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Fato ou fraude?

Os Protocolos dos Sábios de Sião

Goran Larsson
Tradução de Mary Schultze

Fonte: http://www.cpr.org.br/fato-ou-fraude.htm

Conteúdo:
Prefácio

Introdução

Capítulo 1 - As Raízes de uma Mentira

Capítulo 2 - Os Frutos de uma Mentira

Capítulo 3 - A Sobrevivência de Uma Mentira

Capítulo 4 - A Lição

Referências Bibliográficas

Bibliografia e Sugestões para Leitura


Prefácio
Os Protocolos dos Sábios de Sião são um exemplo perfeito
do princípio de que se você repete muitas vezes uma mentira,
não importa quão flagrante e ridícula seja ela, começará a ser
aceita como verdade. Quantas vezes em contextos muito
diversos e em várias línguas, as mentiras de Os Protocolos têm
sido repetidas? O Dr. Larsson explica que somente a Bíblia
excede Os Protocolos em número de impressões, neste século.

Deve haver poucos Judeus no mundo que não estejam bem


cientes do impacto maligno desta fraude. Para minha surpresa,
não tenho encontrado esta mesma verdade entre os Cristãos.
Esta é a razão que nos leva a publicar este livro “Fato ou
Fraude?” Hoje o Anti-semitismo está crescendo novamente no
mundo inteiro. Os Protocolos têm sido uma das mais efetivas
ferramentas das forças anti-judaicas e têm afetado
negativamente as relações judaico-cristãs. O livro também teve
uma influência negativa sobre os Cristãos em muitos países, os
quais já haviam dado passos positivos em direção ao povo judeu.
Os Cristãos que não estão equipados com as informações dadas
por Fato ou Fraude? ficam em desvantagem.

O Centro de Estudos e Pesquisa Bíblica – AMI, de Jerusalém,


sente-se honrado por ter o Dr. Larsson aceito a incumbência de
escrever este livro. Sua erudição em estudos judaicos e relações
judaico-cristãs qualifica-o eminentemente como autor deste
livro. Durante os últimos quinze anos ele tem servido como
Diretor do Instituto Teológico Sueco em Jerusalém. Ele tem
confrontado o Anti-semitismo cristão, tanto em suas formas
externas como internas, em indivíduos ao redor do mundo
inteiro, representando um largo espectro do Cristianismo.

Shlomo Hizak

Jerusalém, Maio de 1994.


Introdução
Há alguns anos atrás fiquei surpreso quando ouvi um
grupo de Cristãos afirmando seriamente que o então Secretário
de Estado dos Estados Unidos da América, Henry Kissinger, era o
Anticristo. Ao verificar o meu espanto e consternação eles
tentaram ajudar-me, explicando que o Anticristo será um Judeu,
o qual receberá poder ilimitado e enganará primeiro os Judeus e
em seguida o mundo inteiro. Uma vez que todo esforço de
conseguir a paz no Oriente Médio para eles significava uma
traição às profecias bíblicas, e tais esforços estavam sendo feitos
pelo Dr. Kissinger, ficava muito claro que o Anticristo estava
emergindo e que ele, certamente, seria um Judeu – como Cristo!

Provavelmente eu teria esquecido este incidente, se não


houvesse duas razões: mesmo após ter o Dr. Kissinger se
aposentado, sempre aqui e ali eu escutava os Cristãos
sustentando que o inimigo número um da fé, o falso Messias
chamado Anticristo no Novo Testamento, seria um Judeu, o qual
levaria o mundo inteiro à perdição. Esse era obviamente o
pensamento padrão em certos círculos cristãos e não apenas um
incidente isolado. O fator decisivo foi, contudo, o que eu estudei
num folheto clássico anti-semita, em que essa mensagem
mortífera podia ser detectada – Os Protocolos dos Sábios de
Sião.

Além do fato de que esta publicação infame tem causado mais


sofrimento ao povo judeu, neste século, do que qualquer outro
documento, acho necessário que as pessoas conheçam hoje o
assunto – seu conteúdo, história e frutos amargos.

Gostaria de esclarecer, desde o princípio, que não creio que os


grupos cristãos acima mencionados tenham conscientemente
extraído sua visão de fontes anti-semitas. Provavelmente eles
nem eram anti-semitas e talvez até se considerassem amigos
dos Judeus e de Israel. Embora esteja igualmente claro que
foram influenciados pelos clássicos ensinos anti-semitas, sem
mesmo perceberem. É isso que torna o fato particularmente
detestável e perigoso.
Hoje, num tempo de ressurgimento do Anti-semitismo, é
imperativo reconhecer os detalhes da negra face anti-semita.
Tem-se dito corretamente que aqueles que ignoram a história
estão fadados a repeti-la. Infelizmente, não se pode desfazer a
história. Contudo, podemos aprender da mesma, a fim de evitar
que o seu mal se repita. Depois de Auschwitz, cada geração tem
uma possibilidade maior e mais profunda do que antes de
estudar os padrões de ódio e engodo, particularmente, desse
mal conhecido como Anti-semitismo.

Este estudo pretende atingir tal objetivo. Seu escopo se detém


grandemente em focalizar uma publicação anti-semita.
Considerando sua tremenda influência até o dia de hoje, até
mesmo essa limitada perspectiva sobre o Anti-semitismo é
altamente motivada. Em seu extenso livro significativamente
intitulado “Garantia do Genocídio: O Mito da Conspiração Judaica
Mundial e Os Protocolos dos Sábios de Sião”, Norman Cohn
concorda com o conteúdo “de que Os Protocolos dos Sábios de
Sião foi provavelmente o livro mais amplamente distribuído
depois da Bíblia, e certamente o mito da conspiração judaica
mundial foi um fator importante na delineação da história
mundial”. Mas ele prossegue: “Hoje toda essa história já está
quase esquecida, de tal maneira que é muito raro, pelo menos
na Europa, encontrar alguém com menos de 40 anos que já
tenha ouvido falar dessas idéias estranhas” (1).

Infelizmente esta declaração feita há um quarto de século antes


não é mais tão exata. Mesmo que a fonte tenha sido em grande
parte esquecida, as idéias continuam a florescer e a produzir
seus frutos amargos. Os Protocolos dos Sábios de Sião têm sido
corretamente chamados de a Bíblia do Anti-semitismo, não
apenas usada por Hitler, Stalin e outros inimigos da humanidade
no passado. Ainda um bestseller, eles continuam a envenenar
as mentes das novas gerações, através do mundo inteiro. Por
conseguinte, é necessário erradicar suas raízes, sempre e
sempre, exibir os seus frutos e – com esperança – poder
finalmente atirar este mal no lugar onde ele deve ficar para
sempre: – a lata de lixo da história humana.
Capítulo 1 - As Raízes de uma Mentira

A Mentira
Os Protocolos dos Sábios de Sião afirmam ser a minuta de uma
suposta conferência dos líderes idosos da coletividade mundial
judaica chamados “Sábios de Sião”. O documento contém vinte e
quatro capítulos, nos quais uma satânica conspiração judaica de
conquistar e escravizar o mundo inteiro é formulada. Um rápido
sumário desta suposta conspiração pode ser suficiente para
documentar a monstruosidade atribuída aos Judeus:

Os Protocolos descrevem os Judeus como um grupo de


infiltradores secretos e subversivos, que não se detêm diante de
coisa alguma, a fim de conseguirem o domínio mundial. Eles
espalham enfermidades, instigam desordens, revoluções e
guerras, a fim de destronar os governantes das nações e minar a
sociedade. Um alvo importante é também o Cristianismo, e um
método importante é o de oferecer liberdade e direitos aos
povos, os quais podem então, ser facilmente manipulados pelos
Judeus e acirrados contra as autoridades políticas e religiosas
existentes. Uma aliada – declara-se – é a ordem secreta
internacional da Franco-Maçonaria, que se afirma ser a máquina
invisível nas mãos dos Judeus. Juntos eles já encabeçaram a
Revolução Francesa, em 1789, lançando o seu conceito de
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (ver também p. 25).

Desde então, conforme Os Protocolos, eles têm batalhado pela


emancipação das massas, dando-lhes liberdade de expressão e
religião. O direito ao voto e a criação de democracias
parlamentaristas são apresentados como parte do mesmo plano.
A liberdade política e religiosa entre as massas causarão, por
exemplo, a perda da autoridade tanto da aristocracia governante
como da Igreja:

Nos dias em que as pessoas consideravam os seus soberanos


como emanação da vontade de Deus, eles se submetiam
calmamente ao despotismo dos seus monarcas. Mas, a partir do
dia em que os inspiramos com a idéia de seus próprios direitos,
eles começaram a considerar os reis como mortais comuns. Aos
olhos do populacho a unção divina escorreu das cabeças dos
monarcas e, quando lhe tiramos a religião, o poder foi atirado às
ruas como propriedade privada e foi agarrado por nós ( 5º
Protocolo).

À luz desta visão anti-monárquica e anti-cristã dos supostos


“Sábios de Sião”, eles não estão apenas por trás do Liberalismo,
mas também do Socialismo e Comunismo. Com a imprensa como
o seu instrumento e os bancos como o seu poder, e com todos os
necessários contatos internacionais em suas mãos, os Judeus
agora estão próximos de atingir o seu objetivo isto é, a criação
de um governo mundial sob a sua liderança. Eles só terão de
instigar o caos e a anarquia entre as nações, no sentido de
dissolvê-las no âmago. Desse modo eles provocam guerras entre
as classes por vários meios, por exemplo, instigando os
trabalhadores contra os empregadores, provocando greves e
causando inanição pelo acréscimo de preços:

Nossa força repousa em manter os trabalhadores em perpétua


necessidade e impotência; visto como isso fazendo, nós os
conservamos sujeitos à nossa vontade... (3º Protocolo).

Eles tomam o controle de toda a educação para fomentar a


ignorância e causar a desintegração moral. Para o caso de falhar
tudo isso eles têm um plano sinistro já preparado:

Ferrovias metropolitanas e passagens subterrâneas serão


construídas em todas as cidades. A partir desses lugares
subterrâneos explodiremos as cidades do mundo junto com as
suas instituições e documentos (9º Protocolo).

E, como se isso não bastasse os Judeus são também acusados de


instigar as guerras entre as nações. Após terem dissolvido a
ordem existente eles terão alcançado o seu objetivo. Pois então
as nações do mundo estarão tão exaustas pelas tribulações
infligidas sobre elas pelos Judeus que aceitarão qualquer um que
possa salvá-las. Uma vez no poder, eles então exigirão cega
obediência ao seu rei judeu:
Quando o populacho notou que lhe estava sendo concedido todo
tipo de direitos em nome da liberdade, ele se julgou o senhor e
logo tentou assumir o poder. É claro que, como todo cego, a
massa começou a enfrentar inúmeros obstáculos. Então, não
desejando voltar ao regime anterior ele colocará o poder aos
nossos pés... teremos conduzido as nações de uma decepção
para outra, de modo que elas até renunciariam em favor do rei
déspota com sangue de Sião, o qual estamos preparando para o
mundo (3º Protocolo).

Agora chegou o grande momento em que eles poderão


estabelecer o seu governo mundial encabeçado pelo governante
mundial descendente da raiz de Davi (2).

Suas Raízes
As mais profundas raízes destas fantasias podem ser traçadas à
concepção dos Judeus como demônios, conseqüência da
rivalidade entre o Cristianismo primitivo e o Judaísmo. Nos
primeiros séculos cristãos houve não apenas uma crescente
controvérsia entre eles, com relação à crença em Jesus de
Nazaré, mas também uma forte disputa pelos convertidos entre
os pagãos, os quais estavam perdendo gradualmente a sua fé
nos deuses gregos e romanos. Tanto o Judaísmo como o
Cristianismo pregavam um único Deus e ambos se constituíam
em atraentes alternativas à antiga idolatria. Conforme podemos
aprender nas cartas de Paulo, a fé cristã se espalhou
rapidamente entre os gentios, por toda a área mediterrânea, e
assim também aconteceu com o Judaísmo. As sinagogas se
enchiam de gentios chamados “tementes a Deus”, os quais
começavam a crer no único, verdadeiro Deus de Israel.

Não resta dúvida de que em muitas áreas e em certos tempos o


Judaísmo obteve mais sucesso entre os gentios do que o
Cristianismo. Em tal situação de antagonismo era certamente
uma tentação para os Cristãos apresentarem os Judeus como
arqui-inimigos de Cristo e até aplicar-lhes certas passagens do
Novo Testamento com relação ao Anticristo, tais como: Mateus
24:24; 2 Tessalonicenses 2:1 e seguintes; 1 João 2:18 e seguinte;
4:3; Apocalipse 13. Nesse espírito amargo os antigos Pais da
Igreja, tais como Tertuliano (160-225 A D.), Agostinho e João
Crisóstomo (ambos nascidos em 354 A D.), produziram a infame
literatura Adversus Judaeos, isto é, Escritos Contra os Judeus.
Aqui as sinagogas eram descritas como habitações do diabo e
seus demônios e os Judeus como pessoas amaldiçoadas por
Deus, filhos de Satanás empossados de magia negra e toda sorte
de mal.

Uma segunda razão para o ódio crescente contra os Judeus era


certamente o fato de que muitos Cristãos dentro da própria
Igreja estavam seguindo as práticas judaicas. Esses judaizantes
eram considerados hereges, que não haviam compreendido a
ruptura total entre a velha e a nova ordem. No sentido de
combatê-los, o Judaísmo como tal – e ocasionalmente até mesmo
o Velho Testamento – era apresentado como inferior, anti-cristão
e hostil, tanto a Deus como ao homem (3).

Quando o Cristianismo, que fora uma minoria perseguida,


começou a se tornar uma possante religião estatal, no século 4,
este ódio transformou-se em tragédia. O Judaísmo foi banido
como heresia e o Anti-semitismo foi exportado para áreas onde
ainda quase não havia Judeus presentes (ver ps. 37, 54 e 72).
Como representantes do Velho Testamento e como oponentes ao
evangelho de Cristo eles se tornaram o estereotipado símbolo
do mal.

Supostamente pretendiam sublevar os planos de Deus e eram


vistos como inimigos poderosos de toda a humanidade e,
particularmente, da Igreja.

Nesta esfera de pensamento não é de surpreender que séculos


mais tarde eles fossem acusados dos crimes mais horrendos.
Quando surgiam as epidemias, por exemplo, a Peste Negra, no
século 14, eles eram acusados de envenenar os poços, como um
método de arruinar e subjugar os Cristãos. Uma acusação
comum era o falso “libelo de sangue” isto é, o ritual de
assassinato de crianças cristãs, a fim de usarem o sangue destas
no seu pão ásimo na páscoa. Eles eram acusados também de
profanar a hóstia, picando-a e pisoteando-a. Por trás dessas duas
acusações repousa o antigo mito dos Judeus terem matado
Cristo – e até mesmo o próprio Deus – (deicídio) – (4) e cujo
ódio a Cristo e a Deus continuou através das eras forçando-os a
repetir os seus mal feitos.

Visto por esse prisma, qualquer mal que aparecia era logo
“explicado” como intrigas dos Judeus e vilezas de dimensões
demoníacas. Eles se transformaram no bode expiatório e assim
eram freqüentemente perseguidos nos tempos de calamidades.
O fato de que as comunidades judaicas muitas vezes eram
forçadas a viver em guetos, levando, assim, uma vida afastada
da sociedade adjacente, fez com que os mitos de suas
conspirações secretas se tornassem cada vez mais dignos de
crédito aos olhos do público (5).

Este esboço geral das raízes mais profundas de Os Protocolos,


embora seja importante, não é suficiente para explicar em
detalhes a conspiração aí descrita. Estes foram publicados pela
primeira vez no início do século, isto é, numa época em que se
poderia esperar que tais superstições teriam se desvanecido,
exatamente como os mitos relacionados à caça às bruxas,
trezentos anos antes. Contudo, parece que enquanto as
tradições antigas que vitimavam os Judeus em nome do
Cristianismo estavam obsoletas elas foram modernizadas de
duas maneiras: primeiro, a idéia de conspiração dos judeus para
lutar contra Deus em sua Igreja na terra, cuja base era
fundamentalmente religiosa, foi traduzida em termos políticos e
racistas. Se nos tempos anteriores o alvo principal havia sido sua
suposta religião inferior e falsa, agora eles eram
fundamentalmente retratados como um grupo social subversivo
e uma raça inferior. Segundo, esta idéia foi moldada para se
encaixar nos eventos históricos e no contexto político da Europa,
durante o século 19 e início do século 20 (6).

Desse modo foi preparado o solo para o Anti-semitismo, mesmo


entre o povo secular, que não se preocupava com religiões e
explanações “cristãs”. Essa popularização obviamente fez com
que as concepções das antigas superstições sobre os Judeus
tivessem um renascimento em potencial, quando certas
circunstâncias na sociedade ofereciam condições favoráveis ao
crescimento delas (ver p. 27 e seguinte; p. 51).
Existem vários pontos de partida importantes no processo
redivivo desse antigo mito de ódio. Limitar-me-ei a quatro
publicações, começando com o produto final – Os Protocolos.

1ª - Os Protocolos dos Sábios de Sião

A primeira edição apareceu na Rússia em 1905 (7). Elas foi então


incorporada apenas como apêndice de um livro maior editado
em 1901, cujo título revela claramente o seu propósito e
conteúdo: O Grande no Pequeno: Anticristo Considerado como
uma Iminente Possibilidade Política. Ele foi escrito por um Cristão
ortodoxo russo – Sergei Nilus, o qual estava totalmente
convencido de que o Anticristo estava emergindo em seus
próprios dias e que o fim do mundo se aproximava. Tendo em
vista que o Anticristo seria o Messias dos Judeus, estes
desempenhariam um papel decisivo nos últimos eventos
turbulentos desta época. Consequentemente ele deve ter
observado como uma confirmação maravilhosa destas idéias sua
chegada a Os Protocolos, conseguindo, assim, acrescentá-los à
terceira edição do seu livro, quatro anos mais tarde. Em seu
comentário sobre Os Protocolos eles escreve dentre outras
coisas:

Não há mais espaço para dúvida alguma. Com todo o poder e


terror de Satanás, o reino do triunfante Rei de Israel está se
aproximando do nosso mundo não regenerado. O rei nascido da
estirpe de Sião – o Anticristo – já está próximo ao trono do poder
universal (8).

