forçada pela existência de vertedores, obstáculos, transições de inclinações de

fundo etc. A mudança brusca de profundidade que normalmente ocorre é acompa-

nhada de uma considerável perda de energia.

Hidráulica 133
Objetivos de aprendizagem
• Compreender a definição de ressalto hidráulico.

• Compreender a relação com o número de Froude e seu


dimensionamento.

• Compreender os diferentes tipos de ressalto hidráulico.

ESQUEMA
• Ressalto hidráulico

• Número de Froude e os tipos de ressalto hidráulico

• Alturas conjugadas do ressalto hidráulico

• Altura e comprimento do ressalto hidráulico

• Ressalto hidráulico em canais com inclinação acentuada

• Formas de controlar o ressalto hidráulico

134 Capítulo 7
RESSALTO HIDRÁULICO
O ressalto hidráulico é um fenômeno que ocorre na transição de um escoamento

torrencial ou supercrítico para um escoamento fluvial ou regime subcrítico. Este fe-

nômeno é caracterizado pela elevação acentuada no nível da água em uma reduzida

distância, com elevada turbulência e grande perda de energia.

- Número de Froude e os tipos de ressalto hidráulico

Sendo o ressalto hidráulico um fenômeno que ocorre em superfície livre, o efeito

das forças gravitacionais é importante e, desta maneira, o escoamento pode ser

caracterizado principalmente pelo número de Froude.

O número de Froude representa a relação adimensional entre esforços inerciais

e gravitacionais:

Em que: V é a velocidade média do escoamento; c é a celeridade da onda de

gravidade (função da altura do escoamento).

Existem essencialmente cinco formas de ressalto que podem ocorrer em canais

de fundo horizontal. Cada uma destas formas foi classificada de acordo com o valor

do número de Froude, relativo ao regime supercrítico da corrente afluente.

O número de Froude na seção de entrada do ressalto (Fr1) é geralmente utilizado

na caracterização do escoamento. Nesta seção, ele é sempre maior que a unidade

Hidráulica 135
(Fr1>1), pois trata-se de um escoamento supercrítico. Se o número de Froude for

menor que a unidade (Fr1<1), o escoamento será subcrítico, ou ainda se o número

de Froude for igual a unidade (Fr1=1) o escoamento é classificado como crítico, ou

seja, não há formação de ressalto hidráulico.

Assim temos que:

- Para números de Froude entre 1,2 e 1,7, teremos um ressalto ondulado, onde

a profundidade do fluxo de entrada está pouco abaixo da altura crítica, e a transição

entre altura rápida e lenta é gradual, manifestando-se apenas como uma superfície

agitada. Quando próximo do limite, pequenos rolos aparecem sobre a superfície, tor-

nando-se mais intensos com o aumento do número. Não se considera o fenômeno

como ressalto propriamente dito, mas sim a formação de ondas que se propagam

para jusante. Apresenta dissipação de energia muito pequena, o ressalto não é em-

pregado como dissipador.

Figura 55 – Ressalto ondulado


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

136 Capítulo 7
- Para números de Froude entre 1,7 e 2,5, o pré-ressalto ou ressalto fraco, mes-

mo com o aparecimento do rolo, a superfície d’água mantém-se relativamente sua-

ve. A velocidade é relativamente uniforme e a dissipação de energia é baixa. Assim,

não se considera como ressalto propriamente dito, pois pouca energia é dissipada.

Uma série de pequenos vórtices é formada sob a superfície livre na região do res-

salto, e a região a jusante do ressalto permanece aproximadamente uniforme e lisa.

Figura 56 – Pré-ressalto
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Para números de Froude entre 2,5 e 4,5, o escoamento toma forma de um

ressalto oscilante. O jato de entrada age de forma intermitente, oscilando entre a su-

perfície e o fundo do canal, sem uma periodicidade definida. Essa forma de ressalto

gera ondas que se propagam muito além do fim da bacia de dissipação. O ressalto

é considerado de transição, pois não se desenvolve plenamente. Nesta faixa, o res-

salto tem a tendência de se deslocar para jusante, não guardando posição junto à

fonte geradora. O ressalto apresenta uma superfície livre com ondulações e ocorre

a formação de ondas que podem se propagar para jusante sobre longas distâncias.

Hidráulica 137
Figura 57 – Ressalto oscilante
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Para números de Froude entre 4,5 e 10, o ressalto estável é bem controlado

(menor sensibilidade aos níveis a montante), mantendo maior parte da turbulência

dentro de si, sendo a superfície d’água a jusante relativamente calma. Dentro dessa

faixa, ocorrem os ressaltos com a melhor performance, com taxas de dissipação

entre 45% e 70% da energia total a montante do ressalto ao longo de sua extensão.

Figura 58 – Ressalto estável


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Para números de Froude acima de 10, o ressalto nesta faixa é designado forte,

em que a superfície d’água torna-se bastante agitada, com a turbulência tornando-se

138 Capítulo 7
gradualmente mais ativa, gerando fortes ondas a jusante do ressalto. As taxas de

dissipação podem atingir 85%. Assim, o ressalto não se apresenta como dissipador

de energia porque há o risco de ocorrência de erosões significativas em função da

elevada turbulência.

Figura 59 – Ressalto forte


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Devemos observar que os intervalos do número de Froude mencionados não cons-

tituem limites rígidos e, por isto, conforme as condições locais, podem ser excedidos.

- Alturas conjugadas do ressalto hidráulico

O ressalto hidráulico, em trecho horizontal de canal de seção retangular, é o mais

comumente usado. As alturas conjugadas são as dimensões que caracterizam mais

fundamentalmente o ressalto hidráulico, sendo respectivamente, altura de lâmina

de água mais a montante (y1, altura conjugada rápida) e a altura de lâmina d’água a

jusante (y2, altura conjugada lenta) do ressalto. Apesar do ressalto hidráulico ser um

fenômeno dinâmico, é possível determinar de forma simplificada estas dimensões

em termos de valores médios.

Hidráulica 139
Figura 60 – Ressalto hidráulico
Fonte: Disponível em: < http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgNG8AL/hidraulica2-hidr-uli-
ca-ii-aula-12-ressalto-hidr-ulico>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Consideremos certa massa de água que se desloca no ressalto, em certo in-

tervalo de tempo, a massa de água considerada passará a outra posição adiante,

assim haverá um aumento da seção molhada e, consequentemente, diminuição da

velocidade, pois trata-se de movimento permanente. Isto equivale a dizer que houve

diminuição da quantidade de movimento da massa líquida em questão.

Assim, podemos determinar as alturas conjugadas através da equação de con-

servação da quantidade de movimento entre as seções de entrada e saída conside-

radas do ressalto:

140 Capítulo 7
Resolvendo em relação a y1 e y2, temos:

As duas últimas equações podem ser transformadas introduzindo nelas o número

de Froude e o coeficiente cinético de escoamento, e, posteriormente, a partir das

suposições de pressão hidrostática, distribuição de velocidades uniformes, seção do

canal retangular, fundo horizontal plano, escoamento permanente e desprezando-se

a tensão de cisalhamento junto ao fundo do canal, chegamos à equação da relação

entre as alturas conjugadas:

A perda de energia no ressalto pode então ser calculada por meio da equação da

conservação da energia. Assim obtemos:

Hidráulica 141
Simplificada:

A eficiência do ressalto como dissipador é definida como:

- Altura e comprimento do ressalto hidráulico

Considerando-se em um canal retangular, a altura do ressalto hidráulico pode ser

definida por:

O comprimento do ressalto é difícil de ser medido, em virtude das incertezas

que cercam a exata fixação de suas seções inicial e final. Porém, é um parâmetro

importante de projeto, pois ele afeta o tamanho da bacia de dissipação onde ocorre

o ressalto.

A seção de fim do ressalto pode ser definida como a seção onde a superfície livre

é essencialmente horizontal, a turbulência de superfície é largamente diminuída, o

escoamento é completamente desaerado e as condições de escoamento gradual-

mente variadas reaparecem.

142 Capítulo 7
Vários autores estabeleceram fórmulas para determinar o comprimento, entre as

quais citamos as mais simples:

Experimentalmente foi mostrado que o comprimento normalizado é uma função

do número de Froude na seção a montante do ressalto. Para Fr > 5, este comprimen-

to é quase constante e da ordem de 6,1. Dados experimentais mostram que uma boa

aproximação é, portanto:

- Ressalto hidráulico em canais com inclinação acentuada

Quando o ressalto ocorre em um canal com inclinação acentuada, deve-se con-

siderar o componente da força peso na direção do escoamento além do cos ϴ no

cálculo das pressões estáticas. Voltando à equação (1), e calculando o peso do

líquido no ressalto como sendo:

Em que: K é um coeficiente que leva em consideração a curvatura do ressalto e

o terno em cos ϴ.

Hidráulica 143
Figura 61 – Ressalto em canal com inclinação acentuada
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Obtém-se assim:

Esta equação só pode ser resolvida se o termo (K Lj) for conhecido, o que normal-

mente só se consegue através de medidas experimentais.