Em 1911 Nilus editou, pela primeira vez, Os Protocolos como um


livro separado. Nove anos mais tarde as traduções em Alemão e
Inglês foram publicadas, as quais têm sido desde então
traduzidas em todas as mais conhecidas línguas modernas do
mundo (ver p. 40 e seguinte).
Os Protocolos são anônimos; o sujeito não passa de um vago
“nós”. Não se relacionam a um lugar específico, nem também
possuem uma data específica.

Estas circunstâncias levaram imediatamente a especulações


quanto à sua autenticidade. Ao traçar suas origens é
esclarecedor dar uma olhada em seu primeiro editor. Sergei Nilus
era ativo na mudança do século, quando especulações
apocalípticas e escatológicas eram amplamente espalhadas nos
círculos religiosos. Além do mais, naqueles dias o governo
autoritário do Czar estava sofrendo fortes pressões, através de
greves e ferventes exigências populares, por democracia e
liberdade. Em 1905 ele finalmente foi obrigado a conceder
reformas sociais e uma constituição liberal. Nilus era um
nacionalista devotado e apoiava o Czar. Nesta situação ele se
considerava quase um profético salvador da Rússia antiga contra
os perigos da nova era, afirmando que estes eram na realidade o
resultado de um imenso ataque satânico, poderes anti-cristãos.
Ele podia encontrar forte apoio na temível e reacionária polícia
secreta do Czar, à qual se achava ligado como oficial do clero.
Outras forças frustradas, conservadoras e anti-democráticas,
estavam prontas a abraçar tais idéias, sendo a mais notória o
partido chamado A União do Povo Russo ou As Centenas Negras.

Eles instigavam numeroso “pogroms” (massacres) por toda a


Rússia, nos quais milhares de Judeus, bem como outras pessoas
consideradas liberais e radicais, eram brutalmente assassinadas
(ver p. 31). Desnecessário é dizer que mesmo a Igreja Ortodoxa
Russa proveu um bom mercado para as idéias de Nilus. Basta
exemplificar o laço existente entre as forças anti-semitas
nacionalistas e a Igreja, pelo fato de que a edição de Nilus de Os
Protocolos foi imediatamente ordenada a se tornar leitura
obrigatória em todas as igrejas de Moscou.

A questão de sua origem, contudo, logo se tornou crítica. O


próprio Nilus fora engodado pelo seu Anti-semitismo e
expectações escatológicas, as quais ele provavelmente
acreditava serem genuínas. Primeiro ele afirmou tê-los recebido
de uma pessoa que afirmava terem sido eles furtados dos
arquivos sionistas em Paris. Mais tarde ele os atribuiu ao primeiro
congresso sionista em Basel, 1897. Isto certamente não serviu
ao seu caso, visto como aquele congresso havia sido realizado às
claras, com todas as suas minutas publicadas. Outros esforços
desesperados para autenticar a sua genuinidade não puderam
sequer suportar um exame sério. Não adiantou Nilus tê-los
publicado, a fim de defender o regime czarista; a falsidade dos
mesmos era óbvia a qualquer analista sério. Eventualmente, o
próprio Czar os rotulou relutantemente como propaganda anti-
semita e mandou confiscá-los, após ter-se convencido de que
eram espúrios. “Confisquem Os Protocolos. Ninguém pode
defender uma causa justa através de métodos sujos” (9). Tal
concessão, mesmo da parte daquele a quem eles serviam, foi
uma derrota para os propagandistas anti-semitas.

Mesmo o próprio Nilus parecia não ter mais dúvidas. Quando


indagado se não estaria lidando com uma falsificação, dizem ter
ele respondido:

Vocês conhecem minhas citação favorita de São Paulo?

“O poder (de Deus) se aperfeiçoa na fraqueza (humana) 2


Coríntios 12:9. Admitamos que Os Protocolos sejam espúrios.
Mas não poderia Deus usá-los para desmascarar a iniquidade
que está sendo preparada? A mula de Balaão não profetizou?
Não poderia Deus, por amor à nossa fé, transformar os ossos de
um cão em relíquias operadoras de milagres? Então Ele pode
colocar o anúncio da verdade através de lábios mentirosos (10).

Esta é a verdadeira face do tipo cego de fanatismo religioso, que


através das eras tem blasfemado o nome de Deus e tem sido
usado como instrumento para causar tanto sofrimento humano!

Desse modo, a espuriedade de Os Protocolos foi mais ou menos


admitida, mesmo nos círculos anti-semitas. Contudo, iríamos até
1921 para que as origens dessa falsificação fossem encontradas
e provas conclusivas contra a sua autenticidade pudessem
finalmente ser fornecidas.

2º Diálogo no Inferno entre Montesquieu e Maquiavelli


Aquele que eventualmente havia encontrado a fonte principal de
Os Protocolos era um correspondente inglês de “The Times”, em
Constantinopla, Phillip Graves. Um russo que havia fugido para a
Turquia, após a revolução de 1917, mostrou-lhe um livro em
francês, que havia comprado de um oficial da ex-polícia secreta
czarista. Após alguma pesquisa ficou claro que o livro, tendo sido
primeiro publicado na Bélgica, em 1864, era um sátira política
escrita por um advogado francês, Maurice Joly. Ela consiste de
vinte e cinco diálogos fictícios no mundo subterrâneo, entre um
político – o italiano Maquiavel (1469-1527) – e um filósofo político
– o francês Montesquieu (1689-1755) (11). Através de sua
política o notório Maquiavel tornou-se quase a incorporação do
político inescrupuloso; no Dicionário de Webster o termo
“maquiavelismo” é definido como “A doutrina de Maquiavel, que
nega a relevância da moralidade em assuntos políticos”.
Contrário a isto, Montesquieu é conhecido como um advogado da
liberdade de pensamento e dos valores humanitários e
democráticos.

O propósito deste diálogo antagônico era atacar o Imperador


Napoleão III (1808-1873), cuja política reacionária Maurice Joly
detestava ardorosamente. A fim de fazer isso, ele tornou
Maquiavel o camuflado porta-voz do Imperador, revelando o
verdadeiro propósito de seus métodos cruéis e cínicos. Ao
escrever uma obra de ficção, Joly esperava escapar da censura
francesa. Contudo, sua edição foi confiscada na fronteira
francesa. Isto explica propriamente a razão pela qual o seu livro
era tão pouco conhecido, levando tempo até 1921 para que
alguém descobrisse que ele era a fonte primária de Os
Protocolos.

Ao ler o livro, Phillip Graves logo verificou o que o russo lhe


apontava. Grandes partes do diálogo tinham sido copiadas quase
literalmente para Os Protocolos – num montante de 60%. Até
mesmo a ordem e a estrutura de Os Protocolos, com os seus 24
capítulos, acompanham os 25 diálogos do livro de Joly (12). Uma
comparação entre a passagem do décimo segundo diálogo e o
décimo segundo protocolo podem bastar para ilustrar a óbvia
falsificação.
Maquiavel declara:

Como o deus Vishnu, minha imprensa vai ter cem braços, e estes
braços darão expressão a todas as sombras de opinião, através
de todo o país. O povo pertencerá ao meu partido sem o notar.
Aqueles que imaginam estar falando sua própria língua, estarão
falando a minha; aqueles que imaginam estar acirrando o povo a
seu favor, estarão acirrando-o para o meu; aqueles que pensam
estar marchando sob suas bandeiras estarão marchando sob a
minha.

As reivindicações dos “Sábios” são quase idênticas.

Estes jornais, como o deus Vishnu, possuirão centenas de mãos,


cada uma delas tomando o pulso da variada opinião pública ... se
alguns tagarelas imaginam estar repetindo a opinião dos jornais
do seu partido, na realidade estarão repetindo a nossa própria
opinião, ou a opinião que desejamos. Imaginando estar seguindo
o órgão do seu partido, estarão na realidade seguindo a bandeira
que acenaremos para eles (13).

Os Protocolos foram inequivocamente revelados como um


ousado plágio, com uma simples, mas infeliz diferença – a
política despótica de Napoleão III, na voz de Maquiavel, para
suprimir o povo na França, era agora atribuída aos Judeus como
uma conspiração contra o mundo inteiro.

Mais tarde os anti-semitas tentaram sustentar a autenticidade de


Os Protocolos ao assegurar que Maurice Joly era realmente um
Judeu, o qual indiretamente revelara o plano judaico. Contudo
eles jamais foram capazes de substanciar sua afirmação
desesperada. A verdade é o contrário. Ficou provado que Joly era
um Cristão. Além do mais, o fato de que os Judeus aparecem
somente uma vez em seu livro – e em seguida de maneira
depreciativa – torna a afirmação não só improvável, mas até
mesmo ridícula.

O falsificador foi provavelmente um russo anti-semita


nacionalista, que apoiava o Czar contra as forças revolucionárias.
Consequentemente ele se opunha aos valores da liberdade e da
democracia, que Joly apoiava. Ao plagiar o livro de Joly, a
falsificação grosseira logo descambou em bizarras
inconsistências e contradições. Ele teve de atribuir aos Judeus,
não apenas as idéias de Maquiavel, como também as de
Montesquieu, por mais irreconciliáveis que fossem. Como
resultado, Os Protocolos podiam ser usados pelos anti-semitas
no mais disparatado contexto para atribuir virtualmente
qualquer opinião que eles detestavam aos Judeus: Liberalismo e
Comunismo, Capitalismo e Socialismo, etc. Eles podiam ser
aplicados a quase cada situação, a fim de “provar” o
envolvimento judaico. Foi isso o que realmente aconteceu,
quando os frutos amargos desta falsificação foram colhidos mais
tarde (ver ps. 36,50 e seguinte; 64).

Em 1921 Graves publicou esta evidência no The Times. No ano


anterior este jornal havia feito uma análise de Os Protocolos, na
qual se afirmava que os Judeus poderiam estar realmente por
trás dos arqui-inimigos da Inglaterra e da Alemanha. O efeito
imediato do artigo de Graves foi que a publicação posterior de
Os Protocolos na Inglaterra foi limitada aos grupos minoritários
de fanáticos anti-semitas. Eventualmente o seu artigo também
impediu a influência destes em todo o mundo.

Ele também veio a desempenhar um papel decisivo no famoso


julgamento de Berna, em 1934-1935. As comunidades judaicas
na Suíça processaram os responsáveis pela distribuição de Os
Protocolos – na maioria nazistas afiliados à Alemanha. O
julgamento levou a uma investigação mais propagada das fontes
de Os Protocolos com um veredicto conclusivo. Confirmando sua
espuriedade, a Corte em seu veredicto usou expressões tais
como “tolice ridícula”, “difamação” e “escritos inflamatórios”
(14).

Um ramo importante ainda está faltando no sistema radical


duvidoso de Os Protocolos. Pois nem mesmo a adaptação dos
diálogos de Joly a uma reunião de líderes judeus teve origem no
falsificador. Ele realmente adaptou essa idéia de uma outra
composição literária.

3ª - O Discurso do Rabino
O livro de Joly foi escrito a fim de promover as forças de
libertação política, contudo foi abusado pelos anti-semitas, para
servir aos seus propósitos. Entretanto, o autor da obra seguinte
era ele próprio um anti-semita. Seu nome era Hermann
Goedsche, o qual escrevia para um jornal nacionalista e
conservador da Prússia. Sob o pseudônimo de Sir John Ratcliffe,
ele publicou uma novela em 1868 chamada Biarritz, a qual
continha um capítulo com o título assustador: No Cemitério
Judaico de Praga.

O que aí acontece é uma imaginária convocação, à meia noite,


entre os espíritos dos representantes das doze tribos de Israel,
presidida por um descendente levita do sumo sacerdote Aarão.
Eles se reuniam sempre aí, uma vez em cada século, a fim de
darem um registro de suas atividades no mundo. Nesses
registros encontramos a maior parte dos ingredientes dos
clássicos estereótipos anti-semitas: roubo de terra dos cristãos
através de traição, destruição de igrejas, corrupção moral,
obtenção de ouro, doação de poder à classe trabalhadora,
instigação à violência e desordem, e aquisição de poder político,
controle do mercado e da mídia e, finalmente, a escravização de
todo o mundo sob o deus deles – o bezerro de ouro. Este
objetivo final deveria ser alcançado até o tempo do próximo
encontro, daí a cem anos.

Mesmo fazendo parte de uma novela de ficção ela sem dúvida


pode ser caracterizada como “a base de uma influente
falsificação anti-semita” (15), isto é, Os Protocolos. Idêntico à
Rússia, trinta anos mais tarde, naqueles dias um forte
movimento democrático na Alemanha exigia completos direitos
humanos para todos os habitantes, inclusive os Judeus. Isto foi
realmente constatado três anos após a publicação da novela de
Goedsche. Então não é de admirar que ela tenha vindo a ser
usada pelas forças reacionárias, que se opunham à emancipação
dos Judeus em países onde forças semelhantes estavam agindo.
Como tão freqüentemente através da história, os Judeus se
tornaram o objeto de ódio das pessoas que se opunham a tais
realizações em seus dias: o crescimento do comércio e da
indústria, a emergência de uma livre imprensa, o declínio da
religião, a emancipação das classes mais baixas, etc.

Logo essas pessoas frustradas conseguiram que esse capítulo


particular da novela de Goedsche fosse publicado
separadamente como um registro autêntico de um encontro
verdadeiro entre os líderes Judeus. Eventualmente a versão mais
comum afirmava que um certo líder rabínico havia feito um
discurso para líderes judeus num encontro secreto, daí o panfleto
ter ficado conhecido como O Discurso do Rabino (16). A primeira
publicação separada apareceu na Rússia em 1872; ela foi
largamente distribuída e veio mais tarde a desempenhar um
papel tenebroso no desenrolar de numerosos massacres futuros,
na Rússia.

As contradições entre as várias publicações com referência à


identidade do rabino e dos líderes judeus e ao local do encontro
não evitaram que os panfletos fossem disseminados como
autênticos – exatamente como Os Protocolos, por toda a Europa,
durante mais de meio século. Muito freqüentemente O Discurso
do Rabino e Os Protocolos foram publicados em conjunto e
usados para provar a genuinidade de ambos. A própria idéia de
uma reunião secreta e central de Judeus almejando o controle
mundial foi retirada de O Discurso do Rabino pelo falsificador
russo de Os Protocolos. Esta descoberta foi realmente
apresentada por Hermann Bernstein (ver a bibliografia), já
alguns meses antes de Phillip Graves descobrir o laço entre Os
Protocolos e o Diálogo, em um livro chamado “A História de Uma
Mentira”, o qual foi publicada no início de 1921.

O falsificador de Os Protocolos também pode ter usado outras


fabricações anti-semitas semelhantes, que circulavam
especialmente em tempos de instabilidade política e quando a
situação social dos Judeus estava melhorando.

4ª - A Carta Simonini
Até mesmo uma edição mais antiga do mito de uma conspiração
judaica universal por trás das tribulações da história é
encontrada num documento amplamente difundido chamado A
Carta Simonini, datado de 1806. É uma carta supostamente
escrita por um oficial do exército italiano chamado J. B. Simonini.
Nada se sabe a respeito dele, porém ele afirma ter pretendido
tornar-se Judeu, a fim de obter acesso aos sinistros planos dos
Judeus da Idade Antiga, que ele agora podia apresentar. Já esse
espúrio registro contém os elementos básicos para os escritos
anti-semitas posteriores: o ódio dos Judeus pela Igreja, suas
maquinações para se infiltrarem em toda parte, a fim de
escravizarem os Cristãos e se tornarem governantes mundiais,
etc.

O palco do seu aparecimento foi a França de Napoleão (1769-


1821). Exatamente como na Alemanha, em 1868, e na Rússia, na
virada do século, este era na França um tempo de reformas
sociais. Napoleão se esforçava para conceder direitos civis, até
mesmo aos Judeus. Os Judeus franceses eram realmente os
primeiros na Europa a serem emancipados. O mesmo modelo
que já vimos antes se repete ainda uma vez aqui. Nos grupos
reacionários que agiam contra a política de Napoleão esta carta
falsa foi concebida, a fim de apontar um bode expiatório.

Até aqueles dias o tempo ainda não estivera pronto para acusar
os Judeus de causar a Revolução Francesa; pouquíssimos
conheciam o fato de que nenhum Judeu havia desempenhado
qualquer papel na Revolução. Em vez disso, os Franco-Maçons
haviam sido o bode expiatório. A Carta Simonini pavimentou o
caminho para um pensamento, que gradualmente se tornou
muito comum nos círculos anti-semitas, a saber, que havia uma
aliança entre os Judeus e os Franco-Maçons e que, no mínimo,
os Judeus haviam apoiado a Revolução Francesa (17). Os
Protocolos adaptaram muitas das antigas idéias anti-maçônicas e
as atribuíram, tanto aos Judeus, como à imaginária conspiração
judaico-maçônica. Algumas vezes até mesmo uma sociedade
alemã da Bavária chamada “Illuminati” seria uma suposta
parceira da conspiração. O fato desse grupo ser parcialmente
anti-judaico e ter cessado de existir, já em 1786, e de que os
Franco-Maçons em certas áreas e períodos de tempo nem
mesmo aceitavam Judeus como membros, em hipótese
nenhuma, perturbava os autores destas alegações. Elas
deveriam mais tarde ser tomadas, tanto por Hitler como por
Stalin, bem como pelos teóricos conspiradores, até os dias
atuais.

O resumo é: uma grande parte do conteúdo de Os Protocolos foi


diretamente plagiada do livro de Joly, suplementada por O
Discurso do Rabino e, talvez, por outras falsificações
semelhantes, as quais também proveram o falsificador com a
moldura contextual.

Capítulo 2 - Os Frutos de uma Mentira

Preparando o Terreno

Mesmo embora tendo havido prova unânime de que Os


Protocolos eram falsos, já em 1921 isso não impedia sua
contínua disseminação. Pelo contrário, foi somente aí, após a I
Guerra Mundial e a Revolução Russa, que eles obtiveram um
longo alcance e aceitação nos círculos fora dos grupos
minoritários fanáticos. Somente em 1920 as edições – inglesa,
americana, alemã, francesa e polonesa – foram publicadas e
novas versões apareceram em grandes edições, quase
anualmente, a partir daí.