Os resultados de estudos experimentais permitiram determinar que a profundida-

de alcançada após o ressalto em um canal com grande inclinação pode ser relacio-

nada àquela para canais com inclinação suave através da expressão:

Em que: a função é mostrada na figura a seguir:

144 Capítulo 7
Figura 62 – Função
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_
HIDR%C1ULICO.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

O comprimento do ressalto também foi relacionado à inclinação do canal, sendo

que, na faixa 4,5 ≤ F1 ≤ 13, ele pode ser aproximado por:

Após a determinação das profundidades a montante e a jusante do ressalto, a

perda de energia pode ser calculada através de:

Hidráulica 145
- Formas de controlar o ressalto hidráulico

Os escoamentos supercríticos podem conter energia excessiva, sendo necessá-

rio dispor meios para dissipá-la, evitando danos não previstos.

O fluido, acima de determinadas velocidades, provoca um desgaste rápido das es-

truturas através da abrasão, erosão e impacto. Essas forças hidrodinâmicas aparecem

nos descarregadores de grandes estruturas como barragens, adutoras, drenagem etc.

Há várias estruturas que dissipam energia, mas a escolha se dá em função de

uma série de fatores de projeto, principalmente custo e eficiência, podendo-se desta-

car: desnível; vazão específica; características geológicas; números de Froude; rela-

ção entre a curva da altura conjugada do ressalto e a curva chave do rio ou conduto.

Para dissipar a energia, os tipos mais frequentes de estruturas são: bacias de

dissipação devido ao ressalto hidráulico, bacias de dissipação devido ao rolo, bacias

de dissipação devido ao impacto e macrorrugosidades.

Podemos elencar algumas, como anteparos e/ou soleira espessa, a elevação ou

rebaixamento do fundo, blocos, bacias de dissipação e vertedores.

Considerações Finais
O engenheiro deve sempre ter a preocupação de saber onde irá ocorrer essa dis-

sipação de energia. Por exemplo, em vertedores de usinas hidrelétricas, é desejável

se reduzir a energia do escoamento de água que está sendo devolvida ao rio, para

diminuir os danos ao leito deste rio. Porém, esta dissipação não pode ocorrer junto à

descarga da barragem, pois existirá o risco de danos a sua estrutura.

146 Capítulo 7
Desta forma, devem ser projetadas bacias de dissipação para este fim. No proje-

to de canais para transporte em regime supercrítico, o engenheiro deve estar atento

para se evitar que o escoamento se torne subcrítico prematuramente, pois isso pode

causar a degradação das paredes do canal. Em escoamento em canais formados

por tubos, como ocorre em redes de esgoto e águas pluviais, a ocorrência de ressal-

to pode tornar o escoamento livre em um escoamento forçado, causando a diminui-

ção do fluxo e consequente alagamento a montante.

FIQUE POR DENTRO!


Hydraulic jump, low head dam installation, and coarse sediment transport. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=AE771AdF5dM>. Acesso em: jan. 2016.

REFLITA!
No ressalto hidráulico, o acúmulo de sedimentos poderia interferir no escoamento da água
no canal?

INDICAÇÃO DE LEITURA
PORTO, Rodrigo De Melo.  Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,

2006. 520 p.

Hidráulica 147
Anotações
Capítulo

8
Escoamento permanente
gradualmente variado
em canais
Natália Michelan

inTrODUçãO
Um escoamento é defi nido como gradualmente variado quando os seus parâmetros

hidráulicos variam progressivamente ao longo da corrente. Quando as características

variam bruscamente, diz-se que o escoamento é bruscamente variado, é o que acon-

tece nos ressaltos hidráulicos, visto na unidade anterior. Como exemplos, podem ser

citados a elevação do nível a montante de barragens e vertedores, e o escoamento

produzido por um aumento súbito da inclinação do canal, com isso, forma-se uma

nova linha d’água originada a montante da barragem. Dependendo da característica

do canal, da vazão e das condições de extremidades, a diferença da elevação pode

ser positiva ou negativa, fi cando a curva abaixo ou acima do nível normal.

De maneira geral, o escoamento permanente gradualmente variado em canais se

estende a distâncias consideráveis da singularidade que lhe deu origem, fato com-

provado pelo escoamento bruscamente variado que se manifesta em trecho curto

do canal.

Hidráulica 149
Objetivos de aprendizagem
• Compreender a definição de escoamento permanente gradualmente
variado em canais.

• Compreender a equação diferencial para o escoamento permanente


gradualmente variado em canais.

• Compreender sobre os diferentes perfis das superfícies líquidas dos


canais.

• Compreender no que consiste uma seção de controle.

• Compreender sobre os cálculos utilizados para o escoamento


permanente gradualmente variados

esquema
• Escoamento permanente gradualmente variado em canais

• Equação diferencial do escoamento permanente gradualmente variado


em canais Classificação dos perfis das superfícies líquidas Seções de
controle Cálculo de escoamentos permanente gradualmente variados.

150 Capítulo 5
ESCOAMENTO PERMANENTE GRADUALMENTE VARIADO EM CANAIS
Um escoamento de regime permanente gradualmente variado em um canal é

aquele em que a elevação da superfície da água varia de forma suave e contínua

ao longo do canal.

Este tipo de escoamento resulta geralmente das mudanças na geometria do ca-

nal, como a alteração do declive, a mudança na forma da seção reta e a ocorrência

de obstrução.

Podemos observar na figura 63, um perfil onde são mostrados vários tipos de

escoamento. Assim, o curso de água no canal tem escoamento uniforme no início e

está representado pelas letras UF. Antes de chegar à queda livre, tem-se escoamen-

to uniforme gradualmente variado, representado pelas letras GVF. Após a queda,

tem-se um ressalto hidráulico representado pelas letras RVF. Depois volta a ter es-

coamento uniforme gradualmente variado (GVF), e novamente torna-se escoamento

uniforme (UF).

Figura 63 – Escoamento uniforme gradualmente variado em queda livre, seguido por ressal-
to hidráulico e escoamento uniforme gradualmente variado
Fonte: Disponível em: < https://civilsemestre5.files.wordpress.com/2014/06/escoamento-per-
manente-gradualmente-variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Hidráulica 151
O escoamento é gradualmente variado quando as profundidades variam gradual

e lentamente ao longo do canal, assim, as grandezas referentes ao escoamento

em cada seção não se modificam com o tempo, e em se tratando das distribuições

de pressões são consideradas hidrostáticas. As fórmulas do escoamento uniforme

podem ser aplicadas com aproximação satisfatória.

O escoamento gradualmente variado pode ser acelerado (figura 64a) nos trechos

iniciais dos condutos com seção constante e depois uniforme, ou podem ser retarda-

dos (figura 64b) a montante de obstáculos que se opõem ao escoamento.

(a)

(b)
Figura 64 – Escoamento gradualmente variados em canais
Fonte: Adaptado de: <https://civilsemestre5.files.wordpress.com/2014/06/escoamento-per-
manente-gradualmente-variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

152 Capítulo 8
No movimento uniforme gradualmente variado, a altura y e a velocidade V variam

muito vagarosamente, e a superfície livre é considerada estável. Sendo assim, o gra-

diente hidráulico é variável obrigando a sua determinação ao longo do escoamento:

Q1 = Q2; V1 ≠ V2; y1 ≠ y2.

A construção de uma barragem em um canal de fraca declividade provoca uma

sobre-elevação do nível d’água que pode ser sentida a quilômetros da barragem, a

montante, surgindo uma nova linha d’água, que é chamada de curva de remanso.

Sendo y a altura d’água em uma seção qualquer de um escoamento variado e y0,

a altura d’água no escoamento uniforme, a diferença y-y0 é chamada de remanso.

Pode-se exemplificar a importância de se conhecer e saber calcular a curva de

remanso criada por um barramento, ou seja, a elevação do nível d’água ocasionada

por uma barragem irá provocar a inundação de terrenos ribeirinhos que deverão ser

desapropriados pela companhia executora ou proprietária da obra.

Como a velocidade varia ao longo do canal e consequentemente as inclinações

do fundo do canal, da superfície da água e da linha de energia não terão mais o

mesmo valor como no escoamento uniforme. O tipo de análise mostrada adiante não

é adequado quando se têm curvaturas acentuadas.

- Equação diferencial do escoamento permanente gradualmente variado em

canais

As duas hipóteses básicas envolvidas na análise de escoamentos gradualmente

variados são a distribuição de pressão em qualquer seção, que é assumida como

Hidráulica 153
sendo hidrostática, e a resistência ao escoamento em qualquer profundidade, isto

é, a inclinação da linha de energia é dada pela equação para regime uniforme (por

exemplo, equação de Manning), que é dada por:

Considerando o esquema seguinte (figura 65), a aplicação da equação da con-

servação da energia no volume de controle indicado resultará em:

Figura 65 – Elementos do escoamento gradualmente variado


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Em que: são as perdas entre a seção de entrada e saída do canal

154 Capítulo 8
Expandindo o termo de energia cinética do segundo membro da equação descon-

siderando os termos de menor ordem, e lembrando que com e

que sendo a inclinação da linha de energia no intervalo , obtém-se:

Ou:

Pode-se ainda escrever esta equação em termos da energia específica. Da defi-

nição de energia específica tem-se:

Como a velocidade no canal não é constante, é mais vantajoso se utilizar a vazão

como parâmetro da equação.

Assim, o termo de energia cinética terá a forma:

Como , temos:

Hidráulica 155
Voltando à equação da conservação da energia:

- Classificação dos perfis das superfícies líquidas

O objetivo principal do estudo dos canais que funcionam em regime permanente

gradualmente variado consiste em determinar a forma do perfil da superfície líquida.