Isso não pode ser explicado apenas através da prontidão


humana generalizada de crer em “revelações” fantásticas e
excitantes. A explicação mais direta pode – novamente – ser
encontrada nas turbulentas condições que prevaleciam na
Europa, após uma sangrenta guerra mundial e uma Revolução
Comunista, as quais estavam mudando o mapa social e político
do mundo. Na Alemanha, o bode expiatório foi procurado para
explicar o fracasso da guerra e subsequente desemprego e
colapso econômico. Na Rússia os monarquistas e contra-
revolucionários estavam em estado de choque após sua derrota.
Em ambos os casos o terreno era fértil para uma semente que,
desde há muito, fora semeada pelos grupos anti-semitas,
embora com sucesso, até então, relativamente limitado.

O rápido crescimento do mito anti-semita de uma conspiração


judaica mundial, conforme descrita em Os Protocolos, não fora,
contudo, limitado à Alemanha e à Rússia. Por toda a Europa o
medo do Comunismo, Socialismo e revolução foi amplamente
espalhado. Os anti-semitas alemães e exilados russos eram
agressivos em estabelecer contatos com outros países, onde a
pobreza e as insurreições também prevaleciam. A exportação
anti-semita estava florescendo. Por incrível que pareça, nos anos
entre as duas guerras mundiais, Os Protocolos foram traduzidos
em virtualmente todas as línguas européias. Novas edições eram
constantemente impressas. Elas também chegaram à África do
Sul, Estados Unidos, Canadá e América Latina. Mesmo a China e
o Japão receberam sua dose de veneno anti-semita. Nos Estados
Unidos eles receberam um apoio surpreendente do industrial de
automóveis – Henry Ford. Ele foi convencido por um monarquista
russo a comentar e publicar Os Protocolos em seu jornal “The
Dearborn Independent”, depois em livro separado, o qual foi
traduzido em 16 línguas e distribuído aos milhões: O Judeu
Internacional – O Maior Problema do Mundo. Sendo uma reedição
de uma série de artigos publicados no Dearborn Independent, de
22 de maio a 02 de outubro de 1920. (ver p. 31 e seguinte). Os
títulos de alguns capítulos são suficientes para dar uma
impressão do espírito que animava essa publicação. I - O Judeu
no Caráter e no Negócio... VI - A Questão Judaica Aparece nas
Revistas... VIII - Existe um Definido Programa Judaico Mundial? ...
X - Uma Introdução aos “Protocolos Judaicos”... XII - “Os
Protocolos Judaicos Exigem Cumprimento Parcial... XIV - Os
Judeus Previram a Guerra Mundial? ... XIX - A Marca Todo Judaica
na “Rússia Vermelha”... XX - Testemunho Judaico em Favor do
Bolchevismo (18).

É obvio que esta explicação de Os Protocolos capitalizava sobre


a “Cicatriz Vermelha” e o aborrecimento à perseguição dos
Cristãos pelos Comunistas; que os Judeus religiosos eram tão
mais perseguidos permaneceu como fato desconhecido ou
ignorado. Desse modo, houve mercado para a idéia de um
governo mundial judaico invisível por trás do Comunismo e do
Socialismo, bem como das nações e correntes de tolerância ao
Liberalismo, modernidade, indústria musical e cinematográfica.
Quase tudo que era considerado como atentado à religião, à fé e
à moral, logo podia ser rotulado como judaico. Para apoiar a
absurda difamação era preciso apenas apontar um único Judeu
envolvido em atividades temerosas ou como defensores de
idéias criticadas. Tais Judeus eram supostamente considerados
agentes do Judaísmo mundial, servindo a um fim principal (ps.
53,71). Assim lemos no capítulo intitulado “Plano Judaico para
Explodir a Sociedade através das Idéias” (p. 151) a seguinte
referência a Os Protocolos:

Usaremos e enfraqueceremos os Gentios por tudo isso, para que


sejam compelidos a oferecer-nos uma autoridade internacional, a
qual por sua posição nos habilitará a absorver, sem complicação,
todas as forças governamentais do mundo e formar um super
governo.

Uma das maneiras mais comuns de advogar a verdade por trás


das mentiras de Os Protocolos era afirmar que os eventos
caóticos deste século provaram a veracidade deles. De fato não
houve anarquia, revoluções, guerras e colapso financeiro,
exatamente conforme descrito em Os Protocolos? Bastante
estranho foi ter-se concluído que tudo o mais teria de ser
verdadeiro, isto é, que os Judeus estavam por trás dessas
tribulações. Desnecessário é dizer que esta é uma racionalização
circular. O ponto axiomático inicial é que os Judeus são os
causadores de todo o mal. Coisas más realmente acontecem,
portanto os Judeus devem causar todo este mal!

Esse medo paranóico de encarar os Judeus como um potencial e


subversivo poder mundial caracterizava a publicação de Os
Protocolos, até mesmo em outros países. As edições eram
sempre extensivamente prefaciadas e comentadas, a fim de
popularizá-los e aplicá-los aos problemas contemporâneos. Na
Inglaterra eles foram “atualizados” para descrever, tanto uma
conspiração judaico-comunista como uma conspiração judaico-
alemã contra a Inglaterra – ou ambas. No forte país católico, a
Polônia, o laço entre os Judeus e os bolchevistas anti-cristãos
era o motivo principal. O fato da maior parte dos Judeus serem
religiosos e amargos oponentes do Comunismo de nada
adiantava.

O mesmo Anti-semitismo religioso também desempenhou um


papel importante na França, onde a influência de Os Protocolos
entre as duas guerras mundiais foi tremenda. Mais de 30 edições
apareceram, acompanhadas de comentários elaborados,
inflamando os Fascistas na Itália. Na Espanha eram amplamente
citadas pelos propagandistas, a fim de preparar o povo para o
discurso anti-semita de Ano Novo do General Franco, em 1939.
Pelo outro lado do espectro político eles criticavam a paranóia de
Stalin, quando ele se voltou contra os Judeus (p. 36). Em adição
à influência direta da parte de Os Protocolos, talvez o maior
impacto e alcance tenha sido dado através de um incontável
número de panfletos populares e artigos nos jornais mundiais,
redigidos a partir do seu conteúdo.

Assim, a mais distribuída e acreditada falsificação de todos os


tempos já estava de fato estabelecida, quando o clima
transformou a semente do mal em colheita de morte. O terreno
estava preparado. Os frutos estavam maduros.

Os Frutos
Algumas vezes as pessoas dizem que o importante não é tanto
o que pensamos, mas o que fazemos. Após ter testemunhado os
maus frutos de uma mentira anti-semita deveríamos ser
cuidadosos sobre quais os pensamentos a serem plantados nas
mentes das pessoas. Um dia eles poderão formar os modelos de
suas ações. O maior genocídio da história humana começou com
a implantação e uma suspeita de ódio e de pensamentos
venenosos. Já vimos que as raízes das mentiras anti-semitas são
profundas. Sem essas profundas raízes, em solo amplamente
preparado através de uma persistente difamação contra os
Judeus, dificilmente poderia ter havido tais frutos amargos,
conforme testemunhados no regime nazista alemão. Enquanto
o anti-judaísmo foi apenas religiosamente motivado, houve –
com raras exceções como os Cruzados – um limite para o ponto
até onde o ódio poderia levar à prática. Essa barreira fora fixada
pelo mandamento bíblico contra o assassinato. Martinho Lutero e
outros advogaram a expulsão dos Judeus, o incêndio das
sinagogas, dos escritos talmúdicos, e a maior parte das
atrocidades cometidas pelos nazistas (p. 56 e seguinte). Mas
certamente jamais deram permissão para o genocídio.

O Anti-semitismo secular, contudo, não se deteve,


necessariamente, diante desta última barreira moral. O ensino
religioso do desprezo através dos séculos anteriores foi, no
mínimo, o fator decisivo, que tornou possível o passo final. Isso
não se aplica apenas ao genocídio cometido diretamente pelos
nazistas, mas também à facilidade com que eles podiam
conseguir colaboradores voluntários e obedientes. E, acima de
tudo, é a principal explicação da inacreditável indiferença que
caracterizava as populações dos países ocupados e o mundo ao
redor, como espectadores passivos.

Isso pode parecer injusto à luz da heróica luta dos Aliados.


Contudo, estou me referindo precisamente ao fato de que os
sofrimentos dos Judeus eram encarados com passividade pelas
nações e Igrejas, as quais, por outro lado, aborreciam o Nazismo
(19). Os Judeus eram caçados em armadilhas mortais, quando
um país após outro fechava as portas à amaldiçoada nação
judaica, vilipendiada e acusada de crime contra a humanidade
pelas próprias pessoas que cometiam tal crime. O Anti-semitismo
havia obviamente infectado as mentes a tal extensão que
paralisava todo o corpo da sociedade mundial e a tornava
incapaz de resistir e reagir. Isto certamente era o fruto do Anti-
semitismo, quase tão perigoso e trágico quanto o próprio
genocídio. Foi este fruto maligno que tornou possível a colheita
final. Tinha havido, contudo, aterradores precedentes, nas
décadas antes da deflagração da II Guerra Mundial. Na Rússia os
anti-semitas já haviam colhido os frutos da fantasia em
publicações como O Discurso do Rabino e Os Protocolos. Sempre
e sempre, novamente é obvio que os “pogroms”, que resultaram
em mais de cem mil Judeus massacrados nas primeiras duas
décadas deste século, foram precedidos de maciça propaganda
anti-semita. As falsas acusações contra os Judeus de todo tipo de
mal eram usadas para encobrir os “pogroms” e estes, para
desviar a atenção do povo das verdadeiras causas por trás da
miséria social. Este foi realmente um prelúdio vergonhoso para o
Holocausto, que deveria ter alarmado o mundo. Hoje ele já está
grandemente esquecido, obscurecido, como sempre, pelo
genocídio nazista.

O modelo, contudo, continua sendo o mesmo. Os nazistas


compreenderam e explodiram a conexão entre o pensamento e
a ação. Antes de colocarem em prática seus planos demoníacos,
eles trabalharam para influenciar o pensamento do povo. Os
Protocolos tornaram-se o elo principal de propaganda anti-
semita. Junto com O Discurso do Rabino eles foram, por exemplo,
tornados parte obrigatória no currículo escolar, já em 1935. A
obsessão e fervor com que eles perseguiam seus objetivos anti-
semitas ficaram patentes através das publicações de Hermann
Bernstein e Phillip Graves, das espúrias origens de Os Protocolos,
e pelo subsequente julgamento de Berna. Poucos anti-semitas
dogmáticos foram eventualmente convencidos por esta
evidência conclusiva; em 1927, Henry Ford editou uma defesa
pública, fechou o seu jornal e suspendeu as publicações de O
Judeu Internacional. Contudo, ele não pôde parar os nazistas
alemães de usarem o seu livro e promovê-lo mundialmente,
junto com todo o pacote de mentiras que poderiam
possivelmente servir ao seu propósito.

Como já vimos, Sergei Nilus, o primeiro editor de Os Protocolos,


nem sequer identificou-se com a verdade deles, esperando que
eles, de qualquer modo, apoiassem suas idéias preconcebidas.
Do mesmo modo, o ministro da propaganda de Hitler, Joseph
Goebbels, cinicamente declarou que quando uma mentira é
repetida muitas vezes o povo finalmente acredita nela. No
primeiro caso, temos um fanático paranóico, que detecta uma
conspiração por trás de tudo que contradiz sua visão mundial. No
segundo caso, encaramos um endurecido assassino de massas,
que usa a mentira para criar uma atitude entre as pessoas,
capacitando-se a realizar seus planos assassinos.

Existem, de fato, poucas pessoas do calibre de Goebbels, mas


existem muitas como Nilus. E cada vez mais dispostas a caírem
vítimas de uma visão simplista mundial, de acordo com a qual
tem de haver uma mão oculta por trás das coisas mal usadas,
que não podem ser plenamente compreendidas. Particularmente,
nos tempos de convulsões e aflições, muitas pessoas nem
mesmo fazem seriamente uma simples pergunta sobre a
verdade. Elas são as primeiras a cair como presa da estratégia
de Goebbels referente à mentira repetida: Deve haver alguma
verdade nisso...

Os frutos malignos dos mitos anti-semitas de meio século atrás


são bem conhecidos. Contudo, mesmo antes do Holocausto, Os
Protocolos poderiam ser certamente caracterizados desta
maneira. “Não há exagero em dizer-se que eles custaram as
vidas de muitos milhares de pessoas inocentes e que mais
sangue escorre de suas páginas do que das de qualquer outro
documento mentiroso, na história mundial” (20). Hoje este
julgamento condenatório se torna mais real do que nunca.

Capítulo 3 - A Sobrevivência de Uma


Mentira

Com Auschwitz e a “solução final” por trás desta é inacreditável


que este negro capítulo da história de prejuízo contra a
humanidade ainda não esteja concluído. Pois não se trata
apenas de um parágrafo nos livros de história. Bastante trágico é
estarmos lidando com um mal que não deixa vestígios de medo
por trás, mas continua se movendo. Infelizmente este livro não é
apenas de interesse histórico. Realmente, Os Protocolos são tão
absurdos e sem sentido que jamais deveriam merecer atenção
alguma, se não fora a sua contínua influência maléfica nos
grandes círculos, até o dia de hoje. De fato, o veneno vitriólico
do Anti-semitismo parece exercer mais influência e ganhar mais
terreno nos últimos anos do que desde a destruição do Judaísmo
europeu, durante a II Guerra Mundial. Certamente o Anti-
semitismo não foi enterrado com Hitler.

Alguém disse: a única coisa que podemos aprender é que o


homem nunca aprende com a história. A sobrevivência e
constante reavivamento de Os Protocolos de Sião fornecem clara
e distinta evidência destas palavras. Portanto, lidar com 90 anos
após o seu primeiro aparecimento não precisa de justificação
alguma. Ignorar suas profundas raízes, seus frutos amargos e
crescimento contínuo seria altamente irresponsável e perigoso.

A face horrível do Anti-semitismo apresenta características


diferentes. Contudo, ela é basicamente a mesma. Para
reconhecê-lo, sempre que ele apareça, devemos nos familiarizar
com estas características. A sobrevivência de Os Protocolos
após o Holocausto revela mais qualidades peculiares, desde o
fenômeno da maldade humana na Idade Antiga, às vezes
disfarçado sob outros nomes e promovido por pessoas influentes
e respeitáveis. Um exemplo sério de sua influência no pós-guerra
pode substanciar isto.

Tal exame mostra que fundamentalmente quatro círculos


importantes proveram o solo para a sobrevivência e
ressurgimento da mentira anti-semita.

O mundo comunista e socialista sob a liderança da ex-União


Soviética.

O Islamismo e o Mundo Árabe.

Ultra-nacionalistas e neonazistas.
Certos grupos conservadores, liberais e cristãos de esquerda.

O mais baixo denominador comum para estes grupos altamente


disparatados e antagônicos, os quais, de outro modo,
virtualmente nada possuem em comum, é a discriminação e ódio
aos Judeus. Contudo, isso não é surpreendente. Já aprendemos
que Os Protocolos atribuem as mais contraditórias visões aos
Judeus. Consequentemente, qualquer membro destas opiniões
mutuamente exclusivas poderia considerar os Judeus como
representantes de seus oponentes. Veremos também que todas
as demais facetas do clássico e moderno Anti-semitismo –
religiosa, política e racial – têm sobrevivido.

Comecemos pelo país onde Os Protocolos têm suas mais


profundas raízes – na Rússia.

A Ex-União Soviética e Mundo Comunista


Mesmo na história pós-guerra os russos são os precursores na
disseminação de Os Protocolos e de suas idéias. Quando eles
foram primeiro publicados na Rússia, eram o produto de
defensores frustrados e paranóicos do decadente império
czarista. Após a derrocada deste, na Revolução Russa, Os
Protocolos perderam a significação, pelo menos durante algum
tempo. Em vez disso os alemães desempenharam o papel
principal como sustentáculos modelares do Anti-semitismo.
Contudo, logo os russos fizeram um retrocesso, dessa vez com a
decisiva e afortunada diferença de agora aparecerem como um
super-poder no mundo, permanente ingrediente na política de
Stalin.

Conquanto Lenin houvesse repudiado o Anti-semitismo de seus


oponentes contra-revolucionários, seu paranóico sucessor o
trouxe de volta, com todo o seu horror. Como ex-Cristão ortodoxo
e mesmo estudante de teologia, Stalin certamente estava
familiarizado com o anti-judaísmo cristão. Como ateu marxista
ele poderia facilmente mostrar novas racionalizações para o
Anti-semitismo.

Karl Marx
O próprio Karl Marx fora sempre retratado como um Judeu
pelos anti-semitas da ala direita, que desejavam ver a
Revolução Russa como parte da conspiração mundial judaica. De
fato, seu pai era um leigo secular, que havia se convertido ao
Cristianismo Luterano, a fim de ser aceito na sociedade.
Consequentemente, o próprio Marx fora criado como Cristão,
sem jamais ter recebido qualquer educação religiosa e,
principalmente, educação judaica.

Sua visão materialista e anti-religiosa do mundo foi, no mínimo,


imbuída de Anti-semitismo da pior qualidade. Tendo em vista
que o seu arqui-inimigo era o Capitalismo, e o direito à
propriedade era visto como um mal inerente ao mundo, o
clássico tema anti-semita dos Judeus como ambiciosos líderes
financeiros, surpreendentemente, não foi por ele adotado.

“Não busquemos o segredo de sua religião no Judeu verdadeiro.


Qual é a base profana do Judaísmo? A necessidade prática, o
interesse próprio. Qual é o culto mundial do Judeu? A barganha.
Qual é o seu deus mundial? O dinheiro!”

Com tal característica, “Judeu” e “Capitalismo” para ele eram


sinônimos. O Judeu é visto como inimigo da humanidade. O
inegável egoísmo e comercialização dentro do Cristianismo são
então, também, explicados como conseqüência da influência
judaica. A solução lógica do problema judaico nos soa familiar
em Auschwitz. “Em análise final, a emancipação dos Judeus é a
emancipação da humanidade do Judaísmo” (21). Muito embora,
o genocídio não seja aqui mencionado e provavelmente nem
mesmo concebido pelo teórico Karl Marx, em sua visão não há
espaço para os Judeus (22). Sempre e sempre a história tem
provado que existe apenas um passo entre a denúncia espiritual
e ideológica do Judaísmo e do povo judeu e da perseguição
física. O Marxismo e o Comunismo ainda são um exemplo disso.