Em um dado canal, quando se têm Q, n e So fixados, pode-se calcular dois parâ-

metros que serão utilizados para caracterizar o canal. O primeiro destes parâmetros

é a profundidade normal, ou seja, a profundidade que existiria no canal se o escoa-

mento fosse uniforme. Esta profundidade pode ser calculada utilizando-se a fórmula

de Manning. O segundo parâmetro é a profundidade crítica, ou seja, a profundidade

do escoamento uniforme se o escoamento estivesse na condição crítica. Esta pro-

fundidade pode ser calculada através de:

Com esta profundidade crítica e a fórmula de Manning, pode-se então determinar

a inclinação crítica do canal, que seria a inclinação que o canal deveria ter para que,

com a vazão e o coeficiente de rugosidade dados, o escoamento uniforme fosse um

escoamento crítico. Desta forma:

156 Capítulo 8
Assim, os canais podem então ser classificados de acordo com a tabela 8.

Tabela 8 – Classificação dos escoamentos


Categoria Símbolo Característica Comentários

Inclinação Fraca M yn > yc Escoamento subcrítico com profundidade normal

Inclinação Forte S yn < yc Escoamento supercrítico com profundidade normal

Inclinação Crítica C yn = yc Escoamento crítico com profundidade normal

Leito Horizontal H So = 0 Não pode existir escoamento uniforme

Inclinação Adversa A So < 0 Não pode existir escoamento uniforme

Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20

Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

De acordo com a categoria do canal e a região de escoamento, os perfis da su-

perfície da água terão formas características. O aumento ou diminuição da profundi-

dade da água na direção de escoamento dependerá do sinal, positivo ou negativo,

do termo na equação da conservação da energia.

Os vários escoamentos gradualmente variados possíveis estão mostrados na

tabela 9, onde são esquematizadas as linhas de superfície da água de acordo com

o tipo de canal (com declividade fraca, forte, crítica, horizontal ou adversa), e tipo de

escoamento (subcrítico, crítico ou supercrítico). Por exemplo, se tivermos um canal

com declividade fraca, se em determinado ponto do escoamento for subcrítico com

Hidráulica 157
profundidade maior que yn, a superfície da água terá um perfil M1. Se o escoamento

for subcrítico, porém com profundidade menor que yn, ter-se-á um perfil do tipo M2

onde o escoamento acelera até as condições críticas. Se o escoamento for super-

crítico, a superfície livre terá a forma M3, onde o escoamento tende a alcançar a

profundidade crítica.

Tabela 9 – Perfis das superfícies dos escoamentos gradualmente variados


Tipo de Declividade da
Perfis das superfícies Profundidade Escoamento
curva superfície

Inclinação suave, So < Sc

M1 y > yn > yc Subcrítico Positiva


M2 yn > y > yc Subcrítico Negativa
M3 yn > yc > y Supercrítico Positiva

Inclinação forte, So > Sc

S1 y > yc > yn Subcrítico Positiva


S2 yc > y > yn Supercrítico Negativa
S3 yc > yn > y Supercrítico Positiva

Inclinação crítica, So = Sc

C1 y > yc = yn Subcrítico Positiva


C3 y < yc = yn Supercrítico Positiva

158 Capítulo 8
Inclinação horizontal, So = 0

H2 y > yc Subcrítico Negativa


H3 y < yc Supercrítico Positiva

Inclinação adversa, So < 0

A2 y > yc Subcrítico Negativa


A3 y < yc Supercrítico Positiva

Fonte: Adaptado de : <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20Gradualmente%20

Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

As propriedades das curvas de remanso podem ser descritas como segue:

- Perfis das curvas tipo M (“mild”, inclinação suave)

O perfil mais comum é o perfil M1 (figura 66), que é uma condição de escoamento

subcrítico. Podem ser resultado de obstruções ao fluxo causadas por vertedores,

barragens estruturas de controle etc. Normalmente se estendem por vários quilôme-

tros a montante antes de atingir a profundidade normal.

Hidráulica 159
Figura 66 – Perfil do tipo M1
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Perfis do tipo M2 (figura 67) ocorrem em quedas súbitas no leito do canal, em tran-

sições com reduções de largura e em saída de canais para um grande reservatório.

Figura 67 – Perfil do tipo M2


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

160 Capítulo 8
Quando um escoamento supercrítico entra em um canal com inclinação fraca,

ocorrerá o perfil M3. Um exemplo deste perfil está mostrado na figura 68, na qual se

tem o escoamento na saída de uma comporta para um canal com inclinação fraca.

A curva M3 normalmente é seguida por um escoamento rapidamente variado e nor-

malmente se tem um ressalto hidráulico a jusante.