Teoria e Prática
Desse modo, não é de surpreender que até Hitler tenha
expressado sua admiração pela característica anti-judaica de
Marx, e que Stalin tenha reativado o clássico Anti-semitismo na
União Soviética. Ele purgou brutalmente o Partido Comunista do
elemento judeu , nos “grande expurgos”, no final dos anos 30, e
fez com que muitos Judeus fossem executados ou deportados
para a Sibéria. O período entre 1948/1953 é de algum modo
chamado de anos negros, em virtude das perseguições
stalisnistas (23). É significativo que Stalin (1879-1953), no início
dos anos 50, final de sua carreira, mandasse publicar uma
versão de Os Protocolos. Desnecessário é dizer que nesse tempo
eles apresentaram a mensagem de que os Judeus estavam
preparando uma conspiração mundial imperialista, de parceria
com o Ocidente, contra a União Soviética.

Mesmo quando mais tarde o Stalinismo foi denunciado, o Anti-


semitismo sobreviveu. E para termos a certeza, virtualmente
todas as idéias de Os Protocolos foram adaptadas para se
encaixarem à propaganda comunista. Em inúmeros livros e
artigos o poder por trás de vários inimigos era sempre atribuído
aos Judeus. Somente a terminologia havia mudado. Quem
desejava admitir o Anti-semitismo após o Holocausto? Assim em
vez dos termos “judeu” e “judaico” foi criado um novo termo:
“sionista”, junto com a criação do Estado de Israel, como sendo o
foco de todo o mal (ver ps. 46 e seguintes e 66 (24) .

O Sionismo internacional foi supostamente se infiltrando nas


nações imperialistas e capitalistas, formando um poderoso
império de financistas e industriais, usando a mídia em sua
campanha maciça contra o mundo socialista, os trabalhadores e
os movimentos de libertação. O objetivo era o mesmo de antes,
criar um governo judaico mundial, a fim de escravizar os não-
Judeus. Novamente os Judeus eram os inimigos, não apenas do
povo soviético, mas do mundo inteiro. Não importava que
dificilmente tivesse ficado um só Judeu na Europa, após o
extermínio nazista; eles ainda eram retratados como o poder
todo-poderoso por trás da oposição e das insurreições. Como por
exemplo, aquelas da Checoslováquia e da Polônia, em 1968 (25).

Ainda mais absurdo era o argumento de sua suposta ideologia


racista e conceito de superioridade de “povo escolhido”, que
havia inspirado Hitler e os nazistas! Realmente, o Nazismo, o
Fascismo e o Sionismo eram rotulados do mesmo modo, como
igualmente reacionários e racistas. E bem antes, os contra-
revolucionários, que lutaram contra os comunistas durante a
revolução, eram agora retratados como Judeus – isto é – uma
total reversão dos argumentos que os conservadores russos e
anti-comunistas haviam usado naqueles dias contra os Judeus,
por serem comunistas!

Três Características
Nesta propaganda vulgar reconhecemos algumas características
constantes dos anti-semitas; aqui limitar-me-ei a apenas três:

1.Deixar que seus próprios oponentes e objetos de ódio sejam


representados por um vago, secreto grupo de conspiradores
judeus. Na propaganda comunista os Sionistas eram,
consequentemente, a incorporação do Capitalismo e dos valores
corrompidos do Ocidente. Sua propaganda ateísta nem mesmo
hesitava em apresentar o Vaticano e o Concílio Mundial de
Igrejas como sócios conspiradores dos Judeus. Um fator facilita
essas acusações; o fato de que os Judeus foram dispersos por
todo o mundo e como resultado também viviam em países e
entre povos, que eram considerados como inimigos. Quaisquer
que fossem os inimigos, os Judeus podiam ser apontados como
símbolo deles e o principal objeto do seu ódio.

Para projetar seus próprios crimes contra os Judeus, Hitler bem


como Stalin e seus sucessores, sem dúvida tinham ambições de
ditadura mundial. Desse modo, eles atribuíam tais aspirações
aos Judeus. A infiltração do Serviço Secreto Judaico, estava,
conforme Hitler e Stalin, espalhada por todo o mundo, e seus
métodos eram brutais. A projeção anti-semita disto era uma
rede internacional judaica – agora sionista – de espiões para
uma conspiração contra a humanidade.

Em resumo, o Anti-semitismo é sempre usado como disfarce


para os próprios planos malignos de alguém (ver p. 31). Este
exemplo tem-se repetido tão freqüentemente na História que
gostaríamos de parafrasear um provérbio: “Diga-me o que eles
falam sobre os Judeus e eu lhe direi quem são eles”!
Para dar legitimidade aos crimes anti-semitas no passado e no
presente, quer escondendo, diminuindo ou negando-os, ou
mesmo sustentando que os próprios Judeus estavam realmente
por trás desses crimes – sendo os Judeus as vítimas constantes
do racismo, eram agora retratados como racistas. Sendo uma
minoria oprimida por regimes totalitários e imperialistas, eles
agora eram retratados como opressores e imperialistas, e Israel
era descrito como um perigoso super-poder. Vítimas do genocídio
nazista, eles eram agora pintados como seus colaboradores e
sucessores. As piores características anti-semitas da propaganda
nazista precisavam apenas de um leve retoque para servirem a
tal propósito. No conflito do Oriente Médio, Israel tem sido
sempre comparado aos nazistas e acusado de organizar campos
de concentração e de cometer genocídio. (Sobre a negação do
Holocausto, ver ps. 54 e seguintes).

O resumo de tudo isto é: Os mitos de Os Protocolos, por mais


irracionais que sejam, sobreviveram e continuam florescendo no
Comunismo pós-guerra e se tornaram uma arma de
propaganda na Guerra Fria. Sua influência mundial foi
considerável, desde que a União Soviética exerceu o controle,
não apenas de numerosos estados comunistas e socialistas, mas
também sobre o mundo árabe e um grande número de países
em desenvolvimento, que dependiam do seu apoio (26). Como
vergonhoso monumento deste veneno anti-semita temos a
notória resolução das Nações Unidas de que Sionismo é racismo
(1975).

Somente após a derrocada do bloco comunista, essa resolução


pôde ser revogada, em 1991.

O fato é que o sucesso pós-guerra de Os Protocolos no mundo


comunista só tem um paralelo – o Islamismo.

2. O Islamismo e o Mundo Árabe


Falar sobre Anti-semitismo entre os Árabes pode até parecer
uma contradição de termos. A palavra semita é tirada do mais
velho dos três filhos de Noé, Sem (Gênesis 9:18). Nas teorias
raciais do último século na Europa, Judeus e Árabes juntos eram
descritos como uma raça semita especial. O Hebraico, o Árabe e
outras línguas relacionadas (exemplo: Aramaico, Acadiano e
Amárico) são, portanto,chamadas “línguas semitas”.

Nessas ilusões pseudo-científicas havia raças puras, que podiam


ser classificadas segundo suas qualificações. Não é surpresa que
a raça ariana tenha sido considerada como superior. Visto como
os Judeus eram o mais importante povo não-ariano na Europa,
estas teorias foram desenvolvidas, a fim de dar razões científicas
para a discriminação contra eles e mantê-los à parte da raça
supostamente superior. Nessa moldura de referências o termo
“Anti-semitismo” emergiu. Ele foi primeiramente expressado em
1879, como “Antisemitismus” pelo jornalista alemão Wilhelm
Marr, e foi então supostamente tido como um termo mais
respeitável do que o antigo Judenhass (ódio aos Judeus). Contudo
ele não passava de um novo nome para o mesmo fenômeno –
ódio declarado aos Judeus – e somente aos Judeus; visto como
jamais foi usado para expressar desprezo ou para discriminar os
Árabes ou outro povo qualquer (27).

Portanto, a etimologia exata e significação básica da palavra


Anti-semitismo não justifica o argumento comum de que os
Árabes não podem ser anti-semitas visto como eles próprios são
semitas. O contrário é verdadeiro. Na era pós-Segunda Guerra
Mundial não havia terreno mais fértil para o Anti-semitismo do
que nos países árabes e comunistas. Existem razões tanto
religiosas como políticas para esse fenômeno. Religiosamente o
Islamismo tem o mesmo problema que o Cristianismo versus
Judaísmo. As raízes mais profundas de sua crença são
encontradas na Bíblia e no Judaísmo, ao mesmo tempo em que
afirmam ser a revelação de Deus, a qual tem ultrapassado e
substituído as revelações anteriores. Essa atitude de triunfalismo
pode ser parcialmente observada como “exportação” cristã. No
Islamismo esta ambivalência é expressa pela visão de Judeus e
Cristãos, ambos como “infiéis” e como o “Povo do Livro”. Sua
posição numa sociedade muçulmana deve, portanto, ser
caracterizada tanto por sujeição como por proteção; eles se
consideram os chamados povos “protegidos” (dhimmis).
O que isto significava em realidade através da história dependia
da atitude dos governantes. Nos melhores tempos (por exemplo
em certas áreas durante a Idade Média), a situação dos Judeus
era muito melhor do que a dos países cristãos. Mas semelhante à
situação no mundo cristão, eles eram constantemente
humilhados e discriminados. Os exemplos das proibições de
usarem roupas dignas, cavalgar cavalos, construir casas mais
altas que as dos Muçulmanos, não sendo aceitos como
testemunhas nas cortes muçulmanas, até mesmo para casos
perigosos, como serem forçados a usar roupas distintas, tais
como diferentes sapatos coloridos, ou então nenhum sapato,
bonés especiais e distintivos coloridos sobre suas vestes, se
enfileiravam. Esta visível marca exterior dos Judeus tornava-os
vulneráveis como objetos de perseguições, particularmente nos
tempo de epidemia, pobreza e insurreições. O resultado podia
ser: conversões forçadas, impostos mais pesados, confisco de
propriedades e até mesmo massacres (28).

Exatamente como no mundo cristão, existem profundas raízes


de ensino e prática anti-judaicas, nos países muçulmanos. O
Anti-semitismo recebeu novo reforço através da progressiva
imigração judaica à Palestina, principalmente começando na
segunda metade do último século, e culminando com a criação
do Estado de Israel, em 1948. O mito da conspiração judaica
mudial, conforme ventilado em Os Protocolos e outros escritos
anti-semitas, se adaptou idealmente à oposição árabe contra a
imigração judaica; os Judeus podiam ser retratados como
inimigos ainda mais perigosos do que pareciam ser. Isso
facilitaria em muito racionalizar e ameaçá-los facilmente através
de sua própria política de fracassos e derrotas.

Durante a Segunda Guerra Mundial houve freqüentes contatos


entre os nazistas e os diversos líderes árabes, sendo o mais
notório o grande Mufti em Jerusalém, Hadje Amin al-Husseine,
bem conhecido pela sua colaboração com Hitler e a liderança
nazista. Após a guerra, o extermínio dos Judeus por Hitler tem
sido sempre justificado nos países árabes, e alguns criminosos
de guerra encontraram ali um porto seguro, a fim de
continuarem suas atividades anti-semitas.
Não é de admirar que Os Protocolos tenham sido traduzidos para
o Árabe e se tornado bestsellers no mundo árabe. Organizações
anti-semitas têm-nos usado concomitantemente nos países
árabes como base para a distribuição de material anti-semita.
Exatamente como na ex-União Soviética, este documento
fraudulento tem sido oficialmente sancionado e citado no mais
alto nível político. Extratos e comentários têm sido
freqüentemente impressos em jornais oficiais, incorporados aos
livros textos escolares e informações para o exército.

Nos últimos anos a distribuição tem estado provavelmente em


declínio, principalmente nos países que tentam melhorar suas
relações com o mundo ocidental. Contudo, em círculos
influenciados pelo fundamentalismo muçulmano, o clássico Anti-
semitismo continua a envenenar sem impedimento algum.
Assim, a plataforma política dos fundamentalistas Hamas, o
Movimento de Resistência Islâmica, em 1988, toma emprestadas
quase literalmente as idéias de Os Protocolos.

Os Judeus têm se apossado da mídia mundial e dos centros


financeiros. Ao fomentar revoluções, guerras e tais movimentos
como a Franco-Maçonaria, o Comunismo, Capitalismo e
Sionismo, Rotary, Lions, B’nai B’rith, etc. – estão subvertendo a
sociedade humana como um todo, a fim de trazerem a sua
destruição, propagar seus próprios vícios e corrupção, e dominar
o mundo através de tais instruções de estimação, como a Liga
das Nações, as Nações Unidas e o Conselho de Segurança. Seus
esquemas estão detalhados em Os Protocolos dos Sábios de
Sião.

O estatuto mais claro do mesmo movimento oferece mais


detalhes da suposta malignidade dos Judeus, não deixando nem
mesmo de acusá-los como responsáveis pela Segunda Guerra
Mundial. O sustentáculo estimado do Hamas nos territórios
ocupados por Israel em 1967 chega a aproximadamente 40% da
população árabe. Isso dá uma visão do vasto impacto de idéias
exercido sobre a população até os dias atuais (29).

Naturalmente os comentários de Os Protocolos no mundo árabe


os têm popularizado para se adaptarem ao conflito judeu-árabe.
Agora o Estado de Israel é o ponto focal do imperialismo judaico,
com ambições mundiais. Dizem que Israel é apenas um primeiro
passo em direção à colonização e opressão judaicas dos países
árabes circunvizinhos.

Uma Moeda e uma Bandeira


Dois exemplos recentes deste tipo moderno de alegações de Os
Protocolos podem ser mencionados: as moedas israelenses hoje
retratam geralmente motivos de antigas moedas judaicas da
época anterior à destruição do templo, em 70 A D. Uma das
primeiras gravuras do Menorah no templo de Jerusalém foi
encontrada em tal moeda. Uma réplica aparece agora na moeda
moderna de 10-Agorah, na mesma exata figura irregular,
conforme a original. Com alguma imaginação esta figura poderia
ser interpretada como um mapa do Oriente Médio cobrindo uma
área que atinge pelo menos do Egito até o Iraque e o Irã. Desse
modo, a moeda é usada como “prova” das ambições
imperialistas de Israel, interpretação que tenho ouvido nos
círculos de Yasser Arafat a visitantes intelectuais da Europa.

Na mesma linha de propaganda ridícula alguns estudantes me


disseram que o seu professor havia “provado” o mesmo ao
apontar as duas listas azuis da Bandeira de Israel como
simbolizando as fronteiras que Israel almeja possuir, a saber o
Canal de Suez ou o Nilo, ao ocidente, e o Tigre-Eufrates, ao
oriente. A verdade teria sido tão facilmente acessível como com
a moeda: as listas se referem realmente a um objeto central
religioso – o xale de oração ou Tallit, com suas clássicas listas.
Além do mais, a bandeira foi realmente exibida pela primeira vez
em 1891, isto é, muito antes dos planos de um lar para os Judeus
serem materializados – e então muito menos quaisquer
fronteiras específicas. Isso apenas mostra como de outro modo
pessoas racionais perdem sua habilidade, até mesmo de
procurar a verdade, quando o prejuízo e a paranóia fornecem o
modelo de interpretação.
Anti-semistismo e Anti-sionismo
Na sobrevivência pós-guerra de Os Protocolos, o Anti-semitismo
tem sofrido uma mudança na terminologia, senão em
substância. Principalmente dois fatores subjacentes causando
esta mudança deveriam ser mencionados. Primeiro, após a
destruição do Judaísmo europeu, durante a II Guerra Mundial, o
Anti-semitismo tornou-se um conceito impossível, em razão de
seus frutos mortais. Segundo, a criação do Estado de Israel
tornou-se o foco do mundo em sua relação com o povo judeu. À
luz deste fato o ódio aos Judeus pode ser facilmente canalizado
para um ódio aparentemente mais sofisticado, e politicamente
motivado, para um Estado Judaico.

Este Anti-semitismo é agora rebatizado com o nome de Anti-


sionismo e os anti-sionistas preferem usar a palavra “Sionistas”
em vez de Judeus. Na realidade, contudo, geralmente elas
significam a mesma coisa. Tal identificação não é em si mesma
totalmente errada, visto como virtualmente todos os Judeus do
mundo são Sionistas, no sentido em que eles apoiam a idéia dos
direitos nacionais dos Judeus à terra bíblica de seus pais. O
Estado de Israel é realmente apenas a aplicação prática de um
sonho que tem sobrevivido entre o povo judeu através das eras.
Como sabemos, a palavra “Sião” é um dos muitos nomes para
Jerusalém, que é o centro do Israel bíblico. Já no livro de Daniel
aprendemos que Jerusalém era o centro de oração dos Judeus –
do mesmo modo como os Muçulmanos se voltam para Meca em
suas orações. Cada ano a refeição de Páscoa tem sido concluída
com a oração “até o próximo ano em Jerusalém” e durante
séculos o Judeu observador tem concluído cada refeição com a
oração: “tem misericórdia, Senhor nosso Deus, de Israel teu
povo, de Jerusalém tua cidade, de Sião, a habitação da tua
glória... possa o Misericordioso quebrar o jugo do exílio de nosso
pescoço e conduzir-nos direto à nossa terra”. Podemos ver como
Sião/Jerusalém é o símbolo da terra inteira e o alvo dos sonhos
futuros que envolvem o final do exílio. É realmente muito
natural, portanto, que o movimento que emergiu nas últimas
décadas do século passado, o qual tentou realizar estes sonhos
da antigüidade, tenha sido chamado Sionismo.
É difícil escapar à conclusão de que os anti-sionistas
simplesmente encontraram um novo termo, supostamente
apenas político e, portanto, legalizado, de modo semelhante
como o antigo ódio aos Judeus foi rebatizado de “Anti-
semitismo”, no século passado, num esforço de torná-lo mais
científico e, assim, respeitável. Se Anti-semitismo significa
discriminação contra os Judeus, Anti-sionismo, naturalmente
significa Anti-semitismo, quando aqueles que o usam advogam
um Estado para os Palestinos, enquanto o rejeitam para os
Judeus. Muitos dos que se identificam com o Anti-sionismo não
estão realmente discutindo as fronteiras de Israel, mas negando
os legítimos direitos que os judeus têm a um estado sem
fronteira alguma. Este é o contexto da discussão inconveniente
de “Israel tem o direito de existir” – uma discussão que não se
aplica a nenhum outro estado no mundo.

Tal deliberação emana de falsificações, tanto do Judaísmo como


de sua história. Então os Judeus são considerados apenas como
seguidores de uma religião, mas nunca são vistos como um povo
com direitos nacionais, conforme as outras nações. O fato de
terem eles sobrevivido como uma nação por mais de três mil
anos é obscurecido e ostensivamente negado, como também, é
e continua sendo a presença judaica na Palestina através da
história. Portanto eles são retratados como invasores e
estrangeiros no Oriente Médio – colonizadores imperialistas
ocidentais sem conexão alguma com os seus antepassados.

Até mesmo a história recente tem sido reescrita, retratando


Israel como poderoso e expansionista agressor e raiz de todo
mal no Oriente Médio. Em vez de um conflito violento, no qual
Israel tem sido constantemente atacado e atos de crueldade têm
sido cometidos de ambos os lados, os anti-sionistas desejam
simplificar a realidade. Com relação ao maligno opressor – Israel
– e as vítimas inocentes de sua opressão – os Palestinos. Para
qualquer um que esteja familiarizado com o Anti-semitismo isto
soa como o conteúdo de Os Protocolos. É também interessante
ver como os anti-sionistas por um lado vêem uma conspiração
sionista mundial – estando Israel e o Sionismo aí incluídos. Por
outro lado, Israel não tem direito algum, em parte alguma. O
próprio nome “Israel” é então denegrido como palavra
amaldiçoada e suja, que nem deveria ser mencionada entre as
nações. Se o cálido sonho dos anti-semitas é um mundo sem
Judeus, o dos anti-sionistas é o de um mundo sem Estado Judeu.
A diferença é mais questão de nuance do que de substância (ver
também p. 66).

Criticar a violência e injustiça praticadas por Israel não é


certamente Anti-semitismo, até o ponto em que os mesmos
padrões de crítica sejam igualmente aplicados a todos os
envolvidos no conflito. Contudo, fazer de Israel a raiz de todo o
mal e até mesmo negar sua legitimidade, não escapa ao rótulo
anti-semita (30). Uma pessoa que viu claramente o laço entre o
Anti-semitismo e o Anti-sionismo foi Martin Luther King. Quando
um estudante se apressou uma vez em atacar os “sionistas”, ele
imediatamente o cortou dizendo: “quando as pessoas criticam os
sionistas querem dizer Judeus. Você está falando de Anti-
semitismo.

Exatamente como a palavra “Judeu” tem sido virtualmente


ligada pelos anti-semitas a todo o mal e visão contrária, o
mesmo agora mais freqüentemente se aplica ao termo
“sionista”. Isto é particularmente óbvio no mundo árabe, sendo
um exemplo absurdo a guerra entre o Irã e o Iraque, nos anos
80. Ambos são inimigos mortais de Israel. Contudo, os dois lados
se acusavam mutuamente como fazendo parte de uma
Conspiração Sionista. Na mesma linha o Coronel Qadafi da Líbia
tem admoestado sobre uma “Conspiração Sionista” contra os
países africanos, dentro dos limites de suas ambições políticas. O
modelo de Anti-semitismo de Os Protocolos de fato aqui se
repete (31).

Também pode-se esperar que o tênue véu que os anti-sionistas


têm atirado sobre o Anti-semitismo cairá, logo que os países
circunvizinhos estejam prontos a aceitá-lo. Um registro recente
do encontro de trezentos estudantes islâmicos na Escola de
Estudos Africanos e Orientais da Universidade de Londres é
alarmante, muito embora ele trate apenas de extremistas e não
do muçulmano comum. Um grupo fundamentalista militante deu
a mensagem de que a “idade messiânica” – a aceitação do
Islamismo por todos os habitantes da terra – não chegaria, a não
ser que houvesse o extermínio em massa dos Judeus. Conforme
o relatório uma declaração pública advogava: “Temos falado
sobre matar os sionistas. Não mencionemos os sionistas. Os
Judeus são nossos inimigos e nós deveríamos acabar com eles”
(32).

O resumo é: a conclusão sem dúvida pode ser tirada de que o


Anti-sionismo segue um modelo de falsificações e distorções do
Judaísmo e da história judaica, o que o torna não apenas uma
expressão de Anti-semitismo, porém sua mais comum e típica
expressão nos tempos atuais. Poder-se-ia esperar que o contínuo
processo de paz e a espera de resultados, eventualmente
enfraquecerão esta forma de Anti-semitismo. Porém não
deveríamos acalentar a ilusão de que ao Anti-semitismo
desaparecerá como resultado de soluções políticas de qualquer
espécie. Sempre haverá fanáticos e cegos, que resistirão a
quaisquer fatos, mesmo conclusivos, e a qualquer mudança do
seu ódio religiosa e ideologicamente motivado aos Judeus (ver p.
72 e seguinte).

3. Ultra-Nacionalistas e Neonazistas
Os herdeiros diretos dos Nazistas foram, durante várias décadas
após a II Guerra Mundial, reduzidos a grupos marginais da
sociedade, sendo geralmente observados como fanáticos e
lunáticos. Dois fatores principais têm levado a um ressurgimento
do ódio aos “estrangeiros” e ao racismo, no qual o Anti-
semitismo é um ingrediente importante. Primeiro, o colapso do
Comunismo liberou o Nacionalismo, que havia sido suprimido por
várias décadas. O extremo Nacionalismo e o Anti-semitismo
andam sempre de mãos dadas, visto como os Judeus são
considerados internacionais e estrangeiros. Segundo, as novas
gerações cresceram, pouco conhecendo a história recente, e
têm pouca percepção do racismo e seus frutos malignos. Além
disso, a recessão econômica e pobreza em muitos países tem
acendido o extremismo e a necessidade de encontrar um bode
expiatório.

Desde 1990 alguns partidos nacionalistas têm emergido dentro


do ex-bloco comunista, sendo o mais conhecido o Parmyat
(Memória), na Rússia. Um julgamento recente em Moscou multou
esse partido político pelo uso de Os Protocolos, uma propaganda
anti-semita. O julgamento foi muitas vezes perturbado pelos
membros do Parmyat e outros grupos anti-semitas, pelos quais
essa infame impostura é usada, a fim de provar que os Judeus
de fato agiram por trás da opressão comunista. O veredicto, em
novembro de 1993, denunciou Os Protocolos como uma
impostura e multou o Parmyat por atos anti-semitas. É certo que
tem havido casos judiciais semelhantes, e todos eles levaram à
mesma conclusão. Mas foi este o primeiro veredicto desse tipo,
no país onde se originou essa fraude, daí ser particularmente
importante.

Contudo, os anti-semitas são imunes aos fatos e, desse modo,


o Anti-semitismo vai continuar sua virulenta difusão na Rússia, a
despeito de quaisquer veredictos judiciais (ver p. 21). Enquanto
se escreve isto, um propalado anti-semita Vladimir Zhirinowsky,
líder do partido nacionalista e neofascista, já obteve pelo menos
¼ dos votos no Parlamento Russo. Termos clássicos de Os
Protocolos reverberam seus discursos, sempre que ele menciona
os Judeus.

Porém, mesmo em outras partes da Europa o extremo


nacionalismo combinado com o racismo constituem uma ameaça
contínua. As pichações anti-semitas são vistas sempre e
sempre; os cemitérios judaicos são profanados e as sinagogas
ameaçadas e vandalizadas. Videogames de inspiração nazista
estão sendo produzidos, nos quais os atores obtêm crédito por
torturar prisioneiros e fazer tatuagens em suas peles.

Os neonazistas e “cabeças raspadas” na Alemanha, bem como


os partidos ultra nacionalistas, como The National Front, na
França, fazem manchetes nos jornais do mundo inteiro.
Conforme registro recente, o número de atos violentos pela
extrema direita aumentou oito vezes na Alemanha, desde 1990.
Um exemplo semelhante pode ser visto na Itália, onde o partido
neofascista conseguiu a maior parte dos votos nas últimas
eleições (1994), obtendo 34 cadeiras na Câmara dos Deputados,
uma das quais agora é ocupada por Alessandra Mussolini, neta
do ditador italiano. Um recente Primeiro Ministro da Hungria é
admirador do ex-líder fascista, que colaborou com Hitler. Outro
proeminente político direitista admoestou contra a idéia da
conspiração anti-judaica tomar conta do país e foi cercado de
violência racista, por toda a Hungria. Na Suécia, Os Protocolos
têm estado sempre indiretamente em julgamento, após uma
das piores ondas de Anti-semitismo. Dificilmente quaisquer
elementos das declarações inspiradas em Os Protocolos e na
propaganda nazista estiveram ausentes nas infames
transmissões a longa distância da Rádio Islâmica, nos anos 1980.
Em 1989 o produtor foi declarado culpado de falsas declarações
e difamação contra um grupo étnico. Desde então os
recalcitrantes promotores da estação de rádio têm tentado
resumir suas atividades, aguardando proteção através do
parágrafo da “liberdade de expressão” (ver também p.66).

Os grupos e partidos anti-semitas emergem com crescente


intensidade nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Nos
Estados Unidos, organizações como a Aryan Nation, Ku Klux
Klan e The Nation of Islam são notórias (33) . O líder desta
última, Louis Farrakhan, e cada vez mais respeitáveis pessoas,
como um ex-auxiliar do Prefeito de Chicago, têm ido até mais
longe, ao ponto de sugerir que os médicos judeus inventaram o
vírus da AIDS para infectar as crianças negras – uma versão
moderna da acusação medieval da Peste Negra e da superstição
de que os Judeus envenenavam os poços e até matavam
crianças cristãs. Essas calúnias ridículas podem ser atribuídas à
idéia de Os Protocolos de que os Judeus odeiam os Gentios e
anseiam por subdividi-los e escravizá-los. Para dar certeza, os
anti-semitas negros nos Estados Unidos recentemente têm
acusado os Judeus de serem de algum modo responsáveis pelo
negócio da escravidão, sendo, portanto, arqui-inimigos dos
americanos africanos (34). O fato de que é virtualmente
impossível encontrar documento algum que mostre qualquer
envolvimento judaico – em contraste com o grande número de
negociantes árabes de escravos – é, como sempre, irrelevante
para erradicar tais rumores. Novamente é impossível encontrar
um único Judeu que se tenha engajado nesse negócio vil e
desumano (ver ps. 28 e 71).

Nenhum grupo deveria sem dúvida ser culpado pelos feitos dos
seus antepassados. Contudo, ao tratar da tragédia da escravidão
no passado, tanto os Cristãos como os Muçulmanos deveriam ter
muitos esqueletos vindo até o seu quarto, para ajustar contas.

Na América do Sul o Anti-semitismo direitista tem longa tradição


na distribuição de Os Protocolos e de material relacionado,
continuando a ser produzido após breve interrupção, mesmo
durante a II Guerra Mundial.

Até mesmo num país como o Japão, onde quase não existe um
só Judeu, Os Protocolos e um grande número de publicações
anti-semitas semelhantes têm sido distribuídos. No jornal
financeiro mais respeitável um anúncio afirmava recentemente
que os Judeus estavam tramando matar a metade da população
humana e escravizar o Japão. Uma edição japonesa do “The
International Jew” (O Judeu Internacional), de Henry Ford, foi
exibida recentemente na seção de economia, na rede líder de
livrarias de Tóquio, promovida por um jornal importante.
Provavelmente muitas pessoas irão crer nessas fantasias e até
mesmo imaginarão: deve haver alguma verdade por trás de tudo
isso!

Negação do Holocausto

Quando se fala de Anti-semitismo direitista uma característica


se torna particularmente importante: a negação do Holocausto.
Tendo em vista que os perpetradores do genocídio são aqueles
com quem os anti-semitas constantemente se identificam, eles
têm de negar suas piores atrocidades. Quero dizer, o propósito é
reabilitar os nazistas e o Anti-semitismo, ao tentar esconder os
frutos mortíferos. Eles sabem também que o Holocausto é a
principal razão para o fato de que o Anti-semitismo esteja
ultrapassado no Ocidente e ao negar o Holocausto eles esperam
obter sua legitimidade política.

O círculo das pessoas que negam, ou pelos menos tentam


minimizar ou banalizar as dimensões do assassínio em massa
praticado pelo Nazismo é, contudo, muito maior do que o grupo
limitado de neonazistas. Na verdade, todo anti-semita se
interessa por este assunto, se não por outra razão, pelo menos
para remover qualquer coisa que conduza à simpatia pelos
Judeus. Portanto, encontramos até mesmo grupos esquerdistas,
que desejam suprimir a memória do Holocausto – como
acontecimento único – quando se chega aos Judeus, com o
objetivo principal de indiscriminado extermínio. Em vez disso,
eles sempre frisam, às expensas dos Judeus, outras categorias
de pessoas que foram exterminadas, como os comunistas,
ciganos, homossexuais, etc.

A nível nacional, vários países que estavam direta ou


indiretamente envolvidos, têm interesse em suprimir a memória
do Holocausto, a fim de escaparem ao embaraçoso e doloroso
passado.

Muitos grupos cristãos também têm interesse em minimizar o


mal do Holocausto e a passividade das igrejas, pela mesma
razão. Para aliviar mais a sua consciência, eles podem
ansiosamente procurar atrocidades cometidas hoje por Israel e
usá-las – coletiva e fantasiosamente, é claro – para acusar as
vítimas do Holocausto de executarem os mesmos crimes de seus
opressores (ver p. 38 e seguintes).

Os anti-semitas naturalmente têm uma razão especial para


reinterpretar o Holocausto e sua negação retórica do Holocausto
é sempre mascarada como crítica ao Sionismo. O Holocausto é,
ainda, tratado como o produto de uma conspiração judaica
mundial, a fim de levantar fundos para o Estado de Israel. Neste
caminho seguem eles o clássico modelo anti-semita de tentar
transformar o crime em acusação contra as vítimas. Os círculos
árabes censuram sempre a criação de Israel atribuindo-a à culpa
de consciência do Ocidente, e o Holocausto, como fator principal
por trás, no sentido de conseguir o apoio mundial para Israel.
Diante de tal visão, é natural tentar remover esta razão de
simpatia pelo Estado Judeu

O General Eisenhower aparece em alguns dos muitos filmes


documentários, quando da liberação dos campos de
concentração. Ele afirma que deseja ser a testemunha em
primeira mão, visto como pode chegar o dia em que as pessoas
usarão as atrocidades nazistas como propaganda. Ele acabou se
tornando um profeta. Hoje pseudo-historiadores – chamados de
“revisionistas” – viajam pelo mundo inteiro fazendo preleções
para adultos simpatizantes e curiosos ouvintes, com artigos
públicos, jornais e livros, dando uma nova visão de “O Mito do
Holocausto” (35). Numa estatística recente o número de
publicações apoiando tais afirmações aumentou de quase 100,
em 1981, para 250, em 1992. Também é registrado que anúncios
de página inteira sobre o assunto têm aparecido em jornais
estudantis.

A tendência é obvia e as pessoa por trás não podem mais – como


desejariam – ser desconsideradas como sendo simplesmente
uma faixa de lunáticos, visto como fazem assustadoramente
parte de um movimento internacional coordenado e obviamente
encontram grupos ignorantes e injustiçados, que caem vítimas
de sua repetida mentira.

Eles esperam naturalmente que algumas pessoas observem a


verdade como estando pelo menos em algum lugar entre as
mentiras e a realidade – como se a verdade fosse uma questão
de opinião. Mas, provavelmente, terão sucesso, pelo menos em
parte. O Holocausto agora está sendo removido da memória
para a história, o que o torna mais vulnerável às mentiras
revisionistas. Todas as testemunhas oculares brevemente não
mais estarão entre nós. Muito embora a documentação seja
espantosa, muitas pessoas que não se lembram do que
realmente aconteceu, não estudarão seriamente a
documentação disponível. Estas são pessoas vulneráveis ao
provérbio fatídico, o qual afirma que aqueles que não aprendem
com a história estão prontos a repeti-la, ou, pelo menos, a se
tornarem seus espectadores indiferentes.

4. - Certos Cristãos Conservadores, Liberais e


de Esquerda
Após o Holocausto grandes segmentos do Cristianismo ocidental
eventualmente começaram a ver a conexão entre o ensino anti-
judaico e suas últimas conseqüências. Como já vimos, os frutos
mortíferos do genocídio tinham crescido a partir de uma raiz
venenosa, a qual fora regularmente fertilizada pelo ensino
cristão da superioridade e desprezo. Tal ensino havia retratado
uma imagem mais ou menos deturpada do Judaísmo como
religião legalista e de justiça própria, uma religião cruel de ódio e
vingança, oposta ao Cristianismo como a fé espiritual e a
comunidade do amor. Tais estereótipos negativos haviam
gradualmente enfraquecido a imunidade contra o mal do Anti-
semitismo no corpo cristão, até que dificilmente houvesse
qualquer resistência contra o mesmo, quando os Judeus foram
indiscriminadamente selecionados para o extermínio.

Os protestos das igrejas na Alemanha conseguiram deter a


matança nazista dos mentalmente retardados e cronicamente
enfermos, após um protesto de cerca de 70.000 pessoas.
Contudo, seis milhões de Judeus puderam ser assassinados sem
qualquer ação coordenada das igrejas em seu favor, de modo
algum. Fatos como estes falam por si mesmos.

Nos julgamentos pós guerra, mais de um criminoso nazista de


guerra tentou se defender referindo-se ao ensino cristão sendo o
mais notório, Julius Streicher, editor da mais infame publicação
anti-semita – Der Stürmer. Ele pôde referir-se ao último livro de
Martinho Lutero – “Sobre os Judeus e Suas Mentiras” – o qual ele
havia usado freqüentemente. Esse livro malicioso contém
virtualmente todo o programa nazista anti-semita, resumo do
genocídio (36). O fato é que quase não existe coisa alguma nas
leis discriminatórias anti-semitas, com a única exceção de
assassinato (ver p. 30), que não tenha sua procedência nas
antigas leis cristãs anti-judaicas (37). Novamente os fatos falam
por si mesmos.
Reconsiderando o Ensino da Igreja

Muitas igrejas ficaram diretamente em estado de choque e


contrição, após a guerra, e eventualmente verificaram que teria
havido um “antes” e um “depois” no ensino e pregação cristãos,
com a tragédia cataclísmica do Holocausto como inescapável
linha divisória. Somente os cristãos ignorantes e/ou insensíveis
ficam cegos diante desta realidade. Em 1948 o Concílio Mundial
de Igrejas reuniu-se em Amsterdã e publicou a primeira de uma
longa série de declarações, tentando tomar uma nova posição
quanto às conseqüências do trágico passado para a teologia
cristã.