Figura 68 – Perfil do tipo M3


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Perfis das curvas tipo S (“steep”, inclinação forte)

O perfil S1 (figura 69) é produzido quando o escoamento em um canal com de-

clividade forte termina em uma região de estagnação profunda criada por uma obs-

trução, tais como um vertedor ou uma barragem. No início da curva, o escoamento

variou entre um escoamento uniforme supercrítico para um escoamento subcrítico

através de um ressalto hidráulico.

Hidráulica 161
Figura 69 – Perfil do tipo S1
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Os perfis do tipo S2 (figura 70) ocorrem na região de entrada de canais com in-

clinação forte ligados a um reservatório. Vão aparecer também quando se tem uma

variação na inclinação do canal, desde que a inclinação seja suave a montante e

forte a jusante. São perfis normalmente de comprimento pequeno.

Figura 70 – Perfil do tipo S2


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

162 Capítulo 8
Curvas com perfis S3 (figura 71) acontecem em comportas com canal de saída

com inclinação forte e quando a inclinação do fundo do canal passa de um valor mais

acentuado para um valor menos acentuado, porém as duas inclinações são fortes.

Figura 71 – Perfil do tipo S3


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Hidráulica 163
- Perfis das curvas tipo C (“critical”, inclinação crítica)

Os perfis do tipo C1 e C3 são muito raros e altamente instáveis.

- Perfis das curvas tipo H (Inclinação horizontal)

Os perfis H2 e H3 (figura 72) são similares aos perfis M2 e M3, uma vez que o leito

horizontal é o limite inferior de um canal com inclinação fraca. A diferença básica é

que o perfil H2 tende a uma assimptota horizontal e obviamente não existe um esco-

amento uniforme neste tipo de canal.

Figura 72 – Perfil do tipo H


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Perfis das curvas tipo A (“adverse”, inclinação adversa)

Inclinações adversas são raras e as curvas A2 e A3 (figura 73) são similares àque-

las dos perfis do tipo H, e estes perfis são muito curtos.

164 Capítulo 8
Figura 73 – Perfil para canais com inclinação adversa
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

- Seções de controle

Uma seção de controle é definida como sendo aquela em que existe uma relação

conhecida entre a profundidade e a vazão de um canal. Vertedores e comportas são

exemplos típicos de estruturas que determinam seções de controle. Qualquer esco-

amento gradualmente variado terá no mínimo uma seção de controle.

Alguns tipos de seção de controle estão mostrados na figura 74. Deve-se notar

que escoamentos subcríticos possuem seções de controle a jusante enquanto que

nos escoamentos supercríticos as seções de controle se encontram a montante.

Hidráulica 165
Figura 74 – Seções de controle em escoamentos gradualmente variados
Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

Ao analisarmos a figura 74, podemos perceber que que, nos casos (a) e (b), as

seções de controle das curvas M1 são aquelas a montante do vertedor e da comporta.

166 Capítulo 8
Nos casos (b) e (d), o controle das curvas M3 e S3 está nas veias contraídas. No caso

(c), para o escoamento subcrítico, apesar da vazão ser controlada pelo nível do reser-

vatório, a entrada do canal não é uma seção de controle, porque a profundidade na

entrada do canal será menor que a altura do reservatório devido às perdas na entrada.

A verdadeira seção de controle estará a jusante e será a condição de escoamento

crítico na queda. Quando se tem uma queda brusca, devido à curvatura das linhas de

corrente, a profundidade crítica ocorrerá não na queda, mas aproximadamente a uma

distância aproximada de 4 yc a montante da queda. Como este valor normalmente é

pequeno, costuma-se adotar que o escoamento crítico ocorra na queda.

Por outro lado, para um reservatório descarregando em um canal com inclinação

forte, a seção de controle fica na entrada do canal (caso e), e nesta seção se terá

escoamento crítico.

Para um canal com inclinação suave (caso f), descarregando em um reservatório

grande com nível variável, temos quatro situações a serem destacadas:

- na situação 1, o nível da superfície é maior que yn, e isso causa um afogamento

do canal produzindo uma curva do tipo M1 com seção de controle em B;

- na situação 2, o nível é menor que yn e maior que yc, e a superfície passa a se-

guir uma curva do tipo M2 com seção de controle no nível do reservatório;

- na situação 3, o nível do reservatório é yc, e o controle continua sendo este nível;

- na situação 4, o nível do reservatório está abaixo de yc e, como a superfície da

água não pode estar em uma profundidade inferior a yc, o controle será a profundida-

de yc na saída do canal e ocorrerá uma queda hidráulica no final do canal.