Desde então, a maior parte das igrejas maiores tem seguido esse
ramo, sendo o mais importante o Concílio Vaticano II, com a
Encíclica Nostra Aetate, em 1965. Aqui o mito demoníaco da
culpa dos Judeus na morte de Cristo foi finalmente repudiado.
Teria, sem dúvida, sido mais apropriado que nós, cristãos,
tivéssemos visto a nossa própria necessidade de absolvição dos
crimes realmente cometidos pela Igreja através da história, em
vez de darmos absolvição aos Judeus por crimes que eles não
cometeram. Contudo Nostra Aetate sem dúvida assinalou uma
nova direção da Igreja. Além do mais as direções para o ensino e
pregação cristãos livres de anti-judaísmo foram
subseqüentemente editadas levando a estudos e pesquisas
extensos sobre a raiz do Anti-semitismo na teologia cristã. Um
documento particularmente importante é o “Guia de Relações
Religiosas com os Judeus”, de 1974, o qual, dentre outros
advoga a obrigatoriedade de “uma melhor compreensão e
renovada estima mútua”. A declaração então continua a tratar
com a importância de um conhecimento baseado num vívido
diálogo entre cristãos e Judeus e os perigos dos clássicos ensinos
da Igreja, que conduzem ao contraste entre o Velho e Novo
Testamento, e falsamente pintam o Judaísmo como “uma religião
de justiça própria, medo e legalismo, com nenhum apelo ao
amor a Deus e ao próximo” (38).

Contudo, grandes segmentos da cristandade ainda não foram


influenciados por estes esforços de chegar ao final destes negros
capítulos da história da Igreja. Isso é verdade, antes de tudo,
para as igrejas ortodoxa e oriental que têm muitos membros no
mundo árabe. É fato que a mais dura oposição contra maus
tratos e acusação de deicídio contra os Judeus procede da Liga
Árabe de Governo e dos líderes das igrejas árabes, alguns dos
quais fazem referência direta a Os Protocolos (39).

Certas Igrejas Evangélicas ainda continuam o clássico ensino de


desprezo pelos Judeus e o Judaísmo, como se nada tivesse
acontecido e, acima de tudo: uma coisa está declarada nos
documentos a nível oficial, mas o que está acontecendo no
subsolo é algo bem diferente. O que foi cultivado durante quase
dois mil anos certamente não pode ser desarraigado em
cinqüenta anos. Portanto, o espírito de Os Protocolos se
manifesta repetidamente dentro do Cristianismo, até o dia de
hoje. Vamos dar apenas alguns exemplos:

Até agora o uso direto e vulgar de Os Protocolos no ensino


cristão tem sido na maior parte limitada aos círculos cristãos
extremamente direitistas e nacionalistas, por um lado, e aos
grupos particulares escatológicos, que observam o final dos
tempos como iminente, por outro; algumas vezes são afiliados.
No primeiro grupo encontramos aqueles que andam de mãos
dadas com os extremos políticos, que por seu turno muitas vezes
ligam o seu Anti-semitismo ao clássico ensino cristão.

Nacionalismo, Cristianismo e Anti-semitismo


Os apoiadores do partido Parmyat russo são todos vistos
muito freqüentemente com a cruz em “rallies”, acusando os
Judeus de serem tanto comunistas como assassinos de Cristo.
Em 1993 um artigo de primeira página no renomado jornal
Pravda declarava que os Judeus haviam assassinado três frades
ortodoxos russos no Oriente. O artigo se refere às fontes judaicas
que supostamente contém “descrições do ritual dos assassinos
dos descrentes goyim – pelos levitas (com apoio rabínico) e
subseqüentes sacrifícios humanos”. A eficiência de tais
sacrifícios – diz o artigo – “aumentaria em proporção ao nível
moral e espiritual da vítima. Desse modo, as crianças e os
clérigos eram os preferidos”. Finalmente o pós escrito editorial
profetiza: “em 1994 esperamos ver uma onda sem precedentes
de propaganda judaica e sionista”. Um artigo tão maldoso, é
claro, não deveria ter sido publicado, se não houvesse mercado
para tais mitos religiosos antigos entre os Cristãos. Apesar de
uma breve e posterior desculpa dizendo que “o artigo continha
declarações injustas”, sua influência perniciosa não pode ser
subestimada e deveria deixar qualquer um que se preocupe com
o futuro do Judaísmo russo altamente em alerta.

Uma propaganda igualmente vulgar e de um certo modo


sofisticada de ostensivo Anti-semitismo é encontrada no livro de
um certo Stan Rittenhouse, nos Estados Unidos, intitulado “Com
Medo dos Judeus” (1982). Um dos capítulos do livro trata
particularmente de Os Protocolos, temperando-os com citações
da Bíblia, a fim de provar questões como: “Vós sois do Diabo que
é vosso pai e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida
desde o princípio...” (João 8:44). Aqui os Judeus são retratados
como conspirando junto com os liberais e comunistas contra a
América cristã como um passo em direção a um governo
satânico mundial. Vilificando sempre Israel, o livro é capaz – em
nome de Jesus Cristo - de excluir o valor de qualquer boa
realização de Israel, como intrinsecamente má: “será que o
diabo está tentando imitar nesta era o que Cristo fará na
próxima?” (p. 202).

Dois anos depois, outro livro do mesmo tipo, contudo ainda mais
infame em seu vitriólico Anti-semitismo, apareceu: “Israel: Nosso
Dever... Nosso Dilema”, por um certo Theodore Winston Pike.
Este autor tenta “explicar até mesmo os piores crimes contra os
Judeus, como a destruição do templo de Jerusalém com os
horrendos massacres dos Judeus, nos anos 70 e 135 A D., a
expulsão dos Judeus espanhóis em 1492 e as perseguições aos
Judeus na ex-União Soviética, apontando para a suposta maldade
das vítimas. Indiretamente ele também condena o Holocausto
aplicando freqüentemente palavras e terminologias nazistas –
como genocídio blitzkrieg, etc. – sobre Israel. Ele ainda acusa os
Judeus de assassinatos em massa no passado. Não há
necessidade de especificar os pensamentos tirados de Os
Protocolos, visto como dificilmente nenhum deles falta aí. O que
é acrescentado a este livro desagradável é, antes de tudo, uma
difamação mais compreensível do Judaísmo embasada em
citações selecionadas e vilipendiosas fora do contexto do
Talmude e outras fontes judaicas. E, pior de tudo, as ambições
proféticas de Nilus: não apenas está o Anticristo ligado a Israel e
aos Judeus, mas também com a apocalíptica meretriz da
Babilônia. Significativamente o capítulo intitulado “Morte à
Meretriz” não trata do passado, mas de algo que este “profeta”
do ódio e vileza aplica ao Israel atual.

Inacreditavelmente este livro tem um sucessor em outro livro


cristão mais recente, que diz ser um bestselller: “Afirme Seu
Direito de Nascimento” por James McKeever, publicado em 1989.
O autor se refere a Pike, mas tenta talvez mais do que este
esconder o profundo desprezo pelos Judeus e o Judaísmo, por
trás da Bíblia. Como viajante freqüente a Israel, ele sempre
afirma ter simpatia pelos Judeus e faz esta declaração sem base
na última página do livro: “deixem-me declarar um tempo final:
não desejamos que pessoa alguma se torne anti-judaica ou anti-
semita. Devemos amar os Judeus”. Logo após esta declaração,
contudo, ele deixa muito claro qual é a condição para aceitá-los:
eles precisam tornar-se cristãos. E antes desta declaração ele
dedicou 278 páginas às mais repulsivas distorções e difamações
da religião judaica, que já foram lidas numa publicação tão
recente, com ambições cristãs. Exatamente como Pike ele usa o
clássico método de dar a impressão de sólida erudição ao citar
seletivamente fontes judaicas, que são escolhidas exatamente
como as que a propaganda nazista escolhia, a fim de provar que
os Judeus são assassinos, obcecados por sexo – até mesmo com
criança – blasfemadores, mestres do ocultismo, etc., e até
mesmo esse falso profeta prediz: “infelizmente tudo que os
israelenses (do Estado de Israel) estão hoje construindo vai ser
arrasado na grande tribulação...” Assim ele vê a confirmação
final das declarações venenosas fluindo das páginas do seu livro.

Normalmente livros como estes não mereceriam sequer ser


mencionados. Faço-o principalmente por duas razões: estes
autores têm uma divulgação além das fronteiras dos grupos
obscuros, onde tudo é recebido e acreditado. Contudo, diz-se que
Rittenhouse, um diácono graduado em Universidade, “tem
testificado em várias ocasiões diante de comissões do Senado e
da Casa Branca” nos Estados Unidos. Pike também tem um grau
universitário e afirma ser “escritor evangélico e pesquisador”.
Finalmente o Doutor Mckeever “tem assinado onze bestselleers
cristãos, sete dos quais ganharam o prestigiado Angel Award
(Troféu Anjo)”. Suas publicações têm sido traduzidas no mundo
inteiro. Ele está sempre fazendo preleções em conferências
internacionais e afirma ter compartilhado a plataforma, dentre
outros, com Ronald Reagan, Gerald Ford, Allan Greenspan e
outros “líderes do governo”. O poder do engodo é obviamente
grande.

A segunda razão para expormos estes livros repugnantes e seus


autores é, contudo, decisiva para mim, como Cristão. O que
torna livros como estes particularmente desagradáveis e
enganosos é o seu disfarce piedoso. As intermináveis distorções
do Judaísmo e expressões de ódio contra a nação judaica são
combinadas com referências igualmente freqüentes à Bíblia e a
Jesus Cristo. As ambições proféticas de Rittenhouse são
expressas em duas citações da Bíblia, colocadas no início do livro
como um prefixo: 1 Coríntios 9:16 e Ezequiel 33:18-21. Posso
citar mais duas passagens como uma etiqueta do mal anti-
semítico em nome do Cristianismo, que poderiam realmente ter
sido usadas como um prefixo para este livrete: “Acautelai-vos
dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos
os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou
figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos,
porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa
produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons.
Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao
fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus
7:15-20). “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das
trevas, antes, porém, reprovai-as (Efésios 5:11).

A Escatologia Cristã e o Anti-semitismo


Há um fator especial que torna este tipo de Anti-semitismo
religioso especialmente apelativo a certos cristãos, nestes dias.
Não é apenas por acaso que tanto material anti-semita tenha
sido produzido, disseminado e crido, há uma centena de anos
atrás. Através da história, a virada dos séculos era tempo de
vívidas expectações escatológicas. Agora estamos nos
aproximando, não apenas de um novo século, mas também de
um novo milênio. Não é surpresa que existam muitos grupos de
Cristãos afirmando saber que o final da dispensação presente
está chegando. Portanto, eles também aguardam que desastres
apocalípticos irrompam a qualquer momento. Procurando
ansiosamente uma visível confirmação de suas próprias
expectações, são estes precisamente o tipo de Cristãos
vulneráveis a teorias catastróficas do tipo encontrado em Os
Protocolos. Sempre tenho ouvido sérias especulações com
referência ao Anticristo Judeu e a um governo mundial anti-
cristão emergente.

Não consigo admoestar suficientemente contra os que estão


mais interessados no que acontecerá amanhã do que naquilo
que o Senhor nos ensinou a fazer hoje. Os que levam isso
bastante a sério escolherão ainda, enquanto a par dos sinais dos
tempos, as prioridades certas e assim ficarão menos
preocupados com especulações sobre o final dos tempos. Esteja
atento hoje e deixe que Deus realize os seus planos amanhã.
“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor será
este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (Atos 1:6). Ou
como formula a Torah a mesma visão bíblica: “As coisas
encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as
reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre,
para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio
29:29).

A maior parte destes grupos presumivelmente não é constituída


de anti-semitas; pelo contrário, ocasionalmente as mesmas
pessoas expressam uma profunda simpatia pelo povo judeu e
Israel. Eles simplesmente não estão a par das raízes maléficas
das especulações escatológicas e o perigo que estas
representam num tempo de crescente Anti-semitismo. Esta
inconsciência faz com que cada vez mais se torne necessário
expor a verdadeira natureza destas supostas expectações
bíblicas. Elas têm causado suficiente derramamento de sangue
através dos séculos para serem encaradas apenas como uma fé
inocente. Precisamos expô-las!
A Supremacia Cristã
Ainda uma terceira atitude cristã em direção aos Judeus e
ao Judaísmo tem sido exposta. Esta nos leva exatamente ao lado
oposto de espectro cristão – os grupos liberais e de esquerda.
Usualmente, tomando a óbvia evidência de Os Protocolos como
uma fraude, seriamente eles não os usariam para seu anti-
judaismo. Contudo eles continuam o legado do secular Anti-
semitismo que os vários grupos de esquerda têm cultivado por
quase duzentos anos. Se mais Cristãos conservadores dissessem
que um bom Judeu é um Judeu convertido, esses grupos diriam
que um bom Judeu é um Judeu não assumido e acima de tudo
um anti-sionista ou pelo menos um Judeu não-sionista. Em
resumo, os Judeus deveriam ser algo diferentes do que
realmente são.

São esses os Cristãos que afirmam a ética do Sermão do Monte,


de Jesus, como o contraste total das éticas do Velho Testamento
e do Judaísmo, sem saber que quase nada existe no Sermão do
Monte que não tenha paralelo no ensino judaico. São estes os
Cristãos que atribuem tudo que eles próprios advogam a Jesus e
seus contrários ao Judaísmo: Jesus é pró mulheres e
consequentemente a opressão às mulheres emerge do Velho
Testamento e do Judaísmo. Jesus se coloca ao lado dos
oprimidos, também contra os ricos e as instituições religiosas;
consequentemente o Judaísmo representa a religião
estabelecida à qual Jesus se opunha. Se Jesus é retratado como
um líder rebelde de um movimento de libertação então o
Judaísmo é retratado como passivo e indiferente em relação à
miséria humana. Se Jesus é visto como um Messias espiritual,
cujo reino não é desse mundo, as expectações messiânicas
judaicas são mostradas como sendo terrenas e políticas.

Os defensores dessa aproximação tão anti-ética e superior


geralmente não estão sequer interessados em saber que houve
uma ampla fila de expectações messiânicas entre os Judeus, no
tempo de Jesus, bem como ainda hoje. O ponto que deve ser
provado é feito a partir do princípio: O Velho Testamento e o
Judaísmo constróem o negro pano de fundo do Novo Testamento
e do Cristianismo. Os anti-semitas políticos e seculares atribuem
aos Judeus qualquer coisa que detestam; estes cristãos fazem o
mesmo a nível religioso. Bastante curioso é que algumas pessoas
estão sempre muito abertas ao diálogo inter-religioso com
religiões não bíblicas, com uma abertura totalmente exposta aos
fatos e uma atitude de ouvir e aprender. Obviamente o problema
é o prejuízo herdado contra os Judeus, que se tornou tão
integrado em seu pensamento, a ponto dos falsos estereótipos
serem tomados como fatos, que nem mesmo necessitam ser
questionados. Muitos cristãos, portanto, imaginam até mesmo
conhecer o Judaísmo vivo, embora jamais o tenham estudado
seriamente de fontes judaicas ou mesmo conversado com um
Judeu.

Naturalmente a atitude de supremacia está facilmente


combinada com uma teologia de substituição, de acordo com a
qual o novo tem substituído o velho Israel por ter este
desprezado a sua vocação. Consequentemente não há lugar para
um povo judeu que ainda afirma o laço com a terra de seus pais.
Se Cristo preencheu todas as promessas não há promessa
alguma deixada para os Judeus.

Anti-sionismo Cristão
De mãos dadas com os esquerdistas e árabes anti-
sionistas, estes Cristãos, portanto, tendem a retratar Israel como
uma entidade ocidental, colonialista, imperialista no Oriente
Médio (ver ps. 37, 46 e seguintes). Eles censuram apenas Israel
pelo conflito palestino, mas recusam ver também sua situação
como um resultado das guerras árabes objetivadas contra a
exata existência do Estado Judeu. Do mesmo modo eles
censuram somente Israel pelo problema dos refugiados
palestinos sem reconhecer que um número igual de refugiados
judeus tiveram de abandonar a pátria e a propriedade nos países
árabes, sem compensação alguma. De acordo com estes cristãos
Israel é o opressor e os palestinos as oprimidas vítimas
inocentes. Eles, então, muitas vezes adicionam um disfarce
cristão ao seu Anti-judaísmo: Jesus sempre esteve do lado dos
oprimidos e marginalizados; consequentemente os Cristãos têm
de se colocar ao lado dos palestinos contra Israel. Tal visão
unilateral e simplista do conflito no Oriente Médio algumas vezes
se assemelha a uma paixão medieval, com os palestinos
desempenhando o papel do Jesus crucificado e os israelenses
como as multidões do Novo Testamento que rugiam “crucifica-
o!”

Numa recente explosão deste tipo de Anti-semitismo na Suécia,


um teólogo – notório anti-sionista – que ensina no nível
universitário tem “revelado” uma conspiração pelo “lobi sionista
sueco” engendrado de Israel, contra a Igreja, os sociais
democratas, o sistema educacional e a liberdade de expressão.
Tudo isso, desde a maliciosa “Rádio Islamita”, tem sido exposto
e sentenciado por disseminar propaganda odiosa na Suécia (ver
p.52). Na mesma corte um colega dele chamado como
testemunha erudita “defendeu a alegação de que é um Mitzwa
Judaico (mandamento para matar não judeus). Além do mais ele
afirmou que esse Mitzwa é sancionado e praticado ainda hoje em
Israel. Uma vez mais vemos um exemplo de Anti-sionismo com
um transparente disfarce de Anti-semitismo vulgar no espírito de
Os Protocolos. Ao usar propaganda anti-isrealense como um
veículo, estes Cristãos continuam o retrato demoníaco dos
Judeus, que teve desastrosas conseqüências através da história
(40).

Capítulo 4 - A Lição
Muito embora os Judeus sejam o alvo e as vítimas, o Anti-
semitismo não é fundamentalmente um problema judaico, mas
um problema cristão. As razões para isso são diversas. E embora
o Anti-semitismo não seja uma invenção cristã, nem o genocídio
tenha sido ensinado pela Igreja, o ensino cristão do triunfalismo
e do desprezo tem fornecido o combustível principal do Anti-
semitismo, durante quase 2.000 anos, o que pavimentou o
caminho para Auschwitz.
Conquanto a maior parte Cristãos provavelmente não pudesse
prever as horrendas conseqüências do ensino anti-judaico e
talvez até estivesse convencida de que suas crenças estavam
embasadas na Bíblia, isso não exonera os cristãos de
responsabilidade. Os piores crimes têm sido cometidos ou
observados por pessoas que acreditavam serem eles justos.
Sempre tem havido e sempre haverá racistas e opressores, que
defendem sua causa com a Bíblia em punho, totalmente
convencidos de que estão defendendo a vontade de Deus. Eles
devem ser explorados por propagandistas endurecidos, os quais
sabem que o ódio é contagioso, e usam conscientemente o
engodo para atingir seus propósitos – a história de Os Protocolos
é um perfeito exemplo.

No mínimo, cada pessoa que consciente ou inconscientemente,


ativa ou passivamente, tem propagado as mentiras e o desprezo
anti-semitas, torna-se conivente com o crime. Isso não significa
que todos os Cristãos tenham uma espécie de culpa coletiva do
tipo que eles tão freqüentemente colocam sobre os Judeus. Mas,
certamente, que os Cristãos têm uma responsabilidade coletiva,
tanto de conhecer como de ler a respeito do trágico passado das
relações entre Judeus e Cristãos.

A primeira lição, portanto, pode ser resumida precisamente


deste modo: o Anti-semitismo é fundamentalmente um
problema cristão e não judaico.

Isso é, antes de tudo, verdadeiro da perspectiva cristã. Os


Protocolos foram publicados primeiro nos círculos cristãos. E os
motivos principais dessa fraude foram enraizados nos mitos
cristãos e anti-judaicos, que emergiram nos primeiros séculos do
Cristianismo. Vimos também como vários círculos cristãos do
mundo inteiro, até os dias de hoje, têm servido de instrumento
para perpetuar essas distorções mitológicas.

E mais, o Anti-semitismo não é um problema judaico, quando o


olhamos da perspectiva de suas vítimas – os próprios Judeus.
Muitas vezes as pessoas indagam: “Como podem os Judeus ter
sido tão freqüentemente odiados e perseguidos?” E às vezes
essa pergunta implica em que deve haver algo errado com
relação aos Judeus, que possa explicar o Anti-semitismo, isto é,
que os Judeus realmente sejam os culpados disso. Tenho ouvido
Cristãos dizerem que “se ao menos” os Judeus aceitassem Cristo
ou não tivessem ficado obstinados em seu Judaísmo, eles não
teriam sido perseguidos do modo como têm sido. Também tenho
lido artigos que encontram as causas das explosões anti-semitas
na política de Israel, no Oriente Médio.

Dois Exemplos:
Estes dois exemplos são típicos e podem servir como ilustração
dos mais profundos aspectos do Anti-semitismo. Ambos fazem
esforços em acusar as vítimas do Anti-semitismo como sendo os
principais causadores do mesmo. Esta seria sem duvida uma
conveniente maneira de escapar ao processo inconveniente e
doloroso do mal do Anti-semitismo: Se pelo menos os Judeus
pudessem mudar – de um modo ou de outro – não haveria Anti-
semitismo, isto é, os anti-semitas e seus espectadores passivos
não precisariam arrepender-se e mudar. Eles nem mesmo são
realmente culpados! Tais esforços de responsabilizar as vítimas,
portanto, não se constituem em surpresa. Não importa quão
absolutamente impossíveis sejam eles, devemos esclarecê-los.

O primeiro exemplo ilustra um elemento comum ao Anti-


semitismo. Os Judeus deveriam ser algo mais do que são, de
preferência iguais às outras pessoas, como nós! Tal atitude, sem
dúvida, não se limita apenas aos Judeus, mas como minoria eles
têm sido as principais vítimas.

Realmente, encontramos este clássico modelo anti-semita já no


Velho Testamento. Quando Hamã, o arqui-inimigo dos Judeus na
diáspora babilônica, cerca de 2.500 anos atrás, apresentou ao
Rei Assuero o seu programa de extermínio dos Judeus, dando
como motivo o seguinte: “Existe espalhado, disperso entre os
povos em todas as províncias do seu reino, um povo cujas leis
são diferentes das leis de todos os povos...” (Ester 3:8). Eles
estão “espalhados”, isto é, são minoria no país. Esta é a primeira
motivação. Mas não é tudo: eles também estão “dispersos”. A
palavra hebraica usada deveria ser melhor traduzida como
“separados”, o que então é seguido pela explicação de que
“cujas leis são diferentes”, sem dúvida referindo-se às leis
bíblicas, isto é, eles têm conservado sua identidade. Recusam-se
a assimilar a cultura e a religião dos povos circunvizinhos.
Exatamente por isso é que Hamã suplica: “Se bem parecer ao
rei, decretem-se que sejam mortos, nas próprias mãos dos que
executarem, eu pesarei dez mil talentos de prata para que
entrem nos tesouros do rei” (Ester 3:9).

Uma minoria que conserva sua identidade sempre tem sido


observada por uma poderosa corrente dominante como um
obstáculo e uma ameaça. Parece haver um instinto bestial no
homem – exatamente como nos animais – para perturbar e
excluir os que são diferentes e estrangeiros – se pelo menos
esses estranhos excêntricos se tornassem iguais a nós, então
não haveria problema algum... Se eles, então, acima de tudo
isso, constituem uma minoria de sucesso, é até mais difícil para
a maioria suportá-los, particularmente em tempos de escassez e
aflição. Vivemos num tempo de xenofobia. Nossa atitude para
com o povo judeu é um teste litmus de como seremos capazes
de lidar com a dignidade do outro grupo minoritário. E finalmente
é a nossa própria sociedade e a nossa própria segurança que
correm perigo quando anti-semitas e outros grupos racistas
vilificam os Judeus e outras minorias. As palavras de Jean Paul
Sartre podem certamente ser generalizadas para aplicar-se a
qualquer nação: “Nenhum francês ficará livre, enquanto os
Judeus não gozarem de total plenitude de seus direitos. Nenhum
francês ficará seguro, enquanto um só Judeu na França ou em
todo o mundo – tiver de temer pela sua vida” (41).

Hamã tem tido seguidores em cada geração. Ao longo da mesma


linha os Cristãos anti-judaicos não aceitaram o Judaísmo e a sua
solução do “problema judaico” foi a conversão dos Judeus ao
Cristianismo. Na realidade isto significava que eles deixavam de
ser Judeus.

Uma atitude semelhante caracterizava o “Iluminismo” e o


movimento liberal, nos séculos 18 e 19: os Judeus deveriam
assimilar, significando novamente que eles deveriam desistir de
sua identidade judaica.
No despertar do Nacionalismo, no último século, os Judeus foram
acusados de ser uma nação separada, estrangeira e estranha,
tendo lealdade dupla e assim tornando-se um elemento perigoso
para a nação em que viviam. Muitos Judeus tentaram combater
este tipo de Anti-semitismo, frisando que os Judeus eram
fundamentalmente apenas uma religião – uma religião mosaica
– a qual não os proibia de serem leais nacionalistas em países
diferentes.

Quando o Anti-semitismo racista emergiu, ele frisava que os


Judeus eram uma raça diferente e inferior. Então observou a
assimilação como uma ameaça e quis isolá-los do resto das
pessoas. Com tal visão a conversão de nada lhes adiantaria. A
conseqüência principal do Anti-semitismo foi livrar-se dos Judeus
– a “solução final” dos Nacionais Socialistas.

Hoje os que se chamam anti-sionistas afirmam nada ter contra


os Judeus como tais. Mas desejam vê-los apenas como membros
de uma religião, a fim de impedi-los de se tornarem uma nação
e poderem neutralizar o Estado de Israel, como se fosse possível
dizer, por exemplo: que nada temos contra os Americanos, mas
“apenas” desejamos que os Estados Unidos desapareçam.

O denominador comum de todas essas atitudes é a recusa em


deixar os próprios Judeus definirem o que eles são e aceitá-los
como tais. O que se diz na realidade é isto: mudem ou
desapareçam religiosa, individual e nacionalmente! Por
quaisquer que sejam as razões, para os anti-semitas ser Judeu é
sempre um erro. E se algum Judeu pudesse acomodar-se a
qualquer direção desejada na longa corrida de nada adiantaria,
visto como a razão do Anti-semitismo deve ser achada no anti-
semita e não no Judeu.

O segundo exemplo ilustra outra característica comum ao Anti-


semitismo: o modelo duplo de julgar os Judeus. Eu o chamo de
microscópio ou síndrome da lente de aumento. As minorias
sempre têm sido examinadas mais cuidadosamente do que
qualquer outro povo. Os Judeus têm sido colocados sob a lente
de aumento. Coisas que poderiam ser relevadas, quando
praticadas por outras pessoas, são sempre exageradas quando
feitas por Judeus.
Nos últimos anos este modelo duplo tem sido visto mais
claramente no conflito do Oriente Médio do que em qualquer
outra parte do mundo. Erros na democracia israelense são
magnificados, enquanto a total falta de democracia nos estados
circunvizinhos é escondida. O abuso dos direitos humanos por
Israel algumas vezes torna as mesmas pessoas por demais
preocupadas, as quais, no entanto, não querem saber das piores
violações desses mesmos direitos humanos em outros países,
etc. Esta síndrome faz com que as pessoas procurem sempre um
comportamento “santo” da parte dos Judeus. E quando não
encontram o que procuram, elas retratam o que vêem como algo
próximo a um comportamento demoníaco. “Judeus fazem
notícia”, é um provérbio com raízes nesta síndrome anti-semita.

Outra manifestação da mesma síndrome tem sido formulada


com aptidão no Díário de Anne Frank, dia 22/05/1944:

“Ó, é triste, muito triste, que uma vez mais, pela enésima vez,
seja confirmada a antiga verdade: o que um Cristão faz é de sua
própria responsabilidade, mas o que um Judeu faz é de
responsabilidade de todos os Judeus”.

A pior expressão dessa horrenda atitude é sem dúvida a


acusação de que o povo judeu é coletivamente responsável pela
morte de Jesus. Mas o mesmo modelo tem-se repetido
constantemente. Daí por que Os Protocolos podiam ser usados
para acusar os Judeus de representar as visões mais
antagônicas. Só era preciso apontar um ou apenas alguns Judeus
como sendo, por exemplo, comunistas ou capitalistas, para
vitimar todo o povo. Um Judeu negociante de escravos, usurário
ou vendedor desonesto era o suficiente para vindicar a
declaração anti-semita sobre “os Judeus”. (ver ps. 28, 53).

Mais uma vez, o Anti-semitismo não é causado pelos Judeus, mas


somente pelos não-Judeus anti-semitas. As supostas “causas”
não passam de disparos de um ódio latente. Distorcendo os fatos
e fazendo falsas generalizações os anti-semitas poderão
encontrar “razões” para o seu desprezo pelos Judeus.

O resumo é : O Anti-semitismo não é um problema judaico. Não


que os Judeus sejam sempre inocentes ou até melhores do que
os demais. Mas precisamente porque eles são seres humanos
como todos nós. Nem melhores nem piores. Ao mesmo tempo
eles são sem dúvida – como todas as demais pessoas das
comunidades – diferentes em certos aspectos. Sendo sempre
uma comunidade minoritária com uma forte identidade, eles têm
sido escrutinados sob a lente de aumento, mais do que qualquer
outro grupo, cujo propósito seja encontrar “causas” para difamá-
los e persegui-los. O Anti-semitismo recusa aceitar uma simples
aproximação humanitária com os Judeus. É um ódio absurdo,
muito além da razão!

Anti-semitismo Irracional
Esta é a razão principal por que o problema não é judaico.
O Anti-semitismo não lida com “Judeus reais”, mas apenas com
estereótipos vilificados. Não se baseia na experiência,
conhecimento e fatos, mas na ignorância e prejuízo, muitas
vezes combinados com uma ideologia religiosa e política. O
prejuízo anti-semita transforma o Judeu vivo, humano, em um
símbolo do mal que porventura seja oposto, temido e odiado.
Não importa se é um Cristão que aponta os Judeus como
representantes da “Lei” e das “Obras”, opostos ao “Evangelho” e
à “Fé”, ou um conservador que os faça representar os perigos
da esquerda.

Desse modo, o Anti-semitismo pode florescer até mesmo onde


virtualmente não existam Judeus (ver ps. 37, 53 e segs.) “Se não
existissem Judeus os anti-semitas os inventariam” (42). Tenho
ouvido as mais horrendas declarações sobre os Judeus de
pessoas que na realidade jamais encontraram um só Judeu. Essa
falta de contato com a realidade cria em verdade um terreno
para o prejuízo. A exata ausência de Judeus torna possível criar
aquilo no que se deseja acreditar e diz-se acreditar, sem
qualquer interferência perturbadora da realidade. (43). Relações
pessoais levam as pessoas a verificar que os Judeus são seres
humanos normais. Em tempos de Anti-semitismo os Gentios
eram muitas vezes proibidos de se socializarem com os Judeus,
desde os tempos dos Pais da Igreja (44), até o tempo da
Alemanha nazista. Uma mentira fraudulenta dificilmente pode
sobreviver, quando constantemente confrontada com a realidade
viva.

Visto como o ódio prejudicial não tem raiz nos fatos, mas em
motivos irracionais, como a frustração, a paranóia, o complexo
de inferioridade e, talvez até mesmo a culpa inconsciente – o
Anti-semitismo, não pode simplesmente ser desarraigado
através da evidência fatual. Neste respeito Nilus era o tipo
clássico do anti-semita, quando argumentou que a verdade não
é decisiva para o valor de Os Protocolos (ver p.18). Assim, suas
almas gêmeas continuarão a acreditar neles e a enganar os
outros, quaisquer que sejam as provas que se possam anexar
quanto à sua natureza fraudulenta.

Talvez seja verdadeiro “que neste mundo não estamos


habituados a ver o triunfo da verdade, mas apenas lutar por ela”
(45). Deste modo o engano deve ser combatido e o Anti-
semitismo confrontado pelos fatos. Pelo menos dessa maneira o
seu crescimento maligno pode ser detido e as vítimas em
potencial “imunizadas” contra a sua influência contagiosa. Nós,
Cristãos, temos uma responsabilidade particular e ela jamais foi
maior do que agora.

Uma Responsabilidade Maior


Primeiro que tudo, temos uma responsabilidade maior,
porque testemunhamos os frutos amargos do Anti-semitismo,
mais claramente do que qualquer outra geração anterior à
nossa. O Holocausto aconteceu em nosso século e no coração
do mundo cristão. Sua documentação continua sem refutação e
nesta era de mídia maciça está disponível a cada um.

Além do mais, temos aceso à trágica história das relações


judaico-cristãs. Somente os Cristãos irresponsáveis podem
continuar ignorantes do laço estreito que existe entre o
desprezo pelos Judeus no passado, isto é, nos tempos bíblicos, e
os Judeus contemporâneos. Somente os Cristãos afetados pela
cegueira, indiferença, insensibilidade ou falta de paixão pela
verdade continuarão a usar os textos do Novo Testamento como
armas contra os Judeus, como se nada tivesse acontecido em
2.000 anos de história em comum. Nossa geração – e todas as
gerações depois de Auschwitz – enfrentarão um julgamento mais
duro por tais abusos das Sagradas Escrituras do que qualquer
outra geração antes da nossa. Jamais poderemos dizer:
“perdoem-nos, pois não sabíamos o que fazíamos”. Agora
sabemos. Desse modo, nossa culpa será bem maior.

A Lição do Holocausto
Um grande filósofo judeu do nosso tempo, o Prof. Emil
Fackenheim, tem ensinado o que deveria ser a lição do
Holocausto para os Judeus. Conforme a tradicional maneira
judaica de contar, existem 613 mandamentos na Torah.
Fackenheim formula um 614º mandamento, o qual expressa a
lição de Auschwitz.

O que nos comanda a voz de Auschwitz? Os Judeus estão


proibidos de entregar a Hitler as vitórias póstumas. Eles são
comandados a sobreviver como Judeus, para que o povo judeu
não pereça. Eles são comandados a lembrar-se das vítimas de
Auschwitz para que sua memória não pereça. Eles estão
proibidos de desesperar dos homens e do seu mundo, e de
escapar, quer no cinismo ou em outra sabedoria mundana,
cooperando para entregar ao mundo as forças de Auschwitz.
Finalmente, eles estão proibidos de perder a esperança no Deus
de Israel, para que o Judaísmo não pereça. (46)

Se os Judeus precisam aprender uma lição do Holocausto, nós,


Cristãos, temos definitivamente muito mais que aprender do
nosso passado. Depois de Auschwitz os Cristãos já não podem
ensinar e pregar sobre os Judeus e o Judaísmo como o faziam
antes. O Anti-semitismo é apostasia. Ele é blasfemo, quando
disfarçado em trajes cristãos.