Hidráulica 167
- Cálculo de escoamentos permanente gradualmente variados

Quase todas as aplicações em engenharia hidráulica, em se tratando de escoa-

mentos com superfícies livres, envolvem perfis gradualmente variados. Problemas

típicos sobre este assunto envolvem determinação do efeito da colocação de estru-

turas que interferem no escoamento do fluido, cálculo de área de inundação devido

à construção de barragens e vertedores, estimativa de área de alagamento pelo

aumento do nível do escoamento por aumento de vazão etc.

A determinação do perfil da superfície livre do escoamento depende da integra-

ção da equação da conservação da energia no canal. Como já mostrado anterior-

mente, esta equação pode ser escrita de várias formas, sendo as mais comuns as

mostradas a seguir.

Ou,

A integração desta equação pode ser realizada por integração direta, por técnicas

de integração numérica e por métodos gráficos.

A integração direta não é simples, pois se trata de uma equação diferencial

ordinária não linear de primeira ordem, e pode ser realizada somente quando se

168 Capítulo 8
consideram condições bastante restritas. Na literatura, existem algumas soluções

em forma de tabelas para canais com geometria retangular, trapezoidal e circular.

Estas soluções, entretanto, não serão apresentadas neste texto.

A integração gráfica foi muito popular numa época em que os recursos computa-

cionais eram bastante limitados. Desta forma, existem um grande número de méto-

dos, cada qual com suas vantagens e desvantagens, porém que estão francamente

em desuso.

As soluções numéricas são as mais utilizadas atualmente. O número de métodos

de integração é bastante grande e esta equação pode ser resolvida utilizando a

maioria dos métodos para a solução dos chamados problemas de valor inicial.

-“Direct-Step Method”

Alguns métodos mais simples podem ser utilizados para se obterem estimativas

da forma da superfície, manualmente ou através do uso de planilhas eletrônicas.

Vamos delinear a seguir um dos métodos mais simples, que é o método chamado

de “Direct-Step Method”.

Este método é o método mais simples e é adequado para o cálculo do escoamen-

to em canais prismáticos. Considere a equação:

Esta equação pode ser escrita na forma de diferenças finitas como:

Hidráulica 169
Em que: é o valor médio da inclinação da linha de energia no intervalo .

Assim, a distância para se ter uma variação na energia específica de um valor

será:

ou

Tomando como base o escoamento esquematizado na figura 75, divide-se o ca-

nal em N partes em que se consideram conhecidas as profundidades e se determina

a distância entre estas seções.

Figura 75 – Esquema para aplicação do método numérico


Fonte: Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20
Gradualmente%20Variado.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2016.

170 Capítulo 8
Assim:

E,

Com estas três equações, é possível se determinar, de maneira sequencial, a

partir de uma profundidade conhecida (por exemplo, um ponto de controle), o perfil

aproximado da superfície da água.

-“Standard-Step Method”

Outro método bastante utilizado em escoamentos em canais é o chamado

“Standard-Step Method”. Neste método, a variável fixada é o valor da distância x.

A equação da conservação da energia na forma discretizada pode ser escrita na

forma:

Em que: se refere a um valor médio no intervalo . O procedi-

mento de cálculo segue os seguintes passos:

1. Assume-se um valor para a profundidade y na seção de cálculo.

2. Calcula-se a energia específica correspondente.

Hidráulica 171
3. Calcula-se o valor de S.

4. Calcula-se a energia específica utilizando a equação discretizada com o valor

de adotado.

5. Comparam-se os valores da energia específica calculados nos passos 2 e 4.

6. O processo deve ser repetido até que se encontre um valor de profundidade

para qual estes dois valores sejam aproximadamente iguais dentro de um

critério de convergência estabelecido.

7. Os passos de 1 a 6 são realizados para cada seção

Este método pode ser também aplicado a canais naturais. Os escoamentos nes-

tes tipos de canais são mais complexos devido a vários fatores, pois as vazões

são geralmente mais variáveis e difíceis de se quantificar, o valor do coeficiente de

Manning é muito mais difícil de se obter e menos preciso, as formas das seções

transversais variam de seção para seção, e também estas formas são conhecidas

em somente algumas posições. Comercialmente estão disponíveis vários progra-

mas computacionais baseados em diversos modelos matemáticos, aplicados aos

casos de escoamento permanente gradualmente variado em canais.

172 Capítulo 8
Considerações Finais
Encerramos nosso estudo de Hidráulica com o escoamento permanente gradu-

almente variado em canais, em que as profundidades variam, gradual e lentamente,

ao longo de uma canal. Fazendo uma analogia com o processo de aprendizagem,

espero que tenha atingido as profundezas no que tange à hidráulica e que os co-

nhecimentos obtidos acerca dela façam diferença em sua vida gradual e lentamente.

FIQUE POR DENTRO!


Introdução ao escoamento gradualmente variado (EGV). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=5ztIN0Vse6U>. Acesso em: jan. 2016.

REFLITA!
O escoamento gradualmente variado é uniforme e variável?

INDICAÇÃO DE LEITURA
PORTO, Rodrigo De Melo.  Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,

2006. 520 p.

Hidráulica 173
Anotações
CONCLUSÃO
Algumas das principais atribuições da Hidráulica é o planejamento e a execução

de obras ligadas aos diversos usos dos recursos hídricos, atendendo às necessi-

dades básicas da população e possibilitando melhorias na saúde pública e também

nas atividades econômicas, e o conhecimento a respeito desse assunto faz parte da

formação básica do Engenheiro Civil.

Devemos nos atentar ao fato de que a Hidráulica pode ser dividida em teoria e prá-

tica. A Hidráulica teórica também é conhecida na física como Mecânica dos Fluidos,

e a Hidráulica Prática ou Hidráulica Aplicada é, normalmente, também intitulada de

Hidrotécnica. Dentre as aplicações da Hidráulica, destacam-se as máquinas hidráu-

licas (bombas), as grandes obras de saneamento, obras hidráulicas fluviais ou marí-

timas, as construções de usinas hidrelétricas, diques, quebra-mares, portos, vias na-

vegáveis, emissários submarinos, estações de tratamento de água e de esgotos etc.

Assim, nos dedicamos aqui a estudar o comportamento dos líquidos em movi-

mento, ou seja, os conhecimentos das leis que regem o transporte, a conversão de

energia, a regulagem e o controle do fluido agindo sobre suas variáveis.

Pesquisas têm mostrado que a hidráulica vem se destacando e ganhando cada

vez mais espaço. O engenheiro civil, na área da construção civil, planeja o sistema

de abastecimento de água e o de esgoto dos prédios, determinando os materiais

mais adequados, como encanamentos e tubulações.

Espero que este material tenha servido de apoio na construção do seu conhecimento

acerca das duas especialidades da hidráulica, por meio de textos que abrangeram os prin-

cipais assuntos enfocados nas diversas estruturas curriculares das escolas de engenharia.

Hidráulica 175
Refêrencias
1. ALVES, Alexandre Augusto Mees. Caracterização das solicitações hidrodi-
nâmicas em bacias de dissipação por ressalto hidráulico com baixo nú-
mero de Froude. 2008. 157 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Recursos
Hídricos e Saneamento Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2008.

2. ASSUMPÇÃO, Alexandre Hastenreiter.  Modelagem em regime permanen-


te de escoamento em dutos com abertura de coluna líquida. 2009. 126
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências em Engenharia Mecânica,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

3. CARVALHO, Daniel Fonseca de; SILVA, Leonardo Duarte Batista Da.


Fundamentos de hidráulica. 1. ed. Rio de Janeiro: Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, 2008. 48 p.

4. DANIELLE SANTOS. Condutos equivalentes. Disponível em: <https://www.


passeidireto.com/arquivo/17730288/aula-3---condutos-equivalentes>. Acesso
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5. DEZOTTI, Mateus Caetano. Notas de aula: Redes de distribuição de águas.


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6. EDUARDO LOUREIRO. Mecânica dos fluidos. Disponível em: <http://edulou-


reiro.com.br/index_arquivos/mfaula10.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.

7. FERNANDES, Felipe Moysés; SOUSA, Renato Lourenço Rodrigues;


GONÇALVES, Thiago dos Santos. Hidrometria – condutos livres – vertedores
– comportas. 1. ed. Catalão-GO: Universidade Federal de Goiás, 2013. 39 p.
Refêrencias
8. FERREIRA, Dario Magno Batista. Apostila: noções de hidráulica. 1. ed. Vitória:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, 2016.
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9. GUEDES, Hugo Alexandre Soares. Hidráulica. 1. ed. Pelotas: Universidade


Federal de Pelotas, 2005. 230 p.

10. LUNARDELLI, Márcio. Hidráulica. Marília: Universidade de Marília, 2016. 54


p.

11. MACINTYRE, Archibald Joseph. Bombas e instalações de bombeamento. 2.


ed. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos editora S.A., 1997. 782 p.

12. NETTO, José Martiniano de Azevedo. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São
Paulo: Edgard Blücher LTDA., 1998. 670 p.

13. PICOLO, Ana Paula; RÜHLER, Alexandre J.; RAMPINELLI, Giuliano Arns. Uma
abordagem sobre a energia eólica como alternativa de ensino de tópicos de
física clássica. Revista Brasileira de Ensino de Física, [S.L], v. 36, n. 4, p.
4603-4603, out. 2014.

14. PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP,
2006. 520 p.

15. SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos
e Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.

16. VASCONCELOS, Maria Madalena V. Moreira. Hidráulica geral. 1. ed. Évora:


Universidade de Évora, 2004. 103 p.

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