No final deste estudo sobre o Anti-semitismo e Os Protocolos,


sugiro então que escutemos a voz de Fackenheim e apliquemos
seus ensinos a nós mesmos. Tentarei formular uma lição
equivalente sobre Auschwitz para os Cristãos:

Os Cristãos estão proibidos de minimizar os pensamentos,


palavras e ações de Hitler ou qualquer outro anti-semita antes
dele, para que não se tornem colaboradores do mal. Estão
proibidos de silenciar sempre que o desprezo aos Judeus e ao
Judaísmo, no passado e no presente seja expressado, a fim de
que não caiam sob a maldição: “Se o pai de família soubesse a
que horas viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse
arrombada a casa”. Eles estão proibidos de esquecer e são
comandados a admitir o mal cometido contra os Judeus em
nome de Cristo, para que não continuem “se gloriando” contra
os seus irmãos mais velhos. (Romanos 11:18). Eles deveriam
estudar a história do povo judeu e do Judaísmo vivo, para que
não continuem violando o mandamento; “Se, pois, ao trazeres ao
altar a tua oferta , ali te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão, e, então, voltando, faze a tua
oferta” (Mateus 5: 23-24). Finalmente, eles estão proibidos de
desqualificar o Judaísmo e desprezar a obediência dos Judeus à
Torah com todos os seus mandamentos, como se Deus tivesse
quebrado Seu pacto no Sinai e mudado Sua Palavra eterna: para
que não percam a sua fé no único Deus verdadeiro, que “ontem
e hoje é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13:8).

Um sério engajamento de um crescente número de Cristãos no


sentido de aprender esta lição do passado seria um meio
apropriado de comemorar os 90 anos da publicação de Os
Protocolos e dos 50 anos da liberação de Auschwitz, Teblinka e
outros lugares onde os frutos mortais do Anti-semitismo foram
colhidos.

Só então poderemos esperar que nos alegremos junto com


Israel, quando Deus cumprir a promessa feita ao seu povo: “Os
que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Salmos 126:5).
Referências Bibliográficas
Introdução
1. p.17 - Este é ainda o melhor livro erudito sobre Os Protocolos,
contendo uma extensa bibliografia sobre várias edições do
mesmo, e literatura secundária. A primeira apresentação erudita
dos originais da falsificação em Inglês foi feita por Hermann
Bernstein, em 1935. Aqui encontramos todo o texto de Os
Protocolos junto com outros textos nos quais eles estão
embasados (na tradução inglesa). Uma completa investigação
alemã foi publicada dez anos antes por B. Segel. Para esta e
outras referências, ver bibliografia.

Capítulo 1
2. As citações são tiradas dos extratos de Cohn (ps. 275-288).
Para o texto completo, ver Bernstein, ps. 295-359.

3. Ver bibliografia adicional, particularmente nas obras de


Davies, Flannery, Gager, Hay Klein, Littell, Nicholls e Parkes. O
excelente livro de Nicholls é o estudo mais recente.

4. Assim já Melito de Sardes defende em seu Sermão de Páscoa:


Aquele que sustentou a terra está sustentando; Aquele que fixou
os céus tem estado fixo; Aquele que fez o universo foi pendurado
numa árvore. O soberano foi insultado e o Deus, assassinado; o
Rei de Israel foi condenado à morte por um israelita, à mão
direita (Peri Pascha, linhas 711-716, citadas por Nicholls nas ps.
177 e seguinte).

5. Uma excelente sobrevivência dos mitos medievais anti-


judaicos é dada por Nicholls no capítulo “Paranóia Popular”, ps.
225-259. Ver ainda o extenso livro de Trachtenberg,
especializado neste assunto.
6. Cohn, p. 16, vai ao ponto em que sustenta que Os Protocolos
são “uma versão moderna e secularizada da visão popular
medieval dos Judeus como instrumentos dos feiticeiros
empregados por Satanás para a ruína física e espiritual da
Cristandade”. Ver ainda o capítulo sobre “Anti-semitismo
Secular”, em Nicholls, ps. 313-349.

7. Uma versão abreviada havia realmente aparecido, já em 1903,


no jornal Znamia (O Banidor).

8. Citado de Cohn, p. 288.

9. Cohn, p. 115

10. A citação é tirada de um artigo publicado em 1921 por


alguém que conhecia intimamente Nilus. Este artigo, cujo texto
completo aparece em Bernstein, ps. 360-369, dá uma vívida
impressão do estado grotesco de mente que caracterizava Nilus.
Ver também o capítulo intitulado “Uma Visita a Nilus”, em
Curtiss, ps. 61-72.

11. Para o texto completo, ver Bernstein, ps. 75-258.

12. Um artigo interessante, de 1921, no qual Graves descreve


sua descoberta do plágio, pode ser encontrado em Bernstein, ps.
259-264.

13. Em Bernstein, ps. 371-397, Cohn, ps. 275-279, e Curtiss, ps.


95-106, excertos dos dois documentos são citados em versões
paralelas para facilitar a comparação.

14. Um resumo do julgamento é dado por Cohn, ps. 220-231, e


Curtiss, ps. 73-93.

15. Cohn, p. 34.

16. Para o texto completo, ver Bernstein, ps. 285-292, e Cohn,


ps. 269-274.

17.Ver William Korey, “A Conspiração Franco-Maçônica-Sionista”,


em Midstream, 32,6, junho/julho 1986, ps. 15-20.
Capítulo 2
18. Sobre esta e outras publicações anti-semitas nos Estados
Unidos, após a II Guerra Mundial, ver Robert Singerman, “A
Carreira Americana de Os Protocolos dos Sábios de Sião” em
“História Judaica Americana” 71, 1981, ps. 48-78. Para estudos
mais extensos, ver Robert Lacey, “Ford, os Homens e a
Máquina”, Little Brown, Boston, 1986, particularmente ps. 205-
219; Albert Lee, “Henry Ford e os Judeus”, Stein & Day, New
York, 1980.

19. Ver o importante estudo de Martin Gilbert, “Auschwitz e os


Aliados”, Holt Rinehart & Winston, New York, 1982.

20. Valentin, p. 165. Todo o capítulo 9, ps. 165-183, trata de Os


Protocolos.

Capítulo 3
21. K. Marx, “A Capacidade”, citado de Nicholls, p. 320.

22. O mesmo é verdade para muitos dos Socialistas ideólogos;


ver Nicholls, ps. 322 e seguinte.

23. Louis Rapoport, “A Guerra de Stalin Contra os Judeus: A


Conspiração dos Médicos e a Solução Soviética”, Free Press, New
Yok, 1990.

24.Ver Wistrich (1979).

25. Ver ps. 12, 53 e seguinte; 72 e mais Daniel Rubin (ed.), “Anti-
semitismo e Sionismo: Escritos Marxistas Selecionados”,
International Publishers, New York, 1987.
26.Um dos mais avançados eruditos em Anti-semitismo na União
Soviética é William Korey. Ver, por exemplo, seu extenso estudo
“A Gaiola Soviética: Anti-semitismo na Rússia”, Vicking Press,
New York, 1973, e seu artigo atualizando “Os Protocolos dos
Sábios de Sião”, em Midstream, 22,5, maio de 1976, ps. 5-17.

27.Ver Nicholls, ps. 323 e seguintes.

28.Ver Bernard Lewis, “Os Judeus do Islã” Princeton University


Press, Princeton, 1984; Maurice M. Roumani, “O Caso dos Judeus
dos Países Árabes; Um Item Negligenciado”, Organização
Mundial para os Judeus dos Países Árabes, Tel Aviv, 1983, ps. 23-
36; Poliakov II, ps. 19-82; Wistrich (1991), ps. 195-221; Bat Ye’or,
“Os Dhimmi: Judeus e Cristãos sob o Islã”, Associated University
Presses, London, 1985.

29.Ver Raphael Israeli “A Carta de Alá: Plataforma do Movimento


de Resistência Islâmica (Hamas)”, em “Islã e Israel
Fundamentalistas”; “Ensaios em Interpretação”, Lanham, New
York, London, 1993, ps. 123-168.

30. A discussão de que o Anti-sionismo não é anti-semita, visto


como existem Judeus anti-sionistas, é mal conduzida. É certo que
existem Judeus que são contra o Estado de Israel, contudo, seu
motivo geralmente é que o Estado moderno não é
suficientemente religioso – o que dificilmente pode ser a
motivação dos anti-sionistas. Devemos também ter em mente
que mesmo esses Judeus religiosos oram pelo ajuntamento dos
exilados na Terra de Israel. Religiosamente eles são sionistas e
apenas rejeitam a realização política moderna – também fora de
motivos religiosos. Estes Judeus ortodoxos deveriam antes ser
chamados não-sionistas. Muitos Judeus ortodoxos, são, contudo,
também sionistas políticos. Ver ainda Nicholls, 393 e seguintes.

31.Ver Antony Lerman, “Anti-Sionismo Fictício: Terceiro Mundo,


Árabes e Variações Muçulmanas”, em Wistrich (1990), ps. 121-
138.

32. Jerusalem Post, Edições de Além Mar, 12 de março de 1994,


p. 15.
33. Este grupo não é direitista e nacionalista, mas quando se
chega a explosões anti-semitas, eles diferem apenas
marginalmente dos primeiro grupos mencionados. Além disso,
eles não pertencem realmente à linha de liderança do Islã, visto
como seus ensinos religiosos pouco se relacionam com o
Islamismo ortodoxo.

34. A Nação do Islã, em 1991, publicou um livro intitulado “As


Relações Secretas entre Negros e Judeus”, que tem sido
corretamente caracterizado como “um dos mais sofisticados
exemplos de literatura odiosa já compilados...O livro distorce
maciçamente o registro histórico, amplamente através de um
processo de selecionadas citações falsas de fontes geralmente
respeitáveis” (Prof. Henry Louis Gates Jr., Diretor do
Departamento de Estudos Afro-Americanos em Harvard, em um
artigo no New York Times, Julho de 1992).

35. Por exemplo, Robert Faurisson, na França, David Irving, na


Inglaterra, Ernst Zuendel, no Canadá, Arthur Butz, e o Instituto
de Revisão Histórica dos Estados Unidos; ver Nicholls, p. 392, e
o indispensável estudo de Lipstadt.

36. Ver Hans Hillerbrand, “Martinho Lutero e os Judeus”, em:


James H. Charlesworth (ed.) “Judeus e Cristãos, Explorando o
Passado, Presente e Futuro” Crossroad, New York, 1990, ps. 127-
150, com mais referências. As Igrejas Luteranas haviam tratado
profundamente deste lado negro do Reformador, em anos
recentes. “Lutero, o Luteranismo e os Judeus” foi o tema de uma
conferência em Estocolmo, em 1983, entre a Federação Luterana
Mundial e o Comitê Judaico Internacional para Consultas Inter-
Religiosas. A delegação luterana declarou, entre outras coisas:
“Nós, Luteranos, tomamos o nome e a compreensão do nosso
Cristianismo de Martinho Lutero. Porém não podemos aceitar ou
concordar com os violentos ataques verbais que o Reformador
fez contra os Judeus... Os pecados das observações anti-judaicas
de Lutero e a violência de seus ataques contra os Judeus devem
ser reconhecidos com profundo pesar. E todas as ocasiões para
semelhante pecado, no presente ou no futuro, devem ser
removidas de nossas Igrejas”. Ver Jean Halperin, Arne Sovik
(ed.) “Lutero, o Luteranismo e os Judeus”, Federação Luterana
Mundial, Genebra, 1984. ps. 9 e seguinte.
37. Nicholls, ps. 204 e seguintes, apresenta uma excelente
comparação em colunas paralelas entre os decretos da Lei
Canônica da Igreja Católica e a legislação nazista.

38. Ver A. Roy Eckhardt “Vosso Povo, meu Povo: o Encontro de


Judeus e Cristãos”, Quadrangle, New York, 1974, p. 51; Eugene J.
Fisher, A James Rudin, Marc Tanenbaum (ed.) “Vinte Anos de
Relações Católico-Judaicas, Paulist Press, New York, 1986.
Coleções de outras declarações cristãs podem ser encontradas
em Helga Croner, “Mais Pedras de Ligação nas Relações Judaico-
Cristãs: Uma Coleção Não Condensada de Documentos Cristãos,
1976-1983, Paulist Press, New York, 1985 (1977), e idem, “Mais
Pedras de Ligação nas Relações Judaico-Cristãs: Uma Coleção
Não Condensada de Documentos Cristãos” (1976-1983), Paulist
Press, New York, 1985.

39. Ver John Osterreicher em: Herbert Vorgrimler (ed.)


“Comentário sobre os Documentos do Vaticano II”, Herder &
Herder, New York, 1969, Vol. 3, ps. 101-116.

40. Ver também Nicholls, capítulo 11 “As igrejas no Século 20”,


ps. 351-384; Norman Solomon, “As Igrejas Cristãs sobre Israel e
os Judeus”, em: Wistrich, “Anti-sionismo”, ps. 141-154.

Capítulo 4

41. Sartre, p. 153.

42. Sartre, p. 13.

43. Sobre este problema, ver Bernard Glassman, “Estereótipos


Anti-semitas sem Judeus: Imagens dos Judeus na Inglaterra
1290-1700” Wayne State University Press, Detroit, 1975,
particularmente p. 190. No período de tempo em que a pesquisa
é baseada, os Judeus foram expulsos da Inglaterra. O estudo
causal é típico de Anti-semitismo em geral; conferir explosões
anti-semitas na Polônia e Checoslováquia, em 1968, quando o
número de Judeus aí não passava de alguns milhares.

44. Assim foi decretado no Concílio da Igreja de Elvira, na


Espanha, em cerca de 300 A.D., dentre outras coisas: que aos
Cristãos não era permitido convidar Judeus às suas casas e
comer junto com eles.

45. Leslie Macfarlane em “Feno”, p. 356.

46. Emil Fackenheim, “A Presença de Deus na História:


Afirmações Judaicas e Reflexões Filosóficas, New York University
Press, New York, 1970, p. 84. Também citado em Nicholls, p. 414.

Bibliografia e Sugestões para Leitura


(Pages 77-79 – Não traduzido)

Fact or Fraud?

Goran Larsson

Descrição das ilustrações (não incluídas):

Page 12 – (Picture 1) O judeu como símbolo de ódio; antes da


guerra na Romênia.

Page 13 – (Picture 2) A acusação de libelo de sangue;


Alemanha, século 15.
Page 16 - (Picture 3) A primeira edição de Os Protocolos dos
Sábios de Sião.

Page 24 - (Picture 4) Uma representação simbólica do


Cristianismo versus Judaísmo, o último vendado com uma faixa
puída; Catedral de Strassburg, século 13. Imagens triunfantes
como estas promovem as mais profundas raízes ao Anti-
semitismo.

Page 36 – (Picture 5) O Judeu ligado aos arqui-inimigos, na


clássica maneira anti-semita. O texto seguinte está anexado a
esta caricatura de 1970: “Imperialistas dos Estados Unidos e da
República Federal Alemã colaboram com uma das mais injustas
divisões do Sionismo - os governantes de Israel – a ampliar a
agressão no Oriente Médio”.

Page 38 – (Picture 6) Os Judeus como envenenadores do povo é


uma figura anti-semita freqüente encontrada em Os Protocolos,
na propaganda nazista, e aqui aparece numa caricatura anti-
religiosa, 1985.

Page 39 – (Pictures 7 & 8) O cogumelo venenoso nazista de


1938 é copiado pela propaganda soviética em 1973, agora
aplicado a Israel, nos “territórios árabes”.

Page 39 - (Pictures 9 & 10) Pior afronta do que ligar as


principais vítimas do Nazismo aos seus assassinos dificilmente
pode ser concebida, sendo este um tema favorito do Anti-
semitismo pós-guerra. Sob a manchete “Irmãos de Sangue”,
Hitler saúda um soldado israelense, com os pés dentro de uma
poça de sangue libanês... A árvore com a marca “Israel” está
enraizada na suástica, ambas de 1982.

Page 40 – (Picture 11) O Perigo Judeu – Os Protocolos dos Sábios


de Sião. (Picture 12) No translation from German. (Picture 13)
Qual o preço da Reserva Federal? Leia Os Protocolos dos Sábios
de Sião e entenda a nova jogada. (Picture 14) No translation. “...
Provavelmente o livro mais largamente distribuído no mundo,
depois da Bíblia...” (Norman Cohn).
Page 41 – (Picture 15) Os Protocolos dos Sábios de Sião –
Portuguese, Spanish,(16) Danish (17) and Swedish (18) versions.
Capas são exibidas de edições em línguas diversas de Os
Protocolos dos Sábios de Sião

Page 44 – (Pictures 19 & 20) Uma edição árabe de “Mein Kampf”


(Minha Luta) e um livro modernizado sobre o medieval “Libelo de
Sangue”, de 1982, escrito nada menos do que pelo Primeiro
Ministro da Defesa da Síria, Mustafa Tlas.

Page 47 - (Picture 21) As fronteiras supostamente almejadas


pelo imperialista Israel – do Eufrates até o Nilo, numa versão de
Os Protocolos publicada no Kwait.

Page 53 - (Picture 22) Anti-semitismo sem Judeus: a literatura


anti-semita tem aumentado rapidamente no Japão, nos últimos
anos. O título deste livro, publicado em 1985, é “A Conspiração
Judaica Secreta para Dominar o Mundo”.

Page 56 - (Picture 23) O infamante livro de Lutero, 1543.

Page 58 - (Picture 24) Queima de livros considerados heréticos


pela Igreja (Católica) era sempre praticada contra os Judeus –
Itália, século 15.

Page 65 – (Picture 25) O Velho Testamento.

Retratar o Velho Testamento como um livro judaico em contraste


com o Novo Testamento e o Cristianismo, vem desde o século 2,
e continua exatamente até hoje. Uma típica ilustração anti-
semita da Alemanha, 1936.

Page 53 - (Picture 22) Anti-semitismo sem Judeus: a literatura


anti-semita tem aumentado rapidamente no Japão, nos últimos
anos. O título deste livro, publicado em 1985, é “A Conspiração
Judaica Secreta para Dominar o Mundo”.

Page 56 - (Picture 23) O infamante livro de Lutero, 1543.


Page 58 - (Picture 24) Queima de livros considerados heréticos
pela Igreja (Católica) era sempre praticada contra os Judeus –
Itália, século 15.

Page 65 – (Picture 25) O Velho Testamento.

Retratar o Velho Testamento como um livro judaico em contraste


com o Novo Testamento e o Cristianismo, vem desde o século 2,
e continua exatamente até hoje. Uma típica ilustração anti-
semita da Alemanha, 1936.

Tradução de Mary Schultze

Caixa Postal 92971

25951- 970 Teresópolis, RJ - Brasil

Telefax (021) (21) 2643-3904

É proibido copiar esta apostila sem autorização escrita

da tradutora, conforme entendimento com o autor do livro.

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